Eleições

O Estado de S. Paulo: O governo padece de uma questão de legitimidade’, diz Alckmin

Tucano afirma que não cogita aliança com o MDB: ‘Estamos procurando o apoio de partidos que não têm candidato’

Por Adriana Ferraz, Emanuel Bonfim e Pedro Venceslau, de O Estado de S.Paulo

O ex-governador Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência da República, disse em entrevista ao Estado e à Rádio Eldorado que não pretende defender o “legado” do presidente Michel Temer caso seja eleito. Alckmin afirmou também que não vai convidar o emedebista para ocupar cargo no governo nem dar indulto ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

No campo econômico, o sr. prega a continuidade do governo Michel Temer?
Não. Acho que ninguém está discutindo legado, estamos discutindo o futuro. O governo atual tem um grande problema, que é a falta de legitimidade porque não teve voto. Na democracia tem que ter voto. A união entre o cidadão e o governo se dá pelo voto, por isso essa dificuldade enorme.

Se o sr. for eleito, vai dar indulto ao ex-presidente Lula e um cargo ao Michel Temer, como uma embaixada, por exemplo?
Não e não.

Aceitaria o apoio do MDB?
Não vou cometer a indelicadeza de levantar uma hipótese sendo que o MDB tem candidato, o dr. Henrique Meirelles. Estamos procurando o apoio de partidos que não têm candidato.

Mas vê com bons olhos o apoio do MDB com Temer no pacote?
Vocês querem saber se vou defender o legado Temer. Nós vamos olhar para o futuro.

Foi um erro do PSDB ter participado desse governo e ainda ter um ministro, o chanceler Aloysio Nunes?
Todo mundo critica o presidente Temer. Acho que em muita coisa a crítica é procedente. Mas a gente tem que entender que é um governo de transição. É diferente de um governo eleito. Padece de uma questão de legitimidade.

Mas foi um erro?
Quando começou o governo do presidente Temer eu fui da tese que devíamos apoiar todas as medidas que o Brasil precisa, mas sem participar de governo e ter ministério. Essa não foi a tese majoritária. O Aloysio ajuda o País, mas não representa o PSDB.

Vídeos divulgados na semana passada nas redes sociais mostram claques recebendo o sr. em aeroportos. É nova estratégia de campanha, no estilo Bolsonaro?
Fiquei muito feliz. Quem não gosta de carinho, de afeto. Isso aconteceu em Brasília e aqui em São Paulo também. Para mim a campanha começa mesmo depois das convenções, e não é apenas pela lei, mas pelo interesse maior da população.

Foi espontânea essa mobilização? Ou uma estratégia do partido para parecer que o senhor não está isolado?
A maioria das pessoas que estavam é militante do partido que eu não via há muito tempo e deu para matar a saudade.

O sr. tem sido alvo de fogo amigo dentro do PSDB? Há relatos que teria se irritado em jantar com aliados em Brasília...
Não tem nenhuma irritação, pelo contrário, temos recebido grande apoio do partido. O que se pode fazer é olhar o copo meio cheio, meio vazio. Dos candidatos mais ao centro, que são dez praticamente, eu tenho a melhor posição. Está todo mundo com 1%, no máximo chega a 4% e eu vou de 7% a 11%. Agora, está muito fragmentado. Precisa diminuir o número de pré-candidatos, o que eu acho que vai acontecer lá no final de julho.

Qual a prioridade na formação de alianças? Cogita fazer aliança com Marina Silva, por exemplo, como o ex-presidente Fernando Henrique teria sugerido?
Olha, seria indelicado com a Marina especular qualquer aliança na medida em que ela é pré-candidata, já foi candidata a presidente da República e acredito que vá ser candidata. Agora conversar é sempre bom. O presidente Fernando Henrique tem nos ajudado muito, é um homem do diálogo, das pontes.

A que o sr. atribui esse patamar baixo nas pesquisas?
Não me preocupa muito essa coisa de pesquisa nesse momento. A maioria das pessoas ainda acha que eu sou governador de São Paulo. A informação demora.

Uma articulação, com o apoio do ex-presidente Fernando Henrique, tenta unificar todas as candidaturas do centro em uma só. O sr. está disposto a abrir mão?
Eu gostei desse documento, acho que precisamos estar próximos daqueles que prezam, acreditam na democracia conquistada duras penas. Agora, todos vão abrir mão para um só ser candidato? Acho que não.

Então não abre mão da candidatura?
Não há nenhuma razão para abrir mão. As pessoas querem decidir a eleição sem ter havido campanha.

Jair Bolsonaro está empatado com o sr. em São Paulo, Estado que o sr. governou por mais de 13 anos. Como explica isso?
Olha, aqui (em São Paulo) nós vamos ganhar a eleição, estou garantindo, e com larga margem. A pesquisa, neste momento, não é de intenção de voto. Mais de 60% das pessoas dizem não ter candidato. E eu não vou fazer campanha contra candidato A, B ou C.

O sr. diz que não faz campanha contra, mas posts nas suas redes sociais são contrárias a ele, o que parece estratégia de campanha de polarizar com Bolsonaro.
O que eu falei é que os extremos às vezes se atraem. Se você for verificar os votos, o Bolsonaro, que é deputado pela oitava vez acho, vota igualzinho ao PT. É aquele voto corporativo, atrasado.

O sr. acha mais importante disputar o antipetismo com o Bolsonaro ou manter pontes com o PT para enfrentá-lo no 2º turno?
O que pretendo é percorrer o Brasil levando uma mensagem de esperança para a população, explicando o que nós já fizemos, porque tem muita gente prometendo mundos e fundos e não entregou nada.

O antipetismo não está no seu radar?
Não, nós vamos levar esperança para o Brasil.

O sr. acredita ainda na polarização PT e PSDB?
Acho que o PT, independentemente de quem seja, terá um candidato competitivo.

O sr. vai ter que se explicar na campanha sobre a investigação que envolve seu cunhado, Ademar Ribeiro, citado por delatores da Odebrecht como o homem que recebeu caixa 2 para a sua campanha de 2010. O sr. defende que esse caso seja investigado na Justiça Eleitoral, mas por que, se diz que ele não tinha função na sua campanha?
Isso não existe. As minhas campanhas, em primeiro lugar, sempre foram modestas e, segundo, sempre rigorosamente dentro da lei. Faz um ano e meio que ouço isso e até agora não houve nenhum fato. Ninguém está acima da lei, tem denúncia, por mais estapafúrdia que existe, investigue-se. Já prestei esclarecimento.


Bernardo Mello Franco: A terceira vez de Marina

Marina Silva disputará sua terceira eleição presidencial pelo terceiro partido diferente. Desta vez, ela não conseguiu fechar nenhuma aliança e corre o risco de ficar com apenas 12 segundos na TV. Mesmo assim, tem demonstrado fôlego para lutar por uma vaga no segundo turno.

De acordo com o Datafolha, a ex-senadora mantém 15% das intenções de voto nos cenários sem Lula. Só está atrás de Jair Bolsonaro, que lidera com 19%. Nas simulações de segundo turno, as posições se invertem. Marina vence o ex-capitão com folga, por 42% a 32%. Ela também aparece bem à frente no confronto direto com Ciro Gomes e Geraldo Alckmin.

A pesquisa animou a turma que vê a ambientalista como um bote salva-vidas em caso de naufrágio do tucano. A opção Marina tem simpatia declarada do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas também empolga empresários e investidores desiludidos com o candidato do PSDB.

Na Era FH, Marina usava a tribuna do Senado para atacar os bancos, criticar as privatizações e pregar o calote da dívida externa. Ela chegou a votar contra a Lei de Responsabilidade Fiscal. Em 2010, beijou a cruz do mercado ao concorrer ao Planalto pelo PV. Para sacramentar a guinada, escalou um empresário como vice e entregou o caixa de campanha a um ex-presidente do Citibank.

Os dois colaboradores se afastaram, mas Marina não desistiu da guinada liberal. Agora ela tenta reforçar suas credenciais com a ajuda de economistas como André Lara Resende e Eduardo Giannetti da Fonseca.

Apesar do flerte com o andar de cima, Marina exibe desempenho melhor entre eleitores mais propensos a votar no PT. Segundo o Datafolha, ela supera Bolsonaro entre os mais pobres (17% a 13%) e menos escolarizados (16% a 11%). No grupo dos mais ricos, despenca para a quinta posição, com apenas 3%.

Com Lula na cadeia, a ex-senadora larga na frente na disputa pelo seu espólio político. Mas esta transferência pode ser barrada durante a campanha, quando o eleitor for lembrado de seu apoio a Aécio Neves, ao impeachment de Dilma Rousseff e à prisão do ex-presidente.


Ascânio Seleme: Não culpe o eleitor

Os partidos não apresentaram programas, e os pré-candidatos tampouco tiveram chance de mostrar o que pretendem fazer. O eleitor só decidirá depois de conhecer os dados

Aquilo que institutos de pesquisa chamam de indecisão é na verdade resultado da ausência de elementos objetivos para o eleitor fazer a sua escolha. A ele ainda não foram oferecidas as condições para apontar em quem vai votar para presidente. Os partidos não apresentaram programas, e os pré-candidatos tampouco tiveram chance de mostrar o que pretendem fazer. Até agora, tudo de que o eleitor dispõe são biografias, discursos e entrevistas recortados por aí. Não são suficientes. O eleitor só decidirá depois de reunidos os dados necessários.

O que se pode dizer a esta altura é que a história do Brasil prova que o eleitor é muito mais cuidadoso e racional quando vota em candidato a cargo executivo. Quando decide quem vai cuidar da sua rua, da sua cidade, do seu estado ou do país, ele tende a ser mais racional e caprichoso no seu voto. Desde Collor, talvez com essa única exceção que confirma a regra, os presidentes eleitos do Brasil foram melhores do que os seus Congressos.

Não há dúvida de que Fernando Henrique Cardoso era melhor que os deputados e senadores que ocuparam as cadeiras do Congresso durante seus dois mandatos. Pode-se afirmar a mesma coisa de Lula e até de Dilma, apesar de o primeiro estar preso por corrupção e lavagem de dinheiro e a segunda ter sido afastada do cargo por crime na execução do orçamento, as famosas pedaladas fiscais.

Mas você pode dizer que esta regra para valer precisa ser comprovada nos estados e nos municípios. Se você prestar atenção, verá que ela se comprova. Mesmo no Rio. Alguém discorda de que Cabral, antes de começar a meter a mão no cofre público, era melhor que a Assembleia Legislativa, a famosa Alerj? Acho que não.

Embora cada eleição seja uma nova corrida, o que o eleitor quer em todas é ver os seus problemas resolvidos ou pelo menos encaminhados. O eleitor brasileiro sabe que a eleição presidencial de outubro é a mais importante do país desde a redemocratização. Sabe que o que está em jogo é o futuro do país, da coletividade, o seu próprio futuro. O eleitor é pragmático. Não é por outra razão que muitos deixam para decidir apenas na última hora.

Entre os pré-candidatos a presidente já lançados, há os que atendem às demandas do eleitor e outros que jamais as alcançarão. Aquele que promete colocar bandido na cadeia e acabar com a corrupção na porrada não cola. O eleitor sabe que quem prende bandido e corrupto é juiz, não presidente. Ele reconhece, de longe, quem está mentindo, quem está enrolando, quem está jogando para a plateia. E sabe também até onde um candidato pode ir. Poucos ainda caem em promessas mirabolantes.

As pesquisas feitas hoje, mesmo as sérias, não servem de balizamento para se dizer como votará o eleitor. Apesar de as necessidades do eleitor serem bastante conhecidas, para atendê-las, não basta prometer e jurar. Tem que explicar como vai fazer, quanto vai custar, de onde vai tirar o dinheiro e quem vai pagar a conta. O custo da greve dos caminhoneiros foi muito educativo neste aspecto.

Na hora de votar, o brasileiro precisa que os candidatos a presidente mostrem o que farão com a economia para que o país volte a crescer e gerar empregos; como pretendem resolver o problema da Previdência; como vão controlar os gastos públicos e onde vão fazer cortes; de que maneira tratarão os impostos altíssimos que paga; e que respostas terão para a segurança, a saúde e a educação.

O eleitor, portanto, não é o problema. Atender às suas demandas é objetivo e obrigação de quem entra na vida pública. Sobretudo dos que querem presidir o país. São muitos os candidatos, o Brasil é uma fábrica de fazer partidos e candidatos. Mas são poucas as opções do eleitor. Variando entre a esquerda e a direita, há no máximo três ou quatro alternativas de orientação política disponíveis.

A lista de candidatos é desanimadora. Nas águas turvas da extrema-direita está o PSL (Bolsonaro). No Centro, PSDB (Alckmin), Podemos (Alvaro Dias) e PMDB (Meirelles). No Centro há variações para a esquerda ou para a direita. O PT (o poste de Lula) é centro-esquerda, assim como o PDT (Ciro) e a Rede (Marina). E há inúmeros nanicos na centro-direita. À esquerda estão os pequenos de sempre, PCdoB (Manuela) e PSOL (Boulos). Além dos partidos novos, que ainda terão de mostrar a que vieram, há os irrelevantes de sempre. O novo presidente do Brasil sairá dessa lista, é pegar ou largar.

* Ascânio Seleme é jornalista


El País: O voto das mulheres, um muro contra a candidatura Bolsonaro

Quatro em cada dez eleitoras ainda não sabe em quem vai votar. Sem Lula, número de indecisos chega a recorde

Por  Talita Bedinelli, do El País

Se as eleições presidenciais ocorressem agora, quatro em cada dez mulheres do país não teriam um candidato, segundo a pesquisa Datafolha divulgada no último domingo. O resultado repete o visto pelo levantamento telefônico do DataPoder360, a divisão de pesquisas do site Poder360, em cenários que não consideraram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preferido entre elas. Enquanto até 42% das entrevistadas pela pesquisa afirmam que votariam branco, nulo ou se declaram indecisas, a taxa atual destes não votos entre os homens é de 25%. As mulheres, principal força eleitoral do país, estão mais indecisas ou desprezam mais os atuais nomes disponíveis neste momento da disputa do que os homens. E quais seriam os motivos que levam a essa diferença entre elas e eles?

A tendência de indecisão entre as eleitoras meses antes da votação não é novidade e se repete em todos os pleitos. E isso não significa que se manterá tão alta até o momento em que elas chegarem às urnas, apontam estudos sobre o comportamento eleitoral das mulheres. As eleitoras demoram mais para escolher candidatos e costumam decidir de olho nas propostas, especialmente as que abordam serviços públicos, algo que se torna evidente apenas após o início da campanha na TV.

No atual estado da corrida eleitoral, elas são decisivas para desenhar o panorama: de um lado, puxam para cima - em nível recorde - o número de eleitores que não escolhem ninguém se Lula não estiver no páreo; do outro, erguem um muro que, até agora, impede que o candidato de extrema direita Jair Bolsonaro avance na dianteira sem ele.

Condenado em segunda instância, Lula pode ter sua candidatura impugnada pelas regras da Lei da Ficha Limpa, mas quando seu nome é testado nas pesquisas a maior proporção de suas intenções de voto está entre as mulheres —31% delas afirmam querer votar nele; entre os homens, a taxa é de 29%. Por isso, na ausência de Lula a taxa de não voto aumenta. "Lula tem uma variável fundamental que é o Bolsa Família", afirma Maurício Moura, presidente do Idea Big Data, que coordenou diversas campanhas no Brasil e no exterior. Um estudo das Nações Unidas do ano passado apontou que o programa de transferência de renda favorece a autonomia das mulheres beneficiárias, que se sentem menos dependentes dos parceiros ao adquirir uma fonte regular de renda —o pagamento é feito preferencialmente a elas. Também exige a frequência das crianças à escola e a vacinação. A luta está em quem vai convencer esta eleitora de merece o voto que seria de Lula. Marina Silva é quem mais cresce dentre as mulheres que declaram votos na ausência de Lula (até 17% sem Lula ante 11% com ele).

Sem o petista, Marina se aproxima de Bolsonaro, que desponta em primeiro nas pesquisas na ausência do ex-presidente. Entre as mulheres, o deputado está em clara desvantagem. Tem entre as eleitoras uma preferência muito mais baixa que entre os eleitores. Se até 27% dos homens afirmam que pretendem votar nele, entre as mulheres este número cai para até 12%, segundo o Datafolha. Bolsonaro precisa conquistar os votos delas pra poder crescer, algo complicado para um candidato que fez declarações machistas polêmicas, especialmente em um momento de fortalecimento dos movimentos feministas. Em abril do ano passado, ele afirmou que "fraquejou" ao ter o quinto filho e, por isso, ela nasceu mulher, o que causou revolta nas redes sociais. Ele também causou indignação ao chamar a deputada Maria do Rosário de "vagabunda" e afirmar: "jamais iria estuprar você porque você não merece".

Esperar para ver
Seja como for, parece faltar ainda algumas semanas até que o quadro mude de maneira significativa. "As mulheres esperam chegar a informação que lhes interessa. Geralmente, elas são mais cuidadosas na escolha", diz a socióloga Fátima Pacheco Jordão, que em 2010 realizou um estudo sobre o poder do voto feminino para o Instituto Patrícia Galvão, ONG da qual é conselheira. Em sua pesquisa, ela apontou que entre as eleitoras o voto costuma ser mais consciente e consistente e as mulheres ficam na expectativa de propostas que afetem diretamente a vida da população, como as relacionadas à saúde, educação, desemprego e segurança. E, enquanto elas são mais sensíveis a políticas públicas, eles demonstram mais interesse por assuntos ligados ao jogo de poder, como as escolhas partidárias, por exemplo. Por isso, os homens geralmente têm mais certeza de seus votos nesta etapa da corrida eleitoral, quando as decisões políticas estão sendo tomadas.

Lúcia Avelar, pesquisadora associada do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da Unicamp, pondera que os dados globais das pesquisas de opinião não mostram as diferenças que existem entre as mulheres dentro dos diversos estratos, como renda, escolaridade e região do país, por exemplo. Mas ela concorda que, em geral, as mulheres costumam decidir mais tarde. "Elas são muito mais conhecedoras dos serviços públicos e sociais", explica. Para ela, entretanto, a elite política não dá tanta importância a essa parcela de votantes, que representa 52,5% do eleitorado brasileiro, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). "Eles acham, erroneamente, que a mulher acompanha o voto do companheiro. Há um conservadorismo pesado que cega um pouco os políticos. Eles começam a acordar agora para a importância de dar uma atenção especial para elas", ressalta.

"É impossível se passar por uma campanha sem que exista um cluster que seja feminino. Alguma tática de comunicação para esse grupo é necessária", diz Moura, do Idea Big Data. Ele reconhece, entretanto, que a atenção dada às campanhas para o voto das mulheres ainda é desproporcional ao tamanho delas no eleitorado. "A questão é que existem muito mais candidatos homens do que mulheres e, por isso, as campanhas já partem de uma lógica inicial masculina. Essa força ainda é subestimada em relação ao tamanho do eleitorado porque a lógica da política ainda é masculina", ressalta. Para ele, o problema se corrige com o aumento de candidatas mulheres no processo.

"Eu não escolhi meu candidato e acho que não vou votar em ninguém. Prefiro assistir aos debates, que ajudam quando a gente não conhece muito os nomes", conta a analista de sistemas Fabiana Guimarães Zinhani, 30. O mesmo afirma a manicure Maria Mônica da Conceição, 62. "Na verdade, nem sei quem disputa, além do [ex-governador] Geraldo Alckmin". Para ambas, o atual cenário de candidatos, que se mostra mais pulverizado e com nomes menos conhecidos, faz com que a escolha seja ainda mais difícil do que nos anos anteriores. E o voto delas ainda mais importante, explica Pacheco Jordão. "Neste contexto, o peso de cada voto é maior e [diante das muitas opções] elas provavelmente vão demorar ainda mais para escolher", diz. "Em decisões apertadas como as que temos tido, quem acaba decidindo a eleição é a mulher", explica a socióloga.


Roda Democrática promove ato do Polo Democrático e Reformista em SP nesta quinta-feira (28)

A Roda Democrática, grupo que reúne “militantes de histórico partidário variado, democratas liberais, socialdemocratas, socialistas, comunistas, pós-comunistas, ambientalistas e alternativos”, realiza nesta quinta-feira (28/06), em São Paulo, às 17h, no Teatro Eva Herz (Conjunto Nacional – Avenida Paulista, 2073 – Consolação) um ato do Polo Democrático e Reformista.

Diante da polarização dos extremos nas eleições presidenciais de outubro, representada pelo “nós contra eles” e por setores defensores da intervenção militar no País, os integrantes da Roda Democrática entendem, no entanto, que “ainda não há, no cenário político, uma candidatura que se possa desde já considerar unitária, arejada e competitiva, definição essa que virá no momento apropriado e como produto do consenso majoritário formado no vasto campo da democracia”.

“Comprometida com a democracia e o reformismo social”, a Roda Democrática (veja a convocação abaixo) considera necessário a união de esforços “para superar a mentalidade binária que simplifica o que é complexo e bloqueia a expansão da sociedade do conhecimento”, ao mesmo tempo em que anuncia que “não se furtará a entrar nessa batalha”, com a mobilização para o ato e a abertura de lista de adesão, no site do grupo na Internet, do “Manifesto Por um Polo Democrático e Reformista”, lançado no último dia 5 de junho, em Brasília.

O documento, que conta com o apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), do senador Cristovam Buarque (PPS-DF), parlamentares e lideranças de diversos partidos, defende uma candidatura única de centro em 17 pontos (veja aqui) que “podem gerar consensos progressivos em torno da agenda nacional e dos avanços necessários, a partir de uma perspectiva democrática e reformista”.

O manifesto afirma que a eleição deste ano é mais “complexa e indecifrável” desde a redemocratização e alerta, sem citar nomes, para o risco de uma disputa polarizada entre um candidato de esquerda e o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ), que lidera as pesquisas de intenção de voto no cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“A Roda e os artesãos da unidade

A Roda Democrática nasceu inteiramente comprometida com a democracia e o reformismo social. Em todos os nossos encontros e manifestações, assumimos o compromisso de contribuir para a aglutinação do campo democrático e reformista, tanto para gerar uma alternativa de longo prazo capaz de levar o Brasil a superar a maior crise de sua história, quanto para unir forças na disputa presidencial.

No último dia 5 de junho foi lançado em Brasília o manifesto do Polo Democrático e Reformista. A louvável iniciativa, para ser bem sucedida, não pode se limitar a uma articulação parlamentar e partidária. Tampouco pode ser entendida como correia de transmissão desta ou daquela candidatura. Ainda não há, no cenário político, uma candidatura que se possa desde já considerar unitária, arejada e competitiva, definição essa que virá no momento apropriado e como produto do consenso majoritário formado no vasto campo da democracia.

As forças vivas da sociedade e da democracia precisam convergir para esse objetivo. Os movimentos cívicos horizontais, o mundo da cultura e o mundo do trabalho estão convocados a cumprir papel ativo nessa quadra tão grave da nossa história. Devemos nos esforçar para superar a mentalidade binária que simplifica o que é complexo e bloqueia a expansão da sociedade do conhecimento.

A Roda não se furtará a entrar nessa batalha. Em sintonia com o presidente Fernando Henrique Cardoso, tomamos a iniciativa de realizar em São Paulo um grande ato do Polo Democrático e Reformista, no dia 28 de junho, às 17h, no Teatro Eva Herz, Conjunto Nacional, Av. Paulista. Nos próximos dias pretendemos anunciar a adesão de movimentos como Agora, Juntos e Acredito, entre outros, bem como de políticos, intelectuais e sindicalistas.

Ao mesmo tempo, o site da Roda Democrática hospedará uma lista de adesões ao manifesto do Polo Democrático e Reformista.

O desafio é imenso. É sempre mais fácil dividir do que agregar. É muito mais cômodo cada um ficar na sua bolha. Mas não é o que o Brasil exige de democratas como nós. Nossa cultura é da unidade. Superamos o regime militar por meio de uma grande concertação democrática. Quem disse que não poderemos fazer o mesmo para superar a diáspora que ameaça por em xeque o nosso futuro?

Contamos com todos vocês para essa empreitada. Participem do ato do dia 28 de junho, ajudem na sua divulgação. Convoquem amigos e familiares. Mantenham viva a discussão.

É o que o Brasil espera de todos nós, artesãos da unidade.”

ATO POLO DEMOCRÁTICO E REFORMISTA
Dia: 28 de junho
Horário: 17h
Local: Teatro Eva Herz – Conjunto Nacional (Avenida Paulista, 2073 – Consolação) – São Paulo (SP)


Míriam Leitão: Visão da população coincide com a dos especialistas sobre a piora econômica

Nos últimos três meses, aumentou para 72% o percentual de brasileiros que acham que a economia piorou, mostra pesquisa Datafolha. Isso também está sendo dito pelos especialistas e pelos economistas nas últimas semanas. Houve uma redução das expectativas em relação ao crescimento do PIB.

Houve um momento que foi ainda pior do que este, que foi em fevereiro de 2016, no final do governo Dilma, quando o país havia se aprofundado na recessão. O auge da recessão foi o segundo trimestre daquela ano, quando, no acumulado em quatro trimestres, o PIB caiu 4,8%, um número inédito. Naquele momento, 80% achavam que a economia tinha piorado. Depois, houve uma melhora desse número, com a saída da recessão, que foi devagar. Mas a recuperação não melhorou o drama do desemprego, que desestabiliza as famílias, abala a confiança e o humor das pessoas.

Não chega a ser o 80% do período Dilma, mas aumentou para 72%, porque de fato o desconforto econômico cresceu. A isso se soma a greve dos caminhoneiros, que mostrou o desabastecimento e o aumento dos combustíveis. Sete em cada 10 acham que a greve foi prejudicial ao país.

Em relação à vida pessoal, a visão é mais otimista, 42% acham que a situação vai melhorar. O brasileiro não perde a esperança. Em relação ao país, 32% acham que vai piorar, e só 26% acham que vai melhorar.


Denis Lerrer Rosenfield: A volta dos militares

Novidade histórica: os militares voltarão ao poder, pela via democrática

Eis um cenário altamente provável, que foge totalmente do padrão das últimas eleições. Estamos diante de um fato novo, que não se deixa mais reduzir aos moldes de uma polarização hoje vencida entre PT e PSDB. É forçoso reconhecer que o País mudou.

Essa provável volta contará com o apoio da sociedade e, certamente, das Forças Armadas. Para a opinião pública, os militares representam uma instituição da mais alta confiabilidade, que não foi tomada pela onda da imoralidade pública. Eles se tornaram, para muitos, uma opção, uma alternativa de poder. Seu prestígio só tem aumentado.

É bem verdade que todos os governos após a redemocratização contribuíram amplamente para isso. A segurança pública foi deixada em frangalhos, o crime assola a Nação, e tudo tem sido tratado com leniência e ineficiência, se não com complacência e simpatia ideológica. Crime não seria crime, mas uma forma de resposta social. Se os mortos falassem, eles lhes dariam uma resposta adequada!

As pessoas estão aterrorizadas, nas ruas e em casa, e ainda são obrigadas a ouvir o discurso ensurdecedor do politicamente correto. Mais de 60 mil pessoas são mortas por ano e temos de ouvir as falas insensatas sobre a manutenção do Estatuto do Desarmamento, como se esse fosse o maior problema do País. Os cidadãos de bem tornam-se, graças ao legítimo direito à autodefesa, os responsáveis pela criminalidade!

A candidatura Bolsonaro surge como uma resposta a esse tipo de questão, por mais impreciso que seja ainda o seu discurso político e, sobretudo, econômico. Soube escutar esse anseio da sociedade, ciente de que o Estado não se pode sustentar sem o exercício da autoridade estatal.

O Estado, em negociações “democráticas”, virou refém de corporações de funcionários e empresários que se apoderaram de uma fatia do bolo público e são avessos a qualquer mudança. Se a tão necessária reforma da Previdência não foi realizada, foi por que as corporações de privilegiados se negaram a reduzir seus benefícios dos mais diferentes tipos.

A esquerda, seguindo sua degradação ideológica, ficou do lado das corporações públicas, como se elas representassem os trabalhadores, estes, sim reféns de baixos salários e do desemprego. As corporações do Judiciário e do Ministério Público também se recusaram a aceitar a igualdade básica dos cidadãos enquanto membros do Estado. Este se tornou presa de seus estamentos, perdendo o sentido da moralidade e do bem coletivo.

Tachar o discurso do deputado Jair Bolsonaro de extrema direita é o melhor atalho para refugiar-se na miopia ideológica. Só teria sentido se se considerasse a defesa da vida e do patrimônio das pessoas uma bandeira de extrema direita. Isso significaria, então, que a esquerda valoriza o crime e a violência? Ou não se preocupa com a vida e o patrimônio dos cidadãos?

A greve dos caminhoneiros mostrou com inusitada clareza que os militares se tornaram uma opção para boa parte dos cidadãos. Os pedidos de intervenção militar alastraram-se pelo País e foram muito maiores do que o noticiado. A sociedade clama por moralidade pública e por segurança física e patrimonial. Cansou-se do discurso de uma classe política que não mais a representa. Partidos com forte estruturação ideológica, como PT e PSDB, ficaram literalmente perdidos, tontos.

Evidentemente, tal saída seria uma ruptura institucional, ferindo uma democracia cambaleante. E mais imprópria ainda por ter o atual governo levado a cabo uma agenda reformista que está mudando o País, apesar de seus percalços. Não seria esse o destino desejável.

Nas últimas décadas os militares têm tido um comportamento exemplar, defendendo a democracia e a Constituição. Passaram por momentos muito delicados, sendo objeto de acusações as mais diversas, com a ameaça de revisão da Lei da Anistia pairando sobre eles. Souberam resistir no estrito respeito às normas constitucionais, enquanto seus opositores pretendiam jogá-las pelos ares.

Agora, todo um setor importante da sociedade brasileira clama para que voltem ao poder, por intermédio da candidatura Bolsonaro. Ele não representa apenas a si mesmo, mas responde a um apelo social, podendo contar com o apoio dos militares, embora as Forças Armadas permaneçam, enquanto instituição estatal, neutras e equidistantes em relação ao processo eleitoral.

É visível o empenho de militares da reserva em favorecer essa via democrática de volta ao poder. Generais importantes estão empenhados nesse processo, dando o seu aval a uma candidatura que, vitoriosa, poderá contar com o apoio daqueles que querem restaurar a autoridade estatal.

Acontece que a Nação apresenta uma condição de anomia, cada estamento puxando para o seu interesse particular, como se o Estado pudesse ser esquartejado, perdendo-se até mesmo a própria noção do bem coletivo. A desordem toma conta do espaço público, como amplamente demonstrado na greve dos caminhoneiros, que conseguiu curvar o governo no atendimento de suas demandas.

O caminho está aberto para que outras corporações sigam o mesmo caminho. A greve contou com o apoio da sociedade, que, do ponto de vista público, terminou prejudicada em todo esse episódio. O que contou, porém, foi a expressão de uma insatisfação generalizada, que encontrou aí uma canalização para o seu mal-estar.

E é esse mal-estar que está sendo a condição mesma do apoio social à volta dos militares ao poder. Talvez os que defendam a ideia da bolha da candidatura Bolsonaro, como se ela fosse logo explodir, não tenham compreendido que a sociedade não mais aceita uma classe política que se corrompeu e dela se distanciou.

Se há uma bolha, diria crescente, é a de uma sociedade que deseja mudanças. E ela, sim, pode explodir!

*Denis Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia na UFRGS


Bernardo Mello Franco: A maldição do impeachment pegou mais um

Eduardo Cunha foi preso. Aécio Neves caiu em desgraça. Michel Temer continua no palácio, mas não pode pisar na rua. A maldição do impeachment tem sido implacável com os algozes de Dilma Rousseff. Agora chegou a vez de Augusto Nardes, o relator das pedaladas fiscais.

"No fim de maio, a Polícia Federal vasculhou a casa do ministro do Tribunal de Contas da União. Os agentes apreenderam documentos e celulares. A operação foi realizada em sigilo, por ordem do Supremo Tribunal Federal. Veio à tona na quarta-feira, no site da revista Época.

"Nardes apareceu na delação de Luiz Carlos Velloso, um dos réus confessos da quadrilha de Sérgio Cabral. Ele disse à Justiça que pagou despesas pessoais do ministro. No pacote, incluiu até mensalidades escolares. Segundo o delator, o ministro do TCU também recebeu propina de Fernando Cavendish, o empreiteiro que bancava as farras do ex-governador do Rio.

"Não é a primeira vez que o investigador vira investigado. Nardes já havia sido citado na Operação Zelotes, que apura fraudes fiscais. Também foi delatado ao menos duas vezes na Lava-Jato. Renato Duque, o ex-diretor da Petrobras, disse que ele recebeu propina de R$ 1 milhão."

Até agora, o ministro esteve a salvo de conduções coercitivas ou prisões temporárias. As buscas em sua casa são uma novidade porque indicam que essa blindagem pode ter começado a ruir. Procurado na quarta, ele não quis se manifestar sobre a operação.

"Antes de se enrolar, Nardes foi peça-chave na derrubada de Dilma. Seu relatório sobre as pedaladas deu pretexto formal para o processo de impeachment. Às vésperas do julgamento, ele posava de vestal. Numa entrevista, disse que o país não podia mais “passar a mão na cabeça das autoridades em detrimento do povo” brasileiro. “Temos que dar um basta a isso”, bradou. Houve quem sugerisse lançá-lo ao Planalto."

Ex-deputado do PP, Nardes foi indicado ao TCU por Severino Cavalcanti, aquele que exigiu a diretoria da Petrobras “que fura poço e acha petróleo”. Antes de virar ministro, fez acordo para escapar de uma acusação por crime eleitoral e peculato. Quando ele pontificava contra a corrupção, sua ficha já era bem conhecida em Brasília.


O Globo: Pré-candidatos à Presidência afirmam que não darão indulto a Lula

O Globo enviou questionário com sete perguntas sobre ética e corrupção

Por Catarina Alencastro

BRASÍLIA- Todos os cinco pré-candidatos à Presidência mais bem colocados nas pesquisas disseram que não darão um indulto ao ex-presidente Lula, condenado pela Justiça em segunda instância a 12 anos e um mês de prisão pelo caso do tríplex do Guarujá. Os presidenciáveis Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Álvaro Dias (Podemos) responderam a questionário enviado pelo GLOBO com sete perguntas sobre ética e corrupção.

Bolsonaro, que não respondera a enquetes anteriores sobre as reformas previdenciária e tributária, disse que “jamais assinaria indultos para condenados por corrupção”. Alckmin afirma que não dará indulto a condenado por corrupção, por se tratar de crime de “lesa pátria”. Álvaro Dias sustenta que de “maneira alguma” concederia um perdão judicial ao petista.

Marina afirmou que o indulto não pode ser instrumentalizado politicamente, e que não se deve burlar a lei para beneficiar quem quer que seja. E Ciro repetiu o que já havia declarado sobre o assunto: que seria uma “loucura” assinar o indulto, já que Lula ainda dispõe de duas instâncias às quais pode recorrer na Justiça. O petista está preso na superintendência da Polícia Federal em Curitiba desde 7 de abril.

O GLOBO perguntou também a opinião dos pré-candidatos sobre a prisão de condenados em segunda instância. Ciro foi o único candidato a se manifestar contra. Para ele, é uma “distorção insanável” porque no Brasil há quatro instâncias judiciais até que seja extinta a última possibilidade de apelação e porque o princípio universal do direito é a presunção de inocência até o trânsito em julgado do processo.

— É compreensível que a população brasileira esteja assustada com os casos de corrupção, indignada com a morosidade dos processos e queira justiça rápida. Mas, mais uma vez, é importante ressaltar o princípio universal no Direito que é a presunção de inocência até o trânsito em julgado do processo, com sentença condenatória terminativa — afirmou Ciro Gomes.

Essa é justamente a principal linha da defesa de Lula. O ex-presidente teve negado, no Supremo Tribunal Federal (STF), habeas corpus preventivo para que pudesse recorrer em liberdade.

Os demais pré-candidatos se manifestaram a favor da prisão em segunda instância. Marina, porém, ponderou: ela diz que essa decisão deve ser combinada com o fim do foro privilegiado.

O GLOBO também questionou os presidenciáveis sobre como se comportariam em relação a investigados por corrupção. Ciro Gomes e Álvaro Dias dizem que, caso sejam eleitos, não vão nomear envolvidos em corrupção para cargos no governo. A linha de corte dos dois, porém, é diferente. Enquanto Álvaro diz que denunciados estariam fora de sua administração, Ciro negaria cargos a condenados por corrupção. Marina prometeu aplicar a Lei da Ficha Limpa — que exclui candidatos condenados por colegiados — na ocupação dos postos de seu governo.

Bolsonaro vai além, dizendo que não fará qualquer tipo de nomeação política em seu governo, caso se eleja. Sem entrar em detalhes, Alckmin diz que estabelecerá barreiras legais e éticas para escolher sua equipe. E que, mediante julgamento, sendo comprovada a culpa do funcionário, “serão tomadas as decisões”.

Na hipótese de um ministro ou funcionário do alto escalão do governo ser denunciado, Dias o demitiria prontamente “se a denúncia fosse consistente”. Ciro diz que cada caso seria avaliado, mas, sendo comprovada a denúncia, haveria demissão. Marina faz uma diferenciação entre acusações no campo da vida privada, como um acidente de trânsito, e na vida profissional.

Com relação ao instituto da delação premiada, Alckmin, Marina, Dias e Bolsonaro dizem ser favoráveis, embora admitam que possa haver espaço para aperfeiçoamentos. Ciro disse que o mecanismo carece de mais transparência, pois gera “incertezas e questionamentos”. Marina e Alckmin também falam da necessidade de “aprimoramentos”. O tucano diz que não está certo transformar as declarações de delatores em culpa imediata dos citados.

O GLOBO também perguntou se o critério de escolha do mais votado na lista tríplice do Ministério Público será adotado para a escolha do procurador-geral da República. Bolsonaro foi o único a dizer que a lista é “apenas um indicativo”, sinalizando que não se comprometerá em segui-la. Dias, Marina e Alckmin disseram que chancelarão a escolha dos procuradores, e Ciro afirma que ainda não se debruçou sobre o tema, mas que tende a seguir a escolha do MP.

Veja abaixo as perguntas enviadas e as respostas na íntegra dos pré-candidatos:

JAIR BOLSONARO

1- O senhor vai estabelecer alguma barreira ética (como impedir a nomeação de denunciados pelo MP ou réus em processos) na seleção de integrantes do seu governo?
Não aceitaremos indicações políticas em nosso governo. Quanto a réus por corrupção em hipótese alguma.

2- O senhor pretende estabelecer como prática do seu governo o afastamento imediato de integrantes do Executivo que venham a ser denunciados pelo MP?
Quanto a réus por corrupção, sim.

3-Nomearia algum político aliado, que seja investigado em inquérito, para um cargo de embaixador?
Não aceitarei indicações políticas.

4- O senhor é favorável à prisão de condenados em segunda instância?
Sim.

5- O senhor assinaria o indulto para o presidente Lula ou outro condenado por corrupção?
Jamais assinaria indulto para condenados por corrupção.

6- O senhor é a favor de alterações no instituto da delação premiada?
A princípio, não. A não ser para possível aperfeiçoamento.

7- O senhor pretende seguir o critério adotado por outros governos de escolher o procurador-geral da República mais votado na lista do MP?
A lista é um indicativo apenas.

 

MARINA SILVA

1) A senhora vai estabelecer alguma barreira ética (como impedir a nomeação de denunciados pelo MP ou réus em processos) na seleção de integrantes do seu governo?
Defendo que a lei da ficha limpa deva valer para todos os cargos públicos.

2) A senhora pretende estabelecer como prática do seu governo o afastamento imediato de integrantes do Executivo que venham a ser denunciados pelo MP?
Não sou eu quem diz, mas a Constituição, que ninguém pode ser considerado culpado sem o trânsito em julgado da condenação. A discussão sobre o tema é conhecida e atual, sobretudo em relação à prisão em segunda instância. Ocorre que a moralidade administrativa e a história antiga do nosso país revelam que, se para uma responsabilidade criminal é preciso ao menos esperar uma decisão definitiva, no campo da ocupação dos cargos e na condução da política pública é preciso ser mais rigoroso e prudente. Assim, penso que a melhor maneira de conjugar a presunção de inocência e a probidade administrativa é, primeiro, analisar se a denúncia diz respeito a crimes contra a administração ou patrimoniais; ou se é uma questão, digamos, privada, pessoal, de uma contingência da vida (atropelamento, um crime de trânsito, por exemplo). Ninguém está livre de uma denúncia caluniosa ou política. Mas se a acusação for relacionada a crimes patrimoniais ou contra a administração, uma vez recebida a denúncia, é recomendável que a autoridade se afaste e responda. O Brasil precisa de exemplos e também de respeito à Constituição.

3) Nomearia algum político aliado, que seja investigado em inquérito, para um cargo de embaixador?
Os critérios mencionados na pergunta anterior, valem também pra esses casos.

4) A senhora é favorável à prisão de condenados em segunda instância?
É preciso combinar prisão em segunda instância com o fim do foro privilegiado. Não se pode ter dois pesos e duas medidas para políticos investigados pela Justiça Federal. A restrição do foro privilegiado, decidida pelo STF, é um passo importante, mas ainda insuficiente para o fim da impunidade. É fundamental acabar com esse privilégio para todos os políticos e autoridades públicas, além de combiná-lo com a prisão em 2ª instância. Devemos persistir no combate à desigualdade que se manifesta danosamente de diferentes maneiras no nosso país. Todos devem ser iguais perante a lei.

5) A senhora assinaria o indulto para o presidente Lula ou outro condenado por corrupção?
O indulto não pode ser instrumentalizado e assinado como algo premeditado como estratégia político-eleitoral. Não se pode criar mecanismos pra burlar a lei para favorecer quem quer que seja.

6) A senhora é a favor de alterações no instituto da delação premiada?
O estatuto da colaboração premiada ganhou efetividade com a Operação Lava-Jato. Consequentemente, como todos esses instituto penais, merece evoluções e esse aperfeiçoamento surge das próprias demandas judiciais. Mas é importante ressaltar que qualquer alteração só pode ser feita para aumentar a capacidade da sociedade em acabar com a impunidade.

7) A senhora pretende seguir o critério adotado por outros governos de escolher o procurador-geral da República mais votado na lista do MP?
A doutora Raquel Dodge foi a segunda colocada na lista tríplice e sua atuação tem sido marcada pela eficiência e impessoalidade. No entanto, é melhor garantir ao Ministério Público a nomeação do mais votado, já que a instituição tem valorizado a autonomia funcional e administrativa a ela assegurada pela Constituição.

 

CIRO GOMES

1) O senhor vai estabelecer alguma barreira ética (como impedir a nomeação de denunciados pelo MP ou réus em processos) na seleção de integrantes do seu governo?
Meu compromisso é o de não nomear ninguém com condenação por corrupção. Tenho 38 anos de vida pública e nunca respondi a nenhum inquérito por corrupção, portanto esse é um valor que considero basilar.

2) O senhor pretende estabelecer como prática do seu governo o afastamento imediato de integrantes do Executivo que venham a ser denunciados pelo MP?
Cada caso deve ser analisado de maneira independente, garantindo o amplo direito de defesa. Caso seja comprovada a denúncia, o afastamento é imediato.

3) Nomearia algum político aliado, que seja investigado em inquérito, para um cargo de embaixador?
Como já disse, só nomearei pessoas que não tenham sido condenadas por corrupção.

4) O senhor é favorável à prisão de condenados em segunda instância?
É absolutamente compreensível que a população brasileira esteja assustada com os casos de corrupção, esteja indignada com a morosidade dos processos e queira justiça rápida. Mas, mais uma vez, é importante ressaltar o princípio universal no Direito que é a presunção de inocência até o trânsito em julgado do processo, com sentença condenatória terminativa. A questão é que, no Brasil, um processo tem quatro graus de jurisdição, enquanto em todo o mundo moderno só existem dois graus. Então quando alguém é condenado em segunda instância, no Brasil, ainda tem outras duas instâncias para recorrer e, eventualmente, ser inocentado. Portanto, por adesão aos princípios gerais do Direito universalmente proclamados, a prisão em segunda instância pode resultar em uma distorção insanável.

5) O senhor assinaria o indulto para o presidente Lula ou outro condenado por corrupção?
Assumir um compromisso dessa natureza seria uma loucura. Eu estaria agindo em desfavor da estratégia da defesa do ex-presidente Lula que ainda tem duas instâncias para recorrer da condenação e em desfavor do próprio discurso do ex-presidente, que tem se declarado reiteradamente como inocente.

6) O senhor é a favor de alterações no instituto da delação premiada?
Precisamos avançar e aperfeiçoar as ferramentas de combate à corrupção, inclusive o mecanismo da delação premiada, que hoje no Brasil são pouco transparentes, gerando incertezas e questionamentos.

7) O senhor pretende seguir o critério adotado por outros governos de escolher o procurador-geral da República mais votado na lista do MP?
Esse é um assunto que ainda não foi discutido, mas a tendência é que esse padrão seja mantido.

 

GERALDO ALCKMIN

1) O senhor vai estabelecer alguma barreira ética (como impedir a nomeação de denunciados pelo MP ou réus em processos) na seleção de integrantes do seu governo?
Prevalecerão sempre barreiras previstas em lei e nos valores éticos.

2) O senhor pretende estabelecer como prática do seu governo o afastamento imediato de integrantes do Executivo que venham a ser denunciados pelo MP?

3) Nomearia algum político aliado, que seja investigado em inquérito, para um cargo de embaixador?
Cabe ao MP investigar, mas ao Judiciário julgar. Só no julgamento se estabelecem as culpas - e diante delas serão tomadas as decisões.

4) O senhor é favorável à prisão de condenados em segunda instância?
Sim.

5) O senhor assinaria o indulto para o presidente Lula ou outro condenado por corrupção?
Não darei indulto para condenados por corrupção. Corrupção é crime de lesa pátria.

6) O senhor é a favor de alterações no instituto da delação premiada?
Não. Mas lembro que delação, como diz a própria lei, não é prova, é apenas um meio para obtê-la. Não é correto saltar delação para a culpa.

7) O senhor pretende seguir o critério adotado por outros governos de escolher o procurador-geral da República mais votado na lista do MP?
A composição da lista pela instituição é ideal e a alteração da lei orgânica terá o nosso apoio. De qualquer forma, a escolha deve recair no interessado que denote compromisso com valores republicanos e democráticos, como é típico dentre os membros do MP brasileiro.

 

ALVARO DIAS

1) O senhor vai estabelecer alguma barreira ética (como impedir a nomeação de denunciados pelo MP ou réus em processos) na seleção de integrantes do seu governo?
Sim. Nenhum denunciado será nomeado. O pressuposto básico para compor a equipe de governo será a probidade.

2) O senhor pretende estabelecer como prática do seu governo o afastamento imediato de integrantes do Executivo que venham a ser denunciados pelo MP?
Se a denúncia for consistente, haverá o afastamento imediato, como sempre fiz quando fui governador do Paraná. Se o acusado for inocentado, será readmitido com todas as honras.

3). Nomearia algum político aliado, que seja investigado em inquérito, para um cargo de embaixador?
Não. Como já disse, o critério para qualquer cargo será a probidade.

4) O senhor é favorável à prisão de condenados em segunda instância?
Sim, tanto que apresentei PEC para legitimar constitucionalmente a prisão pós-condenação em segunda instância.

5) O senhor assinaria o indulto para o presidente Lula ou outro condenado por corrupção?
De maneira alguma. Seria ir na contramão do que venho pregando há anos: o combate à corrupção e a responsabilização dos envolvidos.

6) O senhor é a favor de alterações no instituto da delação premiada?
Sou favorável ao instituto da delação premiada, mas temos que esperar a finalização das operações em curso, como a operação Lava Jato, para verificar se há algum tipo de aprimoramento que a experiência irá recomendar.

7) O senhor pretende seguir o critério adotado por outros governos de escolher o procurador-geral da República mais votado na lista do MP?
Sim, o mais votado será o escolhido. Também foi sempre dessa forma que agi como governador.


El País: A corrida contra o relógio dos partidos de centro para enfrentar Bolsonaro e Ciro

Intelectuais e parlamentares de sete legendas discutem alternativas aos extremos para a presidência

Por Afonso Benites, do El País

Não depende do que que as próximas pesquisas eleitorais apontarem. Seja qual for o resultado, ao menos sete partidos de centro-esquerda e centro-direita terão uma luta inglória até o fim de junho: desistir de suas candidaturas próprias ao Planalto e definir apoio a algum nome viável. O mais difícil nessa equação não seria a desistência em si, mas, sim, a escolha de um candidato competitivo. Com exceção de Jair Bolsonaro (PSL, que tem até 25%) e Ciro Gomes (PDT, que chega aos 12%), nenhum outro concorrente atingiu os dois dígitos nas pesquisas eleitorais - nem mesmo nos cenários pesquisados sem Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que dificilmente terá sua candidatura aceita por estar preso e condenado em segunda instância por corrupção.

O cálculo feito por um grupo de 32 deputados, senadores, cientistas políticos e intelectuais é o de que a difusão de candidaturas só beneficia o que eles caracterizaram como extremos: Bolsonaro, pela extrema direita, e Ciro, pela esquerda. “Se não nos unirmos, teremos de escolher entre a catástrofe e o desastre. A catástrofe é o Bolsonaro. O desastre, o Ciro”, criticou o senador Cristóvam Buarque (PPS-DF), um dos articuladores do movimento denominado Polo Democrático e Reformista. Segundo esse parlamentar, o grupo busca um candidato que seja “responsável fiscalmente, progressista socialmente e democrata politicamente”. Nenhum dos que lideram as pesquisas, em sua opinião, tem essas três características. Esse é o segundo momento dessa discussão. O primeiro, ocorreu em abril, como registrou o EL PAÍS.

Assim que o novo manifesto do grupo foi lançado, o primeiro sinal que se deu foi o de que o documento seria um apoio ao nome de Geraldo Alckmin (PSDB) para a presidência. Mas três políticos procurados pela reportagem negaram esse fato. E foram além: analisaram que quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) topou encabeçar o movimento, acabou enfraquecendo ainda mais a campanha de Alckmin.

Cardoso chegou até a cogitar um apoio à Marina Silva (REDE). Mas ao disputar sua terceira eleição presidencial consecutiva, Marina disse que não foi procurada por ninguém e que continuará sendo independente. “Desde 2010 que, em consonância com o desejo de mudança que perpassa diversos setores da sociedade brasileira, venho fazendo o esforço de quebrar a polarização que levou o país a essa grave crise”, disse.

E, sem o tucano, qual seria o candidato? Eis a questão. “É um processo que ainda vai decantar”, explica o deputado federal por Minas Gerais e secretário nacional do PSDB, Marcus Pestana. A sua análise coincide com o que vem sendo discutido por dezenas de especialistas. Com tantos candidatos (hoje há entre 14 e 19 pretensos concorrentes ao Planalto), quem chegar aos 15% ou 16% de votos válidos estará no segundo turno.

É algo parecido com o que ocorreu em 1989, quando o primeiro colocado, Fernando Collor (então no PRN), teve 30%, e o segundo, Lula (PT), atingiu 17%. “Tínhamos cinco candidatos de uma mesma ideologia. O melhor colocado deles foi Mário Covas, com 11%. Os outros, juntos, somaram 12%. Se estivéssemos unidos, estaríamos no segundo turno”, afirmou Pestana.

Essa corrida contra o relógio é fundamental para os políticos desse grupo. Entre 20 de julho e 5 de agosto, ocorrem as convenções que escolherão os candidatos. Antes, disso, contudo, os acordos já têm de estar selados. Desde que apresentaram o manifesto na terça-feira passada, outros 20 deputados e senadores se comprometeram a assiná-lo. Se o ritmo de adesões não aumentar, dificilmente terão sucesso. “Trouxemos o assunto para o debate. Agora, depende do diálogo entre os candidatos. É óbvio que todo candidato acha que vai ganhar. Mas eles têm de pensar mais no país que neles mesmos”, completou Pestana.

Uma das parlamentares que analisaram o documento, mas não foram convidadas a se juntar ao grupo, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) diz concordar com a tese defendida por seus colegas. No entanto, acha que a teoria é mais real do que a prática, neste momento. “Não consigo visualizar na prática nenhum possível pré-candidato desistindo num ato talvez até de desprendimento em busca de uma alternativa única de centro”, afirmou Tebet, que é a líder de seu partido no Senado.

Conforme ela, o MDB dificilmente abrirá mão da candidatura do ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao menos por enquanto. “Ele nos mostrou pesquisas qualitativas que nos animaram. Mas temos de esperar as próximas semanas”.

Líder do Governo na Câmara e um dos caciques do PP, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) também diz que a proposta de unificação é interessante. Mas chega tarde. “Teremos uma campanha curta. Se começarmos a discutir nome agora, vamos acabar escolhendo alguém que ainda terá de se firmar. O tempo está findando”. Ribeiro diz ainda que, naturalmente, os partidos retirarão as candidaturas para evitar derrotas acachapantes nas urnas. “O próprio dia a dia vai forçar os próprios partidos a se posicionarem”.

Enquanto não há definição, os defensores de um enxugamento nas candidaturas se deparam com uma onda que pode atrapalhar seus planos. No PSD, uma pré-candidatura que era dúvida está se consolidando, a do ex-ministro Guilherme Afif Domingos. Seu empecilho seria o presidente da legenda, o ministro das Comunicações, Gilberto Kassab, que prefere um acordo com Geraldo Alckmin. No PR, o empresário Josué Alencar, filho do ex-vice-presidente José Alencar, tenta se apresentar como uma alternativa.

Além disso, entre os emedebistas, voltou a se especular o nome de Nelson Jobim como concorrente. Ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, ex-deputado federal, ex-ministro da Justiça e da Defesa, Jobim é apontado como um político experiente que poderia costurar alianças importantes. Mas nem ele mesmo ainda demonstrou interesse na disputa. As próximas semanas, serão cruciais para saber o número aproximado de concorrentes ao principal cargo da República brasileira.


Bernardo Mello Franco: Com Lula na cadeia, PT lança holograma para presidente

O PT lança hoje a candidatura de Lula ao Planalto. O ex-presidente não poderá comparecer ao evento porque está preso. Para suprir sua ausência, o partido estudou levar um holograma ao palanque.

A tecnologia já ressuscitou Elvis em shows lotados de fãs saudosos. Os petistas acreditam que Lula não morreu para as eleições de 2018. A ideia da projeção em 3D foi abortada, mas a aposta no candidato ausente continua viva.

“Temos que levar o Lula até onde der”, resume um senador que participará do evento de hoje. O PT mantém o plano de registrá-lo em 15 de agosto. O objetivo é transferir para a Justiça Eleitoral o desgaste de barrar o líder nas pesquisas.

Apesar de se dizerem confiantes, os petistas estão convencidos de que Lula não poderá ser candidato. A insistência tem outro motivo. O partido quer garantir que o ex-presidente continuará a ser assunto até a véspera da eleição.

O PT pretende transformar a corrida presidencial num plebiscito sobre Lula. A ideia é comparar a memória positiva de seu governo com a situação atual do país. Neste cenário, Michel Temer atuaria como cabo eleitoral do antecessor.

Se a estratégia do holograma funcionar, um petista indicado no fim de agosto teria chance de empurrar o lulismo para o segundo turno. Por enquanto, o mais cotado para a tarefa é Fernando Haddad. É um plano arriscado, porque parte do eleitorado do ex-presidente já se move na direção de Ciro Gomes e Marina Silva.

Os petistas sonham imitar uma façanha do peronismo na Argentina. Em 1973, Juan Domingo Perón estava no exílio, impedido de disputar a eleição presidencial. Foi substituído por Héctor Cámpora, que venceu, anistiou o aliado e renunciou depois de 49 dias. A manobra abriu caminho ao retorno do ex-presidente à Casa Rosada.

O PT dobrará a aposta no saudosismo no evento de hoje, na cidade mineira de Contagem. No vídeo que será exibido aos militantes, um homem pendura a foto oficial do ex-presidente na parede. A cena evoca o jingle da campanha vitoriosa de Getúlio Vargas em 1950: “Bota o retrato do velho outra vez / Bota no mesmo lugar...”


Valor: Políticos lançam manifesto por união do 'centro'

Um manifesto suprapartidário será lançado hoje com o objetivo de defender a formação de um bloco único das legendas ditas de centro, já no primeiro turno da disputa eleitoral. Até agora, são cerca de 30 signatários, entre intelectuais e parlamentares ligados a vários partidos, como PSDB, MDB, DEM, PPS, PTB, PSD e PV. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) foram alguns dos que assinaram o texto.

Por Marcelo Ribeiro e Carla Araújo, do Valor Econômico

Batizado "Por um polo democrático e reformista", o documento avalia que a eleição de 2018 é "uma oportunidade rara e única" de recolocar o país nos trilhos e "se apresenta talvez como a mais complexa e indecifrável de todo o período da redemocratização".

"Existem ameaças e oportunidades, interrogações e expectativas, perplexidades e exigências da realidade povoando o ambiente pré-eleitoral. Tudo que o Brasil não precisa, para a construção de seu futuro, é de mais intolerância, radicalismo e instabilidade. Para nos libertarmos dos fantasmas do passado, superarmos definitivamente a presente crise e descortinarmos novos horizontes é central a construção de um novo ambiente político que privilegie o diálogo", propõe o manifesto.

Dois dos principais signatários, Cristovam e deputado Marcus Pestana (PSDB-MG) negam que o manifesto seja para favorecer o pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, que, entre os postulantes do centro, é o que aparece em melhor posição nas pesquisas mais recentes. "Não é uma articulação pró-Alckmin. É um chamado pela unidade do centro político para evitar que a dispersão nos tire do segundo turno e para impedir o duelo do apocalipse, entre a catástrofe e o desastre", disse Pestana. "Se fosse um movimento parcial, pediríamos que os outros pré-candidatos do centro deixassem a disputa. A unidade deve ser em torno de quem estiver alinhado com os pontos do manifesto e despontar nas pesquisas", completou Cristovam.

No documento, as lideranças signatárias conclamam "as forças democráticas e reformistas" a se unirem em torno de um projeto nacional que inaugure um ciclo de desenvolvimento social e econômico e "afaste um horizonte nebuloso de confrontação entre populismos radicais, autoritários e anacrônicos". Sem citar nomes, o manifesto deixa claro o objetivo de evitar que a corrida presidencial seja polarizada entre um representante da esquerda e o candidato à Presidência da República pelo PSL, Jair Bolsonaro.

"Pavimentar o caminho da unidade terá obrigatoriamente de ser obra coletiva, envolvendo partidos políticos, lideranças da sociedade civil e todos aqueles que pensam o Brasil fora do paradigma autoritário, populista, atrasado e bolivariano", defende o documento.

O manifesto lista 17 pontos que devem alimentar o debate entre as siglas do centro, entre eles, o equilíbrio fiscal; a proposta de mudança na estrutura do sistema tributário; e a reforma do sistema previdenciário classificado como "injusto e insustentável".

No documento, também será sugerido o debate sobre uma política externa "que privilegie os verdadeiros interesses nacionais, e não ultrapassadas e equivocadas identidades ideológicas"; uma postura firme no setor de segurança pública; e a concretização de uma profunda reforma política.

"Os signatários deste manifesto têm a ousadia de propor a união política de todos os segmentos democráticos e reformistas. Se tivermos êxito, estaremos dando uma inestimável contribuição para afastarmos do palco alternativas de poder que prenunciam um horizonte sombrio".