Eleições
Bernardo Mello Franco: Alta de Bolsonaro deixa o PT atônito
As novas pesquisas jogaram água no chope petista. A campanha de Haddad se assustou com o aumento da sua rejeição e com o crescimento do rival entre as mulheres
A alta de Jair Bolsonaro deixou o PT atônito. O partido terminou a semana passada beirando a euforia. Considerava que Fernando Haddad havia se tornado favorito a vestir a faixa. Os mais animados já discutiam a nomeação antecipada de ministros.
As novas pesquisas jogaram água no chope petista. No Datafolha de ontem, dois dados alarmaram a campanha. A rejeição de Haddad subiu nove pontos, chegando a 41%. Ao mesmo tempo, Bolsonaro recuperou a liderança entre as mulheres, que resistem mais ao seu discurso de ultradireita.
“Acendeu uma luz amarela na campanha. De amarela para vermelha”, resume o ex-ministro Gilberto Carvalho. “As pesquisas refletem o crescimento do antipetismo. Isso significa que os ataques ao Haddad estão surtindo efeito”, analisa.
Quem acompanhou o petista nos últimos dias notou um candidato de salto alto. Embalado por pesquisas favoráveis, ele fazia uma campanha olímpica, ignorando os adversários. No debate da TV Record, chegou a menosprezar Ciro Gomes, sugerindo que queria seu apoio no segundo turno.
Agora o tom mudou. Ontem Haddad elevou a voz contra Bolsonaro. Chamou o capitão de “figura exótica”, sugeriu que ele precisa de tratamento psicológico e questionou sua evolução patrimonial.
A campanha do ex-prefeito vive um dilema. O núcleo petista quer que ele reforce a associação com Lula e as promessas para o eleitor mais pobre. Ao mesmo tempo, o candidato sabe que precisa moderar o tom em busca de votos da centro-direita no segundo turno.
Ontem ele deu sinais trocados ao dizer que “parte expressiva da elite brasileira abandonou a social-democracia pelo fascismo”. Pode ser, mas agora o seu desafio é conter o crescimento de Bolsonaro em redutos lulistas: no Nordeste e entre os mais pobres.
Os petistas também batem cabeça para entender a alta do rival entre as mulheres. Alguns acreditam que os protestos de sábado,com forte tom feminista, teria assustado eleitoras mais conservadoras. “O #EleNão pode ter ajudado o #EleSim”, diz Gilberto Carvalho.
Elio Gaspari: A ‘bala de prata’ feriu Moro
Se era “bala de prata”, o teor da colaboração do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci tornou-se um atentado à neutralidade do Poder Judiciário, à desejada exposição das roubalheiras do comissariado petista e à boa-fé do público.
Foi uma ofensa à neutralidade da Justiça porque o juiz Sergio Moro deu o tiro seis dias antes do primeiro turno da eleição presidencial. Trata-se de um depoimento tomado em abril que não revela o conjunto da colaboração do poderoso detento-comissário. Podia ter esperado o fim do processo eleitoral, até mesmo porque o doutor Moro é pessoa cuidadosa com o calendário. Com toda a razão, ele suspendeu dois depoimentos de Lula porque o ex-presidente transforma “seus interrogatórios em eventos partidários”.
Foi uma ofensa para quem espera mais detalhes sobres as roubalheiras petistas, porque a peça de dez páginas tem apenas uma revelação factual comprovável, a reunião de 2010 no Alvorada, na qual combinou-se um processo de extorsão, cabendo a Palocci “gerenciar os recursos ilícitos que seriam gerados e seu devido emprego na campanha de Dilma Rousseff para a Presidência da República”. Traduzindo: Palocci foi nomeado operador da caixinha das empresas contratadas para construir 40 sondas para a Petrobras. Só a divulgação de outras peças da confissão do comissário poderá mostrar como o dinheiro foi recebido, a quem foi entregue e como foi lavado. O juiz Sergio Moro fica devendo essa.
Afora esse episódio, o que não é pouca coisa, a colaboração de Palocci é uma palestra sobre roubalheiras que estão documentadas, disponíveis na rede, em áudios e vídeos, na voz de empresários e ex-diretores da Petrobras. Em julho passado, o procurador Carlos Fernando de Souza contou que a força-tarefa da Lava-Jato tratou com Palocci: “Demoramos meses negociando. Não tinha provas suficientes. Não tinha bons caminhos investigativos”. Se as confissões de Palocci à Polícia Federal quebraram a sua barreira de silêncio, só se vai saber quando o conjunto da papelada for conhecido.
Nessa parte da colaboração, Palocci, quindim da plutocracia que se aninhou no petismo, diz na página 2 que em 2003 o governo tinha duas bandas, a “programática” e a “pragmática”. Ao longo do tempo “a visão programática adotada pelo colaborador (ele) foi sendo derrotada”. Na página 6, o doutor conta que foi nomeado operador da caixinha das sondas. Isso é que é derrota. Em 2006, quando estava prestes a ser defenestrado do Ministério da Fazenda, uma pessoa presente a uma conversa no Alvorada ouviu Lula dizendo-lhe: “Pô, Palofi, você não para de mentir?”
Segundo Palocci, de cada R$ 5 gastos nas campanhas, R$ 4 vêm de propinas, e a candidatura de Dilma Rousseff recebeu algo como R$ 400 milhões de forma ilícita. Como gerente de uma parte dessa caixa, a palavra está com ele.
Até lá, o ex-ministro continuará na carceragem de Curitiba, onde teria um pequeno cultivo de alecrim e lavanda, ecoando o jardim do falsário Louis Dega na Ilha do Diabo. (Dustin Hoffman no filme “Papillon”)
Antes mesmo da “bala de prata”, Lula, Haddad e o comissariado tinham motivos para duvidar que a postura de soberba castidade do PT teria um preço. A conta chegou: a rejeição a Haddad subiu 11 pontos em uma semana, chegando a 38% na conta do Ibope. É rejeição ao PT e ao “Andrade” que percorre o Brasil blindando-o.
Faltam cinco dias para o primeiro turno, e amanhã os candidatos irão ao último debate. A ver.
Mauro Paulino e Alessandro Janoni: Reação conservadora e antipetista alavanca Bolsonaro
Ascensão de Haddad no Datafolha anterior permitiu ao deputado capitalizar o discurso de oposição ao PT
Os dados divulgados pelo Datafolha confirmam a tese, já apontada pelo instituto em análises anteriores, de que o crescimento do PT nas intenções de voto alimenta também seu antagonista, Jair Bolsonaro (PSL).
A expressiva ascensão de Fernando Haddad (PT) na pesquisa de sexta-feira (28), além de nova mídia espontânea no último final de semana, em função das manifestações pró e contra sua candidatura, permitiu ao deputado capitalizar o discurso antipetista e não só intensificar apoio em segmentos onde já encontrava entusiastas como também garimpar eleitores em estratos que mais o rejeitam.
A simpatia por sua candidatura ficou ainda mais forte no Sul, entre os mais ricos e mais escolarizados, mas também se espraiou para estratos de menor renda, para o Nordeste e inclusive no segmento feminino.
Bolsonaro continua rejeitado por metade das mulheres do país, e sua taxa de intenção de voto no estrato continua muito mais baixa do que no segmento masculino, mas, depois do final de semana, o índice das que pretendem elegê-lo subiu seis pontos percentuais.
Ao se combinar variáveis demográficas e econômicas, percebe-se que esse crescimento foi de 10 pontos percentuais entre as mulheres com renda mais alta, porém se mostra significativo também em estrato de maior peso na composição do eleitorado —entre as mulheres com até dois salários mínimos, ele subiu cinco pontos percentuais.
Uma hipótese para o fenômeno é o grau de identificação de subconjuntos femininos com valores das que se mostraram nos últimos dias contra ou a favor do capitão reformado.
Um exemplo é que homens e mulheres de famílias nucleares, isto é, casados e com filhos, tendem a votar muito mais no candidato do PSL. Já entre as mães solteiras, Haddad lidera com folga: o apoio ao petista chega a 29% contra 14% do ex-deputado.
O vetor religioso também ganhou holofotes em função da declaração de apoio do bispo da Igreja Universal, Edir Macedo, a Bolsonaro. Porém, pelo menos por enquanto, não há evidência de migração expressiva de evangélicos para o candidato por conta disso —o capitão reformado já era o mais votado pelo segmento (chega a 40% de intenção de voto agora).
Nos últimos 20 dias, Haddad oscilou positivamente três pontos nesse grupo, que responde por um terço do eleitorado. Mas vale aí a observação: nenhum outro estrato do país é tão evangélico quanto as mulheres com renda de até 5 salários mínimos.
Entre os católicos, que correspondem a 55% dos brasileiros, a diferença do candidato do PSL para o petista, no entanto, é de apenas 4 pontos percentuais.
Com tais registros simbólicos propagados não só pelo noticiário na TV, como pelas propagandas eleitorais e especialmente pelas redes sociais, a reação do eleitorado se dá praticamente em tempo real, potencializada pelo sentimento de desalento e insegurança que caracterizam esta eleição.
A maioria dos brasileiros tem conta em algum desses serviços de comunicação instantânea e considera como um dos mais importantes fatores para a decisão do voto algo que esse tipo de veículo facilita: a conversa com familiares, amigos e colegas.
E para se ter uma ideia da diferença do grau de ativismo dos eleitores de cada candidato nesse tipo de rede, a taxa dos que pretendem votar em Bolsonaro e que compartilham conteúdo político pela mais rápida delas, o WhatsApp, é o dobro da verificada entre os eleitores de Fernando Haddad (40% contra 22%, respectivamente).
Com o movimento, apoiadores do capitão reformado sonham com vitória no primeiro turno. Para que isso aconteça, Bolsonaro tem que alcançar cerca de 45% do total de votos nos próximos dias, considerando-se uma taxa histórica de 10% de brancos e nulos.
Para evitar em escala nacional o que lhe ocorreu na disputa pela reeleição na cidade de São Paulo, Fernando Haddad precisa calibrar os códigos de comunicação de sua campanha com estratos de importante peso no eleitorado e que se mostram mais indecisos ou desiludidos, como as mulheres, os menos escolarizados e de menor renda, em quatro dias, e sem a ajuda de seu padrinho político.
*Paulino é diretor-geral do Datafolha e Janoni, diretor de pesquisa do Instituto
Eumano Silva: Pesquisa Datafolha expõe os riscos da estratégia de Lula
Crescimento de Bolsonaro na reta final do primeiro turno desafia campanha de Haddad, vinculada à imagem do ex-presidente petista
A pesquisa divulgada pelo Instituto Datafolha nessa terça-feira (2/10) expõe o risco da estratégia traçada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a eleição presidencial de 2018. O crescimento de Jair Bolsonaro (PSL) na reta final da campanha de primeiro turno revela o grau de dificuldade encontrado pelo PT para levar o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad ao Palácio do Planalto.
Assim como uma eventual vitória do petista será creditada à popularidade de Lula, uma hipotética derrota também terá a marca do ex-presidente. Na prática, a eleição presidencial se transformou em uma disputa entre o lulismo e o antipetismo. Os últimos números do Datafolha evidenciam os perigos do caminho tomado pela campanha do PT.
Em quatro dias, Bolsonaro subiu de 28% para 32% nas intenções de voto. No mesmo período, Haddad oscilou para baixo, de 22% para 21%. Nas simulações para o segundo turno, dentro da margem de erro, houve inversão de posições. O candidato do PSL cresceu de 39% para 44%, enquanto o petista recuou de 45% para 42%.
A reversão de expectativas para o PT fica mais evidente quando se leva em conta os resultados do Datafolha do dia 22 de agosto. Nessa pesquisa, Lula liderava a corrida presidencial com 39%. Bolsonaro tinha 19%. No segundo turno, o petista vencia Bolsonaro por 52% a 32%.
Estratégia estagnada
Condenado em janeiro de 2018 por corrução e lavagem de dinheiro no âmbito da Lava Jato, pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), Lula se encontra desde então inelegível em razão da Lei da Ficha Limpa. Mesmo assim, ele manteve a candidatura ao Planalto até meados de setembro, limite do prazo para a definição dos concorrentes.
Inflado pelo desempenho nas pesquisas depois de sua prisão em abril, o ex-presidente pôs em prática o plano de transferir seu potencial eleitoral para Haddad. Nas primeiras semanas, a estratégia se mostrou eficaz. Em pouco mais de um mês, o ex-prefeito se tornou conhecido como o candidato de Lula e ultrapassou o patamar de 20% dos votos.
Nos últimos dias, porém, Haddad estagnou nessa faixa e Bolsonaro continuou crescendo na preferência dos eleitores até chegar aos 32%. Outro dado preocupante para o ex-prefeito é o aumento da rejeição ao seu nome. Em quatro dias, o percentual de eleitores que se recusa a votar nele saltou de 32% para 41%.
Crescimento, apesar de ex e #EleNão
Chama atenção o fato de que a consolidação do candidato do PSL na ponta da disputa presidencial ocorra em um período de exposição negativa de seu nome. A edição da semana passada da revista Veja divulgou os detalhes da separação de Bolsonaro de sua ex-mulher Ana Cristina Valle em 2008.
No processo, ela acusa o ex-marido de ocultar patrimônio, furtar o conteúdo de um cofre e de ter comportamento violento. Outro fato contra Bolsonaro foram os protestos com o mote “ele não” que levaram multidões de mulheres a ocuparem as ruas e praças em todo o país no sábado (29/9).
A negativa de Ana Lúcia em relação às acusações da época da separação e as manifestações em favor do candidato do PSL no domingo (30) reduziram o impacto desses fatos. Em vez de se desgastar com os eleitores, o ex-capitão conquistou mais alguns pontos nas pesquisas. Os adversários permaneceram sem alterações significativas na preferência dos brasileiros.
Líder máximo do PT desde a criação do partido, Lula usou o prestígio interno para atrelar a campanha presidencial à sua imagem, mesmo preso em Curitiba (PR). As próximas semanas vão mostrar se o ex-presidente comandará a quinta vitória consecutiva nas disputas pelo Planalto ou se amargará um fracasso retumbante.
Creomar de Souza: No limiar de uma primavera conservadora
Jair Bolsonaro é um fenômeno eleitoral e, para o bem ou para o mal, sua ascensão e competitividade estabelecem definitivamente um novo elemento no cenário político e eleitoral nacional, o voto conservador. Não é possível dizer ainda se Bolsonaro será presidente da República, porém, é possível dizer que há um novo elemento no ambiente político nacional que se manifesta fora de uma legenda. A novidade consiste em um cidadão com convicções políticas de caráter conservador, com um viés religioso e com uma determinada percepção moral muito próxima ao evangelismo pentecostal, que há algum tempo cresce em vários cantos do país.
Porém, longe de tratar o conservadorismo político como um fenômeno novo no panorama político brasileiro, faz-se necessário estabelecer como ponto fundamental o fato de que a geração política que assumiu protagonismo com a redemocratização nunca foi conservadora de fato. Isso significa dizer que a Constituição de 1988, legado político deste grupo, trouxe em suas páginas um esforço de construção de garantias e direitos para uma sociedade que, naquele momento, ainda temia na memória os momentos mais difíceis do regime de exceção. Como tal, a Constituição Federal simbolizou a primazia e a hegemonia de uma forma de enxergar o Estado e a coisa pública. O resultado concreto em termos globais foi a monopolização do debate político em torno de uma percepção social democrata da realidade.
Isto quer dizer que, mesmo que o PT tenha sido muito bem-sucedido em transformar o PSDB em um partido de direita do ponto de vista narrativo, em realidade, o conservadorismo político permaneceu dormente como opção eleitoral e política a partir da redemocratização. Isso ocorreu, seja pela vinculação narrativa que se fazia de maneira automática ao regime autoritário, seja pela falta de nomes que pudessem ostentar essa bandeira de maneira eleitoralmente competitiva.
O fato é que o ano de 2018 trouxe a junção de dois elementos que permitiram o renascimento conservador. Em primeiro lugar, a confirmação de que uma parte considerável do eleitorado não possui memória alguma do regime autoritário. E em segundo lugar, o acirramento das tensões políticas a partir de 2013, sobremaneira, agravado pela crise econômica e de representação política. O desgaste das lideranças tradicionais e o próprio esfacelamento do conceito de política como algo positivo criaram o caldo de cultura necessário para a construção de uma candidatura presidencial competitiva por parte de Bolsonaro.
Deve-se levar em consideração que, mesmo não sendo um exemplo típico de retórica e oratória, construiu-se uma simbologia em torno de Bolsonaro. Muito mais porque grupamentos sociais, com destaque aos evangélicos pentecostais, se sentem injustiçados em termos de distribuição de poder do que pelo fato de o candidato ser um modelo perfeito de discurso conservador. Pode-se perceber no presidenciável o produto inacabado de um grupo político que vem, há algum tempo, buscando construir espaços de poder, sobretudo, com o objetivo de estabelecer resistência a determinados posicionamentos considerados por eles negativos.
E se a indignação em 2013 não tinha rosto, em 2018 ela acabou assumindo as feições do candidato do PSL. Nesse sentido, torna-se interessante ressaltar que parte das estruturas de ação das esquerdas foi captada e reutilizada pela campanha do deputado federal. E o que choca parte da intelectualidade é o fato de que uma eventual vitória de Bolsonaro e Mourão nas urnas é um atestado de fracasso de suas próprias convicções e apostas para a solução dos problemas do país, bem como da histórica ideia de que as esquerdas brasileiras são intérpretes monopolísticas dos anseios populares.
É importante, portanto, considerar que, independentemente de a plataforma conservadora ser vitoriosa ou não no pleito presidencial de 2018, esse posicionamento político tende a tornar-se cada vez mais importante nos próximos anos. O produto deste novo momento para o ambiente político brasileiro é, de um lado, o aceleramento da degradação da geração política de 1988 e, de outro, o amadurecimento das premissas intelectuais que darão tônus aos candidatos conservadores no curso do tempo.
Maurício Huertas: O Brasil que eu quero e vou buscar em 7 de outubro
O Brasil que eu quero, parodiando a campanha que se encerra na TV, é muito mais justo, colorido, feliz, fraterno, sustentável e igualitário. Tem espaço para as nossas crenças e ideias, para a sua e a minha ideologia e para o livre desejo de viver, cada um como bem entender, respeitando o direito de todos e a múltipla diversidade.
No Brasil que eu quero, como ensinaram na insistente chamada global, o celular devia ficar deitado, mas o povo necessita seguir de pé, firme, altivo, combativo, alerta. Em berço esplêndido, só vai repousar eternamente a nossa história. Porque o dia-a-dia é de luta incessante, travada nas ruas e nas redes sem descanso. É a nossa hora!
No Brasil que eu quero, está liberado o porte de ALMA. Todo cidadão de bem precisa e merece andar AMADO. No Brasil que eu quero, cabe preto, cabe branco e cabe índio. Cabe mulher, cabe homem e cabe aquilo que para mim ainda parece indefinido. Cabem os direitos humanos e os direitos dos bichos.
No Brasil que eu quero cabe tudo e todo mundo, menos o ódio, a intolerância e o preconceito. Porque grita mais alto o orgulho do que cada um é e ainda pode ser, com o devido respeito. Pode ser hétero, pode ser gay, pode ser trans, pode ser ou não ser. Rico ou pobre, jovem ou velho, sulista ou nortista, conservador ou liberal. Pode ser ateu, evangélico, católico, espírita e macumbeiro. Pode querer. Pode não querer. Sim é sim. Não é não.
No Brasil que eu quero, nossos filhos vão à escola. Não vão para o farol pedir esmola. Voam alto nos sonhos de criança, não viram avião do tráfico como única esperança. Tem creche, tem merenda, tem bala e doce, não tem bala perdida. No Brasil que eu quero tem casa, tem emprego, tem segurança e riqueza dividida. Tem praça, tem parque, tem saúde preventiva, médico e hospital para quem precisa.
No Brasil que eu quero a política é a oportunidade da mediação dos interesses, palco de negociação da coisa pública, não o teatro da esperteza interesseira dos oportunistas da República. É a independência dos poderes, que funcionam em harmonia. Não a ladainha dos poderosos, que transformam a democracia em circo, o plenário em picadeiro e a tribuna em rinha. É o espaço para a vocação dos bons, não o despacho para a invocação do mal.
No Brasil que eu quero não precisamos de falsos heróis, salvadores ou profetas. Dispensamos saídas extremistas à direita ou à esquerda. Preferimos a mão dupla, mais acessível, acolhedora, mediadora, equilibrada, ambidestra. O Brasil que eu quero está logo ali no horizonte do dia 7. Está ao alcance do meu e do seu dedo. Pois então que apontemos certo na urna para o Brasil que queremos.
*Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente
Raymundo Costa: Prós e contra PSL e PT no segundo turno
Nessa batida, eleição será um plebiscito sobre o PT
Na última semana da eleição de 1989 ninguém sabia ao certo quem iria para o segundo turno. Foram um aventureiro de direita e um incendiário - à época - de centro-esquerda que era Lula. O ex-governador do Rio Leonel Brizola, presumivelmente o segundo nome, ficou a 300 mil votos da segunda vaga. Uma fração. É improvável que Ciro Gomes (PDT), o equivalente de Leonel Brizola naquela eleição, consiga ainda chegar à final, numa reação do eleitorado à polarização entre o PT e o PSL, o partido de Jair Bolsonaro que assumiu o papel antes desempenhado pelo PSDB.
O segundo turno é este mesmo: Fernando Haddad (PT) e Bolsonaro. São 20 dias de campanha, desta vez com tempo igual de TV para cada lado (conteúdo não é o forte de Bolsonaro), quando o antipetismo será explorado à exacerbação. A ideia é botar o PT (e o governo Dilma, que anda meio desaparecido) no colo de Haddad. A avalia-se que ele ainda não foi contaminado pela rejeição ao partido. Neste momento, aparentemente, Haddad leva alguma vantagem pelo fato de a associação dele com o PT não estar fechada, o que deve acontecer no segundo turno. Pode ser. De certo mesmo, hoje, é que os dois estão no segundo turno.
Pode ser muita coisa depois do dia 7, o domingo da eleição. A conferir. No primeiro turno, algumas parecem mais ou menos claras. Na eleição de 2014, Aécio Neves (PSDB) tirou em São Paulo 7 milhões de votos de vantagem sobre Dilma Rousseff. O antipetismo com Bolsonaro não deve alcançar a mesma vantagem, segundo as pesquisas. Já o PT está em condições de levar 60% dos votos no Nordeste, na esteira do prestígio de Lula. Na eleição passada os outros dois Estados do Sudeste - Rio e Minas Gerais - votaram no PT. Bolsonaro tem possibilidade de ganhar na região.
A campanha de Bolsonaro não pode mais se dar o luxo de errar como fez na semana passada, com declarações desastrosas sobre o 13º salário e a CPMF. O candidato está sob o fogo cerrado do PSDB e das mulheres. A empresa de consultoria Arko Advice fez um interessante trabalho sobre os pontos fortes e negativos de cada um, no segundo turno. Não há margem para novos erros, sobretudo de Bolsonaro, que enfrenta um adversário experiente e que tem a mão uma azeitada máquina de ganhar eleição, o PT.
Bolsonaro entra na disputa com quatro pontos que a Arko considerou positivos. O primeiro é o discurso contra violência e o direito de o cidadão portar armas. O candidato do PSL também conseguiu se vender como um nome da antipolítica, apesar de seus sete mandatos de deputado federal. Também "posicionou-se abertamente contra o PT e se beneficiou dos escândalos de corrupção que também atingiram o PSDB", diz a Arko, e avançou no antipestimo.
A indicação de Paulo Guedes para o Ministério da Fazenda é outro ponto positivo. O economista tem prestígio no mercado financeiro e no setor empresarial. Por fim, Bolsonaro demonstra força no Sul, Sudeste e Centro-Oeste e lidera em quatro das cinco regiões. No Norte e no Centro-Oeste tem 28% das intenções de voto. No Sudeste, 29%. No Sul, 36%.
O eleitorado feminino é uma das maiores fragilidades do candidato. Segundo o Ibope, a rejeição de Bolsonaro entre as mulheres é de 52%. A de Haddad, apenas 20%. Outro ponto negativo são os recursos financeiros limitados. O tempo de TV será igual, mas a estrutura do PT é mais forte. Até agora só um candidato do PSL aparece com chances de eleger um governador (Roraima)
No segundo turno, o tempo de propaganda na TV será igual para os dois candidatos. Mas o PSL tem recursos financeiros limitados. As denúncias recentes contra Bolsonaro também tiveram ampla cobertura da imprensa. Por último, a questão da governabilidade - o PSL deve crescer, mas terá menos de 2% da Câmara.
Um dos pontos positivos mais fortes de Haddad em relação a Bolsonaro é a estrutura do PT - recursos financeiros, apoio dos movimentos sociais e governadores de Estados importantes trabalhando em favor do candidato. Claro, a força de Lula no Nordeste e sua capacidade de transferir de votos. É a única região em que Haddad está à frente de Bolsonaro.
A gestão Lula também conta positivamente. Há um certo sentimento de volta "aos bons tempos" em que a economia crescia. Não é por outro motivo que o slogan de campanha de Haddad - "O Povo Feliz de Novo" - procura reforçar essa ideia. A experiência do PT adquirida em disputas presidenciais conta a favor. Esta é a oitava e o partido venceu as últimas quatro.
Entre os aspectos negativos, a corrupção que atingiu o PT nos últimos anos é a principal. A exploração do assunto será exacerbada no segundo turno, agora, reforçada com a delação de Antonio Palocci, todo poderoso ministro da Fazenda e da Casa Civil nos governos Lula e Dilma. O segundo ponto é o sentimento anti-PT, especialmente entre os mais escolarizados e de maior renda. Haddad enfrenta resistência nos setores empresarial e financeiro, o que pode ser remediado com uma inflexão no atual discurso. Se vencer, Haddad pode anunciar de imediato sua equipe econômica, para acabar com as desconfianças. O quarto ponto negativo é o programa de governo francamente estatizante. "Há dúvidas, ainda, sobre o comprometimento com as reformas fiscais", diz a Arko.
Nessa batida, a eleição será um plebiscito sobre o PT. E o que não mata, fortalece.
Descrédito
Não é só Geraldo Alckmin que tem muito tempo de televisão à toa. O fenômeno também se repete nos Estados. Intrigado, um candidato a governador foi conferir numa pesquisa qualitativa. Resultado: os políticos levaram para a propaganda na TV o mesmo descrédito de que são vítimas.
Pulverização
Nas contas de Gilberto Kassab, um especialista na criação de partido, nenhuma sigla terá mais de 10% das cadeiras da Câmara. O PT e o PP devem ficar com 9,74% cada um. O MDB, com 7,79%, cai para a sexta posição. Kassab calcula que 18 partidos devem passar a cláusula de barreira, mas em 2023, com o fim das coligações nas eleições proporcionais, esse número cai para dez. Na atual legislatura, PT e PSDB têm 13%.
Bruno Boghossian: Algo está errado quando juízes querem ser árbitros da arena eleitoral
Tutelar o eleitor e interferir no debate político não cai bem ao Judiciário
O avanço das ações de combate à corrupção deu protagonismo inédito ao Judiciário na vida do país. O trabalho de magistrados produziu revelações que imprimiram uma marca permanente em partidos e agentes políticos. Algo está fora do lugar, entretanto, quando juízes pretendem assumir também o papel de árbitros da arena eleitoral.
Em agosto, o juiz Sergio Moro achou melhor adiar para novembro o depoimento de Lula em um dos processos que correm contra o petista. “A fim de evitar a exploração eleitoral dos interrogatórios, seja qual for a perspectiva, reputo oportuno redesignar as audiências.”
O magistrado acrescentou uma crítica ao réu nesta segunda-feira (1º) e afirmou que o ex-presidente “tem transformado as datas de seus interrogatórios em eventos partidários”.
O comentário serviu de introdução ao despacho em que o juiz tornou públicos, a seis dias da eleição presidencial, trechos da delação de Antonio Palocci. O ex-ministro acusa Lula de ter conhecimento dos esquemas de corrupção na Petrobras e diz que o PT financiou ilegalmente suas campanhas políticas.
A divulgação do depoimento, com clara influência sobre o processo eleitoral, reforçou no PT o discurso de que o Judiciário age para prejudicar o partido. Moro sabia disso e buscou uma defesa prévia: “A farsa da invocação de perseguição política não tem lugar perante este juízo”.
No Supremo, Luiz Fux também olhou o calendário ao proibir uma entrevista de Lula à Folha. O ministro julgou razoável tutelar o eleitor, “considerando a proximidade do primeiro turno”, e afirmou que declarações do ex-presidente provocariam “confusão”. A única confusão até agora se deu no tribunal, que precisará discutir o caso no plenário.
Os juízes exercem um bom ofício quando tomam decisões para garantir direitos e punir aqueles que desrespeitam a lei, em qualquer dia do ano. Interferir e tentar mediar o debate eleitoral não cai bem a quem exerce essa função —“seja qual for a perspectiva”, como escreveu Moro.
Correio Braziliense: Últimas pesquisas revelam a tendência do eleitor ao voto útil
Bolsonaro chega a 31% no Ibope, e Haddad para em 21%. Os demais candidatos seguem muito atrás na disputa na reta final do primeiro turno
Por Leonardo Cavalcanti, do Correio Braziliense
Na pesquisa Ibope divulgada na noite de ontem, o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) subiu quatro pontos percentuais e chegou aos 31% das intenções de votos contra 21% de Fernando Haddad (PT), que manteve o número do levantamento de cinco dias atrás. Em terceiro lugar, aparece o pedetista Ciro Gomes, que oscilou um ponto percentual, dentro da margem de erro, e apresenta 11%. O tucano Geraldo Alckmin, por sua vez, registrou os mesmos 8%. Marina Silva, da Rede, tem 4%; João Amoêdo, do Novo, 3%; e Alvaro Dias (Pode) 2%, empatado com Henrique Meirelles (MDB) e Cabo Daciolo (Patri). Os demais não pontuaram.
Enquanto a rejeição de Bolsonaro se manteve nos 44%, a de Haddad subiu 11 pontos percentuais, chegando a 38%. Nas simulações de segundo turno, Bolsonaro (39%) perde para Ciro (45%) e Alckmin (42%). O capitão reformado do Exército empata com Haddad, ambos com 42%, e ganha de Marina Silva que, no confronto direto com o deputado do PSL, apresenta 38%, contra 43% de Bolsonaro.
Nos próximos cinco dias até o primeiro turno, há uma tendência de o eleitor assumir um comportamento mais pragmático. Isso significa que deverá escolher um candidato com potencial para derrotar aquele em quem ele não votaria de maneira nenhuma. Tal movimento ocorreu nas últimas eleições — nacionais e estaduais — e, para cientistas políticos e marqueteiros entrevistados pelo Correio, deve se repetir neste primeiro turno. As últimas pesquisas de intenção de voto confirmam a tendência de fragmentação, como a do Ibope, divulgada na noite de ontem. A partir de agora, cálculos políticos individuais estarão em alta.
Os últimos dias até as eleições serão marcados pela busca da transferência de votos. “É mais ou menos como numa partida de futebol em que os dois times atacam. Não há jogo retrancado, na defesa”, diz Paulo Calmon, diretor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (Ipol/UnB). Para o acadêmico, a semana reserva aos eleitores uma onda de fake news e uma tensão poucas vezes vista na história da política brasileira. “Mas o mais significativo é a transferência de votos nas últimas horas. Os eleitores definem os votos nesse período, próximo ao dia da eleição, o que é uma escolha calculada. O voto tende a se afunilar em relação a um candidato com maior competitividade”, afirma Calmon.
Tendências
Estimativas de marqueteiros e acadêmicos apontam para um número capaz de mudar os atuais resultados das pesquisas. Cerca de um terço dos eleitores poderia ainda hoje mudar o voto, mas a tendência é de que acabem buscando os primeiros colocados nas pesquisas. Uma média dos levantamentos mostra Bolsonaro e Haddad como primeiros colocados. Levantamento do BTGPactual/FSBPesquisa divulgada na manhã de ontem mostra que Bolsonaro perdeu dois pontos percentuais em relação ao resultado da semana passada e hoje estaria com 31% enquanto Haddad cresceu um, chegando aos 24%.
O professor de ciência política da UnB Ricardo Caldas acredita que o voto útil deverá se consolidar esta semana. “O eleitor tem receio de perder o voto ao oferecer a um candidato sem chances, é algo que ocorre nas últimas horas em todas as eleições”, diz ele. A polarização tende a aumentar essa transferência de votos, principalmente por causa da distância entre os dois primeiros e os demais candidatos. A lógica é de que os políticos a partir da quinta colocação, ainda na largada, percam votos em detrimento de outros, mas isso não significa que políticos em terceiro ou quarto lugar nos levantamentos não possam ser afetados pelo voto útil. Entre os presidenciáveis com potencial, Marina é a que tem perdido mais fôlego desde o início da campanha oficial, em 31 de agosto.
O Globo: PT gastou R$ 1,4 bilhão para eleger e reeleger Dilma, diz Palocci em delação
Em delação, ex-ministro afirma que gastos do PT nas campanhas de 2010 e 2014 foram quase o triplo do declarado; ele diz que avisou Lula sobre corrupção na Petrobras e vê propina na aprovação de 90% das MPs no Congresso
Aguirre Talento e Robson Bonin, de O Globo
BRASÍLIA - O ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci afirmou no primeiro anexo de sua delação premiada que as duas últimas campanhas presidenciais do PT para eleger Dilma Rousseff, em 2010 e 2014, custaram, somadas, R$ 1,4 bilhão, mais do que o dobro dos valores declarados à Justiça Eleitoral. Segundo Palocci, as campanhas foram abastecidas com caixa dois. De acordo com o depoimento, os empresários contribuíam esperando benefícios em troca e, mesmo nas doações oficiais, a origem da maior parte do dinheiro eram acertos de propina.
O anexo se tornou público ontem, após decisão do juiz federal Sergio Moro, que determinou que o depoimento de Palocci fosse anexado a uma das ações penais em andamento contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na qual ele é acusado de receber propina da Odebrecht. O PT criticou a decisão de Moro a seis dias das eleições. Palocci atuou nas campanhas petistas como interlocutor do setor empresarial para a arrecadação financeira, daí seu conhecimento sobre o tema.
Sobre as duas campanhas de Dilma Rousseff, Palocci afirmou: “Pode citar que as campanhas presidenciais do PT custaram em 2010 e 2014, aproximadamente ,600 e 800 milhões de reais, respectivamente”. Nas prestações de contas oficiais, os valores oficialmente declarados de custo dessas campanhas foram de R $153 milhões e R $350 milhões, respectivamente.
O ex-ministro está preso preventivamente desde setembro de 2016. Ele já foi condenado em primeira instância a 12 anos e dois meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
CONTAS NO EXTERIOR
Segundo Palocci, a “ilicitude das campanhas” começava nos “preços elevadíssimos que custam”. “Ninguém dá dinheiro para as campanhas esperando relações triviais com o governo”, afirmou ele, que prossegue: “As prestações registradas no TSE são perfeitas do ponto de vista formal, mas acumulam ilicitudes em quase todos os recursos recebidos”.
Ainda de acordo com a delação, as doações oficiais serviam para quitar saldo de acertos de propinas em obras públicas, como na Petrobras:
“Grandes obras contratadas fora do período eleitoral faziam com que os empresários, nas eleições, combinassem com os diretores que o compromisso político da obra firmado anteriormente seria quitado com doações oficiais acertadas com os tesoureiros dos partidos, coligações, etc”.
Palocci afirmou ainda, sem dar detalhes, que havia um largo esquema de venda de medidas provisórias no Congresso durante os governos petistas, envolvendo tanto o Poder Executivo como o Legislativo. O ex-ministro “estima que das mil medidas provisórias editadas nos quatro governos do PT, em pelo menos novecentas houve tradução de emendas exóticas em propina”.
Questionado sobre contas no exterior do PT, Palocci afirmou que nunca abriu nenhuma conta para o partido, mas que “sabe que a agremiação já fez isso sem utilizar o nome do partido e lideranças, pelo menos segundo tem conhecimento o colaborador; que soube que empresários abriam, apenas na confiança, contas em nome próprio e para utilização pelo PT”.
Segundos eu relato, Lula teria lhe chamado para uma conversa no Palácio da Alvorada em fevereiro de 2007, pouco após sua reeleição, queixando-se ter ouvido falar que havia cometimento de crimes nas diretorias da Petrobras ligadas ao PP (Paulo Roberto Costa) e ao PT (Renato Duque).
Palocci afirmou em sua delação que respondeu ter sido ele, Lula, o responsável pelas nomeações, e que os diretores estariam agindo de acordo com os parâmetros definidos por seus partidos. Disse ainda que Lula buscava testar uma versão de defesa, simulando que não sabia do assunto.
AINDA SEM PROVAS
Ao comentara divisão entre partidos das diretorias da Petrobras, Palocci usa o PP como exemplo para dar a ideia de que o loteamento de cargos visava apenas aos desvios. Ele diz que “sabia muito bem por que houve a indicação pelo PP de um diretor”, uma vez que o partido aliado “não fez aquilo para desenvolver sua política junto à Petrobras, até porque nunca as teve” e que “a única política do P Pera ade arrecadar dinheiro”. O ex-ministro acrescenta que, apesar desse diálogo com Lula, o então presidente “não tomou medidas posteriores parati raros diretores dos cargos”.
Os outros termos da delação de Palocci, assinada com a Polícia Federal e homologada em junho pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, estão sob sigilo. Diversas acusações apresentadas por ele já eram conhecidas da Lava-Jato, mas o ex-ministro apresenta novas informações de bastidores. Neste depoimento, porém, Palocci ainda não apresenta provas e documentos que corroborem seu relato.
Luiz Carlos Azedo: O dinheiro da revolução
“Palocci diz que o ex-presidente Lula usou a Petrobras e o pré-sal com o objetivo de “garantir ilicitudes” e a conseguir dinheiro para campanhas do PT. O juiz Moro quebrou o sigilo da delação”
O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu goza de plena liberdade, mesmo condenado a 39 anos de prisão, graças a um habeas corpus que lhe foi concedido pelo ministro Dias Toffoli, atual presidente do Supremo Tribunal Federal. Livre e falante, é o melhor intérprete da alma do PT, partido do qual é fundador e dirigente histórico. No auge do escândalo do mensalão, foi defenestrado da Casa Civil, abandonado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, posto na “geladeira” e condenado pelo STF no processo do mensalão; em liberdade provisória, foi novamente preso e condenado na Operação Lava-Jato, pelo juiz federal Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, mas o processo não transitou em julgado e Dirceu teve a prisão relaxada.
Por ironia da história, agora quem está em cana e perdeu os direitos políticos é o ex-presidente Lula, para quem o caso Dirceu deixou de ser um estorvo para se tornar o “mapa da mina”, pois gerou uma “jurisprudência” que enche de esperança os seus próprios advogados. O ex-ministro e ex-deputado federal petista (foi cassado pela própria Câmara na CPI dos Correios) não é homem de aceitar derrotas e está de volta à luta. Viaja com a família pelo Brasil afora, de motorhome, para emular os militantes petistas com lançamentos do livro que escreveu na prisão. Em duas entrevistas recentes, para veículos de grande prestígio na esquerda brasileira, a edição brasileira do jornal espanhol El Pais e a revista Piauí, Dirceu resumiu o que Lula pretende com a eleição do petista Fernando Haddad: tomar a poder e acabar com a Operação Lava-Jato, tirando o poder de investigação do Ministério Público Federal e acabando com a execução imediata da pena após condenação em segunda instância.
Com base nas declarações de Dirceu e do próprio candidato quando se refere a Lula, podemos deduzir que a proposta de convocação de uma “Constituinte exclusiva”, apresentada por Fernando Haddad em seu programa de governo, é apenas um instrumento para isso. O candidato do PT seria uma espécie de Kerenski, o líder do governo provisório da Revolução de Fevereiro, que antecedeu a tomada de poder pelos bolcheviques na Rússia, em 7 de novembro de 1917. No domingo à noite, durante o debate da TV Record, Haddad foi questionado por Ciro Gomes (PDT) sobre a inconstitucionalidade dessa proposta e se enrolou todo para responder. Sabe que a atual Constituição, que pretende substituir por outra, não dá ao presidente da República poderes para convocar uma Constituinte. Somente o próprio Congresso poderia fazê-lo.
Haddad faz campanha como bom moço, fala o que os militantes petitas querem ouvir. Varre para debaixo do tapete a recessão de 2016 e o escândalo da Petrobras. Nos comícios, imita com perfeição a voz de Lula: “Haddad, diz lá pro povo que nós vamos ganhar essa eleição e voltar a governar o país”. A plateia delira. A bem-sucedida operação para transferir os votos de Lula, que manteve sua candidatura até ela ser impugnada pelo pleno do tribunal Superior Eleitoral, já é um “case” de estratégia política e marketing eleitoral. O PT voltou ao seu leito eleitoral. Entretanto, sempre há um porém, ou melhor, uma delação premiada. Desta vez, partiu da Polícia Federal, que negociou com o ex-ministro da Fazenda de Lula e da Casa Civil de Dilma Rousseff Antônio Palocci um acordo de colaboração. O juiz federal Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, quebrou o sigilo de um dos depoimentos. Nele, Palocci entrega o esquema de caixa dois do PT, digamos, o dinheiro da revolução, na ótica de Dirceu e dos petistas para os quais os fins justificariam os meios.
Aposta
Na delação, Palocci diz que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou Paulo Roberto Costa para a Petrobras com o objetivo de “garantir ilicitudes” na estatal e usou a empresa para conseguir dinheiro para campanhas do PT com o pré-sal. Disse que as campanhas de Dilma em 2010 e 2014 custaram R$ 1,4 bilhão, muito mais do que o declarado à Justiça Eleitoral. Falou que o MDB exigiu e Lula entregou ao aliado a diretoria de Relações Internacionais da Petrobras. E revelou que, pelo menos 900 das mil medidas provisórias editadas nos governos Lula e Dilma, envolveram propina para serem editadas (na verdade, foram 621 medidas provisórias editadas nos dois governos).
Lula e Dilma negam tudo isso, mas o acordo firmado em abril com a Polícia Federal foi homologado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). O ex-ministro se comprometeu em pagar R$ 37,5 milhões como indenização pelos danos penais, cíveis, fiscais e administrativos dos atos que praticou. Preso desde 2016, com uma condenação a 12 anos e dois meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Palocci tentou fechar um acordo com o Ministério Público Federal (MPF) e não conseguiu. O primeiro a saber do acordo com a Polícia Federal foi José Dirceu, confidente do ex-ministro quando estavam juntos na Papuda, em Brasília. Ao contrário de Palocci, o líder petista tomou outro caminho: aposta na vitória do PT nas eleições.
http://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-o-dinheiro-da-revolucao/
Angela Bittencourt: #elenão elimina zona de conforto na boca da urna
Ibope, FSB/BTG Pactual e RealTime/ Record saem nesta 2ª
As mulheres tiraram os brasileiros da zona de conforto. As manifestações por #elenão contra o candidato a presidente da República Jair Bolsonaro (PSL) reuniram multidões em grandes e pequenas cidades do país. O movimento manteve-se apartidário, com alguns deslizes, mas sem incidentes. A mobilização do último sábado atualizou 2013 e 2016. De expressão incomparável, em 2013 cerca de 1 milhão de brasileiros foram às ruas para demonstrar insatisfação com um pouco de tudo: governantes, corrupção, sistema político, educação, saúde e uso do dinheiro público em obras da Copa do Mundo. Semearam aquele movimento, protestos de estudantes contra tarifas de transporte público. Em 2016, o desgoverno de Dilma Rousseff foi alvo dos protestos em escala menor.
O #elenão, anos depois, espalhou vibração e nesse clima os brasileiros chegarão às urnas daqui a cinco dias. No sábado, ocorreram também manifestações por #elesim. No domingo, carreatas pró-Bolsonaro agitaram várias capitais.
A eleição de 2018 é singular pelos atos que ocorreram no fim de semana, por outros tantos pulverizados em poucas semanas, e por marcar o encerramento formal do 2º mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, afastada definitivamente do cargo em agosto de 2016 por crime de responsabilidade. Não tivesse o Brasil caído no atoleiro onde está, o próximo titular no Palácio do Planalto receberia, em 1º de janeiro de 2019, a faixa presidencial de Dilma. Seria ela a anfitriã no Parlatório, mas Michel Temer passará a faixa.
Temer, ex-vice de Dilma, não foi eleito presidente. Tornou-se presidente para cumprir o prazo regulamentar da chapa que integrava e saiu vitoriosa das urnas nas eleições de 2014. Mas, em menos de dois anos foi desfalcada, para assombro de uns e alívio de outros.
Esta eleição de 2018 é singular também por demonstrar que o processo de seleção natural prevalece em qualquer campo de batalha. Embora os partidos políticos tenham registrado ao menos uma dezena de candidatos à presidência da República, cinco se sobressaíram aos demais logo na partida da campanha: Jair Bolsonaro (PSL), Luiz Inácio Lula da Silva/Fernando Haddad (PT), Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede).
Qual protagonista de um longa metragem, nas últimas duas semanas Bolsonaro quase morreu, vítima de um atentado à faca durante um comício onde só ele parecia estar de amarelo, mas após três semanas internado obteve dividendos nas pesquisas de intenção de voto; ganhou um bocado. Lula, sob vigília da Polícia Federal, em Curitiba, sumiu depois de ilustrar o melhor cenário traçado pelo PT que torce por sua libertação e também avançou nas pesquisas. Haddad ganhou o posto de candidato do PT e, embora se mostre como representante do ex-presidente - ou até por isso - arrancou nas pesquisas. Marina derreteu. Alckmin subiu pouco ou deslizou. Ciro patinou, mas acabou se tornando uma real opção de voto útil.
Por 24 horas, contudo, o Brasil perdeu 40% do seu elenco de presidenciáveis. Ciro foi hospitalizado. Seria uma baixa considerável se adoecesse por um grave motivo ou por longo período. Por sorte, dois dos cinco candidatos ao Planalto deixaram o campo temporariamente e sem substitutos no banco de reserva.
Ciro ingressou na categoria de um hospitalizado Bolsonaro, mas para um tratamento emergencial. Logo foi liberado e fez campanha nas redes sociais. Seguiu o exemplo do maior oponente que, até a pesquisa CNT/MDA publicada na madrugada de domingo, só ele poderia derrotar no 2º turno.
A pesquisa CNT/MDA mostrou Jair Bolsonaro (PSL) com 28,2% dos votos - mesma porcentagem da leitura anterior do mesmo instituto -, Haddad (PT) cresceu de 17,6% para 25,2% e, considerando a margem de erro de 2,2 pontos chegou a um empate técnico com Bolsonaro. Ciro. que tinha 10,8%, caiu a 9,4%. Na simulação do 2º turno, Haddad sai vencedor com 42,7% dos votos e Bolsonaro obtém 37,2%. A repercussão desse placar nos mercados é difícil prever.
Ontem, três profissionais afirmaram à Coluna que a maioria das instituições e investidores já esperavam um candidato da esquerda na disputa do 2º turno com Bolsonaro - Haddad ou Ciro. O petista desperta maior simpatia, embora o PT nem tanto, diz um dos interlocutores. Outro entrevistado concorda, mas alerta que a "simpatia" do mercado por Haddad será proporcionalmente menor quanto maior for a submissão de Haddad ao ex-presidente Lula, caso o ex-prefeito ganhe a eleição.
Até o fechamento da Coluna no domingo à noite, estava prevista a divulgação, nesta segunda-feira, de três pesquisas de opinião: Ibope, FSB/BTG Pactual e Real Time/ TV Record. Amanhã, terça, tem mais um Datafolha.
As sondagens sobre intenção de voto realizadas por telefone também são uma singularidade desta eleição. E ainda inspiram inquietação sobretudo entre profissionais do mercado financeiro. Outra singularidade desse pleito, os candidatos cercaram-se de economistas conhecidos, de elevada reputação, experientes no setor privado e/ou no setor público. E quase todos foram para a vitrine. Esse movimento não tem registro em eleições passadas.
A presença dos economistas na linha de frente das campanhas é interpretada como forte sinal de desconhecimento mais profundo de questões econômicas pelos principais postulantes ao Planalto. Cenário admissível, não fosse a grave situação em que se encontra a economia brasileira que já não sabe qual é a cara do crescimento e esqueceu o conforto que rende um mercado de trabalho ativo.
Entre os economistas mais comprometidos com o processo eleitoral estão André Lara Resende, Eduardo Gianetti, Guilherme Mello, Gustavo Franco, José Márcio Camargo, Mauro Benevides, Nelson Marconi, Pérsio Arida, Ricardo Paes de Barros.
Nas últimas semanas, à exceção de Paulo Guedes, assessor de Jair Bolsonaro, todos participaram de debates, seminários e entrevistas. Guedes foi tão reservado que, há poucos dias, quando falou publicamente sobre perspectivas para política fiscal, acabou mal interpretado e quase liquida a carreira do chefe. Guedes teria sugerido a recriação da CPMF para reforçar o caixa. Foi repreendido por Bolsonaro. A suposta sugestão foi negada.