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El País: Caso Queiroz volta a assombrar Flávio Bolsonaro com quebra de sigilo bancário
Jornal 'O Globo' diz que promotores têm acesso aos dados bancários do senador desde 24 de abril
Após um período fora do radar público, o caso Fabrício Queiroz volta a assombrar o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). O jornal O Globo noticiou nesta segunda-feira que o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) autorizou a quebra de sigilos bancário e fiscal do filho mais velho do presidente da República e de cerca de outras 90 pessoas no dia 24 de abril. A medida é consequência das suspeitas iniciais do Ministério Público do Rio de Janeiro de que, quando deputado estadual, Flávio cobrava a devolução de parte do salário dos funcionários, entre eles Queiroz, prática popularmente conhecida como "rachadinha" ou "Rachid".
O senador, que tentou, sem sucesso, barrar a investigação no Supremo Tribunal Federal reivindicando foro privilegiado, respondeu à notícia por meio de seu perfil do Facebook: "Somente agora, em maio de 2019 — quase um ano e meio depois [da abertura da investigação na Assembleia Legislativa do Rio] — tentam uma manobra para esquentar informações ilícitas, que já possuem há vários meses." O senador eleito no ano passado diz que seu sigilo bancário "já havia sido quebrado ilegalmente pelo MP/RJ, sem autorização judicial". "Tanto é que informações detalhadas e sigilosas de minha conta bancária, com identificação de beneficiários de pagamentos, valores e até horas e minutos de depósitos, já foram expostas em rede nacional após o Chefe do MP /RJ, pessoalmente, vazar tais dados sigilosos". O primogênito de Bolsonaro tentou, sem sucesso, barrar a investigação
Flávio Bolsonaro finaliza sua nota dizendo que "a verdade prevalecerá, pois nada fiz de errado e não conseguirão me usar para atingir o governo de Jair Bolsonaro". A autorização da quebra do sigilo entre janeiro de 2007 e dezembro de 2018, assinada pelo juiz Flávio Nicolau, põe o caso de volta na pauta, contudo. O senador havia acabado de criticar a investigação do caso em entrevista publicada no jornal O Estado de S.Paulo neste domingo, um dia antes da publicação da notícia sobre a autorização da quebra de sigilo. Segundo ele, os promotores querem "requentar" uma informação que já teriam conseguido de forma ilegal.
Quando questionado por que decidiu falar logo agora sobre o assunto, após semanas de silêncio, o senador respondeu que vê "que há grande intenção de alguns do Ministério Público de me sacanear, de mais uma vez colocar em evidência coisas que não fiz. Estou preferindo me antecipar, porque meu processo corre em sigilo de Justiça, mas sempre que vai para o Ministério Público os caras vazam tudo". Flávio Bolsonaro repete que suas movimentações financeiras não estão acima de sua renda, vinda dos rendimentos de uma franquia da Kopenhagen e do investimento em imóveis na planta no Rio de Janeiro, beneficiado por um "boom imobiliário".
A investigação desse caso começou como parte da Operação Furna da Onça, um desdobramento da Lava Jato no Rio de Janeiro que levou dez parlamentares locais para a prisão. As autoridades do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) analisaram as movimentações de parlamentares da Assembleia Legislativa do Rio e de seus assessores e familiares. Entre as operações atípicas, surgiram as de Fabrício Queiroz, um policial militar da reserva que trabalhou como motorista de Flávio e é amigo da família Bolsonaro. Outros parentes de Queiroz também estavam empregados no gabinete e transferiam dinheiro ao parente. Queiroz movimentou 1,2 milhão de reais no banco entre 2016 e 2017, um valor considerado “incompatível com seu patrimônio”.
El País: Cortes e ataques às universidades públicas catalisam mobilização contra Bolsonaro
Mobilização contra reforma da Previdência feita por professores, marcada para a quarta, é engrossada por mal-estar de estudantes nas instituições de ensino e pesquisa
Marina Correa, de 27 anos, com quem Guilhom pesquisa sobre a sustentabilidade dos oceanos, está especialmente preocupada com o desdém presidencial. “As declarações dele (Jair Bolsonaro) prejudicam a nossa credibilidade, ele diz que a ciência não é produtiva, tentando nos afastar ainda mais da sociedade”, explica cercada por faixas com slogans como “O Governo quer derrubar a educação porque ela derruba Governos” ou “os cientistas não existem só nos filmes”.
Jair Messias Bolsonaro, que estudou em uma academia militar nos anos setenta, durante a ditadura, antes de empreender uma longa carreira parlamentar, nunca escondeu que considera as universidades públicas um ninho de vermelhos perigosos e a qualidade da educação, desastrosa. Erradicar o que denomina de “marxismo cultural” e “ideologia de gênero” das salas de aula é uma de suas obsessões.
Foi neste panorama já polarizado que o ministro da Educação, Abraham Weintraubm resolveu usar uma retórica ainda mais belicosa contra as instituições para anunciar os cortes. Foi o que ajudou a tirar as cientistas do laboratório. Foi o ingrediente que faltava para unir o mal-estar no setor, onde os professores de todos os níveis já se mobilizavam contra as mudanças prometidas na reforma da Previdência. Agora, a convocatória nacional da categoria contra alterações nas aposentadorias, prevista para a quarta-feira dia 15, ganhou o reforço da UNE (União Nacional dos Estudantes).
Para além dos chamados das organizações, o chamariz dos protestos se mostra nas redes sociais. Já houve atos maiores e menores em capitais e cidades médias. Universidades e institutos federais afetados pelos cortes também fazem assembleias específicas para aderir ao movimento. A articulação projeta a quarta-feira como um teste importante tanto para o fôlego da mobilização como para a capacidade de reação de Bolsonaro.
Mobilização no exterior
“Balbúrdia” tornou-se o grito de guerra dos afetados porque é o termo que Weintraub usou ao anunciar os cortes: “As universidades que, ao invés de tentar melhorar o desempenho acadêmico, estiverem gerando caos terão seus recursos reduzidos”, alertou em uma entrevista. Diante do calibre da polêmica, Weintraub se explicou em uma cena inesquecível: juntou-se a uma transmissão ao vivo via Facebook de Bolsonaro para explicar didaticamente o impacto dos cortes com uma centena de bombons sobre a mesa. “Não estamos cortando, estamos deixando (uma parte) para comer depois de setembro”, disse.
João Marcelo Borges, diretor de estratégia política do Todos pela Educação, um movimento da sociedade civil, explica que todos os Governos costumam bloquear temporariamente os recursos para que as contas fechem. Mas critica que este seja “um corte linear, sem critério” e sem diálogo com os reitores. Acrescenta que “desde as eleições, vários ministros manifestaram certa oposição à universidade pública com base em percepções ideológicas, precisamos saber se os cortes irão além da crise fiscal”.
O Ministro da Educação @abrahamWeinT estuda descentralizar investimento em faculdades de filosofia e sociologia (humanas). Alunos já matriculados não serão afetados. O objetivo é focar em áreas que gerem retorno imediato ao contribuinte, como: veterinária, engenharia e medicina.
Os quatro longos meses de Bolsonaro na presidência foram particularmente tormentosos no ministério da Educação, palco de uma guerra fratricida entre setores do Governo que levou à queda do ministro original, 15 demissões e semanas de paralisia. O atual ministro, um bolsonarista ideologizado que é economista e professor universitário, anunciou sem grandes detalhes que pretende manter o plano nacional de alfabetização anunciado por seu antecessor e expandir o ensino técnico e profissional. Borges ressalta que o ministro abriu um diálogo com o mundo educacional. “Ainda não temos prioridades claras, mas sim uma mudança de procedimento”, afirma.
Embora o Brasil gaste 6% do PIB em educação, a despesa média por aluno equivale a um terço da média da OCDE (clube de países ricos ao qual o país aspira pertencer) e seus resultados ainda são pobres, apesar das melhorias na última década. Exceto em rincões muito remotos, o problema não é ir à escola, mas aprender. O Banco Mundial calculou que os estudantes brasileiros levarão 260 anos para alcançar a média da OCDE em capacidade de leitura e 75 anos em matemática. Acontece no resto da América Latina e é ainda mais grave na África.
Bolsonaro tem martelado que a obrigação da escola é ensinar a ler, escrever e a ter um ofício que produza benefícios tangíveis. Por isso, recentemente sugeriu em um tuíte que o orçamento dos cursos de Sociologia e Filosofia fosse redirecionado para “áreas que gerem um retorno imediato ao contribuinte: veterinária, engenharia e medicina”.
A sugestão do presidente de deixar de investir no ensino de sociologia e filosofia foi rapidamente respondida também do exterior. Cerca de 800 instituições de todo o mundo assinaram uma carta aberta, uma iniciativa de dois estudantes de Harvard, em favor da manutenção do financiamento para ambas as disciplinas. Um dos signatários, a professora Jocelyn Viternam, explicou ao diário estudantil Harvard Crimson que “quando os partidos tentam limitar a criação e o desenvolvimento de conhecimentos sobre o poder, a desigualdade e a sociedade, é para se preocupar”.
Quando durante a campanha Bolsonaro propôs, como grande solução, o ensino à distância, elogiou que os jovens chineses, japonesas e israelenses soubessem equações químicas, fazer uma integral, uma derivada... e zombou do que interpreta como pensamento crítico, “Enquanto isso, nosso menino tem pensamento critico. Está decidindo se é homem ou mulher, que é a grande questão de sua vida, além da militância política”.
El País: Um Exército com mais de 1.000 generais a serviço do chavismo
Com 123.000 membros, Força Armada Bolivariana foi reformada por Chávez para exercer controle social
O Exército da Venezuela desempenha nos últimos dias um papel decisivo na crise política do país. O chamado à mobilização dos militares feito na terça-feira passada pelo presidente interino Juan Guaidó depois da libertação do político oposicionista Leopoldo López pôs em evidência as discrepâncias dentro das Forças Armadas, uma instituição que tradicionalmente manteve estreitos laços com o Governo venezuelano e que, apesar dos esforços de modernização da etapa chavista, sofreu nos últimos anos as consequências da crise econômica que assola o país.O Exército tem 123.000 membros, aproximadamente o mesmo contingente que a Espanha, quase um terço que o Brasil — o maior da região com 334.500 soldados — e menos de uma décima parte que dos EUA (1.359.450), segundo cifras do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês). Cerca de 100.000 militares venezuelanos estão incorporados ao Exército, à Marinha e à Aeronáutica.
Os 23.000 restantes formam a Guarda Nacional Bolivariana (polícia militar).Mas há dúvidas sobre o real contingente de paramilitares do regime. O Governo chavista cifra em dois milhões os membros da Tropa Bolivariana, um corpo composto por civis e militares da reserva. O IISS calcula que mal superem 200.000, e Rocío San Miguel, especialista militar venezuelana, acredita que não passem de 20.000 os que realmente têm a formação necessária para combater. “Muitos são funcionários públicos. A maioria nunca disparou um só tiro. A inscrição é o único requisito, e fazê-lo é uma maneira rápida de entrar na máquina do regime”, argumenta San Miguel, que preside a ONG Controle Cidadão.Também têm natureza paramilitar o Serviço de Inteligência Bolivariano (SEBIN), que é a polícia política do chavismo, e as Forças Especiais da Polícia (FAES), um órgão criado em 2016 e responsável por parte da violência exercida sobre os opositores.
A transformação
A irrupção do chavismo, em 1999, foi acompanhada de uma profunda renovação das Forças Armadas. "Transformaram-se em fiadores da revolução", comenta San Miguel por telefone, de Caracas. A transformação se acelerou em 2006 com o embargo armamentista imposto pelos EUA, até então seu principal fornecedor de armas, junto à Itália e o Reino Unido. O bloqueio de Washington forçou Hugo Chávez a procurar na Rússia seu novo sócio estratégico. Com o preço do petróleo disparando, o mandatário lançou essa relação bilateral com acordos multimilionários para a compra de armamentos.De fabricação russa são os aviões de combate mais sofisticados (Su-30) do Exército venezuelano, e os sistemas de defesa antiaérea (S-300) e a maioria de seus tanques e helicópteros. Em 2006, frente à necessidade de expandir uma indústria armamentista quase inexistente, decidiu-se com Moscou a instalação de uma fábrica Kalashnikov na Venezuela, cujo planejamento foi adiado inúmeras vezes em meio a suspeita de malversação de recursos. O Executivo de Vladimir Putin enviou há algumas semanas uma centena de soldados “especialistas” à Venezuela, embora nunca se tenha esclarecido o que estão fazendo no país.Depois de consolidar a relação militar com Moscou, Caracas começou a estreitar laços com Pequim. O Exército chinês participou — como o russo e o cubano — de manobras militares realizadas em território venezuelano. Depois que a Espanha suspendeu a venda de material antimotins a Caracas em 2014, milhares de capacetes, coletes à prova de balas e bombas de gás lacrimogêneo fabricados na China chegaram à Venezuela. De lá o regime importou também lança-foguetes, torpedos e aeronaves de transporte, treinamento e combate ligeiro.
Outros aliados
Belarus, Irã e Turquia são outros aliados da Venezuela de menor importância estratégica. Dezenas de cadetes venezuelanos se graduaram na Academia Militar de Minsk, e o regime chavista comprou de Alexander Lukashenko óculos de visão noturna e miras a laser. Teerã forneceu drones, além de anunciar em dezembro a intenção de enviar neste ano um navio de guerra às costas venezuelanas. Durante sua visita a Caracas em dezembro passado, o mandatário turco, Recep Tayyip Erdogan, destacou os avanços na cooperação militar entre ambos os países, embora sem nenhum anúncio concreto até o momento.A crise econômica decorrente da queda do preço do petróleo afetou a capacidade do Governo de sustentar seu gasto em armamento. Segundo dados do Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI), o país não importou nenhuma arma nos últimos dois anos. Mas a situação do Exército nem sempre foi tão precária. Um relatório do instituto publicado em abril sobre o papel do Exército na Venezuela afirma que desde 1958 as Forças Armadas negociaram seu apoio ao Governo em troca de "dinheiro, poder e prestígio".
A Administração de Hugo Chávez (1999-2013) fortaleceu sua posição. O presidente levou militares a cargos graduados no Governo e lançou programas que permitiram a modernização de seu armamento. O gasto militar nesse período alcançou seu nível máximo, e em 2006 chegou a superar o do Brasil. O artigo 328 da Constituição da República Bolivariana da Venezuela, aprovada em 1999, atribuiu aos militares “a manutenção da ordem interna e a participação ativa no desenvolvimento nacional”. Também o artigo 236 concedeu a Chávez o direito a aprovar a promoção de coronéis e capitães, o que na prática serviu para expurgar dissidentes e promover oficiais leais, muitos dos quais acabaram em posições importantes em empresas estatais. Segundo dados da Transparência Venezuela citados no relatório, 60 das 576 empresas públicas são dirigidas por militares. Essa militarização do Governo continuou com Maduro, e em janeiro deste ano, antes da remodelação ministerial realizada por causa da crise política, 9 das 32 pastas do Gabinete eram dirigidas por oficiais.
Uma cúpula maior do que toda a da OTAN
Outra das peculiaridades de suas Forças Armadas é sua enorme cúpula, com mais de mil generais e almirantes, mais do que toda a OTAN. San Miguel diz que a maioria deles chegou à principal patente na última década, e que muitos têm pouco mais de 50 anos. A especialista também afirma que apesar da corrupção estendida entre a cúpula militar, ela não chega a todos do alto escalão.O pedido à mobilização do Exército na terça-feira colocou à prova a força da instituição. “Há uma divisão entre os oficiais de alto escalão e os soldados rasos. A maioria dos oficiais de alto escalão apoia Maduro, enquanto cresce o número de soldados que estão do lado de Guaidó”, diz o pesquisador do SIPRI Nan Tian. “Evidentemente, existem os que são leais a Maduro e isso tem a ver com o fato de que cometeram crimes (frequentemente violações de direitos humanos) e, portanto, se Maduro perder o poder, serão processados”, diz por e-mail.Justamente para conseguir o apoio desses militares, a Assembleia da Venezuela redigiu em janeiro uma lei de anistia para militares e civis chavistas que colaborarem no “restabelecimento da ordem constitucional”.“Os militares exerceram o papel de agentes de uma política de repressão onde o uso excessivo da força foi a norma e causou mortes”, afirma a diretora para as Américas da Anistia Internacional, Erika Guevara-Rosas, que se refere também à função social do Exército. A Guarda Nacional é a encarregada de distribuir comida subsidiada. “Isso funcionou como um controle social, os alimentos são destinados a quem o Governo escolher”.
El País: Os primeiros efeitos da asfixia financeira de Bolsonaro sobre as ciências do Brasil
Governo bloqueou dinheiro de pesquisas e universidades para se adequar a teto de gastos. Várias instituições preveem faltar verba para água e luz e se queixam de movimento anticiência
Primeiro a universidade não poderá pagar água e energia. Depois os contratos de prestação de serviços (como limpeza e segurança) deixarão de ser cumpridos. Em seguida, o restaurante universitário ficará sem recursos. Programas de assistência a estudantes pobres também estão ameaçados. E se a medida não for revista, o corte comprometerá as atividades da universidade já no segundo semestre deste ano. Este é um resumo dos primeiros efeitos da asfixia financeira de Bolsonaro na educação e ciências do Brasil, divulgado por várias instituições, como a Universidade Federal do Paraná (UFPR), que teve bloqueio de 30% de suas verbas de custeio, em 48 milhões de reais. A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que teve suspensão de 41% das verbas destinadas à manutenção, no valor de 114 milhões de reais, apontou ainda o bloqueio de recursos para investimentos que impede o desenvolvimento de obras e compra de equipamentos para laboratórios e hospitais. "Há cinco anos a Universidade vem sofrendo cortes e contingenciamentos sem reposição. Em valores corrigidos, a diferença entre o orçamento de 2014 e o de 2019 é superior a 200 milhões de reais", informou a UFRJ.
A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) também se manifestou: “Não há eficiência administrativa que supere um corte de tamanho monte, principalmente diante das sucessivas restrições orçamentárias dos últimos anos”, afirmou a reitora Sandra Regina Goulart Almeida, em comunicado. "A medida poderá provocar ainda a descontinuidade de contratos com empresas terceirizadas, o que elevará também mais as aviltantes taxas de desemprego do Estado de Minas Gerais e do país."
Quando em 29 de março, o Governo Federal publicou o decreto Nº 9.741, informando o congelamento de 29,6 bilhões de reais de recursos da União, com o objetivo de adequar as contas à Lei de Responsabilidade Fiscal, e às metas de resultado primário e teto de gastos, não estava claro quais seriam os efeitos práticos dessa medida na área de educação e ciência. Com os cortes, o Ministério das Ciências e Tecnologias (MCTIC) perdeu 41,9% dos recursos. Dos cerca de 5,079 bilhões de reais previstos para o órgão, foram bloqueados 2,132 bilhões de reais. E do orçamento da Educação, de 149 bilhões de reais, 5,8 bilhões em despesas não obrigatórias foram contingenciadas por este decreto.
O Ministério da Economia recuou e descongelou cerca de 3,6 bilhões de reais para atender urgências de cinco ministérios. Pelo decreto, publicado no Diário Oficial, na quinta-feira, 2 de maio, o MCTIC conseguiu recuperar 300 milhões de reais em verbas. Outras pastas que também recuperaram recursos foram Infraestrutura, Desenvolvimento Regional, Cidadania, e Mulher e Direitos Humanos. Mas o MEC sofreu um aperto nas contas de 1,6 bilhão de reais.
O desmonte da ciência nacional é assunto de publicações estrangeiras especializadas como Nature, Science e SciDev.Net
Trabalhar em situação de escassez de recursos, no entanto, sempre foi visto como regra entre pesquisadores brasileiros, exceção era ter dinheiro. “Terminei meu doutorado e vim para Federal de Goiás, em 1994. Sempre foi difícil. Nunca tivemos muitos recursos”, afirma o professor José Alexandre Felizola Diniz Filho, da Universidade Federal de Goiás (UFG), um dos pioneiros na pesquisa de evolução e ecologia no país.
Os anos de bonança econômica, especialmente no segundo Governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e primeiro Governo de Dilma Rousseff,chegaram a quebrar essa lógica. “A área de ciência e tecnologia cresceu, formamos milhares de doutores. Mas agora entramos em crise econômica novamente”, afirma Diniz.
Desta vez, uma movimentação tem preocupado os pesquisadores tanto quanto a falta de recursos. “Temos um movimento anticiência, paralelo à crise econômica, que é global e está no Brasil”, afirma Diniz, que pesquisa evolução e mudança climática, dois temas que estão na pauta de discussão dos criacionistas e negacionistas.
Esther Colombini, professora do Instituto de Computação da Unicamp e diretora de Competições Científicas da Sociedade Brasileira de Computação, também sentiu a mudança de percepção em relação à valorização da educação. “Trabalhamos muito além do nosso expediente normal para alavancar a ciência e inovação – agora somos tratados como o problema e não como o que ainda funciona na esfera pública. Porque é claro que a universidade pública tem problema, mas é de longe uma das poucas coisas que realmente funciona. O que me desanima é as pessoas não enxergarem o que é a universidade, tratando-a como inimiga do povo”.
O Ministério da Educação, no entanto, informou por meio de nota que o critério utilizado para o bloqueio de recursos foi "operacional, técnico e isonômico para todas as universidades e institutos", em decorrência do decreto n° 9.741. O MEC disse ainda que estuda aplicar outros critérios como o desempenho acadêmico das universidades e o impacto dos cursos oferecidos no mercado de trabalho para definir o orçamento. "O maior objetivo é gerar profissionais capacitados e preparados para a realidade do país", argumentou a pasta, em nota.
Crise nas universidades
As universidades foram avisadas pelo MEC nesta semana sobre o contingenciamentos. A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) informou que, além do bloqueio orçamentário, existe restrição imposta pelo limite de movimentação de empenho, de 90% para as despesas de investimento e de 60% para os recursos de custeio, o que pode afetar inclusive o Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes), que apoia a permanência de estudantes de baixa renda na universidade. "No momento, as atividades não estão diretamente comprometidas e a universidade continuará funcionando. No entanto, serão necessárias ações de contingência", afirmou a Unifesp em nota.
“Claro que a universidade pública tem problema, mas é de longe uma das poucas coisas que funciona no Brasil”, disse Esther Colombini, da Unicamp
Já pesquisadores bolsistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) receberam em 15 de abril um e-mail suspendendo recursos já aprovados. A crise já era vislumbrada desde a definição de orçamento de 2018. O próprio presidente do CNPq à época, Mario Neto Borges, chegou a divulgar uma carta aberta à sociedade alertando dos riscos dos cortes ao desenvolvimento científico do país. “Se, em 2018, o CNPq pôde contar com recursos da ordem de 1,2 bilhão de reais, em 2019 a previsão de 800 milhões de reais poderá limitar ações diversas como o lançamento de editais de pesquisa, contratações de novos projetos e outras iniciativas”, afirmava.
O decreto de Bolsonaro transformou a previsão pessimista do ex-presidente do CNPq em profecia. O órgão não só teve que congelar bolsas já concedidas, como informou que o edital para a chamada universal de 2019, que contempla recursos para pesquisas em diversas área do conhecimento, está suspenso.
O desmonte da ciência nacional acabou virando assuntos de publicações estrangeiras especializadas como Nature, Science e SciDev.Net. E o próprio ministro da pasta, o astronauta Marcos Pontes, veio à público defender o desbloqueio de recursos do orçamento determinado pelo Ministério da Economia. "O orçamento é incoerente com a importância do setor para o desenvolvimento nacional. Recursos para ciência e tecnologia não são gastos, são investimentos. Todos os países desenvolvidos, quando estão em crise, investem mais no setor”, afirmou o ministro, em audiência no Senado.
Pontes trabalha para recompor o orçamento para que todos os compromissos possam ser cumpridos até o final do ano, informou o CNPq em nota. “O Ministério está empenhado nesse esforço junto às áreas competentes do Governo Federal.” Já obteve uma vitória, com o descongelamento parcial de verbas. Paralelamente, seu colega da pasta da educação, Abraham Weintraub, lida com uma crise particular ao ter seu histórico escolar completo do curso de Economia na Universidade de São Paulo (USP) —que inclui disciplinas em que foi reprovado— vazado nas redes sociais vazado. Para responder à violação de sua privacidade, Weintraub divulgou um vídeo nas redes em que justificava as baixas notas por problemas pessoais ocorrido em seus primeiros anos como estudante. Nada sobre a crise no orçamento.
El País: Rejeitado por museu, prefeito e patrocinadores, Bolsonaro desiste de viagem a Nova York
Presidente participaria de um jantar de gala em sua homenagem promovido pela Câmara de Comércio Brasil-EUA. Banco do Brasil iria fazer aporte
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) cancelou sua ida a Nova York para participar de um jantar de gala promovido pela Câmara de Comércio Brasil-EUA em sua homenagem no dia 14 de maio, segundo confirmou o porta-voz da presidência Otávio Santana do Rêgo Barros. O ultraconservador foi escolhido Personalidade do Ano de 2019, mas sua ida enfrentou uma série de resistências. A primeira foi do Museu de História Natural, que se recusou a sediar o evento após a pressão de ativistas, de políticos e da sociedade civil norte-americana.
A pressão se dirigiu então aos patrocinadores e ao hotel New York Marriott Maquis, que concordou em receber a cerimônia. O senador democrata Brad Hoylman, representante da comunidade LGBTQ, criou um abaixo assinado pedindo pelo cancelamento do evento e mandou uma carta para o hotel pedindo a mesma coisa. "Normalizar um presidente anti-LGBTQ que quer ativamente causar danos - e inclusive matar - a população LGBTQ não reflete os valores de Nova York. Ponto", disse em um tuíte.
A campanha contra Bolsonaro foi referendada pelo prefeito de Nova York, o democrata Bill de Blasio, que em uma entrevista em abril a uma rádio chamou Bolsonaro de racista, homofóbico e destrutivo. Disse também que o presidente não era bem-vindo na cidade.
By sponsoring an event honoring a homophobe as Man of the Year, @Citi is making their values clear--but maybe not in the way they intended.
Normalizing an anti-LGBTQ president who wants to actively harm – and even kill – LGBTQ people does not reflect New York values. Period.
Ryan Ruggiero
✔@RyanRuggiero
CNBC EXCLUSIVE: @Citi CEO responds to sponsoring an event honoring Brazil’s President Jair Bolsonaro who has been vocal in his opposition to LGBT rights. Michael Corbat says: “We spend a lot of time making sure our people understand the values of our company” Watch:
A pressão fez com a companhia aérea Delta, a consultoria Bain & Company e o jornal Financial Times retirassem o patrocínio da festa. Em entrevista a CNN, a consultoria disse que a decisão se baseou no princípio "essencial" de "celebrar a diversidade" da empresa. Segundo revelou o jornal Folha de S. Paulo, o Banco do Brasil havia concordado em pagar mais de 47.000 reais para ter uma mesa com 10 lugares no jantar de gala. O consulado-geral do Brasil em Nova York concordou em ajudar a financiar a cerimônia, que tem por objetivo arrecadar fundos para fazer lobby para empresas brasileiras e americanas nos EUA. Entre os patrocinadores também estão bancos como os brasileiros Itaú e Bradesco, além da Merrill Lynch, Credit Suisse, Morgan Stanley, Citigroup e HSBC.
Contudo, a pressão de grupos de ativistas, principalmente os ligados às causas LGTBQ e ambientais, que prometiam realizar atos diários até o dia 14 para constranger os patrocinadores, foi mais forte. "Em face da resistência e dos ataques deliberados do prefeito de Nova York e da pressão de grupos de interesses sobre as instituições que organizam, patrocinam e acolhem em suas instalações o evento anualmente, ficou caracterizada a ideologização da atividade", disse Rego Barros na nota. "Em função disso, e consultados vários setores do governo, o presidente Bolsonaro decidiu pelo cancelamento da ida a essa cerimônia e da agenda prevista para Miami", acrescentou o porta-voz, em referência a viagem que faria até a Flórida no dia seguinte para se encontrar com parlamentares republicanos, entre eles o senador Marco Rubio, um dos principais opositores norte-americanos ao regime de Nicolás Maduro.
El País: Ato pelo 1º de Maio une contra nova Previdência centrais sindicais adversárias
Bolsonaro "conseguiu a proeza de unir a oposição", diz Guilherme Boulos. Paulinho da Força afirma que o centrão da Câmara discute uma reforma "que não garanta a reeleição de Bolsonaro" em 2022
A proposta de reforma da Previdência do presidente Jair Bolsonaro e a alta taxa de desemprego no país conseguiram algo que para muitos parecia impossível. Unir, em um mesmo ato do Dia do Trabalhador, dez centrais sindicais, dentre elas as por vezes antagônicas Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Força Sindical. Foi a primeira vez que as duas realizaram as comemorações do 1º de maio juntas. Dividiam o palco, montado no vale do Anhangabaú, na região central de São Paulo, o ex-candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, lideranças do PSOL, PDT, e o deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade-SP), que votou pelo impeachment da então presidenta Dilma Rousseff e até recentemente era chamado de "golpista" pelos simpatizantes da petista. Foi um raro momento de unidade da esquerda, todos "em defesa dos direitos dos trabalhadores e da Previdência", afirmou Haddad.
Além da reforma da Previdência, a luta contra o desemprego —que alcança 13,4 milhões de brasileiros— foi outra das bandeiras levantadas no ato. "Quem tem um parente desempregado ou está sem trabalhar, levanta a mão", gritou um líder sindicalista. No meio do público, milhares ergueram os braços. Marcelo Caetano de Souza, 43, foi um deles. "Eu era marceneiro, mas perdi o emprego três anos atrás, no final do Governo Dilma, e desde então não consegui mais me recolocar no mercado", afirma. Hoje faz bico de ambulante. "A reforma será péssima. Vai afetar especialmente os mais pobres".
O primeiro grande teste desta coalizão intersindical e pluripartidária será em 14 de junho, data para a qual foi convocada nesta quarta-feira uma greve geral em todo o país. Ainda é cedo para prever se haverá adesão massiva à convocatória, o que em tese colocaria pressão nos congressistas que discutem a reforma em Brasília. Representantes do sindicato dos metroviários de São Paulo, que tem potencial para parar a cidade, sinalizaram que devem aderir. "Dia 14 não terá trem, metrô nem ônibus", disseram, para a multidão que lotou o vale do Anhangabaú.
Considerado um estranho no ninho no evento, o deputado Paulinho da Força afirmou que o bloco conhecido como centrão da Câmara está discutindo a necessidade de "fazer uma reforma que não garanta a reeleição de Bolsonaro". Segundo o parlamentar, a economia para os caixas públicos prometida pelo presidente caso a reforma seja aprovada da maneira como está garantiria um segundo mandato ao capitão. "Nos últimos três anos de mandato ele teria 240 bilhões de reais para gastar [por ano], ou seja, garantiu a reeleição", afirmou.
Enquanto Paulinho está de olho em barrar Bolsonaro em 2022, Maria Creusa, 64, tem uma preocupação mais imediata. Ao lado do pequeno Hércules, de 11 anos, ela explica o que a levou ao Anhangabaú. "Eu consegui me aposentar aos 60. Tive sorte. Com essa reforma eu ainda teria que trabalhar pelo menos mais quatro anos para isso. Vim para a rua porque sinto que a aposentadoria e o futuro do meu neto estão em perigo. Isso para não falar da educação, que está sendo sucateada pelo Governo", afirmou.
Uma ausência notada no ato foi a do candidato do PDT à presidência, Ciro Gomes. Indagado sobre o fato, Haddad, que em entrevista ao EL PAÍS não disfarçou o mal-estar entre o pedetista e ele após o primeiro turno das eleições, minimizou o não comparecimento: "O Lupi [Carlos Lupi, presidente do PDT] está aqui, as centrais também estão aqui todas. Mas nem todos os presidenciáveis estão aqui. Marina não está, Ciro não está". Em seguida, disse que não comentaria a falta de Ciro. Lupi, por sua vez, afirmou que o ex-governador do Ceará "achou oportuno não ir ao ato, que é dos trabalhadores e sindicatos, para não parecer eleitoreiro".
Com ou sem Ciro, uma frente de esquerda para enfrentar a reforma esbarra em uma série de problemas. A professora Nadine Marques, 32, elogiou a união das centrais sindicais. "É fundamental nessa hora", disse. Mas criticou o que chama de uma "esquerda arcaica, que se nega a enxergar os absurdos que o presidente Nicolás Maduro faz na Venezuela e continua a defendê-lo". Indagado sobre isso, Haddad se limitou a dizer que "a esquerda é a favor da auto determinação dos povos e contra a ingerência de países estrangeiros".
Guilherme Boulos, liderança do MTST e ex-candidato à Presidência pelo PSOL, chamou a unidade entre as centrais sindicais e movimentos sociais como a Frente Povo Sem Medo de "histórica" e "improvável". "O Bolsonaro conseguiu a proeza de unir a oposição e as diferentes centrais. Apesar das diferenças entre elas, todos perceberam que é hora de trabalhar junto para derrubar esta reforma", afirmou.
O presidente da CUT, Vagner Freitas, reconheceu de forma velada que além das pautas em comum, a falta de verba decorrente do fim da contribuição sindical obrigatória, aprovado em 2017, também teria aproximado as centrais. "Muita gente estava torcendo contra [a união entre as entidades], o presidente disse que o ato seria esvaziado porque os sindicatos estavam quebrados. Se estamos quebrados ou não, não sei, mas que estamos com muita vontade de luta, isso é um fato", disse.
Eliane Brum: O “mártir” governa
Quem aponta “paralisia” na antipresidência de Bolsonaro está cego – ou se faz de cego – para a velocidade assombrosa da implantação do projeto autoritário
Olavo de Carvalho, o guru do antipresidente Jair Bolsonaro, segue apostando na estratégia de falsificar a realidade para criar realidades. Desde que seu mais famoso olavete assumiu a presidência, o escritor tem tentado plantar a mentira de que Bolsonaro estaria sendo impedido de governar. São várias as afirmações neste sentido ao longo dos mais de 100 dias do Governo. Em vídeo divulgado no canal de Bolsonaro no YouTube, no final de semana, o guru repetiu mais uma vez seu repisado mantra: “Bolsonaro é um mártir”.
Explicou: “Obviamente ele é um homem bem intencionado, limpo, ele quer fazer as coisas direito, mas como é possível com essa turma em volta?”. Em seguida atacou os militares e os “novos” políticos, em seguida o vídeo foi apagado “por pressão da ala militar”, em seguida o porta-voz de Bolsonaro fez uma declaração afagando seu guru por um lado, criticando-o por outro, em seguida o filho zerodois, que obviamente é a voz do pai nas redes sociais, disse o contrário... E lá se foi o Brasil discutir o Governo da situação e o Governo da oposição, a ala militar, supostamente a menos ideológica, e a ala “olavista”, supostamente a mais ideológica, com particular atenção para o romance caliente entre o vice Hamilton Mourão e o filho zerodois, até agora entre tapas e nenhum beijo.
O general da ativa Otávio Santana do Rêgo Barros, coitado, parece cada vez menos um porta-voz de presidente e cada vez mais uma espécie de louro José de Bolsonaro. Aos 58 anos, uma carreira militar exitosa, e vai dizendo coisas assim: "De uma vez por todas o presidente gostaria de deixar claro o seguinte: quanto a seus filhos, em particular o Carlos, o presidente enfatiza que ele sempre estará a seu lado. O filho foi um dos grandes responsáveis pela vitória nas urnas, contra tudo e contra todos". Sério. Enquanto o novelão se desenrola, capturando e desviando a atenção do país, o “mártir” governa. E como governa. O projeto autoritário que Bolsonaro representa avança a cada dia sobre o Brasil com velocidade assombrosa.
Os milhares de indígenas que desde 2004 ocupam Brasília em abril para o Acampamento Terra Livre, uma tradição que Bolsonaro chamou de “encontrão de índios”, neste ano estão sendo “recepcionados” pela Força Nacional. O Mártir decidiu com seu general favorito, Augusto Heleno. Seu ministro de estimação, Sergio Moro, assinou. Por 33 dias a Praça dos Três Poderes e a Esplanada dos Ministérios serão defendidas do povo por uma força especial. Mas o Brasil continua sendo uma democracia.
O Mártir quer abrir as terras indígenas para soja, gado, mineração e grandes obras. Em vez de floresta amazônica um lindo pasto, uma soja a perder de vista, uma ferrovia gigante, uma cratera de mineração ainda mais fabulosa, com artísticas montanhas de resíduos tóxicos como legado para a posteridade. O planeta agradece e frita como resposta, mas aquecimento global, segundo o chanceler do Mártir, é “complô marxista”. Para os sábios do governo do Mártir, qualquer pessoa sensata pode perceber que o clima está como sempre foi, o Rio de Janeiro que o diga. Por isso Ricardo Salles, aquele que atende pelo nome de ministro do Meio Ambiente, mal entrou e já foi extinguindo a Secretaria de Mudanças do Clima e Florestas. Não precisa, né? Ele também já explicou de cara que “a discussão sobre aquecimento global é secundária”. Isso com os cientistas mais importantes do mundo afirmando que temos apenas 11 anos para tentar impedir que o planeta aqueça mais de 1,5 graus Celsius. Mas o Brasil segue sendo uma democracia.
Porque é muito magnânimo, o Mártir assegurou aos indígenas que eles são humanos como ele
Na semana passada, o Mártir promoveu um encontro transmitido em uma “live” nas redes sociais, com indígenas escolhidos a dedo, onde assegurou, mais uma vez, que eles são humanos como ele. “Com todo o respeito, alguns querem que vocês fiquem na terra indígena como se fossem um animal pré-histórico. Não é pré-histórico não, vocês são seres humanos. Na minha cabeça tem exatamente o que tem na tua cabeça, o teu coração é igual ao meu coração”, garantiu. Aparentemente os indígenas tinham dúvidas sobre se eram humanos ou não até o Mártir, magnânimo como todo Mártir, esclarecer.
Antes do início da “live”, os indígenas foram orientados a “evitar usar a palavra garimpo e usar mineração”, palavra muito mais palatável para os propósitos de derrubar a floresta para explorar o subsolo. Os escolhidos foram apresentados como lideranças, mas o povo yanomami já enviou uma carta avisando que o indígena que apareceu por lá não representa nenhuma comunidade. Da boca do Mártir só saíram pérolas. Como esta: “Por exemplo. Tem uma terra indígena aí que possa fazer uma usina hidrelétrica. Se vocês concordarem, é coisa rápida! A decisão tem que ser de vocês, sem intermediários. (...) Não tem problema nenhum. Faz o negócio, faz o preço, faz seguro. E toca o barco. (...) Vocês têm bastante terra. Vamos usar essa terra. (...) Nós queremos a liberdade de vocês”. No meio da conversa, lembrou : “Tem que mexer em leis, lógico, vai depender do parlamento, a gente vai buscar leis para mudar isso aí”. “Isso aí” é a Constituição. Mas o Brasil continua sendo uma democracia.
Com um canetaço, o Mártir decidiu deletar centenas de conselhos sociais com participação popular. Estes conselhos – formados por representantes da gestão e representantes da sociedade civil, gente com experiência nas respectivas áreas, entidades com atuação reconhecida – acompanhavam, debatiam e influenciavam as políticas públicas. São especialmente importantes em áreas invisibilizadas, como as relacionadas à população de rua, indígenas e LGBTI. Sem serem remunerados para isso, os conselheiros só recebiam transporte e diária. Eram a voz da sociedade no Governo. E a voz da sociedade foi silenciada. Mas o Brasil continua sendo uma democracia.
A reforma da Previdência é apresentada como a salvação do país. Tudo indica que o Armageddon pode ser antecipado caso a reforma não for aprovada. Mas quando é exigido que o Governo apresente os dados técnicos em que se baseou para construir a proposta levada ao legislativo, o Mártir, pelas mãos do Posto Ipiranga Paulo Guedes, decreta sigilo sobre o material até a aprovação. A lei altera a vida de todos os brasileiros, mas aos brasileiros é negado o direito de conhecer as informações que poderiam justificar a lei. São informações públicas, obtidas por funcionários públicos com dinheiro público, mas o Mártir determinou que nem os legisladores nem o povo podem vê-las. Aprova primeiro, prova depois. Mas o Brasil continua sendo uma democracia.
A indústria da pesca tem despachado centenas de animais aquáticos para a lista de ameaçados de extinção. Mas a lista está atrapalhando os lucros das companhias pesqueiras, que não podem destruir livremente. Como então resolver o problema? Tereza Cristina, a ministra da Agricultura do Mártir, pediu ao seu office-boy, Ricardo Salles, que atende pelo nome de ministro do Meio Ambiente, que desse um fim na lista. Simples assim. Deste modo, os animais poderão ser extintos sem qualquer “entrave burocrático” atrapalhando o “setor produtivo”. Mas não podemos esquecer que o agronegócio brasileiro é “moderno” e preocupado com a perda da biodiversidade e com a crise climática. Nem podemos esquecer que o Brasil continua sendo uma democracia.
Como se preocupa muito com a Amazônia, o Mártir prefere punir os funcionários do IBAMA aos criminosos que desmatam a floresta
Em vídeo, o Mártir desautorizou a operação do IBAMA que queimou caminhões e tratores de criminosos que atuavam no desmatamento da floresta amazônica, numa unidade de conservação no estado de Rondônia. Com sua precisão habitual, afirmou que “não é esse o procedimento, não é essa a orientação”. Avisou também que o office-boy de Tereza Cristina já tinha aberto “procedimento administrativo” para verificar os responsáveis. No caso, os responsáveis pelo cumprimento da lei, não os responsáveis por destruir a floresta, já que para o Mártir, trator é mais importante que árvore. A lei permite sim a destruição de equipamentos, maquinário e veículos, em casos específicos e se for impossível retirá-los do local durante fiscalização ambiental. Mas como o Mártir acredita que ele é a lei, colocou os funcionários do IBAMA em risco de morte ao expô-los em área de alta tensão. Mas o Brasil continua sendo uma democracia.
Antes de assumir o Governo, o Mártir quis extinguir o Ministério do Meio Ambiente, mas o anúncio causou muita repercussão negativa fora e dentro do país. Logo o Mártir descobriu que, para abrir as áreas protegidas para o agronegócio e a mineração, melhor do que extinguir o ministério seria colocar um homem da estirpe de Ricardo Salles no comando. Ele trazia para o Governo o currículo perfeito. Quando era secretário do Meio Ambiente do Governo de São Paulo, na gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), Salles já tinha sido condenado por improbidade administrativa por favorecer, entre outros interesses, o de mineradoras. Também já tinha tentado se eleger deputado federal financiado pela indústria de armas e empresários do agronegócio. Com essa folha corrida de serviços prestados à desproteção ambiental, era o office boy ideal para Tereza Cristina, a ministra da Agricultura. Salles não decepcionou. Antes mesmo de o Governo completar 100 dias, ele já prestou serviço ao Mártir: exonerou José Augusto Morelli, o fiscal do Ibama que, em 2012, autuou Bolsonaro, então deputado, por pesca ilegal. Uma foto mostra o Mártir faceiro de sunga branca pescando numa estação ecológica, mas ele jura que estava no aeroporto naquele momento. Recentemente, Ricardo Salles decidiu punir também os funcionários do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade que não compareceram a uma reunião que fez com parlamentares ligados ao agronegócio, arbitrariedade que levou o presidente do ICMBIO a pedir demissão. Mas o Brasil segue sendo uma democracia.
O Brasil segue sendo uma democracia especialmente porque tem “instituições fortes”, capazes de manter aquele famoso sistema “dos pesos e contrapesos”. Foi o que provou o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli. Disposto a superar Gilmar Mendes na missão de ridicularizar a mais alta corte do país, tarefa na qual tem se mostrado competente, Toffoli decidiu pedir ao colega Alexandre de Moraes, outra sumidade, que censurasse a revista Crusoé e o site O Antagonista, retirando do ar reportagens e notas que mencionavam um documento em que o empreiteiro condenado pela Operação Lava Jato, Marcelo Odebrecht, referia-se a Toffoli como “amigo do amigo do meu pai”. Devido à reação, Moraes voltou atrás dias depois. Graças à sanha autoritária, porém, Toffoli conseguiu tornar-se “amigo do amigo do meu pai” para sempre, e o Supremo teve sua imagem ainda mais corroída. Fato que muito alegrou o Mártir, cujo garoto zerotrês já havia dito em 2018 que, para “fechar o Supremo”, não precisava “nem jipe”, bastava “um soldado e um cabo”. Tão contente ficou que até defendeu a imprensa que ataca todos os dias, colocando jornalistas em risco ao açular seus seguidores contra eles. O Mártir pode achar agora que nem de um soldado e um cabo precisa, basta o “amigo do amigo do meu pai”. Mas o Brasil segue sendo uma democracia.
E como o Brasil segue sendo uma democracia, o mesmo “amigo do amigo do meu pai” Dias Toffoli também continua com um inquérito aberto por ele mesmo, a pedido de si mesmo, numa relação de si para si, que investiga a publicação de ofensas e notícias falsas contra ministros do STF, bloqueando contas de redes sociais, invadindo casas de pessoas e tomando computadores dos outros. Toffoli consumou a façanha de converter o STF em vítima, investigador e juiz, tudo ao mesmo tempo, como explicam juristas. E tudo no mais restrito respeito à lei e às liberdades democráticas, porque o Brasil, como se sabe, segue sendo uma democracia.
O filho zerotrês, que também é deputado federal, não gosta apenas de ameaçar fechar o Supremo. Como diz o Mártir, pai orgulhoso de seus “garotos”, (embora sobre zeroum ande meio calado), ele também “gosta muito de viajar”. Por isso andou pela Itália e Hungria na semana passada. Contou numa rede social que aprendeu muito com o presidente de extrema direita Viktor Orbán, especialmente “no trato da imprensa sem o politicamente correto”. Orbán construiu uma imprensa formada majoritariamente por aliados, transformando grande parte da mídia independente em porta-voz do governo. Ou seja: a liberdade de imprensa na Hungria é uma ficção e o Governo autoritário tem controle sobre a divulgação das informações. Orbán também criou uma corte paralela, sob o controle do seu ministro da Justiça, que, vejam só que conveniente, lida com questões como eleições, corrupção e direito a manifestações. O Governo do Mártir tem dois chanceleres, um deles é zerotrês, sem oficialidade no cargo mas com muita efetividade na prática, um garoto que gosta muito de viajar para conhecer a democracia de países como a Hungria.
Porque o Brasil é uma democracia, os eleitores do Mártir têm toda a liberdade para afirmar que foram “enganados”, como muitos, cada vez mais, têm afirmado. Nesta semana mesmo, ouvi de um evangélico: “Ele mentiu! Ele enganou o pastor. Ninguém sabia que ele ia fazer isso”. E, quem tem apreço pelos fatos, precisa defender até mesmo o Mártir. Ele não mentiu. Bolsonaro não cometeu estelionato eleitoral. Está sendo exatamente o que sempre foi, fazendo exatamente o que disse que faria. Com método e com velocidade.
A “paralisia” do Governo por conta das “crises” provocadas por Bolsonaro e sua corte, apontada por alguns analistas, não está contando nem a rapidez do desmonte das políticas públicas nem o atraso proposital dos compromissos assumidos anteriormente que o Governo atual não quer cumprir. Olavo, o guru, é tudo o que já percebemos, mas burro não é. Escolheu a palavra “mártir” com muito propósito. Mártir é aquele que se sacrifica pela causa. Temos aí mais uma perversão. Bolsonaro não se sacrifica pela causa – ele sacrifica a causa em nome próprio.
Pela contagem regressiva, há mais 1.347 dias. Caso termine. O tamanho e a profundidade do martírio dependerão da nossa capacidade de sair da frente da “live” do novelão e passar a ser protagonista do Brasil real.
Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficção Coluna Prestes - o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos, e do romance Uma Duas. Site: desacontecimentos.com Email: elianebrum.coluna@gmail.com Twitter: @brumelianebrum/ Facebook: @brumelianebrum
El País: Guaidó liberta líder opositor da prisão e convoca militares e o povo contra Maduro
Presidente interino grava mensagem ao lado de López e de homens das Forças Armadas. Maduro diz que está desmobilizando "um pequeno grupo de militares" traidores que quer promover um golpe de Estado
O líder oposicionista da Venezuela Leopoldo López, que estava em prisão domiciliar após ser condenado a 13 anos de prisão, foi solto em uma ação promovida por Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino do país pela Assembleia Nacional e por mais de 50 países. Há suspeitas de que Guaidó tenha tido o apoio de segmentos das Forças Armadas. "O momento é agora", disse o autodeclarado presidente em uma mensagem em vídeo postada em suas redes sociais, na qual aparece próximo a Leopoldo López e cercado por homens armados. Ele convocou os venezuelanos a saírem às ruas. "Neste momento estou me encontrando com as principais unidades militares de nosso Exército, iniciando a fase final da Operação Liberdade", disse Guaidó em um tuíte posterior.
Poucos minutos após o apelo de Guaidó, Jorge Rodríguez, o ministro da Informação do regime chavista, informou pelo Twitter que eles estão "confrontando e desmobilizando um pequeno grupo de militares traidores que se posicionaram (...) para promover um golpe de Estado contra a Constituição e a paz da República". O ministro da Defesa, Vladimir Padrino, também disse no Twitter que "todas as unidades militares instaladas nas oito regiões de defesa integral relatam normalidade em seus quartéis e bases militares".
En el marco de nuestra constitución. Y por el cese definitivo de la usurpación. https://www.pscp.tv/w/b5gQ9TUwMjc4NDN8MXJteFBlakJydlhLTlWvemxFNY_71g4QomAN12W3ykWFevDO_7lCRAawcIAW …
Juan Guaido @jguaido
En el marco de nuestra constitución. Y por el cese definitivo de la usurpación.
pscp.tv
No vídeo, publicado por volta das seis da manhã na Venezuela (sete horas no horário de Brasília), Guaidó pede a mobilização dos cidadãos da Venezuela contra o regime de Nicolás Maduro. Luis Florido, deputado da Assembleia Nacional do Estado de Lara, está com Guaidó. Por telefone, ele afirmou: "Estamos esperando que o povo venezuelano se aproxime e se manifeste", e acrescentou que a missão agora é a "restituição da Constituição que foi violada", relata Verónica Fuigueroa. Por volta das sete horas da manhã, horário local, um grupo jogou gás lacrimogêneo contra Guaidó, segundo Florido. O deputado diz que os homens uniformizados que acompanham o presidente interino não repelem os atentados. O ex-prefeito de Caracas Antonio Ledezma disse ao telefone que "há um bombardeio de gás lacrimogêneo como nunca antes, há pessoas resistindo, há pessoas que aceitaram o chamado para restaurar o Estado de Direito". Segundo ele, não se trata de um golpe de Estado porque "quem usurpa o poder é Maduro".
Pueblo de Venezuela inició el fin de la usurpación. En este momento me encuentro con las principales unidades militares de nuestra Fuerza Armada dando inicio a la fase final de la Operación Libertad.
O presidente interino assegurou que muitos soldados já se juntaram a ele: "Para todos aqueles que estão nos ouvindo, chegou a hora, hoje todos nós queremos construir o futuro de nossos filhos". Guaidó já havia convocado uma grande marcha para esta quarta-feira, 1º de maio. "Neste momento, nós chamamos os funcionários públicos para a reconstrução da soberania. Hoje corajosos soldados patrióticos, bravos homens ligados à Constituição, vieram ao nosso chamado, e nós definitivamente nos encontramos nas ruas (...) Hoje as Forças Armadas estão do lado do povo, do lado da Constituição ", afirmou. Guaidó enviou esta mensagem da base aérea de La Carlota, onde convidou à "cessação definitiva da usurpação" de poder pelo regime chavista. Luis Almagro, presidente da OEA, apoiou a iniciativa de Guaidó e de seus seguidores através de sua conta no Twitter: "Saudamos a adesão dos militares à Constituição. (...) É necessário apoiar plenamente o processo de transição democrática de forma pacífica ".
López também falou em suas redes sociais sobre sua libertação pelas forças de segurança leais a Guaidó e, em linha com o líder venezuelano, pediu protestos. "Todo mundo à mobilização, é hora de conquistar a liberdade, força e fé", observou ele.
López (Caracas, 29 de abril de 1971) foi preso em fevereiro de 2014 e condenado em setembro de 2015 a cumprir uma sentença de mais de 13 anos de prisão sob a acusação de conspiração para cometer um crime, instigação e destruição de propriedade pública. Ele ficou confinado até julho de 2018, quando conseguiu prisão domiciliar, graça as um processo de negociação pelo ex-presidente do Governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero.
El País: Indígenas se reúnem em Brasília sob forte tensão com o Governo Bolsonaro
Acampamento Terra Livre começa marcado ofensiva do Planalto contra políticas indígenas. Força Nacional atuará nas intermediações do evento, que ocorre todo ano na capital federal
O Acampamento Terra Livre (ATL) começa nesta quarta-feira sob forte clima de tensão. O evento ocorre anualmente no mês de abril em Brasília e reúne lideranças e representantes para chamar atenção para as demandas da população indígena. Desta vez, porém, o cenário de animosidade, que vem se agravando desde a eleição do presidente Jair Bolsonaro, deve marcar o encontro que ocorre até sexta-feira, 26.
Por diferentes frentes, o Governo vem se preparando para o evento há dias. Primeiro, em uma live no Facebook, Bolsonaro chamou o acampamento de um “encontrão de índios” financiado com dinheiro público. “Quem vai pagar a conta dos 10.000 índios que vêm pra cá? É você [contribuinte]”, afirmou o presidente, preparando o terreno ideológico para o que viria em seguida: na semana passada, Bolsonaro autorizou o uso da Força Nacional pelos próximos 33 dias na região da Praça dos Três Poderes e da Esplanada dos Ministérios, onde o evento ocorre.
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que organiza o acampamento, negou, por sua vez, que o evento acontecerá com dinheiro público. Por meio de nota, a entidade afirmou que o encontro, que ocorre há mais de 15 anos "em caráter pacífico", é “autofinanciado com a ajuda de diversos colaboradores”. Por meio de sua conta no Twitter, Sonia Guajajara, coordenadora executiva da APIB, chama a portaria que autorizou o uso da Força Nacional de intimidatória. "Como sempre, seguiremos na resistência", escreveu.
Esse jogo de forças entre o Governo e as lideranças reforçaram o caráter de bomba-relógio na qual se transformaram as políticas indígenas desde janeiro. Logo no primeiro dia como presidente, Bolsonaro assinou o decreto que retira da Fundação Nacional do Índio (Funai) o poder de identificar e demarcar as terras indígenas. Essas atribuições passaram a ser do ministério da Agricultura, comandado por Tereza Cristina da Costa (DEM), uma das lideranças da bancada ruralista até o ano passado. Com a mesma caneta, Bolsonaro autorizou a retirada da Funai da aba do ministério da Justiça, colocando o órgão sob o guarda-chuva da pasta das Mulheres, Família e Direitos Humanos. Essa decisão é um dos alvos de protesto do acampamento deste ano.
A port. de Moro tenta nos intimidar e o presidente em sua live fala em nos integrar. Nos integrar a sociedade presidente? A que vc nos oferece é a da guarda armada, a que queremos é a das terras demarcadas, da defesa da vida, do bem viver. Como sempre, seguiremos na resistência.
Nessa mesma esteira, as sucessivas críticas do presidente, tanto à Funai, quanto a outros órgãos como o Instituto Chico Mendes de Preservação da Biodiversidade (ICMBio), enfraquecem seus poderes de fiscalização. Na semana passada, o presidente do ICMBio, Adalberto Eberhard, pediu demissão após ficar três meses no cargo, alegando "questões pessoais".
Cabo-de-guerra
Em alerta, e vivendo no país mais perigoso para os defensores dos direitos indígenas segundo a ONU, os povos da floresta estão mobilizados: no ano passado, a primeira deputada indígena da história, Joênia Wapichana (Rede-RR), conquistou uma vaga na Câmara. Fora de Brasília, milhares de indígenas organizaram protestos pelo país no último mês depois que o Governo ameaçou extinguir a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). Do saguão da Prefeitura de São Paulo, ocupado pelos guarani, à comunidade Maturacá, na fronteira com a Venezuela, foram registradas mobilizações. Diante da crise, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, recuou da decisão.
Mas o capítulo da vitória durou pouco neste cabo-de-guerra entre índios e o Governo. Na última semana, Bolsonaro anunciou a extinção de centenas de conselhos sociais com participação popular, dentre eles, os que tratam das questões indígenas. Ao EL PAÍS, especialistas avaliaram que a decisão coloca em risco as políticas para minorias.
Apesar da ofensiva da atual gestão contra os indígenas, a tensão entre o asfalto e a floresta é uma constante, ora em maior, ora em menor grau. No acampamento indígena de 2017, a Polícia Militar usou bombas de gás, balas de borracha e spray de pimenta para impedir que os índios entrassem no Congresso. Em resposta, os indígenas, que protestavam contra o Governo de Michel Temer, atiraram flechas contra os policiais. Quatro deles foram detidos.
El País: Base de Bolsonaro cede ao centrão e aprova reforma da Previdência na CCJ
Na sessão que durou 9 horas, oposição tentou derrubar tramitação da proposta do Governo, mas foi atropelada por governistas que garantem vitória importante para dar andamento à reforma
O Governo Jair Bolsonaro (PSL) cedeu ao centrão, passou por cima da oposição e conseguiu aprovar a admissibilidade da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. A legalidade da proposta de emenda constitucional 06/2019 acabou tendo 48 votos a favor e 18 contrários. A sessão durou quase nove horas.
Para se chegar a esse resultado, o relator da proposta, Marcelo Freitas (PSL-MG), entrou em um acordo com os fisiológicos partidos que compõem o centrão e alterou seu parecer em quatro pontos: 1) o que acabava com a obrigatoriedade de a empresa recolher FGTS para aposentados e pagar multa de 40% em caso de demissão desses funcionários; 2) o que possibilitava que a alteração de idade de aposentadoria compulsória de ministros do Supremo Tribunal Federal seja feita por lei complementar; 3) o que tirava da Justiça Federal de Brasília a competência de julgar processos relativos à Previdência); 4) o que deixava nas mãos apenas do Executivo a prerrogativa de propor alterações previdenciárias.
Membro do centrão, o deputado Giovani Cherini (PP-RS) diz que a gestão Bolsonaro cedeu para não acabar sozinho. “O governo não é dono de tudo. Ele tem de aprender a dividir para poder somar”. Opositores, como Clarissa Garotinho (PROS-RJ), dizem que o acordo não acaba com injustiças, como a redução do Benefício de Prestação Continuada (BPC) ou na aposentadoria rural. “Esse relatório só tirou os jabutis. Não mexeu em nada que prejudica os pobres. Mostrem ao povo brasileiro qual é o acordo que está sendo feito. Quem será o novo líder do Governo, quem serão os novos ministros”, disse Garotinho, insinuando que pode haver troca de favores políticos com partidos para aprovar a reforma do modo que passou na CCJ.
Mesmo depois de tanta discussão, o Governo ainda correu o risco de ver a PEC ser adiada. Foi graças à intervenção do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que o projeto não naufragou. A oposição reuniu assinaturas de um quinto dos deputados federais para solicitar que a tramitação fosse sustada por 20 dias. Os argumentos da oposição se baseiam nos artigos 113 e 114 da Constituição Federal, no ato das disposições constitucionais transitórias (ADCT).
O artigo 113 prevê que qualquer proposição legislativa “que crie ou altere despesa obrigatória ou renúncia de receita deverá ser acompanhada da estimativa do seu impacto orçamentário e financeiro”. Mas o Governo até o momento não informou quais cálculos fez para embasar sua reforma. E o outro artigo prevê exatamente essa suspensão, caso haja o apoio de um quinto dos parlamentares da casa, ou seja, de 103 deputados.
Líderes do Governo se reuniram com Maia e de lá obtiveram o apoio para dizer que essa suspensão só valeria para o mérito da proposta, não necessariamente para a sua admissibilidade, que é o que acaba sendo avaliado pela CCJ. Dessa maneira, o requerimento da oposição acabou sendo invalidado. Após essa decisão, a oposição prometeu recorrer ao Judiciário para invalidar a sessão da CCJ porque ela ignorou o requerimento de adiamento da tramitação assinado por um quinto dos deputados federais.
Desde que passou a ser debatida na Câmara, a reforma da Previdência sempre foi marcada por confusão. Nesta terça-feira não foi diferente. A oposição veio com um “kit obstrução”. Tentou emplacar uma série de requerimentos de adiamento de votação, o que gerou uma série de debates e reclamações. Teve dedo em riste para o presidente da CCJ, Felipe Francischini, teve vaias e aplausos a discursos, cartazes contra a reforma, painel de votação dando pane, membros da base reclamando da líder do Governo e gritaria sempre que algum opositor tinha seus pedidos vetados.
A presidenta do PT, a deputada Gleisi Hoffmann, aproveitou o momento para dizer que o país que foi governado pelo partido dela entre 2003 e 2016, estava quebrado. “Estou vendo aqui pessoas dizerem que nós retardamos, que nós enrolamos, que se não votar a Previdência o Brasil vai quebrar. O Brasil está quebrado, viu, gente”. Na sequência ela afirmou que os problemas financeiros do país se deviam, em grande parte, ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT). Entre 2015 e 2016, o país viveu uma dura recessão.
Já o vice-líder do Governo Bolsonaro, Darcísio Perondi (MDB-RS), se enrolou ao tentar defender que a reforma proposta irá acabar com os privilégios da cúpula do funcionalismo público. “Quero esclarecer agora, de uma vez por todas, de que os pobres vão pagar mais. Pegando aquele 1,2 trilhão de reais, se olhar o valor total e absoluto, é óbvio que a contribuição em dez anos, é mais dos pobres”. Depois, tentou explicar que, proporcionalmente, os ricos pagariam mais.
Com uma semana de atraso, a CCJ acabou aprovando o parecer de Marcelo Freitas. A expectativa na Casa é que na próxima quinta-feira seja instalada a comissão especial para analisar o mérito da matéria. Os trabalhos, contudo, só iniciarão de fato no dia 7 de maio porque na próxima semana o feriado de 1º de maio, do dia do trabalhador, deverá esvaziar o Congresso Nacional. Rodrigo Maia prevê que até o recesso do Legislativo, em 15 de julho, a reforma seja votada na Câmara.
El País: “Governo quer inviabilizar apuração dos crimes da ditadura”, diz Eugênia Gonzaga
Procuradora diz que decreto de Bolsonaro deve dificultar trabalho de identificação de vítimas da ditadura
Assinado pelo presidente Jair Bolsonaro no último dia 11 de abril, o decreto 9.759 não deve afetar apenas os conselhos sociais de participação popular. A medida também coloca sob a mira de cortes os trabalhos da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, vinculada à Secretaria de Direitos Humanos do governo federal e criada em 1995, com o intuito de promover o reconhecimento de pessoas mortas ou desaparecidas em razão das violações aos direitos humanos ocorridas durante a ditadura militar. Um dos possíveis prejudicados pelo decreto que, segundo o governo, pretende enxugar gastos da administração pública, é o Grupo de Trabalho Perus, responsável por analisar 1.047 ossadas retiradas de uma vala clandestina na Zona Norte de São Paulo, em 1990.
De acordo com a procuradora da República Eugênia Gonzaga, presidenta da Comissão, a princípio, as atividades do GT Perus estão mantidas, já que o Governo ainda não especificou quais órgãos serão desativados pelo decreto [na noite desta segunda-feira, após a publicação desta entrevista, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos informou que “ao contrário do que foi divulgado por parte da imprensa, o Grupo de Trabalho Perus (GTP) não foi encerrado com a publicação do Decreto 9.759/2019”]. O grupo ainda tem, como explica a procuradora ao EL PAÍS, amparo jurídico baseado em acordo que garante recursos da União, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Prefeitura de São Paulo para executar o orçamento de aproximadamente 800.000 reais por ano. Por enquanto, os efeitos práticos, sob a gestão Bolsonaro, são a dificuldade de renovar contratos, o esvaziamento de peritos para análise das ossadas e a indicação de membros contrários à revisão de crimes cometidos pelo regime militar para compor a Comissão.
Pergunta. Como o decreto interfere nos trabalhos da Comissão e do GT Perus?
Resposta. Esse decreto é genérico, não cita especificamente o grupo de Perus. Um acordo judicial homologado em 2016 assegura a manutenção do convênio entre União, Unifesp e Prefeitura e, consequentemente, a continuidade dos trabalhos. De qualquer forma, nossas atividades na Comissão estão bem desfalcadas. Em Perus, por exemplo, temos apenas quatro peritos. O contrato com o governo federal venceu no fim do ano passado e até agora não foi renovado. Dependemos da verba da Prefeitura, mas o acordo vence no fim do ano e ainda não sabemos como vai ficar. Não estamos parados. No entanto, caminhamos a passos muito lentos.
P. O que pode acontecer com o grupo caso o Governo não renove o contrato após o decreto?
R. Isso seria o descumprimento de um acordo judicial. O governo não pode interferir por decreto em uma decisão que está homologada na Justiça. Como o acordo envolve outras instituições, não cabe ao presidente extinguir unilateralmente a força-tarefa de Perus. Porém, em outros grupos que não têm o mesmo respaldo jurídico, os impactos já foram sentidos. Equipes de peritos constituídas graças a parcerias com universidades, que faziam trabalho de investigação e busca de corpos em localidades como Foz do Iguaçu, Ilha Grande e Rio de Janeiro, foram extintas. Teremos que recomeçar do zero.
P. Há conversas em andamento entre governo e Comissão?
R. Logo no início do ano falei com a ministra Damares [Alves, dos Direitos Humanos]. Ela disse que era sensível à busca de corpos. O secretário-adjunto [Alexandre Moreira] tem nos apoiado. Mas muita coisa depende das decisões de cúpula. Justamente o que falta para alavancar os trabalhos.
P. A cúpula do Governo, incluindo o próprio presidente, tem vários representantes simpáticos ao período do regime militar. Essa inclinação ideológica pesa para as forças-tarefas de identificação de corpos e reparação das violações praticadas pela ditadura?
R. Está bem clara a intenção: o governo quer inviabilizar os trabalhos de apuração dos crimes da ditadura. Tem negado pedidos de renovação de contrato e nomeado pessoas que são notadamente contrárias aos princípios da Comissão de Mortos e também da de Anistia. Um exemplo é o Ailton Benedito [procurador de Goiás], que foi convidado para integrar nossa comissão sem que ninguém me consultasse. O objeto das forças-tarefas está sendo frustrado. Tanto é que os três ministros das Forças Armadas soltaram nota no último dia 31 de março dizendo que os militares apenas cumpriram os anseios da sociedade. Num primeiro momento, muita gente pode até ter apoiado o golpe. Mas ninguém apoiou tortura e assassinatos. Os 467 mortos registrados se referem apenas a militantes políticos. Não podemos nos esquecer que milhares de pessoas foram atingidas por atos de exceção do regime, inclusive militares.
P. No que a postura do atual governo difere dos outros?
R. Destinar verba para os trabalhos nunca foi uma política de Estado. Infelizmente, o Brasil não cumpriu seu dever na transição do autoritarismo para a democracia. As ossadas de Perus ficaram guardadas por mais de 20 anos. Nesse período, algumas autoridades se sensibilizaram, mas nada que se revertesse em apoio permanente. Sempre existiu, em todos os governos, o medo de desagradar militares e as Forças Armadas. Não é verdade que o Exército defendeu o país. A instituição errou muito e, ao contrário do que estipula a Comissão Nacional da Verdade, ainda não assumiu seus erros. Só estamos passando por todas essas dificuldades devido ao histórico de omissão de governos, sociedade e imprensa sobre as mortes na ditadura, por temerem as reações negativas. Adotamos uma política baseada no esquecimento. E esse foi o pior caminho possível para a transição democrática.
El País: Cobrado por vídeo de Olavo de Carvalho, Bolsonaro ensaia freio ao guru do Governo
Vídeo do escritor com críticas a militares é postado nas redes sociais do presidente, que tirou a peça do ar e mandou recado através do porta-voz: “Suas recentes declarações contra integrantes dos poderes da República não contribuem” com o Governo
O vídeo causou espanto. A primeira impressão é que o presidente estaria endossando o conteúdo, ou seja, criticando os membros que lhe dão suporte. Hoje, o Governo tem sete ministérios comandados por militares, além de ter o general da reserva Hamilton Mourão como vice. Mas, após forte repercussão negativa, o vídeo foi retirado do ar. No domingo, Bolsonaro – ou quem administra suas redes – apagou o vídeo postado em seu canal.
Nesta segunda, o presidente pediu ao porta-voz do Governo que lesse à imprensa uma nota oficial na qual, pela primeira vez, admite que Olavo tem sido prejudicial à sua gestão. “Suas recentes declarações contra integrantes dos poderes da República não contribuem para a unicidade de esforços e consequente atingimento dos objetivos propostos em nosso projeto de Governo”, diz trecho do documento lido pelo general Otávio Rêgo Barros. Na mesma peça, Bolsonaro reconhece ainda o papel do escritor em expor as “ideias conservadoras, que se contrapuseram à mensagem anacrônica cultuada pelas esquerdas e que tanto mal fez ao nosso país”.
O vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente que administra as redes sociais do pai, acabou sendo apontado como possível responsável pela republicação do vídeo. Um tuíte enigmático reforçou essa impressão quando ele escreveu “Começo uma nova fase na minha vida. Longe de todos que de perto nada fazer a não ser para si mesmos. O que me importou jamais foi o poder. Quem sou eu neste monte de gente estrelada?”
Mas, ainda que tenha partido de seu herdeiro, Bolsonaro sempre se diz responsável pelo que é publicado em seus canais. Quando indagado se o presidente sabia do conteúdo do vídeo reproduzido em sua conta oficial, o porta-voz leu novamente a nota à imprensa e disse que ela era “clara, transparente, límpida, como janela aberta”. Carlos acabou replicando o vídeo de Olavo em seu próprio canal no YouTube.
Nos últimos dias, aliados de Bolsonaro vinham reclamando insistentemente de Olavo. “Ele é uma péssima influência para o nosso presidente. Fala contra conta os militares, contra o PSL, contra todo mundo. É um estelionatário que acha que elegeu o Bolsonaro sozinho lá de seu exílio”, reclamou o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir. Esse deputado ainda chama o escritor de “macumbeiro do mal, que só faz mal ao país”. “Ele quer o quê? Indicar todos os ministros? Governar sozinho? Que se candidate”.
O vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB), manteve críticas duras também. “O Olavo de Carvalho perdeu o timing, ele não está entendendo o que está se passando no Brasil, até porque ele mora nos Estados Unidos. E ele não está apoiando o Governo, não está sendo bom”. Mourão e os militares do primeiro escalão são os alvos preferenciais de Olavo. O vice disse acreditar que outra pessoa teria partilhado o vídeo, que não o presidente.
O vice, Mourão, rebateu: “Acho que ele, Olavo de Carvalho, deve se limitar à função que ele desempenha bem, que é a de astrólogo. Ele pode continuar a prever as coisas, ele é bom nisso”. Antes de ser professor autodidata de filosofia, Carvalho foi astrólogo e jornalista. Hoje, é um expoente da extrema direita brasileira, vive em uma espécie de auto-exílio nos Estados Unidos, de onde leciona pela internet.
Na gravação, Carvalho ainda diz que Bolsonaro é um mártir, por aguentar tanta intriga interna e sugeriu, pela segunda ou terceira vez, aos seus alunos que ocupam cargos no Governo a abandonarem seus postos. “Vão para casa, vão estudar, escrever livros, marquem essa época com as suas obras. Vocês viram tudo o que nós conseguimos fazer fora do Governo. Dentro do Governo, é isso mesmo o que vocês estão encontrando. É só intriga, é só sacanagem, só egoísmo, só vaidade, só isso que tem”, declarou mandando recado aos alunos de seus cursos de filosofia.
Entre os especialistas em ciência política, a sensação é que essas disputas por espaços internos de poder não interferem, num primeiro momento, na relação com o Congresso. Mas, se o presidente não botar limites frequentes nesses grupos, dificilmente terá o comando dos projetos e se deparará com um Legislativo que não se interessa pelas propostas do Executivo.
“Desde a eleição já se sabia que haveria disputas entre as principais alas de apoio a Bolsonaro, que são os militares, os evangélicos e o pessoal da economia. Só não se imaginava que seria tão rápido, assim”, avaliou o cientista político e professor Valdir Pucci. Para ele, o presidente deveria deixar de lado as pautas ideológicas assim como de incentivar brigas internas. A lógica de Pucci é que esse governo que se elegeu precisando ter um inimigo comum, que precisa sempre ser reinventado. “Novos inimigos são necessários para manter a base unida, a dúvida é quem será o próximo alvo”, afirmou o professor.
A NOTA DE BOLSONARO SOBRE OLAVO DE CARVALHO
Eis a íntegra da nota do presidente Jair Bolsonaro sobre o escritor Olavo de Carvalho: "O professor Olavo de Carvalho teve um papel considerável na exposição das ideias conservadoras, que se contrapuseram à mensagem anacrônica cultuada pelas esquerdas e que tanto mal fez ao nosso país. Entretanto, suas recentes declarações contra integrantes dos poderes da República não contribuem para a unicidade de esforços e consequente atingimento dos objetivos propostos em nosso projeto de Governo que visa, ao fim e ao cabo, o bem-estar da sociedade brasileira e o soerguimento do Brasil no contexto das nações".