ecologia
Dia da Amazônia: floresta foi tema ausente em debate presidencial
Maria Eduarda Portela*, Metrópoles
O Dia da Amazônia é comemorado nesta segunda-feira (5/9) e tem como finalidade conscientizar a população sobre a importância desse bioma, que é um dos principais patrimônios naturais da humanidade. Embora existam diversas campanhas de preservação da floresta, a Amazônia continua sob risco de desmatamento e queimadas.
A conservação e o desenvolvimento sustentável da Região Amazônica, no entanto, são temas que foram praticamente ignorados durante o debate entre presidenciáveis em 28 de agosto.
O Metrópoles conversou com especialistas sobre a importância de discutir a preservação da Amazônia e a economia verde desenvolvida na região.
Para o doutor em Ecologia e cientista sênior do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Paulo Moutinho, os candidatos só citaram a Amazônia no contexto do desmatamento na região, que é um grande problema, mas deixaram de lado as soluções para outros problemas enfrentados pela floresta.
“Eu espero que, no Dia da Amazônia, a gente tenha muito o que comemorar, mas também muito com o que se preocupar, e que isso reflita nos discursos e nos debates que os candidatos farão, especialmente no tocante ao clima”, declara Moutinho.
O secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, lembra que a proteção da Amazônia atualmente é muito mais discutida, em comparação a eleições anteriores, mas ainda não é o suficiente.
“Ainda é muito pouco, precisamos de muito mais. Mesmo porque, quando falamos sobre clima, a Amazônia é o principal componente de clima no Brasil”, afirma Astrini.
“É uma floresta importantíssima nesse debate e, quando falamos sobre clima, não estamos falando apenas sobre dados científicos, negociações diplomáticas, acordos feitos em Paris. Nós estamos falando sobre a vida das pessoas”, reforça o secretário-executivo do Observatório do Clima.
Desmatamento na Amazônia
Dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) apontam que o desmatamento na Amazônia atingiu o maior nível para o mês de agosto nos últimos dez anos. O levantamento mostra que a área desmatada aumentou 7% em relação ao mesmo período do ano passado.
Informações do Imazon apontam que, de agosto de 2021 a julho de 2022, foram derrubadas 10.781 km² de floresta, número equivalente a sete vezes a cidade de São Paulo.
Para Moutinho, a falta de comprometimento dos governos estaduais, municipais e federal é um dos principais fatores para a alta do desmatamento.
“É um desleixo geral dos estados e dos municípios, que ainda acham que a Floresta Amazônica impede um tal progresso, já instalado em uma grande porção da Amazônia, e não traz duas coisas fundamentais: distribuição de renda e distribuição de terra para as pessoas trabalharem”, declara o cientista sênior do Ipam.
Futuro da Amazônia
Para Moutinho, políticos e candidatos atuais não demonstram muita disposição para discutir uma solução de preservação da Amazônia e o desenvolvimento sustentável de uma maneira mais profunda e de longo prazo.
“Isso é extremamente grave, porque a conservação da Amazônia, o uso sustentável dos seus recursos e a necessidade do fim do desmatamento são questões de segurança nacional”, reforça.
O secretário-executivo do Observatório do Clima declara que é possível reverter a situação atual da Amazônia. Segundo o especialista, nesse intuito, é necessário dar autonomia, novamente, para os órgãos ambientais do governo e resolver o problema de caixa das pastas.
“Portanto, é possível reverter o lastimável quadro atual da agenda ambiental no Brasil, mas é preciso tomar algumas atitudes, revogar muitas normas, implementar outras medidas no lugar do que foi revogado, criar novos atos legais e administrativos”, afirma Astrini.
O Metrópoles procurou o Ministério do Meio Ambiente para comentar as ações do governo federal contra o desmatamento da Amazônia; contudo, não obteve respostas até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestações.
*Texto publicado originalmente em Metrópoles.
Dia Mundial do Meio Ambiente 2022 será transmitido ao vivo neste domingo
No próximo domingo (5) acontece o Dia Mundial do Meio Ambiente, evento que há 50 anos convoca a humanidade para celebrar a riqueza do planeta e destacar os perigos que ele enfrenta.
Com o tema “Uma Só Terra”, o evento deste ano será transmitido ao vivo da Suécia e Nairóbi, através do site oficial da data.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) produziu um guia prático sobre o tema de 2022, que serve como uma bússola para orientar governos, cidades, empresas, grupos comunitários e indivíduos sobre as principais ações ambientais que podem ser implementadas para efetuar mudanças reais.
Há 50 anos acontecia, em Estocolmo, na Suécia, a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano. Considerada como a primeira cúpula ambiental global, a conferência consolidou, entre outros importantes marcos, a ideia de criar um Dia Mundial do Meio Ambiente.
A primeira celebração ocorreu dois anos depois, em 1974. Desde então, o evento anual, que acontece sempre no dia 5 de junho, ajudou a exaltar o planeta e a destacar os perigos que ele enfrenta. Especialistas dizem que isso também impulsionou mudanças, ajudando na criação de tratados globais que abrangem várias agendas, desde poluição plástica até desperdício de alimentos.
“O Dia Mundial do Meio Ambiente oferece uma plataforma para a ação coletiva”, disse o chefe de Advocacy e Comunicação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Atif Ikram Butt. “Ajuda a amplificar vozes e fortalecer a ação dos participantes para impactar a mudança.”
O Dia Mundial do Meio Ambiente surgiu em um momento de crescente preocupação com o impacto da humanidade no planeta. Uma série de desastres ambientais na década de 1960 – desde secas e desmoronamento de minas até poluição e envenenamento em massa de peixes – aumentou a conscientização sobre a fragilidade do meio ambiente. Essa fragilidade foi ilustrada pela icônica foto da Terra chamada "Earthrise", de 1972, tirada pela missão Apollo 8 - a primeira foto colorida do nosso planeta vista do espaço.
A Suécia é a anfitriã do Dia Mundial do Meio Ambiente deste ano e o tema é “Uma Só Terra”, com foco na necessidade de vivermos de forma sustentável em harmonia com a natureza. Além de homenagear a primeira conferência, o tema é um lembrete de que os recursos do planeta são finitos e estão diminuindo. Este ano, o evento de celebração será transmitido ao vivo da Suécia e Nairóbi, no dia 5.
Campanhas - Os temas anteriores do Dia Mundial do Meio Ambiente retrataram as preocupações ambientais de suas épocas. Em 1977, por exemplo, o evento se concentrou na destruição da camada de ozônio e em 1983 na chuva ácida. Enquanto algumas dessas ameaças foram superadas, outras permanecem.
A chefe da Secretaria da Coalizão Clima e Ar Limpo, Martina Otto, esteve envolvida na organização de 23 dias mundiais desde que ingressou no PNUMA, em 1999. Para Otto, a data é tanto um chamado à ação quanto uma celebração, e observa que, em alguns casos, o Dia Mundial do Meio Ambiente também precedeu a mudança global. Otto atribui à data de 2018, por exemplo, o desencadeamento de um diálogo global sobre os números crescentes da poluição plástica, dos quais cerca de sete bilhões de toneladas foram lançadas no meio ambiente desde 1950. No início deste ano, as lideranças mundiais se comprometeram a criar um tratado internacional juridicamente vinculante para acabar com a poluição plástica.
A cada ano, a data foi engajando a sociedade civil e autoridades, além de registrar um importante aumento no número de pessoas participando online das comemorações. Em 2019, por exemplo, a data foi organizada pela China, com foco na poluição do ar, e teve mais de 12 milhões de hashtags no Twitter e no site de mídia social chinês Weibo.
Em 2020, o evento foi sediado pela Colômbia com foco na biodiversidade, obtendo um engajamento ainda mais expressivo. A campanha #HoradaNatureza do PNUMA obteve mais de 100 milhões de visualizações nas redes sociais do PNUMA. O Snapchat também criou uma lente especial de realidade aumentada para a data e suas centenas de milhões de usuários em todo o mundo.
O burburinho online foi refletido pelo progresso real da política. Quatorze líderes mundiais – incluindo da Colômbia, Costa Rica, Finlândia, França e Seychelles – divulgaram uma declaração no Dia Mundial do Meio Ambiente, pedindo aos governos de todo o mundo que apoiem uma nova meta global de proteger pelo menos 30% da terra e do oceano do planeta até 2030.
2022 - O Dia Mundial do Meio Ambiente deste ano encontra o planeta enfrentando uma tripla crise de mudanças climáticas, perda de natureza e biodiversidade, e, poluição e resíduos. À medida que essas crises se tornaram mais agudas, a mensagem deste dia torna-se mais urgente. Espera-se que o envolvimento inspire centenas de eventos e ações em todo o mundo, desde um rali de veículos elétricos no Cairo até um enorme Cyclathon em Mumbai e uma unidade de lixo eletrônico em Bucareste.
A ciência é clara: é necessária uma ação urgente e transformadora para deter o declínio do mundo natural. Por isso, o PNUMA produziu o Guia Prático #UmaSóTerra, uma bússola que orienta governos, cidades, empresas, grupos comunitários e indivíduos sobre as principais ações ambientais que podem implementar para efetuar mudanças reais.
“Precisamos entender que temos apenas este mundo, este único planeta”, disse a diretora executiva do PNUMA, Inger Andersen, na semana passada. “Temos que nos mover juntos e alcançar essa sustentabilidade a longo prazo.”
*Texto publicado originalmente em Nações Unidas Brasil
Risco de “milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar"
Luciara Ferreira e João Vítor*, com edição do coordenador de Publicações da FAP, Cleomar Almeida
Um total de 13.235 km² de floresta amazônica foi desmatado e bateu recorde em 2021, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). No Cerrado, o desmatamento aumentou 7,9%, entre agosto de 2020 e julho de 2021, alcançando a marca de 8.531 km². A diminuição do verde e o aumento de cinzas aumentam a crise ecológica global.
Ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o economista Sérgio Besserman afirma que a destruição do meio ambiente é uma tragédia. O risco, conforme alerta, é de provocar impacto na população. “Centenas de milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar”, lamenta.
Desmatamento na Amazônia nos últimos 10 anos | Reprodução: UOL
A crise ecológica global pode ter reflexos diretamente na mesa da população. De acordo com o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, divulgado em 2021, 116,8 milhões de brasileiros não têm pleno acesso à comida.
Besserman confirmou presença no webinar organizado pela Biblioteca Salomão Malina e Fundação Astrojildo Pereira (FAP), ambas em Brasília. A live será transmitida, na quarta-feira (1º/6), a partir das 17 horas, na página da biblioteca no Facebook, assim como no site e canal da FAP no YouTube.
Além do economista, o sociólogo e cientista socioambiental Elimar Pinheiro do Nascimento e o presidente do Conselho de Administração da Fundação Amazonas Sustentável (FAS) Benjamin Benzaquen Sicsú também confirmaram participação no evento online.
Pinheiro aponta consequências na degradação da natureza e do aquecimento global. “Uma alimenta a outra. Isso mata os seres vivos aquáticos, pois aquece a água e impacta na cadeia alimentar”, explica.
Os eventos críticos climáticos, segundo Pinheiro, provocam tempestades, seca, esfriamento e aquecimento. “São temperaturas extremas, não há meio termo”, afirma.
Pinheiro observa que essas temperaturas têm a ver também com as migrações de pessoas e animais. Segundo ele, a terra não produz mais com superaquecimento do solo, e, assim, os seres vivos precisam se deslocar. “São bilhões de dólares que nós estamos perdendo, e mortes acontecendo”, enfatiza.
O Observatório do Clima, rede que reúne 73 organizações socioambientais, por meio de documento postado no dia 19 de maio, alertou que “com Bolsonaro, não há futuro para política ambiental no Brasil”.
O economista Besserman vê que há interesses econômicos de políticos por trás da crise que impedem as transformações necessárias para ajudar o meio ambiente.
Nascimento diz que o preço vai ser alto e enxerga descaso do presidente Jair Bolsonaro (PL). “Tem déficit cognitivo e não compreende o que é impacto climático”, critica ele, que é autor do livro Um mundo de riscos e desafios e alerta que, por causa disso, os recursos vão se reduzir.
Serviço
Webinar Crise ecológica global
Dia: 1/6/2022
Horário da transmissão: 17h
Onde: Perfil da Biblioteca Salomão Malina no Facebook e no portal da FAP e redes sociais (Facebook e Youtube) da entidade
Realização: Biblioteca Salomão Malina e Fundação Astrojildo Pereira (FAP)
*Integrantes do programa de estágio da FAP, sob supervisão do jornalista, editor de conteúdo e coordenador de Publicações da FAP, Cleomar Almeida
Livro Arte e Ecologia Humana é lançado em conferência internacional
Obra é organizada por Larissa Malty e Iva Pires, com participação de 10 pesquisadoras da área no Brasil e em Portugal
Cleomar Almeida, da equipe da FAP
Com abordagem de diferentes processos criativos em espaços formais e não formais de educação e de produção artística, o livro Arte e Ecologia Humana, organizado por Larissa Malty e Iva Pires, foi lançado na quinta-feira (21/10), na 24ª Conferência Internacional da Sociedade de Ecologia Humana. Realizado em formato online, o evento segue até sábado (23/10).
O livro tem a participação de 10 pesquisadoras da ecologia humana no Brasil e em Portugal. “Busca refletir a intrínseca relação existente entre a Arte e a Ecologia Humana, abordando diferentes processos criativos em espaços formais e não formais de educação e de produção artística”, ressalta Larissa, doutora em ecologia humana pela Universidade Nova de Lisboa e pesquisadora do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas.
A obra é composta por reflexões e experiências empíricas capazes de retratar a ponte que articula conhecimentos herdados e acadêmicos no pensar e fazer artístico bem como reflexões relativas à ecologia humana no processo de sensibilização e criação a partir dos estímulos do ambiente. “A água e as cores, a terra e as texturas, o vento e a música, o fogo e a criação são linhas que se cruzam na passagem do ser humano pelo planeta que o acolhe e habita”, diz Larissa.
A conferência é realizada pela Sociedade Brasileira de Ecologia Humana (Sabeh). Com sede em Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), esta é a segunda edição organizada no Brasil. Desta vez, as discussões abordam dinâmicas sociais e desafios globais, destacando o papel da ecologia humana em um mundo em constante transformação.
De acordo com Gustavo Negreiros, presidente da Sabeh e coordenador da Conferência, mesmo quem não é ligado ao meio acadêmico pode participar. “A Ecologia Humana permeia diferentes concepções de mundo, pensando as relações do homem com o meio, a natureza, a sociedade. E tem muitas pessoas que praticam isso no seu dia a dia sem estar nas universidades”, defende.
Segundo Negreiros, a Ecologia Humana é uma área de estudos abrangente. “A gente faz uma análise sistêmica da complexidade daquilo que nos faz humanos. Tentamos entender as dinâmicas das relações com o nosso meio físico, social, econômico, espiritual”, explica o coordenador. Assim, as discussões envolvem temáticas como política, meio ambiente, economia e cultura, entre outras.
A escolha do tema principal da Conferência também tem relação com a abrangência da Ecologia Humana e sua importância, especialmente após a Covid-19. “Quando veio a pandemia, discutimos se ela é reflexo das nossas relações, de um mundo que se transforma de formas drásticas. Por isso, entender a dinâmica e complexidade desses tempos e aprender uma forma de trabalhar com eles tem a ver com a busca por uma vida melhor”, afirma Negreiros.
Mathias Alencastro: Ecologia é o grande ausente do debate progressista no Brasil
Discussões para fazer emergir Frente Ampla deixaram de lado a urgência climática
A ecologia está em todo lado. Os partidos verdes triunfaram nas eleições municipais deste domingo (28) na França, ganhando força em cidades disputadas pelo partido de Emmanuel Macron.
Prestes a anunciar uma nova leva de ministros, o presidente francês deve inaugurar a última fase do seu mandato com uma virada ecológica.
Seguindo o caminho de Áustria e Irlanda, que formaram as primeiras coalizões europeias entre verdes, centristas e conservadores, a Alemanha olha para o ambientalista Robert Habeck como ator-chave no processo de sucessão de Angela Merkel.
Os ecologistas são vistos em todo o lado como o antídoto à ascensão do populismo.
Nos Estados Unidos, Joseph Biden abraçou a bandeira da luta contra a mudança climática para mobilizar o eleitorado mais jovem e progressista.
O Green New Deal, até ontem uma utopia da popular Alexandria Ocasio-Cortez, virou um dos pilares do programa do Partido Democrata. Pela primeira vez na história, é possível imaginar governos comandados por ecologistas nas principais potências do Atlântico Norte já no próximo ciclo eleitoral.
A ecologia está em todo lado, menos no Brasil. As discussões políticas durante o confinamento, que tanto contribuem para fazer emergir a Frente Ampla, deixaram praticamente de lado a urgência climática.
Notícias como o superaquecimento do Ártico passaram batidas nas frenéticas redes sociais das lideranças progressistas.
Se praticamente todos os intervenientes concordam sobre a importância do regresso do Estado, poucos mencionam a necessidade de um programa de reorganização industrial e financeira adaptado ao desafio ecológico, tema central da nova economia política dos países desenvolvidos.
Questões estratégicas e tradições políticas ajudam a entender esse fenômeno. Conferir protagonismo à luta contra o aquecimento global pode afastar do jogo das alianças a turma mais conservadora do agronegócio, locomotiva da economia brasileira na era pós-pandemia.
Talvez por essa razão, progressistas concentram seus ataques em temas consensuais como o desmatamento descontrolado e a abominável gestão de Ricardo Salles.
Todavia, tem de se reconhecer que o campo progressista nunca iniciou a sua metamorfose.
Ostensivamente ignorada nas presidenciais de 2018, a agenda da mudança climática ainda procura o seu lugar na matriz dos principais partidos brasileiros.
Com a exceção honrosa de Marina Silva, raros são os políticos nacionais que associam a sua imagem à causa. Uma curiosidade, se considerarmos o número de velhos lobos da política mundial que, seguindo os passos de Al Gore, relançaram suas carreiras graças a redescobertas oportunas da militância ecologista.
A pressão internacional deve mudar esse quadro. Para reconstruir a credibilidade do Brasil no exterior e evitar constrangimentos como a suspensão do acordo União Europeia-Mercosul, a Frente Ampla não se pode contentar em interromper o desgaste provocado pelo governo Bolsonaro.
A construção da monstruosidade da barragem hidroelétrica de Belo Monte, orgulhosamente inaugurada por Dilma Rousseff em um dos seus últimos atos como presidente, jamais teria resistido ao escrutínio da nova geração de ativistas.
Não existe alternativa: a ação climática deve formar o tripé da nova plataforma progressista, junto ao combate ao racismo estrutural e à instituição da renda básica universal.
*Mathias Alencastro, pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento e doutor em ciência política pela Universidade de Oxford (Inglaterra).