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Eleições 2022: pesquisas 'erraram tudo em 2018' como diz Bolsonaro?
A menos de dez dias do primeiro turno das eleições, os principais institutos de pesquisa do país — como Ipec, Datafolha, Ipespe e Quaest — continuam mostrando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com uma vantagem folgada na corrida presidencial ante seu principal oponente, o presidente Jair Bolsonaro (PL), inclusive com chances de vencer no primeiro turno
O atual mandatário, porém, questiona a credibilidade dessas sondagens e diz que ele que vencerá já no próximo domingo (2 de outubro, dia de votação do primeiro turno). "Essas pesquisas não valem de nada. Erraram tudo em 2018 e agora, obviamente, potencializam o outro lado", disse Bolsonaro na terça-feira (23/09), durante viagem à Nova York para participar da Assembleia Geral da ONU.
O argumento do presidente e de seus apoiadores para contestar o cenário desfavorável captado pelas pesquisas nesta eleição é dizer que os institutos também não apontaram sua vitória no pleito de 2018. Além disso, também acusam supostos erros das pesquisas em outras disputas daquele ano, como eleições para governos estaduais e vagas no Senado.
Especialistas no assunto ouvidos pela reportagem questionam a argumentação de Bolsonaro, já que as sondagens de 2018 próximas ao dia da votação mostravam a vitória do atual presidente.
Esses especialistas ressaltam ainda que pesquisas não são "prognóstico da eleição", mas apenas um retrato do momento. Isso significa que o resultado das urnas pode ser diferente das sondagens eleitorais, na medida em que a decisão de voto do eleitor pode mudar entre o momento de realização da pesquisa e o dia da votação.
"Mesmo que algumas pesquisas eleitorais divulguem seus resultados no dia anterior à eleição, elas ainda podem não captar certas mudanças ou decisões de voto ocorridas no dia da eleição, no dia anterior ou até mesmo dois dias antes, uma vez que muitas pesquisas começam sua coleta de dados de dois a três dias antes de sua divulgação", reforça o estatístico Raphael Nishimura, diretor de amostragem do Survey Research Center, da Universidade de Michigan.
Um fator, por exemplo, que pode influenciar a decisão de última hora é o chamado "voto útil", quando o eleitor decide votar num candidato que não é sua escolha inicial porque avalia que ele tem mais chances de derrotar um outro concorrente com mais rejeição.
Neste ano, Lula tem tentado atrair para si ainda no primeiro turno os eleitores de outros candidatos como Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) com o discurso de que o voto útil no petista pode garantir sua vitória contra Bolsonaro já no dia 2 de outubro.
Adversários de Lula têm reagido, criticando a iniciativa como antidemocrática, enquanto apoiadores do petista dizem que faz parte da democracia tentar atrair o eleitor dos concorrentes e que seria importante vencer no primeiro turno para enfraquecer possíveis tentativas de Bolsonaro de questionar o resultado das urnas.
Uma das principais bandeiras do presidente tem sido levantar suspeitas infundadas sobre a segurança da urna eletrônica. Para críticos de Bolsonaro, o discurso contra o sistema eletrônico de votação e os ataques contra os institutos de pesquisa fazem parte da estratégia de preparar o terreno para questionar depois o resultado da eleição, em caso de derrota.
Mas o que diziam as pesquisas de 2018?
As pesquisas de 2018 mostram que as sondagens sobre a disputa presidencial realizadas pelos principais institutos de pesquisa captaram com antecedência a vantagem de Bolsonaro no primeiro turno da corrida eleitoral. Na campanha de segundo turno, as sondagens também sempre mostraram Bolsonaro bem à frente de seu adversário, o petista Fernando Haddad (confira os números ao longo da reportagem).
Já antes da votação do primeiro turno, quando os institutos testavam em seus levantamentos possíveis confrontos no segundo turno, as pesquisas mostraram diferentes resultados. Em alguns momentos indicavam que Bolsonaro perderia de Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT). Apenas uma pesquisa, divulgada no dia 28 de setembro, mostrou Haddad (PT) na frente de Bolsonaro num cenário de disputa no segundo turno. As outras sondagens após essa data já mostravam Bolsonaro à frente de Haddad em eventual segundo turno.
Apoiadores do presidente usam essa pesquisa que, inicialmente, indicava derrota de Bolsonaro no segundo turno para contestar a credibilidade das sondagens, argumento contestado pelos institutos.
"Cabe esclarecer que as simulações de 2º turno feitas no 1º turno das eleições são hipotéticas e nem sempre refletirão o que acontecerá de fato no 2º turno", explicou à BBC News Brasil Márcia Cavallari, diretora do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), instituto fundado por parte da equipe que atuava no antigo Ibope.
"O próprio resultado do 1º turno das eleições tem impacto no posicionamento dos eleitores no 2º turno, além da reacomodação das forças políticas. É uma nova eleição. Não se pode comparar as simulações de 2º turno feitas no 1º turno com as do 2º turno de fato. Os eleitores vão se posicionando ao longo da campanha eleitoral", acrescentou.
Já em alguns pleitos estaduais, os resultados das urnas surpreendeu. Para especialistas, isso foi reflexo de uma eleição atípica, marcada por uma forte rejeição ao sistema político, em que uma onda bolsonarista ganhou força muito próximo do pleito, impulsionando a votação de concorrentes até então pouco conhecidos, como Wilson Witzel (PSC) e Romeu Zema (Novo), eleitos, respectivamente, governadores do Rio de Janeiro e de Minas Gerais.
O cientista político Antonio Lavareda, que é presidente do Conselho Científico do Ipespe (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas), ressalta que, embora as pesquisas não tenham apontado a vitória dos dois, elas já apontavam uma tendência de crescimento.
"Nas pesquisas de véspera da eleição, pelo menos, já havia sinalização de crescimento do Witzel, do Zema, etc. Na verdade, o que houve nas últimas 48 horas, 24 horas antes da votação em 2018 — uma eleição crítica, uma eleição de mudança de paradigma de comportamento — foi uma onda bolsonarista que arrastou [para o cargo] alguns candidatos na reta final em alguns Estados", nota Lavareda.
Os números das pesquisas presidenciais
Vamos relembrar a evolução das pesquisas na última eleição presidencial.
Há quatro anos, as sondagens dos institutos brasileiros mais tradicionais indicavam, inicialmente, Lula como favorito para vencer a eleição. No entanto, o petista foi barrado daquela disputa presidencial em 1º de setembro de 2018 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) porque estava condenado em segunda instância (as condenações foram anuladas em 2020).
Assim que o ex-presidente foi substituído por Fernando Haddad como candidato do PT na corrida presidencial daquele ano, Bolsonaro passou liderar as principais pesquisas de intenção de voto para o primeiro turno.
Vejamos os dados de 2018 do Ibope, instituto de longa tradição no Brasil que fechou as portas em 2021 e cujos executivos fundaram o atual Ipec.
No levantamento Ibope divulgado em cinco de setembro, Bolsonaro aparecia com 22% das intenções de voto, seguido por Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT), cada um com 12%. Logo atrás vinha Geraldo Alckmin (PSDB), com 9%, e Haddad, com 6%. Outros concorrentes somavam 11%. Havia ainda 21% de pessoas com intenção de votar branco ou nulo, e outros 7% que ainda não sabiam em quem votar ou não responderam.
Nas semanas seguintes, as intenções de voto de Bolsonaro e Haddad cresceram continuamente, deixando para trás os demais concorrentes. No levantamento Ibope divulgado em 6 de outubro, véspera do primeiro turno, Bolsonaro aparecia com 36% ante 22% de Haddad.
Já Ciro aparecia quase estável, com 11%, Alckmin havia caído um pouco mais para 7%, e Marina havia derretido para 3%. A soma dos demais candidatos também recuou para 8%. O percentual dos que pretendiam votar branco ou nulo também teve queda expressiva (7%), enquanto os que não sabiam em quem votar ficou em 5%.
Ou seja, ao longo da campanha de primeiro turno, Bolsonaro e Haddad conseguiram atrair votos de outros candidatos, assim como eleitores que antes estavam indecisos ou pretendiam anular seu voto.
Considerando apenas os votos válidos (sem contabilizar brancos e nulos, dado que é usado pelo TSE para definir os eleitos), Bolsonaro tinha naquela pesquisa 41%, enquanto Haddad tinha 25%.
Já na pesquisa de boca de urna, que é realizada no dia da votação, o desempenho dos dois candidatos ficou muito próximo do resultado final. O levantamento do Ibope de sete de outubro mostrou o então candidato do PSL com 45% dos votos válidos, e o petista com 28%. Já o resultado do TSE foi 46% para Bolsonaro e 29% para Haddad, ou seja, dentro da margem de erro de dois pontos percentuais da pesquisa de boca de urna.
"A pesquisa não tem o papel de antecipar o resultado eleitoral. A pesquisa eleitoral capta atitudes e as intenções de voto, não mede o comportamento do eleitor. Apenas as pesquisas de boca de urna (feitas no dia da votação, logo que as urnas fecham) podem ser comparadas com os resultados oficiais, pois estas estão medindo comportamento", afirma Cavallari.
Embora as pesquisas não tenham a função de prever o resultado das urnas, elas costumam captar bem qual a tendência da evolução do voto. "Via de regra, observamos que os resultados oficiais são um ponto a mais nas curvas de tendência apontadas pelas pesquisas", ressalta a diretora do Ipec.
A evolução das intenções de voto para o primeiro turno de 2018 captada nas pesquisas Ibope foi a mesma de outros institutos, como Datafolha e Ipespe.
Para Lavareda, Haddad cresceu e chegou ao segundo turno devido a uma transferência dos votos de Lula para o novo candidato do PT.
Já Bolsonaro foi capaz de catalisar o forte sentimento contrário aos partidos políticos mais tradicionais, em especial o antipetismo, que marcou a disputa de 2018. Na medida em que ele despontou como o o candidato mais forte para derrotar o PT, partido que havia ganhado as quatro eleições presidenciais anteriores, Bolsonaro cresceu na preferência do eleitor que não desejava um novo governo petista naquele momento, analisa o cientista político.
As pesquisas sobre segundo turno
Ao questionar a credibilidade das pesquisas, apoiadores de Bolsonaro costumam dizer que os levantamentos sobre o segundo turno de 2018 mostravam que o atual presidente perderia contra todos os outros principais concorrentes.
Nas redes sociais, o argumento costuma vir acompanhado de uma pesquisa do Datafolha de 28 de setembro de 2018, ou seja, mais de uma semana antes do primeiro turno (7 de outubro).
Essa sondagem mostrava que, naquele momento, as intenções de voto indicavam a derrota de Bolsonaro para Haddad (45% a 39%), Alckmin (45% a 38%) e Ciro (48% a 38%).
As três pesquisas seguintes do Datafolha, porém, já mostravam Bolsonaro numericamente à frente de Haddad em um possível segundo turno, embora empatados dentro da margem de erro. Na última delas, na véspera do primeiro turno de 2018, o então candidato do PSL aparecia com 45% das intenções de voto em um eventual segundo turno contra o petista, que, por sua vez, marcava 43%.
Com o resultado da votação do primeiro turno confirmando a disputa entre Bolsonaro e Haddad, todas as pesquisas realizadas durante a campanha do segundo turno passaram a captar uma larga vantagem do atual presidente sobre o candidato petista.
"Nós fazemos as simulações de segundo turno no decorrer do primeiro turno, elas refletem a opinião do eleitor nesse momento de primeiro turno. O segundo turno é outra eleição, nós começamos do zero, não consideramos os resultados dessas simulações obtidas no primeiro turno", disse à reportagem Luciana Chong, diretora do Datafolha.
O último Datafolha, divulgado na véspera do segundo turno, indicava Bolsonaro com 55% dos votos válidos e o petista com 45%. O resultado das urnas contabilizado pelo TSE foi: Bolsonaro eleito com 55,13% dos votos válidos, Haddad derrotado com e 44,87%.
"Pesquisa não é prognóstico, mas a pesquisa deve dar pelo menor uma ideia de ordem de colocação (dos candidatos) e de uma certa distância (entre eles). E as pesquisas de segundo turno (de 2018) apresentaram isso: ordem correta e uma certa distância parecida com o que deu", nota Lavareda, do Ipespe.
Surpresas nas disputas estaduais
A credibilidade dos institutos de pesquisa também tem sido questionada devido a grandes diferenças observadas em 2018 entre o resultado das urnas e as pesquisas de intenção de voto em algumas disputas estaduais.
No Rio de Janeiro, por exemplo, o governador que acabou eleito, Wilson Witzel (PSC), aparecia na pesquisa Ibope divulgada na véspera do primeiro turno empatado em terceiro lugar com Índio da Costa (PSD), com 12% das intenções de votos válidos, atrás de Eduardo Paes (DEM), com 32%, e Romário (Podemos), com 20%.
Já a pesquisa de boca de urna do mesmo instituto, feita no dia da votação, já mostrava ele em primeiro lugar, com 39% da preferência do eleitor (considerando votos válidos), seguido de Paes (21%), números muito próximos do resultado das urnas (41,28% para Witzel e 19,56% para Paes).
Witzel acabou derrotando Paes no segundo turno, cenário antecipado pelas pesquisas dos principais institutos realizadas após o primeiro turno.
Movimento semelhante aconteceu em Minas Gerais, em que o atual governador, Romeu Zema (Novo), também saiu de terceiro na pesquisa Ibope da véspera da eleição para primeiro lugar no resultado do TSE para o primeiro turno. Na etapa final, ele enfrentou e derrotou Antonio Anastasia (PSDB), resultado antecipado pelas pesquisas do segundo turno.
Também chamou atenção a disputa mineira pelo Senado. As pesquisas indicavam que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) seria eleita. Ela terminou em quarto lugar e foram eleitos Rodrigo Pacheco (DEM) e o Jornalista Carlos Viana (PHS).
Algo em comum entre Witzel, Zema, Viana, e outros candidatos eleitos em 2018, é que eles disputavam um cargo político pela primeira vez e venceram colando suas candidaturas na de Bolsonaro.
Conforme explicou Lavareda, houve uma onda bolsonarista na eleição de quatro anos atrás que impulsionou uma série de candidatos desconhecidos. Além disso, ele ressalta que é mais comum o resultado das urnas divergir das pesquisas para eleições estaduais, que medem as intenções de voto para o governador e Senado, do que das pesquisas para presidente.
Isso ocorre não por causa de "erros" das pesquisas, ressalta Lavareda, mas porque nas eleições estaduais é mais comum que uma parcela maior de eleitores só defina seu voto muito próximo do pleito ou mesmo no dia da votação.
A pesquisa do Ibope para o Senado de Minas Gerais divulgada dia 6 de outubro (véspera do primeiro turno), aquela que dava vitória para Dilma, indicava que 31% dos eleitores não sabiam ainda em quem votar, por exemplo.
Para Lavareda, a eleição de 2022 terá menos surpresas porque neste ano não há mais aquela onda antipolítica que marcou o pleito de 2018.
"Teremos muito menos mudanças abruptas de última hora, mas pode acontecer. Nas eleições para Senado, por exemplo, em que é baixíssima a taxa de interesse do eleitor, o que podemos ver pela intenção de voto espontânea (quando a pesquisa pergunta a intenção de voto antes de apresentar os nomes dos candidatos)", nota Lavareda.
"A intenção de voto espontânea na pesquisa para eleição presidencial é elevadíssima. Já para governador é menos elevado e para senador é baixo. As pessoas vão formar sua preferência na última hora", reforça.
*Texto publicado originalmente no portal da BBC News Brasil.
Revista online | Por que eu voto em Simone?
Roberto Freire*
Há muito mais do que apenas 15 razões para votar em Simone Tebet para a Presidência da República no dia 2 de outubro. Mas o voto não é uma decisão puramente racional. Na solidão da cabine, só perturbada pelo som característico da confirmação do voto na urna eletrônica, valem mais a emoção e a esperança, embora muitos nos queiram movidos pelo ódio.
É na esperança de abrir caminho para a superação do clima de divisão instalado no seio das famílias brasileiras que deposito a confiança do meu voto em Simone. E, na esperança de que mais e mais brasileiros e brasileiras façam o mesmo, aqui vão algumas das minhas “razões” de voto.
- Simone é a mais preparada. E não tenha dúvida. Se há algo de que o próximo presidente vai precisar para reerguer o Brasil após 5 anos e meio de Dilma/PT e 4 anos de Jair Bolsonaro, é de preparo. Simone é doutora em Direito Constitucional, professora, foi prefeita, vice-governadora, é senadora, presidiu a Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante do Senado, e foi a primeira mulher candidata à Presidência do Senado.
- É mulher. Mas não apenas por isso e não qualquer mulher. O Brasil precisa do coração de uma mãe, que tenha o olhar para o todo e para os detalhes, mas não se perca neles; e da cabeça de uma gestora, que tenha espírito de liderança, mas valorize a escuta e saiba o momento de fazer e de delegar.
- A força do interior: Simone é o Brasil do Agro, mas o Agro moderno, que defende o uso intensivo de tecnologia, que melhora a produtividade sem avançar sobre áreas de proteção ambiental, que sabe que o diferencial do país que alimenta o mundo é a manutenção da floresta em pé, gerando renda para as comunidades e inovação para toda a cadeia produtiva.
- Vai fazer as concessões e privatizações de que o Brasil precisa, porque não tem as amarras ideológicas de Lula e Dilma e tem a competência que falta a Bolsonaro e sua equipe, abrindo um novo ciclo de investimentos e crescimento econômico.
- Defensora da ciência. Demonstrou na CPI da Covid porque é tão importante acreditar na ciência: salvou vidas e agilizou a chegada das vacinas ao impedir que o governo, seja por interesses escusos, seja por interesses político-ideológicos, se guiasse exclusivamente pelo negacionismo do presidente.
- É democrata convicta. Simone é herdeira do MDB histórico, simbolizado na figura de seu pai Ramez Tebet e no apoio de nomes como Pedro Simon. A raiz política de Simone é a democracia, são os valores republicanos, que professa e defende, como professora de Direito e como parlamentar. Agirá para que as instituições voltem à normalidade funcional.
- Economia verde: Lula e Bolsonaro tiveram a oportunidade de demonstrar compromisso com a nova economia, uma economia limpa, carbono zero, inovadora, na fronteira do conhecimento. Lula é o olhar da década de 1980 para esse processo. Bolsonaro, então, nem se fala: é a visão militar ultrapassada das décadas de 60 e 70. Simone é a única que pode aliar liberais, ambientalistas e centro-esquerda em um projeto contemporâneo do futuro.
- É progressista. Nesses tempos em que Lula se sente à vontade para dizer que “se vai bater em mulher, não bata dentro de casa”, não dá pra dizer que a esquerda tradicional tenha o monopólio da virtude. Não tem. Na verdade, essa esquerda que faz vista grossa para o lulismo se converteu em força reacionária. Simone pode nos empurrar para a frente.
- É corajosa. Já deu várias demonstrações de que não foge à luta. Simone enfrenta. E, sem enfrentar os interesses terceiros que tomaram conta do Orçamento nos anos Bolsonaro, não seremos capazes de mudar o país e melhorar a realidade das pessoas.
- Olhar social. Em um país com 33 milhões de brasileiros passando fome, a prioridade tem de ser o investimento social.
- Tolerância. Simone é católica, mas respeita todas as religiões. Não mistura fé e política.
- Transparência. Simone não tem o que esconder. Sua vida pública é pública. E ela já assumiu o compromisso de revogar todos os sigilos de 100 anos impostos pela gestão Bolsonaro.
- Está com Mara Gabrilli, também senadora, e com ela teremos pela primeira vez na história um governo realmente comprometido com mais de 17 milhões de brasileiros que têm algum tipo de deficiência.
- É reformista. O Brasil precisa de reformas. A começar pela reforma tributária. Bolsonaro não entregou. Nem Lula nos anos que presidiu ou na gestão Dilma.
- É a única capaz de unir o Brasil e pacificar as famílias. Simone não baseia sua campanha no ódio, na desinformação ou nos seus adversários, mas nas propostas pra mudar o Brasil.
Confira, abaixo, galeria de imagens:
Por fim, a polarização sempre esteve presente nas eleições, mas não o clima de ódio. Não se trata de analisar quem é mais ou menos radical ou como essa divisão se acirrou. Mas de buscar os meios para superá-la.
E não será com nenhum dois que estão nos polos dessa disputa. Ao contrário. A vitória de um ou de outro levará o Brasil a caminhos ainda mais sombrios, de acentuação da violência e da divisão.
Sobre o autor
*Roberto Freire é presidente nacional do Cidadania.
** O artigo foi produzido para publicação na revista Política Democrática online de maio de 2022 (47ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.
*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na revista Política Democrática online são de exclusiva responsabilidade dos autores. Por isso, não reflete, necessariamente, as opiniões da publicação.
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Nas entrelinhas: Pesquisas refletem disputas na campanha de Bolsonaro
Luiz Carlos Azedo | Nas entrelinhas | Correio Braziliense
A 11 dias da eleição, a campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) vive o momento de maior tensão até agora, em razão da estagnação — e até mesmo de recuo — nas pesquisas de intenção de votos divulgadas nesta semana. Ontem, a da Genial/Quaest mostrava o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à frente, com 44% das intenções de voto no primeiro turno, seguido por Bolsonaro (PL), com 34%. Depois aparecem Ciro Gomes (PDT), com 6%, e Simone Tebet (MDB), com 5%, e Soraya Thronicke (União Brasil), com 1%. Os demais candidatos não pontuaram. O primeiro turno das eleições está marcado para 2 de outubro.
Dez pontos de vantagem não são suficientes para Lula vencer o pleito no primeiro turno. Mas a campanha deflagrada pelo PT e seus aliados em favor do voto útil, com a mobilização de artistas, intelectuais e personalidades da sociedade civil, começa a tirar votos de Ciro e pode também atingir uma parcela de eleitores de Simone. Essa possibilidade aumenta a tensão na campanha de Bolsonaro, onde as disputas políticas estão ocorrendo em duas frentes — o marketing político e a gestão da economia.
Na área do marketing, há praticamente duas campanhas. Uma é comandada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL), com apoio do ex-secretário especial de Comunicação Social (Secom), Fabio Wajngarten, e do ministro das Comunicações, Fábio Faria, que não esconde o desconforto com as pesquisas. No começo da semana, questionou os resultados da última pesquisa Ipec (Antigo Ibope), que indicavam Lula com 47% das intenções de voto, 16 pontos percentuais à frente de Bolsonaro, 31%.
“TSE, anote esses números que o Ipec está dando, que no dia 2 de outubro a população vai cobrar o fechamento desse instituto. Chega desses absurdos com pesquisas eleitorais!!! A hora da verdade está chegando”, tuitou o ministro.
Os três discutem a estratégia com o marqueteiro Duda Lima, um especialista em campanhas eleitorais contra o PT no interior de São Paulo, mas que não tem o menor acesso a Bolsonaro. Sequer participou do assessoramento durante o debate da Band. Seus programas eleitorais seguem o manual de marketing político, com base em pesquisas qualitativas, mas parecem não surtir o efeito esperado pelo presidente.
Isso leva Bolsonaro a fazer o que lhe vem à cabeça, principalmente nas entrevistas coletivas e nos palanques, para alegria do vereador Carlos Bolsonaro (PL), que cuida das redes sociais. Por exemplo: não estava no script da viagem a Londres o discurso na sacada da embaixada do Brasil, como também não havia sido programado o novo “imbrochável” declarado em Nova York, após ter participado da Assembleia Geral das Nações Unidas.
A bolha bolsonarista nas redes sociais delira com as tiradas do “mito”, mas o efeito junto aos demais eleitores, que Bolsonaro precisa conquistar, é zero ou negativo, conforme atestam as pesquisas. A distância de Lula para o presidente no Nordeste e na faixa de renda de até dois salários mínimo é abissal. Entre as mulheres, também parece ser irreversível. A campanha não consegue romper essas barreiras.
Estresse político
É aí que as tensões aumentam na frente política, capitaneada pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), e pelo presidente do PL, o ex-deputado Valdemar Costa Neto. Em tese, com a redução da inflação, o aquecimento da economia e a geração de novos empregos, Bolsonaro deveria estar melhorando os índices de aprovação do seu governo e reduzindo a própria rejeição, mas não foi o que se observou na penúltima semana que antecede o pleito.
Com isso, o estresse entre Ciro Nogueira e o ministro da Economia, Paulo Guedes, aumentou muito. Os políticos do Centrão, liderados chefe da Casa Civil e pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), queriam que o Auxílio Brasil fosse de R$ 800, mas Guedes se opôs, aceitando no máximo R$ 600.
À época, porém, imaginavam que o pagamento de dois meses do benefício em agosto, ou seja, R$ 1,2 mil, seria suficiente para mudar o cenário eleitoral. Ainda mais com a política de redução de preços dos combustíveis, que realmente teve impacto na classe média, principalmente na faixa de dois a cinco salários mínimos.
A outra frente de batalha são os candidatos do Centrão nos estados, principalmente do PL. Valdemar Costa Neto imaginava reeleger 75 deputados na aba do chapéu de Bolsonaro, mas, hoje, o cacique do Centrão refaz o cálculo otimista: acredita de que a legenda encabeçada pelo presidente elegerá em torno de 60 deputados.
Dois fatores estão influenciando esse cenário: um é o poder de atração de Lula junto aos eleitores, principalmente no Nordeste; outro, a falta de dinheiro para financiar as campanhas de 1.500 candidatos do PL em todo o país.
Bolsonaro drenou grande parte dos recursos do Fundo Eleitoral do PL para sua campanha, embora suas despesas pessoais estejam fora desse orçamento. O resultado é que os candidatos do partido, principalmente nos estados onde Lula tem grande vantagem, não estão se empenhando na campanha do presidente. Casa onde falta pão, todos brigam.
A armadilha do voto útil
Carlos Alberto Torres*
Dirijo-me aos democratas que estão dispostos a votar em Lula ou Bolsonaro com o dedo no nariz como estratégia para derrotar ao outro que consideram o mal maior.
Mas esta é uma armadilha baseada na conveniente narrativa de que já está “escrito” que o 2º turno será entre Lula e Bolsonaro.
Portanto, dirijo-me aos democratas que, embora críticos aos erros imensos de cada um, ainda assim, prefiram votar em um contra o outro.
Pois bem, nesta reta final, com lucidez, racionalidade e coragem terão que examinar a hipótese de votar em outros candidatos que considerem melhores, embora não figurem na dianteira das pesquisas eleitorais.
Bolsonaro não vencerá Lula no 2º turno devido à sua altíssima rejeição. Mas Simone ou Ciro poderão fazê-lo.
Resumindo:
- Se votarem em Bolsonaro no 1º turno o levarão para o 2º turno, mas quem vencerá será Lula;
- Se votarem em Lula, estarão desviando preciosos votos que poderiam ser essenciais para garantir a presença de Simone ou Ciro no 2º turno; deixemos esses votos para os lulopetistas de raiz que lutam para eleger o seu “pai-pai”;
- Mas, se com o seu voto, você levar Simone ou Ciro ao 2º turno, provavelmente Simone ou Ciro será eleito; consequentemente, Lula será derrotado.
Naturalmente, dirijo-me aos democratas que não querem se contentar com o “mal menor” e não querem, por medo, serem capturados pelos argumentos dos que propõem o “voto útil”, que, como vimos, só favorecem a Lula.
Pensem nisso todos os democratas!
Roberto Freire: Precisamos superar a radicalização provocada por Lula e Bolsonaro
Cidadania23*
O presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, defendeu na rede social a superação da radicalização da disputa eleitoral ao Palácio do Planalto provocada pelo presidente Jair Bolsonaro e Lula, e disse que a candidata de Simone Tebet (MDB) é ‘necessária’ derrota-los nas urnas em 2 de outubro.
“Precisamos superar o clima de radicalização político-ideológica que ocorre no País provocado pelos candidatos populistas Lula e Bolsonaro. O futuro de um país com tal nível de embate de ódio é sombrio. Ambos devem ser derrotados. Daí a necessária candidatura de Simone presidente”, postou no twitter.
De acordo com o estudo ‘Violência e Democracia: Panorama Brasileiro Pré-Eleições de 2022’, divulgado nesta quinta-feira (15), sete em cada dez pessoas dizem ter medo de serem agredidas fisicamente por causa das suas escolhas políticas, de acordo com levantamento feito pelo Datafolha a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e da Raps (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade).
O levantamento mostra que 67,5% dos entrevistados afirmaram ter medo de serem vítimas de agressões, e que 3,2% das pessoas ouvidas pela pesquisa disseram ter sofrido ameaças por motivos políticos nos últimos 30 dias, o equivalente a 5,3 milhões da população brasileira
O Datafolha ouviu 2.100 pessoas em todo o país entre 3 e 13 de agosto. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais e para menos. Foram ouvidas pessoas com 16 anos ou mais em cerca de 130 municípios brasileiros de pequeno, médio e grande porte.
*Texto publicado originalmente no portal Cidadania23.
Revista online | Eleições atrás das grades
João Marcos Buch*,especial para a revista Política Democrática online (47ª edição: setembro de 2022)
– Sim, se vocês votassem, provavelmente a condição degradante da prisão chamaria mais a atenção das autoridades!
Eu estava em inspeção na unidade prisional e, ao passar por uma galeria com presos sem acesso a trabalho e estudo, alguns me questionaram sobre reformas legislativas e políticas governamentais para o encarceramento. Respondi que, infelizmente, não havia política consistente na atualidade, já que a ótica é apenas a do encarceramento. Acrescentei, porém, que uma eleição se avizinhava e era importante saber o que os candidatos propunham. Um deles lembrou que os condenados não podem votar e que os presos provisórios até podem, mas não conseguem.
De fato, o artigo 15, inciso III, da Constituição Federal, estabelece que a perda ou suspensão dos direitos políticos se dá no caso de condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos.
Daí se retiram duas situações: (1ª) os condenados, com sentença transitada em julgado, têm seus direitos políticos suspensos – lembre-se de que há condenados por determinados crimes, como os de improbidade, que têm os direitos políticos suspensos por tempo maior, para além do cumprimento da pena –; e (2ª) os presos em caráter provisório, inclusive aqueles que recorreram das condenações, mas que já iniciaram o cumprimento provisório da pena, mantêm os direitos políticos, ou seja, o direito de votar.
Veja todos os artigos da edição 46 da revista Política Democrática online
Quanto à primeira situação, do condenado em definitivo, o que se deve ter em conta é que a norma constitucional não pode ser interpretada de maneira literal. Em uma hermenêutica constitucional consistente, respeitados entendimentos contrários, o certo é que a suspensão dos direitos políticos não pode ser automática e genérica. Por isso, precisa seguir o princípio da culpabilidade, da individualização da pena. A questão não é nova, e até mesmo o Tribunal Europeu de Direitos Humanos, no caso Hirst c. Reino Unido, de 2005, entendeu que viola a Convenção Europeia de Direitos Humanos a restrição automática e genérica ao direito ao voto enquanto presentes os efeitos da condenação penal.
Entretanto, como a matéria está longe de ser pacificada, passa-se à segunda situação. Esta, sim, sem conflito interpretativo. Efetivamente, o preso provisório tem direito de votar. Acontece que essa realidade ainda está distante.
Tomem-se os dados do pleito de 2018, por exemplo. Naquele ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou que os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) disponibilizassem seções eleitorais nos estabelecimentos penais, a fim de que os presos pudessem exercer sua cidadania por meio do voto (Resolução TSE n.23.554/2018). Neste ano de 2022, a Resolução TSE n.23.669/2021, art.27, regulamenta a matéria. Entretanto, na época, pouquíssimos foram os presos que efetivamente conseguiram votar.
Não existem dados qualificados, mas, pelo que se extrai de indicativos do TSE, das mais de 1.400 unidades prisionais do país, pouco mais de 200 instalaram seções eleitorais, e, nestas, um percentual muito pequeno de presos votou.
Como dito alhures, os dados sobre a população prisional brasileira não são qualificados. Os números não equivalem. Enquanto os dados extraídos do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) apontam para mais de 900.000 presos no país, os do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) indicam menos de 700.000. E, na separação entre condenados em definitivo e provisórios, os percentuais ficam ainda mais inconclusivos. Acredita-se que do total da população prisional, cerca de 1/3 é de presos provisórios.
Confira, abaixo, galeria de imagens:
Desta forma, descobrir o montante de presos aptos a votar e o número que efetivamente votará é algo muito difícil.
Para se ter uma ideia, o Presídio Regional de Joinville (SC) possui cerca de 1.200 presos. Destes, aproximadamente 500 ainda não foram julgados, e, talvez, cerca de 200 estão cumprindo provisoriamente suas penas, com recursos pendentes. Pois bem, apenas 70 presos foram considerados aptos a votar no pleito deste ano. 70 presos de 700: 10% do total.
Esse percentual, quer parecer, repete-se em todo o Brasil, e o motivo, em uma análise empírica, pode ser encontrado na precariedade das unidades prisionais. As prisões desta nação estão superlotadas, com pessoas amontoando-se em cubículos, sem acesso a direitos mínimos, que garantam alguma dignidade. Há locais até mesmo com falta de água corrente e energia elétrica, sem fornecimento de alimentação suficiente, sem acesso à saúde e a um colchão para dormir. As violações aos direitos humanos são tantas que não se torna leviano comparar as prisões com "navios negreiros".
Já quanto aos recursos humanos, estes são parcos, diminutos. Encontram-se unidades com mais de 1.000 mil encarcerados sendo cuidadas por cinco ou dez policiais penais.
Some-se a tudo isso a miserabilidade dos presos, selecionados que são para o encarceramento, a partir da necropolítica e necrojurisdição reinante neste país e que, portanto, já não gozavam de plena cidadania quando livres.
Então, falar em voto do preso, com regularização de seus documentos e estrutura para alocação de urna eletrônica – que, diga-se de passagem, é símbolo do avanço democrático, exemplo para o mundo, sendo de inquestionável segurança e fiscalização e à prova de fraudes, em uma nação impregnada de preconceitos e insuflada por discursos de ódio – soa irreal. Mas não deveria.
É plenamente factível garantir ao preso o direito ao voto. Basta, para isso, estabelecerem-se acordos de cooperação técnica entre os diversos protagonistas do estado e da sociedade civil organizada, começando por órgãos como Conselho Nacional de Justiça, Tribunal Superior Eleitoral, Tribunais Regionais Eleitorais, Ministério Público, Defensoria Pública, Ordem dos Advogados do Brasil, Conselhos da Comunidades, Ministério da Justiça, Departamento Penitenciário Nacional e Secretarias Estaduais de Administração Prisional.
Se houver vontade política, os encarcerados regularizarão seus documentos, urnas eletrônicas serão colocadas em todas as unidades prisionais, e o preso votará. Quem sabe, assim, com o voto atrás das grades, a cidadania chegue junto com tudo que historicamente ela significa.
Ao menos foi isso que eu tentei transmitir aos presos, ao menos foi isso que os presos pediram para mim.
*João Marcos Buch é juiz de Direito da Vara de Execuções Penais da Comarca de Joinville (SC) e membro da Associação Juízes para a Democracia (AJD).
** O artigo foi produzido para publicação na revista Política Democrática online de maio de 2022 (47ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.
*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na revista Política Democrática online são de exclusiva responsabilidade dos autores. Por isso, não reflete, necessariamente, as opiniões da publicação.
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Datafolha: Simone Tebet cresce acima da margem de erro e empata tecnicamente com Ciro
Cidadania23*
A candidata a presidente da República da coligação Brasil para Todos (MDB, Cidadania, PSDB e Podemos), Simone Tebet (MDB), oscilou de 2% para 5% na pesquisa de intenção de voto do instituto Datafolha divulgada nesta quinta-feira (01).
Simone teve crescimento acima da margem de erro e alcançou Ciro Gomes (PDT), que tem 9% (veja abaixo o desempenho dos demais candidatos). Segundo o levantamento, eles estão empatados tecnicamente dentro do limite da margem de erro, que é de dois pontos percentuais.
Foi a primeira pesquisa divulgada pelo Datafolha após o debate presidencial do último domingo (28) na Band. Simone teve a melhor avaliação no debate entre os indecisos, segundo a pesquisa qualitativa realizada pelo instituto em tempo real, desempenho que pode justificar o crescimento da candidata no levantamento.
A pesquisa mostra ainda que em São Paulo, o maior colégio eleitoral do País, Simone foi de 3% para 7% nas intenções de voto.
O Datafolha ouviu 5.734 pessoas em 285 municípios entre os dias 30 de agosto e 1º de setembro. A margem de erro é de 2% para mais ou para menos. O levantamento foi registrado no TSE sob o número BR-00433/2022.
Intenção de voto estimulada
Lula (PT): 45% (47% no Datafolha anterior, de 18 de agosto)
Jair Bolsonaro (PL): 32% (32% na pesquisa anterior)
Ciro Gomes (PDT): 9% (7% na pesquisa anterior)
Simone Tebet (MDB): 5% (2% na pesquisa anterior)
Soraya Thronicke (União Brasil): 1% (0% na pesquisa anterior)
Pablo Marçal (PROS): 1% (0% na pesquisa anterior)
Felipe d’Avila (NOVO): 1% (1% na pesquisa anterior)
Vera (PSTU): 0% (0% na pesquisa anterior)
Sofia Manzano (PCB): 0% (0% na pesquisa anterior)
Constituinte Eymael (DC): 0% (0% na pesquisa anterior)
Léo Péricles (UP): 0% (0% na pesquisa anterior)
Roberto Jefferson (PTB): 0% (0% na pesquisa anterior)
Em branco/nulo/nenhum: 4% (6% na pesquisa anterior)
Não sabe: 2% (2% na pesquisa anterior)
*Texto publicado originalmente no portal do Cidadania23.
No Jornal Nacional, Simone Tebet acena a mulheres e defende liberalismo econômico
Redação de Brasil de Fato*
Na última entrevista da série de sabatinas com os presidenciáveis mais bem posicionados nas pesquisas eleitorais, a senadora do Mato Grosso do Sul e candidata do MDB, Simone Tebet foi a entrevistada. Durante os 40 minutos da entrevista, ela disse priorizar a educação, fazendo alusão a propostas de entidades que defendem maior participação privada na gestão do ensino, e afirmou em mais de uma ocasião contar com uma equipe de "economistas liberais" para tratar do financiamento das suas propostas.
No início, ao ser perguntada sobre a desunião do MDB em torno da sua candidatura, Tebet apontou ter vencido uma "maratona com muitos obstáculos para consolidar a pretensão presidencial. "Tentaram puxar o meu tapete há até pouco tempo atrás", pontuou. "Tentaram levar o partido para o ex-presidente Lula, judicializaram minha candidatura."
Os apresentadores do Jornal Nacional insistiram na questão sobre a desunião dentro da legenda, com William Bonner lembrando que nove diretórios de estados e um do Distrito Federal anunciaram que não a apoiariam. "A polarização faz com que alguns companheiros sejam cooptados", justificou. A emedebista também foi perguntada sobre o fato de o próprio candidato ao governo do Mato Grosso do Sul de sua legenda, André Puccinelli, ter relativizado o apoio a ela.
"Por exemplo, se você vota no Lula, eu vou te matar para que não vote no Lula? Não. Democracia é isso. Vamos sugerir [o nome da Simone], mas não impor", afirmou o candidato em julho.
Ao JN, Tebet respondeu: "A minha candidatura não vem pra dividir. Sabemos das dificuldades regionais, venho de um estado conservador e tenho que dar liberdade pros meus companheiros."
Quando questionada sobre o envolvimento de integrantes da sigla com escândalos de corrupção, a parlamentar argumentou que "o partido não é mais fisiológico", afirmando que, para compor o ministério de um eventual governo, iria contar com os "partidos que somam conosco" e que os requisitos dos titulares das pastas seriam dois: "ser honesto e ser competente".
Participação feminina e propostas
Na entrevista, ela tentou sinalizar para o público feminino. "Se eu virar presidente, primeiro projeto que vou pautar é a igualdade salarial entre homens e mulheres", sustentou.
Quando perguntada sobre a baixa participação de candidaturas femininas no MDB, a candidata usou uma argumentação confusa. "Sou privilegiada por que estou diante de um partido que saiu na vanguarda e teve a coragem de lançar, nesse momento mais difícil do Brasil, uma mulher candidata à Presidência da República. Isso é inédito, é inédito na história", pontuou, possivelmente se referindo a seu partido.
Além de já ter havido uma presidenta da República no Brasil, Dilma Rousseff (PT), as eleições presidenciais de 2022 têm outras três candidatas: Vera Lúcia (PSTU), Sofia Manzano (PCB) e Soraya Thronicke (UB).
A candidata se comprometeu a priorizar a educação caso vença as eleições. "Não falta dinheiro pra educação, falta vontade", vaticinou, emendando que "não há trabalho e qualificação, sem educação. É o que garante o aluguel e a comida na mesa". Também prometeu recriar o Ministério da Segurança Pública, quando questionada sobre perguntas sobre essa área.
*Texto publicado originalmente em Brasil de Fato
Nas entrelinhas: Debate não alterou polarização entre Lula e Bolsonaro
Luiz Carlos Azedo | Nas entrelinhas | Correio Braziliense
A pesquisa Ipec (a turma do antigo Ibope), divulgada na segunda-feira, mostra um quadro estabilizado há duas semanas na disputa eleitoral entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro. O primeiro com 44% de intenções de voto; o segundo, com 32%. Ciro Gomes, Simone Tebet e Felipe D’Ávila subiram um ponto cada, estão com 7%, 3% e 1%, respectivamente, todos na margem de erro. A pesquisa funcionou como uma espécie de “calma, o Brasil é grande” na cúpula das campanhas de Lula e Bolsonaro, que foram muito mal avaliados nos trackings do debate de domingo na Band e no monitoramento das redes sociais. Os demais candidatos se saíram melhor, principalmente Simone Tebet (MDB).
Vista com lupa, a nova pesquisa mostra que houve pequenas movimentações localizadas. Por exemplo, Lula continua liderando entre os que recebem o Auxílio Brasil, com 52%, mas Bolsonaro subiu um pontinho: passou a 29%. Ciro Gomes, também, chegando a 8%. Entre os que não recebem o auxílio, não houver alteração, mas a distância de Lula para Bolsonaro é menor: o petista tem 40%, e o presidente, 33%. Entretanto, nas capitais, houve uma mudança muito significativa: a vantagem de Lula para Bolsonaro caiu para 2%, ou seja, estão em empate técnico. Há duas semanas, Lula estava com 45%, e Bolsonaro, com 31%. No interior, Lula cresceu um 1%, e Bolsonaro caiu o mesmo percentual: estão como 45% e 32%, respectivamente. O que é isso?
Eis uma boa pergunta para os estrategistas da campanha de Lula, porque esse é um movimento de placas tectônicas. Existe vida inteligente na campanha de Bolsonaro, cujo estado-maior procura explorar os pontos fracos de Lula e recuperar os votos de 2018 que o presidente da República havia perdido. Isso está muito claro nos programas eleitorais e nas intervenções bolsonaristas nas redes sociais. O problema da campanha de Bolsonaro não é falta de estratégia, é o próprio candidato. Isso ficou claro no debate da Band, ao atacar a jornalista Vera Magalhães (TV Cultura). Tornou-se o grande derrotado, exatamente no momento em que crescia para cima de Lula.
A apatia de Lula no debate da Band foi flagrante, mas não provocou mais do que uma tempestade em copo d’água, se considerarmos a pesquisa divulgada na segunda, em contradição com repercussão negativa registrada nas redes sociais por sua atuação no domingo. Lula continua dando uma surra em Bolsonaro no Nordeste (57% a 25%), vence no Sudeste por uma margem de seis pontos (39% a 33%) e, mudança importante, inverteu a situação no Sul: agora está com 36%, contra 34% de Bolsonaro. Porém, Lula caiu 6% entre os eleitores que recebem até um salário mínimo, e Bolsonaro cresceu 2%. Entre os eleitores com renda acima de cinco salários mínimos, Lula caiu oito pontos, está com 28%, contra 47% de Bolsonaro, que subiu um ponto.
Triângulo
Bolsonaro trabalha para reduzir sua rejeição e aumentar a de Lula. É uma estratégia eficiente, para levar a eleição ao segundo turno e, nele, tentar virar o jogo e se reeleger. A resposta de Lula, num primeiro momento, foi tentar ampliar sua candidatura para vencer no primeiro turno. Essa possibilidade ainda existe, segundo a pesquisa Ipec, porque Lula tem 1% a mais do que a soma das intenções de votos de Bolsonaro com as dos demais candidatos. No entanto, as placas tectônicas sinalizam que essa possibilidade pode ser volatilizada.
O recorte regional da campanha sinaliza que a eleição será decidida no Sudeste, o chamado Triângulo das Bermudas. Lula (PT) oscilou três pontos para baixo em São Paulo – de 43% para 40% -, e três para cima em Minas Gerais – de 42% para 45%. No Rio de Janeiro, todos os candidatos oscilaram dentro da margem de erro. Lula tem 39% (tinha 41%), Bolsonaro 36% (tinha 37%), Ciro 6% (tinha 7%) e Tebet 3% (tinha 2%).
Lula teceu alianças minoritárias no Rio de Janeiro e em Minas. O atual governador fluminense, Cláudio Castro (PL), com 26% das intenções de voto, apoia Bolsonaro. Aliado de Lula, Marcelo Freixo (PSB) tem 19%. Depois, vêm Rodrigo Neves (PDT), com 6%, e Cyro Garcia (PSTU), com 4%. Juliete Pantoja (UP) tem 3%. Eduardo Serra (PCB), Wilson Witzel (PMB) e Paulo Ganime (Novo) empatam com 2%. O candidato Luiz Eugênio (PCO) somou um ponto percentual.
Em Minas, o amplo favoritismo de Lula não alavancou até agora a candidatura de Alexandre Kalil (PSD), com 24%, que enfrenta o governador Romeu Zema (Novo), franco favorito, com 44%. Carlos Viana (PL), com 3%; Cabo Tristão (PMB), com 1%; Lorene Figueiredo (PSol), com 1%; Marcus Pestana (PSDB), com 1%; Renata Regina (PCB), com 1%; e Vanessa Portugal (PSTU), com 1%.
Em São Paulo, o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) lidera com 32% das intenções de voto, mas o candidato de Bolsonaro, o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas, está com 17%, enquanto o atual governador, Rodrigo Garcia (PSDB), tem 10%. Depois aparece Carol Vigliar (UP), com 2%. Elvis Cezar (PDT), Vinicius Poit (Novo), Gabriel Colombo (PCB), Antonio Jorge (DC) e Altino Junior (PSTU) empatam com 1%.
Simone Tebet defende teto de gastos e desestatização de empresas
Karine Melo*, Agência Brasil
A defesa da manutenção do teto de gastos no país foi um dos destaques da candidata do MDB à Presidência da República, Simone Tebet, durante sabatina promovida pelos jornais O Globo, Valor Econômico, e rádio CBN, nesta quinta-feira (25).
Tebet classificou a medida como “única âncora fiscal que sobrou”, mas ressaltou que a regra precisa ser aperfeiçoada. “Eu garanto a vocês, se não fosse o teto, mesmo ele sendo completamente furado, o orçamento secreto não seria só de R$ 19 bilhões, seria muito mais que isso. Ele [o teto de gastos] é a única âncora fiscal que sobrou. Precisa ser melhorada, pode ser aprimorada sim, mas é a âncora que nós temos”, reforçou acrescentando que a área de Ciência e Tecnologia, em um eventual governo dela, ficará fora do teto.
A presidenciável voltou a criticar o orçamento secreto que avaliou, pode ser “o maior esquema de corrupção do planeta Terra". Diante disso a candidata garantiu que, caso eleita, dará total transparência às chamadas emendas de relator. Tebet também defendeu transparência por parte de sua equipe ministerial e no uso do cartão corporativo.
Desestatizações
Declaradamente contrária à privatização da Petrobras, a candidata afirmou que, se eleita, não quer “privatizar por privatizar” as empresas públicas. “O Brasil está precisando de posicionamentos centrados, não é oito ou 80, não é ser totalmente a favor de todas as privatizações ou ser estatizante”, disse.
Tebet defendeu manter empresas que prestam serviços importantes à população e privatizar empresas como Eletrobras, Valec Engenharia, Construções e Ferrovias e a Empresa de Planejamento e Logística (EPL), responsável prestar serviços na área de projetos, estudos e pesquisas para subsidiar o planejamento da infraestrutura, da logística e dos transportes no país.
Terras
A presidenciável disse ser favorável à demarcação de terras indígenas, desde que a medida tenha como base um estudo antropológico. "Sou contra a invasão dessas áreas antes, seja por uma lado, seja por outro". Ao falar sobre Meio Ambiente a emedebista prometeu políticas para o "desmatamento ilegal zero na Amazônia". Até o fechamento desta reportagem não constava mais nenhuma agenda de campanha da candidata para hoje.
*Texto publicado originalmente na Agência Brasil.
Revista online | Ressentimento e reação conservadora: sobre eleição histórica
Mayra Goulart*, especial para a revista Política Democrática online (46ª edição: agosto/2022)
Toda eleição presidencial é histórica, todavia, não na mesma proporção, na medida em que algumas sobressaem como marcos de rupturas que permitem o início de novos ciclos. Foi o caso da eleição de 1989, a primeira depois da redemocratização. A eleição de 1994 também foi histórica ao encerrar um ciclo de instabilidades econômicas, com a consolidação do Plano Real, e políticas dando início a um novo padrão de organização das preferências e identidades partidárias no país.
Neste pleito, concorreram Fernando Henrique Cardoso (FHC), ex-ministro da Fazenda e renomado professor de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP), e o líder sindical Luís Inácio Lula da Silva. FHC concorreu pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), representando um projeto social-liberal que priorizava a estabilidade econômica e a rentabilidade dos investimentos financeiros como estratégia para o desenvolvimento e para a modernização do país.
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Tal projeto, assim como o PSDB, representava identidades e interesses de eleitores que se identificavam com as camadas médias e altas, cujo ideal de sociedade se estruturava a partir dos princípios da meritocracia e da liberdade econômica. Lula concorreu pelo Partido dos Trabalhadores (PT), representando um projeto igualitário-democrático que envolvia, em termos prioritários, a redução da miséria e a inclusão das minorias demográficas e não demográficas.
Os pleitos de 1998, 2002, 2006 e 2010 se inserem nos marcos do ciclo iniciado em 1994 e foram organizados por esta polarização entre duas forças situadas em posições relativamente próximas ao centro do espectro ideológico. Em outros termos, o sistema político brasileiro de 1994 a 2010 se organizou em torno da polarização entre duas alternativas de centro: (a) uma mais à esquerda, cujos eleitores foram progressivamente assumindo uma feição popular, reunindo os espectros menos favorecidos da sociedade em termos econômicos e simbólicos, atraídos pelas iniciativas distribuição de renda / fortalecimento do salário mínimo e pelos programas de ação afirmativa voltados às minorias implementados ao longo dos governos petistas; e (b) outra mais à direita, que tinha em seu eleitorado as camadas médias e aquelas que se identificavam com as administrações tucanas, atraídos por um discurso de liberdade econômica com responsabilidade social o que envolvia o respeito às minorias e aos direitos civis.
PT e PSDB, portanto, representam projetos de modernização que de um jeito ou de outro passam pela dissolução dos grilhões que nos atrelam a um passado patriarcal, refratário à pluralidade e incompatível com a consolidação da institucionalidade democrático-liberal erguida pela Constituição de 1988, resultante do fechamento do ciclo autoritário civil-militar (1964-1985) que lhe precedera.
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Não obstante, durante esse ciclo, aqueles segmentos sociais que de alguma maneira não se identificavam com essa ideia de modernização, cujos conteúdos ético-morais feriam sensibilidades conservadoras, foram acumulando um conjunto de mágoas e ressentimentos em relação às transformações sociais em curso, posto que identificavam-se com um ideal de sociedade e de família patriarcal, nostálgico em relação ao modelo de ordem do autoritário.
Ainda que seja impossível operar uma datação precisa do processo, é possível sugerir que esse ressentimento, até então escondido na névoa de sentimentos contraditórios que perpassam os seres humanos, passou a ganhar o espaço público, conforme foi encontrando símbolos capazes de destacá-los. Um desses símbolos foi a discussão da criminalização da homofobia que, já em 2008, serviu de mote para ações organizadas do campo evangélico, que foi ganhando coesão política a partir da reação a este tipo de temática. Em paralelo, observa-se também o progressivo desconforto das camadas altas e médias com o processo de inclusão econômica e social que conferia maior visibilidade às classes populares.
Tal ressentimento, apresentado como um ódio à esquerda e ao PT, que não podia ser canalizado pelas lideranças do PSDB, demasiado identificadas com tais transformações, encontra em Jair Bolsonaro um porta-voz. Sua liderança foi gestada ao longo de sete mandatos consecutivos como deputado federal, ao longo dos quais manteve uma atuação parlamentar consistente voltada à defesa das Forças Armadas e demais segmentos identificados com o modelo de sociedade autoritário, elitista e patriarcal oriundo do passado.
A eleição de 2022 é, portanto, particularmente histórica na medida em que pode indicar a ruptura ou o aprofundamento deste ciclo reacionário, incompatível com os marcos constitucionais democrático-liberais e com a configuração de uma sociedade aberta ao pluralismo de afetos, identidades e cosmovisões. Oxalá ela seja suficiente para que o país consagre sua opção em prol da democracia através das urnas e que não seja preciso buscar outras formas de derrotar o autoritarismo que ameaça pegar em armas para se defender.
Sobre a autora
*Mayra Goulart é professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PPGCS/UFRRJ). É, ainda, coordenadora do Laboratório de Partidos Eleições e Política Comparada (LAPPCOM).
** Artigo produzido para publicação na Revista Política Democrática Online de agosto/2022 (46ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.
*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na Revista Política Democrática Online são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, as opiniões da Revista.
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*Título editado.
Nas entrelinhas: Bolsonaro ganhou mais do que perdeu no JN
Luiz Carlos Azedo | Nas entrelinhas | Correio Braziliense
O presidente Jair Bolsonaro se saiu melhor do que a encomenda na entrevista concedida a Willian Bonner e Renata Vasconcellos no Jornal Nacional, segunda à noite. Cobrado insistentemente pelos dois apresentadores sobre temas que são as causas de sua alta rejeição, como a atuação durante a pandemia de covid-19 e a questão ambiental, saiu pela tangente, mentiu às vezes, porém, não perdeu a cabeça e partiu para a agressão verbal, como acontece na maioria das entrevistas “quebra-queixo” que concede, quando é confrontado por algum jornalista.
Nas redes sociais, durante a entrevista, bolsonaristas e petistas, principalmente, travaram uma guerra virtual que repercutia a sabatina em tempo real. Principalmente no Twitter, Bolsonaro perdeu as batalhas quando tratou das urnas eletrônicas e das ameaças de golpe, da crise da falta de oxigênio nos hospitais de Manaus e das vacinas. Também não ficou bem na fita quando negou corrupção no governo. Mas, se saiu melhor quando falou do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e da aliança com o Centrão. Na métrica do monitoramento das redes sociais, teve em torno de 35% de menções positivas e 65% de menções negativas. Não foi um mau resultado.
Por que a conclusão de que se saiu melhor do que a encomenda? Porque Bolsonaro alcançou seu objetivo de não frustrar seus eleitores e não afrontar os que votaram nele nas eleições passadas e, agora, estão voltando para sua base eleitoral. Essa foi a estratégia do seu estado-maior para a entrevista. O outro lado da moeda é a cobrança que está sendo feita aos jornalistas da TV Globo, principalmente pelos petistas, que acaba favorecendo também o presidente da República.
A reação contrária dos bolsonaristas já estava prevista; a dos petistas, não. Parece que tinham a expectativa de que Bolsonaro seria “nocauteado” por Willian Bonner e Renata Vasconcellos, que foram bastante agressivos e contundentes, mas não perguntaram tudo o que os petistas gostariam, quando nada, porque os questionamentos foram longos demais e, em alguns momentos, geraram réplicas e tréplicas.
Temas como o caso das “rachadinhas”, escândalo na Assembleia Legislativa do Rio envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o envolvimento do clã com as milicias do Rio de Janeiro ficaram fora da pauta. Como Bolsonaro levou uma “cola” anotada na palma da mão, surgiu a versão de que eram anotações que visavam intimidar os dois entrevistadores, com referências negativas à emissora, cuja concessão vencerá no dia 5 de outubro e precisa ser renovada. Outros, porém, e não apenas os bolsonaristas, avaliam que os dois jornalistas se comportaram como se fossem debatedores, e de forma desrespeitosa.
Padrão Globo
Mas, o que incomoda mesmo aos petistas é saber que o favorito nas pesquisas de intenção de voto até agora, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, receberá o mesmo tratamento dado a Bolsonaro por Bonner e Renata. A TV Globo precisa manter uma posição de independência e neutralidade em relação aos candidatos, o que exige tratamento isonômico. Isso será um problema para o petista. Sua entrevista ao Jornal Nacional, na quinta-feira, pode exumar pautas muito desconfortáveis, como os escândalos do “mensalão” e da Petrobras, além de outros assuntos negativos para Lula ou comentários infelizes, que sua campanha procura contornar a todo custo.
A avaliação dos marqueteiros de Bolsonaro sobre sua atuação na entrevista é tão otimista que o presidente da República já está cogitando comparecer ao debate entre candidatos à Presidência organizado pelo consórcio de emissoras de TV, que antes havia rechaçado, assim como o ex-presidente Lula. É uma decisão estratégica que faz todo o sentido, porque Bolsonaro parece ter consolidado seu lugar no segundo turno e não teria mais nada a perder num confronto aberto com Lula: seria a antecipação do debate do segundo turno. A estratégia de Bolsonaro é reduzir sua rejeição e aumentar a de Lula, para ganhar a eleição.
Em princípio, Bolsonaro reafirmou suas posições: manteve as suspeitas sobre as urnas eletrônicas; atacou o Ibama e os ambientalistas que criticam o governo por causa da Amazônia; reiterou seu negacionismo quanto à pandemia, criticou o lockdown e defendeu o tratamento precoce da covid-19 com cloroquina. Tentou resgatar a bandeira da ética ao negar a existência de corrupção no seu governo e capitalizar a queda da inflação, o pagamento do Auxílio Emergencial e geração de empregos. Esse é o rumo da sua campanha. De acordo com essa estratégia, Bolsonaro não subiu o tom contra o ministro Alexandre de Moraes, que, ontem, autorizou uma operação de busca e apreensão contra empresários bolsonaristas suspeitos de envolvimento com disseminação de fake news e articulações golpistas.
Obs: Como escrevi a coluna antes da entrevista de Ciro Gomes ao Jornal Nacional, ontem à noite, comentarei seu desempenho na edição de amanhã.