Elimar Pinheiro do Nascimento
Elimar Pinheiro: Duas ou três ideias antes do 7 de Setembro
Elimar Pinheiro do Nascimento / Democracia Política e novo Reformismo
Especialistas, amigos ou conhecidos, têm-me dito que não há qualquer possibilidade de golpe militar no Brasil nos dias de hoje. Como já vivi um bom tempo, desconfio. Nas vésperas do golpe de 1964, ainda garoto, escutava a conversa dos mais velhos de que não havia possibilidade de golpe porque Jango tinha um esquema militar. Alguns anos depois, já estudante universitário, pensei ir viver no Chile e consultando amigos que conheciam o país, todos me disseram, em 1972, que não havia possibilidade de golpe, Chile não tinha esta tradição e os seus generais eram constitucionalistas. Se os especialistas de ontem falharam porque os de hoje não falharão?
Os argumentos em favor da impossibilidade de golpe hoje são outros. O que é normal, afinal, a sociedade brasileira é mais complexa e mais moderna, e o contexto internacional, com o fim da guerra fria, é melhor acolhedora de um processo de ruptura com a democracia. Não haveria, hoje, motivos de golpe, nem apoio social ou internacional. Será?
No plano internacional os apoios, imediatamente, não virão da América do Norte ou da Europa, mas da Rússia, por interesse geopolítico, e da China, sobretudo por interesse econômico. Um e outro país não tem qualquer apreço pela democracia ocidental, e suas relações internacionais, como é de hábito, são absolutamente pragmáticas. A resistência das democracias ocidentais duraria quanto tempo? E como se expressaria?
Internamente há um apoio social relevante, embora não mensurável. Parte do empresariado, das classes médias e dos setores populares é autoritária, racista e homofóbica. Ou seja, um golpe não estará de todo despido de apoio social.
O argumento de que o líder do movimento golpista é alguém despreparado e imprevisível não corresponde ao que a história nos tem ensinado. Tanto Hitler quanto Mussolini eram figuras medíocres.
Há condições outras que contam a favor de um golpe. O desgaste de instituições democráticas, como o STF e o Congresso Nacional, alimenta os sentimentos golpistas. São duas instituições com imagens absolutamente desgastadas entre os brasileiros.
Um outro fator favorável é o fato de que o regime democrático no Brasil tem se mostrado incapaz em assegurar a prosperidade e a segurança da população.
No âmbito das FFAA não há consenso sobre o gesto, mas há dois fatores favoráveis. O primeiro é a recusa ao PT, que já havia antes de 2002, mas foi incrementado com a corrupção constatada no Mensalão e na Lava Jato, desde o governo Lula e a instalação da Comissão da Verdade, no governo Dilma. Persiste, portanto, um sentimento de recusa ao retorno do PT ao poder, e particularmente a Lula. O segundo está relacionado às políticas identitárias do PT e das esquerdas, que vão contra o conservadorismo dos costumes de grande parte dos dirigentes militares.
A questão é saber o quanto os ganhos compensam as perdas, pois um golpe militar, pelo menos a curto prazo, irá impactar negativamente nossas relações comerciais, os investimentos e as iniciativas locais, sem nenhuma garantia de que a nova condução conseguirá responder às demandas da população por emprego, renda e segurança, com acesso à educação e, sobretudo, à saúde.
Um golpe militar tem algo em comum com uma CPI: sabemos como começa, mas não como termina, ou melhor, como prossegue. Em 1964, os militares pensavam deixar o poder dois ou três anos depois. E vários políticos que os acompanharam acabaram sendo perseguidos, podendo o mesmo ocorrer com algumas personalidades ligadas, hoje, ao Centrão. Não se sabe de antemão quais os vencedores e quais os perdedores em um movimento dessa natureza a médio prazo.
Em circunstâncias similares nem sempre prevalece a racionalidade. Por vezes, o que vence é a emoção da recusa do outro. Portanto, o golpe é possível, não sei o quanto de provável.
Há dois caminhos para evitá-lo. Um é o impeachment, que a maioria do Congresso não quer, o PT inclusive. O outro é ter uma alternativa política que possa chegar ao segundo turno e vencer quem lá estiver, Bolsonaro ou Lula. Claro, se o golpe não ocorrer antes.
A conclamação para que os candidatos, fora da polarização, se unam em torno de uma só candidatura, é inútil. É pregar no deserto. Possibilidade perto de zero de ocorrer. Quem convencerá Lula, Ciro ou Doria, se ganhar a escolha interna no PSDB, de não serem candidatos?
A única possibilidade é que um dos candidatos fora da polarização, que começam a se apresentar, como Rodrigo Pacheco, Eduardo Leite, Alessandro Vieira, Simone Tebet ou outro, consiga ganhar visibilidade e apoio ao ponto de inibir outros, cacifando-se para o segundo turno. E se um desses chegar terá todas as chances de vencer.
*Sociólogo político e socioambiental, Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília e do Programa de Pós-Graduação Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia da Universidade Federal do Amazonas
Fonte: Democracia Política e novo Reformismo
https://gilvanmelo.blogspot.com/2021/09/elimar-pinheiro-do-nascimento-duas-ou.html
“Somos um país estranho”, diz Elimar Nascimento no 3º Encontro de Jovens Lideranças
Para o professor da Universidade de Brasília (UnB), novas lideranças políticas devem reinventar o regime
Cleomar Almeida
Enviado especial a Padre Bernardo (GO)
“O grande papel das novas lideranças políticas é a capacidade de reinventar um regime político no qual as pessoas confiem”, disse nesta quinta-feira (28) o professor do CDS (Centro de Desenvolvimento Sustentável) da UnB (Universidade de Brasília), Elimar Pinheiro do Nascimento. Em palestra no 3º Encontro de Jovens Lideranças, realizado pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira) em Padre Bernardo (GO), ele afirmou que a sociedade tem de buscar novas formas de decisão e participação. “O nosso regime político morreu. Somos um país estranho”.
Apoiado pelo PPS (Partido Popular Socialista), o encontro começou no domingo (24) e segue até esta quinta-feira (28), no Hotel Fazenda Mestre D' Armas, no município no Leste de Goiás e a 115 quilômetros de Brasília. A cobertura jornalística do evento também é realizada pelas redes sociais da fundação. Nos quatro primeiros dias do evento, os participantes interagiram e discutiram democracia, votos facultativo e obrigatório, sistemas políticos, tecnologia, sustentabilidade, educação, economia e desenvolvimento humano.
“Tanto no interior da sociedade quanto no interior do Congresso e das instituições, em geral, sempre há núcleo de pessoas comprometidas com a renovação. Elas têm que aumentar sua eficiência. O desafio é esse”, destacou Nascimento. “Como ser mais eficiente para ganhar o eleitor e mudar a política? Convencendo-o de que o caminho para a saída da decadência implica reformas importantes, reformas da política, do Estado, tributária. Reforma que reduza a desigualdade, aumentando a transparência e a capacidade de influência dos mais pobres. Que a gente consiga adotar políticas efetivamente inclusivas do ponto de vista econômico, político, cultural e social”.
De acordo com o professor da UnB, a falta de renovação de lideranças políticas fortalece o caminho para a decadência. “Grande parte dos eleitores de Bolsonaro votou nele para fazer renovação, a mudança, ou seja, combater a corrupção e a criminalidade, recuperar a economia, retirar o Estado da falência. Agora entre esse desejo e a capacidade de operar isso pelos governantes eleitos há um abismo, talvez intransponível”, afirmou Nascimento aos jovens.
A consequência de o país não renovar as lideranças políticas mostra, segundo o palestrante, que cada vez mais o país “está caminhando para decadência social e econômica”. “Somos um país cada vez mais atrasado. Que mata mulheres todos os dias. Tem uma escola que é um lixo, assim como Congresso e Judiciário com mordomias vergonhosas. Temos instituições que interessam as corporações, e não à nação.”
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