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El País: Brasileiros que deixaram a China para fugir do coronavírus iniciam quarentena sob clima de alívio

Aviões que trouxeram de Wuhan os 34 repatriados pousaram no início da manhã deste domingo em Anápolis. Grupo fica em quarentena até 26 de fevereiro na base aérea

Depois de 37 horas de voo, com quatro paradas, desembarcaram no início da manhã deste domingo em Anápolis, Goiás, os dois aviões que transportaram o grupo com 58 brasileiros e seus familiares que foram repatriados de Wuhan, na China, o epicentro da epidemia de coronavírus. Nessa relação, estão 34 pessoas que viviam em território chinês e 24 tripulantes que partiram em duas aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) na última quarta-feira de Brasília para a China. Conforme o Ministério da Defesa, até o início da manhã deste domingo, todos estavam assintomáticos e apresentavam bom estado de saúde. As duas aeronaves pousaram na base aérea militar às 6h06 e às 6h12 (horário de Brasília), após uma escala para reabastecimento em Fortaleza (Ceará).

A programação inicial é que fiquem até o dia 26 de fevereiro isolados no hotel de trânsito da Aeronáutica, uma área dentro da própria base aérea preparada para que eles permaneçam em quarentena. Representantes dos órgãos que participaram do resgate consideram a operação um sucesso. “Todos os passageiros estão muito bem de saúde, estão assintomáticos”, afirmou o general Manoel Luiz Narvaz Pafiadache, secretário de Pessoal, Ensino, Saúde e Desporto do Ministério da Defesa.

Ao desembarcarem na manhã chuvosa e fria de Anápolis (fazia 18ºC), os passageiros deixaram as aeronaves de máscaras e caminharam em direção a dois ônibus. Duas pessoas acenaram para os jornalistas e balançaram uma bandeira do Brasil. Todos serão examinados ao longo do dia.

Em uma das paradas, entre Wuhan e Anápolis, o diplomata Germano Corrêa relatou ao EL PAÍS que o grupo estava animado de poder voltar ao Brasil, após passar por dias tensos no país que já registrou a maioria dos 34.000 casos do novo coronavírus. “[Há um] clima de alívio, todo mundo muito feliz de estar de volta ao Brasil, sobretudo as crianças”, afirmou. No grupo há 24 adultos e sete crianças que viviam em Wuhan e três diplomatas que foram prestar assistência a eles. Corrêa é um dos representantes do Itamaraty nessa viagem.

O diplomata serve na embaixada do Brasil em Pequim há dois anos e meio. Aceitou participar da operação de repatriação por entender que essa era uma oportunidade inédita de ajudar brasileiros que já estavam em uma quarentena forçada na China, onde cerca de 60 milhões de moradores da província de Hubei enfrentam restrições na circulação devido à proliferação da doença. Quando decidiu aceitar a missão, Corrêa informou à sua família e a tranquilizou. “Antes mesmo de eu embarcar para Wuhan, muitos tinham medo da gravidade da epidemia, acredito que por causa da quantidade de notícias falsas a respeito circulando no Brasil. Esclareci a todos que a doença não é muito letal e atinge sobretudo pessoas com saúde frágil e com idade avançada”, explicou.

Segundo o diplomata, parte dos 34 moradores de Wuhan manifestou interesse em voltar à cidade chinesa depois que a situação se normalizar e a epidemia for contida. Um deles deve ser o mestrando em linguística Vitor Neves Siqueira, de 28 anos. Segundo o seu pai, o funcionário público aposentado José Siqueira Júnior, Vitor nem queria vir ao Brasil. “Por ele, ficava lá esperando a situação se normalizar. Veio porque, acredito, a irmã o convenceu. Acho que temia que que seus pais pudessem infartar”, afirmou.

Morador de Belo Horizonte (MG), o aposentado é um dos poucos familiares de repatriados que vieram a Anápolis para aguardar a chegada deles ao Brasil. Disse que queria estar perto do filho, mesmo não podendo ter contato pessoal com ele, devido à quarentena que terá de cumprir no hotel de trânsito da base aérea. “Me senti na obrigação de agradecer ao povo de Anápolis, ao povo goiano de receber meu filho e os outros brasileiros”, disse.

Nessas quase duas semanas de angústia, com a inicial incerteza sobre se o Governo Bolsonaro iria ou não buscar os brasileiros, o aposentado diz que sofreu em dois momentos. O primeiro, quando notou que a doença estava se disseminando com rapidez. “Olhei para a mãe dele e, não falávamos, mas sentíamos que poderíamos perder um filho tão jovem”, disse. O segundo, foi quando um assessor do presidente minimizou a importância e maximizou os custos de se resgatar os brasileiros que viviam em Wuhan. “Dizia que eram 70, um número insignificante. Me deu vontade de perguntar para ele, se uma filha dele estivesse lá, se pensaria dessa forma”.

Em princípio, os 24 tripulantes (entre eles, pilotos, comissários, profissionais de saúde e jornalistas) também ficariam os 18 dias de quarentena. Mas o Governo disse que, como todos os repatriados da China estão assintomáticos, talvez seja possível rever esse período da equipe da tripulação.

Na área do isolamento, há 38 suítes como de hotéis, com camas televisões e frigobares. Os repatriados terão acesso à internet e videogames. Para as crianças foi montada uma brinquedoteca e instalado um pula-pula. Todos serão examinados pelo menos três vezes ao dia e terão de transitar pela área do isolamento com máscaras. Em caso de necessidade de saúde, eles poderão receber o primeiro atendimento dentro do complexo da base aérea. Se constatada a contaminação, uma área do Hospital das Forças Armadas de Brasília, a 150 quilômetros de Anápolis, estará reservada para atender esses pacientes.


Felipe Betim: Democracia em vertigem’ reacende rancores que se arrastam desde 2014

Ninguém ficou indiferente ao documentário de Petra Costa sobre o impeachment de Dilma. Governo Bolsonaro utilizou a máquina pública para difamar a cineasta

Nenhum filme ou artista brasileiro jamais ganhou um prêmio Oscar. No próximo domingo, é possível que esse feito seja alcançado por Democracia em vertigem. Lançado pela Netflix, a obra da cineasta Petra Costa concorre na categoria de melhor documentário. Em outras épocas é possível que a mera nomeação de uma produção brasileira fosse motivo de orgulho e de união na torcida pela vitória. Mas no Brasil onde rancores políticos se arrastam desde 2014, a nomeação gerou o contrário: manifestações públicas de respaldo incondicional ou de repulsa por uma obra que apresenta uma visão particular —a da cineasta— sobre o processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT) entre 2015 e 2016.

 

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A imagem de dois Brasis —um vestido de verde e amarelo e outro de vermelho—que o filme exibe nas vésperas da votação do impeachment, separados por grades de contenção em Brasília, vem se repetindo nas redes sociais, colunas de jornais e outros tipos de manifestações públicas. Por um lado, artistas e figuras públicas da esquerda —sobretudo a petista— se veem representados pela narrativa da diretora sobre todo o processo: a de que o PT, depois de 13 anos no poder, durante os quais se aliou com antigos figurões da política e viu alguns de seus principiais membros envolvidos em corrupção, agora era tirado do poder por uma elite econômica que reagiu à ascensão social das camadas mais pobres nas últimas décadas com o objetivo de manter seus privilégios; e por uma elite política, encarnada sobretudo na figura do ex-todo-poderoso presidente Câmara Eduardo Cunhaainda mais corrupta que age de acordo com os interesses dos mais abastados. E tudo isso em nome do combate à corrupção.

Para além do processo de impeachment em si, o filme reforça a ideia de que a centro-direita acabou pavimentando o caminho para a eleição do ultradireitista Jair Bolsonaro, visto como uma ameaça para a democracia. “Eu nunca achei na minha vida veria tanto retrocesso. Passei minha juventude lutando contra a censura no meu país e contra uma ditadura militar brutal que me colocou na cadeia, e matou e torturou muitas pessoas. Inacreditavelmente, agora vivo em outra situação dentro de uma democracia na qual o fascismo mostra suas garras", narrou em inglês o compositor Caetano Veloso num vídeo para promover o documentário nas vésperas da cerimônia do Oscar. "O Governo brasileiro não está só travando uma guerra contra as artes e seus criadores, mas contra a Amazônia e os direitos humanos num geral. Para que isso seja compreendido, eu gostaria de chamar sua atenção para um lindo filme cinematográfico de uma jovem brasileira, Petra Costa, que acaba de ser indicada ao Oscar, Democracia em vertigem”, finalizou. Esse e outros vídeos e mensagens de apoio rodaram as redes sociais e foram compartilhados por celebridades internacionais como Queen Latifah.

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Essa visão negativa sobre o processo de impeachment, que a cineasta admite ser uma visão estritamente pessoal, baseada na forma em que ela percebeu e interpretou os acontecimentos, é o principal incômodo entre aqueles que apoiaram a destituição de Dilma Rousseff. Em suma, muitas pessoas olharam para o filme e não gostaram da imagem exibida por esse espelho.

Entre elas está o entendimento de que a cineasta se limitou a apresentar a “narrativa petista” dos acontecimentos e a colocar o partido como grande vítima de uma conspiração golpista. Entre economistas há a percepção de que Costa não abordou suficientemente a crise econômica gestada partir do Governo Dilma Rousseff como condição necessária para o derretimento de sua popularidade e de suas condições de governar. Também argumentam que ela trata as chamadas pedaladas fiscais, que juridicamente alavancaram o processo no Congresso, como mero detalhe.

Outro fator que impulsionou a campanha contrária ao filme de Petra Costa foi a adulteração de uma fotografia histórica apresentada nos primeiros minutos da produção. Trata-se da imagem de dois militantes do PCdoB —um deles Pedro Pomar, “mentor de meus pais”— que foram executados pela ditadura militar em 1976. A cineasta retirou da imagem duas armas que foram implantadas por agentes do regime para justificar os assassinato de ambos, mas não deixou isso claro em sua produção. "Há uma razão para isso, e eu estava esperando que alguém do público notasse“, disse para a revista Piauí. "Há um debate significativo sobre a veracidade das armas nesta cena, com muitos comentários. E até a própria Comissão da Verdade trouxe evidências para as alegações de que a polícia plantou as armas após a morte de Pedro e, por isso, optei por remover esse elemento e homenagear Pedro com uma imagem mais próxima à provável verdade”. Apesar de não ter negado a manipulação, e apesar de todo o debate que existe sobre esses artifícios em documentários, seus críticos se viram fortalecidos na hora de acusá-la de desonestidade e de tentar fraudar a história.

Houve mal-estar inclusive entre jornalistas e colunistas de grandes meios de comunicação, que viram suas próprias narrativas desafiadas pela repercussão internacional do documentário. “Há manipulações evidentes de narrativa para que o espectador incauto acredite que o Brasil viveu um golpe de Estado em 2016, e não um conturbado processo de impeachment de uma governante inepta”, escreveu o colunista da Folha de S. Paulo Igor Gielow, para quem a realidade traçada pelo documentário de Petra Costa e, do lado oposto, pelos bolsonaristas de hoje são duas faces de uma mesma moeda.

Na última semana, o apresentador Pedro Bial, da TV Globo, declarou em um programa da Rádio Gaúcha que o filme é “insuportável” e que “vai contando as coisas num pé com bunda danado”. Em fala vista como machista, também criticou a “narração miada, insuportável, onde ela [Petra Costa] fica choramingando" ao longo da produção. “É um filme de uma menina dizendo para a mamãe dela que fez tudo direitinho, que ela está ali cumprindo as ordens e a inspiração de mamãe, somos da esquerda, somos bons, não fizemos nada, não temos que fazer autocrítica. Foram os maus do mercado, essa gente feia, homens brancos, que nos machucaram e nos tiraram do poder, porque o PT sempre foi maravilhoso e Lula é incrível”.

SecomVc

@secomvc

Nos Estados Unidos, a cineasta Petra Costa assumiu o papel de militante anti-Brasil e está difamando a imagem do País no exterior. Mas estamos aqui para mostrar a realidade. Não acredite em ficção, acredite nos fatos.

Vídeo incorporado

12,3 mil pessoas estão falando sobre isso

Mais grave, porém, foi a reação do Governo Jair Bolsonaro, que utilizou a máquina pública, paga com os impostos de todos, para difamar a cineasta. Na última semana, a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) afirmou nas redes sociais, em português e inglês, que a cineasta “assumiu o papel de militante anti-Brasil e está difamando a imagem do País no exterior”. O artigo 37 da Constituição Federal determina que a Administração Pública deverá obedecer os princípios da impessoalidade, o que significa que ela não pode ser usada para atacar qualquer cidadão com fins políticos. Assim, a interferência do Governo foi vista por especialistas como um abuso de poder que poderia configurar improbidade administrativa. Defensores da cineasta dizem que o mero uso da máquina pública para atacá-la só confirma a mensagem de sua obra.

A ação do Governo motivou a deputada Maria do Rosário (PT-RS) a protocolar no Ministério Público Federal uma representação contra Fabio Wajngarten, chefe da Secretaria, no dia 4 de fevereiro. No mesmo dia, o deputado bolsonarista Marco Feliciano (sem partido-SP) protocolou na Procuradoria uma denúncia contra a cineasta “pela prática de discriminação religiosa e de ato contra a segurança nacional”.

A cineasta Petra Costa.
A cineasta Petra Costa. ARMANDO ARORIZO / EFE

Em primeira pessoa

Petra Costa é neta de um dos fundadores da construtora Andrade Gutierrez e filha de militantes do PCdoB que lutaram contra a ditadura. Como em suas produções anteriores, a trajetória pessoal de sua família e sua história pessoal, passando pela euforia de ter ajudado a eleger o petista Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, se interliga com o momento de extrema polarização pelo qual o país passava durante o impeachment. Um processo com várias faces e marcado por inúmeras contradições, muito longe de uma luta do bem contra o mal que seus apoiadores e detratores, munidos de certezas, costumam apontar.

A cineasta teve acesso a imagens aos bastidores do PT ao longo do afastamento e exibiu cenas que ajudam a compor seu quebra-cabeças. Como os depoimentos de Dilma Rousseff, mostrando seu lado mais humano em meio ao furacão que interrompeu a sua gestão. Ou de um ex-presidente Lula informando pelo telefone celular do Palácio do Alvorada que aceitou ser ministro-chefe da Casa Civil da ex-presidenta. Há também preciosas fotografias, áudios e vídeos de arquivo, incluindo algumas gravações inéditas feitas por Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial de Lula, durante seu período na presidência.

Por outro lado, um enfoque tão amplo omitiu —propositalmente ou não― fatos relevantes. Por exemplo, a cineasta passa da explosão das ruas em Junho 2013 para o início das manifestações pelo impeachment, em 2015. Passa batido por eventos de 2014, incluindo a polarizada eleição entre Aécio Neves e Dilma Rousseff. Nesse processo, a candidata Marina Silva, que quase foi para o segundo turno, ficou pelo caminho após uma pesada campanha negativa —e por vezes também mentirosa— por parte do PT.

Com pontos a favor e pontos contra, todas as discussões mais técnicas sobre o documentário em si se tornaram secundárias diante da divisão que ele reacendeu. É esse o filme que representará o Brasil na principal cerimônia de premiação do cinema no mundo. E, independentemente do que aconteça no próximo domingo, veremos mais uma rodada de celebrações e lamentações na conturbada cena política brasileira. Nem mesmo o Oscar —quem diria— escapou de ser mais um capítulo de um período histórico extremamente polarizado do Brasil.

Adere a

El País: Artistas e intelectuais lançam manifesto internacional contra censura no Governo Bolsonaro

Texto assinado por nomes como Caetano Veloso, Sting e Noam Chomsky pede atenção da comunidade global para o que chama de escalada autoritária na política brasileira

Artistas, intelectuais e políticos do Brasil e de diversos países lançam nesta sexta-feira um manifesto contra o cerceamento de instituições culturais, científicas e educacionais, além da imprensa, pelo Governo Jair Bolsonaro (sem partido). No texto, que inclui até o momento cerca de 1.900 assinaturas, os manifestantes convocam a comunidade internacional a se manifestar publicamente contra a censura no país.

Nomes da cultura brasileira como Caetano Veloso e Chico Buarque, estrelas internacionais como Sting e Willem Dafoe e escritores consagrados como o moçambicano Mia Couto e o português Valter Hugo Mãe assinam a carta. Entre os intelectuais estão o linguista Noam Chomky, o cientista político Steven Levitsky —autor do livro Como as democracias morrem— e os historiadores Lilia Schwarcz e Boris Fausto.

Entre os exemplos do que os autores chamam de “escalada autoritária” o texto cita nomeações, tentativas de mudanças em livros didáticos e no conteúdo de filmes e restrição ao acesso a bolsas de pesquisa em universidades. “A administração Bolsonaro deixou claro que não tolerará qualquer desvio de sua política ultraconservadora”, afirma o manifesto. “A partir de um programa moralista e ideológico fechado e compactuado, essa administração busca mudar o conteúdo dos livros escolares, dos filmes nacionais, restringir o acesso a bolsas de estudo e de pesquisa, intimidar o corpo docente, os jornalistas e os cientistas."

A carta menciona também o uso do canal oficial de Governo para criticar a cineasta Petra Costa, que concorre ao Oscar 2020 com o documentário Democracia em vertigem, que trata dos acontecimentos políticos que culminaram no impeachment da petista Dilma Rousseff. A diretora também assina o manifesto. “Pela primeira vez na história do Brasil, Petra Costa pode vir a ser a primeira mulher latino-americana a ganhar um Oscar, com o documentário Democracia em vertigem. Já a administração Bolsonaro usou o Twitter oficial da Secretaria de Comunicação para definir Costa como uma antipatriota que espalha mentiras”, afirma o texto.

Leia a íntegra do manifesto

As instituições democráticas brasileiras têm sofrido um verdadeiro ataque desde o começo da gestão de Jair Bolsonaro. Desde 1º de janeiro de 2019, quando Bolsonaro assume o poder como presidente do Brasil, assistimos a uma escalada autoritária, refletida em uma sistemática tentativa de controle e cerceamento de várias instituições culturais, científicas e educacionais brasileiras e aos órgãos da imprensa.

Os exemplos são muitos.

Logo no início da gestão, membros do partido pelo qual Bolsonaro foi eleito (PSL) pediram, publicamente, que alunos filmassem seus professores e os denunciassem por “doutrinação ideológica”, através de filmagens e seu compartilhamento nas mídias sociais. Essa campanha estilo “caça às bruxas”, chamada de “escola sem partido”, gerou insegurança nas escolas e universidades, em um país que há pouco mais de três décadas saiu de uma ditadura militar opressora. Em janeiro de 2020, Bolsonaro afirmou que os livros didáticos brasileiros “tinham muita coisa escrita” e sugeriu que o Estado interferisse diretamente no conteúdo das obras que chegam às escolas públicas, e de forma sectária.

A administração Bolsonaro deixou claro que não tolerará qualquer desvio de sua política ultraconservadora. O diretor de marketing do Banco do Brasil, Delano Valentim, foi demitido por haver colocado no ar uma propaganda, censurada pelo governo no início de 2019, que refletia inclusão racial. Mais tarde, no mesmo ano, enquanto a floresta Amazônica brasileira queimava em níveis alarmantes, a administração retaliou contra cientistas que ousaram mostrar fatos. Ricardo Galvão, ex-diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), foi exonerado por divulgar dados de satélite do desmatamento no Brasil.

No dia 21 de janeiro, o Ministério Público Federal denunciou, sem provas, Glenn Greenwald, jornalista e cofundador do The Intercept, por participar de uma suposta organização criminosa que teria, entre outros, invadido celulares de autoridades brasileiras. Em um ataque à liberdade de imprensa, diretamente relacionado à série de reportagens que The Intercept vem fazendo sobre a corrupção dentro da Operação Lava Jato, o Ministério Público Federal desafiou o Supremo Tribunal Federal e contornou a medida cautelar nas investigações sobre Greenwald, proferida por Gilmar Mendes, ministro do Supremo.

Esse não é um caso isolado. Vários agentes, entre eles tribunais regionais e policiais militares, vêm agindo como células defensoras do projeto bolsonarista e tomando medidas para tentar moldar a sociedade brasileira. Somente em 2019 contabilizaram-se 208 agressões a veículos de comunicação e a jornalistas.

No dia 16 de janeiro, o ex-Secretário Especial da Cultura, Roberto Alvim, e Bolsonaro, em uma transmissão conjunta, elogiaram a “guinada conservadora” e o “recomeço da cultura” do país. No dia seguinte, Alvim plagiou o nazista Joseph Goebbels quando fazia o anúncio de um novo prêmio nacional das artes. O secretário foi exonerado por conta da imensa reação que seu discurso gerou na sociedade civil. Mesmo assim, Alvim era a voz do projeto bolsonarista de contínua afronta à liberdade de expressão, com mudanças que demonstram retrocesso na liderança e no funcionamento de diversos órgãos, como o Conselho Superior de Cinema, da ANCINE, do Fundo Setorial Audiovisual, da Biblioteca Nacional, do Iphan —Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional— e da Fundação Palmares.

Pela primeira vez na história do Brasil, Petra Costa pode vir a ser a primeira mulher latino-americana a ganhar um Oscar, com o documentário Democracia em Vertigem. Já a administração Bolsonaro usou o Twitter oficial da Secretaria de Comunicação para definir Costa como uma antipatriota que espalha mentiras. Por outro lado, enquanto os longa-metragens BacurauA Vida Invisível e Babenco receberam reconhecimento internacional nos festivais de Cannes e de Veneza, respectivamente, Bolsonaro declarou que faz tempo que não se produz bons filmes no Brasil.

A partir de um programa moralista e ideológico fechado e compactuado, essa administração busca mudar o conteúdo dos livros escolares, dos filmes nacionais, restringir o acesso a bolsas de estudo e de pesquisa, intimidar o corpo docente, os jornalistas e os cientistas.

Buscam também reverter, inclusive, várias conquistas dos últimos anos, como a implementação da política de cotas e de ação afirmativa no país, medidas que, entre outras, e pela primeira vez na história do Brasil, vêm tornando o país mais múltiplo e inclusivo, menos desigual, com 51% dos alunos das universidades públicas sendo provenientes das comunidades negras. O que temos presenciado desde 2019 é um movimento oposto; um retrocesso nesses direitos fundamentais.

Estamos assim, diante de um governo que nega a laicidade do Estado e que fomenta fundamentalismos e racismo religioso, que nega o aquecimento global, e as queimadas na Amazônia, despreza líderes que lutam pela preservação do meio ambiente, e desrespeita a cultura e a preservação ambiental realizada pelas comunidades indígenas e quilombolas.

Este governo ignora a atuação paralela e criminosa das milícias, e a corrupção que prometeu combater. Bolsonaro e seus ministros atacam as minorias e negam as demandas dos movimentos negros, indígenas, LGBTTQ+. Também, constantemente, ataca cientistas, acadêmicos e jornalistas toda vez que se sente ameaçado. É um governo que tem feito drásticos cortes no orçamento para o desenvolvimento da cultura e educação, e que não tem plano de desenvolvimento para o seu povo.

O resumo é que o projeto de Governo atual ataca as instituições democráticas e isso poderá ser irreversível. Chamamos assim a comunidade internacional a se solidarizar e se posicionar publicamente:

  • Para condenar estes atos de violência e de aparelhamento burocrático e ideológico do Estado, para que não se configure em um programa eficiente e regular de censura.
  • Para pressionar o governo brasileiro para que ele siga a Declaração Universal de direitos humanos, e com isso respeite a liberdade de expressão, de pensamento e de religião.

Por fim, conclamamos os órgãos de Direitos Humanos e a imprensa internacional para que fiquem atentos ao que acontece no Brasil e às ameaças à democracia que tem sido colocada à prova, diariamente. O momento é grave, e é hora de dizer não à escalada autoritária no Brasil.

Sting

Trudie Styler

Valeria Chomsky

Noam Chomsky

Caetano Veloso

Arnaldo Antunes

Nancy Fraser

Boaventura Sousa Santos

Juninho Pernambucano

Bernardo Carvalho

Conceição Evaristo

Willem Dafoe

Jean Wyllys

Karim Aïnouz

Gregorio Duvivier

Célia Xakriabá

Lilia Katri Moritz Schwarcz

Marielle Ramires

Luiz Schwarcz

Sueli Carneiro

Pilar Del Río

Maud Chirio

Valter Hugo Mãe

Benedita Da Silva

Djamila Ribeiro

Steven Levitsky

Randal Johnson

Chico Buarque

Marcia Tiburi

Paulo Coelho

Julian Schnabel

Mia Couto

Boris Fausto

Milton Hatoum

Jodie Evans

Petra Costa

Wagner Schwarz

Sebastião Salgado

Sônia Guajajara

James Naylor Green

Dominique Gallois

Dira Paes

Sidney Chalhoub

Igiaba Scelgo

Ida Vitale

Pablo Capilé

Reverend Billy And Stop Shopping The Choir

Alice Ruiz

Gianpaolo Baiocchi

Angela Rebello

Barbara Wagner

Dinamam Tuxá

Mel Lisboa

Maria Fernanda Candido

Ivana Jinkings

Gilberto Miranda

Luis Eloy Terena

Leonardo Vieira

Márcio Astrini

José Luís Peixoto

Alinne Moraes

Douglas Belchior

Generosa De Oliveira

Rebecca E Karl

Georgia Kirilov

Karen Gronich

Muhammed Hamdy

Bruno Gissoni

Jeremy Adelman

Elika Takimoto

Ricardo Rezende

Adair Rocha

Virgínia Berriel

Mari Stockler

Cecília Pederzoli

Maria De Medeiros

Pancho Magnou

Cristina Pereira

Bete Mendes

Danuza Leal Telles

Luciano Marques Da Silva

Valeria Verkini

Toni Lotar

Karl Robert Graser

Breno Serson

Mauro Nadvorny

Adriana Kanzepolsky

Edison Araújo Russo

Cintia Buschinelli

Delcele Mascarenhas Queiroz

Joao Biehl

Sérgio Salvati

Marcus Fuchs

Fábio Stucchi Vannucchi

Maria Miranda

Fernando Prates

Mirna Boaroto Romero

Maria Doralina Silveira Da Silva

Maria Elisabete

Mariana Caldin

Adélia Cristina Pessoa Araújo

Bruno Carvalho

Beatriz Carvalho

Elizabeth Marques

Sônia Altoé

María De Fátima Gouvêa

Nara Reis

Léo Heller

Andre Lázaro

Carmem De Farias

Isabel Cristina Gonçalves De Sousa

Thyago Nogueira

Myriam Gontijo De Campos Abreu

Cleide Aparecida De Oliveira Dias

Maria Da Graca Ferreira Da Costa Val

Cibele Peres Demicheli

Ligia Gomez

Paulo Roberto Batista

Juliana Motta

Ricardo Anele

Paulo Henrique De Almeida Rodrigues

Esther Kuperman

Lilia Zambon

Henrique Noronha

Luísa Urano

Alina Zoqui De Freitas Cayres

Sylvia Caiuby Novaes

Paulo Sérgio Rais De Freitas

Olga Sodré

Paulo Ricardo Nunes

Ana Maria De Almeida Ribeiro

Ana Basaglia

Sandra Lacal

Vania Candida De Paula

Maria Carolina Cardoso De Andrade Righi

Elizabeth Amaral

Edward Flavian Shore

Lucélia Rocha De Souza Pereira

Laura Maria Da Silva

Luiza Cristina Rodrigues Lage

Kleber Da Mata

Clotilde Bassetto

Ligia Giovanella

Dilke Fonseca

Marcelo Fernandes De Mello

Paulo Roberto Pires

Morvan Anderaos

Angela Botelho

Marilia Freitas Pereira

Filippe De Mello Lopes

Aparecida Flausino

Elisabeth Andreoli De Oliveira

Lindsay Mayka

Gustavo Martins Ferreira

Cristina Madeira

Pedro Paulo Cavalcante

Marina Bedran

Maria Das Graças De Sousa

Ariane Zanelli De Souza

Rubens M. Volich

Cristina Catunda

Jurema Alves Pereira

Daniela Forner Castelan

Graziella Moretto

José Pagano

Vima Lia De Rossi Martin

Tatiana Salem Levy

Maria Filomena Grwfori

Marisa Sant'anna Cinquini

Ana Carolina Diefenthaeler

Luiz Saldanha

Telma Regina De Paula Souza

Bruno Lacerda

Janete Frochtengarten

Robson Rocha

Nara Milanich

Patrick Foley

Janine Durand De Andrada Coelho Galvão

Ermeson Vieira Gondim

Meire Silva Pena

Antônia Pereira Martins

Márciacristina Soares De Moura Victorino

Luciano Ximenes Aragão

Mauro Rego Monteiro Dos Santos

Ivan Rodrigues Martin

Marília Garcia

Bettino Zanini

Naira Morgado

Núbia Maria Rabelo De Oliveira

Guilherme Freitas Gomes

Ester Zita Botelho

Karolayne Viterbo Da Silva

Andrea Rodrigues

Renata Del Monaco

José De Medeiros Machado Junior

Ariane Leal Montoro

Cecilia Maria De Brito Orsini

Igor Freire De Vetyemy

Maria Aparecida Kfouri Aidar

Virginia De Araujo Figueiredo

Fernando Tolentino

Maria De Lurdes Zemel

Ana Clara Veras

Claudia Junqueira De Lima Costa

Maria Constança Peres.Pissarra

Nuno Porto

Ligia Valdes Gomez

Olga Regina Zigelli Garcia

Lauro Barbosa

Maria Else

Patricia Mercedes Metzler

Elisabeth Arouca Carossi

Ana Lúcia Assunção Da Silva

Cláudia Gomes De Paula E Silva

Eliana Garofalo

Herê Aquino

Danúsia Miranda Von Zuben

José Gilberto Cukierman

Joao Paulo Vaz

Mary Lucy Dal Bosco Carletto

Hanen Sarkis Kanaan

Edmilson Coelho Maciel

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Eroy Silva

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Luiz Carlos Miranda Pereira

Fernanda D'alessandro Nogueira Portilho

Marcela Galvani Borges

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Andre Fernando Bahia De Melo

Antonio Dimas

Ymara Vitolo

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Martin Klettenhofer

Andréa Sales Monteiro

Buda Lira

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Hélder Mateus Da Costa

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Sandra Rodrigues Cabral

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Francisco José Penteado Aranha

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Jacqueline Do Carmo Reis

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Júnior Pimenta

Fernanda Colonese

Rita Paula Bretas De Cardoso

Samuel França Alves

Eliani Santos

Inés Bortagaray

Elias Jorge Facury Filho

Christianne Gontijo

Lúcia Sá

Estevao Horvath

Guanaira Tupinambas

Marcus Vinicius Martins

Leandro Alves Barbosa

Bruno Ruffo

Rosangela Cintra

Tide Setubal Nogueira

Armando Neri Junior

Paulo Henrique Martins

Carmen Alvarez Da Costa Carvalho

Cláudio Antonio Di Mauro

Elide Rugai Bastos

Beatriz Cerqueira

Carmen Lúcia Nader Simões

Danielle Rodrigues Dutra

Ana Cristina Zahar

Luiz Carlos Castelo Branco Rena

Regina Maria Mac Dowell De Figueiredo

Delma Crotti

Simone Marques De Oliveira

Thélio Queiroz Farias

Monica Fragoso

Maria Gadu

Angela Spesiali Aroeira

Elizabeth Correa

Belisa Marra

Sergio Kon

Maria Teresa Zanatta Coutinho

Elisabete Bullara Ribeiro De Mattos

Angela Maria Real De Andrade

Luna Buschinelli

Pedro Gabriel A. Costa

Manuel Cruz

Eliana Barbosa

Tânia Tavares Dos Santos

Nádia

Edson Morais

Renata Augusto Ferreira

Vania Ghirello Garcia

Paulo Pedro Da Silva

Irene Trajtenberg

Maria Socorro Vieira Da Silva

Augusto César Da Silva

Fernanda Kopanakis

Eliana Aguiar

Marília Aparecida Da Costa

Rose Gurski

Ben Cowan

Maria Da Gloria De Oliveira Costa

Ana Lúcia Aguiar Pacheco

Nadia Maria Chaguri Dimitrov

Sofia Carvalhosa

Marco Aurélio Abijaudi

Norma Helena Lucas

Pedro Paulo Buxbaum

Jose Frazão

Irene Joaquina De Oliveira

Raimundo Barreto

Stelio Marras

Glória Maria Teles

Felipe David Rodrigues

Ana Lucia Vieira Menezes

Márcio Alves Do Nascimento

Monica Helena Bretas De Cardoso

Carmen Felgueiras

Maria Margarida

Marcio Seligmann

Maria Izabel Gomes Pacheco

Any Trajber Waisbich

Schirlei Azevedo

Catia R M Ramalho

Maria Luisa Eluf

Francisca Laide De Oliveira

Kenia Augusta Figueiredo

Walter De Oliveira Macedo

Genario Gomes De Sousa

Otávio Silva Camargo

Eleonora Colonnese Biller

Selma Santiago

Zé Mcgill

João Carlos Sepulveda Diniz

Rodrigo Simon De Moraes

Eveline Alperowitch

Sueli Toledo

Alfarah Vivara Kaufman

Andréa Braz

João Alexandre Dos Santos

Tais Helena Kneipp Dos Santos

Iara Andrade Costa

Cleio Da Silva Santos

Nilton Santa Cruz Guedes

Maria Isabel Mendes De Almeida

Ronald Lopes Faria

Ana Lucia De Souza

Ana Regina Machado

Giada Colagrande

Roberto Costa

Camila Vieira

Lilian Carminy Alves Pereira

Carmen Lúcia

Maria Jose Reginato

Lennon Brazetti

Marcia Camargos

Aline Andréa Pereira

David Barkin

Maria Lucia Scarpelli Dos Santos

Eliane Macedo

Flavia Meiches Sahm

Eriv Neves

Miriam Dascal

Dulce Pandolfi

Joyce Cesar Pires

Regina Maria Pessoa Dantas

Maria Cristina Vicentin

Flávia Aidar

Janice Fernandes

Luciana Cartocci

Neiva Ione Corrêa Da Silva

Eliza Regina Dultra Teixeira De Freitas

Walquir Cabral Vilela

Luiz Antonio Carvalho Ribeiro

Jane Russo

Lilia Cintra Leite

Francisco Jose Pereira Da Costa Junior

Luciana Soldi

Leniane Simão

Christiana Martins Ribeiro Cunha Freire

Izidoro Rocha

Marilia Soares Martins

José Rogériodos Santos Mello

Simone Perelson

Maria De Fátima Abreu

Cibele Lucas De Faria

Rosilene Arguello De França

Marcia Barreira

I Noemi Camerini

Maria Ruth

Silvia Mara Pereira

Santiago López

Paula Chakravartty

Fernando Carneiro Machado Ennes

Paula Trope

Marcia Ramos

Rafael Guimaraens

Rita Maria Xavier Machado

Maria Helena Ferrari

Roger Kittleson

Isabela De Sá

John M. Archer

Leoncio Edgar Carvalho Madruga

Libna Sampaio

Giovana Vaz

Marcos Olivio Fonseca Fregati

Daniela Danesi

Lorena De Medeiros

Elizabeth Sales De Carvalho

Hélio José Araújo Brandão

Sergio Amadeu Da Silveira

Eliete César Agostinho

Patricia Reinheimer

Edmundo Paiva

Luís Alberto

Joanna Van De Schepop

Marcelo Gomes Vilela

Wagner Ranña

Adriana Aranha

Cássio Ayres Bodnar

Débora Garcia Restom

Maria De Fatima Castanheira

Luís Augusto Bastos

Marise Rauen Vianna

Isabel Marazina

Pablo García Pose

Nivaldo Guidolin De Lima Filho

Jorge Hoffmann Wolff

Geunice Tinoco Scola

Erica Rocha Da Silva

Regina Coeli

Lena Aranha

Célia Sobreiro

Ana Lima

Rachel Aisengart Menezes

Carlos Rodrigues Pimentel

Danilo Araujo Marques

Fernanda Carmi Armel

Charles Georges Joseph Louis Varhidy

Afonso Borges

Luciana Menezes

Juliêta De Medeiros

Renê Santos

Claudia Geyer Kopelman

Silviano Santiago

Camila Mota

Karin Rosemblatt

Uilian Corcino De Souza

Moema Porro

Dalton Paula

Rosângela Tenório De Carvalho

Sergio Gonçalves De Lima

Marivete Gesser

Maria Luísa Da Silva

Marilene Leite Symanski

Suely Amaral

Mônica Carneiro

Florencia Fuks

Flávio Krawczyk

Laura Rivas Gagliardi

Nilton Julio De Faria

Cid B. De Araujo

Marcelo De Castro Silva

Carlos Frederico Malaquias Matos

Decio Amadio

Nelci Müller Xavier Faria

Antônio Pinheiro Neto

Jose Fonseca

Fernando Machado

Liana Cardoso Siares

Carlos Assis

Rute R.C.Ardizzoia

Nívia Campos

Mariana Filgueiras

Karina Lucena De Mesquita

Liliana Borges

Alexandre Gwaz

Mauricio Andrade

Fanny Cytryn

Maria Aparecida Guglielmi

Maria Celma Borges

Eliana Granja

Lourdes Bernadete De Souza Lira

Eliana Cezario

Leda Rejane Do Amaral Queiroz

Nara Cristina Jucá

Mozart Bezerra Alves Filho

Flavia Brettas

Roberto Giansanti

Fabia Trope De Alcantara

Nadia Bambirra Dos Santos

Ana Alice Costa Nascimento

Margaret Macdonald Power

Viviana Ramírez

Kátia Gerab Baggio

Luiz Felipe Aranha De Siqueira Lima

Eduardo Lourenço Magdaleno

Sergio Potsch

Erica Otsubo

Maria Sheila Guimarães Rocha

Roberto Gervitz

Patricia Zaidan

Esequiel Machado Ferreira Gonçalves

Tereza Temer

Ricardo Costa Gazel

Lauren Oliveira De Oliveira

Celia Regina De Souza

Lillian Manzor

Antonio Carlos Pugin

Gustavo Belic Cherubina

Benjamin Goldfrank

Susana De Matos Viegas

Fernando Morais

Vladimir Sacchetta

Sílvia Nogueira De Carvalho

Izilda Bichara

Elaine Armenio

Yudith Rosenbaum

Jane Guedes

Soraya Silveira Simões

Daniel Marques

Elisabetta Santoro

Diego Reis

Solange Maria Galvão Oliveira

Fernanda Ferreira De Souza

Maurício Zart

Daniel Becker

Marco Aurélio Nunes Baptista

Naara Luna

Marina De Mello E Souza

Christina Iuppen

Davi Pires

Regina Elza Solitrenick

Franklin Kaic Dutra Pereira

Ervelina Semerjian

Marcia Eloy Jatahy

Juliana Stefani

Sandra Albernaz

Helio Da Silva Gusmão Filho

Fernando Cardoso Soares

Jorge Kratz Moriyama

Lucio Branco

Elisabeth Antonelli

Enio Lopes Mello

Lian Andrade

Roberto Suarez

Ivana Laguardia

Robério Diógenes Teixeira Pessoa

Benny Schvasberg Gestor

Carlos Camilo Prada

Leonora Corsini

José R Monteiro

Giane Fregolente

Tim Macgabhann

Claudia Prado

João Baptista Santiago Neto

Breno Isaac Benedykt

Maria Jacqueline Abrantes

Jose Carlos Queiroz Lima

Mariane Ster Corgozinho Medeiros

Andréa Velho Barreto De Araújo

Christian Poirier

Sergio Machado Rezende

Katia Lazarotti

Laura De Mello E Souza

José Mauro Silva

Deyse Fabiana Brumatti

Tea Frigerio

Larissa Lisboa

Fernanda Windholz

Débora Machado Anderaos

Wlamir Moura

Kaori Kodama

Andréa Cals

Cesar Braga-pinto

Patrick Blum

Maria Aparecida Moretto

Bambi B Schieffelin

Erci Sales Dotta

Débora Pereira

Cristina Salgado

Sylvia Molloy

Núbia Almeida Campos Vidotto

Simone Matos

Gustavo Tostes Gazzinelli

Manuela Carneiro Da Cunha

Dercília Maria De Sousa

Carmen Aranha

Natalia De Campos

Rita Mosqueira

Munish

Nilson Carlos Vieira Junior

Angela Maria Meira De Vasconcellos

Cíntia Barreto

Michael L. Conniff

Elina Pessanha

Lilian Quintao

Manuel Abramovich

Eduardo Cota Guimarães

Madlene Maria Provençano Do Outeiro

Itauana Coquet

Sérgio De Souza França Júnior

Roberta Xavier Da Costa

Florence Rodrigues

Salo Coslovsky

Graciela Foglia

Mônica Maria De Souzs

Marco Elísio Bizarria Werneck

Kokada Marcos

Tarso De Melo

Eiko Lucia Itioks

Maria Silvia Castro

Beth Formaggini

Sergio Ricardo Fernandes Rodrigues

Nilton Eustáquio Da Silva

Maria Cláudia Mello Ribeiro

Jeni Vaitsman

Genival Santos

Carem Abreu

Denise Diana

Cláudia Nejme

Paulo Renato Couto De Carvalho

Amy Trachtenberg

Bonifácio José Teixeira

Ademir De Lucas

Luiz Eduardo Soares

Leda Maria Lopes Perez Maia

Efren Rivera

Pedro Parga Rodrigues

Patricia Souza

Elenise Faria Scherer

Bruno Campanelli

Samuel Medina Do Nascimento

Claudio Aguiar

Marcelo Aragão

Flavio Netto Fonseca

Sálvio Do Prado

Mauro Mendes Braga

Rodrigo Antonio P Duarte

Cris Vale

Angela Maria Codeço Rezende

Carlos Tavares

Apoio Integralmente Esta Denuncia

José Eugênio Gomes

Roseli

Anna Dantes

Antonio Azevedo

Aaron Schneider

Robson José Araujo

David Alencar

Renato Gomes Leitão Travassos

Edna Diniz

Flávia Maria Abelha

Anderson Augusto De Souza Pereira

Jose Oscar Beozzo

Regina H P S Rocha

Flávia Morais

Regina Amaral

Maria Ephigenia Netto Salles

Rodolfo Andrade

Não A Bolsonaro

Angelica Sanda

Luciano Gatti

Domingos Savio De Sousa

Luis Fernandes Bastos

Rozeli Maria Porto

Rodrigo Simões Do Espirito Santo

Glória Kok

Cristiane De Sousa Viana E Vilhena De Carvalho

Paula Beiro

Guilbert Ernesto De Freitas Nobre

Silvia Costa Brand. Corrêa

Daniel Gomes Passarelli Campos

Marcus Vinicius Dos Santos Moura

Ricardo Porto

Maria Rita Pereira De Almeida

Rema Aranga

Ivanise Esperdiao Da Silva Santos

Solange Maria Petris

Marisa Cardoso Nascimento

David Michelsohn

Maria De Fátima Amorim

Taciana Eobalinho Cavalcanti

Ana Cristina

Paulo Roberto De Araújo Abrantes

Luciana Saddi

Ana Maria Arantes Bomfin

Elisa Arreguy Maia

Marilene Canano Sellos

Miriam Duailibi

Inês Figueiró

Maria Da Gloria Santos

Mariana Leme

Marcilio Soares De Souza

Naudal Alves Gomes

Heidi V. Scott

Jeffrey Erbig

Vanderaldo R Palma

Paulo Nucci

Graça Cremon

José De Filippi Jr

Hercilia Tavares De Miranda

Valeska Alves Brinkmann

Lilia Maria Da Silva Costa

Branca Moreira Alves

Valeria Macedo

Cleudirce Camargos

Maria Helena Pereira Toledo Machado

Marilda Meireles Varejão

Claudio Sérgio Contro

Mônica Zarattini

Eliana Vaz Macia

Erika Daher Rodrigues

Edson Luiz De Oliveira

Camila Boff

Pedro Roberto Jacobi

Ana Rieper

Mabel Monfil

Tercia Mendes De Souza

Sandra C. Marino

Sandra Regina Da Rocha

Maria Carolina Accioly

Claudio Siqueira

Bela Feldman-bianco

Jose Gustavo Penteado Aranha

Mariana Martins Rebouças

Nelma De Fátima Gonzaga De Leles

Elaine Corsi

Aluízio Palmar

Marlene Araujo

Silvia Oliveira

Leandro Barcellos Prior

Lúcia Klück Stumpf

Sigrid Schmalzer

Candida Maria Monteiro

Carlos Augusto Addor

Cesar Augusto Kuzma

Denise Cabral Deoliveira

Luciano Luppi

Messias Gilmar De Menezes

José Djalisson Santos Oliveira

Andrea Balan

Patrícia Vieira De Souza

Natalia G D Sátyro

Vavi Konigsberger

Edson Luiz André De Sousa

Andre Costa

Júlio César

Rafael Cardoso

Andrew Ross

Zilá Rruda Agriel

Alberto Carlos Dias Duarte

Emilio Fraia

Rita Maria Manso De Barros

Antonia Pellegrino

Reinaldo Soares Damasceno

Zilda Márcia Gricoli Iokoi

Antonio Athayde Sauandaj

Gustavo Costa

Kevin A. Young

Maria Das Graças Freires De Morais

Sandra Maria De Oliveira Leal

Milena Carbonari Krachevski

Theresa Aiello

Ernesto Gadelha

Sulimar Alves

João Cláudio Fontes

Sandra Lagos Motta

Regina Celia

Rosa Maria Tedeschi Vieira

Geraldo Tadeu Moreira Caminha

Gezica Valadares

Graciela Pagliaro

Suely Araújo

Leda Maria L Oliveira

Irene Terezinha Gabardo

Ana Marsillac

Raimundo Nonato Marreiros De Macedo

Maria De Fatima,Lage Guerra

Celso Carlos

Sueli Fernandes Pinto

Irene Loewenstein

Ilciofram Mendes Braga

Clarice Ferreira Menezes

Sara Raquel De Andrade Silva

Paulo Pinheiro Machado

Leda Maria Gonçalves Liborio Marques

Gwen Kirkpatrick

Vanessa Santana

Zilma Maria De Andrade

Emmanuel Assis

José Carlos Siqueira

Luiz Guilherme Diniz Dutra

Grazielle Gonçalves

Adriana Varella

Gilda Balassiano

Roberto Domingues

Vânia Maria Bahia Nogueira

José Francisco Bigotto

Marina Nielsen

Christina Tavares

Patricia De Sousa Gadelha Costa

Clara Saraiva

Jurama Maia

Glicia Teixeira

Bertrand Lira

Beatriz Kushnir

Esteban Schroeder

Maria Betania Silveira

Marilia Guimaraes

Cinthia Toledo

Cynthia Hamlin

Matias

Claudia Maria Loyola De Santana

Guilherme Do Amaral Carneiro

Mauro Orsini Windholz

Lenora De Barros

Elisabeth S.G Quintino

Magda Carvalho De Oliveira

Lia Garcia Vieira Santos

Lia Ribeiro Dias

Jacqueline Siano

Maria Heloísa De Oliveira Dalo

Regina Elisabeth Lordello Coimbra

Célio Marcondes Alves

Adriely Carolina Werneck Leal

Elisabeth Machado De Morais

Maria Isabel Puntel

Manuela Andrade

Simeão Jaime Rodrigues Pinto

Luca Paiva Mello

Patrícia Pontes Zaidan

Janaina Camara Da Silveira

Janete Moro

Margarida Dalla

Miriam Belchior

Rogerio Mesquita

Claudia Luckow Meyer

Selma Campos Mascarenhas

Beatriz Lúcia De A A Moraes

Gabriela S Lopes

Henrique Lanfranchi

Laura Moutinho

Márcia Leal

Naruna Freitas

Maira De Avila

Ana Claudia Marques

Mônica Raisa Schpun

Ana C B V Freire

Tiago Amaral Ciarallo

Gilda Maria Pompeia Soares

Luzia Ferreira De Souza

Elizeu Silva E Silva

João Carlos Galvão De Berredo

Luciano Costa Santos

Cristiane M Brito

Jawdat Abu-el-haj

Meire Saleh Sleiman Rizzatto

Soraya Fleischer

Luiz Carlos De Miranda Faria

Sandra Belchiolina De Castro

Marta Garcia

Miguel Góes

Colin Snider

Luciana Martins

Rosa Primo

Arcadio Díaz-quiñones

Janne Ruth

Rejane Nunes

Gilberto Figueiredo

Sarah Sarzynski

Adalberto Prado

Teresa Karabtchevsky

Roberto Sart

Àtila Drelich

Maria Tornaghi

Ana Paula Alencar

Leandro Pimentel

Jorge Salek Aude

Fernanda Silva

Isabela Gaglianone

Miriam Coelho De Souza

Evelyn Disitzer

Deborah Silva De Queiroz

Nelson Waisbich

Maria Do Socorro Gonçalves

Franklin Moutinho Rodrigues

Mario Handler

Vanessa Martins Melo Fidellis De Souza

Luiz Cesar Gomes Dos Reis

Patrícia

Amélia Siegel Corrêa

Misha Klein

Maria Lúcia Castilho Romers

Monica Vendramini Reis

Anamelia B Buoro

Claudia Soares

Helen Cordeiro Audino

Ana Esther Della Croce

Cintia Borges Almeida Fonseca

José Braz Goilart

Marta Conte

Cintia Lublanski

Julio Villani

Mirza Seabra Toscho

Marcos Pimenta

Adrián Pablo Fanjul

Denise Cabral Carlos De Oliveira

Eduardo Luiz Samico

Lúcia Adélia Fernandes

Gislene Marques Meireles

Diogo Ardaillon Simoes

Daniele Melo Da Costa

Anna Maria A. Do Amaral

Sergio Windholz

Gal Oppido

Breno Kuperman

Ana Beatriz Do Nascimento Genuncio

Heloar Rodrigues Oliveira Reis

Geraldo Bastos De Oliveira

Rosa Gauditano

Denise Asdis

Mariana Weiss Telles

Renato Sztutman

Norberto Lima Bonini

Dalila De Almeida Gomes Coura

Marcos Mantoan

Claudia Beatriz Campanella De Siervi

Moisés De Jesus Prazeres Dos Santos Bezerra

Ana Paulina Aguiar Soares

Cláudia Patrícia Coutinho Campos

Nanci De Oliveira Lima

Thomas D. Rogers

Luiz Fernando Narcizo De Oliveira

Graziella Baggio

Leda Barone

Nelisa De Araujo Guimaraes

Izabel Missagia De Mattos

Cláudio José Mendes Ferreira

Paulo Eustaquio Duarte Pinto

Maria Thereza Marcilio

Armando Molina Divan Junior

Fernanda Franceschi

Maria Das Gracas Vitoria Franca

Sonia Maria De Oliveira Capanema

Márcio Fecher

Antonio Filho

Luiz Fernando Dias Duarte

Maria Andrade

Liana Albernaz De Melo Bastos

Margaret Assis Arantes

Marcelo Oliveira Da Silva

Fernanda Otoni

Carlos A. Forment

Arthur Vianna

Elison Oliveira

Rebecca Atencio

Miriam Chnaiderman

Anna Carolina Lo Bianco

Adelmo Duarte Filho

Eliane Luzia Trevisan

Isabella Marcatti

Ingrid Brioso Rieumont

Magda Chinellato

Maria Ignez Costa Moreira

Paloma Vidal

Bianca Lucindo Côrtes

Maria Lúcia Gross

Clara Marina

Jose Ricardo De Oliveira

Eunice Rodrigues Paiva

Fernanda Scalzo

Regina Helena Teixeira

Elaine Cristina Simões Brandão

Ligiana Costa

Isabela Gouveia Cabral

Leonardo Libanio Christo

Claudio Vaz

Paulo Probo

Jorge Pessoa

Marina Corcovia

Alba Valeria Pereira Cordeiro

Filadelfo Oliveira Neto

Moises Damiao De Souza

Diva Alves

Patricia Pinho

Vera Maria Taranto

Luiz Di Bella

Ligia De Melo Canejo

Renata Gerard Bondim

Eliana Monteiro Moreira

Valéria De Oliveira Julião

Cleonice Maria Campos Dorneles

Lygia Segala

Silvana Nascimento

Jorge R. Lima

Lucio Vitor Olivier

José Ricardo Marcondes Paim

José Sergio Leite Lopes

Monika Sönksen

Francisco Bethencourt

Valéria Maria De Azeredo Passos

Lídice Matos

Soraia Bento

Maria Juliana Da Silva Medina

Marcelo

Guillermo Rocamora

Creusa Salette De Oliveira

Mauricio Magrisso

Monica Martins Rabelo

Evangelina Jimenez

Maria Carmen Andrade Gomes

José Fernando Thomé Jucá

Angela Vilela

Edwar Nogueira Soares

Maria Rita Medeiros Fontes

Cecilia Mello

Daniel Cavalcante Aragão

Maria Lucia De Oliveira Marques

Sandra Lucia Cerqueira Ferreira

Maria Ferreira

Mariangela Tamietti

Jorge Teotonio

José Fernando Cardoso

Gilda Cosenza

Luis Marsala

Renata Magalhães Da Silveira

Sonia Regina Hoffmann

Marilia Marques

Águeda Pereira

Dayse Cardoso Codeço Wagner

Luciano Pinho Nilo

Fábio Cerqueira Brandão

Luzinete Simões Minella

Natalia Reis

Maria Júlia Chabo

Maria Luiza Ghirardi

Adriana Bezerra Pimentel

Telma Araújo

Telma De Oliveira Araújo

Marisa Lourenço

José Renato Ferreira Canejo

Márcia Regina Okano

Tatiana Pavanelli Valsi

Suzana Deslandes

David M. Halperin

Leda Maria

Isaac Cândido Júnior

Mirian Iolanda Rejani

Cid Barbosa Lima Junior

Victor Burton

Crislaine Valéria De Toledo Francisco

Claudio Meneghetti

Leandro Mendonça

José Roberto Eliezer

Renata Zambonelli Nogueira

Marcia Scazufca

Luiz Camillo Osorio

Frederico Lustosa Da Costa

Kathleen Hulley

Liliane Kemper

Renata Paparelli

Gabriel Luiz Bandouk

Bruno Brulon Soares

Luciana Whitaker

Iris Carolina Miguez

Claudia Versiani

Celso Curi

Wallace Puosso

Andrea Sendyk

Carlos Grassioli

Sábado Nicolau Girardi

Maria Esther De Freitas

Sonia Roncador

Maria Dos Prazeres Firmino De Barros

Sergio Leite Pedrosa

Lourdes Tisuca Yamane

Maria Filomena Gregori

Maria Alice Bezerra

Eduardo Affonso

Marilia Balbi

Silvero Pereira Do Nascimento

Vauner S Azevedo

Luiz Fernando Rodrigues De Paula

Falcão Vasconcellos, Luiz Gonzaga

Stéphanie Roque

Thomás Aquino

Guilherme Meyer

Madalena Vaz-pinto

Mariana Figueiredo

Celia Rita Genovez

Edna Maria Da Silva

Luiz Coelho

Aparecida Mendes

Andrea Roca

Tiago Corbisier Matheus

Antonio Carlos Pereira Da Silva

Breno Bringel

Renato Sampaio

Roberto Valsi

Ana Lúcia Braga Pedrozo

Luís Ricardo Pires

Tadeu Di Pietro

Celia Orlandi

Janine Luz Vasconcelos

Daniel De Carvalho

Lucila J M Gonçalves

Denise Trevisan De Góes

Reginafátima Rachide

Conceicao De Maria Coelho Verdini

Samuel Sena Semim

Roberto Da Silva Amorim

Elcio Gonçalves

Maria Scazufca

Luciola Licinio Santos

Maria Cristina De Souza

Pedro Moritz Schwarcz

Ronaldo Godinho

Paulo Neves

Vania C. Sequeira

Marília Arreguy

Fernanda Reis Corte

Gustavo Montenegro

Evelynn Rosaria De Alcantara

Jamila Aparecida Silva Câmara

Eliana Borges Pereira Leite

Mauro Kohan

Naira Kiyomi Uehara

Vera Lúcia

Beth Ng

Celso Melo

Selma Venco

Susane Worcman

Adriano Chan

Mauro Pergaminik Meiches

Jose Marcilio Cavalcanti Ferreira

Otavio Anisio Amaral Ramos

Tatiana Sottili

Ana Rita Souza Prata

Dr. Susan C. Quinlan

Ademir Rodrigues Pereira

Mario Dionel

Ernesto Neto

Tecka

Marcelo Duarte Pinto

Ivanildo Santana Do Nascimento

Jorge Luiz Padilhs

José Antônio Aleixo Silva

Maria Leticia Ferreira Da Costa Val

Branca Szafir

José Milton Bertoco

Andrea Camposcozinhe

Cristina Guedes

Tânia Zillio

Nelson Jakson Gomes Da Silva

Ivan Toledo De Sousa

Fabrício César De Oliveira

Christianne Jacome

Fabio De Sa E Silva

Patrícia De Medeiros Guimarães

Erika Fonseca

Paula Vig Garcia

Stephen Duncombe

Carlos Alberto De Freitas

Rebeca Roseli Lang

Rosália Maria Ev Neves

Santuza Fernandes Rodrigues

Heloisa Buarque De Hollanda

Acácia Cristina Reis De Andrade Brito

Vanda Claudino-sales

Maria Cristina Guimarães

Eduardo Godoy

Rodrigo Soares De Cerqueira

Marta Barcellos

Reginalice Cera Da Silva

Marta Vanelli

Ana Maria Stucchi Vannucchi

Mara Coelho De Souza Lago

Maria Rebello De Rezende Bombonatti

Ariadna Paz

Ameris Paol

Iris Kantor

Tomás Selaibe Pires

Angela Bergallo

Maria Teresa Da Silveira Pinheiro

Jacqueline Castro

Cilene A Silva

Tracy Devine Guzmán

Mônica Guidorizzi

Tarsila Araújo

Denise Di Loreto

Maria Ester Lopes Moreira

Silvio Naslauski

Marília Dornas

Marcio Acselrad

Adriana Marques

Guilherme Giufrida

Marilza De Meli Foucher

Rômulo Viol

Linda Luz Jansen De Jesus Brigato

Rich Potter, Phd

Lorena Féres Da Silva Telles

Sérgio Augusto Pinto

Marcia Peicher Lisboa

Paulo Pace

Sonia Regina Furlan

Sonia

Regina De Paula

Amanda De Sousa Cabral

Eduardo Aguiar Ferreira

Céu Bauler

Ronaldo Rabello

Oscar Loureiro Malta

Michele Gonçalves Dos Ramos

Juliana Capile Rivera

Cleide Monteiro

Catarina De Sousa

Gabriel Farias Rodrigues

Euler Oliveira Cardoso Da Costa

Lígia Marques Miguez

Ivo Lesbaupin

Alice Warschaue

Paulo Germano Marmorato

Carolina Domingues

Camila Maciel

Marilene Lima

Paula Nogueira

Angela Furtado

Eduardo Martins

Delaine Carvalho

Célia Maria Leite Costa

Cristina Ricardo

Elza Pinto Couto

Hebe Mattos

Maria Berenice Dias

Maria De Nazareth Baudel Wanderley

Carmem Matos

Gilvane Caldas Lima

Márcia Motta

Arthur José Medeiros De Almeida

Daniela Corbe

Silvia Massara Pacheco Fernandes

Luiz Roberto Alves

Wilma Szwarc

Iara Costa Pinto

Beatriz Carmen Pallaoro

Alice Sant'anna

Marcia Arantes

Maria Valdecira De Lima Silva

Márcia Leitão

Tatiana Klix

Nadia Vieira

Cássio Eduardo Soares Miranda

Mateus Bernardes

Emanuella Urquiza

Paulo Oswaldo Boaventura Netto

Anelise Wisbeck

Elizabeth Laguardia Faria

Matias Lopez

Vanessa Fausto Klein

Sergio Costa

Ricardo Rezende

Hivanesa Cristina Da Silva

Terezinha Bissoli

Jorge Schwartz

Luís Fernando Lopes Pereira

Adelia Maria Franceschini

Maicon P Da Cunha

Cecília Pescatore Alves

Maurício Lucchesi

Denilson Ronan De Carvalho

Nívia Pombo

Maria Lucia Udihara

Cristóvão Giovani Burgarelli

Rosangela Colosio

Mauricio Acuna

Suzy Lopes

David Linhares

Mayara Morais Barbosa

Paulo Marcos Ragnole Silva

Valdemar Sguissardi

Rosana Baccarini

Francisco Raul Cornejo De Souza

Raquel Joane Rodrigues

Carlos Bassi

Rute Da Cunha

Isabel Appy

Ana Patitucci

Sandra Cutar

Guilherme Da Silva Ribeiro

Josinea Marprates

Allison Charlotte Burkel

Paulina Maria Ubaldino Pereira Zoberi

Maria Esperança Fernandes Carneiro

Marieta Magaldi

Betina Zalcberg

Manoel Pedroza

Antonio De Freitas Da Corte

Celeste Aida

Elza Freitas

Dayse Vieira Maia De Miranda

Jacqueline Custodio

Robson Sabtos

Eduardo Lara

Vera Maria Couto Zeferino

Erika Kokay

Elizabeth M Siervi

Eliane De Freitas

Aparecida De Morais

Antonio Gomes

Patricia Santos Souza Carlos

Maria Benilze Sales

Cláudia Beatriz S C Cruz

Elisa Puterman

Alvaro Jarrin

Mayra Pinto

Rosângela Cortinhas

Maria Do Rosário Nogueira Rivelli

José Carlos Lopes

Shirley Monteiro De Melo

Leonel Braga Neto

Maria Piedade Malerba

Luciana Ferreira Moura Mendonça

Cleide Lopes

Jose Arlindo Barcelos

Maria Do Amparo B. Andrade

Ricardo Vieira Dos Santos Paiva

Marco Antonio Coelho

Laura Butcher Camargo

Rita Braga

Fábio Gatti

Maria Beatriz Contreiras Agra De Alcantara

Valeria Barbieri

Adriana De Oliveira Rangel

Sonia Maria Da Silva Maciel

Jeane De Jesus Zanetti Garcia

Ana Lucia Araujo

Sulamita Esteliam

André Gimenes

Paloma Jorge Amado

João Felipe Sobrinho Kneipp Cerqueira Pinto

Carmen Rial

Sofia Rosenbaum

Alberto Daflon Gomes Filho

Andrea Casa Nova Maia

Beatriz Vieira De Souza

Ludmila Maria Paulino Rocha

Charles Monteiro De Jesus

Carla Raquel

Durval Augusto Rizzatto

Hélia Márcia Silva Mathias

Gustavo Matos

Rodolfo Pinto Stumpf

Márcia Regina De Almeida Rezende Ruiz

Oscar Antonio De Almeida Cirino

Marcos Teixeira

Tarcioleal Pereira

Rejane Camara Cutrim

Cesar Piovani

Jun Nakabayashi

Marta Azzolini

Carlos Anibal Nogueira Da Costa

Jr. Black

Isabel Lustosa

Maria Elizabeth Varjal Medicis Pinto

Diou Faria

Maeve Jinkings

Mateus Vitavar

Vania Souza

Miriam Adelman

Peter M. Beattie

Marco Fialho

Dale T. Graden

Mira Wajntal

Maria Da Graça Dos Santos Gome

Cláudia Cabral Chalub

Caroline Chang

Margareth

Soalba Virgínia Vieira

Alan K. De Alcantara

Anamaria Fernandes Willemes Batalha

Monica Mattins

Maria Eugênia De Carvalho

Marinalva Portilho Vieira

Jussara Bivar

Raimundo Donato Prado Ribeiro

Hal Langfur

Heloisa Buarque De Almeida

Jorge Pacheco

José Brasil De Matos Filho

Regina Weinfeld Reiss

Flavia De Castro E Castro

Maria De Fátima Alves

George A Yudice

Erandy Albernaz Lopes

Andrêza Almeida Fernandes Alves

Angelica Melo De Sá

Aluisio Rodrigues Cabral

Maristela De Paula Andrade

Aliston Mota Barros

Maria Luiza Heilborn

Geraldo Fonseca

Luiz Oliveira

Marconi De Lima Braz

Maria Das Graças Cabral E Silva

Anselmo Jose Da Silva

Joao Carlos Vilarim

Roberto Morais Da Silva

Carolina Rede Biller

José Geraldo Furtado Ramos

Xosé Abad

Silvia Monteggia Varela

Maria Aparecida Ribeiro Magalhaes

Helia Ferreira

Luiz Henrique Malzone Assumpção

Roseane Freitas Nicolau

Amy Chazkel

Luciana Morais Brígido

Ana Carolina Araujo Abreu

Alba Gomes De Paiva

Solon Coelho

Patricia Scotolo

Luena Nascimento Nunes Pereira

Paula Perrier

Marco Meyer

Marina Antunes

Rosangela Real

Ivette Lenard

Stefano Nogueira De Azevedo

Neide Hanan

Maria Consolação Da Silva

Rafael Lagler

Carmem Lucia Do Amaral

Valter Battistin

Marta R Amoroso

Maria Olívia Chiarella Ornelas De Mello

Soraia Aparecida Ferreira

Maria Eulalia Rocha Carneiro

Rosania Maria De Carvalho Abrantes

João Carlos Dias De Castro

Simone Kropf

Eliani Dantos

Fabiana Biancardi

Celigracia Maddalena

Frank Lourenço

Vanessa De Almeida Silva

Regina Cequeira

Cristina Ribeiro

Claudia Heller

Riba De Castro

Lilian Krakowski

João Bosco Da Silva Fonseca

Hélio Rubens Corinos Lima

Júlia Midori Kuniyoshi

Leonardo Tucherman

Isildinha Baptista Nogueira

Patrícia Cabianca Gazire

Michele Castro

Virgínia Arêas Peixoto

Naiara Morena Roque

Glenio Martins

Francisco

Roque Ferreira

Manoela Goldoni

Adriana Martorano

Patrícia Fernanda Barbosa Dutra

Ligia Mefano

Daniela Gomes

Paola Martins

Marco Antônio Quirino Duarte

Alexandre Do Nascimento Souza

Rogerio Alexandre Cunha Simoes

Daniel De Paula Aragao

Arnaldo Nudelman

Maria Stella Sampaio Leite

Paloma Varon

Célia De Lima Carvalho

Cicera Vanessa Maia

Eduardo Marques

Beto Quadros

Cristina Deane

Lazara Cristinada Silva

Gênese Andrade

Bibiana Bolson

Sonia Lansky

Cristiane Santos De Souza Nogueira

Irene Nogueira De Rezende

Marcos Antonio De Oliveira Sá

Roberto Carvalho

Josiane Pasa

Affonso Henriques Nunes

Cézar Fernandes Alves

Steven Hahn

Janaína De Paula

Marilena Lima

José Otavio Torres Lopes Da Cruz

Lia Só Ncini

Celina Luiza Romagnani

Gerardo Halpern

Bruno Nascimento Campos

Vera Luz

Robert Austin

Elizabeth Da S. Simões

Antonio Carlos

Marc Becker

Leopoldo M. Bernucci

Fernando Martins Borges Coelho

Francisco Moreira

Adelia Pasta

Marta Francisca Topel

Monica Guimaraes Teixeira Do Amaral

Luiz F Taranto

Heloisa Pontes

Cleber Zeferino

Fabiana D'alessandro Nogueira Portilho

Eliana C Sisla

Joana Maria Leôncio

Jose Antonio Pereira Do Nascimento

Erika Robb Larkins

Geraldo Magnani

Oswaldo Correa Miranda

Shilpa Narayan

Ana Rojas

Gabriella Scheer

Carlos Chesman De Araújo Feitosa Chesman

Valéria Costa Pacheco

Lisiane Da Silveira Ev

Leonardo Danziato

María Do Carmo Pinheiro Chagas

Kleber Alexandre Da Rocha

Joao Candido Portinari

Jonas Godinho

André Monteiro

Ivon P Fittipaldi

Cecilia Campello Do Amaral Mello

Eliane Veras Soares

Paulo Fluxus

Solange Lins Chaves

Tomé Carlos Lago Reis

Fred Góes

Maria De Fátima Tomaz

Mário A. G. Neto

Marcos Pores Leodoro

Alvaro Alves. Evangelizar Nossos Indígenas É O Mesmo Que Matá-los Em Vida. Trocar A Alegria Natural Pela Tristeza "Dos Degredados Filhos De Eva"

Daniel Marques Araújo

João Carlos Da Luz

Maria Do Carmo Bueno Guerra

Cynthia Sarti

Marcelo Noah

David Lehmann

June Alice Chaves Izzo

Mônica Leite

Rosi Schwantes

Renato Penteado Fabiano

Célia Regina Rossi

Sylvio Gomes Lanna

Heitor Frúgoli Jr.

Luciana Fenyves Sadalla De Avila

Ana Maria Barcellos De Lima

Carlos Roberto De Carvalho

Luciene De Rezende Figueira

Paula Paiva

Conrado Hübner Mendes

Federico Veiroj

Sergio Vitor Lemes

Eduardo Peres De Paula Bomfim Lopes

Claudia Regina Da Silva

Danny Barbosa

Sean T Mitchell

Leandro Castro Oltramari

Mariza Guerra De Andrade

Wilson Moromizato

Paulina Basch

Paulino S. Fukunaga

Evanize Pavanelli Valsi

Marcia Regina Bozon De Campos

Ricardo Airut Pradas

Marcos Costa Lima

Luciana Coutinho Passos

Claudia Guimaraes Costa

Evelani Martins Da Silva

Adilson Ribeiro Dos Santos

Samara Azevedo

João Batista M C Lima

Alex Ivan Peirano Chacon

Maria Da Consolação Silva

Adele Nelson

Paulo Schleder

Maria Emília Caixeta

Pedro Meira Monteiro

Cesar Augusto Oller Do Nascimento

Virgínia Maria Trindade Valadares

Gustavo De Melo

Vilma Franceschi

Maria Helena De Moraes Pozzo Rossetti Pacheco

Evanilde Martins Carlos

Juliana Monteiro De Andrade

Helena Maria Cruz E Souza

Vilma Augusta Dos Santos

Walderes Nunes Loureiro

Maria Odila Leite Da Silva Dias

Julio Albuquerque

Eduardo Coelho Grillo

Maria Isabel Cunha Pimenta

Peter Evans

Sibele Andreoli De Oliveira

Alfredo Arnóbio De Souza Da Gama

Jose Wilson Martins Da Silva Jujior

Estevam Las Casas

Altamiro Vilhena

Lêda Lucia Queiroz

Leda Catunda

Osvaldo Rocha Da Silva

Laércio Costa Nunes

Emilio Veronese

Suzi Meneses Ribeiro

Cláudia Borges Costa

Maria Ines Oliveira Bodanese

Mauricio Brandão

Helderson Mariani Pires

Paulo Alves De Lima

Carlos Lineu

Vera Lucia Dos Santos Cardoso

Diogo R. Coutinho

Simone Michelin

Bruna Barbosa

Robson Quirino Salvador

Marta Kuczynski

Eleide Abril Gordon Findlay

Ana Cristina Figueiredo

Maria Sandra Perrud

Denise Braz

Erich Proglhof

Valéria

Mardonio Coelho Filho

William Menezes

Munira Proenca

Heloísa Maria Halembeck Marton

Guilherme Aguiar

Raquel Wrona

Luís Henrique De Oliveira Daló

Ana Luisescitek

Rosana Pinheiro-machado

Claudio Cesar Santoro

Fernando Rinaldi

Sylvio De Sousa Gadelha Costs

Jim Uleman

Riardo Chaloub

Gigi Pedroza

Maria Do Socorro Fernandes De Carvalho

Alexandre Bhering

José Maria Porcaro Salles

Cândido Hilário García De Araújo

Juliana Real Nunes

César Coelho Xavier

Leneide Duarte-plon

Valquiria Ferreira Da Silva

Rosali Cristofoli Flores Nobre

Fernando Porto Calipo

Remo Mutzenberg

Nuria Fló Rama

Eliana Da Silveira Cruz Caligiuri

Thiago Herzog

Jose Gomes Temporao

Lauren Minsky

Guilherme Pires Mata

Alice Claus

Marcos De Sao Thiago

Daniel Hunt

Luciene Andrade De Souza

Sinclair Thomson

Viviane Namur

Andrea Sampaio

Hélio Rabelo

Rose May Carneiro

James Woodard

Marcelo D'salete

Claudia M Gadotti

Ariovaldo Ramos

Marcio Doctors

Maria Do Socorro Oliver Torres

Jonathan Prateat

Lilian Frazão

Lúcio França

Carlos Francisco

Maria Letícia Corrêa

Heloisa Eterna

Octávia C. Martin Danziato

Rosali Ziller De Araújo

Margareth Messias

Juliana Casaccia Vaz

Eva Wongtschowski

Sandra Lúcia Barbosa

Mauro Rabacov

Alejandro Velasco

Robeni Baptista Da Costa

Marco Augusto Cecchini

Francisco De Assis Da Silva

Alberto Guerreiro

Glauber Janio Da Silva Santos

Gustavo Horta

Mara Selaibe

Ligia Maria Machado Pereira Dos Santos

Gilmara Azenha

Cecilia Motta De Paula

Isadora Burmeister Dickie

Aldo Ambrózio

Francisco Eduardo Serra Grande Da Silva

Flavio Pires

Elisiane Sartori

Raquel Durigon

Mario Luiz Machado

Ronaldo Abrão Pimentel

Leonardo Costa Lima Verde

Alberto Kleinas

Valentina Zanini

Maria Laurinda Ribeiro De Sousa

Nina Mary Lopes Cunha

Cássia Brito Carneiro

Gabriela Poester

Nelson Nisenbaum

Max Santos

Ercilia Brasil

Jamille Pinheiro Dias

Miriam Grossi

Claudia Barcellos Rezende

Leonardo M. Diniz

José Manoel Baltar Da Rocha

José De Anchieta Leal

Didier David Pozza

Daniel Gonzalez

Ligia F Ferreira

Cintia Aldaci Da Cruz

Tiago Rafael Pinto Lucio

Clodsmidt Riani Filho

Walkyria Acquesta Dias

Savitri D

Marcos E B N Miguel

Vítor Ugo Lopes Froes

Renato Alves Pasquantonio

Stella Lobo

Gabriel Giorgi

Maria Da Paz

Alberto Alexandre Martins

Luis Miranda

Toni Nogueira

Sheilla Pianco

Debora Altina Carvalho

Pedro Robles

Rosângela Da Silva

Mabel Casakin

Joana Maria Pedro

Rosália Rocha E Rocha

Sinai Sganzerla

Paulo Apulcro Fonseca

José Luiz Rodrigues

Elvis Dieni Bardini

Simone Raitzik

Cesar Santos

Pablo Tallavera

Neli Neves

John C. Dawsey

Rogéria Sampaio

Mariana Taranto

Terezinha Das Graças Loureiro

Gerson Hideki Fujiyama

Fernando Lisboa

Nisdete Reis

Mariangela O. Kamnitzer Bracco

Cristiane Maria Cornelia Gottschalk

Vanessa Argollo

Barbara Browning

Tom Farias

Isabel Duarte

Juliano Dornelles

Suzy Lopes

Timo Görs

Seth Garfield

Paula Halperin

Joel Wolfe


El País: Juiz rejeita denúncia contra Greenwald, mas acusa de jornalista de dar “auxílio moral” a hackers

Magistrado citou veto do STF para negar a abertura de ação contra jornalista do ‘The Intercept’. Denúncia do MPF, em janeiro, foi criticada por entidades de jornalismo e de direitos humanos

A Justiça Federal negou nesta quinta-feira denúncia contra o jornalista Glenn Greenwald, fundador do The Intercept, por associação criminosa, interceptação de comunicações e invasão de dispositivo informático. Em janeiro, o jornalista norte-americano havia sido denunciado pelo Ministério Público Federal por suposto envolvimento na invasão de celulares de autoridades como Deltan Dallagnol, procurador da força-tarefa da Operação Lava Jato, provocando críticas de entidades jornalísticas e de direitos humanos. Em sua decisão, o juiz Ricardo Augusto Leite, substituto da 10ª Vara Federal do Distrito Federal, citou como motivo para livrar Greenwald do processo penal não o mérito da causa, mas o veto estabelecido por Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal, que em agosto proibiu que o jornalista fosse investigado, evocando a proteção ao sigilo de fonte. Na sentença, o magistrado apoia ainda a reivindicação do Ministério Público Federal de derrubar a liminar de Mendes que blinda Greenwald.

As mensagens privadas das autoridades obtidas pelos hackers e repassadas a Greenwald originaram série de reportagens feitas pelo The Intercept Brasil e um grupo de veículos, incluindo o EL PAÍS, que revelaram a proximidade entre Sergio Moro, então juiz da Lava Jato, e os procuradores e puseram em xeque a imparcialidade da operação. O jornalista norte-americano sempre rechaçou ter participação do hackeamento.

Na peça publicada nesta terça, o juiz Leite concorda com o procurador Wellington Oliveira e afirma observar indícios de conduta criminosa por parte de Greenwald, sustentando que o jornalista teria instigado acusados a dar continuidade aos delitos e a apagar mensagens interceptadas. "Entendo que há clara tentativa de obstar o trabalho de apuração do ilícito, não sendo possível utilizar a prerrogativa de sigilo da fonte para criar uma excludente de ilicitude”, aponta o juiz, que, embora tenha rejeitado por ora a denúncia, não descarta entrar com pedido de prisão preventiva contra Greenwald por entender que ele teria prestado “auxílio moral” a um dos hackers, que está preso. O processo continua em sigilo. Os outros seis acusados da ação hacker na mesma denúncia se tornaram réus.

O fundador do The Intecept reagiu à decisão de Leite. “É uma boa notícia, mas vamos ao STF”, disse Greenwald em um vídeo. Segundo o jornalista, seus advogados vão à Corte para estabelecer que a denúncia contra ele é um ataque à imprensa livre.

Áudio com uso distinto

Em janeiro, a denúncia do MPF contra o jornalista já havia sido criticada por entidades nacionais e internacionais, como a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e a ONG Anistia Internacional. Para sustentar a acusação, o procurador Wellington Oliveira utilizou diálogo entre Greenwald e um dos acusados que confessara ter se apropriado de mensagens das autoridades para argumentar que o jornalista "de forma livre, consciente e voluntária, auxiliou, incentivou e orientou, de maneira direta, o grupo criminoso, durante a prática delitiva, agindo como garantidor do grupo, obtendo vantagem financeira com a conduta aqui descrita”. A questão é que o mesmo diálogo havia sido usado pela Polícia Federal para isentar a conduta do jornalista ao longo do processo de obtenção dos dados. De acordo com o relatório policial baseado no mesmo material investigado e no áudio referido pelo procurador, a troca de mensagens evidenciava a "adoção por Glenn Greenwald de uma postura cuidadosa e distante em relação à execução das invasões, bem como da escolha de eventuais alvos pelos criminosos”.

No mês passado, José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso entre 1999 e 2000 e atual presidente da Comissão Arns de defesa dos Direitos Humanos, considerou que a denúncia de Oliveira tinha “caráter político” e buscava “intimidar e silenciar" a imprensa livre. “Nesse caso, eu acho que se pode, inclusive, pensar em rime de abuso de autoridade por parte dele”, avaliou em entrevista ao EL PAÍS.


Afonso Benites: Bolsonaro anuncia projeto que permite garimpo em área indígena e sugere “confinar ambientalistas”

Exploração econômica é temida por indígenas e ativistas, que preveem mais desmatamento e desequilíbrio social nas áreas. Mais cedo, Governo nomeou um evangelizador em cargo na Funai

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, anunciou que enviará nesta quinta-feira ao Congresso Nacional um projeto de lei que permite a exploração de mineral, a instalação de lavras de petróleo e gás, além da geração de energia elétrica em terras indígenas. Atualmente, não há regulamentação sobre o tema, apesar de estar prevista na Constituição Federal. Por essa razão, não há nenhum garimpo oficial nas 619 áreas indígenas localizadas no país, embora haja relatos sobre dezenas de garimpos ilegais, principalmente na região amazônica.

O projeto prevê também que sejam autorizadas a exploração de territórios indígenas para turismo, agricultura, pecuária ou extrativismo florestal. A autorização do uso da terra será dada pelo Legislativo e os indígenas que moram nessas comunidades serão ouvidos, mas não terão direito a veto. Ao longo do ano, a Câmara e o Senado Federal deverão analisar o tema, que provoca críticas de comunidades indígenas, de indigenistas e de ambientalistas. O principal argumento contrário à exploração econômica das áreas é o de que as atividades vão desequilibrar as comunidades, acelerar a devastação florestal e o desaparecimento de espécies nativas —o mais recente relatório da ONU, de 2019, que alerta sobre a velocidade com que as espécies estão se extinguindo (uma de cada oito está ameaçada) assinala que essa destruição da natureza é mais lenta nas terras onde vivem os povos indígenas do que no resto do planeta.

Durante o anúncio, em uma cerimônia no Palácio do Planalto em que a gestão comemorou seus 400 dias, o presidente pressionou o Legislativo pela aprovação de sua proposta e disse que, se pudesse, confinaria os ambientalistas na Amazônia. “O grande passo depende do Parlamento, vão sofrer pressão dos ambientalistas. Esse pessoal do meio ambiente. Se um dia eu puder, eu confino-os na Amazônia, já que eles gostam tanto do meio ambiente, e deixem de atrapalhar os amazônidas aqui de dentro das áreas urbanas.” Desde o início de sua gestão, Bolsonaro é alvo de protestos de ambientalistas. As críticas ficaram mais intensas após a série de incêndios florestais na Amazônia, que em 2019 sofreu um aumento de 30% na área queimada em comparação com o ano anterior.

Na mesma solenidade desta quarta-feira, o presidente voltou a pregar sua visão sobre os indígenas. Só alterou um pouco o discurso. Em janeiro, afirmou que “cada vez mais o índio é um ser humano igual a nós”. Agora, disse: “O índio é um ser humano exatamente igual a nós. Tem coração, tem sentimento, tem alma, tem desejo, tem necessidades e é tão brasileiro quanto nós”. A frase martela a ideia do atual Governo, que ecoa o passado sob a ditadura militar, de que os indígenas devem se “integrar” à sociedade não-indígena. Entidades ligadas à população originária do país tem protesto e dito que Bolsonaro está obrigado a respeitar os direitos constitucionais dos indígenas, inclusive o de manter particularidades no modo de viver.

Até a conclusão dessa reportagem, o projeto de lei não havia sido entregue ou sua íntegra publicada pelo Planalto. Conforme o material de divulgação produzido pela assessoria da Casa Civil, as comunidades indígenas afetadas pelos garimpos receberão indenizações das empresas que explorarem as áreas. Haveria pagamentos a conselhos curadores que seriam compostos apenas por indígenas. O texto ainda prevê que, se assim o quiserem, também os próprios indígenas poderão explorar as áreas em que vivem.

No documento não está detalhado o quanto seria pago pelo usufruto das terras. Ressalta, apenas, que os conselhos curadores formados por indígenas de cada uma das áreas, uma entidade de caráter particular, seria o responsável por definir onde seriam investidos os recursos pagos à comunidade. A ONG Observatório do Clima protestou contra o envio e apelou aos presidentes da Câmara e do Senado. “O Observatório do Clima espera dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, que honrem a própria palavra e não pautem esse projeto genocida. Ambos haviam se comprometido a não colocar em votação proposições que ameaçassem a floresta e as populações tradicionais. É hora de testar essa determinação”, escreveram em nota.

O projeto de exploração econômica de áreas indígenas não é o único tema que preocupa indigenistas no Governo Bolsonaro. Nas últimas semanas, a gestão foi alvo de várias críticas por ter escolhido o ex-missionário evangélico Ricardo Lopes Dias como novo coordenador de indígenas isolados e de recente contato da Fundação Nacional do Índio (Funai). Há tempos, a Funai tem sido enfraquecida pela União. Em nota, o Conselho Indigenista Missionário disse que o presidente deixou de respeitar a existência livre dos povos indígenas e promove o genocídio dessa população.

“O Governo Bolsonaro dá evidentes sinais de abandono à perspectiva técnico-científica, do respeito ao direito de existência livre desses povos, com seus próprios usos, costumes, crenças e tradições, em seus territórios devidamente reconhecidos e protegidos, para uma orientação neocolonialista e etnocida, de atração e contato forçados, com o uso do fundamentalismo religioso como instrumento para liberar os territórios destes povos à exploração por grandes fazendeiros e mineradores”.


El País: Brasil retrocede na luta contra a corrupção apesar do discurso de Bolsonaro

Transparência Internacional critica interferências políticas em nomeações e destituições em postos fundamentais de controle. OCDE criticou país após missão em novembro

discurso de batalha implacável contra a corrupção e renovação radical da classe política foi fundamental para que os brasileiros dessem a vitória ao até então irrelevante deputado Jair Bolsonaro. Por isso convidou o idolatrado juiz Sergio Moro ao Governo como ministro. Mas as vagas promessas eleitorais do ultradireitista nesse âmbito não se concretizaram em avanços em seu primeiro ano como presidente. Pelo contrário. Os retrocessos por parte do Executivo, mas também do Poder Judiciário e do Legislativo, são de tal calibre que a OCDE, o clube dos países ricos no qual o Brasil quer entrar, enviou uma missão ao país em novembro.

Uma das decisões brasileiras que mais alarmaram o clube dos países ricos foi tomada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal em resposta a um recurso do primogênito do presidente, o senador Flávio Bolsonaro, investigado por peculato e lavagem de dinheiro. Antonio Dias Toffoli limitou o uso nas investigações de informações obtidas pelo órgão público que luta contra a lavagem de dinheiro (Coaf), uma sentença que paralisou as investigações sobre o caso de Flávio e outros 900. “Teve um impacto sistêmico, praticamente paralisou o sistema de combate à lavagem de dinheiro durante meio ano”, diz em uma entrevista Bruno Brandão, diretor executivo da Transparência Internacional no Brasil. A decisão do magistrado foi revogada por seus colegas do Supremo no final do ano, quando foi debatida em plenário.

O grupo de trabalho contra as propinas da OCDE divulgou, após sua visita em novembro, um curto, mas contundente comunicado, reflexo de uma profunda preocupação compartilhada pelos representantes europeus em Brasília: “Estamos muito alarmados pelo fato de que tudo o que o Brasil conquistou nos últimos anos na luta contra a corrupção possa agora estar seriamente comprometido”. A missão acrescentou que o Brasil deveria reforçar os mecanismos anticorrupção, “não os enfraquecer”.

O Brasil tirou novamente a pior nota da série histórica no exame da percepção da corrupção no mundo recentemente publicado pela Transparência Internacional. Seus 35 pontos —os mesmos de 2018— o colocam na 106° posição em uma lista que tem a Dinamarca no topo. “Apesar do discurso e das promessas de grande renovação por parte do presidente, deputados e senadores, 2019 foi péssimo em termos de reformas contra a corrupção”, segundo Brandão, chefe da ONG no Brasil. Uma das maiores contradições de Bolsonaro, segundo o representante da Transparência, é sua aberta hostilidade contra a imprensa e a sociedade civil, cuja força é fundamental para reduzir a corrupção.

O temor de que o Brasil emperre seus enormes avanços nos últimos anos contra a arraigada corrupção que lubrificava as relações entre a política e o empresariado é maior no estrangeiro do que no Brasil, onde a polarização política também contamina esse assunto. Levantamento da CNT/MDA feito em janeiro mostrou leve recuperação da aprovação de Bolsonaro e também revelou que 46,8% entendem que a corrupção diminuiu em 2019 em relação aos últimos Governos —uma percepção positiva, ainda que as manobras de Bolsonaro para proteger seu filho causem receio em parte de seus eleitores.

PF, Coaf e investigação contra secretário de Comunicação

Brandão frisa que os três poderes tomaram decisões que significam retrocessos graves. O pior do Governo, afirma, são as interferências políticas em nomeações e destituições em postos fundamentais na luta contra a corrupção. Bolsonaro, por exemplo, rompeu a tradição de nomear o procurador-geral da República entre a trinca eleita pelos interantes do Ministério Público Federal, trocou o chefe da Polícia Federal no Rio de Janeiro (justamente a cidade em que seu filho é investigado) e o chefe da Coaf, que persegue a lavagem de dinheiro. Critica o Congresso por sua aprovação da ampliação do fundo para financiar campanhas eleitorais e enfraquecer os sistemas para fiscalizá-lo e o Judiciário, principalmente, por haver paralisado as investigações contra a lavagem de dinheiro, também em perseguição ao crime organizado.

Ainda que elogie a contratação de 1.200 novos policiais e outros avanços, a Transparência Internacional critica que o presidente mantenha em seus cargos o ministro do Turismo e o líder do Governo do Senado, ambos investigados por corrupção. O presidente também decidiu manter no cargo, até o momento, o secretário de Comunicação da Presidência da República, Fábio Wajngarten. A Polícia Federal instaurou, a pedido do Ministério Público Federal, um inquérito para apurar se o secretário cometeu os crimes de corrupção passiva e peculato (desvio de recursos públicos feito por para proveito pessoal ou alheio). A investigação veio depois que o jornal Folha de S.Paulo revelou que a empresa da qual Wajngarten detém 95% das ações, a FW Comunicação, recebe dinheiro de pelo menos duas emissoras de TV (Record e Band) e de três agências de publicidade contratadas pela Secom, por ministérios e por estatais federais.

A Transparência também destaca que a Operação Lava Jato foi notícia no ano que passou mais pelas revelações jornalísticas que colocam em dúvida a imparcialidade do à época juiz Sergio Moro e dos promotores do que pelos novos 29 casos com 150 acusados que revelou e os 4 bilhões de reais que recuperou. As informações elaboradas a partir de arquivos obtidos pelo The Intercept Brasil junto com os principais veículos da imprensa do Brasil, incluindo o EL PAÍS, revelam uma chamativa proximidade entre juiz e Procuradoria. Uma consequência foi colocar o foco em um sistema em que o juiz que instruiu o caso é quem o julga. Para separar as duas funções e dar a elas maior independência, foi recém-aprovada uma lei que cria a figura do juiz de garantias. A medida, no entanto, está suspensa pelo STF.


Afonso Benites: À espera de Bolsonaro, Onyx se agarra à Casa Civil esvaziada

Ministro levou mensagem de presidente ao Congresso em cerimônia pouco concorrida. Momento de maior atenção foi para anúncios sobre retirada de brasileiros da China por causa do coronavírus. Planalto promete assinar MP

Em pouco mais de 12 meses o deputado federal licenciado e ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), passou de homem forte do Governo Jair Bolsonaro, responsável por fazer a articulação com o Congresso Nacional, coordenar as ações da secretaria de assuntos jurídicos e o programa de privatizações, a um conselheiro que, como prêmio de consolação, coordena reuniões entre os ministros ou representa o chefe na abertura do ano legislativo. O evento no qual compareceu nesta segunda-feira, no plenário da Câmara, foi tão esvaziado como os seus poderes, tinha menos de 150 dos 594 parlamentares brasileiros. Segundo interlocutores, Lorenzoni só não deixou o Governo porque não queria sair pelas portas dos fundos e também porque espera ser realocado em alguma outra pasta que venha a ficar vaga.

Nas últimas semanas, enquanto Lorenzoni estava em férias, viu três assessores serem demitidos por Bolsonaro. Todos direta ou indiretamente envolvidos no escândalo de José Vicente Santini, o então secretário-executivo da Casa Civil que perdeu o cargo por ter voado entre a Suíça e a Índia em um uma aeronave da Aeronáutica. Outros ministros do Governo fizeram a viagem em aeronaves comerciais. De pronto, também deixou a sua alçada o Programa de Parcerias e Investimentos (PPI). O ministro da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, afirmou que o PPI deixou a Casa Civil para dar celeridade ao programa. Agora, está no ministério da Economia.

Ao longo de 2019, a articulação política já havia sido retirada da Casa Civil, assim como a secretaria de Assuntos Jurídicos, que analisa questão legal de cada projeto ou decreto presidencial. Sob o guarda-chuva do ministério agora só estão a coordenação interministerial e a Comissão de Ética Pública, sob o qual, na prática, não é possível haver nenhuma ingerência.

Nesta segunda-feira, a reportagem entrevistou oito parlamentares que se declaram independentes ou governistas. O pedido era para que eles analisassem a situação do ministro no cargo. Sete disseram que Lorenzoni só segue no Governo porque Bolsonaro não quer se desfazer do primeiro parlamentar que organizou reuniões em apoio à sua candidatura. Apenas um diz que o ministro continua na função por suas qualidades, uma delas de ter lançado e apoiado a vitoriosa campanha de Davi Alcolumbre (DEM-AP) à presidência do Senado. “É claro que o presidente está descontente com o Onyx, mas ele não quer ficar mais marcado por abandonar seus apoiadores de primeira hora”, avaliou um deputado.

No ano passado, Bolsonaro demitiu dois dos quatro representantes de seu núcleo duro. Gustavo Bebianno, que coordenou a campanha do presidente, deixou a Secretaria-Geral. E o general Carlos Alberto Santos Cruz, um dos primeiros apoiadores militares, foi demitido da Secretaria de Governo. Além deles, o outro representante desse núcleo é o general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Uma brincadeira recorrente entre os deputados era de que Onyx hoje “só tem a mesa e a cadeira. Nem caneta ele tem mais”.

Coronavírus e outros ministérios

Desde que antecipou o seu retorno das férias, na última sexta-feira, o ministro já sinalizou ao presidente que está à disposição dele para cumprir a função que Bolsonaro achar melhor. Ao menos dois ministérios estariam no radar dele: Educação e Desenvolvimento Regional. O primeiro é chefiado por Abraham Weintraub, que foi indicado ao cargo pelo próprio Lorenzoni, está sendo “fritado” pelas falhas no Exame Nacional do Ensino Médio e pelas polêmicas que compra nas redes sociais. O outro ministério é comandado por Gustavo Canuto, um técnico com pouco apoio político. Se conseguisse ser transferido para um deles seria uma espécie de “queda para cima”. “Não faria muito sentido mudá-lo de um ministério para outro, ainda mais se for para Educação, que é um dos mais ricos influentes e poderosos. Mas o que faz sentido no nosso Governo?”, indagou uma parlamentar bolsonarista.

Oficialmente, o ministro nega a intenção de deixar o Governo e defende a permanência de Weintraub. Questionado pela rádio Gaúcha se alguém havia puxado o seu tapete no ministério, respondeu que ele, na verdade, é uma espécie de escudo de Bolsonaro. “A função da Casa Civil é de proteção absoluta do presidente. Muitas vezes quem tem que dizer ‘não’ sou eu. As pessoas não gostam de ser contrariadas. Tem momentos que as pessoas não gostam do ‘não’ que eu digo.”

Enquanto segue no cargo, Lorenzoni levou ao Congresso a mensagem presidencial com o que considera destaques legislativos para o ano: a reforma tributária, o programa verde e amarelo (de flexibilização do emprego), a independência do Banco Central, a privatização da Eletrobrás, o plano de promoção do equilíbrio fiscal, o novo marco legal do saneamento e o pacote econômico enviado no ano passado.

Na mensagem enviada ao Congresso, o presidente quis dividir os louros do que considera sucesso de seu Governo com o Parlamento. “O Brasil já mudou. E agradecemos imensamente ao Congresso Nacional por construir conosco este novo momento. Um momento de muitos resultados positivos e de esperança para nossa nação”, mandou dizer. Na prática, contudo, ele não prestigiou os parlamentares porque viajou a São Paulo para inaugurar a pedra fundamental de um colégio militar, reunir-se com dirigentes da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e visitar as instalações da TV Bandeirantes.

Na prática, o momento em que Onyx atraiu a maior atenção foi quando falou sobre epidemia do coronavírus. Após o evento, o ministro disse à imprensa que o Governo está estudando maneiras de trazer os brasileiros que estão em Wuhan, na China, para o Brasil. A região chinesa é o principal foco da doença, que já matou 425 pessoas e tem deixado as autoridades de saúde do mundo inteiro em alerta. O Governo promete publica em breve uma medida provisória que trata da remoção e quarentena dos brasileiros, ainda sem local definido. Além disso, uma licitação será aberta para contratar uma aeronave que faria o transporte dos cidadãos. Lorenzoni afirmou que apenas os assintomáticos embarcarão no avião.

Já autoridades do Ministério da Saúde anunciaram que, apesar de o país não ter confirmado nenhum caso de coronavírus, o Governo vai declarar emergência em saúde pública para dar mais agilidade para os trâmites de repatriação. À noite, ao retornar a Brasília, Bolsonaro confirmou que vai assinar uma medida provisória sobre o assunto: "O Parlamento em tempo recorde vota qualquer coisa para a gente cumprir essa missão na China”, defendeu.


Afonso Benites: Maia testa seu protagonismo em seu último ano à frente da Câmara

Governo quer celeridade na votação da reforma administrativa, que Guedes nem enviou ainda à Casa. Congresso se debruça em reforma tributária

O último ano de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à frente da presidência da Câmara será um teste sobre seu protagonismo na política brasileira, alcançado principalmente, quando conseguiu voar a reforma da Previdência no ano passado. Seus embates para marcar contraponto com o presidente Jair Bolsonaro também lhe deram destaque na política nacional. No atual cenário, há um Governo Bolsonaro que ainda patina nas medidas que pretende apresentar nesse início de 2020. O que, mais uma vez, dá espaço para que o Parlamento mostrar que caminha com as próprias pernas.

Os discursos entre o que pretende o Planalto e o que os parlamentares preveem para o Congresso Nacional mostram como será o ano legislativo, que se inicia nesta segunda-feira. Enquanto o Legislativo quer votar logo a reforma tributária, com a redistribuição e possível redução dos impostos, o Executivo insiste na reforma administrativa, que pretende reduzir a máquina pública estatal com a redução salarial dos novos servidores públicos.

De um lado o Executivo cobra empenho do Parlamento, mas o Ministério da Economia ainda não enviou sua reforma administrativa e, até o momento, está ausente das discussões sobre a reforma tributária. A expectativa é que essa ausência faça com que a reforma administrativa fique para o fim da fila e seja votada apenas no segundo semestre, que deve ser mais curto por causa das eleições municipais. O intuito do ministro da Economia, Paulo Guedes, era votá-la o quanto antes. Até já declarou que sua aprovação pode ser considerada simples.

Na última quinta-feira (30), em um evento em São Paulo, o ministro Guedes e o presidente da Câmara chegaram a trocar farpas sobre o andamento das reformas. O chefe da Economia disse que estava se acostumando ao ritmo dos políticos, que não votavam propostas no ritmo esperado pela equipe econômica. “Aprendi a respeitar”, disse. Maia devolveu, lembrando que quem dita essa velocidade é o Governo, que primeiro tem de enviar sua sugestão. “Não tenho como avançar na reforma administrativa sem o pontapé inicial do Governo”, disse o deputado.

O líder dos Democratas, Efraim Filho, diz que o Executivo não soube definir o que defender. “O Parlamento se apossou desse vácuo e está construindo a sua própria agenda”, diz Efraim Filho. A expectativa no ministério da Economia é que a reforma administrativa seja fatiada. Parte dela seria enviada ainda em fevereiro, como uma proposta de emenda constitucional. A segunda e terceira parte seriam encaminhadas entre março e abril.

Pela proposta de reforma administrativa, diversos cargos públicos em aberto deverão ser cortados. Além disso, os futuros servidores terão de ficar de dois a três anos no cargo para serem efetivados. Seus salários serão menores do que os dos atuais. O objetivo é equiparar os vencimentos com quem trabalha em empresas privadas. Um estudo do Banco Mundial mostra que o custo com um funcionário da iniciativa pública é duas vezes maior que o da privada.

Ainda não há dados fechados sobre o impacto financeiro dessa reforma. Mas a ideia inicial é não repor a maioria dos 149.000 cargos que devem ficar vagos até 2024 por causa de funcionários que irão se aposentar. Os futuros aposentados representam 21% de todo o funcionalismo federal. Conforme dados da Economia, o Brasil gasta cerca de 108 bilhões de reais por ano com o pagamento de funcionários civis. Nessa conta não estão os militares, que têm um regime diferente e não serão incluídos nas mudanças administrativas.

Sobre a reforma tributária, a gestão de Bolsonaro também não apresentou a sua versão do texto. Há três propostas tramitando no Congresso. Duas na Câmara e uma no Senado. No fim do no passado, os presidentes das duas casas legislativas decidiram criar uma comissão mista de senadores e deputados para analisá-las. Duas delas tratam da simplificação de impostos, seria algo como juntar entre cinco e sete impostos sobre o consumo.

A outra proposta, batizada de reforma tributária solidária, propõe a fusão de tributos e a redução da carga tributária para pessoas mais pobres e o aumento para as mais ricas. Essa última sugestão enfrenta uma série de lobbies empresariais e tem menos chance de prosperar na íntegra. Além disso, foi apresentada por partidos de esquerda opositores de Bolsonaro e que somam menos de 150 dos 513 deputados, ou seja, número insuficiente para atingir o quórum mínimo da Câmara, que é de 308 votos. “É preciso simplificar a tributação, mas, não apenas isso e torná-la mais justa”, ponderou o líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ).

A princípio, nenhum dos três projetos prevê a redução da arrecadação de impostos. No caso das duas propostas que têm maior simpatia do Governo, a expectativa é que a simplificação traga mais investimentos e, em médio prazo, mais recursos. O projeto da oposição para a reforma prevê a redistribuição de quanto cada um paga de imposto. “Os mais ricos têm de pagar mais que os mais pobres. Quando se tributa consumo, todos pagam igual”, afirmou André Figueiredo, líder do PDT. Segundo ele, ainda que não se preveja diminuir a carga tributária, essa possibilidade não foi descartada.

O Governo ainda tentará dar andamento ao seu plano de privatizações – que inclui a venda da Eletrobrás, da empresa de dados Serpro, dos Correios e da Dataprev—a votação do projeto de autonomia do Banco Central, assim como das PECs enviadas no ano passado que tratam da extinção de cidades pequenas. Há ainda as PECs da criação de medidas emergenciais para Estados e municípios em crise financeira, e o fim de uma série de fundos públicos com a destinação de seu orçamento para abater dívidas ou fazer caixa.

Um dos entraves para dar celeridade aos trabalhos são as eleições municipais. Entre agosto e outubro parte dos parlamentares brasileiros estarão envolvidos nas campanhas eleitorais para eleger prefeitos e vereadores de 5.570 municípios brasileiros. Alguns desses congressistas devem disputar as prefeituras, outros, tentarão ampliar sua base de apoio, elegendo seus aliados. Por essa razão, a tendência é que haja um esvaziamento do Congresso Nacional ao longo desses dois meses. Sobre isso, Maia disse não acreditar em dificuldades. “Todo mundo está pronto para votar”, afirmou.


El País: Divulgação falha e parcial de dados entra em choque com discurso de transparência no Governo Bolsonaro

Executivo não explica como está composta a fila de espera do Bolsa Família nem como recalculou as provas do Enem. Estatísticas de gasto público deixam de ser atualizadas e qualidade de informação cai

No mês em que completou um ano de mandato, o presidente Jair Bolsonaro recebeu reprimenda da Transparência Internacional por, segundo estudos da ONG, intervir nos mecanismos de fiscalização do país. O relatório divulgado em 23 de janeiro revelou que a percepção sobre corrupção no Brasil aumentou ao redor do mundo. Entre um dos fatores apontados pelo levantamento está a ingerência governamental nos órgãos de controle, como substituições em chefias da Polícia Federal e da Receita e a nomeação de um Procurador-Geral da República (Augusto Aras) fora da lista tríplice. Além das instituições anticorrupção, o diagnóstico indica que o Governo Bolsonaro segue a esteira de enfraquecimento dos instrumentos federais em prol da transparência, com acúmulo de episódios recentes de falhas ou divulgação parcial de dados.

Nesta sexta-feira, o EL PAÍS publicou uma reportagem em que mostra que o Governo não explica o tamanho real da fila de espera do programa Bolsa Família. O Ministério da Cidadania fala apenas em “uma média nacional” de 494.229 famílias à espera do programa em 2019, mas não disponibiliza os números absolutos mês a mês de entrada e saída de famílias e nem o número de habilitados a receber o benefício, mas que ainda estão sem a bolsa. Cálculos realizados pelo EL PAÍS, com base em dados públicos, estimam que 1,7 milhão de famílias, ou cerca de 5 milhões de pessoas, estariam atualmente aptas a ingressar no programa, ou seja, preenchem todos os critérios para receber o auxílio antimiséria —um valor três vezes maior do que o número divulgado pela pasta.

Desgastado pela repercussão negativa dos problemas no Enem, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela aplicação do exame, se recusou a recalcular o peso de questões após corrigir o gabarito de 6.000 provas que tiveram erro na gráfica, informou o jornal Folha de S.Paulo. O órgão argumentou que, por se tratar de uma amostra pequena de candidatos afetados, o cálculo não seria alterado por uma nova revisão, mas para fontes ouvidas pelo jornal, isso poderia afetar a entrada de candidatos na universidade. O contratempo motivou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) a apresentar requerimentos para convocar o ministro da Educação, Abraham Weintraub, a prestar esclarecimentos a respeito dos critérios de atribuição das notas.

Segundo o pesquisador Manoel Pires, economista do IBRE/FGV e organizador do Observatório de Política Fiscal, a qualidade e a frequência de informações estatísticas prestadas pelo Governo Federal tem apresentado queda nos últimos três anos. Ele salienta que o ponto de inflexão surge a partir da gestão de Michel Temer, reflexo da crise financeira que passou a afetar a prestação de serviços nos órgãos federais. Porém, a falta de transparência teria se acentuado no Governo Bolsonaro pela combinação de outros dois fatores ao cenário econômico. O primeiro tem a ver com as mudanças de pessoal promovidas pela administração, sobretudo pelo recrutamento de gestores oriundos do setor privado, pouco afeitos às práticas de governança pública. E o segundo, pelo apelo ideológico do Governo, com postura resistente à prestação de contas e a demandas da imprensa.

“Ainda é cedo para avaliar se a redução da transparência pelo Governo Federal será ou não uma tendência, mas, nos últimos anos, uma série de ocorrências nesse sentido tem se tornado cada vez mais comum, em vários órgãos”, afirma Pires. Como exemplo, ele cita os dados sobre gastos públicos, que não são atualizados desde março de 2018 pela Secretaria do Orçamento Federal, e os de carga tributária, que eram anualmente divulgados pela Receita Federal, mas pararam de ser publicados em 2017, tal qual o anuário estatístico da Previdência Social. Para o pesquisador, as informações são fundamentais em discussões em torno de reformas como a tributária e a administrativa, que estão na pauta do Congresso para este ano. “No aspecto doméstico, a falta de transparência dificulta a avaliação das propostas e políticas no debate público. Já do ponto de vista internacional, pode prejudicar alguns pleitos do país, como a intenção de ingressar na OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico).”

Dados sobre o funcionalismo público ainda não foram destrinchados pelo Governo Federal. Neste mês, o presidente Bolsonaro destacou em seu perfil no Twitter a divulgação em dados abertos dos pagamentos aos servidores aposentados e pensionistas, como parte de um suposto compromisso para “fortalecer a transparência em defesa do interesse público e combate à corrupção”. No entanto, a publicação das informações só aconteceu por determinação do Tribunal de Contas da União (TCU), que julgou procedente uma ação de 2017 protocolada pela agência de dados Fiquem Sabendo. De acordo com a entidade independente, “o atual Governo agiu contra a transparência ao tentar barrar a divulgação dos dados, apresentando recursos que atrasaram a decisão final do TCU”.

Na mesma semana, Bolsonaro reafirmou a pretensão de tornar seu Governo mais transparente, garantindo ter recomendado providências a todos os ministros e que deu mostras nesse sentido ao lançar painéis eletrônicos com informações relacionadas ao pagamento de benefícios do Bolsa Família e do INSS. “Nosso Governo tem o compromisso de apurar e sanar quaisquer irregularidades detectadas ou denunciadas e, acima de tudo, dar transparência às despesas públicas com o intuito de engajar nossa sociedade na fiscalização contínua dos recursos públicos”, disse o presidente.

Comparado a 2018, houve crescimento de 4,5% nas solicitações de dados federais, que podem ser feitas por qualquer cidadão, no primeiro ano de gestão bolsonarista, mas abaixo da média progressiva anual (5,1%) registrada desde a efetivação da Lei de Acesso à Informação (LAI), em 2012. Entretanto, segundo levantamento da Controladoria-Geral da União (CGU), o sistema ainda não é garantia de acesso irrestrito à prestação de contas dos órgãos públicos. Cerca de 8% dos pedidos são negados pelas instituições —a maioria por alegação de dados sigilosos—, enquanto 79% retornam aos solicitantes com atraso e 36% com informações incompletas.

Adere a

El País: Governo Bolsonaro não explica tamanho real da fila do Bolsa Família

Segundo cálculos, demanda reprimida deveria estar perto de 1,7 milhão de famílias, três vezes mais do que o número divulgado pelo Ministério da Cidadania

Programa Bolsa Família vive, sob o Governo Jair Bolsonaro, o que pode ser um de seus momentos com maior fila de espera para ingresso da história, com o corte de benefícios e uma redução inédita na concessão de novos auxílios. Cálculos realizados pelo EL PAÍS, com base em dados públicos, estimam que 1,7 milhão de famílias, ou cerca de 5 milhões de pessoas, estariam atualmente aptas a ingressar no programa, ou seja, preenchem todos os critérios para receber o auxílio antimiséria. O Governo Federal, no entanto, não revela os números exatos dessa fila. O Ministério da Cidadania fala apenas em “uma média nacional” de 494.229 famílias à espera do programa em 2019, sem disponibilizar os números absolutos mês a mês de entrada e saída de famílias e nem o número de habilitados a receber, mas ainda sem a bolsa.

Os dados oficiais da espera pelo Bolsa Família, de quase meio milhão, foram obtidos pelo jornal O Globo, via Lei de Acesso à Informação após quatro meses de espera, e depois confirmados ao EL PAÍS pelo Ministério da Cidadania nesta segunda-feira. O problema é que os dados repassados não são condizentes com os números históricos da fila no país e com a situação econômica vigente, que trouxe um aumento no número de miseráveis.

Nem os números do Cadastro Único, que reúne dados do programa e são públicos, nem a situação de renda e crescimento econômico do país são congruentes com essa “média” apresentada. Os dados divulgados chegaram a ser comemorados pelo ministro da Cidadania, Osmar Terra. “Viram nos Governos Lula e Dilma uma manchete assim? Não. Em todos os anos do PT na Presidência existiram enormes filas do Bolsa Família. No Governo Dilma chegou a 1,2 milhão de famílias. Falo como primeiro gestor a zerar a fila. Mesmo com a recessão que o PT deixou, a fila hoje é menor que a deles.” O texto foi publicado em seu Twitter na segunda-feira, juntamente com a manchete do Globo que falava da fila de espera.

Osmar Terra

@OsmarTerra

Viram nos Govs Lula e Dilma uma manchete assim?Não.Mas em todos os anos do PT na Presidência existiram enormes filas do BF. No Gov Dilma chegou a 1,2 milhão de famílias.Falo como primeiro gestor a zerar a fila.Mesmo com a recessão que o PT deixou,a fila hoje é menor que a deles.

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Uma análise detalhada dos números, porém, desafia a comemoração com base nas cifras apresentadas como oficiais. Somente em 2019, foram cortadas do programa quase 1,2 milhão de famílias, em uma queda contínua, mês a mês. Ainda no ano passado, houve um freada brusca na concessão de novos beneficiários. Em 2019, o Governo ofereceu 66% menos novos benefícios em comparação a 2018. É o coeficiente de famílias cortadas, mas ainda aptas a receber, adicionadas às que não entram mais no programa —num contexto de não melhora expressiva da economia— que pode estar gerando essa fila de espera estimada maior que a “média” oficial.

Entre julho e outubro —último mês com dados oficiais sobre as novas concessões—, a quantidade de novas famílias que entraram no programa despencou. A partir do meio do ano, a média de novas concessões, que antes girava em torno de 220.000 famílias por mês, caiu abaixo de 10.000. Nunca houve um ano com tantos meses com menos de 10.000 novos benefícios concedidos como em 2019. O quadro é inédito na história do programa, pelo menos entre 2014, primeiro ano de dados disponíveis, e 2018.

Um gestor do programa no município de Inhapi, interior de Alagoas, afirmou à reportagem que a porta de entrada do Bolsa Família está “fechada”, desde a metade do ano passado. Ou seja, os cadastros continuam sendo feitos, mas ninguém entra no programa. A dona de casa Iara Rodrigues Rocha, 16, afirma esperar desde julho para ser contempladas. Segundo a assistente social da cidade, ela se enquadra em todos os requisitos para ser beneficiária. “Enquanto espero na fila, vou pegando fiado”, afirmou, com a filha de menos de um ano no colo.

O número de beneficiários do Bolsa Família sempre foi flutuante, uma vez que algumas famílias perdem o benefício por razões como o aumento da renda ou a não atualização do cadastro, obrigatória para permanecer no programa. Ao mesmo tempo, novas famílias ingressam, seja pela atualização dos dados, seja pela queda na renda per capita que as fazem entrar de volta para a faixa da pobreza. Para receber o benefício é preciso ter uma renda mensal máxima de 89 reais por pessoa, ou 178 reais em caso de famílias com filhos até 18 anos. O que foge da normalidade, segundo quem acompanha de perto o programa, é a redução da marcha de novas concessões para quase o ponto morto.

Desde junho, quando o programa começou a diminuir abruptamente, o mercado de trabalho tampouco apresenta dados que corroborem um possível argumento de que o programa Bolsa Família poderia ter encolhido por uma melhora nos índices da economia. Ou seja, os especialistas que conversaram com o EL PAÍS argumentam que é razoável esperar que um contingente de cerca de 200.000 famílias por mês seguiriam tentando entrar no programa, sem sucesso, virando, então, demanda reprimida.

Além disso, no final de 2018, o Brasil somava 13,5 milhões de miseráveis, numa crescente desde 2015. A taxa de desocupação no trimestre julho-agosto-setembro de 2019 ainda estava em 11,2%, valor menor do que no auge da crise econômica, mas ainda assim idêntico ao de meados de 2016. Por fim, a estimativa para o PIB do ano passado é modesta, girando em torno de 1%, o que também não explicaria uma melhora súbita da renda dos elegíveis ao programa.

A expectativa para este ano também não é das mais otimistas, já que, com um corte de 12%, o Orçamento para o programa ficou em 30 bilhões de reais. Por mês, isso implicaria em transferências no montante de cerca de 2,4 bilhões de reais. Se a transferência média por família continuar igual à de dezembro, ou seja, 191.77 reais, o Bolsa Família precisará, não só aumentar a fila, como ainda cortar mais de 350.000 famílias para caber no Orçamento de Bolsonaro, considerando as 13,1 milhões de famílias beneficiárias de dezembro. Tudo isso sem considerar o pagamento do décimo terceiro concedido por Bolsonaro em 2019 para acomodar uma promessa de campanha.

Oficialmente, a pasta diz que o número menor de benefícios se deve a uma reformulação do programa que está em curso, sem oferecer maiores detalhes. A reportagem questionou repetidas vezes o Ministério da Cidadania, por meio de sua assessoria de imprensa, sobre a base de cálculos da média de espera, bem como os números absolutos, mas não recebeu resposta. “Qualquer estimativa de cálculo, cruzando dados gerais do Cadastro ou da folha de pagamento do Bolsa será suscetível a erro”, limitou-se a dizer diante dos questionamentos. Mas reconheceu que “as concessões dependem do quantitativo de famílias habilitadas para o programa e estratégias de gestão da folha”. O EL PAÍS voltou a pedir os dados via Lei de Acesso a Informação, um trâmite ainda em curso.

“Rigorosamente o Governo está omitindo a informação”, diz a economista Tereza Campello, ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, ministério que coordenava o Bolsa Família nos Governos do PT. Campello diz que esse tipo de dispositivo —de se calcular uma média— nunca foi utilizado antes para se falar no tamanho da fila de espera do Bolsa Família. “Falar em média, quando se pergunta o total, é se utilizar de um artifício para esconder essa informação. “Por que então o ministro já chegou a afirmar que a fila estava zerada? Quando é para dar uma notícia positiva, tem o dado exato e agora, fala-se em média?”.


Afonso Benites: Os acenos de Bolsonaro para colocar Sergio Moro na "gaiola dourada” do STF

Com eventual nomeação de ministro, presidente garante aliado na Corte, elimina adversário em disputa pela reeleição e o afasta de Doria e Huck

Quando foi sabatinado por um grupo de jornalistas no programa Roda Viva, da TV Cultura, o ministro da Justiça, Sergio Moro, foi criticado por bolsonaristas que cobravam uma defesa mais enfática de seu chefe, o presidente ultradireitista Jair Bolsonaro. Uma semana depois, foi a vez de Moro tentar se redimir, quando ainda se especulava o quanto a ameaça de Bolsonaro de fatiar o ministério nas mãos do ministro havia danificado a complexa relação entre os dois. Na rádio Jovem Pan, Moro, entrevistado por jornalistas, fãs e humoristas do programa Pânico, não quis deixar dúvidas a respeito e se declarou fiel ao presidente —uma lealdade tamanha que só falta, nas palavras do próprio ministro, fazer uma tatuagem na testa anunciando que apoiará a candidatura à reeleição de Bolsonaro eem 2022.

“Eu já falei um milhão de vezes. Toda hora me perguntam isso, daqui a pouco eu vou ter que tatuar na testa. Em 2022, o presidente já apontou que pretende ir para reeleição. É uma decisão dele. E, claro, eu sou ministro do Governo, eu vou apoiar o presidente”.

A inflexão do ministro e ex-juiz da Lava Jato é sintomática. No Palácio do Planalto e entre analistas que acompanham o dia a dia da política em Brasília, há quem diga que o cenário está desenhado. Para não alimentar um adversário dentro de sua própria casa, Bolsonaro estaria decidido a indicar Moro para vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal que será aberta em novembro, quando Celso de Mello se aposentará compulsoriamente por fazer 75 anos de idade. Não é só de olho na reeleição que o presidente está. “Se você o nomeia na vaga que se abre neste ano, você prende o Moro numa gaiola dourada. É tudo o que o presidente precisa”, afirmou o cientista político Ricardo Caldas, professor da Universidade de Brasília.

O movimento no xadrez político também garante um apoiador de primeira hora para as causas de interesse do presidente que chegarem à Corte, afasta a aproximação dele com outros presidenciáveis —como o governador paulista João Doria (PSDB) ou o apresentador da TV Globo Luciano Huck (sem partido)— e abriria um espaço para a recriação do ministério da Segurança Pública e consequente loteamento da área por representantes da “bancada da bala”. Na última semana, Bolsonaro articulou para que a cisão do Ministério da Justiça voltasse à pauta. E, oficialmente, secretários da Segurança Pública apresentaram a sugestão ao mandatário, que em um primeiro momento disse que estudaria o tema. Depois, quando atingiu o objetivo de dar uma espécie de castigo ao seu ministro, disse que a ideia estava descartada.

Bolsonaro estava insatisfeito com a ausência de defesa enfática de seu Governo por parte de seu ministro-estrela. Em dado momento do Roda Viva, da TV Cultura, Moro chegou a pedir para não falar sobre o presidente, mas, sim, sobre a gestão dele à frente do ministério. Agora, respondendo de maneira descontraída para o Pânico, da Jovem Pan, Moro se comparou, indiretamente, a Dom Pedro I, que em 1822, quando era príncipe regente decidiu ignorar as ordens de seu pai, Dom João VI, e avisou que ficaria no Brasil, ao invés de retornar a Portugal. “Vai ser o segundo Dia do Fico no Brasil”, disse, ao ser questionado se sairia da pasta da Justiça.

Moro sabe que até a indicação ao STF se concretizar, caso ela de fato ocorra, há um longo caminho. “Ele está sempre de saia justa. Se fizer uma defesa apaixonada do Bolsonaro, vão chamá-lo de bolsominion, o que ele não quer. Se ele criticar, ele perde apoio do presidente. Não pode nem sorrir, nem fazer careta. Hoje, ele ainda está dependente do presidente”, analisou o professor Caldas. E chegar ao Supremo não impede que o ex-juiz abandone a vida política. Nesse cenário, não estaria descartada uma candidatura dele ao Planalto em 2026.

Aparentemente, o movimento feito por Bolsonaro também serviu aos interesses do Governo no Legislativo. Nesta semana, emissários do Planalto se reuniram com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, para discutir uma pauta comum para o primeiro semestre legislativo, que se inicia na próxima semana. “Quando Bolsonaro sinalizou que daria a Segurança para o Alberto Fraga, ele queria agradar ao Maia. Como a reação negativa foi forte, ele voltou atrás. Mas o Maia não pode alegar que Bolsonaro não tentou”, afirmou o especialista. O presidente da Câmara era um dos entusiastas da separação dos ministérios.

Para Caldas, se Moro for nomeado para o STF, já há quem o substitua para ajudar Bolsonaro a angariar apoio popular, a atriz Regina Duarte, que está prestes a assumir a Secretaria Nacional de Cultura. Sai uma celebridade do Judiciário, entra uma celebridade da TV. “O presidente precisa de alguém com credenciais conservadoras impecáveis para dividir essa atenção com ele”, disse.


El País: Damares demonstra força entre os mais pobres e acende alerta na esquerda

Com discurso contraditório, pastora evangélica, popular até entre os identificados com o PT, prepara campanha para pregar abstinência sexual na pré-adolescência

Quarta-feira, dez horas da noite. Sob o olhar atento de seguranças, centenas de pessoas deixam o faraônico Templo de Salomão após mais um culto. Marcos Paulo, de 26 anos, está passando as férias com a família em São Paulo e não queria deixar de conhecer a sede mundial da Igreja Universal do Reino de Deus. “Sou cristão há menos de seis meses. Entrei na igreja através da minha família, porque percebi a mudança na vida dela. Eu estava num caminho meio perdido, não estava feliz”, conta o rapaz, oriundo do Mato Grosso do Sul e formado em Direito. “Ainda estou desempregado e estudando para concurso, mas Deus tem agido na minha vida”, completa. Por causa de seu contato com a Igreja Evangélica, conta que vem acompanhando o trabalho da pastora Damares Alves, atual ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos do Governo Jair Bolsonaro. “Sou a favor de suas declarações, até porque ela é uma pessoa cristã, uma mulher de Deus, com uma visão do seio familiar. Ela tem tudo para fazer o país caminhar”, argumenta.

Na mesma linha opina Giovana Oliveira, de 27 anos. Ainda que ache que Damares soa às vezes “um pouco brusca demais”, acredita que seu trabalho tem tudo para dar certo, sobretudo se o Governo passe os recursos necessários para abrir “espaços de apoio” para as pessoas. Ela esclarece que não se trata de clínicas médicas, mas sim de lugares onde a pastores evangélicos possam oferecer algum tipo de apoio psicológico ou acolhimento para aqueles que precisam. “Por exemplo, se uma mulher está se separando, ela não vai poder se apoiar no marido. Se alguém está com depressão, com problemas com álcool ou drogas, ela precisa de ajuda... E quem dá esse apoio é a Igreja”, explica.

Damares, “mãe, pastora evangélica, educadora e advogada”, como se apresenta para seus mais de 680.000 seguidores do Twitter, assumiu seu cargo no ano passado dizendo que “o país é laico, mas esta ministra é terrivelmente evangélica”. Desde então vem ocupando o noticiário com declarações que atraem ultraje e aplausos e acenando com a aplicação de políticas conservadoras. A mais recente está relacionada a uma campanha voltada para jovens pregando a abstinência sexual. É com essa abordagem que ela pretende enfrentar problemas importantes, como a gravidez na infância e o aumento das doenças sexualmente transmissíveis entre os jovens. “O argumento que eu estou buscando é: uma menina de 12 anos não está pronta para ser possuída. Se vocês me provarem, cientificamente, que o canal de vagina de uma menina de 12 anos está pronto para ser possuído todo dia por um homem, eu paro agora de falar”, argumentou ao jornal Folha de S. Paulo neste domingo. Em entrevista ao jornal Correio Braziliensepublicada também neste domingo, voltou a defender a política governamental: “Eu pergunto: que dano eu vou trazer para uma criança ao dizer para ela: ‘espera mais um ano’, ‘espera um pouquinho’?. Não vamos eliminar os outros métodos preventivos. Vamos continuar falando da camisinha; vamos continuar falando da pílula; vamos continuar falando dos outros métodos. O que a gente quer, aqui na lista de métodos (contraceptivos), é apresentar mais um. O não ficar agora. Esperar um pouco mais.”

As declarações de Damares dizendo não se opor a métodos contraceptivos se contradizem com a nota técnica preparada por sua pasta para orientar a campanha, a ser operacionalizada em conjunto com o Ministério da Sáude. De acordo com reportagem do jornal O Globo, a pasta sustenta em documento obtido pelo jornal que ensinar métodos contraceptivos para esse público “normaliza o sexo adolescente”. O texto diz ainda que a prática do sexo na pré-adolescência leva a “comportamentos antissociais ou delinquentes” e “afastamento dos pais, escola e fé”.

Para Valéria Vilhena, fundadora do grupo Evangélicas pela Igualdade de Gênero, alguns dos argumentos públicos de Damares ecoam e são de senso comum, mas as soluções que propõe, em sua visão, tenham mais a ver com a agenda conservadora de setores majoritários da Igreja Evangélica do que as práticas recomendadas por especialistas na matéria. “Olhando assim, quem é contrário a uma fala dessa? Ninguém. E é muito simples, dialoga muito bem com pessoas pouco escolarizadas, exatamente porque está fora do contexto”, explica. “Damares não leva em consideração dados e estudos que mostram que a maioria dos estupros ocorrem em meninas de até 13 anos. Quando falamos de gravidez precoce, não estamos falando de meninas que ainda são imaturas e que resolveram fazer sexo de maneira irresponsável. Estamos falando de meninas vulneráveis que sofrem abusos”, acrescenta. Vilhena opina que Damares é “uma figura perigosa” justamente porque “trata com deboche temas sérios".

O resultado das declarações, ideias e políticas de Damares ainda não são mensuráveis, mas vem agradando parte significativa do eleitorado. É o que diz a mais recente pesquisa Datafolha, de dezembro, na qual Damares é aprovada por 54% do total de evangélicos do país ―eles representam hoje pouco mais de 30% da população brasileira, atrás apenas dos católicos, que ainda são 50% do total. A pesquisa vai além e mostra a pastora evangélica como uma ministra bastante popular, atrás apenas do ex-juiz Sergio Moro, que ocupa da pasta da Justiça, e à frente de Paulo Guedes, ministro da Economia. Conhecida por 55% da população, ela marcou 43% de ótimo bom, 27% regular e 26% ruim/péssima. “Ela é muito forte no Governo e dificilmente cairia. Mesmo que não seja um ícone, reconhecida por toda a população, sua trajetória evangélica traz sensação de reconhecimento”, explica Jacqueline Teixeira, doutora em antropologia social e pesquisadora do Núcleo de Antropologia Urbana da USP.

Mais: à diferença dos demais ministros, e guardadas as margens de erro diferenciadas de cada recorte, sua popularidade se distribui mais equilibradamente. Também é forte nos setores populares onde o lulismo é tradicionalmente mais relevante após a passagem do PT pelo Governo. Damares possui o apoio de 39% daqueles que tem renda familiar mensal de mais que dez salários mínimos, 43% de dois a dez salários e 42% entre aqueles com menos de dois salários mínimos. Para efeito de comparação, Sergio Moro, que possui 53% de aprovação na média geral, sobe a 73% na faixa de renda de mais de 10 salários mínimos e desce a 46% na fatia mais pobre. A ministra também pontua bem entre todas as faixas etárias e até entre aqueles que simpatizam com o Partido dos Trabalhadores (PT): 29% dos eleitores petistas também aprovam a ministra.

“Nem todo mundo que vota no PT é do PT. São pessoas que gostam do PT, que reconhecem e se identificam com o PT e o que foi feito, mas... A gente não pode dizer que é de direita, mas essa coisa do costume é algo muito forte. As pessoas ficam cegas diante disso”, explica a deputada federal Benedita da Silva, do PT carioca e frequentadora da Assembleia de Deus. Para Benedita, que atua como coordenadora nacional do núcleo evangélico do partido, Damares “se coloca no lugar da família ideal, da família perfeita, que o Governo fala que está ameaçada pela esquerda”. Um tema sensível tendo em vista que a população brasileira é, de forma geral, conservadora, ainda segundo a parlamentar.

Em defesa da mulher e da família

A antropóloga Teixeira, que mergulhou em projetos relacionados com questões de gênero e direitos reprodutivos dentro da Igreja Universal, e que agora vem se debruçando sobre a gestão de Damares, destaca a trajetória de vida e política da atual ministra. Ao contrário de outras membros do Governo, ela possui experiência no legislativo e na máquina pública. Foi secretária de assistência social de São Carlos, no interior de São Paulo, e durante os últimos 20 anos foi assessora parlamentar de deputados da bancada evangélica. Fundou a Anajure, associação de juristas cristãos com forte influência em Brasília, e envolveu-se diretamente em discussões sobre violência contra a criança e contra mulher ―sobretudo após a aprovação da lei Maria da Penha, a qual apoiou. Por outro lado, colocou-se como ferrenha militante anti-aborto e ajudou a difundir a ideia de que a educação sob o PT ensinava a chamada “ideologia de gênero”.

Em suma, Damares, de 55 anos, sempre foi o canal direto entre projetos produzidos no seio da Igreja e as pautas que circulavam no Parlamento. “Além de tudo, ela é mulher e filha de um pastor da Igreja missionário. Viveu em oito Estados do Brasil, o que também ajuda a produzir essa sensação de capilarização, de ressonância", explica Teixeira. “Tudo isso ajuda a configurar essa aliança da atual gestão com os evangélicos e a conferir certa confiança desses setores populares com relação ao Governo”, acrescenta. "Mas essa aliança ainda é instável”.

Além de ser uma das duas mulheres a ocupar o primeiro escalão do Governo Bolsonaro, Damares é um dos membros mais estridentes dessa gestão. “Muitas pessoas tem dito que ela é louca, mas temos que tomar cuidado. Nesse exercício de transformar políticas de igreja em políticas públicas, ela consegue se comunicar com segmentos da população”, argumenta Teixeira. O EL PAÍS solicitou uma entrevista com a ministra, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem.

Damares é um ponto fora da curva, mesmo dentro da bancada evangélica na Câmara. O grupo é formado majoritariamente por homens brancos conservadores e ricos, enquanto que a população protestante no Brasil é formada majoritariamente por mulheres pobres e negras. Pesquisadores vêm apontando que os evangélicos estão longe de ser um grupo homogêneo, com pensamento único ―o fato de Damares ser cristã e possuir uma trajetória política de décadas dificilmente explica por completo sua popularidade. De alguma forma, a ministra reflete as contradições e anseios desse contingente. Além de ser mulher, como a maior parte do país, foi vítima de violência sexual e doméstica quando criança. Não foge de abordar temas caros para setores progressistas, como o racismo e a causa indígena. Ao mesmo tempo que propõe a campanha pela abstinência sexual, irritando até pastores como Silas Malafaia, cita dados da Unicef sobre gravidez precoce ou estatísticas que mostram epidemias de doenças sexualmente transmissíveis, como a sífilis. E não diz ser contrária a que a educação sexual seja abordada nas escolas ―ainda que, na prática, especialistas digam que o atual governo vem freando avanços nessa área, quando, por exemplo, expõe veto a material que trate de diversidade sexual e de gênero.

“Querendo ou não, ela sempre trabalhou em assessorias voltadas para determinados direitos civis, diferentemente de outros membros do Governo. Então ela vai sempre ter uma posição minimamente mais humanizada ou moderadamente mais progressista que os demais, porque ela constituiu sua própria trajetória nessas discussões sobre direitos civis e humanos”, explica Teixeira. Além disso, Damares não raro diz ser uma mulher “empoderada”, passando a ideia de que enfrentou vários obstáculos e venceu todos eles antes de ocupar um cargo no primeiro escalão do Governo. “Essa dinâmica do empoderamento não está só com o feminismo e a esquerda. As igrejas, mesmo tendo que lidar com noção de submissão, precisa dar sentido, ressignificar essa palavra, mesmo você sendo uma mulher evangélica”, acrescenta a antropóloga.

Essa mesma mulher forte e empoderada é também a “mãe Damares” que reforça os valores da família tradicional diante de um mundo em constante mudança. Um medo dos recentes avanços que está relacionado, segundo Texeira, com as teologias “muito apocalípticas" que circulam e que "de alguma maneira estão remetendo a uma ideia final e de pensar em mecanismos de salvação, de políticas mais radicais”. Mas sua mensagem é também de cuidado e de acolhimento diante das dores cotidianas. “Na última campanha para a prefeitura do Rio, Marcelo Crivella [bispo licenciado da Igreja Universal e atual prefeito da capital fluminense] falava que iria ‘cuidar das pessoas’, enquanto Marcelo Freixo dizia que não iria cuidar, mas sim ‘trabalhar junto’. Mas as pessoas já trabalham demais, sofrem demais. Elas querem cuidado mesmo”, explica o professor e historiador João Bigon, evangélico da Igreja Batista e coordenador do Movimento Negro Evangélico no Rio de Janeiro.

Morador de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, além de mestrando em relações étnico-raciais, Bigon explica que a defesa dos valores familiares nem sempre está relacionado com uma ideologia conservadora. “As pessoas que moram em favelas e periferias muitas vezes só têm isso, a família. Para elas, a defesa da família muitas vezes não é uma questão ideológica, mas sim uma lógica de proteção”, argumenta. Ele conta que muitas mulheres buscam igrejas justamente em contexto de fragilidade familiar: por exemplo, quando está sofrendo violência doméstica e teme denunciar para a polícia, quando o marido está abusando do álcool, o filho está na vida do crime... “E a mulher busca no sagrado um reforço para unir uma família. Ela luta o tempo todo pra trazer esse filho ‘desgarrado de valores cristãos’ e a igreja muitas vezes consegue resgatá-lo. Ela diz que é pecado beber, usar droga, cria uma mentalidade que faz com que se afaste disso tudo”, explica Bigon. A antropóloga Teixeira segue na mesma linha: “A defesa da família está focada no único lugar possível existência. Ela simboliza uma espécie de segurança dentro de territórios pós-coloniais como o nosso, permeados pela sensação de violência, vulnerabilidade e instabilidade”.

Por sua vez, o antropólogo Lucas Bulgarelli usou o Twitter para lançar pistas dos motivos pelos quais o discurso sobre abstinência pode se mostrar atrativo até para pais que não se consideram conservadores. “A ideologia de gênero tem sido uma das ferramentas mais bem sucedidas da direita no Brasil. Ao disputar o sexo e o gênero no campo da política, oferece uma compreensão de mundo bastante útil para quem questiona se está sendo um bom pai ou mãe. Porque [isso] localiza as dificuldades sobre o sexo e a sexualidade como um elemento externo ao núcleo familiar e contrário a seus valores. Um mal, portanto, que vem de fora para dentro por contaminação, podendo, por consequência, ser combatido”, escreveu Bulgarelli.

Vinculado também a movimentos sociais progressistas, Bigon lembra de alguns debates que vivenciou com não-evangélicos. Como quando um vídeo que viralizou nas redes mostrava uma Damares relatando ter visto Jesus em um pé de goiaba no momento em que se pensava em se matar. “Aquilo virou meme, muitos riram e inclusive passaram a duvidar de sua sanidade mental”, recorda. “E eu disse: não podemos tratar dessa forma uma experiência que foi só dela, porque essa experiência, por mais absurdo que pareça, vai de encontro ao coração de muitos brasileiros que vão dizer que já aconteceu algo parecido. É a experiencia de fé do indivíduo e com o que ele acredita”, prossegue.

Lucas Bulgarelli@lucasbulgar

(1) A campanha de abstinência proposta por Damares Alves dialoga diretamente com uma das maiores preocupações de pais e mães brasileiros que não leem Intercept e não conhecem Stalin: a sexualização dos filhos na infância.

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Incômodo progressista

Nas eleições de 2006 e 2010, a maior parte da população protestante votou nos candidatos do PT ―que mantinha uma aliança pragmática com lideranças evangélicas― nas eleições presidenciais. Algo que mudou sensivelmente nas eleições de 2014, quando a maioria apoiou o tucano Aécio Neves. Mas a distância aumentou radicalmente em 2018, quando cerca de 70% dos eleitores evangélicos apoiaram Bolsonaro. Em entrevistas recentes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem defendendo que seu partido se empenhe em reconquistar essa importante fatia do eleitorado.

“Eu assisti, na cadeia, a muito culto, muita gente rezando. E eles estão entrando na periferia, porque o povo, quando está desempregado e necessitado, a fé dele aumenta”, afirmou o petista ao portal UOL neste domingo. “Acho que o papel do Estado é ser laico, não ter uma posição religiosa. Mas o que o PT tem que entender é que essas pessoas estão na periferia, oferecendo às pessoas pobres uma saída espiritual, uma saída que mistura a fé, com o desemprego, com a economia”, complementou. “As pessoas estão ilhadas na periferia, sem receber a figura do Estado. E recebem quem? De um lado, o traficante que está na periferia. De outro lado, a Igreja Evangélica, a Igreja Católica, que também tem uma atuação forte ainda”.

A deputada petista Benedita da Silva faz uma autocrítica ao admitir que em determinados aspectos o PT deixou de dialogar diretamente com os evangélicos. Ela argumenta, no entanto, que o caminho para reverter isso não passa por usar o púlpito para fazer política. “O PT tem um projeto de inclusão social. Temos que falar sobre emprego, violência, políticas públicas", opina. Também destaca que a disputa não deve se dar com a religião em si, mas com instituições religiosas que possuem um projeto de poder. “Temos que deixar claro que a fé é algo de cada um e que será sempre respeitada". Questionada sobre como a esquerda vai abraçar as pautas feminista e LGBT ao mesmo tempo que dialoga com evangélicos conservadores, insiste em dizer que “a base da discussão e da formação política não deve estar voltada para a questão da fé, mas para os direitos individuais e coletivos, para a prática do dia a dia e não para a teoria”.

Isso significa, por exemplo, deixar claro que “ninguém vai obrigar um pastor a realizar em sua igreja um casamento homoafetivo”, um tema que "deve ser tratado no âmbito civil, não da fé”, segundo explica Valéria Vilhena, do Evangélicas pela Igualdade de Gênero. “Não podemos deixar toda essa comunidade fora do diálogo, nos fechar e achar que são todos ignorantes, desprezando a capacidade de pensarem e também de saírem do senso comum”, opina.

Em outras palavras, explica a antropóloga Teixeira, “é preciso não demonizar a pessoa evangélica". “Precisamos dar nome aos problemas, e o problema é o Silas Malafaia, é Bolsonaro... Mas uma pessoa que decide professar uma fé evangélica não é alguém que podemos necessariamente colocar 100% na direita conservadora ou como apoiadora do nazismo, porque elas são permeadas por muitas outras camadas e pertencimentos religiosos e políticos”, explica. “E se a maioria é formada por mulheres negras, a quem é que estamos nominando quando dizemos que evangélico é isso ou aquilo?”, questiona. E conclui: “Precisamos ter uma postura que dê espaço para entender um pouco como essas pessoas estão pensando em relação à política sem necessariamente elegê-las como inimigos. Elas existem, mas existe um contingente imenso que está vivenciando isso sem necessariamente optar por um lado ou outro. Essas pessoas fazem uma leitura da política que não necessariamente é a do pastor. Elas também têm discernimento, e a partir disso precisamos pensar em pedagogias de diálogo e de troca de conhecimento”.

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