Eleições
El País: A bênção de Edir Macedo para Jair Bolsonaro na TV
Candidato participou de sabatina amigável na Record, emissora do bispo da Universal, onde mentiu em ao menos duas ocasiões
Dias após receber o apoio do todo-poderoso bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, o candidato Jair Bolsonaro (PSL) recebeu do líder religioso uma espécie de bênção: 30 minutos de palanque na TV nesta quinta-feira. Enquanto os outros candidatos à presidência se enfrentavam no debate da TV Globo, o último antes do primeiro turno das eleições, foi ao ar na Record, que também é de propriedade de Macedo, uma entrevista exclusiva com o capitão reformado do Exército. Sentado na sala de sua casa no Rio de Janeiro, onde termina de se recuperar do atentado que sofreu em setembro, Bolsonaro se sentiu à vontade. Não teve de lidar com questionamentos duros e viu sua imagem ser suavizada. Em ao menos dois momentos o presidenciável mentiu sem ser questionado - sobre os protestos #EleNão e sobre declarações machistas, racistas e homofóbicas feitas por ele.
A equipe jurídica de Fernando Haddad (PT) e de Ciro Gomes (PDT), respectivamente o 2º e o 3º colocados nas pesquisas, tentaram impedir na Justiça que o rival fosse beneficiado com o palanque na Record. Eles argumentaram que a entrevista configuraria “falta de tratamento isonômico” por parte da emissora, uma vez que os demais concorrentes não tiveram o mesmo espaço no canal. O ministro substituto do Tribunal Superior Eleitoral Carlos Horbach negou os pedidos de suspensão, afirmando que “não se pode caracterizar eventual tratamento anti-isonômico (...) a partir de notícias veiculadas em um único dia e em um único telejornal da programação da emissora”. Não é a primeira vez que o presidenciável aparece em espaço privilegiado nas TVs abertas. Na sexta-feira, antes de receber alta do hospital em São Paulo onde se recuperou da facada, Bolsonaro deu entrevistas exclusivas à Band e à Rede TV. As três aparições colocam de volta no debate o papel das emissoras: podem exibir Bolsonaro sem chamar os demais?
Jogando em campo favorável
Jogando em campo favorável, Bolsonaro aproveitou a entrevista para rebater as críticas que vem sendo alvo desde o início da campanha. “Onde tem um vídeo onde eu ataco negros? Onde tem um áudio meu atacando mulheres?”, questionou o candidato, tomando as rédeas de sua entrevista e omitindo os casos documentados onde ofende negros, mulheres e homossexuais. “Sou acusado de disseminar ódio e quem leva facada sou eu!”, afirmou.
Por duas vezes a conversa foi interrompida para que Bolsonaro pudesse “descansar”, informou o repórter, uma vez que “por recomendação médica ele não deve falar por mais de 10 minutos seguidos”. Nestes momentos um enfermeiro negro da equipe médica que acompanha sua recuperação o examinava. Em entrevista anterior, ao apresentador José Luis Datena, o capitão falou por mais e 45 minutos ininterruptos.
Durante a conversa, Bolsonaro mentiu ao dizer que o movimento multitudinário #elenão é composto por “artistas que estão mamando há anos na Lei Rouanet” - os atos foram convocados por grupos de mulheres contrárias a ele, e reuniram milhares de pessoas em várias marchas pelo Brasil, contando com a adesão de alguns artistas. Os comentários do candidato provocaram uma enxurrada de críticas nas redes sociais: participantes das manifestações indagavam ironicamente quando iriam “receber o cheque”. Horas antes o presidenciável fez uma transmissão ao vivo em sua página do Facebook no qual usou um broxe com o símbolo da campanha Outubro Rosa, de combate ao câncer de mama. Seu filho fez questão de mencionar que era para "mostrar respeito" a todas as mulheres, em uma clara tentativa de amenizar sua rejeição com as eleitoras, que é de 50%.
O tema mais espinhoso tocado foi sobre fake news. Acusado pelos adversários de usar a seu favor uma poderosa máquina de fake news em suas redes sociais e grupos de WhatsApp, ele inverteu o jogo: “É duro combater [fake news], por que a esquerda vai em todos os locais pregando essas fake news contra nós, de que vamos acabar com Bolsa Familia”, respondeu. No passado, Bolsonaro criticou o programa social, mas ele não defende mais a extinção do benefício. Questionado novamente sobre eventuais notícias falsas propagadas por seus seguidores, o capitão tergiversou: “Eu não tenho controle sobre os milhões de pessoas que me seguem. Uma ou outra pessoa acaba extrapolando (...), mas nós não pregamos fake news”. Tanto Bolsonaro quanto seus filhos já foram flagrados postando e compartilhando material inverídico nas redes.
Bolsonaro também questionou a investigação envolvendo Adélio Bispo, que se tornou nesta quinta-feira réu com base na lei de segurança nacional por ter atacado o capitão em 6 de setembro. “Este processo está sendo conduzido por um delegado de confiança de Fernando Pimentel [governador mineiro do PT, Estado onde ocorreu o crime] (...) Isso não parte de forma isolada. Não quero me precipitar, nessa equipe que investiga tem gente isenta e simpática à minha causa”.
Bruno Boghossian: Em apelo a eleitor lulista, PT corre risco de frustrar expectativas
O PT tentará travar nos próximos quatro dias uma batalha de reconquista. O crescimento de Jair Bolsonaro e a resistência a Fernando Haddad devem obrigar o partido a reforçar apelos ao eleitorado mais pobre no momento em que planejava emitir sinais para ampliar o alcance de seus domínios.
Os petistas já esboçavam um novo contorno em tons pastéis para sua imagem no segundo turno. A migração dos apoiadores de Lula era dada como certa e a campanha estudava a melhor maneira de acenar a investidores e a eleitores de centro-direita para superar Bolsonaro.
Os últimos dias demonstraram uma alteração desse curso. No debate da Record, Haddad comparou o rival a Michel Temer ao dizer que o programa de Bolsonaro seria uma continuação do pacote de austeridade do governo atual. Depois, levou à TV uma propaganda que acusava o adversário de ter votado contra a valorização do salário mínimo.
O discurso busca reproduzir a velha identificação dos oponentes petistas com o eleitorado mais rico, em uma tentativa de estabelecer uma espécie de monopólio do partido na defesa dos mais pobres.
Haddad era visto como um candidato que poderia se beneficiar dos votos de Lula nos segmentos de baixa renda e ainda expandir o eleitorado petista sob uma plataforma econômica moderada. O escorregão registrado nas últimas pesquisas e o leve avanço do candidato do PSL em redutos lulistas levou a campanha do PT de volta ao planeta vermelho.
O partido precisará conter o ímpeto de avançar o sinal nas promessas de prosperidade feitas à população mais pobre. A situação das contas públicas é dramática, exigirá medidas de aperto e deixará menos espaço para políticas sociais robustas.
Haddad conhece essas dificuldades. A retomada do eleitorado cativo pode até dar certo, mas pode frustrar expectativas caso o PT vença a disputa. Na campanha de 2014, Dilma Rousseff menosprezou dificuldades da economia. O estelionato eleitoral daquela disputa virou uma marca.
Jornais do mundo sobre Bolsonaro: 'facista popular é risco à democracia no Brasil'
ALEMANHA
ZEIT
Um Fascista Se Apresentando Como Homem Honesto
https://bit.ly/2y7Gskf
Der Spiegel
Jair Bolsonaro - ascensão de um populista de direita
https://bit.ly/2OzW22k
Frankfurter Allgemeine
Alerta vermelho para democracia
https://bit.ly/2Qr2YMC
Sueddeutsche
O demagogo do deserto é de repente uma nova estrela política no Brasil.
https://bit.ly/2DOTU2E
Deutsche Welle
Analistas alemães veem democracia no Brasil em risco
https://bit.ly/2IuN7Km
Handelsblatt
O fascista popular. Até agora, os políticos brasileiros são considerados corruptos e ineficientes, mas ideologicamente flexíveis e educados. Isso mudou com Jair Bolsonaro - o populista poderia até se tornar presidente. Uma história mundial.
https://bit.ly/2Iy10aB
ARGENTINA
La Nacion
Linha dura e Messianismo: Bolsonaro, o candidato mais temido, se lança para a presidência.
https://bit.ly/2ya60NR
El Clarín
Jair Bolsonaro: militarista, xenófobo e favorito para a eleição brasileira
https://clar.in/2y7zImH
ÁFRICA DO SUL
The Star
Mulheres brasileiras marcham contra 'formas misóginas
https://bit.ly/2NiZnOO
ÁUSTRIA
Die Presse
Ex-Presidente Detido e o Trump Tropical
https://bit.ly/2NiHgIG
AUSTRALIA
News.Au
Seria este é o político mais repulsivo do mundo?
Pensando que Donald Trump é ruim? Conheça o possível presidente brasileiro cujas crenças repulsivas chocaram o mundo.
https://bit.ly/2IwRrIO
The Australian
Conheça o Candidato que é um risco a democracia
https://bit.ly/2xVQdCN
The Sydney Sunday Herald
Por que alguns no Brasil estão se virando para um explosivo candidato de extrema-direita para o presidente?
https://bit.ly/2E09LvA
CHILE
EL MERCURIO
"Bolsonaro assusta com soluções simplistas e autoritárias"
https://bit.ly/2OuWDSV
LA TERCERA
"Bolsonaro conseguiu captar o sentimento de revolta no Brasil"
https://bit.ly/2xU0sYj
LA CUARTA
Jair Bolsonaro: O Trump do Brasil.
ESPANHA
El País
Bolsonaro é um Pinochet institutional para o Brasil
https://bit.ly/2DAJgfG
El Mundo
Lider Polemico. Bolsonaro: o candidato racista, homofóbico e machista do brasil.
https://bit.ly/2xYOzj4
La Vanguardia
Bolsonaro: o Candidato Ultradireitista que canalizou a insatisfacao no Brasil
https://bit.ly/2Iy2UIh
El Confidencial
Jair Bolsonaro: o “Le Pen tropical” que pode ser o próximo presidente do Brasil.
https://bit.ly/2P9ETtH
ESTADOS UNIDOS
Revista Time
Jair Bolsonaro ama Trump, odeia pessoas gays e admira autocratas. Ele poderia ser o próximo presidente do Brasil
https://ti.me/2wjfg16
Fox News
Um olhar sobre os comentários ofensivos do candidato brasileiro Bolsonaro
https://fxn.ws/2O0QMFI
HuffingtonPost
Jair Bolsonaro e o violento caos das eleições presidenciais no Brasil
https://bit.ly/2zNnod4
Washington Post
Um político parecido com Trump no Brasil poderia ter o apoio de um poderoso grupo religioso: os evangélicos
https://wapo.st/2Rk6tFZ
The New York Times
Brasil flerta com um retorno aos dias sombrios
https://nyti.ms/2xsXSYv
Americas Quarterly
Ditadura militar iminente no Brasil?: Ganhando ou perdendo, a ascensão de Jair Bolsonaro colocar em perigo a jovem democracia brasileira.
https://bit.ly/2OWpYCW
Financial Times
O "trágico destino" brasileiro de uma rebelião antidemocrática surge novamente:
A raiva pública contra uma elite corrupta poderia precipitar outra revolta
https://on.ft.com/2DRGxyO
FRANÇA
Le Figaro
Brasil nas garras da tentação autoritária
https://bit.ly/2vqsb0S
Le Monde por Rádio França Internacional RFI
Trump tropical, homofóbico e machista
https://bit.ly/2zMhaKL
Liberation
No Brasil, um ex-soldado para liquidar a democracia
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HOLANDA
Der Volkskrant
Centenas de milhares de mulheres no Brasil nas ruas contra a extrema direita: "Ele nunca!"
https://bit.ly/2DQvPsj
ÍNDIA
India Express
Deixe a polícia matar criminosos, diz o candidato presidencial do Brasil, Jair Bolsonaro
https://bit.ly/2NiJdFd
ITÁLIA
La Republica
Bolsonaro, líder xenófobo e anti-gay que dá o assalto à Presidência do Brasil
https://bit.ly/2Qrb73H
Corriende della Sierra
Um pesadelo chamado Bolsonaro
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MÉXICO
La Jornada
Bolsonaro: O candidato Imprevisível
https://bit.ly/2OD93sh
Milenio
Bolsonaro, o Neofascista que seduz o Brasil
https://bit.ly/2zNQjhl
El Universal
Militar de ultra-direita: um voto pelo passado?
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MOÇAMBIQUE
O País
Bolsonaro que lidera sondagens de intenção de voto no país com a preferência de 27% dos eleitores terá irritado muitos brasileiros com comentários percebidos como sexistas, racistas e homofóbicos.
https://bit.ly/2DQlP29
PERU
La Republica
Brasil resiste:a promessa autoritária de Bolsonaro é desafiada pelas mulheres.
https://bit.ly/2zFQ0Vy
ÁFRICA DO SUL
The Star
Mulheres brasileiras marcham contra 'formas misóginas
https://bit.ly/2NiZnOO
PORTUGAL
O Público
Bolsonaro, o jagunço à porta do Planalto
https://bit.ly/2xXbM5Y
Diário de Notícias
Jair Bolsonaro é perigo real no Brasil e segue passos de Adolf Hitler
https://bit.ly/2yaPMUz
POLONIA
Gazeta Prawna
Trump brasileiro e outros. Escândalos de corrupção abrem caminho para o poder dos populistas
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QATAR (MUNDO ÁRABE)
Al Jazeera
Milhares de Mulheres protestam contra Bolsonaro
https://bit.ly/2RhJjQF
REINO UNIDO
The Economist (CAPA)
A mais nova Ameaça na América Latina
https://econ.st/2OuXKlO
The Times
Jair Bolsonaro, populista "perigoso" promete tornar o Brasil seguro
https://bit.ly/2uxPG8p
The Guardian
Trump dos trópicos: o candidato 'perigoso' que lidera a corrida presidencial do Brasil
https://bit.ly/2qKHkYA
The Telegraph
Dezenas de milhares dizem “ele não” ao principal candidato do Brasil
https://bit.ly/2qKHkYA
The Economist
Brasília, nós temos um problema
O perigo representado por Jair Bolsonaro
https://econ.st/2vxMFWu
SUÍCA
Neuen Zürcher Zeitung
O Faxineiro Racista do Brasil
https://bit.ly/2QoJTdW
Bernardo Mello Franco: A mentirada que influencia a urna
O eleitor de Bolsonaro é quem mais se informa pelas redes sociais. Para o Datafolha, a indústria das ‘fake news’ tem ajudado a impulsionar o capitão
Manuela D’Ávila usou uma camiseta com a inscrição “Jesus é travesti”. O médium Chico Xavier previu a vitória de Jair Bolsonaro. Fernando Haddad disse que as crianças vão virar propriedade do Estado, que poderá escolher seu gênero.
As três frases acima são exemplos recentes de fake news, o nome da moda para as notícias falsas. A mentirada pode soar absurda ao leitor, mas tem enganado muita gente nas redes sociais. A fabricação de boatos se intensificou nos últimos dias e ameaça influenciar o resultado das urnas.
A tapeação virtual impulsionou a eleição de Donald Trump nos EUA. Agora ajuda a alavancar a campanha de Jair Bolsonaro, que não perde uma chance de imitar o presidente americano. Ontem Haddad protestou contra o bombardeio. “São acusações muito vulgares, com imagens vulgares”, reclamou.
Os eleitores do capitão são os que mais se informam (ou se desinformam) pelas redes sociais. De acordo com o Datafolha, 61% leem sobre política no WhatsApp. Entre os eleitores de Haddad, o índice recua para 38%. É difícil medir a força da boataria no aplicativo, que não deixa rastros fora dos celulares.
O diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, acredita que a disseminação de boatos tem ajudado a turbinar a subida de Bolsonaro nas pesquisas. “O material está chegando fartamente pelo WhatsApp, o que certamente influencia o eleitor”, afirma.
Desde o último sábado, os grupos bolsonaristas fervilham com montagens contra os protestos do #EleNão. Algumas fotos, que mostram jovens de seios expostos, foram tiradas em atos anteriores às eleições. “São imagens que chocam a população mais conservadora. Inclusive as mulheres de baixa renda e os evangélicos, segmentos em que Bolsonaro cresceu”, observa Paulino.
Ao suspender o uso de um livro de ficção tachado de “comunista”, o Colégio Santo Agostinho cruzou a linha que separa o conservadorismo do obscurantismo. Sinal dos tempos.
Ascânio Seleme: Agradeça a Lula
Não importa quem vá para o segundo turno. Não importa quem ganhe a eleição no fim do mês. O vitorioso terá de agradecer ao ex-presidente Lula pelos eu sucesso. Se Fernando Haddad se credenciara gora elevar o pleito do dia 28, o poste terá vencido graças à genialidade do seu criador e mentor. Se Bolsonaro ganhar, aproveitando a onda antipetista que varre o país, será graças à política insistente do “nós contra eles” de Luiz Inácio.
Esse discurso começou no já remoto mensalão. Primeiro, quando o furúnculo explodiu mostrando o carnegão do esquema de compra de partidos em troca de apoio político, Lula disse que não sabia de nada, que foi traído e mandou alguns dos seus velhos companheiros para a guilhotina, como Genoino, Gushiken, Dirceu, Delúbio e João Paulo. Depois, quando percebeu que podia ir mais longe, passou anegara existência do esquema que resultou na condenação e prisão de 24 pessoas, seis delas do PT.
Lula começou então a nomear o “culpado” pelo mensalão. Foram “eles”, na palavra do líder que cumpre pena em Curitiba. Foram “eles” que inventaram a história para impedir que o brasileiro continuasse a comer três vezes por dia e a andar de avião, repetia. No princípio, nem os próprios companheiros de Lula acreditavam naquela bobagem. Mas ela foi se consolidando entre políticos e militantes que se recusavam a enxergara verdade e precisavam de uma saída honrosa.
Nenhum pedido de desculpas jamais foi feito por este ou pelo outro grande escândalo da era petista, o petrolão. Afinal, eles não existiram mesmo, afirmava o líder de todos. A culpa era “deles”, que queriam acabar com as conquistas do povo obtidas durante o governo do PT. É incrível como tanta gente de esquerda, honesta e inteligente, se agarrou àquela explicação patética como se fosse verdade. Muitos nunca acreditaram na lorota, e alguns deixaram o partido envergonhados, é bom que se diga.
Lula não inventou a luta de classes, ao contrário, fez um documento em que pregou paz na política nacional, onde caberiam todos, e jurou aplicaras regras do mercado na economia. Mas ele inventou a guerra do “nós e eles”. O “nós” era Lula e todos os seus companheiros de PT e de partidos aliados, os que lutavam por um Brasil mais justo. Por um bom tempo, o “nós” abrigava também o PMDB de Temer, Jucá, Cunha e Renan. E o “eles” eram os demais, os inimigos do povo.
Como diz o ex-deputado petista Eduardo Jorge (PV), candidato a vice de Marina Silva, “o ódio foi plantado há muitos anos, não nasceu como um cogumelo, da noite para o dia”. Ele se refere a Lula e ao seu discurso diuturno contra os que pensam de modo diferente ou encontram soluções alternativas às do PT para o Brasil. Discurso amplificado após o impeachment de Dilma e que ganhou o após todo golpe”.
Essa retórica de Lula, que ainda aglutina quem acredita na inocência petista e que agora dá a Haddad mais de 20% do eleitorado, está da mesma forma transferindo muitos votos para o outro lado, o oposto do PT, o antipetismo absoluto. Por isso, Lula será responsável por qualquer resultado na eleição presidencial. Se Haddad é o poste de Lula, Bolsonaro é o resultado da sua obra, é a sua criação.
É verdade que Lula teve uma mãozinha do seu velho inimigo, o hoje quase irrelevante PSDB. O partido, que fez o Real e governou o país por dois mandatos, colocou as mãos na mesma massa suja em que o PT enfiara as suas. Sem um líder carismático como Lula, um mártir, um “inocente” preso, o PSDB naufragou com um discurso antiquado e um candidato água morna.
Ninguém tem bola de cristal, nem Lula. Mas se ele tivesse se dado conta há um ano da tormenta que agora se avizinha, certamente teria trabalhado para que o PSDB fosse o adversário no segundo turno. Ou teria proposto uma aliança em torno de outro partido e com outro candidato, Ciro Gomes, por exemplo.
O fato é que, se vencer no dia 28 de outubro, além dos inegáveis méritos próprios, sobretudo ode saber surfara onda na hora certa e ode usar de maneira eficiente as redes sociais( com mentira semeias verdades ), Bolsonaro terá de agradecera Lula pela alavancagem que lhe garantiu um tsunami de votos que nem o mais fiel seguidor do capitão poderia imaginar.
Merval Pereira: Tiros a esmo
A cada pesquisa que indica dianteira de Bolsonaro, PT se desentende e dá margem a que adversários cresçam
Há muitas explicações para a subida de Bolsonaro nas pesquisas de opinião, reafirmada ontem pelo Ibope, e são tão variadas que o PT não sabe para onde atirar. O fogo amigo certamente é um deles. O ex-ministro José Dirceu assustou muita gente anunciando que o PT não apenas ganharia a eleição, mas tomaria o poder.
Outro ex-ministro poderoso, Antonio Palocci teve sua delação premiada divulgada, incriminando diretamente os ex-presidentes Lula e Dilma nas falcatruas em que o partido se meteu nos quase 13 anos em que esteve no poder.
A confirmação de que Lula era quem organizava a quadrilha, com a participação direta de Dilma, que seria beneficiada pelo financiamento ilegal das campanhas de 2010 e 2014, reforça a imagem de um partido mergulhado na corrupção e aumenta a rejeição de seu principal líder, encarcerado em Curitiba por corrupção e lavagem de dinheiro.
A passeata #Elenão acabou se transformando em uma manifestação política de esquerdistas, e não uma crítica suprapartidária ao candidato Bolsonaro. Tanto que a aprovação dele cresceu entre as mulheres e, nas redes sociais, ele está explorando situações que aconteceram nas passeatas, como protestos de topless, para criticar as “mulheres esquerdistas” e exaltar as “de direita”, que seriam mais educadas e respeitadoras.
Como o candidato oficial do PT, Fernando Haddad, não existe por si só, e ele mesmo faz questão de demonstrar que quem manda é Lula, ao consultá-lo pessoalmente toda semana, não tem culpa nem pela subida vertiginosa nas pesquisas nem pelo aumento da rejeição, que o está fazendo empacar neste momento por volta dos 20%.
Tanto os votos quanto a rejeição em alta são transferências de Lula, que dá com uma mão e toma com a outra, levando o candidato do PT a estacionar na média histórica que o partido sempre teve quando perdeu as quatro eleições presidenciais.
O marco de 25%a30%, insuficiente para vencer, só foi ampliado quando Lula caminhou para o centro, abandonando os radicalismos das propostas partidárias.
Essas disputas internas no PT sempre existiram, mas eram abafadas pela popularidade de Lula, que controla o partido e dita as linhas mestras das campanhas. Hoje, mais uma vez as diversas correntes estão em confronto, umas querendo que Haddad radicalize as críticas a Bolsonaro, outras considerando que só com a carta do “paz e amor” ele será capaz de ampliar seu eleitorado, sem o que não vence a eleição presidencial.
À medida que vai sendo revelada a fragilidade da estratégia traçada pelo ex-presidente, e a transferência de votos esbarra na transferência da rejeição, alguns líderes sentem-se em condição de confrontar as orientações de Lula ou, dizendo obedecê-las, criam situações de constrangimento para o candidato Fernando Haddad.
A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, diz que fazer acordos para o segundo turno e amenizar o tom na campanha seria trair o ex-presidente. A cada pesquisa que indica a dianteira de Bolsonaro, o PT se desentende internamente e dá margem a que os adversários cresçam.
Fatos e versões
Escrevi outro dia que a delação premiada de Palocci foi divulgada “alegadamente para atender a um pedido da defesa de Lula”. O advogado Cristiano Zanin enviou uma mensagem pedindo retificação, pois, segundo ele, “a delação de Palocci foi anexada ao processo e teve o sigilo levantado por iniciativa exclusiva do juiz Sergio Moro, e não para atender a qualquer pedido da defesa do ex-presidente Lula”.
Escrevi “alegadamente” porque o juiz Sergio Moro aproveitou um pedido da defesa de Lula para sobrestar a tramitação de tal delação premiada durante a campanha eleitoral, e abriu o sigilo, alegando que a defesa deveria tomar conhecimento das acusações. O juiz Moro não atendeu ao pedido, mas disse em sua decisão que considera “necessário, portanto, instruir esta ação penal com elementos da colaboração, especificamente com cópia do acordo, da decisão de homologação e do depoimento pertinente a estes autos”.
“Dos depoimentos prestados por Antonio Palocci Filho no acordo, o termo de colaboração nº 1 diz respeito ao conteúdo do presente feito. Examinando o seu conteúdo, não vislumbro riscos às investigações em outorgar-lhe publicidade. Havendo ademais ação penal em andamento, a publicidade se impõe pelo menos no que se refere a depoimento que diz respeito ao presente caso.”
William Waack: O sonho mirabolante
O ‘nacional-desenvolvimentismo’ do PT é parte de ideário nacional quase, infelizmente, ‘atávico’
São espetaculares os termos da delação do ex-ministro Antonio Palocci cujo sigilo foi levantado pelo juiz Sérgio Moro. Não chegam a ser exatamente “revelações”, mas comprovam de maneira assombrosamente clara como foi produzido o desastre no qual se enfiou o Brasil. Catástrofe na qual o PT e seu chefão, Lula, tiveram papel de liderança e conduta, mas que envolveu amplos círculos do mundo da política, dos negócios, da economia e setores importantes da sociedade civil.
Não, não é a parte que fala de propina, ilicitudes, grana correndo por dentro e por fora e os mais variados crimes de corrupção. É a parte, no anexo 1 da delação, na qual Palocci relata como a descoberta do pré-sal levou Lula, em 2007, a ter “sonhos mirabolantes”. E como o governo vislumbrava um país riquíssimo, e, para isso, se determinava a construção de 40 navios sondas – e a consequente “fundação” de uma indústria naval completa – para a nacionalização e desenvolvimento do projeto do pré-sal, pelo seu interesse social e pela possibilidade de alavancar a indústria nacional.
Estão aí os elementos centrais (políticos, sociais e econômicos) do “nacional-desenvolvimentismo”, que é, talvez, o pior conjunto de ideias capaz de explicar a baixa produtividade, a baixa competitividade, o atraso relativo e a distância que o Brasil vê aumentar em relação às economias avançadas, tanto pelo ponto de vista das nossas relações de trabalho e sociais quanto à nossa capacidade de participar da era da geração do conhecimento.
O “nacional-desenvolvimentismo” dos militares ainda tinha um componente focado em infraestrutura e ocupação de território, enquanto o “nacional-desenvolvimentismo” do lulopetismo desandou para a “nova matriz econômica” dos subsídios, proteções, controle de preços (mais prejudicial à Petrobrás que a totalidade da grana desviada pelos companheiros do PT, PMDB e PP) e anabolizantes de consumo via crédito.
Impossível dizer que os “sonhos mirabolantes” do então presidente fossem delírios saídos de uma só cabeça. O “nacional-desenvolvimentismo” do PT vem de uma longa tradição que capturou também cabeças pensantes do mundo empresarial, acadêmico e político. É parte de um ideário nacional quase, infelizmente, “atávico” e com raízes já anteriores ao varguismo. E seu retrato 3 x 4 moderno só poderia ser o de Dilma Rousseff – para ser colocado na parede com a legenda: “esta é a cara do nacional-desenvolvimentismo”.
Nestas eleições, nas quais a corrupção (com razão) e a insegurança pública (com razão) ocupam um espaço tão importante na maneira como os eleitores encaram os candidatos, ficou em plano muito inferior qualquer debate sobre o conjunto de ideias, sobre o “sonho mirabolante” transformado em pesadelo – e nem estamos falando de seus aspectos éticos e morais. Por mais paradoxal que pareça, dadas a profundidade e a abrangência do fracasso econômico, uma relativamente gigantesca fatia da sociedade é sensível às mesmas promessas e aos mesmos postulados ligados ao atraso, à ineficácia, à estagnação.
Para muita gente, muita mesmo, é mais fácil encarar as mazelas do momento como o resultado da ação de políticos incompetentes, perdulários, corruptos e que agem apenas em benefício do próprio bolso ou de seus grupos. E que uma vez lavado tudo isso a jato, as coisas voltam a funcionar e o País a crescer e a gerar prosperidade. É um grave engano, mas quem disse que elites inteiras não se enganam?
Maurício Huertas: Movimentos visíveis e invisíveis até o domingo
A polarização é a marca desta eleição. Até aí, não chega a ser novidade. Desde a primeira eleição direta pós-redemocratização, em 1989, temos um quadro polarizado. Vencidas sete eleições até esta de 2018 que será a oitava, em seis delas tivemos a disputa polarizada PT x PSDB, mesmo quando foi desnecessário o 2º turno.
Naquele ano de 1989, o cenário "azul x vermelho" foi representado por Collor x Lula, tendo Brizola quase tomado o lugar daquele que o caudilho chamava de "sapo barbudo", numa diferença de cerca de 450 mil votos, ou inferior a um ponto percentual (indetectável até mesmo na margem de erro das pesquisas).
Nos anos de 1994 e 1998, FHC ganhou de Lula no 1º turno, tendo os demais concorrentes longe de ameaçar o embate de tucanos e petistas. A partir de então houve apenas a inversão do quadro, com o início do domínio do PT. Em 2002, Lula derrotou Serra; em 2006, atropelou Alckmin; em 2010, empurrou Dilma para esmagar Serra outra vez; e, em 2014, teve seu último sucesso eleitoral, com Dilma ganhando por pouco de Aécio.
Chegamos em 2018 com o acirramento deste clima plebiscitário entre o petismo e o anti-petismo, ou, mais que isso, entre o lulismo e o anti-lulismo, com o requinte dramático de termos os dois principais personagens desta eleição confinados: um condenado preso numa cela da Polícia Federal, outro convalescente num leito hospitalar.
Com outra grande novidade: depois de 24 anos, o PSDB está novamente fora da polarização com o PT. Repetindo 1989, dessa vez é Bolsonaro quem ocupa na urna e no imaginário popular aquele espaço representado por Collor há quase três décadas.
Movimentos visíveis e invisíveis
Feita toda essa introdução histórica dos movimentos cíclicos da política, há algumas tendências visíveis e outras ainda ocultas para este domingo, 7 de outubro. O que parece mais evidente nesta versão revisitada de 1989 é a semelhança entre os principais personagens. Como martela insistentemente a propaganda, Lula é Haddad. Já foi dito aqui, Collor repete Bolsonaro, com todas as suas características pessoais e fragilidades partidárias. Consequentemente, Brizola revive em Ciro no espólio do velho PDT.
Os coadjuvantes também parecem reproduzir os papéis do final dos anos 80. Temos Alckmin de certo modo repetindo tanto Covas quanto Ulysses; O insosso Meirelles numa cópia fiel de Aureliano; vemos o liberal moderninho, Amoêdo no lugar de Afif; temos o esquerdista descolado, com Boulos reeditando Roberto Freire. Sobram Marina e Álvaro Dias renovando um pouco o quadro que contava com Maluf e outros aventureiros dentre as 22 candidaturas lançadas naquele ano (hoje são 14), incluindo até a cota dos malucos folclóricos, com Cabo Daciolo clonado do DNA de Enéas com Marronzinho.
Mas, enfim, que movimentos surpreendentes são possíveis ainda nesta eleição?
Nesse quadro em que a maioria aposta num 2º turno entre Bolsonaro e Haddad, qualquer coisa diferente dessa polarização significaria um fato novo. Vamos então às possibilidades:
1) É possível que Bolsonaro encampe o "voto útil" anti-petista e vença já no 1º turno, somando mais de 50% dos votos válidos (com índices de abstenção e votos nulos significativos).
2) O segundo movimento, este sim improvável e surpreendente (notado nas redes sociais mas não detectado nas pesquisas), seria Ciro Gomes ultrapassar Haddad (com votos anti-Bolsonaro e anti-PT) e chegar ao eventual 2º turno. Já pensou?
3) Completamente improvável - para não dizer impossível - seria Alckmin ou Marina chegarem lá, domingo, até porque muitos dos eleitores de ambos já pularam do barco por conta das pesquisas. Nada mais inconsequente.
Fechando o exercício de futurologia, dois pitacos sobre movimentos eleitorais visíveis e invisíveis que podem ocorrer até domingo: 1) Na disputa pelo Governo de São Paulo, seria plenamente possível Marcio França ultrapassar Paulo Skaf e disputar o 2º turno contra João Doria; 2) Como também não parece impossível, embora surpreendente, João Doria vencer no 1º turno se conseguir somar os votos anti-petistas que receberá da maioria dos eleitores de Alckmin e de Bolsonaro. Vai saber...
Luiz Carlos Azedo: Cadeira vazia
“Sem Bolsonaro , o último debate na tevê será um confronto entre Haddad e Ciro Gomes, que intensificou sua campanha de voto útil e propõe uma aliança com Alckmin e Marina”
No Twitter, o candidato Fernando Haddad (PT) desafiou Jair Bolsonaro (PSL) a comparecer ao debate de hoje à noite, na TV Globo, chamando-o de covarde e acusando-o de propagar notícias falsas por meio de mensagens nas redes sociais, principalmente no WhatSapp, onde as fake news são mais difíceis de serem combatidas. Bolsonaro não vai ao debate, alega que gostaria de ir, mas foi proibido pelos médicos. Com isso, evita uma situação em que seria alvo de todos os candidatos, inclusive o petista, que somente agora passou a atacá-lo frontalmente. Até então, o PT atirava contra Geraldo Alckmin, enquanto o tucano tentava desconstruir Bolsonaro.
Em sua casa, na Barra da Tijuca, ontem, o candidato do PSL recebeu os médicos que o operaram no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. O cirurgião Antônio Luiz Bonsucesso Macedo e o clínico cardiologista Leandro Echenique explicaram as razões do veto: “Nós contraindicamos participação em debates ou em qualquer atividade que pudesse cansá-lo ou obrigá-lo a falar por mais de 10 minutos”, disse Macedo. Bolsonaro se recupera da facada que recebeu em 6 de setembro, em Juiz de Fora, onde foi operado pela primeira vez. Desde então, ficou fora das ruas.Em contrapartida, intensificou sua campanha nas redes sociais, que está muito segmentada e pesada, o que provocou uma mudança de tática de Haddad.
Em entrevista à Rádio Jornal do Recife (PE), Haddad subiu o tom dos discursos. Atribuiu a subida de Bolsonaro nas pesquisas a mentiras espalhadas pelo adversário e admitiu a dificuldade para combatê-las: “Se ele [Bolsonaro] fosse valente, como diz que é, enfrentaria isso olho no olho, e não pelo WhatsApp. WhatsApp é coisa de covarde. Não é coisa de político sério.” No mais, manteve a retórica contra o mercado financeiro e desmentiu qualquer influência do líder petista José Dirceu num eventual governo petista.
Ontem, pesquisa do Ibope/Estadão mostrou oscilação nas intenções de votos de ambos: Bolsonaro subiu de 31% para 32% e Haddad, de 21% para 23%. Ciro (PDT) e Alckmin (PSDB) caíram um ponto e agora estão, respectivamente, com 10% e 7%. Marina se manteve com 4%. A situação dos demais é a seguinte: Amoêdo (Novo) e Meirelles (MDB) com 2%; Álvaro Dias (Podemos) e Cabo Daciolo (Patriotas), 1%; os outros não pontuaram, inclusive Boulos (PSol). Os votos brancos e nulos somam 11%; não sabem nem responderam, 6%. Esse resultado, porém, trouxe novo alento para a campanha de Haddad em relação a Bolsonaro, porque, na simulação de segundo turno, o petista aparece na frente do adversário: 43% a 41%. Pesquisa do DataFolha que analisamos ontem apresentou Bolsonaro como possível vitorioso no segundo turno. A rejeição de Bolsonaro caiu de 44% para 42% e a de Haddad também oscilou um ponto para baixo; na pesquisa do Ibope, está em 37%.
Sem Bolsonaro no debate, a disputa principal provavelmente será entre Haddad e Ciro Gomes, que intensificou sua campanha de voto útil, com a circulação de um manifesto apelidado de Alcirina, que propõe uma aliança do candidato do PDT com Alckmin e Marina, que, nesse caso, retirariam as candidaturas. É improvável que isso venha a ocorrer, mas Ciro insiste na proposta porque está de olho nos eleitores que admitem mudar o voto, para evitar um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad. A candidatura de Marina Silva vem em queda desde o começo da campanha eleitoral, enquanto a de Alckmin, no decorrer da semana, começou a ser cristianizada nos redutos eleitorais do PSDB, principalmente em São Paulo e Minas.
Triângulo
A situação mais crítica para o tucano é em São Paulo, onde foi ultrapassado por Fernando Haddad, na capital e no interior. Com a disputa acirrada entre João Doria (PSDB),com 24%, e Paulo Skaf, 21%, Alckmin começa a ficar sem palanque, porque o ex-prefeito paulistano já deriva para Bolsonaro, enquanto o governador Márcio França (PSB), com 14%, prepara o desembarque na campanha de Haddad, que saiu do isolamento em que se encontrava no palanque de Luiz Marinho (PT), que tem 8%. Outro reduto tucano que está derivando para Bolsonaro é Minas Gerais, embora o senador Antônio Anastasia (PSDB) lidere a disputa contra o petista Fernando Pimentel (PT). No Rio de Janeiro, os candidatos do PT já se aliaram ao candidato do DEM, o ex-prefeito Eduardo Paes.
http://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-cadeira-vazia/
Ricardo Noblat: Resta ao PT torcer por Alckmin
O preço da arrogância e da incúria
Seria ingenuidade pedir ao PT ou a qualquer outro partido que admitisse seus erros passados em plena campanha eleitoral ou às vésperas dela. Mas o PT teve tempo suficiente para pedir desculpas bem antes, e não pediu.
Deixou o eleitor sem saída: ou ele engolia a seco os erros não confessados e votava no PT ou simplesmente negava seu voto ao partido. É o que acontece, segundo as pesquisas de intenção de voto para presidente.
O transplante de votos de Lula para Fernando Haddad se deu a uma velocidade que surpreendeu os adversários. É possível que tenha acabado. O transplante da rejeição a Lula e ao PT ainda está em curso.
A quatro dias da eleição, resta ao PT acender velas para que Geraldo Alckmin (PSDB) cresça ou se mantenha como está, represando preciosos votos que poderiam eleger Jair Bolsonaro (PSL) direto no primeiro turno.
Alckmin ainda se mexe, embora respire por meio de aparelhos. Conforme-se o PT em apanhar dele hoje e amanhã, quando acaba no rádio e na televisão a propaganda eleitoral. Até torça para apanhar.
Por fim, cuide-se o PT para que Haddad não proceda mal no debate entre os candidatos nesta quinta-feira, o último e o mais decisivo da atual temporada. Fora isso, não terá muito mais o que fazer.
O medo de apanhar ao vivo e a cores
O dilema do capitão
Se ouvir o conselho dos amigos mais próximos e atender à recomendação dos médicos que o trataram no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, o deputado Jair Bolsonaro não irá ao debate entre candidatos a presidente promovido pela TV Globo nesta quinta-feira.
A apanhar de corpo presente, escolherá apanhar de longe, acompanhando tudo pela televisão instalada no quarto de sua casa, no Rio, onde se recupera da facada que levou em Juiz de Fora. Em 2006, quando Lula fugiu ao debate da Globo no primeiro turno, o lugar dele ficou vago.
Não se sabe se no caso de Bolsonaro ficaria. A situação dele é outra. De casa, Bolsonaro sempre poderá responder aos ataques por meio das redes sociais. É seu ambiente preferido. É onde se sente seguro, protegido. De todo modo, seria tentador para ele comparecer ao debate em uma maca e ligado a aparelhos.
Cristiano Romero: Presidentes não podem agir como tiranos
Dilma caiu por razões políticas, mas a crise pavimentou o caminho
O Brasil chegou a 2010 vivendo um momento mágico. Tendo vencido a guerra de 30 anos contra a inflação crônica, voltou a crescer a um ritmo respeitável (depois de duas décadas "perdidas"), com recuo da pobreza, acesso das empresas a crédito barato no exterior, investimento estrangeiro recorde no país (menor apenas que o recebido pela China). Depois de um longo inverno, o Brasil estava novamente na moda. Apesar dos muitos problemas não resolvidos, sentíamo-nos fortes para enfrentá-los.
Em 2010, a economia brasileira cresceu 7,5%, a taxa mais alta em 24 anos. A inflação - de 5,91% - estava relativamente alta para padrões internacionais, mas dentro do intervalo do regime de metas, na ocasião de 2,5% a 6,5%. O ritmo acelerado de expansão do PIB sobreveio à perturbadora crise mundial de 2008-2009. Depois de submeter-se a uma dieta fiscal que perdurou três mandatos presidenciais, em dois governos (Fernando Henrique Cardoso e Lula), pela primeira vez, o Brasil sobreviveu a uma crise externa sem sofrer disrupção.
Os 16 anos de FHC e Lula, os dois primeiros presidentes eleitos na Era do Real, consagraram alguns consensos, necessários à manutenção da inflação em níveis baixos, ao equilíbrio das contas públicas (condição sine qua non para conter o aumento da dívida mobiliária) e à garantia de um certo ritmo de crescimento do PIB, ainda que pequeno para as necessidades do povo brasileiro.
Alguns dos consensos são: disciplina fiscal, traduzida pela geração permanente de superávits primários (receitas menos gastos, exclusive, a despesa com juros) nas contas do setor público; regime de metas para a inflação, adotado pelo país desde meados de 1999 e que, de forma flexível, domou a inflação e diminuiu a volatilidade do produto; e o câmbio flutuante, fortalecido pela criação de um seguro (a acumulação de reservas cambiais) para o enfrentamento de crises de liquidez. Outros consensos: a ampliação da rede de proteção social e a realização de reformas institucionais.
Em 2010, portanto, nem o mais pessimista dos brasileiros - inclusive, os derrotados nas eleições daquele ano - imaginou que, oito anos depois, chegaríamos a uma eleição duvidando da estabilidade econômica e política arduamente conquistada ao longo de 33 anos de redemocratização. Em meio a um clima de euforia, Lula elegeu Dilma Rousseff, uma neófita em política, para sucedê-lo. Havia desconfiança no mercado, mas os eleitores acreditaram na palavra empenhada pelo petista.
O Brasil, porém, é mais complexo do que supõe a nossa vã filosofia. Do momento em que foi comunicada por Lula de que seria sua candidata ao dia em que venceu a disputa presidencial contra José Serra (PSDB), Dilma disse "amém" a tudo o que seu mentor lhe ensinou. Para sobreviver em Brasília e São Paulo, ela teria que, respectivamente, dialogar sempre com os expoentes de sua ampla base de apoio parlamentar e construir pontes com os banqueiros e os principais empresários do país. A missão, recomendou Lula, seria facilitada por Antonio Palocci, designado pelo ex-presidente para comandar a campanha e depois as áreas política e econômica do governo.
A obediência de Dilma durou pouco - Lula sabia que presidente no Brasil é, relativamente, mais poderoso que nos Estados Unidos e que, por isso, ela faria o que bem lhe entendesse; o que ele não esperava é que ela fosse mudar o que estava dando certo, razão última da sua chegada ao Palácio do Planalto.
Durante a transição de governo, no fim de 2010, quando se recusou a manter no Banco Central Henrique Meirelles - por este não se comprometer a entregar a taxa de juros real em 2% dali a quatro anos -, Dilma indicou que o rumo das coisas mudaria. Instalada no poder, levou apenas seis meses para derrubar Palocci, o fiador de Lula. Cercada de críticos da política econômica que a levou ao poder - e de bajuladores amedrontados com seus gritos -, Dilma mudou tudo e jogou o país na mais longa e penosa crise econômica de sua história, a que nos trouxe a esta encruzilhada eleitoral.
As disputas pacíficas de 2006 e 2010 deram lugar à turbulência em 2014 e à incerteza em 2018. A economia entrou em recessão durante a sucessão de quatro anos atrás. Os desequilíbrios que a aprofundaram nos anos seguintes já haviam sido contratados por Dilma. Em vez de avisar aos eleitores que faria um ajuste para corrigir os problemas, a ex-presidente foi aos píncaros do populismo ao prometer mais do mesmo. Eleita no segundo turno com dificuldade e pressionada por Lula, indicou que faria correção de rumo, mas, sempre mal assessorada, desistiu seis meses depois, quando a situação tinha começado a melhorar...
A crise voltou com tudo em meados de 2015. Dilma comprou brigas com a própria base de apoio e isolou o vice Michel Temer depois de lhe dar e tirar a articulação política. Achou que governaria apenas com o PT e, por tudo isso, com apenas 16 meses do segundo mandato, sofreu impeachment. Este não foi um golpe institucional, fruto de um ato ilegal, mas mostrou que nossa democracia tem falhas gritantes - uma delas: o presidente da Câmara não deveria ter o poder monocrático de decidir se um pedido de impeachment deve ou não tramitar; outra: vice-presidentes deveriam ter atribuições definidas em lei - nos EUA, presidem o Senado, portanto, não têm como conspirar contra o presidente -; e por fim: presidentes deveriam se aposentar compulsoriamente da política após uma reeleição.
Dilma caiu por razões políticas, mas foi a severa crise que ela produziu a responsável por pavimentar o caminho da deposição. A baixa institucionalidade brasileira explica por que um governo foi tão longe na destruição de políticas que ajudaram a tirar o país da hiperinflação, a organizar as contas públicas, a criar as condições para crescer e a enfrentar minimamente nossas chagas sociais. Fica a lição: mesmo eleitos, presidentes não podem agir como tiranos, ainda que aparentemente sob o manto das leis.
A tragédia dos anos Dilma disseminou na sociedade um forte sentimento antipetista. Ainda assim, encarcerado, Lula tem o apoio de cerca de 40% do eleitorado. Fernando Haddad, seu candidato, tem 21% das preferências, beneficiário da transferência de votos do ex-presidente e da desidratação de Marina Silva, cujos eleitores temem a vitória de Jair Bolsonaro. Este cresceu no vazio do fracasso político do governo Temer e tirou o PSDB da condição de antiLula.
Bruno Boghossian: Antipetismo atravessa questões econômicas e turbina Bolsonaro
Motor da rejeição ao PT vale mais para alguns eleitores do que preferências sociais
O crescimento de Jair Bolsonaro e a disparada simultânea da rejeição a Fernando Haddad mostram o potencial do antipetismo como fator de definição do voto este ano. A aversão ao partido atravessa os segmentos do eleitorado, superando questões econômicas, sociais, regionais e até democráticas.
O candidato do PSL ganhou espaço em nichos que haviam erguido barreiras a seu avanço, como mulheres (27%), o Nordeste (20%) e os mais pobres (21%). Haddad parou de crescer em todos esses grupos e ainda viu sua rejeição subir 10 pontos no eleitorado feminino, chegando a 36%.
A repulsa ao PT sempre deu as caras nas grandes eleições com participação da sigla, aparecendo em todos os estratos da população com maior ou menor intensidade. O que os números do Datafolha sugerem é que Bolsonaro conseguiu aglutinar esse sentimento de maneira vigorosa na reta final do primeiro turno.
Dos eleitores que dizem não votar em Haddad de jeito nenhum, 63% escolhem Bolsonaro. O restante se pulveriza entre Geraldo Alckmin(8%), Ciro Gomes (7%) e outros. Como a rejeição ao petista disparou, o candidato do PSL ganhou mais fôlego.
A adesão indica que esse motor rigorosamente político e simbólico vale mais para alguns eleitores do que preferências e princípios sociais. Bolsonaro e sua campanha já fizeram ataques públicos às mulheres e indicaram que pretendem reduzir direitos trabalhistas, por exemplo. Mas o antipetismo fala mais alto.
A animosidade em relação ao PT transporta, de carona com Bolsonaro, grupos de interesse como o agronegócio e a bancada evangélica. Os parlamentares ruralistas e a Igreja Universal, com um braço partidário no Congresso (o PRB), declararam apoio ao presidenciável, que aceitou sorridente essas adesões.
Bolsonaro precisa de grupos políticos numerosos para governar e indicou que pretende atender às pautas dessa turma. Embora tente simbolizar renovação, o candidato abraça corporações que participam do poder há décadas (inclusive com o PT).