educação

Simon Schwartzman: A âncora da educação

O foco devem ser as competências, e não os diplomas que possam aparecer nos currículos

No México, o novo governo de López Obrador cancelou a reforma da educação do governo anterior, acusado de ter instituído um sistema punitivo de avaliação de mérito dos professores, e decidiu universalizar a educação superior, prometendo a criação de mais cem universidades. Ao mesmo tempo, corta os recursos e cria dificuldades para o funcionamento dos centros de pesquisa mais avançados. A educação pública mexicana é tão ruim quanto a brasileira e o poder dos sindicatos era tal que os professores das escolas públicas eram donos de seus cargos, podendo passá-los para os filhos. A Universidad Nacional Autónoma de México, com mais de 300 mil estudantes, sempre teve uma política de acesso livre e gratuito, gerando graves ineficiências, que os governos anteriores tentaram mitigar.

É um exemplo extremo de políticas populistas que dão prioridade absoluta às demandas da população por credenciais ou títulos universitários e aos interesses corporativos dos professores, deixando de lado as preocupações com qualidade e relevância. A consequência é a inflação dos diplomas, tornando necessários títulos cada vez mais altos para fazer as mesmas coisas, a um custo crescente para a sociedade.

O Brasil nunca chegou a esse extremo, mas o que aconteceu com a educação teve muito dessa filosofia. E não é muito diferente do ocorrido em áreas como saúde e previdência: um grande esforço para recuperar séculos de atraso e compensar as desigualdades expandindo de qualquer maneira a educação, resultando num sistema inchado, custoso, de má qualidade e extremamente difícil de reformar. Hoje, 50 milhões de brasileiros estão matriculados em algum tipo de escola, 60% da população até 30 anos, atendidos por um exército de mais de 6 milhões de pessoas, entre professores, dirigentes escolares, funcionários e outros profissionais. A estimativa mais recente de é que o Brasil gasta perto de 8% do PIB em educação, incluindo os gastos privados, proporcionalmente mais do que todos os demais países da América Latina e muitos países desenvolvidos.

Uma justificativa para esse grande esforço é que a educação seria a principal alavanca para sair da armadilha da renda média, em que estamos atolados. De fato, as pessoas mais educadas ganham mais, supostamente porque têm competências que o mercado de trabalho valoriza, e países em que a população é mais educada são mais desenvolvidos. No entanto, no Brasil a produtividade manteve-se estagnada ao longo das últimas décadas. Uma das razões é que a educação cresceu dando prioridade às demandas por credenciais – diplomas – e às reivindicações corporativas do setor, em detrimento da ênfase no mérito e nas competências. Como vários estudos recentes têm demonstrado, não basta aumentar a escolaridade para que a produtividade aumente. É preciso que a educação seja de qualidade, o que não tem ocorrido de forma satisfatória.

A outra justificativa é que a educação aumenta a mobilidade e reduz a desigualdade social. Mas nem sempre mais educação leva a esses resultados. Em quase todo o mundo, ao longo do século 20, houve um grande crescimento das cidades, da economia e do setor público. A expansão da educação, que acompanhou esses processos, fez com que as elites tradicionais se modernizassem e pessoas mais pobres, imigrantes e de minorias, se beneficiassem das novas oportunidades que foram sendo criadas. A insistência no mérito como critério para acesso às novas oportunidades de estudo e avanço nas carreiras foi fundamental para garantir que as melhores posições não fossem monopolizadas pelas elites tradicionais.

Mas não foi uma vitória absoluta. Existe uma forte relação, difícil de ser superada, entre desempenho escolar e origem social; e, além disto, a educação é um bem “posicional”, ou seja, os benefícios de cada um dependem em grande parte da posição relativa que ele tenha em relação aos demais. Como no futebol, só há lugar para poucos na primeira divisão.

Quando o processo de urbanização se esgota, os custos do sistema de bem-estar social chegam a seu limite e a economia para de crescer, como no Brasil de hoje, a expansão da educação deixa de ser um jogo em que todos ganham, ainda que desigualmente, e se aproxima de um jogo de soma zero, em que os que ganham o fazem à custa dos ficam para trás.

Isso leva a conflitos intensos pelas credenciais acadêmicas, numa combinação perversa de reservas de mercado profissional para os mais educados e políticas populistas de estímulo ao acesso livre ou facilitado ao ensino superior. Por um lado, o acesso ao ensino superior passa a ser visto como direito de todos, os requisitos mais tradicionais de desempenho no acesso e nos estudos passam a ser substituídos por critérios sociais, e a conquista dos diplomas passa a ter precedência sobre o desenvolvimento de competências. Por outro, cada vez mais é preciso uma pós-graduação ou passar num concurso público extenuante para conseguir um bom emprego, e milhares de formados em Direito nunca passarão o exame da OAB. Milhões se inscrevem no Enem tentando chegar ao ensino superior e não conseguem, muitos dos que entram abandonam antes de terminar e grande parte dos formados acaba trabalhando em atividades de nível médio.

A solução não é voltar o relógio do tempo, restringindo o acesso ao ensino superior e controlando mais rigidamente o exercício das profissões universitárias, mas, ao contrário, é criar mais alternativas de formação de nível médio e superior para atender a pessoas de diferentes perfis, reduzindo a pressão sobre os títulos acadêmicos, e quebrar os monopólios profissionais que excluem arbitrariamente pessoas com níveis de formação diferenciados do mercado de trabalho.

A âncora da educação devem ser as competências, e não os diplomas que possam aparecer nos currículos.

*Sociólogo, é membro da Academia Brasileira de Ciências


Jacques Marcovitch: Política e sociedade civil

Não se pode imaginar algo mais transformador do que a educação

A requalificação da política, entendida por muitos como prioridade entre nós, surge também como desafio global. Na cena contemporânea, tendências demográficas e rupturas tecnológicas vêm abalando instituições que não se renovam. Cuida-se neste artigo do papel de atores que, em nosso país, tanto podem ser parte do problema quanto da solução: partidos, governo e sociedade.

Das variáveis que se inserem na questão em análise, cabe primeiramente destacar a governança partidária. Governança é algo que tem parâmetros assemelhados em todas as organizações humanas, garantidas especificidades da esfera pública, na qual se exige a prevalência do bem-estar geral, e da esfera privada, que contempla interesses dos acionistas.

Na definição realista de Max Weber, o partido político é uma espécie de “associação” para um fim deliberado, seja este “objetivo”, com realizações e ideias, ou seja “pessoal”, destinado a levar ao poder um determinado indivíduo e seus seguidores. Parece claro que este último é o propósito de quase todos os grupos partidários em toda parte. O que muda é a qualidade moral desses propósitos: para o bem do povo ou para a satisfação de interesses dos “associados”.

A consolidação da democracia é missão fundamental dos partidos. Cabe-lhes, em consequência, assumir compromissos exemplares em nossa vida cívica. Espera-se deles que suas atribuições de responsabilidade sejam claramente definidas. Isso inclui princípios de governança, que determinam exigências na escolha de dirigentes, de candidatos à eleição e dos critérios para a formação de quadros profissionais em sua estrutura funcional.

Esses preceitos, lamentavelmente, não se fazem presentes na estrutura partidária brasileira. Os estatutos das nossas agremiações políticas estão em cartapácios que contêm centenas de artigos, detalhados em dezenas de folhas. Expõem exaustivamente processos de tomada de decisão e participação eleitoral ou mobilização de filiados. Omitem-se, porém, quanto aos graus de responsabilização dos dirigentes no que se refere à origem, aplicação de recursos e formação de patrimônios.

A Lei dos Partidos, votada no Congresso Nacional em 1995 e sancionada pelo então vice-presidente no exercício da Presidência da República, Marco Maciel, é um texto apresentado de forma precária. Permanece com pelo menos 80 rasuras (cortes), expostos no link http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L9096.htm. Nenhuma explicação é dada para tais cortes, sendo lícito supor que decorreram de interferências partidárias.

Nenhuma linha encontramos, nessas páginas, relativas à transparência das ações e dos deveres, e do exercício dos órgãos de controle internos e externos. Por isso se impõe uma formatação enxuta e compacta das obrigações estatutárias, definindo meios de responsabilização interna. Não devem faltar instrumentos de compliance, definidos em norma específica, indicando atos ilícitos e respectivas sanções.

O combate à corrupção é bandeira a ser empunhada por gente não só de mãos limpas, mas também qualificada, reconhecida, capaz de propor efetivos procedimentos para imunizar o Estado contra os métodos de saque e uso indevido do erário. Vários dos nossos partidos têm quadros aptos a indicar novos caminhos. Cabe-lhes neutralizar as inclinações à demagogia e ao exibicionismo, que camuflam interesses mesquinhos com a máscara da honestidade.

Dos partidos emerge o governo, compreendido como um grupo de pessoas empoderadas pelo voto popular. Estas exercem a autoridade política e a gestão do País, sob a liderança do presidente eleito. Tal núcleo é aqui tomado em abstrato para não personalizar os agentes das ações alinhadas a seguir.

Propomos que pelo menos uma obrigação estatal, consensualmente a mais reformadora de todas, a educação, seja repensada pela sociedade civil e instituída pelo governo, como se dele fosse.

Seria o primeiro caso de uma política pública elaborada pelo conjunto social e que conciliaria, nesse ponto, os que financiam o Estado, via tributos, e os que o administram. A missão de planejar a educação fundamental e média deixaria de ser exclusiva para se tornar inclusiva, atraindo novos atores e transformando coadjuvantes em coprotagonistas.

Os estudos do Movimento Todos pela Educação, a serem encampados pelo MEC, têm como horizonte o ano de 2022. Cabe recordar, sem maiores comentários, as cinco metas propostas: 1) Toda criança e todo jovem de 4 a 17 anos na escola; 2) toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos de idade; 3) todo aluno com o aprendizado adequado ao seu ano; 4) todo jovem com ensino médio concluído até os 19 anos; 5) investimento em educação ampliado e bem gerido. Os custos não excederão 6% do PIB – os mesmos atualmente investidos.

Isso é política em sentido largo e generoso. Não se pode imaginar algo mais transformador do que a educação. O que se busca é inverter o fluxo de propostas sociais, de modo que as metas venham transitar de fora (sociedade) para dentro do governo, seja ele qual for.

Para que haja tal convergência cumpre remover a notória falta de moderação no discurso político. Agenda relevante, originária de uma fração da sociedade civil não contaminada pelo antagonismo raivoso, contribuirá para distensionar o ambiente político e facilitar o clima de racionalidade capaz de restaurar os valores republicanos. Para tanto as redes sociais, alimentadas por correntes partidárias, devem reverter o discurso habitual, que alimenta a polarização fragmentadora hoje existente na vida brasileira.

As comemorações do bicentenário da independência podem celebrar também o fim, sem volta, do descaso com a educação básica e média. Se até lá se cumprirem as metas já definidas, proclamaremos em 2022 algo tão memorável quanto a emancipação conquistada no século 19.

*PROFESSOR EMÉRITO DA FEAUSP, FOI REITOR DA UNIVERSIDADEDE SÃO PAULO (1997-2001)

 


Cristovam Buarque: Três exemplos educacionistas

Em 2016, o site http://casa.abril.com.br fez uma entrevista com o Rai, onde a jornalista Keila Bis perguntou o que mais tinha impressionado nosso grande jogador quando viveu na França. Ele respondeu que sua maior e boa surpresa foi o fato de sua filha ir à mesma escola que a filha de sua empregada. Rai teve a sensibilidade de perceber que para um brasileiro esse fato era mais surpreendente do que as belezas de Paris, seus monumentos e sucessos econômicos. Mas um francês não se surpreenderia. Há décadas, o acesso à educação de base é igualitário para qualquer criança, independentemente da renda de sua família, apesar de uma certa desigualdade, dependendo do local onde mora.

Mas nem sempre foi assim. O esforço para que a educação fosse de qualidade e igual para todos começou na França, em 1881, quando o governo iniciou a reforma liderada pelo ministro Jules Ferry. A partir de então, a educação pública de qualidade para todos se tornou uma obsessão nacional, mesmo em tempos de guerra ou crises econômicas. Não foi apenas a França que fez essa opção nacional, de todas suas forças políticas priorizando a educação de suas crianças, para com isso formar uma nação rica e justa. Nem foi apenas à França que essa opção trouxe desenvolvimento e riqueza.

Quando o Estádio Beira-Rio foi inaugurado, em Porto Alegre, em 1969, o local das arquibancadas mais pobres era chamado de Coreia. Esse nome era dado porque a Coreia do Sul era símbolo de pobreza. Sua renda anual per capita era de US$ 1,7 mil, metade da brasileira de então; o produto industrial era de 11,2% do PIB e toda sua indústria era simples; enquanto, no Brasil, a indústria era 25,4% do PIB com alguns produtos sofisticados. Em 50 anos, a Coreia do Sul deu o salto e hoje sua renda per capita é superior a US$ 20 mil, e a brasileira é inferior a US$ 10 mil. A indústria coreana está na ponta tecnológica em relação às mais avançadas do mundo. Essa inversão se deve às estratégias deles e à nossa: eles fizeram uma revolução na educação de suas crianças e investiram no desenvolvimento da ciência e da tecnologia; nós deixamos a educação de base em segundo plano e não conseguimos dar o salto na ciência e na tecnologia.

A Irlanda é outro exemplo. Faz alguns anos, aproveitei uma viagem à Inglaterra e fui visitar aquele país. Queria entender como foi possível sair da péssima situação de sua educação nos anos 1970, para uma situação privilegiada 30 anos depois. Soube que o salto foi resultado de uma estratégia decidida em um acordo entre políticos, sindicalistas e empresários, que acertaram que dali para frente a prioridade central do país seria educação, ciência e tecnologia. Quaisquer que fossem os resultados das eleições, os governos dariam prioridade à educação de base: nenhuma criança seria deixada para trás, nenhum cérebro seria desperdiçado. O resultado é que a Irlanda é um país dinâmico, sem pobreza.

Ao saber que esse acordo nacional pela educação havia sido construído em um castelo em Kork, falei ao então embaixador do Brasil, Stélio Amarante, que me organizasse uma viagem até essa cidade. Ele me disse que as estradas do país eram péssimas e apesar de ser um país pequeno a viagem exigiria dias. Portanto, eu não teria tempo de sentir o local onde havia sido realizada aquela reunião decisiva. Olhei para o embaixador e perguntei como era possível um país que havia dado o salto na educação, ciência e tecnologia não ter conseguido fazer uma rede de boas estradas. Ele olhou para mim e disse “por isso mesmo!”. Fez um longo silêncio e completou: “optaram pela educação, concentraram seus recursos na escola. Agora, vão fazer as estradas”.

Essa resposta do embaixador foi uma lição maior do que tomar conhecimento do Acordo de Kork. O Brasil dificilmente faria um acordo desse tipo, porque não fizemos opção pela educação nem temos ainda o entendimento de que os recursos dos governos são escassos e é preciso fazer escolhas com prioridades de onde gastá-los. Nossos líderes partidários ou sindicais quereriam “priorizar” tudo e imediatamente, nenhum setor abriria mão de gastos que interessasse. Continuamos preferindo a mentira demagógica de fazer tudo ao mesmo tempo, deixando educação para trás, porque ela não aparece aos olhos do eleitor. Salvo depois de feita, nos resultados obtidos na construção do país, como fizeram França, Irlanda, Coreia do Sul. (Correio Braziliense – 18/06/2019)

Cristovam Buarque, professor emérito da UnB (Universidade de Brasília)


Bernardo Mello Franco: A tesoura e o guarda-chuva

Enquanto o ministro brinca de Gene Kelly, o diretor do Museu Nacional corre atrás de doações. Sem socorro financeiro, a busca pelo que restou do incêndio vai parar

Nove meses depois do incêndio, o que sobrou do Museu Nacional voltou a conviver com más notícias. O governo cortou R$ 11,9 milhões que seriam destinados às obras de reconstrução. A tesourada equivale a 21% de uma emenda ao Orçamento apresentada por deputados federais do Rio.

Na quinta-feira, o ministro da Educação gravou um vídeo sobre o assunto. Rodopiando um guarda-chuva, Abraham Weintraub disse ser vítima de “fake news”, reclamou de críticos “de mal com a vida” e culpou os parlamentares pelo bloqueio. Faltou dizer que o corte foi exigido pelo governo e afetou todas as emendas da bancada fluminense.

Enquanto o olavete brincava de Gene Kelly, o diretor do museu corria atrás de doações. “Estamos numa situação de desespero. Não temos dinheiro nem para trocar uma lâmpada ou consertar uma cadeira”, conta o paleontólogo Alexander Kellner, um especialista em pterossauros que já ajudou a formar gerações de cientistas brasileiros.

Ele diz que o museu está com o caixa zerado e depende de um socorro emergencial de R$ 1 milhão. “Precisamos desesperadamente de ajuda. Se ela não chegar, teremos que suspender o resgate de peças que estão ainda sob os escombros. Seria uma tragédia dentro da tragédia”, alerta.

As demandas são modestas para o tamanho das perdas no incêndio. Os técnicos precisam de mais dez contêineres para abrigar vestígios do acervo, o que custaria R$ 350 mil. Os outros R$ 650 mil seriam usados no trabalho de resgate, que já localizou preciosidades como o crânio de Luzia, o fóssil humano mais antigo do país.

“Não adianta atirar pedra na UFRJ, que não tem culpa pela falta de dinheiro”, diz Kellner. “Tudo o que recebemos do governo até agora foi liberado na gestão passada. A atual ainda não se deu conta da importância do museu. O MEC precisa assumir a sua responsabilidade”, cobra.

O Ministério Público Federal pensa o mesmo, e deu cinco dias para a pasta explicar o corte de verbas. A reação foi tão inusitada quanto o vídeo do guarda-chuva. O secretário-executivo do MEC, Antonio Paulo Vogel, ligou para a Procuradoria e ordenou, exaltado, que uma nota sobre o assunto fosse retirada do ar. O texto continuou na internet, e o dublê de ministro e dançarino ainda não prestou as informações devidas.

Kellner está na Europa em busca de parcerias. Já visitou instituições da Alemanha e da França, que prometeram ajuda para reerguer o museu. Hoje ele vai ao Louvre, onde conversará sobre os esforços para remontar a coleção egípcia. Os pesquisadores que vasculham os escombros já resgataram cerca de 200 peças, como estatuetas e amuletos arrematados por dom Pedro I.

“Há muito interesse em ajudar, mas o museu precisa merecer a ajuda. Não aceitaremos nenhum material se não tivermos condições de preservá-lo da forma adequada”, afirma o diretor.

Por aqui, as doações continuam abaixo das expectativas. Desde o incêndio, a campanha SOS Museu Nacional arrecadou apenas R$ 316 mil de pessoas físicas e empresas brasileiras. Só o governo alemão doou mais que o dobro: € 180 mil, o equivalente a R$ 786 mil.


Orlando Thomé Cordeiro: O prioritário e o importante na gestão pública

Imagine que uma pessoa vai ao supermercado levando determinada quantia em dinheiro e uma lista de compras composta apenas por produtos considerados essenciais. Porém, na hora de passar no caixa, a desagradável surpresa: o dinheiro não dá para pagar a conta. O que fazer? Nas diversas palestras e cursos que ministrei, quando esse problema é apresentado aos participantes, a maioria, invariavelmente, responde que a solução é comprar apenas o que é importante. Porém, ao serem lembrados de que na descrição do problema todos os produtos da lista eram definidos como essenciais, a resposta é um silêncio ensurdecedor.

Tal impasse permite construir a seguinte compreensão: prioridade é escolher o que será deixado de lado a cada momento, ainda que importante ou essencial. Em outras palavras, chega-se ao que é prioritário por exclusão. Sem dúvida são escolhas difíceis. Essa é a razão de vermos dirigentes em muitas organizações orientarem as equipes afirmando que “tudo é prioritário”. Na verdade, significa que nada é prioritário.

Quando isso acontece na iniciativa privada, trata-se de problema restrito à gestão das empresas. Porém, na administração pública, tal confusão costuma nos levar a cenários de descontrole orçamentário, trazendo como consequência direta a queda na qualidade dos serviços públicos, muitas vezes podendo chegar à redução da oferta ou mesmo à sua interrupção. E quem paga o pato é a população.

Como se sabe, o país atravessa um dos seus piores momentos em termos de finanças públicas. Se considerarmos apenas o governo federal, em 2018 completaram-se cinco anos consecutivos de deficit, e as previsões para 2019 e 2020 são igualmente negativas. O quadro é ainda mais dramático quando olhamos para estados e municípios. É nesse momento que gestores públicos precisam ter maturidade e, principalmente, coragem para saber identificar o que é prioritário, definindo com clareza o que precisará ser deixado de lado. Afinal, os recursos são finitos.

Tomemos o exemplo da educação pública. Especialistas de diversas correntes políticas e ideológicas afirmam que não há como o Brasil atingir um patamar mais elevado de desenvolvimento sem investimento em educação, especialmente nos segmentos que compõem a educação básica. Aparentemente, temos aqui um consenso, mas, infelizmente, não passa de falsa impressão.

Nos últimos 16 anos, os sucessivos governos, com apoio do Congresso Nacional, optaram por destinar a maior parte dos recursos orçamentários da educação para o ensino superior. No ano em curso, o orçamento da União prevê cerca de R$ 122 bilhões para o MEC, com a seguinte distribuição entre as áreas: R$ 33,8 bilhões para o ensino superior, R$ 23,5 bilhões para a educação básica (já incluídas as transferências para estados e municípios) e R$ 12,2 bilhões para a educação profissional.

Como se vê, a educação básica recebe apenas 19% do total, enquanto 28% são destinados ao ensino superior. Na comparação direta entre os dois segmentos, o orçamento do ensino superior é 44% maior que o da educação básica. Diante desse cenário, a quase totalidade de especialistas apela para o mantra “em educação tudo é prioritário”. Ora, isso é verdadeiro absurdo. Não se trata de desconhecer a importância do ensino superior, mas compreender que, quando não se têm recursos suficientes para fazer tudo, torna-se imprescindível escolher o que deixaremos de fazer e definir, verdadeiramente, o que é prioritário nessa área vital para o país. E aí, lamentavelmente, fica evidente que a educação básica só é prioridade da boca pra fora.

A incapacidade de gestores públicos definirem prioridades não se limita à área de educação, sendo uma característica presente na grande maioria das administrações municipais, estaduais e federal. A boa notícia é que existe solução, mas sua implantação é bastante desafiadora, porque passa por uma indispensável e profunda mudança cultural que leve gestores públicos a substituírem a predominante visão imediatista por uma gestão apoiada em planejamento e transparência, além de contarem com equipes capacitadas para conseguirem realizar muito com poucos recursos, o mais com menos. Com base na minha experiência e mantendo o necessário otimismo, tenho a expectativa de ser possível evoluirmos como sociedade para aprendermos a separar o importante do prioritário e, dessa forma, contribuir diretamente para que gestões públicas possam reproduzir tal comportamento.


El País: Campanha “anti-doutrinação” contra professores eleva estresse em sala de aula

Clima de perseguição estimulado por Bolsonaro e Escola sem Partido geram ambiente de permanente tensão, relatam profissionais de centros públicos e privados de São Paulo

Nunca foi fácil ser professor de escola no Brasil. Paga-se pouco, as jornadas de trabalho são longas, os recursos pedagógicos são escassos e, como se não bastasse, há alunos que recorrem à violência física ou verbal. A essa rotina, desde sempre estressante e mentalmente desgastante, se soma mais recentemente um novo elemento: o ambiente de ódio político no país e a patrulha ideológica promovida pela extrema direita dentro das salas de aula. "Parece que vivemos em um mundo do [escritor] George Orwell em que você é vigiado constantemente, o que nos deixa em uma situação de muita tensão. A gente sente certa hostilidade", resume Antônio*, professor de Português do Ensino Médio em uma escola estadual paulista e do 6º ano do Ensino Fundamental II em um colégio municipal da capital. "Preciso repensar toda a aula, tomar mais cuidado com os caminhos que vou tomar".

A educação vem sendo transformada numa das principais trincheiras da guerra ideológica e cultural travada no país há cerca de três anos, quando o projeto Escola sem Partido, que prega o fim de uma suposta "doutrinação" de esquerda dentro dos centros de ensino, passou a conquistar corações e mentes e a tramitar em legislativos municipais, estaduais e federal. Com a acirrada disputada eleitoral no ano passado e a ascensão de Jair Bolsonaro(PSL) à Presidência da República, o ambiente escolar, já tenso, se deteriorou ainda mais em lugares como São Paulo.  Mesmo sem constar na lei, o Escola sem Partido é uma diretriz da atual gestão federal e do Ministério da Educação. Seus apoiadores também formam uma extensa rede de deputados, influenciadores digitais e grupos (como o Movimento Brasil Livre) que estimulam, por exemplo, que alunos filmem e denunciem seus professores. No dia 28 de abril, o próprio presidente Bolsonaro partilhou um vídeo, feito por uma aluna, em que expõe uma professora chamando o escritor Olavo de Carvalho, guru de Bolsonaro, de “anta“ por “meter o pau em tudo”. “Professor tem que ensinar, e não doutrinar”, escreveu o mandatário em seu Twitter, em um gesto que propaga o clima de perseguição no país. "A desvalorização social de nosso trabalho já é antiga, mas essa perseguição e esse ódio são, de fato, mais recentes. Sempre houve conflito entre alunos e professores, mas a novidade é que isso se transformou em perseguição e violência, institucionalizadas pelo presidente e pelo ministro da Educação", argumenta a professora de Geografia Silvia Barbara, diretora do Sindicato de Professores de São Paulo (Sinpro).

Não existem dados oficiais que retratem essa recente deterioração da saúde dos professores ou essas tensões que acontecem em sala de aula. Porém, uma pesquisa feita pela Associação Nova Escola com 5.000 educadores entre junho e julho de 2018 mostra que 66% deles já precisaram se afastar do trabalho por questões de saúde. As cifras dão dimensão do ambiente no qual estão inseridos: 68% sofrem de ansiedade, 63% disseram ter estresse e dores de cabeça, 39% têm insônia, 38% possuem dores nos ombros e alergias e 28% apresentam ou apresentaram quadro de depressão. Além disso, 87% acreditam o problema é ocasionado ou intensificado pelo trabalho. No ano passado, o Brasil já ocupava o último lugar num ranking internacional que mediu a valorização do professor em 35 países.

O EL PAÍS conversou com uma dezena de professores das redes pública e privada de São Paulo sob a condição de anonimato e de que não fossem revelados o lugar em que trabalham, já que temem ser demitidos ou perder outras oportunidades. Todos eles relataram um maior esgotamento mental desde as últimas eleições e apontaram para uma falta de perspectiva. Alguns já admitem a possibilidade de mudar de ocupação. "Pretendo continuar na área de Educação, mas agora como consultor e analista. Depois de cinco anos onde estou, acumulei uma série de desgastes pela forma como a escola lida com os pais e com os conteúdos. Depois de meu último desentendimento com a direção, decidi sair", explica André*, professor de História de uma rede privada com várias unidades na capital paulista.

As tensões sempre existiram na hora de abordar temas como a origem das religiões, sobretudo para uma comunidade majoritariamente evangélica que não aceita, por exemplo, discutir preconceito contra religiões de matriz africana. "A resistência vem dos próprios alunos, já que seus pais falam que o professor de História é um socialista que só fala besteira e não é para escutá-lo". Explicar a história da Revolução Russa para o 9º ano também trouxe outros problemas. "Os alunos já vieram preparados para refutar qualquer tipo de argumentação ou afirmar que eu estava defendendo algum viés político. Eu não conseguia nem construir a narrativa histórica, eles já estavam cheios de armadilhas e questionamentos, criando uma série de situações", conta. Por causa dessas aulas, o pai de um dos estudantes acusou-o de estar tentando doutrinar seus filhos. A situação mais grave não aconteceu com ele, mas sim com uma professora homossexual que foi usada como exemplo por uma aluna na hora de se assumir para sua família. "Essa colega acabou afastada da turma e viu sua grade ser reduzida drasticamente. Ficou insustentável e ela teve de deixar a escola".

Embates com os pais, que hoje em dia se comunicam entre si em grupos de WhatApp, também se tornaram mais frequentes. Em uma ocasião, Pedro*, que dá aula de inglês e literatura em duas escolas particulares, teve de enfrentar um que estava exaltado em uma delas. Dizendo-se representante de outras famílias, acusava os professores de estar falando mal de Bolsonaro e garantia que outros pais queriam aparecer armados no colégio. Aconteceu logo depois do primeiro turno das eleições. "Eu cheguei e os alunos estavam muito agitados e muito felizes, cantando a vitória. Eu tentava começar a aula e eles não deixavam. Tentei conversar, argumentar de que vivemos num país democrático, mas eles gritavam que queriam ditadura", conta ele. "Nesse contexto, tentei perguntar se eles sabiam o que estavam falando. E eles gritavam mais. Qualquer coisa que eu dizia era 'ah, seu comunista!'. Tive que pedir para aluno sair de aula, e mesmo assim tendo o maior cuidado de que não falassem que tirei por questões políticas". A mesma situação ocorrera em outras salas de aula, despertando a ira de familiares.

Há resultados práticos dessa patrulha ideológica que vão além do desgaste mental. Um deles é que a própria direção da escola emitiu uma ordem no ano passado pedindo para que assuntos políticos não fossem abordados com os alunos. Outro é que Pedro decidiu diminuir sua grade horária por causa da "quantidade de abusos", limitando-se a dar aula apenas para o Ensino Médio. Além disso, já não se aprofunda em determinados temas e ensina apenas gramática. "É muito difícil controlar o celular, ficamos na dúvida se estão filmando. Eles tiram foto da lousa, e isso gera muita insegurança", explica.

A autocensura também virou regra, como também afirma o professor de Física João*. "Eu trazia para a sala de aula questões como as mulheres na ciência, que modelo Einstein defendia para a sociedade... E isso desagradava os pais", conta. Ele também propunha e participava de projetos interdisciplinares com seus colegas. "Neste ano decidi não me envolver em nenhum".

"Maior isolamento dos professores"

A psicóloga Renata Paparelli, professora da PUC-SP, atende educadores na Clínica do Trabalho da universidade, sobretudo os da rede municipal — mas também alguns da rede privada —, e estuda os transtornos relacionados à carreira docente. Em escolas particulares, alunos e pais muitas vezes buscam ser tratados como clientes e querem que suas vontades sejam atendidas, inclusive que conteúdos sejam tirados das apostilas. "Escuto muitas queixas sobre a perda de autonomia pedagógica e a interferência da direção e dos pais", conta. Já na rede pública, ressalta, a violência sempre fez parte da rotina do professor. "Todo esse estímulo ao não-diálogo e essa desvalorização do conhecimento promovida pelas autoridades têm incrementado essa violência", garante. Ela também fala de um maior "isolamento" dos professores, o que "impede a construção de projetos coletivos" e estimula a desistência de muitos deles. Há também aqueles que "apelam para as práticas quixotescas e vão sozinhos contra tudo e todos, mas acabam esgotados".

Antônio*, o professor de português das redes estadual e municipal de São Paulo, afirma que "a vantagem e a desvantagem do setor público é que não há controle rígido por parte da gestão da escola". Isto é, "são ambientes muito maiores, com dezenas de salas e professores. É mais estressante por outras questões". Ainda assim, embates com alunos fazem parte da rotina. "Tento conduzir para uma discussão mais saudável. Quando você coloca questões ao invés de afirmações, o debate se estabiliza. Para o Ensino Médio tento levar mais reflexões, mas tenho muito cuidado. Já no Ensino Fundamental os alunos trazem muitas coisas que aprendem dentro de casa", explica.

"Eu tenho liberdade de cátedra e continuo trabalhando com feminismo, questões LGBT e raciais... Ainda não repensei minha abordagem", conta Giovana*, professora concursada de uma escola estadual no extremo sul de São Paulo. Contudo, as tensões com a comunidade local, bastante religiosa, e os atritos com professores conservadores estão mais frequentes — algo também identificado por Paparelli em suas consultas. "Já tive medo da minha lousa. Eu nunca apago quando acaba a aula, deixo sempre ali. Mas sabe quando você fica com medo de registro?", diz.

Giovana trabalha em uma escola pequena. Acompanha seus alunos do 3º ano do Ensino Médio desde a antiga 5ª série do Ensino Fundamental. "Temos cuidado com formação e com o trabalho feito, mas não sei se vou conseguir fazendo esse trabalho. A gente faz um planejamento anual, mas já não temos perspectiva. Verbas são cortadas, matérias são tiradas... A impressão é que querem que os alunos sejam apenas o chão de fábrica", destaca. "Mais do que estresse, existe uma insegurança", acrescenta ela, que começou a fazer terapia depois das eleições e já começa a pensar em outras alternativas.

*Nome fictício para preservar a identidade do professor ou professora.


El País: Cortes da Educação despertam as ruas contra Bolsonaro

Milhares de estudantes e professores foram às ruas para protestar em 26 Estados, nos primeiros grandes protestos nacionais contra o presidente. Dos EUA, mandatário chamou manifestantes de "idiotas úteis"

As ruas despertaram contra Jair Bolsonaro. Os cortes no Ministério da Educação somados à retórica belicosa do Governo contra as universidades, consideradas antros "esquerdistas", levaram milhares de pessoas a marchar pelas capitais e médias cidades espalhadas por 26 Estados. Foi o primeiro protesto nacional contra o presidente de extrema direita que está há quatro meses e meio no poder. A jornada produziu, mesmo sem números consolidados de participação, imagens do descontentamento precoce com o Planalto num país que se acostumou desde 2013 a analisar manifestações como um termômetro político. Receberam de Bolsonaro, que está em viagem a Dallas, nos EUA, uma resposta que questionava a legitimidade do movimento e inflamava a polarização. "A maioria ali é militante. Se você perguntar a fórmula da água, não sabe, não sabe nada. São uns idiotas úteis que estão sendo usados como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo das universidades federais no Brasil”, disse o presidente.

A frase provocadora ecoaria nos cartazes que estudantes e professores levaram às ruas pelo país ao longo do dia. "H20, seu bocó", exibia um estudante em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Os cartazes, foram, de novo, um símbolo do dia, martelando a educação como um valor a ser defendido por todos, um totem ao qual é difícil se opor — assim como as palavras de ordem contra a corrupção foram na campanha do impeachment de Dilma Rousseff. As mensagens mais criativas disputaram atenção e compartilhamentos com outro símbolo da capilarização dos manifestações deste 15 de maio: em vez de apenas imagens das capitais, fez sucesso a procissão de guarda-chuvas do protesto na chuvosa Viçosa, um polo universitário no interior de Minas Gerais.

Não faltaram também imagens da multidão da avenida Paulista, local emblemático da força popular desde 2013 — embora com participação menor do que no impeachment. "É um absurdo o que o Bolsonaro diz, uma ofensa a nós que viemos às ruas. Ele quer acabar com o país e não tem respeito nenhum", dizia a bibliotecária Vanessa Martins, que participava do protesto na capital paulista. Martins estudou na Universidade Federal de São Carlos e disse que estava na rua para apoiar estudantes que, assim como ela, só se formaram graças à universidade pública.

“Esta é nossa reação a uma tentativa de ataque à pesquisa”, dizia a estudante de Letras da Universidade de São Paulo Raquel Guets, enquanto segurava um cartaz com a frase “Lute como uma pesquisadora” e o nome do projeto que integra, afetado pelos cortes do Governo federal. Com 24 membros, a pesquisa Mulheres na América Portuguesa tenta reconstruir a história do Brasil por meio de cartas e outros textos escritos por mulheres que compõem diferentes acervos públicos. O projeto, que existe desde 2017, ganhou um edital da Capes, mas os 13.000 reais que garantiriam uma bolsista remunerada pelos próximos três anos foram bloqueados no contingenciamento do Governo. “Agora a gente está tentando algum financiamento internacional, porque não acreditamos mais em conseguir investimento do Brasil”, disse uma das coordenadoras do projeto.

Estudantes, professores, centrais sindicais, movimentos populares e outros apoiadores estiveram na Paulista, onde entoaram gritos de guerra não só em defesa de mais recursos da Educação, mas também contra a reforma da Previdência. Relembravam escândalos do entorno do presidente Jair Bolsonaro — como o Caso Fabrício Queiroz e o escândalo das candidaturas laranjas do PSL, partido do presidente — e pediam a demissão do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que foi obrigado a passar a tarde respondendo a parlamentares na Câmara dos Deputados, num sintoma da desorganização política da base do Governo.

“Fui enganada. A vida toda (me disseram) que a educação não era pra mim porque sou preta e pobre. Vim mostrar que a universidade também é minha”, dizia a estudante de Letras da Unifesp Dayane Ferreira Reis, enquanto pintava o nome da instituição no rosto de um colega em frente ao Masp. Perto dela, a estudante do ensino médio Amanda de Souza, de 17 anos, segurava um cartaz: “Se você acha que a educação é cara, experimente a ignorância”. Ela diz estar com medo de perder a oportunidade de cursar uma universidade pública. “Estou estudando muito pra passar no vestibular e vim hoje porque estão querendo tirar uma chance que já é difícil”, afirma.

Vídeo incorporado

blanquita@lespatzle

Greve Nacional da Educação
Viçosa - MG

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O ato na Avenida Paulista foi dividido em três blocos. O primeiro, com falas de lideranças das centrais sindicais. O segundo foi marcado por discursos de integrantes do movimento estudantil. Já o terceiro abria espaço para as falas de políticos. O petista Fernando Haddad discursou contra os cortes na Educação e convocou os manifestantes a não deixarem as ruas até que o presidente “devolva cada centavo” retirado da área. Derrotado por Bolsonaro nas últimas eleições, Haddad criticou o presidente. “Nós vamos educar Bolsonaro. É ele que precisa ser educado, e nós vamos dar essa lição a ele até ele aprender”, disse. Ironizou ainda a viagem aos EUA, "a nação que decidiu servir".

No Rio, o ato também uniu sindicatos dos professores e estudantes, de secundaristas a universitários. "A luta unificou, é estudante junto com trabalhador!", cantavam os manifestantes.  "Somos sofressoras e não professoras. Esse estado nos maltrata. Recebemos um salário irrisório que não condiz com a nossa profissão. Trabalhei 51 anos em escola, como professora e supervisora", reclamava Marina Gomide, de 80 anos.

O ato na capital fluminense teria episódios de violência ao final, com bombas de gás sendo usadas pela polícia, o que que acabou encurralando os manifestantes em alguns pontos, como o metrô, já noite avançada. Segundo a polícia, a repressão começou após manifestantes encapuzados atearem fogo em um ônibus. Com exceção deste episódio e de outro semelhante em Brasília, não foi relatada violência nas demais marchas pelo país.

Presidente fala com a imprensa em Dallas, nos EUA.
Presidente fala com a imprensa em Dallas, nos EUA. MARCOS CORRÊA PR

Nesta quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro seguirá em Dallas, onde recebe um prêmio da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos — o mesmo que ele não pode receber em Nova York, por causa da resistência do prefeito, Bill de Blasio, e dos ativistas pelos direitos LGBT e ambientais. Enquanto isso, o mundo político, que digere os desdobramentos do escândalo envolvendo Flávio Bolsonaro, deve se debruçar sobre os efeitos da jornada deste 15 de maio: algo com poder de desgaste para o Governo ou apenas um round isolado? Os primeiros dados da movimentação no Twitter mostram uma predominância da pauta dos manifestantes, sempre uma métrica relevante numa gestão que modula a estratégia pelas redes sociais, e a UNE (União Nacional dos Estudantes) já marcou novos protestos para o próximo dia 30.

Fabio Malini@fabiomalini

tag pro-governo. 5 mil tweets, por enquanto.
contra o governo: 793 mil tweets.
Esse é o placar da rodada no Twitter, até aqui.

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Paulo Ghiraldelli Jr.: Em defesa da filosofia e da sociologia na universidade

Disciplinas são, sim, altamente profissionalizantes

A filosofia é importante porque é "a mãe das ciências". A sociologia é essencial porque nos dá modelos de "como funciona nossa sociedade". Esses jargões fáceis contêm verdades simples que todo ministro da Educação deveria saber, até mesmo aqueles nomeados por presidentes com pouca aptidão cognitiva.

No Brasil atual, no entanto, parece que não temos mais como dizer essas coisas evidentes para os que estão no poder. Não escutam. Não sabem o básico e não querem aprender. Então, podemos tentar contar o correto para os outros, os que não são autoridades, mas que não lidam com filosofia e sociologia, e que caíram no velho engodo de que tais disciplinas são improdutivas.

A filosofia e a sociologia são disciplinas altamente profissionalizantes no mundo atual. Na universidade, elas são mais profissionalizantes que computação ou outros ensinamentos tecnológicos. São disciplinas que permitem ao universitário se tornar um profissional diferenciado, que por lidar com os fundamentos de outras ciências, ganha condições de aprender mais rapidamente as técnicas de diversos afazeres. Os que sabem só as técnicas ditas profissionais --facilmente obtidas, não raro, no próprio trabalho-- têm uma dificuldade imensa de trocar de emprego. Nessa situação atual, em que todos são postos para se reinventar a cada dez anos, os filósofos e sociólogos levam vantagem.

Cursos técnicos profissionalizantes são de rápida confecção. Todos que fizeram o Senac sabem disso. Mas se são filósofos e sociólogos, além de terem a abertura para a vida universitária, estão sempre aptos a se dar bem nos empregos em que seis meses ou mais de treinamento os põem em vários serviços. Falo por experiência própria e por observar outras pessoas.

A ideia do ministro da Educação, de que um filho de agricultor formado em humanidades volta para casa e não tem qualquer utilidade, é um erro. Vem de alguém que não tem noção de economia. Não sabe como o capitalismo funciona. Imagina que vivemos em uma economia rural de subsistência, sem a máquina, e que o filho do agricultor vai voltar para casa para ajudar o pai.

É uma visão de uma economia rural do século 19 e vigente só em alguns rincões descobertos pelo "Globo Rural" quando o programa quer provocar nostalgia. Na modernidade atual, os filhos fazem cursos superiores exatamente para se diferenciarem dos pais, e isso mesmo quando, sendo mais ricos, possuem pais que já passaram pela universidade.

Assim, do ataque do ministro da Educação atual à sociologia e à filosofia, resta concluir que isso se faz por incultura e, em grande parte, por querer obedecer ao presidente, que não tem outro programa de governo senão atacar tudo que ele imagina que vem "das esquerdas".

O presidente do Brasil disse que o critério para ser ministro da Educação de seu governo era estar disposto a destruir Paulo Freire. Ora, este ministro aí veio sob encomenda; ele põe a mão no coldre diante de qualquer manifestação da cultura mais sofisticada.

*Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo e autor, entre outros livros, de 'Para Ler Sloterdijk' (ed. Via Verita, 2017)


Luiz Carlos Azedo: Secos e molhados

“As conversas de Bolsonaro com os líderes do Centrão foram muito protocolares, apesar da aparente informalidade, e muito pouco resolutivas”

O presidente Jair Bolsonaro assinou, ontem, 18 decretos para comemorar os 100 dias de governo, entre os quais os projetos de autonomia do Banco Central e de educação domiciliar, muito polêmicos. Após a cerimônia em que anunciou a medida, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, fez um balanço das realizações do governo, dizendo que o presidente havia cumprido mais do que as 35 metas anunciadas no Plano dos 100 dias. O pacote mistura medidas de grande alcance para a economia com mudanças meramente burocráticas, como num armazém de secos e molhados.

As medidas anunciadas, ontem, também foram incluídas no balanço de realizações. “Existem ações que precisavam estar delimitadas e apresentadas. Como o estudo em casa, a questão do Banco Central. São coisas que vão se prolongar. Nosso compromisso era ter uma ação dentro dos 100 primeiros dias que mostrasse que o governo estava trabalhando nisso”, explicou Lorenzoni. Na avaliação do governo, a reforma da Previdência será aprovada no primeiro semestre deste ano; a reforma tributária será o passo seguinte. “Iniciaremos no segundo semestre a descentralização dos recursos para estados e municípios. Vamos caminhar para uma reforma tributária que simplifique o sistema”, anunciou.

Entre as medidas de maior alcance anunciadas ontem estão a minuta de termo aditivo de revisão do contrato de cessão onerosa, firmado entre a União e a Petrobras em 2010; o projeto de lei complementar que garante autonomia ao Banco Central; e o projeto que será enviado ao Congresso para regulamentar a educação domiciliar, com “requisitos mínimos que os pais ou responsáveis legais deverão cumprir”. Outro projeto padroniza o procedimento adotado para instituições públicas e privadas para a nomeação dos seus dirigentes, passando a prever que os dirigentes e administradores de bancos públicos, como o Banco do Brasil e a Caixa, tenham de ser aprovados pelo Banco Central, usando critérios que serão estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional.

O Rubicão do governo, porém, continua sendo a Previdência. Enquanto Bolsonaro fazia o balanço, deputados do chamado Centrão se articulavam na Câmara para inverter a pauta da próxima sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, com objetivo de votar a PEC das emendas impositivas de bancada ao Orçamento da União antes do relatório sobre a reforma da Previdência. Pedem precedência por se tratar de um projeto da própria Casa, que foi alterado no Senado e, por isso mesmo, precisa ser novamente apreciado pelos deputados, antes de ser promulgado.

A inversão da pauta depende do presidente da comissão, deputado Felipe Francischini (PSL-PR), que sofre forte pressão. Caso não aceite a mudança, o próprio plenário da CCJ pode inverter a pauta, o que não é improvável. Os articuladores do governo veem na mudança uma manobra para atrasar a reforma e aumentar o poder de barganha do Centrão. Na verdade, as conversas de Bolsonaro com os líderes do Centrão foram muito protocolares, apesar da aparente informalidade, e muito pouco resolutivas. Havia expectativa de nomeação de um político para o Ministério da Educação, mas essa não foi a opção do presidente da República, que nomeou o economista Abraham de Bragança Vasconcelos Weintraub para o cargo.

Doutores e excelências

Entre as medidas assinadas por Bolsonaro, ontem, estão a revogação de 250 decretos considerados desnecessários, na linha da desburocratização, além da extinção de conselhos e cargos vagos ou que vierem a vagar; e a criação do Comitê Interministerial de Combate à Corrupção para assessorar elaboração, implementação e avaliação de políticas públicas de combate à corrupção. Um decreto que determina o uso de “senhor” e “senhora” para o tratamento de autoridades, inclusive em cerimônias, proibindo “vossa excelência” e “doutor”, exceto “nos casos em que haja previsão legal ou exigência de outros Poderes e entes federados”. O decreto exclui da regra as comunicações com autoridades estrangeiras e organismos internacionais. Outra medida simplifica a conversão de multa ambiental simples em serviço de preservação.

Também foram lançadas a Política Nacional de Turismo, com objetivo de desenvolver segmentos turísticos relacionados ao Patrimônio Mundial Cultural e Natural do Brasil; a Política Nacional de Alfabetização, que estabelece as diretrizes para as futuras ações e programas do governo de redução do analfabetismo; e a Política Nacional de Drogas. No varejo, ainda foram anunciadas medidas sobre modificação de veículos para compor frotas de táxi e locadoras, doação de bens para a administração pública, e unificação dos portais do governo na internet.

http://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-secos-e-molhados/


Bernardo Mello Franco: Novo ministro é um Vélez sem sotaque

Com Abraham Weintraub, o MEC deve continuar refém da guerra ideológica. O novo ministro repete chavões contra o “comunismo”. Falta um plano para melhorar o ensino

O ex-ministro Ricardo Vélez queria reescrever livros didáticos para falsificar o passado. Seu sucessor quer usar o cargo para turbinar o bolsonarismo no futuro. Com Abraham Weintraub, a Educação deve continuar refém de cruzadas ideológicas. O novo ministro promete ser um segundo Vélez, sem o sotaque colombiano do original.

Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, Weintraub insistiu na pregação contra o “marxismo cultural”, um mantra dos olavetes. Disse que é preciso “tomar cuidado com tudo o que sair do MEC, como livros didáticos”. “Estamos preocupados com vazamentos, com sabotagens”, confidenciou, em tom de paranoia.

O novo ministro rejeitou o título de “caçador de comunistas”, mas disse que buscará a “redenção” de quem pensa diferente. “A pessoa não é má pura e simplesmente. Está envolvida numa mentira e aquilo é uma realidade para ela. Precisamos explicar que é uma ideologia errada”, dissertou.

Ele também sugeriu catequizar estudantes para evitar a volta da esquerda ao poder. “Uma pessoa que sabe ler e escrever e tem acesso à internet não vota no PT”, disse. A declaração equivale a chamar de ignorantes mais de 47 milhões de brasileiros, petistas ou não, que votaram no rival do chefe dele.

A exemplo do antecessor, Weintraub estimula o revisionismo histórico para bajular o presidente Jair Bolsonaro. Ele chamou o golpe de 1964 de “contrarrevolução” e disse que não concorda “em chamar de ditadura” o que veio a seguir. Também defendeu “tirar o Bolsa Família” de alunos envolvidos em agressões, o que só condenaria seus pais e irmãos a mergulhar mais fundo na pobreza.

No primeiro dia à frente do MEC, Weintraub distribuiu cargos a outros economistas sem experiência em educação. Ele prometeu destravar a gestão da pasta, o que não será difícil na comparação com a era Vélez. Falta saber se tem algum plano para melhorar a qualidade do ensino. Os desafios do setor são grandes e complexos. Não serão resolvidos com lições do curso online de Olavo de Carvalho.


Demétrio Magnoli: Pare (mesmo) de acreditar no governo

A sala de aula não é pátio de diversões de ideólogos ou doutrinadores

Bruno Garschagen, o assessor do (até agora) ministro Ricardo Vélezexonerado pela Casa Civil, tem ao menos uma qualidade: a capacidade de produzir uma autocrítica devastadora, ainda que involuntária. "Quando os antissocialistas mimetizam a mentalidade e a ação política do inimigo, tornam-se o espelho da perfídia", escreveu o "olavete" num artigo de jornal velho de quase dois anos. Seria preciso acrescentar que, quando tentam utilizar o poder de Estado para escrever uma "história oficial", os autointitulados liberais revelam a sua face autoritária e antiliberal.

Descubro que o mesmo Garschagen é autor do livro "Pare de Acreditar no Governo". Não o li, mas concordo com o comando do título, que tem validade geral e serve como advertência de singular relevância no caso do governo Bolsonaro. Esses "antissocialistas" não só mimetizam a "ação política" do "inimigo" como a conduzem para além de limites que o PT jamais ultrapassou. O MEC é a prova disso.

Vélez saltou da mera bufonaria —a solicitação de vídeos propagandísticos de escolares entoando o hino nacional— ao exercício abusivo da autoridade. O ministro, que oscila entre o apego canino ao cargo e a fidelidade ao Bruxo da Virgínia, anunciou uma revisão "progressiva" dos livros escolares talhada a apagar a ditadura militar do registro histórico. A missão do MEC, explicou, é "preparar o livro didático de tal forma que as crianças possam ter a ideia verídica, real, do que foi a sua história".

O governo exige que acreditem nele. Para isso, usará o poder de distribuir livros escolares, a palavra legitimada do professor e a prerrogativa de produzir o exame nacional de acesso às universidades federais.

Os poderes estatais adoram moldar as crianças de modo que elas repitam as palavras e os gestos dos governantes. A "história oficial" tem longa história escolar, que se estende das narrativas nacionalistas do século 19 até o contemporâneo revisionismo separatista catalão, passando pelos sinistros artigos de fé dos totalitarismos stalinista e nazista. O Brasil não ficou imune à politização da escola.

Sob o lulopetismo, o MEC engajou-se a fundo numa revisão "progressiva" dos manuais escolares com a finalidade de adaptá-los aos dogmas da doutrina racialista. A nação deveria ser descrita, nas aulas de História e Geografia, como uma confederação de etnias ou "raças". Nossas extensas miscigenações precisariam ser reinterpretadas como uma lenda criada para ocultar um racismo mais letal que os dos EUA da discriminação oficial ou da África do Sul do apartheid. O movimento abolicionista, uma ampla luta social que abrangeu brancos e negros, teria que escorrer pelo ralo destinado aos mitos. Vélez mimetiza o PT, mas sem a tintura "bondosa" do revisionismo racialista.

A operação lulopetista fluiu suavemente, prescindindo de rudes declarações ministeriais, maquiada como releitura acadêmica do passado. Obteve algum sucesso, graças à cumplicidade de comissões de docentes universitários militantes e à bovina obediência de editoras sempre prostradas diante da pilha de dinheiro das compras públicas. Vélez, porém, fracassará. A "verdade" estatal que ele tenta veicular choca-se com a resistência da opinião pública, dos historiadores e dos professores. Só um regime de força conseguiria impor a negação do caráter golpista do 31 de Março e da natureza ditatorial dos governos militares.

As democracias aprenderam a respeitar a autonomia das escolas. Nelas, há muito, os governos se abstêm de formular a "ideia verídica, real" da história que deve ser ensinada. O sucesso relativo do PT e o inevitável fracasso de Vélez funcionam como sinais de alerta: a sala de aula não é pátio de diversões de ideólogos ou doutrinadores. Pare (mesmo) de acreditar no governo, pois o pior professor ainda é melhor que o discurso do poder estatal.

*Demétrio Magnoli, sociólogo, autor de “Uma Gota de Sangue: História do Pensamento Racial”. É doutor em geografia humana pela USP.


Julio Wiziack: As regras do jogo

Governo tem dificuldade para articular aprovação da reforma da Previdência

A crise que quase derrubou o ministro da Educação não acabou. Ricardo Vélez foi mantido pelo presidente Jair Bolsonaro para evitar um desgaste político maior. Nos bastidores, no entanto, crescem as apostas em Mendonça Filho.

Mendoncinha, como ele é conhecido, pertence ao DEM, partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Pode se tornar uma saída pelo apoio do Congresso na reforma da Previdência, primeiro teste do governo.

Essa possibilidade vem sendo construída pelo próprio Maia e pela deputada Joice Hasselmann (PSL-SP).

Contrariando seu partido, Hasselmann apoiou Maia para a presidência da Câmara. O gesto ajudou Joice a ganhar a confiança de Maia e ela se tornou líder do governo no Congresso. Agora, a deputada costura apoio para ocupar a articulação política do governo no lugar de Onyx Lorenzoni, ministro da Casa Civil.

Uns acham ser uma completa viagem de Joice. A realidade é que até os militares reconhecem nela a capacidade de interlocução com todas as alas políticas no Congresso, algo que falta a Onyx.

Na ausência do chefe da Casa Civil, que viajou para a Antártida, até cargos Joice negociou com deputados, segundo parlamentares que receberam os telefonemas.

Um aliado no Congresso, no entanto, tratou de avisá-la que a manobra não estava funcionando porque os cargos não eram relevantes.

Mesmo assim, o governo acredita que faltam menos de 50 votos para a aprovação da reforma, como profetizou na semana passada o ministro da Economia, Paulo Guedes.

De novo, a realidade se impõe. Sem interlocução formal, os partidos começam a se posicionar contra a reforma. Entre as siglas, somente o DEM ganhou com a nomeação de ministros. Mas o presidente do partido afirmou que nunca fez indicações.

Os parlamentares adoram ouvir Paulo Guedes sobre as vantagens da reforma. Mas, no final do dia, voltam ao velho beabá sem saber quais são as novas regras do jogo.

E, sem regras, não tem jogo.