Eleições
Ascânio Seleme: Dos arcos da velha Lapa
O Festival Lula Livre foi uma típica mobilização de campanha dos anos 1980/90
Foi bonita a festa, pá. E foi eclética. Presentes estrelas como Chico Buarque, Gilberto Gil e Beth Carvalho. Ou desconhecidos como Dorina, Imira Tayguara e Manno Góes. Teve Odair José, Sérgio Ricardo e Jards Macalé. Mas teve também Tizumba, Alba Mariah e Aíla. Cada um cantou duas ou três músicas. Muitos falaram. Todos pediram a libertação de Lula. Participaram também artistas como Fábio Assunção e Lucélia Santos. Ou como a pernambucana Pally Siqueira. Foram mais de sete horas de show.
O Festival Lula Livre, realizado na semana passada nos Arcos da Lapa, foi uma típica mobilização de campanha eleitoral dos anos 1980/90. A festa foi alegre, as pessoas estavam entusiasmadas, o espetáculo era de regozijo coletivo. Não dava para dizer que se tratava de um ato contra a prisão de Lula por corrupção. Parecia a celebração de uma vitória. Apenas os discursos mostravam a razão do encontro. Lembrando que “quando você reza por chuva, tem que saber lidar com a lama também” (*), vale a pena ler o que foi dito.
Ana Cañas. A cantora foi um dos primeiros artistas a se apresentar e deu logo o grito de guerra: “Lula livre, porra!”. Bons modos à parte, mais tarde ela foi corroborada pelo cubano Bruno Arias: “Lula libre, carajo!”
Taciana Barros. Alguns exageraram no contexto, como Taciana Barros, cantora da extinta banda Gang 90 que produziu uma frase que parecia piada, mas se pretendia séria: “Sou a comissária de bordo e venho anunciar que o golpe está caindo”.
Lucélia Santos leu a convocatória para o ato. Este é “um gesto de solidariedade, um gesto de exigência para que se respeite a Justiça”. Mas não era justamente para desrespeitar a Justiça que todos estavam ali reunidos? Ela seguiu afirmando que o julgamento de Lula “na primeira instância foi um erro judicial sem limites (...) o mesmo se deu na segunda instância com a complacência de todas as demais instâncias”. Mais tarde, Lucélia improvisou: “O Brasil corre o risco de uma fragilidade democrática muito grande”.
Antônio Pitanga. O ator garantiu que não é dessas pessoas “que dizem ser povo, mas que não são, que têm as mão sujas de sangue”. E atacou: “Vejam o preço da cenoura, do abacate, da laranja. O Brasil está de quatro para o FMI”. Pitanga só não falou de alhos e bugalhos.
Gabriel Moura. Segundo o cantor, a culpa da prisão de Lula é de um certo “Al Capone de Atibaia”. Poucos entenderam porque a referência a Atibaia, já que o que estava em questão era o tríplex, não o sítio, que ainda não resultou em sentença.
Fábio Assunção afirmou que o ato significava “essa resistência, essa marcação de território, de dizer que a gente está em movimento, em atividade”. O ator acrescentou que é importante para o artista se comunicar com o público, com as pessoas ali presentes. “É uma reunião de várias figuras que estão aqui, intelectuais, escritores, jornalistas, profissionais liberais, enfim, é uma grande reunião de muita gente”. Verdade, havia mais de 50 mil presentes.
Odair José. Vindo de um tempo remotíssimo, o cantor brega foi um dos mais claros. “A gente não pode permitir que o presente leve o futuro para o passado”.
Gilberto Gil. O grande artista falou ao final do show para o canal do PT no YouTube. “A vida democrática exige diálogo permanente, muitas vezes áspero entre os vários conjuntos de valores da vida democrática, outras ameno. Este é um momento que tem as duas coisas, a música, a solidariedade humana pelo lado do afeto a quem devemos muito e de quem gostamos. E também pela aspereza natural desse confronto entre as forças da progressão e as forças do atraso”.
Chico Buarque. Na mesma entrevista, a estrela mais aguardada da festa concluiu: “Faço minhas as palavras do Gil. Ele disse tudo o que penso”.
(*) Frase de Robert McCall, personagem de Denzel Washington em The Equalizer
Tudo que seu mestre mandar
O chefe da força-tarefa da Lava-Jato no Ministério Público, o procurador Deltan Dallagnol, postou mensagem no seu Twitter afirmando que “voto branco e nulo não funcionam como protesto”. E fez um vídeo explicativo. Com todo respeito ao procurador e ao trabalho do MP no combate à corrupção, o post foi um evidente exagero. Daqui a pouco o mestre procurador vai querer ensinar o brasileiro a votar. Manda logo o número do candidato para a gente sufragar, Deltan.
Competência ou crise
O número de brasileiros aptos a votar no exterior cresceu 41,3% de 2014 para cá. Segundo o TSE, que divulgou o novo perfil do eleitorado brasileiro, isso é resultado do esforço da Justiça Eleitoral e do Itamaraty em cadastrar os eleitores. Pode ser. Pode ser também um sinal de como a crise afugenta brasileiros do Brasil.
Contendo o Ciro
Foi evidente o esforço do pré-candidato Ciro Gomes para não perder a linha durante a entrevista que deu para a GloboNews. Ele mesmo admitiu que se comprometeu com seus assessores a não perder a cabeça durante a conversa. Foi duro, mas ele conseguiu. Numa campanha eleitoral os candidatos escondem mesmo seus pontos fracos. Resta saber se ele fará esse esforço durante seu governo, no caso de ser eleito, claro.
Ódio à política
Chico Alencar, candidato ao Senado no Rio, escreve para dizer que o PSOL vai denunciar na campanha os esquemas da velha política, dos conchavos e das alianças que têm a marca do cinismo e da hipocrisia. Chico lembrou Cazuza: “Ideologia, eu quero uma pra viver”.
Frio na careca
O senador José Serra passou alguns dias em Buenos Aires para aproveitar o inverno portenho. De tênis e bem à vontade, ele se encontrou com o ministro Raul Jungmann na chancelaria brasileira. E foi logo reclamando que perdeu o seu gorro. “Velho e careca com esse frio não dá”, disse Serra a Jungmann, que saía para dar uma volta na Calle Florida. “Aproveita e compra um gorrinho pra mim”, pediu Serra. Não foi possível saber se o ministro atendeu o senador.
O aloprado da semana
Impossível outorgar a outro que não a Emir Sader. Irritado, como sempre, Sader brindou seus cem mil seguidores do Twitter com uma pérola do machismo contra a procurador-geral da República. “Dodge leva o Prêmio Magda do mês: Calada!”, escreveu o sociólogo. Quer dizer, se não fala a nossa língua é melhor ficar muda.
Míriam Leitão: Esboço dos programas
As propostas econômicas dos candidatos ainda estão muito embrionárias, mas tanto Marina Silva quanto Geraldo Alckmin e Ciro Gomes defendem a taxação de dividendos, com redução dos tributos sobre as empresas. Na semana de entrevistas com cinco dos candidatos na Globonews, foi possível ver convergências e muita imprecisão ainda sobre o que está sendo proposto na economia. O candidato Jair Bolsonaro falou em privatizar a Petrobras, mas por um motivo conjuntural: o preço do diesel.
A privatização da empresa ícone do Estado brasileiro não pode ser decidida assim por esse motivo. Segundo o candidato, já que o preço dos combustíveis está alto, é melhor privatizar a companhia. Disse e repetiu. Bom, ela ser vendida como está só transformará um monopólio estatal em privado. E quebrar o monopólio no refino, com venda de algumas das refinarias, pode ser o caminho mais seguro para quem quer competição nos preços. Isso foi defendido por Geraldo Alckmin.
O mais importante que fica da série de entrevistas em que, pela ordem, Álvaro Dias, do Podemos, Marina Silva, da Rede, Ciro Gomes, do PDT, Geraldo Alckmin, do PSDB, e Jair Bolsonaro, do PSL, falaram à Globonews é que ficou claro que alguns têm propostas econômicas mais definidas, mas há quem tenha apenas ideias desconexas.
O candidato Jair Bolsonaro teve que parar de se esconder atrás do economista Paulo Guedes e não soube muito bem explicar por onde vai nesse tema. Ninguém tem que ser economista, mas pessoas que se dispõem a governar o Brasil tem que saber o que estão oferecendo aos eleitores como projeto para tirar o país da bomba fiscal em que está. Eles é que tomarão as decisões.
Ciro Gomes tem propostas que no tempo da entrevista, duas horas, não conseguiu explicar muito bem, mas que embute riscos. Para o discurso político ele acusa “meia duzia de plutocratas banqueiros” de receberem os juros da dívida. Se fosse simples assim, bastava então não pagar. Mas a dívida é, como ele sabe, carregada por milhões de brasileiros e 25% dela está na mão de fundos de pensão. Acusar os banqueiros é fácil e soa bem na retórica eleitoral, porque há um consenso de que os spreads brasileiros são altos demais, e os lucros, exagerados. Mas decidir não pagá-la ou estabelecer teto para o pagamento é o caminho mais curto para o desastre.
Marina Silva repete o que já disse em outras campanhas, mas agora de forma muito mais segura, que o ajuste fiscal terá que ser feito e através do controle estrito das contas públicas, mas precisará detalhar mais, como todos os outros, o caminho do equilíbrio. Geraldo Alckmin e Ciro Gomes prometem zerar o enorme déficit público brasileiro em dois anos. Hoje, o déficit primário está em R$ 150 bilhões e o ano que vem, primeiro do próximo governo, será o sexto ano no vermelho no qual a presidente Dilma levou o país e do qual ainda não se sabe como sair. O rombo tem que ser enfrentado. Mas como? Ainda não ficou claro. A maioria fala em cortar incentivos e subsídios. Esse é de fato um dos caminhos, o de reduzir as transferências para o capital, mas ninguém diz que interesse vai contrariar. Ciro Gomes afirmou ao fim da entrevista que será um corte linear de 15% em todos os programas, mas ao mesmo tempo defendeu durante a entrevista a permanência e até o crescimento dos subsídios à indústria, o que é uma contradição.
O país está diante da mais difícil das suas eleições. A economia é um dos dilemas. Não é o único. É preciso saber como garantir a governabilidade, após as eleições. Geraldo Alckmin montou uma grande coalizão eleitoral, mas com partidos envolvidos no que houve de pior nos últimos anos. Marina Silva, Jair Bolsonaro, Ciro Gomes e Álvaro Dias estão em partidos pequenos. O PDT de Ciro é um pouco maior, claro. Mas nenhum deles tem dimensão para começar a organizar uma coalizão de governo. Ciro chegou à entrevista no dia em que o PT armara o plano de tirar dele o apoio do PSB, assunto que ainda provoca tremores no PT. Em Pernambuco, Marília Arraes mantém a candidatura ao governo pelo partido, e em Minas Gerais Márcio Lacerda se insurgiu contra a decisão do PSB.
Muito perto da eleição, sabemos pouco dos caminhos. Mas se Ciro ataca seres sem rosto como “o baronato” e os “plutocratas”, Jair Bolsonaro faz ofensas e ameaças diretas a parcelas do eleitorado: negros, mulheres, indígenas. Esta é a eleição que enfrentaremos.
(Com Alvaro Gribel, de São Paulo)
Fernando Henrique Cardoso: Farol alto
O Brasil precisa não de ‘candidatos’, mas de líderes que tenham visão de estadistas
As sondagens sobre o voto popular no próximo dia 7 de outubro mostram que uma grande parcela da população repudia o jogo dos partidos ou ainda não sabe como se posicionará. Não assim os dirigentes partidários. Estes “tomam partido” por antecipação. Na fase que está por terminar, que culmina com as convenções partidárias, é natural que estejam mais interessados nas alianças para formar a rede de apoio eleitoral e no tempo de televisão à disposição de seus candidatos. Natural, mas insuficiente, quando não negativo, pois gera a percepção de que a “política” é só um jogo de poder; no limite, um jogo pessoal.
Não sou ingênuo, nem poderia haver ganhado duas eleições presidenciais no primeiro turno se não entendesse que as alianças partidárias contam para a vitória e antecipam a possibilidade de governar. Mas o importante, o decisivo mesmo, é outra coisa: a mensagem e a credibilidade que o candidato desperte no eleitorado. Mormente agora, com o sistema político-eleitoral que criamos na Constituição de 1988 exaurido. Sei que o Congresso aprovou a lei de barreira e que no futuro haverá menos partidos. E também que as alianças entre eles nas eleições para deputados devem acabar. Elas distorcem a vontade do eleitor, que vota em candidato de um partido e elege alguém de outro.
Não basta, entretanto. Além de outras reformas eleitorais (como a introdução de formas de voto distrital e de candidaturas avulsas), há que enfrentar a cultura política de personalismo, clientelismo e corporativismo. Com ela os “partidos” aparecem aos olhos populares como trampolim para salvaguardar os interesses dos que se elegem e de quem os sustenta. É mais fácil mudar leis e decretos do que sentimentos e atitudes permissivas arraigadas na cultura política. Sua mudança depende de virtudes exercidas pelas lideranças e da punição das práticas corruptoras.
Daí a responsabilidade dos que vão falar ao País para pedir votos e a necessidade da vigilância constante da opinião pública sobre o que dizem. Hoje a formação da opinião pública não se limita às mídias tradicionais. As “mídias sociais” exercem influência crescente na decisão de voto. As fake news (que antigamente se chamavam de “mentiras”) se difundem mais rapidamente, criando imagens falsas ou distorcidas sobre os candidatos. É o preço da maior acessibilidade às redes de comunicação, que em si são um progresso, mas precisam de contrapesos que verifiquem a veracidade das informações que por elas circulam.
Nas eleições a palavra se torna crucial. Não só seu significado literal apenas, mas o conteúdo simbólico e o modo de expressá-la. A política eleitoral implica tanto alianças como propostas e, sobretudo, requer desempenho dos candidatos. Não por acaso o “demagogo”, ao se comprometer com os interesses populares, sempre encontra espaço na vida pública. Entretanto, em especial nos momentos de crise, demagogos podem ser batidos por quem tiver virtude e capacidade de mostrar um rumo para o país que seja percebido como confiável para os “mercados”, mas principalmente bom para o povo, sem apelar à ilusão distributivista e/ou a impulsos autoritários. Foi o que fiz quando liderei o Plano Real.
O Brasil precisa não de “candidatos”, mas de líderes que tenham visão de estadistas e mostrem ao povo os caminhos da esperança. Há que explicar à maioria que a própria democracia, minada pela corrupção e pelos erros de condução do País, está em jogo. A sociedade sofre hoje a comichão da demagogia autoritária dos que pensam que bastam ordem e hierarquia para gerar empregos e renda, quando é preciso muito mais do que isso. No lado oposto, há a demagogia dos que pensam que basta a “vontade política” para dissolver interesses e legislar em benefício da maioria. É preciso competência, persistência e humildade para saber que só unidos, guiados por ideias, venceremos o atraso.
Em latim se dizia virtus in medium est. Frase que pode ser enganadora: não existe meio-termo entre o autoritarismo de direita e a demagogia populista. Há que renegá-los radicalmente. Não se trata, tampouco, de eleger um “centrista” qualquer nem de dizer amém ora a um lado, ora ao outro. Mais de uma vez me referi à necessidade da formação de um “bloco popular e progressista”. E procurei definir o significado destes termos.
Quererá isso dizer que o candidato que assuma as posições deste “bloco” (tenho escrito bloco de propósito para englobar setores da sociedade e não apenas dos partidos) deverá recusar alianças com setores diferentes dele? Responder afirmativamente à pergunta importa em declarar derrota por antecipação: as sociedades contemporâneas são fragmentadas, nem sempre os grupos e pessoas têm consciência dos desafios que os atormentam, os partidos se tornam mais siglas do que instrumentos de definição de políticas. E muitos deles, no caso brasileiro, além de se beneficiarem de um sistema eleitoral cartorial (que define acessos aos períodos gratuitos de TV) expressam o que chamo de “atraso”. E este é parte constitutiva de nossa herança político-cultural. Sem alianças ninguém ganha nem governa.
A verdadeira questão é outra: tal “bloco” e seu líder terão capacidade e poder para conduzir o processo político nacional ou serão engolfados pelos interesses partidários e sociais dos que sempre mandaram? Daí a importância da capacidade de liderança do candidato, de suas convicções e de ambas haverem sido provadas na prática. Esta coluna não é espaço para propaganda partidária. Minhas escolhas são conhecidas e as razões delas estão ditas no artigo que escrevi no mês passado.
Os jogos estão feitos. O êxito dependerá de que com conhecimento, firmeza e convicção se diga o que é necessário, e não apenas o que é conveniente. E de que os que ouçam se convençam de que o dito não são palavras perdidas no ar e, por isso, quem o diz merece a confiança do seu voto.
De farol alto é o que precisamos.
*Fernando Henrique Cardoso é sociólogo, foi presidente da República.
O Globo: Centrão vai mudar porque terei rigor ético, diz Geraldo Alckmin
Pré-candidato tucano à Presidência defende o pragmatismo das alianças partidárias
Por Cristiane Jungblut, Maiá Menezes e Silvia Amorim, de O Globo
RIO — Visivelmente mais confortável depois de ter conseguido fechar a mais ampla aliança da eleição e de ter driblado as resistências do centrão para a escolha da senadora Ana Amélia (PP-RS) como vice, o pré-candidato à Presidência Geraldo Alckmin (PSDB) não esconde o pragmatismo das suas ações nas costuras políticas. Em entrevista ao GLOBO, ele afirma que o político que não faz alianças acaba “abandonado” e aposta que o centrão não será fisiológico em seu governo.
Perguntado como enfrentaria Jair Bolsonaro (PSL) mantendo seu estilo discreto, Alckmin faz uma parada para a quinta xícara de café durante uma hora de conversa e dispara: “Quem tem que que ter carisma é o povo. E não é chuchu. É picolé de chuchu, que é mais saboroso”, diz o tucano, rindo da própria afirmação inusitada.
O senhor diz que representa o “novo” nesta eleição. Como isso é possível se está há 40 anos na política e tem ao seu lado o centrão?
Primeiro, o novo não é não ter nenhuma experiência de administração pública ou nunca ter sido candidato. O novo é defender o interesse coletivo e mudar a política. É isso que queremos.
Mas são partidos pautados pelo fisiologismo há muitos governos...
Acho que as pessoas entendem o objetivo. Vocês fulanizam muito. O Valdemar Costa Neto (líder do PR) não é nem candidato. O PR tem o Josué Gomes, um dos melhores quadros desta nova geração. O fato é o seguinte: se você não faz aliança, você é criticado, está abandonado, não decola, vai ser cristianizado. Quando faz a aliança, dizem: “Puxa, a aliança é grande demais”. Na política, a gente tem que ter um foco: como é que vamos tirar o Brasil da crise. Esse é o foco e é isso que interessa.
Por que eles (o centrão) mudariam agora?
Eles vão ter que mudar porque farei um governo com rigor ético absoluto. O que eles querem é ser partícipes.
Os políticos querem mais do que isso...
Não há a menor hipótese de isso acontecer.
O senhor é alvo de uma investigação por suspeita de caixa 2 em 2010 e 2014. Seu cunhado, Adhemar Ribeiro, é apontado como arrecadador desses recursos. O senhor disse há algumas semanas que não é crime “apresentar pessoas”. Adhemar apenas apresentou doadores para as suas campanhas?
Ele nunca arrecadou, nunca foi da tesouraria do partido. Agora, uma pessoa que tem mulher banqueira e é dono de financeira tem relacionamentos. Qual é o problema nisso? Não levou pessoas, mas é claro que ele é uma pessoa bem relacionada. As minhas campanhas sempre foram rigorosamente dentro da lei.
Como pretende tratar o tucano Aécio Neves, réu na Lava-Jato?
Ele foi afastado da direção partidária e ainda não foi julgado. Se for condenado, não vamos passar a mão na cabeça de ninguém.
Outro ator central na Lava-Jato é o Supremo Tribunal Federal. O senhor é a favor do mandato vitalício dos ministros?
Vi um candidato (Jair Bolsonaro) dizendo que vai dobrar o número de ministros. O sujeito quer fazer da Suprema Corte um puxadinho do Executivo, como na Venezuela. Negativo. Acho que deve ser debatida a alternativa de modelo de mandato para os ministros.
O senhor promete quatro reformas (tributária, previdenciária, política e de Estado). Terá cacife político para isso?
Essas reformas mais de fundo precisam ser feitas no começo da legislatura, quando o presidente tem mais legitimidade, voto e força.
Para que as reformas avancem, é fundamental aliados no comando do Congresso. O sr. se comprometeu com a reeleição do deputado Rodrigo Maia para a Câmara?
Minha opinião sobre o Rodrigo Maia é a melhor possível. Mas essa coisa de ficar articulando eleição de mesa legislativa antes da hora não é do meu estilo. Pretendo ter como maior aliado no parlamento a sociedade.
O senhor fala em reduzir ministérios, mas não diz para quantos. O eleitor não merece um pouco mais de clareza para decidir o seu voto?
Não vou anunciar isso durante a campanha. Estou dizendo que vou reduzir. Os detalhes serão ditos pela dinâmica do governo.
O PSDB terá a maioria dos ministérios?
Quem vai ter a maior parte dos ministérios é o povo.
Vai aceitar indicações do centrão?
Podem sugerir (nomes). Mas claro que vou escolher. Nas agências reguladoras, aí não. Só serão técnicos. As agências reguladoras serão despartidarizadas.
A escolha da senadora Ana Amélia (PP-RS) para vice já entra na cota do PP?
Escolhi a candidata a vice que eu quis. Não existe cota. Todos os partidos têm bons quadros. A senadora era o nome ideal. Ela é ligada ao agronegócio, respeitada e admirada, um quadro extraordinário.
Vai privatizar quais estatais?
O que não vamos privatizar é o Banco do Brasil e a Petrobras. Estamos estudando a questão da Caixa Econômica Federal, que tem prós e contras. É importante dizer que não vamos privatizar a Petrobras, mas a área de transporte e de distribuição sim. O episódio da greve dos caminhoneiros é ruim, porque vai afastar investidores. O Brasil está exportando petróleo e importando derivados.
Seu fraco desempenho em São Paulo pode ser entendido como rejeição à sua figura?
Não. Ela é resultado da falta de interesse das pessoas na eleição neste momento.
O senhor terá que tirar votos de Jair Bolsonaro (PSL), que tem um estilo bem diferente do seu. Ser o “chuchu” nessa hora atrapalha?
Quem tem que ter carisma é o povo. Governo não deve girar em torno de astros. Isso é coisa do passado. Vou ser o que sempre fui: discrição, humildade, simplicidade. Governante é para resolver problemas da população. Não quero espetáculo, nem sair dando tiro. Quero colocar o Brasil no rumo do crescimento. Só faço um reparo. Não é chuchu, é picolé de chuchu, que é mais saboroso.
Um dos maiores problemas da segurança pública é o domínio das facções criminosas. O maior grupo atuante no país nasceu e se expandiu a partir de São Paulo, chegando a outros países. Seu governo não tem parcela de responsabilidade nisso?
São Paulo tem os melhores indicadores do país. Tínhamos 11 mil homicídios por ano em São Paulo e, em 2017, foram 3.503. Não vai ter mágica para resolver a violência no país, mas dá para reduzir. Estados e municípios terão metas de redução. Não tem um líder de facção criminosa em São Paulo que não esteja preso.
O senhor tem prometido acabar com privilégios com a reforma da Previdência. O presidente Temer tirou da reforma os servidores das Forças Armadas e das polícias militares. Vai manter isso?
As Forças Armadas passarão por reforma, mas separadamente. No mundo todo, elas têm um regime de previdência próprio.
Isso não é manter privilégios?
Vai ter reforma, mas com regras diferentes. Vou criar o regime geral de previdência para os servidores de todos os poderes com o teto do INSS. Não tem sentido ter dois tipos de cidadãos. Quem quiser benefício maior, vai para a previdência complementar. Fiz isso em São Paulo.
João Domingos: O tiro no pé do PT
Os petistas de Pernambuco colocaram o Diretório Nacional contra a parede
O acordo entre PT e PSB que isolou Ciro Gomes na campanha eleitoral pode ter liquidado o candidato do PDT. Mas não dá para dizer que foi aquele sucesso que os petistas calculavam que seria. Para acabar com Ciro eleitoralmente juntaram-se o “golpista” Michel Temer, que fez pressão sobre os partidos do Centrão, ameaçando tirar-lhes os cargos que têm no governo caso se bandeassem para os lados do candidato do PDT, e Lula, que da cadeia ordenou à direção nacional do PT que garantisse a neutralidade do PSB. Esse fato inusitado será explorado na campanha por guardar alguma semelhança com peças publicitárias de 2014 veiculadas por Dilma Rousseff. Insinuava-se nelas que, se eleita, Marina Silva se aliaria aos banqueiros e roubaria a comida dos pobres.
Do lado de Temer falou o fígado, pois Ciro costuma dizer que o Palácio do Planalto foi “dominado por uma quadrilha” e que o presidente é o chefe dela. Do lado de Lula, falou a necessidade de exterminar aquele que vinha se tornando uma ameaça à hegemonia do PT no campo da centro-esquerda. Isso o PT não perdoa. Até porque, se perder essa condição, Lula deixa de ter a importância que tem. Outro vai ocupar o lugar dele.
Desde o impeachment de Dilma Rousseff e o processo e a prisão de Lula, o PT nunca esteve tão unido. Isso depois de um desastre na eleição municipal de 2016, em que muita gente chegou a prever não o fim do PT, mas o seu encolhimento à metade, talvez menos que isso. Pois essa unidade petista, que se escondia atrás do afastamento de Dilma e da prisão de Lula em Curitiba, corre riscos por causa do acordo PT/PSB. Há rebeliões no partido numa hora complicada, às vésperas do pedido de registro da candidatura de Lula no TSE.
No Ceará, por exemplo, onde o PT rifou a candidatura à reeleição do senador José Pimentel, abrindo espaço para o apoio do governador petista Camilo Santana, mesmo que informal, à reeleição do “golpista” Eunício Oliveira (MDB), há forte reação ao isolamento de Ciro. Especula-se, mesmo entre petistas, que o governador, aliado de Ciro, tenderia a apoiá-lo no Estado.
Já em Pernambuco, por 230 votos, 20 contrários e uma abstenção, o Encontro Estadual do PT manteve a candidatura de Marília Arraes ao governo. Com a decisão, os petistas de Pernambuco colocaram o Diretório Nacional contra a parede. Uma intervenção, como determinam as regras, nesse caso, tornou-se um perigo. O jeito foi gastar saliva, negociar com Marília para que ela se candidate ao governo daqui a quatro anos. Quem se curvou foi a direção nacional, não o PT local.
O acordo que garantiu a neutralidade do PSB teve reflexos fortes também em Minas Gerais. O plano do PT era de que, afastada a candidatura de Marcio Lacerda ao governo, os socialistas apoiassem a reeleição do governador Fernando Pimentel. Deu tudo errado. Lacerda decidiu não retirar a candidatura.
Em reação, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, anunciou intervenção no PSB mineiro. Com isso, Lacerda ficou livre para anunciar apoio a Ciro ou, em última caso, aderir à campanha do tucano Antonio Anastasia. Como está sendo negociada a desistência da candidatura do deputado Rodrigo Pacheco, do DEM, ao governo do Estado, e a entrada dele na coligação de Anastasia, não será surpresa se o ex-governador ganhar força suficiente para vencer no primeiro turno.
Alguns núcleos de pensadores do PT, informados do que ocorre em Minas, já trabalham com a ideia de que Pimentel, impopular, pode perder no primeiro turno. Lacerda seria o candidato no qual os que não gostam do senador Aécio Neves descarregariam seus votos. Sem Lacerda, e com Aécio longe da campanha, esses antipetistas poderão optar por Anastasia.
Luiz Werneck Vianna: Terra à vista
A hora presente indica que se deve começar a solucionar a atual crise pela dimensão ideal
Estamos chegando depois de tormentosa viagem em mares bravios. Saídos de um continente velho de ideias cediças que nos fazia prisioneiros de um passado exausto que não mais nos permitia as ambições de conviver numa sociedade justa e igual, somos pioneiros em terra nova. Trazemos conosco os ideais anunciados no manifesto “Por uma sociedade democrática e reformista” e a vontade de propagá-lo por toda parte. Não vai ser nada fácil, como atesta a história de todos aqueles que assumiram este papel de desbravar terreno inóspito, a começar pelas próximas eleições. A seu favor, contudo, conspiram os novos ventos que têm varrido nossa sociedade e que assinalam o fim de um longo ciclo de modernização autoritária, que se inicia com Vargas, passa por JK, pelo regime militar e por Lula, e deságua no desastre que foi o governo de Dilma, que pôs a nu o anacronismo deste velho modelo que não é mais capaz de reiterar suas realizações no passado.
O melhor indicador desta mutação foi o massivo movimento da juventude nas jornadas de junho de 2013 – embora inconsciente dos efeitos de sua obra –, que se manifestou contra tudo o que está aí, o nosso Estado inclusive, em nome dos ideais de auto-organização e da participação social. Aquelas jornadas ficaram sem herdeiros que lhes dessem continuidade, mas deixaram no ar em disponibilidade seu significado de fundo para quem souber interpretá-las, tarefa que cabe, nesta hora difícil, às forças democráticas e progressistas.
O espírito do tempo mudou, como diagnostica Habermas com a precisão de sempre, tanto nos países que lideram a marcha da história pelos seus sucessos culturais e técnico-científicos quanto nas mais remotas periferias, como ilustra a saga dos garotos tailandeses que se perderam numa caverna cujos heróis são os jogadores de futebol dos grandes clubes europeus. Inexoravelmente, dia após dia, somos arrastados pelos fatos à globalização, que corroem os fundamentos do repertório keynesiano-westfaliano que suportaram o Estado-nação – na expressão da cientista política Nancy Fraser – que predominou no Ocidente até os anos 1970.
No nosso pequeno mundo ainda vicejam em círculos minoritários os ideais autárquicos, nostálgicos do nacional- desenvolvimentismo e de um capitalismo de Estado, que forças políticas, convictas ou não a eles, procuram animar em busca de votos, como se verifica no atual processo eleitoral. Tais círculos que se autodeclaram de esquerda se apresentam como herdeiros do nosso processo de modernização autoritária, que louvam esquecidos de que ele somente foi possível pela repressão exercida sobre os setores subalternos nos centros urbanos, cassando pela lei sua autonomia, e no mundo agrário com a coerção violenta dos movimentos do campesinato e dos seus trabalhadores assalariados. Sobretudo, esquecem que a modernização da economia, na forma por ele realizada, importou no fato de ser o Brasil um dos países mais desiguais do planeta.
O PT, por exemplo, desde a primeira eleição de Lula, aderiu, primeiramente de modo fraco e a partir do seu segundo mandato abertamente, à nossa tradição conservadora – a que o governo Dilma levou ao paroxismo –, embora jamais suas lideranças tenham justificado a metamorfose de um partido que nasce, como o PT, comprometido com a ruptura das tradições conservadoras para se mover no sentido de se tornar um dos seus esteios. Intelectuais e artistas, alguns deles campeões, nos anos 1960, da crítica ao governo Jango por seu nacional-estatismo, principalmente nas universidades paulistas, agora referendam acriticamente tais posicionamentos, pelo culto esquisito que dedicam a Lula, mesmo que desconheçam suas concepções sobre o estado de coisas no mundo, salvo a de que ele não é esquerda, como sempre declara.
O culto a Lula entre os intelectuais e artistas é uma patologia a ser estudada, sintoma que manifesta o algo de podre nesta nossa Dinamarca, em que o governo do PT trouxe para o interior do Estado tudo o que era vivo na sociedade, sindicatos, movimentos sociais, inclusive os identitários, submetendo-os a seus fins políticos. Quanto aos intelectuais, a política de contemplá-los com generosos financiamentos, especialmente algumas personalidades relevantes – vide a política cultural da Petrobrás –, teve um dos seus mais amargos frutos no rebaixamento da sua capacidade crítica e na autodestituição das suas responsabilidades em relação a seu país e seu povo, fermento que nos anos 1950 nos fez conhecer os Círculos Populares de Cultura, o gênio de Vianinha e de Guarnieri, a Bossa Nova e o Cinema Novo, entre tantos criadores e iniciativas de ideias novas que vieram animar a obra civilizatória dos brasileiros. E, mais tarde, sob o regime militar, as obras fundamentais de Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, Raimundo Faoro e José Murilo de Carvalho, para citar alguns, que desvendaram as raízes ocultas do autoritarismo brasileiro.
A crise que aí está é, a um tempo, de natureza estrutural – a fraqueza da nossa economia –, ética, moral e intelectual. Não há como dar solução a qualquer delas em separado, mas a hora presente indica que se deve começar pela dimensão ideal, pelas concepções do mundo, pela história do País, por que delas é que se principia, como sustenta reiteradamente Fernando Henrique Cardoso, a busca de novos rumos para o País.
Tal como em Habermas no primeiro ensaio de Diagnósticos do tempo, que deve servir para nós como um sistema de orientação, o Estado social ainda é o horizonte possível do centro e da periferia do mundo, e as tensões entre mercado e política próprias a ele podem ser equilibradas pela dimensão da solidariedade social, que, no nosso caso, impõe como começo de conversa a luta sem quartel contra a nossa indecente desigualdade, um dos frutos da modernização autoritária com que agora devemos romper.
G1: Jair Bolsonaro diz que, se eleito, pode privatizar Petrobras 'se não tiver solução'
Candidato do PSL à Presidência deu declaração em entrevista à GloboNews. Em outros trechos, ele também disse que não é homofóbico e que não cabe ao STF discutir descriminalização do aborto
O candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, afirmou nesta sexta-feira (3) que, se eleito, pode privatizar a Petrobras "se não tiver solução".
A declaração foi dada em entrevista à GloboNews que, nesta semana, entrevistou postulantes ao Palácio do Planalto nas Eleições 2018.
"Se não tiver uma solução, eu sugiro a privatização da Petrobras. Acaba com esse monopólio estatal e ponto final. Então, é o recado que eu dou para o pessoal da Petrobras", afirmou o candidato.
"Eu entendo que a Petrobras é estratégica. Por isso não gostaria de privatizar a Petrobras, esse é o sentimento meu. Agora, se não tiver solução, não tiver um acordo, você não vai ter outro caminho", acrescentou.
De acordo com o candidato, se ele for eleito, o economista Paulo Guedes será o ministro da Fazenda e terá a liberdade para conduzir a política econômica e ainda escolher, por exemplo, o presidente do Banco Central.
Gays, mulheres e aborto
Durante a entrevista, o candidato do PSL disse não ser homofóbico, acrescentando ser contra o que chamou de "ideologia de gênero" que, segundo ele, é ensinada nas escolas.
"Nunca fui homofóbico. [Mas] eu não posso admitir que crianças com seis anos de idade assistam a filmes como 'Encontrando Bianca', onde meninos se beijam, meninas se acariciam, para combater a homofobia. Está na cara que a criancinha de seis anos de idade que assistir a isso, no intervalo, o Joãozinho vai querer namorar o Pedrinho. Um pai não quer chegar em casa e encontrar o filho brincando de boneca por influência da escola", afirmou.
Em outro trecho, Bolsonaro foi indagado sobre o que pretende fazer, caso seja eleito, para combater a desigualdade salarial entre homens e mulheres. Ele disse, então, que seria um "absurdo" o governo criar algum tipo de política sobre o tema.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), o rendimento médio dos homens é de R$ 2.012, enquanto o das mulheres, de R$ 1.522. Além disso, levantamento do site de empregos Catho mostra que as mulheres ganham, nos mesmos cargos e funções, até 53% menos que os homens.
Em outro trecho, o candidato do PSL à Presidência da República avaliou que não cabe ao Supremo Tribunal Federal (STF) discutir a descriminalização do aborto.
Uma ação na Corte visa descriminalizar a prática até 12 semanas de gestação. Hoje, é permitido à mulher fazer aborto em caso de estupro, risco de vida para a mãe ou feto anencéfalo.
Outros temas
Saiba abaixo outros temas abordados pelo candidato durante a entrevista à GloboNews:
- Possíveis candidatos a vice: "Ou vai ser a senhora Janaína Paschoal, ou o senhor príncipe Luiz Philippe de Orleans e Bragança. [O que] está faltando é que eu estou conversando com a Janaína e ela apresenta alguns problemas familiares, porque ela tem dois filhos. [...] Não posso ter preferência. Lógico, sempre, a gente pensa em um 'plano B'. No momento, o 'plano B' é o príncipe."
- Armas e feminicídio: "Você vai fazer uma viagem [...]. Você não se sentiria mais segura se pudesse, desde que estivesse habilitada, ter uma arma no teu carro? Porque pode furar um pneu na Rio-Santos e você ter que trocar e, daí, se chega alguém para fazer uma maldade contigo, você vai sacar do bolso a lei do feminicídio? Ele [o bandido] vai dar risada de você".
- Tortura: "A palavra tortura cai em mim por eu ser militar. É inadmissível a tortura. Na própria Câmara, eu cheguei em 1991, capitão do Exército [...], tinha um montão de ex-preso político, anistiado, e o pessoal olhava para mim com muito carinho [...] e ali, está certo, nesses embates, falavam coisas que não eram verdades, queriam se vitimizar. Algumas eram [verdade], outras não. E daí as caneladas minhas aconteceram lá dentro"
- Indígenas: "O índio quer se integrar à sociedade, ele quer um dentista, ele quer um médico, ele quer energia elétrica. Nós não podemos fazer com que o índio continue vivendo dentro da reserva indígena como se fosse um animal de zoológico. É isso o que acontece. O mundo está de olho no Brasil."
- Número de ministros do STF: "Se fizermos uma pesquisa sobre a credibilidade do Congresso Nacional e do Supremo, os números serão muito próximos. Lamentavelmente, o nosso Supremo está deixando a desejar. [...] Praticamente desistimos da ideia [de propor aumentar o número de ministros de 11 para 21], até porque não seria uma imposição minha, dependeria de emenda constitucional".
- Colégios 'militarizados': "Eu acho que em cada comunidade pobre que nós temos aqui [no Rio], temos o Alemão, temos Mangueira, temos tantas, tem a própria Rocinha, se ali embaixo pintar um colégio militarizado, eu acho que vai ajudar em muito e muito mais que a própria UPP, que no meu entender exauriu-se e não deu certo".
- O candidato também defendeu que o Brasil deixe o acordo de Parissobre o clima; afirmou que, se eleito, manterá o Bolsa Família; disse que não é fascista; e disse gostar do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Assista a entrevista na íntegra:
https://globosatplay.globo.com/globonews/v/6921428/
El País: A ala do PT que defende o ‘tudo ou nada’ para levar a candidatura de Lula até o fim
Avaliação de petistas é que recursos ao Supremo não teriam como ser analisados antes de data limite para substituição. Partido deve formalizar nome de ex-presidente neste sábado
Por Ricardo Della Coletta, do El País
Os aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmam que usarão todos os recursos na Justiça para garantir que o petista participe das eleições neste ano, mas, caso insistam nessa estratégia, o país pode enfrentar uma situação inédita —e cheia de incertezas— no pleito de outubro: o líder nas pesquisas de opinião com uma candidatura com o risco de ser impugnado no meio (ou mesmo depois) do processo eleitoral. Embora alguns petistas avaliem que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Supremo Tribunal Federal (STF) vão correr contra o tempo para indeferir a candidatura de Lula antes de 17 de setembro, a data limite para a troca de candidato, os prazos apertados que a Justiça Eleitoral terá para analisar o processo e a possibilidade de apresentar recursos ao STF fazem com que a hipótese de não substituir Lula seja debatida dentro do PT.
"Dependendo das condições, sim, é muito possível [manter a candidatura de Lula sub judice]", afirmou ao EL PAÍS a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann. A senadora deve presidir neste sábado a convenção do partido que prevê formalizar o petista como candidato ainda que sem nome de vice, em mais uma estratégia para ganhar tempo. O segundo da chapa, disse Gleisi, só seria anunciado no dia 14 e ela fez questão de repetir que o Ciro Gomes seria um bom nome para o posto. "Se for verdade que Lula será candidato, conversemos; se não for, por favor, Brasil: muita calma nessa hora! Nosso país não aguentará outra aposta no escuro", retrucou o pedetista em carta aberta na qual disse que "até as pedras" sabem que Lula, que está preso desde abril devido a uma condenação em segunda instância por corrupção que o enquadra na Lei da Ficha Limpa, será impedido.
A tese da candidatura sub judice ganha eco na ala mais radical do PT, que acredita que a solução drástica —não trocar a candidatura de Lula no dia 17 de setembro caso ele ainda possa apresentar recursos ao Supremo— seria uma forma de reforçar ainda mais o discurso de que a sigla e o ex-presidente estariam tendo seus direitos desrespeitados. Além do mais, a meta desse grupo é tentar garantir que, mesmo com o registro negado, o nome de Lula apareça na urna eletrônica. Com 33% das intenções de voto, segundo o último levantamento Ibope, tudo indica que o petista teria uma votação expressiva, o que deixaria o Supremo contra a parede: afinal, os juízes anulariam os votos dados a Lula, um candidato que poderia muito bem liderar o primeiro turno? "Ninguém na condição em que está o Lula hoje deixou de ser candidato", afirma o senador Lindbergh Farias, líder do PT no Senado. "Qualquer decisão definitiva no STF só ocorrerá depois das eleições. Então vai surgir a seguinte questão: não será o candidato Lula que estará sendo julgado, mas o presidente eleito", complementa o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta.
Encruzilhada
Mas como esse cenário seria possível? Caso o TSE e o Supremo indeferirem em definitivo o pedido de candidatura de Lula até 17 de setembro, não há mais o que discutir. A única opção do PT seria ungir um candidato alternativo e esperar que a popularidade de Lula transfira votos ao escolhido (o nome mais especulado hoje em dia é o do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad). Mas a coisa se complica se, devido a eventuais recursos no STF, uma decisão em definitivo da última instância do Judiciário não ocorra antes desse prazo.
Dessa forma, se a peleja jurídica se estender, o partido vai se deparar com uma encruzilhada em 17 de setembro: caso insistam numa disputa judicial "até o fim", a sigla não poderá mais substituir seu representante, mesmo se o STF vier a bloquear a candidatura de Lula depois disso. Haveria dois caminhos a seguir. Abrir mão de eventuais recursos que ainda poderiam beneficiar o ex-presidente na Suprema Corte e lançar um substituto no pleito ou redobrar a aposta no líder petista, numa espécie de "tudo ou nada" eleitoral. É uma aposta de alto risco. Segundo explica um ex-ministro do TSE, que falou sob condição de anonimato, no caso de uma impugnação após 17 de setembro o PT ficaria sem candidato e — se não houver tempo hábil para retirar o seu nome da urna — os votos dados a Lula seriam anulados. Mesmo assim há quem defenda esse caminho dentro do PT.
"É uma coisa que nós só saberemos nos dias 15 e 16 de setembro. Nós não adiantamos essa discussão, por isso que a gente tem insistido tanto que não tem plano B", contemporiza Gleisi, presidenta do PT. "Nós não temos essa clareza: se vamos substituir [o Lula] ou se vamos continuar sub judice. Vai depender muito do desempenho da disputa jurídica no Tribunal Superior Eleitoral. Nós temos argumentos fortes, o presidente tem aí recursos muito plausíveis e a jurisprudência eleitoral nos faz acreditar que é possível disputar uma eleição sub judice e levantar a elegibilidade", complementa.
O precedente que mais se parece ao cenário do "tudo ou nada" defendido pela ala mais radical do PT ocorreu em 2006, quando Rui Costa Pimenta, então candidato pelo Partido da Causa Operária, disputou o Palácio do Planalto. O Tribunal Superior Eleitoral negou seu registro por problemas na prestação de contas de pleitos anteriores, mas Pimenta recorreu ao STF e seu nome apareceu na urna eletrônica. O caso dele só foi resolvido pelo Supremo em 25 de outubro daquele ano, mais de 20 dias depois do primeiro turno. A candidatura foi considerada irregular e os votos depositados em Pimenta, anulados. Uma questão pequena já que o postulante em questão era de uma legenda nanica e teve poucos votos. Quando se pensa nessa hipótese com o nome de Lula na urna, o problema se torna significativamente maior.
Pelas declarações mais recentes de membros do Tribunal Superior Eleitoral, no entanto, a indicação é que o caso Lula será analisado de forma célere. O presidente do TSE, ministro Luiz Fux, argumentou recentemente que o petista está numa situação de "inelegibilidade chapada". Ministros do tribunal dizem reservadamente que a tendência é que a Corte julgue o processo do ex-presidente até 31 de agosto, portanto antes do início do horário eleitoral gratuito. Em outra frente, a Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, afirmou na semana passada que o Ministério Público vai pedir o ressarcimento dos recursos públicos usados por partidos políticos nas campanhas de políticos inelegíveis.
Divergência
Apesar de Gleisi afirmar que esse assunto só será tratado às vésperas do prazo limite para a troca de candidato, o tema já gera discussões internas dentro do PT. Um grupo de petistas mais moderados acredita que manter a candidatura sub judice mesmo depois da determinação da corte eleitoral seria uma espécie de plano suicida, com consequências imprevisíveis para o partido e para as próprias eleições. Um parlamentar ouvido reservadamente disse, por exemplo, que o ideal seria considerar a decisão do TSE como a linha definitiva para a troca de candidato.
De qualquer forma, o caminho que será seguido depende — como tudo no PT — da estratégia traçada pelo próprio ex-presidente Lula. Quem o visita na carceragem em Curitiba garante que ele está determinado a manter a sua candidatura até as últimas consequências, mas alguns interlocutores do petista acreditam que o plano é esticar o discurso de que não há plano B pelo máximo de tempo possível — se conseguirem até o dia 17 de setembro, melhor. O cálculo é que quanto mais próximo das eleições, mais chances o substituto terá de herdar o eleitorado que votaria no ex-presidente. Apostar numa candidatura com risco de ser anulada durante ou depois do pleito, dizem, seria igual a abdicar das possibilidades de um petista chegar ao segundo turno das eleições.
Eliane Cantanhêde: O diabo está solto!
O PT rifa seus nomes por hegemonia e alianças, mas nem todos vão engolir calados
Em 2004, com Lula a todo vapor na Presidência da República, a cúpula nacional do PT ignorou, desprezou e, de certa forma, humilhou a jovem petista Luizianne Lins para favorecer Inácio Arruda, do PCdoB, na eleição para a prefeitura de Fortaleza. Galega arretada e atrevida, ela empinou o nariz, enfrentou tudo e todos e venceu a eleição. No segundo turno, até ganhou uns adesivos do PT – mas teve de pagar o frete.
Quatorze anos depois, com Lula imobilizado numa cela em Curitiba, a cúpula do PT repete a primeira parte da história, atingindo em cheio Marília Arraes, neta do mito Miguel Arraes e candidata favorita ao governo de Pernambuco contra a reeleição do governador Paulo Câmara, do PSB.
Não por uma causa, mas por um projeto de poder, Lula e o PT decidiram rifar Marília em troca da neutralidade do PSB na disputa presidencial. Em outras palavras, cortaram a cabeça da petista para matar a candidatura de Ciro Gomes, do PDT. Sem PT, sem DEM, sem PSB e muito provavelmente sem a Rede, Ciro perde fôlego, míngua.
A tal Marília, porém, não parece muito diferente daquela Luizianne atrevida. Primeiro, ela desmentiu tudo num vídeo, atribuindo a versão a um “ataque especulativo”. Confirmado que tal ataque era real e partira da própria Comissão Executiva do PT, também empinou o nariz e avisou que não vai engolir em seco, nem chorar num canto. Como Luizianne, vai à luta, vai bater chapa na convenção do PT.
Bem longe dali, o ex-prefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda, do PSB, era também vítima do acordão entre o seu partido e o PT para desidratar Ciro Gomes, que se lança como opção das esquerdas após a crise do PT e a prisão de Lula – a quem sempre defendeu e agora acusa. Mas, se não é nordestino, nem mulher, nem valente e atrevido como Luizianne Lins e Marília Arraes, Lacerda igualmente não vai baixar a cabeça e morrer calado. Até porque, como ele alegou ontem para o partido, quem bancou todas as despesas da pré-campanha foi ele, do próprio bolso. Quem vai ressarci-lo?
Assim como tenta fazer com Marília Arraes, o PT também rifa candidatos próprios no Amazonas, no Amapá, no Piauí, no mesmo Ceará de Luizianne e no Maranhão, onde os petistas tentam resistir bravamente à hegemonia de décadas dos Sarney e há 12 anos são incapazes de disputar eleições. Viraram saco de pancada do próprio partido. Tudo pelo pragmatismo, pela neutralidade do PSB, do apoio do PCdoB e até do PP e do MDB de Eunício Oliveira (CE) e de Renan Calheiros (AL).
A ex-vereadora, ex-deputada federal e atual deputada estadual Manuela d’Ávila (RS), outra jovem política com garra, vontade própria e princípios, que se cuide. Ela foi lançada para a Presidência na convenção do PCdoB na quarta-feira. Mas, pelo andar da carruagem, parece só estar esquentando a cadeira enquanto vai se fechando o cerco da Justiça a Lula.
A procuradora-geral, Raquel Dodge, deu parecer a favor de mantê-lo preso e ainda acusou o ex-presidente de frustrar milhões de eleitores. O ministro Luiz Fux (STF e TSE) foi taxativo ao falar na “inelegibilidade chapada” dele. O relator da Lava Jato no Supremo, Edson Fachin, já se manifestou a favor de decidir esse solta-não-solta Lula ainda em agosto. E tem razão. Enquanto Lula insistir em ser uma (falsa) peça para outubro, o tabuleiro não se mexe.
Aliás, por que o PT rifa todo mundo e atira em Ciro? Por ordem direta de Lula. Sua distração na cadeia é traçar a estratégia, manter o controle total sobre o PT e esticar e relaxar a corda de Fernando Haddad.
Dilma Rousseff é uma fábrica de produzir declarações hilárias, mas estava coberta de razão ao dizer que, “em eleições, faz-se o diabo”. Em todos os partidos, inclusive no PT. E o diabo está solto!
Folha de S. Paulo: Acordo entre PT e PSB nos estados isola Ciro e causa protestos nos diretórios
Costura prevê neutralidade de sigla socialista, evitando apoio ao rival de Lula na esquerda
Catia Seabra , Gustavo Uribe , Marina Dias , João Valadares e Carolina Linhares | Folha de S. Paulo
SÃO PAULO, BRASÍLIA, RECIFE E BELO HORIZONTE - Sob protestos em suas bases regionais, as cúpulas do PT e PSB decidiram, nesta quarta-feira (1ª), sacrificar candidaturas estaduais em nome de um pacto nacional que levará ao isolamento do candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes.
Consumado o acordo, o PSB vai anunciar neutralidade na corrida presidencial, abandonando a costura de aliança com o PDT.
Em troca, o PT vai retirar a candidatura da vereadora Marília Arraes ao governo de Pernambuco em apoio à reeleição do governador Paulo Câmara (PSB). Por 17 votos contra 8, a Executiva Nacional do PT decidiu apoiar o PSB no estado.
O comando petista aprovou a aliança com o PSB de Pernambuco às 16h. No mesmo momento, em um hotel de Belo Horizonte, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, informava ao ex-prefeito e pré-candidato Márcio Lacerda a decisão de desistir da disputa ao Palácio da Liberdade em apoio à reeleição do petista Fernando Pimentel.
"Recebi esta comunicação com indignação, perplexidade, revolta e desprezo", escreveu Lacerda, informando em nota que recusará o convite para que concorra ao Senado na chapa encabeçada por Pimentel. Em declaração posterior à Folha, ele disse que teve apenas uma conversa e que espera receber uma comunicação formal.
Pré-candidata em Pernambuco, Marília afirmou que não vai desistir de sua candidatura. A vereadora disse acreditar que o recurso remetido ao Diretório Nacional para reverter a decisão será acolhido.
"Não tenho o direito de recuar e colocar a esperança do povo de Pernambuco como moeda de troca a preço de banana. A neutralidade é a única coisa que Paulo Câmara e seu grupo político pode oferecer porque não tem força de levar o partido dele para um lado ou para o outro”, disse a jornalistas no Recife.
Dez dirigentes do PT também entraram com recurso pela permanência de Marília. A instância máxima do PT, no entanto, deverá reproduzir a decisão de sua Executiva, que prevê também apoio petista aos candidatos do PSB no Amazonas, Amapá e Paraíba.
O acordo tem o aval da maior corrente petista, a CNB (Construindo um Novo Brasil), cujo líder é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Preso há 116 dias na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, Lula coordenou os principais movimentos da pré-campanha até agora. Pelos seus cálculos, a eleição será novamente polarizada entre direita e esquerda e só há espaço para um nome de cada campo. Ciro seria o adversário direto do PT na competição por votos, principalmente entre os eleitores do Nordeste.
O petista mandou recados por meio de pessoas que o visitam na prisão.
Deu aval para decisões terminativas da presidente de seu partido, Gleisi Hoffmann (PR), para pelo menos cinco atos que reverberaram contra Ciro: sinalizou com a vice do PT para Manuela D’Ávila (PCdoB) no momento em que o partido era assediado pelo PDT; repreendeu governadores petistas que defendiam aliança com Ciro; assistiu ao PR, de Valdemar Costa Neto, levar o centrão para a órbita de Geraldo Alckmin (PSDB) em vez de de fechar acordo com o PDT e, em seguida, fez pesar sua relação familiar de anos na negativa do empresário Josué Alencar (PR) em ser vice do tucano.
No PSB, a costura foi endossada pela ala de Pernambuco, a mais poderosa do partido, e pela da Paraíba. Caso se declare neutra, a legenda orientará os diretórios estaduais, por meio de uma espécie de cartilha, a apoiarem candidaturas de esquerda que sejam contrárias à reforma trabalhista.
Assim como no PT, a decisão do comando nacional do PSB causou insatisfação em diretórios estaduais da sigla. Um grupo ameaça propor, durante a convenção no domingo (5), que a posição da legenda seja definida em votação.
"É lamentável e é um erro do partido. Nós tínhamos iniciado um processo para romper com a polarização, como fizemos com Eduardo Campos em 2014”, reclamou à Folha o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg.
Ele disse que, mesmo com a neutralidade, fará campanha por Ciro Gomes, do PDT, o qual considera um nome preparado para o Planalto.
O diretório do PSB de Belo Horizonte defendeu resistência à decisão nacional do partido. "O PSB e o povo mineiro, como também a candidatura de Márcio Lacerda, não podem ser objeto de espúria moeda de troca, em favor da manutenção de gestões incompetentes e rejeitadas. Impõe-se, portanto, a não-aceitação bem como a resistência que possa restaurar o debate democrático a ética das relações políticas", afirma em nota.
O diretório afirmou que a composição com o PT foge aos interesses do estado e que a candidatura de Lacerda "crescia surpreendentemente e se consolidava como uma terceira via".
O PSB de BH diz ainda esperar que a direção nacional respeite a decisão que virá da convenção estadual, no próximo sábado (4). "Como nos rege a democracia interna, sem ingerências e intervenções estranhos e injustificáveis, em claro desrespeito as tradições históricas e políticas de Minas Gerai", conclui.
OS TERMOS DO ACORDO
PSB adota neutralidade na eleição presidencial, rompendo tratativas com Ciro Gomes (PDT), adversário do PT no eleitorado de esquerda.
PT retira candidatura de Marília Arraes em PE, o que facilita campanha de Paulo Câmara; ela resiste em aceitar a proposta
PSB retira candidatura de Márcio Lacerda em MG. Isso ajuda, por sua vez, a campanha do petista Fernando Pimentel (PT); Lacerda também diz que não vai desistir
Merval Pereira: Voto útil ou envergonhado
O pré-candidato do PSL à Presidência da República, diz que sente em suas viagens que tem mais votos do que Lula. Em qualquer lugar que vá, é recebido por uma multidão de ensandecidos, que o carregam nos ombros e gritam o mantra “mito, mito” como se estivessem hipnotizados.
Ao contrário de tempos atrás, quando militantes petistas recebiam Lula onde quer que fosse aos magotes, os bolsominions, como são conhecidos pejorativamente os seguidores de Bolsonaro, aparentemente se reúnem de maneira espontânea, não têm a estrutura que os sindicatos forneciam ao PT.
Há ainda os possíveis “eleitores envergonhados”, que preferem Bolsonaro, mas não revelam o voto com receio da reação. Não é impossível, portanto, que o pré- candidato do PSL tenha mais eleitores do que captam as pesquisas. Contra Bolsonaro, porém, há o voto útil, que em uma eleição como esta, tão fora de parâmetros, pode ser fundamental já no primeiro turno.
Diante da possibilidade real de Bolsonaro estar no segundo turno, muito eleitor tucano pode votar em Marina, assim como parte dos eleitores petistas que não anularem o voto, cristianizando tanto Geraldo Alckmin quanto o poste de Lula.
Já Ciro Gomes poderá ter o apoio dos partidos de esquerda que não conseguem se unir no primeiro turno. Pode ser que a perspectiva de a esquerda tradicional não ir para o segundo turno faça com que eleitores dessa tendência invistam em Ciro para evitar que o segundo turno seja disputado pela extrema- direita contra a centro- direita, que pode ser representada tanto por Marina quanto por Alckmin.
O candidato tucano, se não deslanchar com o apoio do centrão, poderá ser abandonado pelos eleitores ainda no primeiro turno. A aposta de Alckmin é que o tempo de televisão e a máquina partidária do centrão o levarão para o segundo turno, com um raciocínio analógico da política, quando o digital domina a campanha. Pode ser surpreendido pela indignação do eleitorado.
Em contrapartida, o voto útil pode ajudar Alckmin caso esteja disputando o segundo lugar contra Ciro ou Marina. Como as coligações obedecem a critérios locais, com o MDB sendo aliado do PT em diversos estados, e a Rede se coligando com forças políticas que trabalham em outra sintonia, não é possível saber se o enraizamento de partidos como o MDB, o DEM e o PP sustentará candidaturas oficialmente escolhidas, ou se essa algaravia partidária facilitará a traição nacional em troca de vitórias regionais.
O fato de que importa mais aos partidos fazerem bancadas fortes do que eleger o presidente da República reforça essa possibilidade. A crença de que Lula transferirá pelo menos metade dos seus votos para um substituto petista, seja ele quem for, não está sendo confirmada nas pesquisas eleitorais. Se isso for verdade, há uma boa chance de eleitores petistas votarem em Marina. Ela é quem mais ganha nessa situação, seguida de Ciro Gomes, do PDT.
A mais recente pesquisa do Instituto Paraná tentou entender a cabeça do eleitor. Quando pergunta em quem o eleitor poderia votar, Marina Silva lidera, mas todos os candidatos, até mesmo Henrique Meirelles ou Fernando Haddad, têm boa pontuação. Já quando a pesquisa tentou saber em quem os eleitores votariam com certeza para presidente da República, Bolsonaro lidera com vantagem sobre Marina Silva, a segunda colocada. Bolsonaro teve 15,7% de votos consolidados e Marina, 6,3%. Lula aparece em primeiro lugar com 21,3%, mas está inelegível.
O Instituto Paraná perguntou aos eleitores em quem não votariam de jeito nenhum, e a má notícia para o PT é que Fernando Haddad tem a maior rejeição, seguido do tucano Geraldo Alckmin, o que indicaria que, sem a liderança carismática de Lula, PT e PSDB estão em baixa com o eleitorado que busca o novo na política.
Jair Bolsonaro e Lula têm a mesma rejeição de 54% do eleitorado. Em todas as pesquisas, a soma dos votos brancos, nulos e a abstenção supera Bolsonaro. Os eleitores indecisos, na sua maioria, têm Marina como alternativa. Todas essas informações demonstram que o voto útil ou o voto envergonhado pode ter influência decisiva na eleição de outubro, como também a indignação dos eleitores detectada pelas pesquisas.