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Ao vivo: Terceiro dia do IV Encontro de Jovens Lideranças

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‘Bolsonaro é um iliberal’, diz Alberto Aggio no IV Encontro de Jovens Lideranças

Historiador participou de debate com cofundador do Movimento Agora, mediado pelo consultor político Caetano Araújo

Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP

“Bolsonaro é um não liberal, um iliberal, no sentido contemporâneo”. A afirmação é do historiador e do diretor-executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira). Na noite desta quinta-feira (17), ele participou de um debate sobre liberalismo e progressismo no Brasil, durante o IV Encontro de Jovens Lideranças, que será realizado pela entidade, até o próximo sábado (18), em Corumbá de Goiás, a 125 quilômetros de Goiânia.

O diretor-executivo da FAP e doutor em sociologia Caetano Araújo foi o mediador do debate, que também teve a participação do cientista político Leandro Machado, cofundador do Movimento Agora. O evento reúne 75 jovens de todo o Brasil e tem transmissão ao vivo pelas redes sociais e site da fundação.

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Aggio, que também é professor titular da Unesp (Universidade Estadual Paulista), disse que a oposição democrática tem a tarefa de impedir que o presidente estabeleça novo regime político no Brasil. “A oposição tem de defender a Constituição de 1988. Depois de um ano de governo, está claro que Bolsonaro quer, e não pode, instituir um regime político iliberal no país”, analisou.

Na avaliação do historiador, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, representa um obstáculo para que Bolsonaro institua o novo regime político no país. Segundo o debatedor, Maia pode ser visto até como neoliberal, já que acredita nas propostas do ministro da Economia, Paulo Guedes.

Aggio também disse que os partidos estão muito oligarquizados. “É preciso democratizar os partidos. No Brasil, as instituições públicas estão dominadas pelo corporativismo”, observou. Ele
também disse que, para conquistar coesão social, visão progressista de mundo, com cosmopolitismo, é necessário que se pense em termos de regulação.

“A regulação tem de andar em par com os interesses e liberdades da sociedade. Esse é o novo caminho que vai na direção do que chamo de esquerda democrática, que não tem nenhuma razão para deixar de dialogar com liberais progressistas”, acentuou o professor da Unesp.

Leandro Machado, por sua vez, afirmou que hoje se fala mais em progressismo por causa de questões identitárias e liberdades individuais. No entanto, conforme ressaltou, “um determinado campo político não pode sequestrar essa pauta para se tornar significado dele”. “Quando isso vira algo exclusivo de um campo político, a gente deixa prontamente que essas ideias sejam atacadas por outro campo político”, asseverou.

O cofundador do Movimento Agora destacou que o extremismo está ganhando espaço dos dois lados no Brasil. “Qual é a nossa responsabilidade quando a gente vê esse meio, a social-democracia, esfacelado, corroído, sem conseguir conversar e propor um sonho novo para este mundo?”, questiona. Ele acrescentou que a sociedade vive a era da globalização. “Essa era tem levado a avanços fantásticos, mas trouxe muitas desigualdades”.

Durante a mediação do debate, Araújo também fez comentários, parte deles respondendo a perguntas dos participantes. Ele disse que tem uma visão bastante pessoal sobre centro político. Segundo ele, a expressão era mais adequada em outros períodos. “No momento em que há várias oposições superpostas, essa categoria de centro perde a metáfora. Tenho reserva com o uso da metáfora centro. É mais proveitoso definir em cada dimensão a sua posição”, sugere.

 

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Ao vivo | IV Encontro de Jovens Lideranças: Debate sobre liberalismo e progressismo no Brasil

Um debate sobre liberalismo e progressismo no Brasil é realizado, na noite desta quinta-feira (16), no IV Encontro de Jovens Lideranças. O evento é realizado pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), em Corumbá de Goiás, a 125 quilômetros de Brasília.

O debate tem a participação do professor da Unesp(Universidade Estadual Paulista) e diretor da FAP, Alberto Aggio, e do cientista político Leandro Machado, cofundador do Movimento Agora. A mediação é realizada pelo também diretor da FAP e consultor político Caetano Araújo.

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Minorias são representadas em dinâmica do IV Encontro de Jovens Lideranças

Ultraconservadores também foram incluídos na atividade coletiva; evento é transmitido pela internet

Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP

Participantes do IV Encontro de Jovens Lideranças participam, na tarde desta quinta-feira (16), de uma adaptação da dinâmica dos quatro olhares a partir da perspectiva de cinco grupos sociais. Na atividade coletiva, são representados mulheres, negros, povos indígenas, ultraconservadores e a comunidade LGBTI+ (lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais, intersexos e mais).

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O IV Encontro de Jovens Lideranças começou nesta quarta-feira (15) e seguirá até sábado (18), em Corumbá de Goiás, a 125 quilômetros de Brasília. O evento, realizado pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), conta com a presença de 75 jovens dos 26 Estados e Distrito Federal.

No primeiro momento, os grupos discutem e estabelecem posicionamentos relacionados ao segmentos da população que representam em relação à democracia de inclusão. Na prática, é um exercício que leva os jovens a refletirem sobre a realidade e demandas de cada grupo social.

A socióloga e psicanalista Almira Rodrigues participa do encontro como comentarista da dinâmica. Ela diz que essa atividade possibilita os jovens abordarem as questões da juventude frente a uma democracia inclusiva. “É um espaço que trabalha com as subjetividades e acaba levando os participantes à reflexão no desafio de se colocarem no lugar do outro”, afirma ela.

Almira vê a dinâmica como uma metodologia que foge ao modelo tradicional de discussão de assuntos relevantes. “A dinâmica estimula a participação das pessoas e a gente entra com apoio para destacar algum aspecto, mas o conhecimento é construído pelos participantes, coletivamente, a partir da experiência deles e do que conhecem”, ressalta.

Coordenadora-geral do IV Encontro de Jovens Lideranças, a psicóloga Terezinha Lelis observa que democracia ocidental que se formou nos dois últimos séculos tem o princípio de que a minoria se submete à vontade da maioria. “É um avanço importante para a história da humanidade, porque antes era a lei do talião”, acentua.

No entanto, segundo Terezinha, existem outras formas de decisão coletiva. “Assim, [os participantes] percebem que existem outras formas de decisão. O respeito às minorias, o dissenso e a diferença são fundamentais. Diferente não é ser desigual”, ressalta a coordenadora.

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‘Nova exclusão social ameaça a democracia’, diz Elimar Nascimento

Professor da UnB participa do IV Encontro de Jovens Lideranças, transmitido ao vivo na internet

Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP

“A nova exclusão social ameaça a democracia porque tende a estigmatizar determinados grupos que ficam ameaçados”. A declaração e do sociólogo e professor da UnB (Universidade de Brasília) Elimar Nascimento, que, nesta quinta-feira (16), ministrou palestra para os participantes do IV Encontro de Jovens Lideranças. O evento é realizado pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira) em Corumbá de Goiás, a 125 quilômetros de Brasília.

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De acordo com Nascimento, a nova exclusão social é, basicamente, a construção de grupos vistos pelas elites econômica, política e social com três características. “São desnecessários economicamente, socialmente perigosos e politicamente incômodos porque não sabem votar”, explica ele.

O elemento perigoso da nova exclusão social é que, já que são vistos como desnecessários economicamente, esses grupos não têm importância se morrem ou vivem, segundo o professor da UnB. “Nem escravo é visto assim porque ele precisa ficar vivo para continuar sendo explorado”, ressalta.

Nascimento também abordou a crise ecológica no Brasil. “Dos nove indicadores da saúde ambiental, estamos derrotados em oito, conforme artigos internacionais”, afirma. “No país, está aumentando gases de efeito estufa, a perda da biodiversidade, a pesca degradante”, acentua.

Segundo o sociólogo, a crise ambiental também ameaça a democracia porque esse regime de governo não tem instrumento para enfrentá-la. “As pessoas não estão conscientes dos riscos que a destruição ambiental representa”, alerta.

O meio ambiente e a sustentabilidade também são ameaçados tanto por ricos quanto por pobres, conforme avaliação do palestrante. No primeiro caso, para aumentar a riqueza e, no segundo, por uma questão de sobrevivência.

“A população pobre tem dificuldade de entender as questões da sustentabilidade porque tem de comer amanhã. Por isso, passa a ser a favor da ocupação irracional da Amazônia, por exemplo, porque quer emprego. É a necessidade dela”, analisa.

Já os ricos também destroem o meio ambiente “porque querem ficar ricos o mais rápido possível, pouco importa o que vem depois”. “Querem ganhar dinheiro”, enfatiza o professor da UnB. Segundo ele, um dos caminhos é criar alternativas de emprego que não sejam necessariamente a destruição da natureza.

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Luiz Carlos Azedo: Entre dois polos

“A China continuará sendo o nosso principal parceiro comercial, mas não temos o mesmo poder de barganha dos EUA para defender nosso parque produtivo no novo cenário global”

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, assinaram, ontem, a primeira fase do acordo comercial entre os dois países, depois de uma guerra comercial que durou um ano e meio e abalou a economia mundial. O ponto central do acordo é uma promessa da China de comprar mais US$ 200 bilhões em produtos dos EUA ao longo de dois anos, para reduzir o deficit comercial bilateral com os norte-americanos, que chegou a US$ 420 bilhões em 2018. A China se compromete a comprar produtos manufaturados, agrícolas, energia e serviços dos EUA.

“Hoje (ontem), demos um passo crucial, que nunca tínhamos dado antes com a China”, disse Trump durante a cerimônia na Casa Branca. O pacto entre os dois países pode ter o papel de desanuviar não somente o ambiente econômico, mas também o ambiente político mundial, que vive uma escalada de tensões, a principal, agora, entre os Estados Unidos e o Irã, tendo por epicentro o controle do Iraque. A guerra comercial resultou no aumento das tarifas alfandegárias por ambos os lados, no valor de centenas de bilhões de dólares em mercadorias, o que afetou mercados financeiros, cadeias de fornecimento e o crescimento global.

Em números, a situação é a seguinte: os Estados Unidos vão manter tarifas de 25% sobre uma vasta gama de US$ 250 bilhões em bens e componentes industriais chineses usados pela manufatura norte-americana, até a segunda fase do acordo, mas a China deve comprar US$ 12,5 bilhões em produtos agrícolas dos EUA no primeiro ano e US$ 19,5 bilhões, no segundo ano; US$ 18,5 bilhões em produtos de energia no primeiro ano e US$ 33,9 bilhões, no segundo ano; US$ 32,9 bilhões em manufaturados dos EUA no primeiro ano e US$ 44,8 bilhões, no segundo ano; e US$ 12,8 bilhões em serviços dos EUA no primeiro ano e US$ 25,1 bilhões, no segundo ano.

O que vai acontecer depois, ninguém sabe ainda, mas as repercussões e projeções do que já foi acertado certamente serão discutidas na reunião de Davos, à qual o presidente norte-americano Donald Trump anunciou que pretende comparecer. De certa forma, o acordo roubará a cena do Fórum Econômico Mundial, que completa 50 anos e cuja pauta está focada na questão ambiental. Muitos chefes de Estado estarão presentes, além de grandes executivos e personalidades. Qual será a repercussão do acordo entre os Estados Unidos e a China para o Brasil? De certa forma, o acordo favorece os norte-americanos em relação ao nosso agronegócio, seja pela demanda cativa, seja pela vantagem estratégica em termos logísticos.

Rota do Pacífico
No seu livro Sobre a China, o ex-secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger já apontava o deslocamento do eixo do comércio mundial do Atlântico para o Pacífico e advertia sobre os riscos da disputa comercial entre os Estados Unidos e a China. Dizia que, no século passado, houve duas guerras mundiais por causa da disputa entre a Inglaterra, uma potência marítima, e a Alemanha, uma potência continental, pelo controle do comércio no Atlântico. A grande questão, agora, é como essa disputa entre a maior potência marítima do planeta, os Estados Unidos, e a maior potência continental, a China, vai se resolver.

A grande contribuição do livro de Kissinger quanto a isso é seu esforço no sentido de construir pontes diplomáticas do Ocidente com a China, a partir de sua própria experiência, pois foi o grande artífice da reaproximação entre os dois países em plena guerra fria. A conduta chinesa nos âmbitos dos direitos humanos e de seu “imperialismo” regional sempre foi alvo de ataques por parte dos países ocidentais, a partir da aproximação entre os dois países houve uma mudança de eixo de percepção do Ocidente sobre os chineses, que deram uma guinada econômica em direção ao capitalismo excepcionalmente bem-sucedida, a ponto de a percepção da opinião pública mundial mudar completamente em relação aos chineses. No lugar da imagem dos guardas vermelhos da Revolução Cultural de Mao Tse Tung, surgiram os grandes grupos de turistas ávidos pelo consumo da cultura ocidental, com suas roupas, bolsas e tênis de marcas, além de smartphones de última geração.

Entretanto, ninguém se iluda, o regime político continua sendo uma ditadura do Partido Comunista, o status autônomo de Hong Kong não será restabelecido e a China tornou-se uma potência econômica com crescente projeção militar sobre o Pacífico, o Índico e a costa africana do Atlântico Sul. No caso do Brasil, continuará sendo o nosso principal parceiro comercial, mas não temos o mesmo poder de barganha dos Estados Unidos para defender nosso parque produtivo nesse novo cenário criado pelo acordo.

http://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-entre-dois-polos/


William Waack: OCDE e resultados

O governo brasileiro comemora um gesto amistoso do governo americano

Dá para entender a empolgação do governo brasileiro com a renovada garantia verbal de Washington de apoiar o Brasil como primeiro da fila para ingresso na OCDE. Trata-se de comemorar algum carinho vindo de Trump, depois de vários tapas.

A OCDE congrega aproximadamente 80% do comércio e investimentos mundiais, e aí estão incluídos os 36 integrantes da organização e seus “key partners”, entre os quais figuram Brasil, China, Índia, Indonésia e África do Sul. Na América Latina, o México faz parte desde 1994, e o Chile, desde 2010. A Colômbia foi convidada oficialmente em 2018 e, desde 2015, a OCDE negocia a entrada da Costa Rica.

A mais recente adesão foi da pequena Lituânia, completando o “cerco” de países bálticos junto à Rússia, cujo acesso foi congelado em 2014 logo após a anexação da Crimeia. É óbvio que é um gesto político a aceitação de países na organização – cuja lista de membros iniciais em 1961 obedecia às principais alianças políticas e militares ocidentais da (mais as então “neutras” Áustria e Suíça).

A Índia tem relutância de caráter doméstico em integrar-se ao grupo, enquanto a entrada da China é parte de uma formidável relação geopolítica com os Estados Unidos, mas os dois gigantes asiáticos são alvo de resistência americana por uma outra questão que envolve o Brasil: é a designação como “país em desenvolvimento” aplicada pela Organização Mundial do Comércio. Essa definição, que garante tratamento preferencial a esse grupo dentro da OMC (e interessa, obviamente, ao Brasil), é alvo de Trump.

Em outras palavras, Trump acha que um país não merece fazer parte da OCDE (“desenvolvidos”) e, ao mesmo tempo, desfrutar de tratamento preferencial na OMC, cujo sistema de regras multilaterais o Brasil se esforçou durante décadas para desenvolver e consolidar e está agora sob feroz ataque do amigão na Casa Branca. Onde teremos de ceder?

Em questões de comércio, aliás, o Brasil recebeu as piores bofetadas verbais do presidente americano, que acusou o País (sem justificativa) de “manipulador da própria moeda”. A quase infantil alegria com que a diplomacia brasileira se alinha a Trump em votações na ONU (como o voto contra resolução anual da ONU que condena o embargo econômico a Cuba, posição que uniu todos os governos civis brasileiros) contrasta com o pragmatismo com que vários setores manobram no amplo e complexo campo das relações bilaterais com os EUA.

Os militares brasileiros, interessados em garantir acesso a tecnologias, não aderiram ao esforço americano (entre outros países) de limitar por princípio o direito do Irã de desenvolver métodos de separação de isótopos (enriquecimento de urânio), pois isso significaria colocar sob risco o próprio sistema de propulsão nuclear do projeto de submarino brasileiro. Os acordos para a utilização da Base de Alcântara pelos americanos não incluem restrições ao desenvolvimento de mísseis pelo Brasil, uma velha e tradicional pressão americana.

Pragmática em relação a Washington tem sido sobretudo a postura dos setores dinâmicos do agronegócio, que frearam arroubos diplomáticos brasileiros de apoio a Trump equivalentes a uma espécie de vassalagem quando se trata de posturas sobretudo na intrincada situação do Oriente Médio. Produtores brasileiros são os principais competidores dos Estados Unidos na produção de grãos e proteínas, num difícil jogo para profissionais que envolve a União Europeia e, claro, o principal parceiro comercial, a China – os interesses do agronegócio foram, até aqui, a principal oposição a alguns aspectos relevantes da política externa de Bolsonaro.

Todo mundo reconhece que relações entre países dependem de gestos também. Mas resultados práticos contam mais ainda.


O Estado de S Paulo: ‘Brasil precisa renovar suas lideranças políticas do topo para a base’, diz Huck

Em artigo no site do Fórum Mundial de Davos, apresentador cita ‘desafios’ do País

O apresentador de TV e potencial candidato à Presidência em 2022 Luciano Huck afirmou que o Brasil precisa “restaurar” e “renovar” suas lideranças políticas do “topo para a base” em artigo publicado no site do Fórum Econômico Mundial nesta quarta-feira, 15. “Lideranças e políticas públicas responsáveis e representativas são fundamentais para revitalizar o contrato social. Isso não vai acontecer espontaneamente. Requer um esforço consciente para investir em talentos e atraí-los”, afirmou Huck.

O apresentador é visto como possível candidato de uma frente de centro na próxima eleição em 2022 e é ligado a movimentos de renovação política, como o RenovaBR e o Agora!. Ele estará presente no encontro do fórum em Davos, na Suíça, que ocorrerá entre os dias 21 e 24 de janeiro. No artigo, Huck lista três “desafios” do Brasil e do mundo para o futuro: as queimadas e o desmatamento na Amazônia, a redução da desigualdade e a renovação das lideranças políticas.

“Em 2017, entrei no Agora!, um dos vários movimentos cívicos dinâmicos que investem em uma nova geração de líderes comprometidos com um Brasil mais inclusivo e sustentável. E em 2018, co-fundei a RenovaBR, atraindo mais de 4.600 inscrições de pessoas que nunca haviam se envolvido em política para treinamento em governança e ética. Dos 120 candidatos aprovados, 17 foram eleitos para o cargo federal naquele ano”, disse, se colocando como parte da renovação.

Huck afirma no texto que o Brasil terá um “papel de liderança” no desenrolar da próxima década, em razão de seus “imensos recursos naturais” e também por seu “estoque impressionante de recursos humanos”. “Mas (o País) também é convulsionado pela alta desigualdade e pela pobreza crescente. Para complicar, estamos enfrentando uma crise de liderança política e esquivando de nossas responsabilidades internacionais”, analisou o apresentador.

Apresentador critica política ambiental do governo Bolsonaro
No artigo, Huck teceu críticas à política ambiental do governo brasileiro. “Apesar dos esforços das autoridades brasileiras para ocultar o problema, os dados de satélite do próprio Ministério da Ciência mostraram que as taxas de desmatamento atingiram os níveis mais altos em duas décadas”, escreveu Huck.

Para ele, é necessário um “novo e radical paradigma” para garantir a administração sustentável da biodiversidade do País. “Deve haver tolerância zero ao desmatamento e um foco conjunto na melhoria da produtividade das áreas onde as florestas já foram cortadas. Aproximadamente 90% do desmatamento na Amazônia é ilegal e pelo menos dois terços dos 80 milhões de hectares de terras desmatadas são subutilizados, degradados e abandonados”, afirmou, ressaltando que “tão importante quanto o agronegócio sustentável, são a expansão do ecoturismo, o investimento em pesquisas em biotecnologia e o desenvolvimento de produtos da floresta tropical comercializados de maneira justa.”

País tem de colocar redução de desigualdade na agenda, diz Huck
Huck também afirmou que Brasil precisa colocar a redução da desigualdade no “topo” de sua agenda nacional em 2020. “O aprofundamento da desigualdade social e econômica nos países está reconfigurando fundamentalmente as políticas doméstica e internacional”, disse. Ele considera que o governo brasileiro adota “dinâmica” de outros governos que estão se retirando da cooperação multilateral e voltando ao “nacionalismo e protecionismo reacionários”. O apresentador ainda aponta que nos últimos anos a renda per capita caiu e a diferença entre ricos e pobres começou a aumentar, “acabando com muitos ganhos sociais das três décadas anteriores”.

Embora nunca tenha se colocado publicamente como possível candidato à Presidência em 2022, o nome do apresentador tem aparecido com frequência nas articulações em torno de uma candidatura de centro, promovidas por figuras como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga e o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung. Tido como um candidato capaz de “herdar”o eleitorado do ex-presidente Lula no Nordeste, recentemente Huck também se encontrou com o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB).


Ao vivo: Aulas e debate marcam segundo dia do IV Encontro de Jovens Lideranças

Evento é realizado pela FAP em Corumbá de Goiás. Programação do dia tem dinâmica sobre diversidade

Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP

A FAP (Fundação Astrojildo Pereira) transmite, ao vivo, no seu site e em sua página no Facebook, o segundo dia do IV Encontro de Jovens Lideranças, em Corumbá de Goiás, a 125 quilômetros de Brasília. A programação desta quinta-feira (17) inclui aulas sobre democracia, dinâmica sobre diversidade e debate sobre liberalismo e progressismo no Brasil. O evento seguirá até o próximo sábado (18).

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No total, 75 jovens participam do encontro. No salão principal do evento, onde é feita a transmissão ao vivo, o sociólogo e professor da UnB (Universidade de Brasília) Elimar Nascimento ministra aula sobre a nova exclusão social, democracia e sustentabilidade. O historiador e professor Marcus Vinicius Oliveira aborda o tema “Democracia em risco: a política no mundo contemporâneo”. Como as aulas são simultâneas, a transmissão ao vivo da aula de Oliveira será nesta sexta-feira (17).

Na parte da tarde, a socióloga e psicanalista Almira Rodrigues fará comentários sobre a dinâmica de diversidade chamada quatro olhares. A atividade será mediada pela coordenadora-geral do IV Encontro de Jovens Lideranças, Terezinha Lelis. No final da tarde, haverá um show da cantora Linna Karo.

À noite, os alunos deverão participar de um debate sobre liberalismo e progressivo no Brasil, com a participação do cientista político Leandro Machado, cofundador do Movimento Agora; e do historiador, diretor-executivo da FAP e professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) Alberto Aggio. O debate será mediado pelo doutor em sociologia e diretor-executivo da FAP Caetano Araújo.

 

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Batalha de poesias encerra primeiro dia do IV Encontro de Jovens Lideranças

Participantes do evento assistiram à apresentação em forma de protesto realizado por jovens da periferia de Brasilia

Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP

Apresentação de poesias em forma de protesto encerrou, na noite desta quarta-feira (15), o primeiro dia do IV Encontro de Jovens Lideranças, em Corumbá de Goiás, a 125 quilômetros de Brasília. Realizado pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), o evento reúne quase 100 pessoas, incluindo 75 jovens de 26 Estados e do Distrito Federal, além de palestrantes e organizadores.

Toda a programação do encontro é transmitida ao vivo pelo site e redes sociais da FAP, que é vinculada ao Cidadania. As gravações também ficam disponíveis para o público na internet. Além de apresentação cultural, o evento tem aulas para formação política e cidadã, além de dinâmicas em grupo.

No final do primeiro dia do encontro, os participantes assistiram à batalha de poesias do Slam DéF, que é formada por jovens da periferia de Brasília. Entre os competidores estavam o poeta Werick Wesley da Silva, conhecido como Banzo; e as poetisas Luana Rocha de Queiroz, a Nega Lu; e Naiara de Jesus Barbosa, chamada pelos colegas de Araian Poeta. O coordenador da competição é o professor de língua portuguesa Will.

O IV Encontro de Jovens Lideranças é um evento de formação política e cidadã sustentada na promoção do conhecimento e em debates. Dessa forma, segundo os organizadores, a batalha de poesias levou ao público a reflexão de temas relevantes, como machismo, feminicídio, racismo, assédio sexual e outras formas de preconceito e crimes contra a comunidade LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e intersexo).

Inovação e sustentabilidade
À tarde, o engenheiro civil e presidente do conselho da Fundação Amazônia Sustentável, Benjamin Sicsu, ministrou palestra sobre inovação e sustentabilidade. Ele sugeriu que a FAP crie um grupo de discussão online para aprofundar outras questões relacionadas ao meio ambiente, como saneamento básico.

Durante a palestra, muitos jovens fizeram perguntas e comentários sobre experiências de suas cidades relacionadas ao tema. Eles ressaltaram a importância de a juventude olhar para temas imprescindíveis à vida humana e estabelecer uma pauta mais forte em defesa do meio ambiente. “A participação dos jovens foi muito boa. Quanto maior a participação, melhor o debate”, disse Benjamin.

A abertura oficial do evento foi realizada pelo diretor-geral da FAP, o jornalista Luiz Carlos Azedo, que conclamou os jovens a terem comprometimento com as atividades do encontro, a fim de saírem dele com o maior aprendizado possível para compartilharem em suas cidades. Ele também destacou que o objetivo do evento não é fazer “doutrinarismo”.

“Nosso intuito é estimular vocês a pensarem com a própria cabeça e dar informação para que pensem sobre a realidade política, econômica e social do país”, disse Azedo. “A metodologia do encontro não é de reunião de partido. É um encontro de formação política, com treinamentos e dinâmicas de trabalho em equipe, para desenvolvermos liderança e cooperação em ambiente competitivo”, afirmou.

O diretor-geral da FAP lembrou aos participantes do encontro que o encerramento oficial do evento será realizado no sábado pelo presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire.

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Luiz Carlos Azedo: Ordem unida no INSS

“O que aconteceu com os aposentados é típico de ações voluntaristas que não avaliam as suas consequências, porque não se basearam na realidade, mas numa visão ideológica da economia”

O governo decidiu convocar 7 mil militares da reserva para resolver o problema das filas do INSS, nas quais dois milhões de segurados aguardam suas aposentadorias e outros benefícios, como salário-maternidade e auxílio-doença. Esse é o saldo de um ano de incompetência na gestão do órgão, no qual 1,5 milhão de processos de aposentadoria estão parados por falhas no sistema. O colapso do atendimento é resultado da reestruturação do INSS por decreto, de 9 de abril de 2019, no qual o presidente Jair Bolsonaro transferiu o órgão do antigo Ministério do Desenvolvimento Social para o Ministério da Economia, ironicamente subordinado à Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital. Ou seja, resolveram reinventar a roda.

Na canetada, foram extintos 129 cargos em comissão do Grupo-DAS, cujos titulares eram técnicos e foram sumariamente exonerados, ficando o Ministério da Economia de apresentar a proposta de reengenharia administrativa do INSS. O resultado é esse que estamos vendo, com milhares de pessoas dormindo nas filas e sendo maltratadas nas agências do órgão. Outra ironia, envolve o Dataprev, a empresa de informática do governo federal que processa os dados da Previdência.

Em 8 de janeiro, o órgão anunciou que pretende demitir 14% dos funcionários até fevereiro, na estratégia de privatização da empresa. Com 3.360 empregados, o Dataprev está desativando 20 unidades regionais, com um total de 493 funcionários. No programa de demissões voluntárias lançado pelo Dataprev, a empresa prevê o desembolso de R$ 53 milhões para economizar R$ 93 milhões por ano. Sua direção se vangloria de ter faturado R$ 1,6 bilhão, com uma despesa na casa de R$ 1 bilhão, no ano passado. Não é preciso falar quem está pagando essa conta.

Mesmo após setembro, segundo o secretário do Trabalho e da Previdência, Rogério Marinho, que comanda a operação para acabar com as filas, não há expectativa de que o estoque de processos pendentes seja zerado por completo. “Você tem 988 mil pedidos que entram todos os meses, não dá para zerar estoque. O que a gente está dizendo é que pretende que, todo mês, até setembro, outubro, a gente tenha aí esse número de requerimentos da mesma quantidade que temos capacidade de processar. É isso que a gente quer”, disse.

Fluxo de caixa
O pacote de ações do governo custará R$ 14,5 milhões por mês. Numa conta de botequim, em oito meses, isso representará uma despesa de R$ 116 milhões, ou seja, muito mais do que o governo vai economizar no Dataprev. O valor inclui a gratificação dos militares — que, por lei, equivale a 30% adicionais sobre a aposentadoria na reserva. Parte do custo, segundo Marinho, será compensada. “Consideramos que esse custo será compensado com a correção monetária que o governo deve deixar de pagar.” Ou seja, o governo desorganizou tudo e agora vai gastar muito mais para reorganizar.

O que aconteceu com o INSS é típico de ações voluntaristas que não avaliam as suas consequências, porque não se basearam nos dados da realidade, mas numa visão ideológica sobre a economia. No fundo, a contenção das aposentadorias durante todo o ano passado serviu para que o ministro da Economia, Paulo Guedes, gerenciasse o fluxo de caixa do governo, de olho no deficit fiscal. Se sabia desde o primeiro momento que a aprovação da reforma da Previdência teria impacto nos pedidos de aposentadoria, simplesmente porque sua discussão vem desde o governo Michel Temer.

A propósito, àquela ocasião, o órgão estava subordinado ao então ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra, hoje ministro da Cidadania, que se livrou do abacaxi. Na época dele, os dirigentes do órgão debatiam uma maneira de se antecipar aos pedidos, oferecendo a aposentadoria a todos os segurados aptos, por tempo de contribuição e idade, uma maneira de acabar com as filas e também de ter mais previsibilidade em relação ao fluxo de gastos da Previdência. Com base no sistema de processamento de dados então existente, isso era perfeitamente possível. Não se justifica, portanto, o que aconteceu neste ano, a não ser por ação deliberada de contenção de gastos, que gerou um desgastante problema social, a ponto de abalar a imagem de Bolsonaro. Como virou recorrente nessas crises criadas pelo próprio governo, os militares são convocados para enxugar o gelo.

http://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-ordem-unida-no-inss/


Monica De Bolle: Ah, o liberalismo...

Como qualquer outra filosofia ou pensamento, o liberalismo deve evoluir e mudar com o passar do tempo

Não há nada mais libertador do que possuir algum conhecimento sobre a história econômica. Ela ajuda a remover amarras ideológicas, pensamentos pré-fabricados, noções equivocadas. Em um mundo em que dogma e fé reinam supremos sobre a ciência e fatos, a história está lá, registrada, para revelar que nenhum modelo econômico atravessa a história intocado pela mudança social. Se atravessa assim é porque o trabalho de reavaliar conceitos em épocas de profundas mudanças não está sendo feito, e isso em nome de algo. É preciso perguntar então: em nome do quê? A resposta depende do país e das circunstâncias.

Tomemos o caso brasileiro. Reina no País visão pueril do liberalismo, uma visão vitoriana, digamos. A Inglaterra do século 19 é a referência histórica para parte desse puritanismo, ainda que os que defendem a visão vitoriana não o façam conscientemente. A Inglaterra vitoriana é o exemplo mais puro do laissez-faire, da atuação da mão invisível dos mercados, o berço do liberalismo em sua forma castiça. Ao menos, essa é a maneira como muitos enxergam o país em que a filosofia de Adam Smith, de David Ricardo, de John Stuart Mill foi testada com estrondoso sucesso. A história econômica sustenta a tese? Ou teria a ilha flertado com o protecionismo e o nacionalismo econômico no alvorecer do liberalismo?

A história econômica mostra que o que houve foi muito mais do que um flerte. A Inglaterra abraçou o protecionismo com vigor por 31 anos, de 1815 a 1846. O enredo é fascinante. Em 1815, a economia britânica se recuperava das guerras napoleônicas. Durante a guerra, barreiras de todo tipo foram erguidas para evitar que a ilha sucumbisse ao continente; entre elas, uma proteção maciça ao comércio de grãos e outros produtos agrícolas. Tarifas elevadas aplicadas a esses produtos conferiram ganhos aos produtores e donos das terras, já que os preços subiram significativamente. Quando a guerra acabou, a pressão para que o protecionismo não fosse eliminado foi enorme e o Partido Conservador, representante dos grandes latifundiários, sucumbiu. As Leis dos Cereais entraram em vigor em 1815 e se mantiveram vigentes por três décadas. Durante esse período, o mercado britânico para determinados grãos ficou completamente fechado, para espanto dos seguidores de Smith e Ricardo. Economias essencialmente agrárias e periféricas, como os EUA e o Zollverein – o conjunto de regiões que viriam a formar a Alemanha, mas que então funcionavam sob uma união aduaneira – já não podiam exportar para o centro da economia global.

Seguindo o pensamento de Alexander Hamilton e Friedrich List, sabemos que os países emergentes da época não viram outra saída para o próprio desenvolvimento senão abandonar o livre-comércio e adotar práticas de substituição de importações para se industrializar. Quando o Partido Conservador britânico rachou em 1846, produzindo a revogação das Leis dos Cereais, os EUA e as regiões do Zollverein haviam conseguido erguer algumas indústrias internacionalmente competitivas, como a têxtil. Assim, quando a Inglaterra resolveu pôr fim à sua era protecionista, seu setor de manufaturas já não tinha mais o monopólio global em diversos produtos. Essa situação haveria de se agravar nas próximas duas décadas, época em que os preços dos grãos e cereais também seriam impactados negativamente. Ou seja, não só a indústria britânica estaria em situação menos privilegiada do que antes da adoção das Leis dos Cereais, como também os setores agrícolas estariam sofrendo com os preços em declínio. Não é surpresa, portanto, que às vésperas da unificação alemã, em 1871, o debate sobre as vantagens do protecionismo na terra de David Ricardo estivesse novamente a pleno vapor.

Há várias maneiras de interpretar as escolhas do Reino Unido no século 19. Uma delas é afirmar que o protecionismo acabou dando impulso à industrialização na periferia à época, prejudicando a Inglaterra, o que é em parte verdade. Contudo, a industrialização desses países ocorreria mais cedo ou mais tarde com ou sem as Leis dos Cereais. Outra maneira, mais controvertida, é afirmar que a ilha do liberalismo castiço errou ao abandonar o protecionismo agrícola. Afinal, se tivesse mantido as restrições ao comércio teria ao menos preservado uma parte de sua economia. Não tenho lado nem tese nessa história. Conto-a apenas para que os leitores tenham claro que o liberalismo teórico, sobretudo o puritano, é muito diferente na prática. Conto-a para ilustrar de forma indireta o equívoco cometido por muitos no Brasil de amarrarem-se a ideias sem entender o contexto em que as medidas por elas suscitadas haverão de ter lugar e sem compreender que, como qualquer outra filosofia ou pensamento, o liberalismo deve evoluir e mudar com o passar do tempo.

* Economista, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics e professora da Sais/Johns Hopkins University