Dória

José Álvaro Moisés: "PSDB jogou fora oportunidade”

Para cientista político, quem vencer prévia tucana vai ter que disputar com Moro e Ciro

Cristian Klein / Valor Econômico

Rio - A crise gerada pelas prévias do PSDB expõe um partido dividido que terá um trabalho redobrado para retomar o protagonismo da disputa presidencial, afirma o cientista político José Álvaro Moisés, da Universidade de São Paulo (USP). O que já era difícil, para um partido que obteve 4,7% dos votos ao Planalto em 2018 e tem pré-candidatos com baixa pontuação nas pesquisas para 2022, se tornou “um panorama extremamente complexo”, diz Moisés, ex-secretário no Ministério da Cultura nos dois mandatos do governo de Fernando Henrique Cardoso.

Tanto o governador de São Paulo, João Doria, quanto o do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que disputam as prévias do PSDB com o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio, poderiam se beneficiar do grande holofote que a disputa interna ganhou para se cacifarem nacionalmente. Mas o fiasco tecnológico e as brigas de caciques que vieram à tona geram descrédito sobre a capacidade de os tucanos liderarem a terceira via. “O PSDB jogou fora essa oportunidade, pelo menos até agora. Poderia ter dado visibilidade ao grande legado do partido durante as prévias”, diz o cientista político.

Para Moisés, os pré-candidatos do PSDB figuram numa espécie de terceiro pelotão da corrida presidencial, já bastante polarizada com a dianteira do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que reúne cerca de 40% das intenções de voto, e do atual, Jair Bolsonaro, que amealha por volta de 25% das preferências. Sobram 35% para a fragmentada terceira via, calcula.

No segundo pelotão, já não está fácil o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) crescer pela centro-esquerda, pois “Lula está muito estabilizado”, afirma. Por outro lado, também não está fácil para o ex-juiz Sérgio Moro (Podemos) atrair parte do eleitorado bolsonarista. “Outra figura da terceira via vai encontrar situação muito difícil, precisando disputar com Moro o voto de Bolsonaro e com Ciro o eleitorado de Lula. Difícil prever que quem quer que vença as prévias vá superar esses obstáculos”, diz Moisés.

Seja Doria ou Leite, os favoritos na disputa tucana, o grande desafio, em primeiro lugar, será o de unificar o partido, rachado pelo próprio acirramento das prévias e pelas correntes bolsonarista e oposicionista. A construção de uma candidatura ao Planalto minimamente competitiva passa pelo que Arthur Virgílio chamou de processo de “desbolsonarização do PSDB”, aponta Moisés.

“Ainda assim, quem vencer vai ter que disputar com dois nomes [Moro e Ciro] que já estão mais bem estabelecidos, com 10%, 11% das intenções de voto”, afirma o coordenador do Grupo de Pesquisa sobre a Qualidade da Democracia, no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP.

Pesquisa Genial/Quaest divulgada há duas semanas mostra dois cenários em que Lula oscila entre 47% e 48%, contra 21% de Bolsonaro. Moro registra 8%, Ciro varia entre 6% e 7%, enquanto Doria surge num cenário com 2% e Leite no outro com apenas 1%.

Candidatura Doria seria mais competitiva, pela maior estrutura partidária do PSDB em São Paulo, avalia Moisés. Foto: PSDB/Divulgação

Para Moisés, a candidatura Doria seria mais competitiva, pela maior estrutura partidária do PSDB em São Paulo. “Agora, quem, de alguma maneira, acenou com possibilidades mais amplas de negociação, durante alguns debates das prévias, foi o Eduardo Leite. Então é difícil discriminar inteiramente quem dos dois vai desempenhar melhor o papel de unificação do partido e ao mesmo tempo de negociar com outras forças para se chegar a um nome de consenso”, afirma.

Professor aposentado da USP, Moisés diz que será muito difícil se chegar a esse nome de consenso da terceira via entre Moro, Ciro e o PSDB. “Chegar a um consenso entre esses três significaria transpor barreiras muito complicadas, políticas, ideológicas e mesmo regionais, que não estão tão visíveis” diz. “Mas é muito difícil. Até agora não se vislumbrou essa possibilidade. E no caso do PSDB, que de alguma maneira, estava querendo, digamos, montar o cavalo nesta direção, mancou e perdeu uma perna. E agora está tentando se reconstituir. Não vai ser fácil, mas está tentando”, conclui.

Para Moisés, a recuperação do eleitorado perdido pelos tucanos depende de o PSDB “trazer uma versão inteiramente nova e um compromisso com a social-democracia, não a keynesiana clássica”. “Mas é preciso redefinir o pacto do partido, numa combinação do enfrentamento das desigualdades sociais com a defesa da economia de mercado”, diz, lembrando que essa tese também tem sido pregada por Arthur Virgílio.

O ex-prefeito de Manaus, ao lado de Doria, tem sido um crítico duro da atuação do deputado federal e ex-senador mineiro Aécio Neves, apoiador de Leite. Aécio é apontado como líder da ala bolsonarista do partido, que resiste a adotar um tom oposicionista de olho em emendas e cargos oferecidos pelo governo federal. A expectativa é que uma vitória de Doria nas prévias possa provocar a desfiliação de tucanos simpatizantes de Bolsonaro. Por outro lado, se Leite vencer, o PSDB estaria mais propenso a abrir mão de candidatura própria, o que nunca aconteceu desde a redemocratização, nas últimas oito eleições presidenciais.

Indagado sobre o destino em disputa do partido, se mantém a vocação ao Executivo federal ou se converte-se numa típica legenda fisiológica, Moisés afirma que “as duas hipóteses estão colocadas”. Um dos problemas, ressalta, é que deputados do PSDB têm demonstrado a preocupação com o volume de recursos do fundo eleitoral que uma campanha à Presidência irá drenar, em vez de abastecer as campanhas dos parlamentares.

Fonte: Valor Econômico
https://valor.globo.com/politica/noticia/2021/11/26/partido-jogou-fora-oportunidade.ghtml


Luiz Carlos Azedo: Disputa autofágica entre tucanos dificultará alianças futuras

O racha no PSDB está escrito nas estrelas, qualquer que seja o vencedor

Luiz Carlos Azedo / Nas Entrelinhas / Correio Braziliense

As prévias do PSDB são uma novidade na política partidária brasileira, inclusive por concederem um protagonismo inédito aos filiados e mandatários da legenda, que sempre resolveu suas disputas por meio de acordos de cúpula costurados pelas suas lideranças históricas, entre as quais o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o senador José Serra (SP) e o senador Tasso Jereissati (CE). No domingo, serão as bases partidárias — filiados, vereadores e prefeitos, deputados estaduais e federais, senadores e governadores — que escolherão o candidato tucano à Presidência, entre os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS) e o ex-prefeito de Manaus Artur Virgílio (AM). Mas é uma disputa fratricida, que dificultará sua unificação e a atração de aliados tradicionais nas eleições de 2022.

O racha no PSDB está escrito nas estrelas, qualquer que seja o vencedor. Nas últimas semanas, o governador João Doria fez uma ofensiva partidária que o levou a quase todos os estados e promoveu uma disputa, homem a homem, na qual até os vereadores de pequenas cidades foram abordados pessoalmente por seus emissários. Por isso, agora, é o favorito, mas não por larga margem. Muitas lideranças tucanas apoiam Eduardo Leite, que teria até 37% dos votos já assegurados nas prévias.

Arthur Virgílio, uma liderança histórica, dá sinais de que reserva para si o papel de pacificador do partido. Nem Doria nem Leite decolaram nas pesquisas eleitorais, o que acirra o conflito. A dissidência do ex-governador Geraldo Alckmin, cada vez mais próximo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fragiliza Doria. O ponto forte do governador gaúcho, Eduardo Leite, é o fato de ser uma novidade na cena nacional e ter apoio de lideranças tucanas tradicionais, inclusive em São Paulo. Player na disputa interna, o deputado Aécio Neves (MG), por exemplo, que apoia Leite, já ensaia uma dissidência séria, após as prévias, arrastando a seção mineira em outra direção, caso Doria seja o escolhido.

O governador paulista é um obstinado. Tanto na eleição para a Prefeitura de São Paulo quanto na disputa do Palácio dos Bandeirantes, Doria largou bem atrás dos concorrentes. Em 2015, era uma novidade na política, com um perfil muito mais liberal do que social-democrata, na verdade, um outsider na política tradicional. Ficou dois anos na prefeitura da capital e, depois, disputou o Palácio dos Bandeirantes, embarcado na onda que levou Bolsonaro ao poder, como a maioria dos candidatos tucanos, o que explica a ambiguidade das bancadas do PSDB no Congresso em relação ao governo Bolsonaro.

Pandemia

Com a pandemia, Bolsonaro e Doria se digladiaram diariamente, por causa da política de isolamento social e das vacinas, o que desgastou a imagem de ambos na opinião pública. Bolsonaro apostou na “gripezinha” e na “imunização de rebanho” e quebrou a cara. Doria adotou a política de isolamento social e resolveu o problema da produção de vacinas, mas acabou desgastado por causa da “chatice” de suas entrevistas coletivas, apesar das advertências de tucanos mais escolados nessas disputas.

Resultado: apesar de ser o grande artífice da vacinação em massa no Brasil, com milhões de brasileiros beneficiados pelo imunizante produzido pelo Instituto Butantan, a CoronaVac, até agora, Doria não conseguiu capitalizar eleitoralmente esse feito. Chamado de “coxinha” pelos petistas e “calça apertada” pelos bolsonaristas, virou um “chato” para muitos eleitores. Agora, tenta resgatar a imagem de bom gestor para alavancar sua candidatura presidencial. Nada disso, porém, o abala. Doria acredita que sua candidatura se imporá pela competência administrativa e pelo posicionamento claramente liberal, como nas duas eleições que venceu.

Eduardo Leite é suave, sai do Sul com um discurso liberal na economia e identitário nos costumes; conversa com todo mundo e tem no portfólio uma gestão fiscal competente, num estado estrangulado por antigas dívidas. Caso vença as prévias, terá mais facilidades para fazer alianças e disputar os votos do Sul do país, a base mais robusta de Bolsonaro. Mas seu caminho não será tão livre como antes, por causa da candidatura do ex-ministro Sergio Moro (Podemos). A tendência de Leite, caso perca as prévias, não é concorrer à reeleição. Tentará fazer o sucessor e se preparar para 2026. Sua ambição é a Presidência, mesmo que a candidatura seja adiada.

https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-disputa-autofagica-entre-tucanos-dificultara-aliancas-futuras

Eugênio Bucci: A propaganda, a ciência, o imbróglio e o ano novo

Fapesp corre o risco de perder 30% de sua verba e Bandeirantes aumenta a de publicidade em 70%

No gran finale de 2020, o governo paulista deu um jeito de aumentar os recursos para fazer propaganda de si mesmo e, na outra ponta, deu outro jeito para, em plena pandemia, ameaçar o orçamento da ciência. O ano que começou mal termina muito pior.

Nos derradeiros ajustes da Lei Orçamentária Anual (LOA), na Assembleia Legislativa, o Palácio dos Bandeirantes conseguiu incluir uma elevação de 69% na sua verba publicitária (como noticiou este jornal na primeira página, dia 20, com reportagem de Brenda Zacharias). O montante, que ficou na casa dos R$ 90,7 milhões em 2020, saltará para R$ 153,2 milhões no exercício de 2021.

Na mesma LOA aparece um corte de 30% na receita da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A entidade tradicionalmente conta com 1% da receita tributária do Estado. Em 2021 poderá ficar com apenas 0,7%. Traduzindo em graúdos, estamos falando de meio bilhão de reais a menos.

Por enquanto, dinheiro ainda não foi retirado, de fato, mas a Fapesp corre o risco de perdê-lo. O corte aparece no texto final da LOA (publicado no Diário Oficial de ontem), com todos os números e vírgulas, mas talvez não venha a ser efetivado. Mas como assim?, há de se perguntar o improvável leitor. Se a lei manda cortar, como é que podemos ter a expectativa de que o corte talvez não se consume?

Para entender o capcioso imbróglio, pelo qual o malfeito se insinua enquanto finge não ser o que é, precisamos conhecer um pouco mais desse novo gênero artístico-orçamentário de dissimulação, tão em voga na política: a técnica legislativa de ordenar uma coisa e, ato contínuo, ordenar o seu contrário.

A mesma LOA que corta “descorta”. Numa das inumeráveis tabelas que a acompanham, consta um valor para o orçamento da Fapesp que equivale claramente à redução de 30% de suas receitas. Para isso a LOA se apoia lógica que prevaleceu nas emendas à Constituição federal que preveem a Desvinculação de Receitas da União (conhecida pela sigla de DRU) e a Desvinculação de Receitas de Estados e Municípios (Drem). Essas desvinculações constitucionais permitiram que as chamadas “receitas vinculadas”, tanto na União como nos Estados e nos municípios, fossem diminuídas. Logo, se a Drem valer para a Fapesp, ela perderá um terço do tamanho que tem hoje.

Acontece que o destino ainda não está selado, pois, como já foi dito, a mesma LOA que corta “descorta”. Em seu artigo 11, ela manda cumprir o que está escrito no artigo 271 da Constituição estadual de São Paulo – e esse artigo, o 271, determina de forma expressa, inequívoca, a destinação de 1% da receita tributária do Estado à Fapesp.

Em resumo, a LOA paulista para o ano de 2021 é uma contradição em termos, um oxímoro legislativo. Em suas previsões numéricas, impõe o corte da Fapesp. Em seu artigo 11, impede o corte da Fapesp.

O que vai acontecer? As apreensões estão lançadas. Há juristas que entendem que o orçamento da Fapesp não provém de uma receita “vinculada”, como as outras, e, portanto, a Drem não se aplica a ela. Mas há os que dizem que a Drem, um dispositivo da Constituição federal, deve prevalecer sobre as Constituições estaduais.

Não vai ser fácil. Só o que se sabe até agora, com segurança, é que o futuro da ciência paulista, que já era ruim, piorou um pouco mais. É a primeira vez que um ataque tão frontal contra os recursos da Fapesp ganha forma de lei. As forças tecnocráticas que, no curso de vários governos tucanos paulistas, vêm se articulando contra a pesquisa e contra a universidade pública marcaram seu tento, desfecharam sua pirraça e instalaram no horizonte próximo essa incerteza cabulosa.

A integridade da Fapesp nunca esteve tão vulnerável. Para o ano que vem, a manutenção de seu orçamento normal vai depender da assinatura do governador do Estado, a quem cabe expedir, por decreto, os termos da execução orçamentária. Quando for pagar as pesquisas que financia, muitas delas sobre tratamentos contra a covid-19, no Instituto Butantan e em outras instituições, precisará contar com a boa vontade do chefe do Executivo – que assegurou, publicamente, mais de uma vez, que não implementará corte algum.

Podemos acreditar nele? Em nota divulgada agora em dezembro, a instituição diz que sim: “A Drem não será aplicada à Fapesp em 2021 e há um compromisso claro do Governador João Doria e do Vice-governador Rodrigo Garcia, que também não será aplicada nos próximos anos”. Ao que se sabe, essa confiança na palavra do político em questão não tem bases científicas, mas é o que temos para o réveillon. Se cortes vierem, só vai restar aos dirigentes da Fapesp entrar na Justiça, o que trará mais desgastes e mais incertezas.

De sua parte, o mesmo Palácio dos Bandeirantes, que alega falta de recursos para fragilizar o financiamento da ciência e do conhecimento, não vê obstáculos para majorar em 70% a sua verba publicitária. É que estamos em tempos de pandemia e, você sabe, o poder acredita que a propaganda salvará vidas – de governantes.

Feliz ano novo.

*Jornalista, é professor da ECA-USP


Bruno Boghossian: Indiferença de governantes patrocina brutalidade de Paraisópolis

Papo 'linha dura' na segurança vem casado com apatia em relação a vítimas inocentes

A Polícia Militar foi a Paraisópolis para impedir a realização de um baile funk. Um dos agentes ficou escondido atrás de uma parede e, entre uma risada e outra, agredia com um pedaço de madeira os frequentadores, que saíam do pancadão com as mãos para cima.

Um vídeo com essas imagens apareceu depois que nove jovens morreram durante uma operação na favela paulista, no domingo (1º). A PM correu para divulgar a informação de que a cena nada tinha a ver com a tragédia do fim de semana. A gravação havia sido feita no dia 19 de outubro, na mesma região.

A ideia era rebater parte das críticas à atuação dos policiais que encurralaram milhares de pessoas no episódio mais recente, fazendo com que vítimas fossem pisoteadas nas vielas. Mas a resposta foi esclarecedora por outro motivo. Comprovou que a truculência policial é um método mais do que recorrente por ali.

Depois da morte dos nove jovens, o governador João Doria convocou uma entrevista, lamentou o caso e afirmou que o estado “tem o melhor sistema de segurança preventiva”.

O que se viu no domingo, porém, não tinha nada de preventivo. Policiais disseram que perseguiam dois suspeitos. Atiraram bombas de efeito moral numa área onde estavam mais de 5.000 pessoas. Cercaram os frequentadores e bateram com cassetetes em quem já estava no chão.

Doria declarou que o baile funk nem deveria ter ocorrido e que as mortes não foram provocadas pela polícia. Acrescentou que “a política de segurança pública do estado de São Paulo não vai mudar”.

Um desavisado poderia imaginar que o tucano se vangloriava de uma estratégia sofisticada de inteligência, com planos requintados para desarticular grupos criminosos. Estava apenas atrás dos dividendos de um discurso cada vez mais perigoso.

O paulista não é o único. O papo do “tiro na cabecinha” vem acoplado a uma indiferença corriqueira em relação a vítimas inocentes. É essa apatia dos governantes que patrocina a brutalidade vista em Paraisópolis.


Carlos Melo || Doria age para confinar Bolsonaro no gueto extremista

Menos afoito do que quando debutou na política, como prefeito, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), constrói agora com método e vagar sua candidatura à Presidência da República. No desgaste do governo federal, ocupa espaços e atrai aliados; conscientemente, o discurso enérgico e o antagonismo com o PT o colocam na disputa por um campo político hoje tomado por Jair Bolsonaro. O embate entre ambos está contratado.

Contudo, há dois poréns: após apelos e juras feitos a Bolsonaro no segundo turno da eleição estadual, Doria será bem recebido pelo eleitorado que, na disputa em 2018, se alinhou com o atual presidente? E, ao final, “rachar” a direita não compreenderia somar zero com Bolsonaro e viabilizar o centro e a esquerda?

O primeiro ponto, o tempo dirá: dependerá da habilidade de Doria, do desempenho do governo e do desgaste de Bolsonaro, em particular.

Já aproximação com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e seu partido, o DEM, visa equacionar a segunda questão: uma aliança com esse desenho lhe daria amplitude da direita para o centro, bem além do jardim bolsonarista. Nesta hipótese, Doria confinaria o presidente no gueto do extremismo, solapando o solo sob seus pés no terreno do antipetismo e da direita moderada. Com a esquerda órfã, desorganizada e dividida, com efeito, suas chances aumentariam. O cálculo é racional; faz sentido.

Mas, cravar apostas a tanto tempo do pleito presidencial, em 2022, faz pouco sentido. Setores de centro, cujo um dos nomes é o do empresário e apresentador Luciano Huck, pelejam por se organizar e obter autonomia em relação a Doria – no próprio PSDB, há lideranças que não o digerem.

Assim, até 2022 um novo centro ainda pode se aglutinar, ganhar embalo e, então, também cortejar e incorporar Rodrigo Maia e o DEM.

Articulador de maioria no Congresso, fiador de reformas e interlocutor com o mercado, o presidente da Câmara dos Deputados ganhou estatura política e hoje se constitui num campo em disputa. É claro que Maia percebe isto e, à parte das declarações de ontem, sabe que na política o tempo é mesmo o senhor da razão.

Há pouca nitidez em relação ao futuro, mas o certo é que, no volátil ambiente político, compromissos e juras de amor feitos hoje valem pouco amanhã.

*Carlos Melo é cientista político e professor do Insper


César Felício || 'Não sou de esquerda e nem de direita', diz Doria

Doria faz contraponto implícito a Bolsonaro

Em um elegante apartamento no Itaim Bibi, o governador de São Paulo, João Doria, fez uma profissão de fé: "Não sou de esquerda e nem de direita. Minha posição é a de centro e de respeito ao diálogo." Entre os comensais reunidos pelo advogado Fernando José da Costa, deve-se supor, não havia ninguém com a necessidade de ser convencido. Mas aquele não era um discurso aos convertidos. Havia a presença de jornalistas, várias vezes ressaltada pelo tucano em sua fala. O governador portanto sabia que se dirigia para um público maior.

Quem procurar nas declarações de Doria uma contraposição clara ao presidente Jair Bolsonaro terá dificuldade de encontrar. O governador parece querer que seus ouvintes tirem as conclusões por si. Quando realça a importância do diálogo e de não "perder tempo com bobagem", arremata a frase com um sorriso, faz uma pausa, e em seguida a ressalva, direcionada aos jornalistas. "Isto não é indireta pra ninguém", afirmou. Precisa ser mais claro?

Do mesmo modo não há referências diretas a projeto presidencial em 2022. Nem precisaria, porque o cargo de governador de São Paulo fala por si. Ressalvado o período militar, todos os governadores de São Paulo foram presidenciáveis nos últimos 64 anos.

Ao dizer que quer ocupar o centro, Doria tenta aglutinar a oposição a um inimigo declarado, que é a esquerda; e um oculto, o bolsonarismo. O antagonismo à esquerda é óbvio: Doria e seus operadores partem da premissa de que o petismo está muito longe de ter se esgotado, mesmo em São Paulo. Ser o contraponto ao petismo continua a ser um ativo importante. Já a negação da direita é o mais intrigante.

Doria poderia assumir a vestimenta da direita democrática, que opera pela redução do tamanho do Estado e por bandeiras conservadoras preservando a institucionalidade. Não é essa a opção que ele faz no momento. Não podendo mais se apresentar com a roupagem de gestor, e não de político, como fez em 2016, o patrono do movimento "Cansei", iniciativa empresarial pioneira em entoar o "Fora Lula", na década passada, faz uma aposta contra a polarização.

É como se o governador dissesse que, em algum momento, parte do contingente antipetista vai se sentir exausto com a gritaria. Aparentemente, o governador recebe informações de que há alguma notícia ruim se desenhando contra o projeto de poder bolsonarista.

A movimentação do governador não passou despercebida nas redes sociais. Aumentou muito o bombardeio contra o tucano que parte das milícias digitais do bolsonarismo.

Doria se prepara para um cenário em que talvez lhe convenha migrar para a oposição ao governo federal, como modo de suplantá-lo nas urnas em 2022, demonstrando algum aprendizado de seus erros nos anos recentes.

É visível a mudança de estilo entre o governador e o Doria prefeito de São Paulo entre 2017 e 2018. Não há mais o afã de correr o Brasil, em uma evidente campanha antecipada. Nem demissões de secretários pelas redes sociais, nem farinata. Há mais trabalho em silêncio, de longa maturação. No jantar de quarta-feira, Doria citou dois dos quais se orgulha: a reversão do fechamento das fábricas da General Motors, processo que demorou três meses; e o da remoção de lideranças do PCC para presídios fora do Estado.

A fraqueza estrutural de Doria está na baixa capacidade de agregar fora de seu habitat. Seu nome parece despertar pouco entusiasmo no DEM. Não conta com demonstrações de simpatia de nenhum cardeal do PSDB, a começar dos que já foram candidatos a presidente pela sigla, incluindo Fernando Henrique Cardoso.

O governador tenta superar esta debilidade com os desiludidos do bolsonarismo. Primeiro o empresário Paulo Marinho, no Rio de Janeiro, o que atraiu o ex-ministro Gustavo Bebianno. Agora aproxima-se do deputado Alexandre Frota. Por outro lado, está de olho grande nos parlamentares do PSB e do PDT que correm risco de expulsão por terem votado contra a reforma da Previdência. Ainda é pouco.

Argentina
É curiosa a atuação internacional do governo Bolsonaro. O presidente resolveu entrar no debate político argentino, como se fosse capaz de influenciar o resultado eleitoral daquele país. Fosse outro tempo, as ofensas que dirige ao favorito Alberto Fernández teriam peso, sem dúvida, para fortalecer ainda mais a tendência de vitória peronista.

Outra era a época, outros os protagonistas, quando em 1946 o então embaixador americano em Buenos Aires, Spruille Braden, atacou o mais forte candidato na eleição argentina que se avizinhava. O agredido capitalizou o episódio e a disjuntiva "Braden ou Perón" foi importante para o triunfo do caudilho.

Bolsonaro age como se fosse chefe de uma potência imperialista, quando não é. Um acordo patrocinado por ele em termos leoninos sobre o uso da energia de Itaipu quase derrubou o governo do Paraguai, mas na Argentina a história é outra. A direita é diminuta. Na recente eleição primária daquele país, o economista ultraliberal José Luiz Espert ficou com 2% e Alejandro Biondini, quase um neonazista, não passou de 0,2%. A vocação argentina para afundar no caos, contudo, é grande, e é contra esta tendência que a elite política daquele país se movimentou nos últimos dias.

O presidente Mauricio Macri nada tem a ver com Bolsonaro, além do fato de receber seu insólito apoio na disputa. Depois da derrota nas eleições primárias, tomou a iniciativa de ligar para Fernández e estabelecer um pacto de governabilidade. Macri quer concluir seu governo em paz. Fernández, chegar ao poder sem que desperte no mercado e na sociedade um pânico desestabilizador.

O "pacto do medo", como o chamou o jornal "La Nación", "colocou a política argentina no grau de civilização e cultura que a economia necessita para começar a normalizar-se", conforme registrou o colunista Joaquín Morales Solá. Macri gerencia uma falência econômica de gigantescas proporções, panorama que felizmente não é o caso brasileiro. Na política, desarma uma bomba. Ou pelo menos tenta.


Ricardo Noblat: A João Doria o que é dele

Troca de gerações
Menos à esquerda para em 2022 disputar o voto conservador com o presidente Jair Bolsonaro caso ele tente se reeleger, ou com o candidato apoiado por ele.

Mas não muito à direita para evitar que o eleitor de Bolsonaro acabe pensando assim: ora, se é para trocar seis por meia dúzia, ficarei então com o que já conheço.

Essa é a pretensão do PSDB que emergiu, ontem, da convenção que elegeu seu novo presidente, o ex-deputado federal por Pernambuco Bruno Araújo, apoiado pelo governador João Doria, de São Paulo.

Foi uma eleição de um só candidato. Bem que os velhos caciques do partido tentaram formar uma chapa para enfrentá-lo, mas não conseguiram. A convenção marcou uma troca de gerações.

Saíram de cena nomes tradicionais do PSDB – o ex-presidente Fernando Henrique que nem apareceu por lá, o ex-governador Geraldo Alckmin (SP) e o senador José Serra (SP) que apareceram.

Entraram Dória e os seus garotos. O deputado federal Aécio Neves ainda conseguiu emplacar alguém da sua turma na primeira vice-presidência. Mas foi também Dória que emplacou o tesoureiro.

O sonho do governador de São Paulo é atrair para suas bandas o DEM do deputado Rodrigo Maia e do prefeito de Salvador ACM Neto, assim como o PSD do ex-ministro Gilberto Kassab.

Tentará atrair também algumas siglas que hoje fazem parte do chamado Centrão, como o PP do senador Ciro Nogueira (PI). “O PSDB é um partido de centro”, reafirmou seu novo presidente.

Como tal, não se alinhará ao governo Bolsonaro. Mas poderá compartilhar com ele ideias comuns, tais como a reforma da Previdência e a privatização de mais empresas estatais.

Coube a Alckmin bater em Bolsonaro. E ele surpreendeu pela contundência. Chamou Bolsonaro de “oportunista” e disse que o bolsonarismo não passa de uma “grande mentira”.

Dória foi mais ameno nas críticas a Bolsonaro. “Continuo entendendo que o PSDB não deve fazer este alinhamento [com o governo], mas deve apoiar as boas iniciativas para o país”, disse.

A próxima sucessão presidencial ensaia seus primeiros passos.

Toffoli x Toffoli

Juiz não pode ter vontade
Em palestra, ontem, na Federação da Indústria do Estado de São Paulo, o ministro José Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, ensinou o que ele parece ter esquecido.

A respeito da isenção, atributo obrigatório para quem usa toga, ele disse que onde se faz justiça não há “lugar para paixões, ideologias e vontades”. E repetiu enfático para que não restasse dúvida:

– Juiz não pode ter vontade. Se tiver vontades, sai da magistratura, vai para política, para movimentos associativos, vai para o Executivo, vai ser candidato.

A levar em conta o que ensinou, Toffoli deve estar pronto para abandonar a má ideia que teve de sugerir um pacto dos três poderes da República destinado a tirar o Brasil da crise.

Ninguém ficou mais eufórico com a ideia de Toffoli do que o presidente Jair Bolsonaro. E com razão. Logo Bolsonaro afirmou que era bom ter a justiça ao seu lado, ao lado do certo, do razoável.

Governo e Congresso podem se entender em torno do que quiser. Como lhe cabe examinar os atos dos demais poderes à luz da Constituição, a Justiça não pode meter-se em pactos. Ponto final.


Vera Magalhães: Doria contra ‘acirramento’

O governador de São Paulo, João Doria Jr., considera “inoportunos” os atos previstos para este domingo em todo o País. Ele falou à Coluna sobre o assunto que opôs, mais uma vez, os apoiadores do governo ao Congresso e dividiu o próprio campo conservador.

Para o tucano, não é hora de “acirrar” os ânimos e “desviar o foco da pauta econômica”, duas consequências que ele enxerga como possíveis a depender da pauta que for levada às ruas no domingo.

Em vários temas, Doria tem feito um contraponto a Bolsonaro. Ao se manifestar contra os protestos, o governador demonstra preocupação com a persistência da crise econômica – que tem derrubado a arrecadação do Estado, inclusive. Coloca-se, assim, ao lado de outros aliados do presidente que criticaram o apoio aos atos, como a deputada estadual Janaina Paschoal e o presidente do PSL, Luciano Bivar.

Leia a entrevista de Doria à Coluna:

O que o senhor acha dos atos marcados para este domingo?

Minha posição é contrária à realização dessas manifestações. Respeito quem for aos atos, sobretudo se forem pacíficos, porque se trata de um direito de todos. Mas, como governador de São Paulo, entendo que não é hora de propor o acirramento dos ânimos e, sim, de pregar a responsabilidade com o País e a união de esforços para que possamos superar a grave crise econômica do Brasil.

Na sua opinião, está claro se é um ato em favor do governo ou contra a classe política e o Congresso?

Esta é mais uma razão pela qual esse ato é inoportuno. A dualidade da pauta já deveria servir para desaconselhar o apoio a essa manifestação. A hora é de paz, de entendimento nacional. As autoridades deveriam fazer um esforço nesse sentido.

A seu ver, o Congresso boicota a agenda do governo Bolsonaro?

Não vejo no âmbito do Congresso nem entre os partidos do chamado Centrão essa intenção, deliberada ou velada, de boicotar o governo. Pelo contrário: vejo uma disposição de votar as reformas. É importante que não se perca o foco. E o foco neste momento de todos deve ser a pauta econômica. E dentro dela você tem, nesse primeiro momento, a preponderância da reforma da Previdência. Depois, a reforma tributária e, no ano que vem, quem sabe, a reforma política – que é mais difícil que as outras.

TENSÃO
‘Recuo’ do Centrão mostra quebra de confiança

O aparente recuo do Centrão no acordo para recriar os ministérios das Cidades e da Integração Nacional pode até animar os que conclamam as manifestações de domingo, lhes dar a impressão de que o Congresso sentiu a “pressão” e desistiu de “chantagear” o governo. Mas a desistência de algo que era fruto de acordo com o próprio Palácio do Planalto, que costurou a volta das duas pastas como forma de assegurar a aprovação da Medida Provisória 870, vai cobrar um preço mais à frente. Em primeiro lugar, porque o caminho que se estava pavimentando não era só para a MP, mas para a formação da base de votação da reforma da Previdência.

O acordo também era considerado importante na afirmação de Onyx Lorenzoni, que o avalizou, como articulador político do governo. O fato de a própria base aliada ter insuflado as ruas contra uma tratativa da qual o Executivo fez parte minou a mínima confiança que começava a se estabelecer na relação entre os dois Poderes.


Ricardo Kotscho: O novo PSDB de João Doria

PSDB de João Doria está mais para Bolsonaro do que para FHC

Em junho de 1988, quando o PSDB foi fundado, João Agripino da Costa Doria Junior era somente um empresário de sucesso que apresentava programas de televisão e promovia encontros entre políticos e homens de negócios. Já havia ocupado alguns cargos públicos, mas não tinha projetos políticos.

O principal nome da social-democracia brasileira era Mário Covas, que seria candidato a presidente da República no ano seguinte, na primeira eleição direta pós-64. Ele era a cara do novo partido surgido de uma dissidência do velho MDB, controlado naquela época por Orestes Quércia em São Paulo.

Com nomes como Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso e José Serra, o PSDB propunha-se a ser um partido de centro-esquerda, dotado de doutrina e programa nos moldes da social-democracia europeia. Chegou ao poder central com FHC, em 1994, nos braços do Plano Real, que debelou a inflação e promoveu a estabilidade econômica por oito anos. Foi o auge do partido.

Depois de cinco derrotas nas eleições presidenciais seguintes, tudo isso agora faz parte da história. Na última, no ano passado, chegou em quarto lugar, com Geraldo Alckmin, e viu sua bancada federal definhar.

Os pais fundadores do partido saem de cena e o PSDB agora tem uma nova cara: a de João Doria, prefeito-relâmpago e atual governador de São Paulo, que na noite da vitória anunciou a chegada do “meu PSDB”.

“A partir de agora, o PSDB vai estar sintonizado com a população, e não mais com seu passado. E será um partido de posições centrais, de centro”, disse em entrevista à Folha nesta semana, em Davos, na Suíça.

O que isso significa ainda não dá para saber. Mas o discurso de João Doria, desde a campanha, está mais afinado com o projeto político do presidente Jair Bolsonaro do que com o de FHC e Geraldo Alckmin, seu padrinho político, de quem se afastou.

Não por acaso, Doria foi apontado por Bolsonaro e o ministro da Fazenda, Paulo Guedes, em reunião fechada com 50 investidores, no mesmo fórum, como “o possível presidente da República no futuro”.

É cedo ainda, mas o próprio governador já está pensando nisso. Montou seu secretariado com dez ex-integrantes do governo Michel Temer e poucos tucanos. Pragmático e marqueteiro de si mesmo, certo de já ter o controle do partido, Doria escalou Bruno Araújo (PSDB-PE) para ser o novo presidente dos tucanos.

Do PSDB original do velho Mário, um combativo líder de oposição nos tempos da ditadura, só restou o jovem neto Bruno Covas, que Doria deixou em seu lugar na prefeitura paulistana para se eleger governador.


Folha de S. Paulo: O PSDB vai mudar, será de centro e respeitará direita e esquerda, afirma Doria

Em Davos, governador paulista diz que partido precisa estar sintonizado com a população, e não com seu passado

Maria Cristina Frias e Luciana Coelho, da Folha de S. Paulo

governador João Doria quer transformar o PSDB em um partido “de centro, com posições claras, que terá relações respeitosas com a esquerda e com a direita”. É esse o partido para chamar de “seu”, como já fez ao tomar posse no governo de São Paulo.

Doria, que está em Davos para participar da edição de 2019 do encontro do Fórum Econômico Mundial, cujo braço latino-americano São Paulo recebeu no ano passado, quando ele era prefeito, falou à Folha por 60 minutos. Tratou de seu projeto para fortalecer as polícias, de ampliar o ensino técnico no estado, de investimentos e privatizações —bandeiras da viagem. Também afirmou que tem como meta que São Paulo volte em 2020 a liderar o ranking do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, termômetro do ensino no país).

Acenou ao presidente Jair Bolsonaro, tomando o cuidado de dizer que apoia as medidas do governo que forem benéficas ao país.

Relutante em avaliar as primeiras três semanas do mandato do presidente a quem aplaudiu no palanque, afirmou que defende que as investigações a respeito das movimentações financeiras atípicas na conta do primogênito de Bolsonaro, Flávio, e de assessores continuem.

O senhor já deu seu apoio ao deputado Rodrigo Maia [para a sucessão na Câmara]...
E à reforma da Previdência também. Meu interesse é o Brasil, e eu sei a importância da reforma da Previdência para o país. Você vai ver nesses dias aqui [em Davos], como os investidores conscientes sabem da importância da reforma da Previdência. A reforma aprovada muda a história econômica do Brasil, abre as comportas para investimento estrangeiro no Brasil já neste ano, e isso vai se traduzir em emprego, renda e prosperidade de curto, médio e longo prazo.

O sr. se alinhou ao presidente Bolsonaro na campanha e tem dado apoio às propostas dele, sobretudo econômicas. Como avalia esse início e as questões que têm sido levantadas sobre os filhos?
Não tenho me manifestado sobre o tema dos filhos. Em relação ao governo, posso reafirmar que todas as medidas que forem positivas para o Brasil no plano econômico e no plano social e mesmo no institucional terão o nosso apoio. Não precisa nem de contrapartida, cargo, vantagem, benefício. Com o projeto do Paulo Guedes [ministro da Economia] —e ele tem cérebro e montou um bom time—, a economia brasileira vai andar. E quando você tem bom desempenho econômico, você tem um bom desempenho social atrelado a ele.

O sr. falou, ao tomar posse, em "o meu PSDB". O que vai acontecer com o partido?
Vai mudar. E vai mudar sem desprezar o passado, sem estigmatizar ninguém, respeitando aqueles que foram próceres do PSDB, dentre os quais eu destaco desde o [André Franco] Montoro, passando pelo Mario Covas, e destacando Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Geraldo Alckmin, entre outros. Cada um cumpriu seu papel bem. Mas a partir de agora o PSDB vai estar sintonizado com a população, e não mais com seu passado. Vai estar sintonizado com o presente do país para garantir o seu futuro como partido político. Para isso ele não precisa renegar o seu passado, mas ele vai mudar. E será um partido de posições centrais, de centro.

Não de centro-direita?
Não. De centro. E terá relações respeitosas com a esquerda e com a direita, seja centro-direita, extrema direita, centro-esquerda, extrema esquerda. Um partido de diálogo mas com posições claras e bem definidas.

Quem vai ser o presidente do partido?
Não tenho problema de falar sobre isso, se eu fosse um tucano das antigas eu iria dizer "veja bem, é cedo", mas eu sou claro e objetivo. Nós estamos trabalhando para que o Bruno Araújo (PSDB-PE) possa ser eleito presidente nacional do PSDB. Ainda é deputado, mas termina seu mandato no dia 31, foi ministro de Estado, deputado federal, deputado estadual em Pernambuco. Ele vai ter tempo para se dedicar ao partido —entendo que ele não pode estar dividido entre o partido e a função executiva ou legislativa. E ele tem conhecimento, tem boa penetração no PSDB, é querido em todas as faixas e mantém um bom diálogo com os demais partidos.

O sr. disse recentemente que "se o bandido reagir, vai para o cemitério", o que preocupa o meio jurídico. O sr. não tem receio de atiçar uma atitude ilegal em parte dos policiais?
Não. Não tem nenhuma ilegalidade, pois há um protocolo a ser cumprido. Mas esse protocolo vai até o final. Quem tem de ter receio é o bandido, porque a partir de agora a ação da Polícia Civil e a Polícia Militar em São Paulo serão muito rigorosas. Não vai ter mais nenhuma situação que possa dar margem a quem quer que seja que possa haver negociação com facção criminosa. Em última instância, depois de imobilizado o bandido, receber voz de prisão, entre a vida de um policial e a de um bandido, a orientação do governador é que fiquemos com a vida dos policiais. Se ele reagir armado aos policiais que estão ali com ordem de prisão e mantiver essa reação, a orientação do governador é que ele seja abatido.

E investimento em inteligência? 
Estamos fazendo, mas na Polícia Civil, e na polícia científica.

E em tecnologia, como o Detecta? Pode ser ampliado? 
Pode e deve ser. Precisamos colocar mais câmeras na cidade. Nenhum criminoso gosta de ser filmado, porque ele pode ser preso assim. Por isso que quanto mais monitoramento colocarmos melhor, é um fator inibidor. São Paulo já tem os melhores índices de segurança do país, com 6,4 homicídios por 100 mil habitantes, e a média nacional nos estados é 30 por 100 mil.

liberalização da posse de armas pode afetar esses índices negativamente? 
À posse na residência eu sou favorável, desde que respeitados os critérios e a regulamentação.

O sr. defende como foi liberado ou como o ministro Sergio Moro defendia, com restrições? 
Isso é relativo. Acho que ela foi aprovada razoavelmente. Agora, porte de arma é outra coisa, você precisa de um cuidado redobrado, você não pode ter, ainda que aprovado pela legislação, uma generalização. O porte de arma é algo que precisa ser tratado com muita atenção, porque da mesma maneira que ele pode proteger quem precisa ele pode desproteger alguém que possa ser vítima. Precisa ter um aprofundamento.

O sr. é contra ou a favor do porte? 
Olha, não estou querendo ser tucano, mas é algo que precisa ser estudado. À posse, sou favorável.

Não creio, o sistema de segurança no estado será muito fortalecido. No caso de São Paulo, não acho que aumente o risco.

O sr. é  candidato natural ao Planalto. Não seria importante marcar sua posição, por exemplo, em relação ao filho do presidente [Flávio Bolsonaro], que tem procurado se esquivar de investigações, que não tem respondido sobre essas movimentações atípicas?
Minha posição não é de fugir ao tema, é que as investigações prossigam. Não defendo que a investigação deixe de existir ou seja facilitada por serem filhos do presidente. Mas não vou fazer condenação prévia. Defendo que as investigações prossigam.

O sr. vai falar de concessões e privatizações aqui no Fórum?
Nós não vamos utilizar dinheiro público, exceto nas PPPs [parcerias público-privadas]. Todo o programa de desestatização do estado de São Paulo será financiado pelo setor privado, como o programa de ferrovias.

O programa de ferrovias é estimado em quanto? 
Ainda não temos, está sendo avaliado. É o Alexandre Baldy, secretário de Transportes  Metropolitanos, mas ele foi ministro das Cidades [que está tocando]. São trens intercidades ligando a cidade de São Paulo ao Vale do Paraíba e à região metropolitana de Campinas, além do Ferroanel. Tem também a hidrovia Tietê-Paraná, que será inteiramente privatizada. Tem alguns setores correlatos à hidrovia que já estão em mãos privadas. Também 23 aeroportos regionais. Há ainda ferrovias não licitadas, o Porto de São Sebastião...

O sr. acha possível viabilizar tudo isso em quatro anos? 
A maior parte, sim. Não quero dizer todas, porque algumas circunstâncias fogem do controle, sobretudo se a economia brasileira crescer. Além disso, há o estímulo que já demos ao presidente Bolsonaro para a privatização do Porto de Santos, e ele concordou, na audiência da semana retrasada.

Privatizações foram uma promessa durante a sua gestão na Prefeitura de SP que ainda não deslanchou. Por que não avançou? Não compromete a sua apresentação de privatizações aos investidores aqui?
Não deslanchou, mas vai avançar. Porque não tinha história, nunca houve um programa de desestatização em nenhuma cidade brasileira. E uma das razões foi exatamente a indiferença no posicionamento político do ex-governador Márcio França, que dificultou as duas primeiras modelagens que estavam prontas, o Estádio do Pacaembu e o Ibirapuera, e demais parques depois de um périplo na Câmara Municipal, no Tribunal de Contas do Município. Foram liberados por eles. Agora, vamos facilitar, o que já estava acordado com o governador [Geraldo] Alckmin.

São Paulo tem as melhores qualificações de mão de obra para todos os setores, não só no ensino básico, médio e universitário, mas pelas escolas técnicas. Vamos ampliar. Essa é a meta do secretário Rossieli [Soares]. Em 2020, nosso objetivo é que São Paulo esteja liderando o Ideb, onde já foi líder, e depois perdeu a liderança. A meta dada a ele é que em 2020, queremos retomar a liderança.

Há secretários que foram ministros da gestão Temer que são "estrangeiros" em São Paulo. Eles vão precisar de um tempo para se aclimatar, para aprender? 
Quem sabe, sabe. Tem equipe, ninguém faz nada sozinho.

Há planos de investimento em educação? 
Sim, vamos investir em tecnologia.

E em formação de professores?
Também. Fizemos na prefeitura e vamos fazer no âmbito do estado.

Algo específico para enfrentar problemas como o absenteísmo de professores e evasão no ensino médio?Meritocracia. Há protocolo para isso. Não pode faltar sistematicamente, tem de atingir os índices do Ideb. Não tivemos greve na prefeitura na minha gestão nem na do Bruno [Covas]. Bônus permitem salto para bons professores, que não faltam, que permitem saltos no Ideb. É isso que o Rossieli vai fazer. Cursos técnicos serão uma das prioridades. São qualificantes para o emprego. No último ano, alunos saem empregados. São quase 300 mil [292 mil, segundo o Instituto Paula Souza].

Vai fazer, avançar em reforma da Previdência no estado, como Bruno Covas fez na prefeitura?
São Paulo já fez, em 2013, foi uma boa reforma. Onde ela poderá avançar, se avançar no plano federal: militares. Na idade da aposentadoria. Os policiais militares se aposentam muito cedo. Há policiais [que não estão mais na ativa] com muita qualidade. Eles estão na melhor idade, no melhor da sua capacidade e foram aposentados pela lei.

O sr. tem alguma ideia de trazer essas pessoas de volta?
Como o sistema previdenciário em São Paulo está relativamente em ordem, isso não desprezível, mas não é prioridade para nós. Vamos esperar o plano federal.

O sr. tem reunido governadores em torno desse tema...
Vejo com muito otimismo a reforma da Previdência [pelo Congresso Nacional]. A liderança dos governadores, de uma boa parte deles, é de liderar suas bancadas para votarem a favor da Previdência. Óbvio que não conhecemos toda a reforma elaborada pelo deputado Rogério Marinho, que foi muito competente na reforma trabalhista.


O Estado de S. Paulo: 'Há espaço para duas candidaturas de Alckmin em SP', diz Aníbal

Pré-candidato ao governo, José Aníbal elogia lealdade do atual vice Márcio França, do PSB, e critica João Doria
Por Pedro Venceslau, de O Estado de S. Paulo
O ex-senador José Aníbal, presidente do Instituto Teotônio Vilela, centro de estudos e formulação política do PSDB, sugeriu, em entrevista ao Estado, que o prefeito João Doria desista de disputar a vaga ao governo do Estado e fique no cargo. Aníbal, que é um dos pré-candidatos ao Palácio dos Bandeirantes, também considera que há espaço em São Paulo para duas candidaturas da base de Geraldo Alckmin. Veja os principais trechos da entrevista.
O sr. admite a possibilidade de o PSDB apoiar o vice-governador Márcio França, do PSB, na disputa pelo governo paulista?
Pensou-se na ideia de trazer o Márcio França para o PSDB. Estive com ele recentemente. Márcio, porém, acha difícil essa ideia progredir. Quanto à ideia do PSDB não ter candidato, já vimos que a maioria do partido deseja que tenha.
 
Então, estão descartadas essas possibilidades?
Em princípio acho que sim. O partido quer ter candidato, mas deve haver uma construção. Não temos nenhuma candidatura óbvia e inquestionável. A pressa, se prevalecer, vai prejudicar a construção da candidatura.
O sr. defende prévias em maio para definir o candidato ao governo. A ideia é para forçar o prefeito João Doria a deixar o cargo caso queira ser o candidato?
Se o nosso prefeito está tão determinado a sair da Prefeitura, ele fará isso com ou sem prévias. Eu pessoalmente acho que ele deveria ficar e ter um desempenho em sintonia com o que pregou durante a campanha: uma gestão eficiente. João Doria deve ajudar quem o ajudou. O Geraldo foi muito presente na campanha dele. Mobilizou o partido. O prefeito já ficou namorando no ano passado a hipótese de uma candidatura presidencial, mas as coisas não andaram por ali. Agora ele tem essa coisa de candidatura a governador. Se você fizer uma pesquisa, ele está na frente de todos. É prefeito e tem um trabalho de comunicação intenso e permanente, mas esses climas que vão sendo criados em geral são sucedidos por um anticlímax.
Em 2008, a candidatura de Alckmin à Prefeitura de São Paulo foi ‘cristianizada’ e ele não teve apoio de muitos tucanos, que apoiaram Gilberto Kassab (PSD). Isso pode se repetir caso se formem dois palanques da base na disputa pelo governo?
Em 2008, o processo foi muito infeliz. Faltou diálogo. Teve gente do PSDB que não fez a nossa campanha. Mas eu acho que não será assim agora. Há um espaço enorme no eleitorado de São Paulo para duas candidaturas da base do governador. Na última eleição, o Alckmin teve 57% dos votos. São 12 ou 13 milhões de votos. A candidatura do PSDB não nos obriga a hostilizar o Márcio França. Pelo contrário. Márcio tem sido um leal companheiro do Geraldo Alckmin.
 
Se o PSB nacional não apoiar o Alckmin à Presidência, esse cenário em São Paulo pode mudar?
Não sei se será possível um apoio integral do PSB. Mas certamente ele vai ter algum apoio no partido. O apoio do PSB ao Alckmin não está vinculado ao fato do PSDB ter candidato em São Paulo. Está mais vinculado ao desejo de manter uma relação amistosa com Márcio França. Vamos disputar o mesmo universo de eleitores, com ele podendo agregar mais porque tem composições à esquerda.
O sr. acredita que a aproximação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso com o apresentador Luciano Huck constrangeu o PSDB?
Valeu muito uma conversa que eles tiveram há uma semana. Huck é um excelente comunicador e tem muita sensibilidade, mas não é fácil governar o Brasil. Acho que o presidente sugeriu a ele não aceitar. A decisão do Huck foi correta.
Huck teria uma predileção natural a apoiar o Geraldo Alckmin?
Não posso falar por ele. Mas vejo ele próximo, além do Fernando Henrique, do Andrea Calabi (padrasto de Huck, ex-ministro de FHC e ex-secretário de Alckmin) e do (ex-presidente do Banco Central) Armínio Fraga, que têm a sensibilidade do PSDB. Isso me faz imaginar que, se ele vier a manifestar sua intenção de voto ou apoio, o mais natural é que seja no PSDB, ao Geraldo Alckmin.
 
Doria tem sido um dos interlocutores do PSDB mais próximos de Temer. Que leitura faz da distância entre Alckmin e o presidente?
Eu não divulgo isso, mas converso com o presidente Temer com frequência. Almocei com ele na semana passada no Palácio do Planalto. Ele me disse que quer ter uma conversa com o Geraldo. Acha que é um bom momento para isso. O presidente Temer conversa com várias pessoas do PSDB, como o (José) Serra e o Aloysio Nunes. Eu tenho uma amizade com ele há muito tempo.
 
O prefeito de Manaus, Arthur Virgilio, fez críticas duras a Alckmin, que é pré-candidato à Presidência. Ele passou dos limites?
Eu acho que sim. Nós tivemos uma reunião com ele em Brasília, há duas semanas, na qual participaram cinco ex-presidentes do PSDB: Tasso Jereissati, Pimenta (da Veiga), Teotônio Vilela, Alberto Goldman e eu. Dissemos que não faz sentido ficar atacando. A disputa interna deve servir para construir convergência. Nós até brincamos: passamos nossos números de celular e dissemos que, se houver qualquer problema, é só ligar.

Merval Pereira: Luz de advertência

A luz amarela que o prefeito de São Paulo João Doria acendeu depois da primeira pesquisa Ibope para a Presidência da República em 2018 indica que a possibilidade de uma polarização entre Jair Bolsonaro e Lula assusta, ou deveria assustar, as demais forças políticas que começam a se organizar para a disputa.

Doria parece disposto a não se chocar com seu patrono, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, mas, para ele, o susto com a radicalização da campanha é um bom motivo para mantê-lo em uma corrida que parece perdida internamente no PSDB.

Ele não pretende sair do partido para disputar a eleição presidencial, mas diz que aprendeu que, em política, um dia é uma eternidade, quanto mais seis meses, o tempo máximo para uma definição. Isso significa que até lá há possibilidade de uma mudança na tendência tucana, hoje francamente favorável a Alckmin.

Se não acontecer, Doria fará uma composição com o governador de São Paulo, para disputar sua sucessão ou, mais provavelmente, permanecer na prefeitura, tornando-se o candidato natural do partido para voos mais altos logo adiante.

No fundo, ele não perde as esperanças de que o PSDB se convença de que seu estilo agressivo de ser anti-Lula ainda é a melhor opção para vencer a eleição de 2018, mesmo com a queda de popularidade que abalou seu favoritismo.

Essa queda, aliás, parece ter tido o poder de levar Doria a uma posição mais reflexiva, admitindo ter cometido erros na ânsia de cumprir metas e realizar promessas. O político arrojado que queria abraçar o mundo com as mãos e as pernas parece estar se convencendo de que é preciso dar tempo ao tempo.

Desacelerar, dar dois passos atrás para depois avançar, como ele mesmo definiu ontem em conversas diversas no Rio. O sinal de advertência que anunciou, pedindo a união entre os políticos de centro para combater os que identifica como extremistas de esquerda e de direita, é uma demonstração de que não pretende esgarçar sua relação com o governador Geraldo Alckmin, que esteve a ponto de se romper, ou mesmo inviabilizar sua permanência no PSDB.

Doria parece convencido de que se candidatar a presidente depois de uma disputa interna com seu mentor lhe daria uma vitória de Pirro, identificando-o como traidor, marca difícil de superar. Mas está convencido também de que a campanha será dura e renhida e, por isso, considera que um outsider como Luciano Huck não aguentaria o tranco.

A união em torno de uma candidatura de centro, que, não sendo a dele, seria a do governador Geraldo Alckmin, daria a ela um respaldo eleitoral para superar a radicalização dos extremos. É sempre bom lembrar que Aécio Neves, o candidato do PSDB em 2014, saiu de São Paulo com uma vantagem de sete milhões de votos, mesmo sendo mineiro.

O último candidato paulista à Presidência, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, saiu do estado com cinco milhões de votos de vantagem e venceu Lula no primeiro turno duas vezes. Pacificados os tucanos em São Paulo, o candidato de consenso pode sair do estado com uma vitória maior ainda, que pode viabilizar a chegada ao segundo turno.

A questão é melhorar a performance em outras regiões do país hoje claramente tendentes a Lula, como no Nordeste, onde o ex-presidente chega a ter 50% dos votos. A primeira pesquisa do Ibope, confirmando a polarização entre os candidatos dos extremos políticos, fez com que as forças políticas de centro se convencessem de que é preciso unir esforços para se viabilizarem na disputa, que promete ser mais favorável aos que fazem da política uma guerra do “nós contra eles”.

Doria tentou se colocar como o anti-Lula e acabou perdendo terreno dentro do próprio partido, mas continua fazendo questão de manter essa marca. Como já sabe que, até a decisão final, há uma eternidade política pela frente, ainda acredita que reverterá a queda de popularidade.

Mas já se convenceu de que não terá chances se não for o candidato de consenso dentro de uma coalizão centrista.