Desastre ambiental

Vilarejo nas Filipinas atingido por tufão em novembro de 2020 | Foto: reprodução/Getty Image/ BBC News Brasil

COP27: o que significa 'perdas e danos' nas discussões sobre as mudanças climáticas

Navin Singh Khadka*, BBC News Brasil

As negociações até agora se concentraram em pautas sobre como reduzir os gases de efeito estufa e como lidar com os impactos das mudanças climáticas. Mas há a expectativa de que outra questão ganhe importância: se os países altamente industrializados, que mais contribuíram para causar problemas climáticos e ambientais, deveriam reparar financeiramente os países que sofrem os impactos mais diretamente.

Desastres como enchentes, secas, furacões, deslizamentos de terra e incêndios florestais estão se tornando mais frequentes e intensos como resultado das mudanças climáticas, e os países mais afetados pedem ajuda financeira há anos para lidar com as consequências.

Isto é o que as palavras "perdas e danos" ("loss and damage", em inglês) significam. O termo abrange tanto as perdas econômicas (casas, terras, fazendas ou empresas) quanto não econômicas (mortes de pessoas, locais culturalmente importantes ou biodiversidade).

Após intensas negociações durante dois dias e a apenas uma noite da abertura da COP27, os delegados concordaram em incluir a questão das "perdas e danos" na agenda oficial.

O dinheiro que os países mais pobres estão exigindo ultrapassam os US$ 100 bilhões por ano que os países mais ricos já concordaram em transferir para os países mais pobres, visando ajudar estes a:

• reduzir os gases de efeito estufa, algo conhecido como "mitigação" nas negociações climáticas;

• tomar medidas para lidar com os impactos das mudanças climáticas, a "adaptação".

"As pessoas estão sofrendo perdas e danos causados ​​por tempestades potencializadas, inundações devastadoras e derretimento de geleiras, e os países em desenvolvimento têm pouco apoio para se reconstruir e se recuperar antes do próximo desastre", diz Harjeet Singh, chefe de estratégia global da ONG Climate Action Network International.

"São as comunidades que menos contribuíram para causar a crise que agora estão na linha de frente dos piores impactos."

Quão grande é a fatura por perdas e danos?

Luz Valdebenito com torneira aberta em seu quintal abre uma torneira depois que um caminhão-tanque lhe entregou água em Til Til, Chile.
Luz Valdebenito abre a torneira depois de receber caminhão-pipa em Til Til, Chile; região central do Chile passa uma longa e fortíssima seca

Um relatório publicado pela Loss and Damage Collaboration, um grupo de mais de 100 pesquisadores e formuladores de políticas de todo o mundo, revelou que 55 das economias mais vulneráveis ​​ao clima sofreram perdas econômicas de mais de US$ 500 bilhões entre 2000 e 2020. E isso poderia aumentar em mais US$ 500 bilhões na próxima década.

"Cada fração de aquecimento a mais significa mais impactos climáticos, com perdas nos países em desenvolvimento estimadas entre US$ 290 bilhões e US$ 580 bilhões até 2030", escreveram os autores.

O documento destaca que o nível do mar nas Américas tem subido a um ritmo mais rápido do que no resto do mundo, especialmente ao longo da costa atlântica da América do Sul, no Atlântico Norte subtropical e no Golfo do México.

"A grande seca no centro do Chile já dura 13 anos. Essa é a seca mais longa na região em pelo menos mil anos, agravando uma tendência mortal e colocando o Chile na vanguarda da crise hídrica."

O ano passado também registrou o terceiro maior número de tempestades nomeadas no Atlântico. Foram 21, incluindo sete furacões.

O Banco Mundial estima que entre 150 mil e 2,1 milhões de pessoas são a cada ano empurradas para a pobreza extrema na América Latina devido a desastres, incluindo aqueles causados ​​pelas mudanças climáticas; e que cerca de 1,7% do PIB da região é perdido a cada ano devido a desastres relacionados ao clima.

"Vários países estão passando por secas mais profundas e prolongadas, por tempestades e inundações mais intensas que estão atrapalhando as atividades econômicas e afetando os meios de subsistência", diz o banco.

"No Uruguai, por exemplo, os choques relacionados ao clima tornaram-se mais frequentes e intensos. As secas de 2017-18 e as perdas na agropecuária custaram cerca de 0,8% do PIB somente em 2018."

O planeta viu um aumento médio da temperatura global de 1,1°C em comparação com o período pré-industrial.

Os países mais pobres e menos industrializados defendem que o impacto do clima extremo prejudica qualquer progresso que façam em termos de desenvolvimento econômico. Alguns apontam que se encheram de dívidas ao tomar empréstimos para reconstruir o que foi danificado e perdido.

Desde quando se discute o pagamento de perdas e danos?

Pessoas caminhando e trabalhando sobre destroços
Equipes de resgate e parentes buscam por vítimas de deslizamentos de terra em Las Tejerias, Venezuela, em outubro deste ano

Sete anos atrás, o inovador Acordo de Paris reconheceu a importância de "evitar, minimizar e lidar com perdas e danos associados aos efeitos adversos das mudanças climáticas". Mas nunca foi decidido como fazer isso.

"Perdas e danos continuam sendo um tópico bastante tóxico e tivemos discussões muito, muito acaloradas entre países desenvolvidos e em desenvolvimento", diz Jochen Flasbarth, secretário do Ministério de Cooperação e Desenvolvimento Econômico da Alemanha.

"Havia preocupação entre os países desenvolvidos de que isso pudesse se tornar uma obrigação legal para grandes emissores (de poluentes). Isso sempre foi uma linha vermelha para a maioria dos países desenvolvidos."

Alguns negociadores da COP27 disseram que os países ricos queriam deixar claro que não aceitariam qualquer responsabilidade ou obrigação de pagar indenização por perdas e danos, algo a que os países em desenvolvimento se opuseram fortemente. Finalmente, foi acordado que o tema será apenas discutido na conferência atual. No próximo ano, na COP28 em Abu Dhabi, espera-se uma decisão provisória e, em 2024, uma decisão conclusiva sobre a questão.

"Exigimos financiamento regular, previsível e sustentável para lidar com as crises que algum país em desenvolvimento sofre quase todos os dias", defendeu Alpha Oumar Kaloga, negociador-chefe do Grupo Africano, em uma reunião nas Nações Unidas.

Singh, da Climate Action Network, demonstra reprovar a postura dos países ricos.

"Na verdade, é uma traição à confiança a forma como os países ricos encurralaram os países em desenvolvimento para aceitar uma linguagem que mantém os poluidores históricos a salvo de compensações e responsabilidades, sem oferecer qualquer compromisso concreto de apoiar as pessoas e os países vulneráveis", afirma.

Os países desenvolvidos apontam que já existem mecanismos previstos por convenções do clima anteriores que contemplam as demandas dos países em desenvolvimento — enquanto estes consideram que nenhum organismo e convenção existente hoje é apropriado.

Representantes do Grupo Africano e da Aliança dos Pequenos Estados Insulares (Aosis) têm pressionado para a criação de uma nova agência dedicada à reparação financeira, mas Jochen Flasbarth, da Alemanha, afirma que essa proposta talvez não consiga apoio suficiente.

Na prática, já houve problemas tanto com as instituições financeiras que liberam o financiamento climático quanto com os países que o recebem. A burocracia das agências financeiras internacionais faz com que os fundos demorem muito para serem disponibilizados. E, em alguns dos países receptores, há problemas de má governança e corrupção.

Houve algum progresso no período anterior à COP27?

Carcaças de cabras em área aberta e arenosa
Carcaças de cabras nos arredores de Dollow, na Somália; moradores da região de Gedo precisaram deixar suas casas devido à seca

Durante a COP26, a Escócia prometeu pouco mais de £ 1 milhão em fundos para perdas e danos. No mês passado, a Dinamarca anunciou que contribuiria com US$ 13 milhões.

E na semana passada, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução pedindo foco no pagamento a países em desenvolvimento e a priorização de doações sobre empréstimos.

Além disso, o G7 (Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos) e o V20, um grupo de 55 países vulneráveis, concordaram recentemente em lançar uma iniciativa chamada Escudo Global contra os Desastres Climáticos, que pretende arcar com perdas e danos por meio de um sistema de seguro.

A Aosis demonstrou desconfiança em relação à iniciativa, argumentando que o V20 não tem nem metade dos membros da Aosis.

https://www.bbc.com/ws/av-embeds/cps/portuguese/geral-63593520/p0dfgsg1/pt-BRLegenda do vídeo,

Perdas e danos: a 'conta climática' que pode recair sobre países ricos

"O G7 deve falar com todos nós, e não apenas com os países que selecionou", disse o principal negociador de finanças climáticas do grupo, Michai Robertson.

*Texto publicado originalmente no site da BBC News Brasil


IHU Online: O oceano é crucial em nossas vidas e precisa de cuidado

Ao perdermos a qualidade do ambiente marinho, perdemos benefícios para as pessoas e inúmeras oportunidades de desenvolvimento de atividades socioeconômica

"É preciso mais atenção aos desafios do oceano, pois, embora a temática esteja presente na agenda internacional, não há muito a comemorar", escreve Alexander Turra, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), professor titular do Instituto Oceanográfico da USP e responsável pela Cátedra UNESCO para Sustentabilidade dos Oceanos, em artigo publicado por EcoDebate, 17-09-2021.

Eis o artigo.

Ao perdermos a qualidade do ambiente marinho, além de colocar em risco os serviços ecossistêmicos e benefícios providos para as pessoas, reduzimos oportunidades de desenvolvimento de atividades socioeconômicas sustentáveis e ameaçamos o simbolismo do mar em nossa cultura.

Fonte de inspiração para a música, a literatura, as artes plásticas e as mais diversas manifestações da cultura popular, o oceano desempenha um papel crucial em nossas vidas. Mas, mesmo com sua enorme importância para a economia, a saúde, a alimentação, a ciência, o bem-estar, entre outras áreas, e frente aos reconhecidos serviços ecossistêmicos essenciais para a manutenção da vida no planeta, o oceano ainda parece distante de muitos de nós. Sem conhecê-lo, deixamos de estabelecer a conexão necessária para protegê-lo.

Desde a Rio 92, a histórica conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, realizada no Rio de Janeiro em 1992, líderes mundiais buscam formas de fazer frente aos desafios e ameaças que o oceano enfrenta. No entanto, a mobilização internacional ganhou um pouco mais de força apenas em 2009, quando foi estabelecido o Dia Mundial do Oceano, lembrado no dia 8 de junho, que surgiu com o intuito de celebrar a nossa ligação com o mar, bem como aumentar a conscientização sobre a necessidade de cuidar melhor dele.

Esse hiato de 17 anos teve consequências para a saúde do oceano. A degradação é como um câncer que rapidamente se alastra e que demanda imediata remediação. Demorar em tomar atitudes pode ser a diferença entre a vida e a morte. E quanto antes as medidas forem tomadas, inclusive na prevenção, melhor tende a ser o resultado. Essa morosidade em cuidar do oceano pode ser considerada como negligência da humanidade em relação a um grande aliado de sua existência. Por outro lado, essa demora pode também ilustrar uma falta de clareza dos líderes mundiais sobre esse papel central do oceano na sustentabilidade do planeta.

Recentemente, o movimento em prol do oceano recebeu reforços. Além de contar com um dia para lembrar sua importância, em 2017, a ONU propôs que a década entre 2021 e 2030 fosse dedicada à Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável. Surgia assim a proposta de somar esforços em nível global entre os governos nacionais, convidando também a sociedade civil organizada a se engajar na luta por um oceano limpo e saudável.

É preciso mais atenção aos desafios do oceano, pois, embora a temática esteja presente na agenda internacional, não há muito a comemorar. A qualidade do ambiente marinho continua sendo perdida ao longo do tempo. Infelizmente, o mar torna-se um grande sumidouro dos rejeitos gerados pelas atividades humanas, como o esgoto, o lixo e os poluentes industriais, a exemplo do petróleo e do mercúrio, e também sofre com outros tipos de agressões. Extinções de espécies que sequer foram conhecidas pela ciência; invasão de espécies exóticas; destruição de ambientes como manguezais e recifes de coral; pesca irregular, ilegal e não reportada; e mudanças do clima correspondem a importantes ameaças que ilustram a ampla crise que assola o oceano.

Essas alterações se desdobram em catástrofes para a humanidade. Ao perdermos a qualidade do ambiente marinho, perdemos benefícios providos para as pessoas e inúmeras oportunidades de desenvolvimento de atividades socioeconômicas, como turismo, pesca e aquicultura. Estamos falando de cerca de 20% do Produto Interno Bruto do Brasil, valor que depende direta e indiretamente do oceano. Estamos falando de oportunidades para ampliar a oferta de alimento e a segurança alimentar para o planeta. Estamos falando de condições para gerar milhões de empregos e produzir a energia limpa e renovável que tanto precisamos para caminharmos na direção de uma economia de baixo carbono e combatermos os efeitos das mudanças climáticas.

"Ao perdermos a qualidade do ambiente marinho, perdemos benefícios providos para as pessoas e inúmeras oportunidades de desenvolvimento de atividades socioeconômicas, como turismo, pesca e aquicultura" - Alexandre Turra Tweet

Mas perdemos mais ainda. Perde-se o próprio simbolismo que o oceano tem para a humanidade. Sem o simbolismo do oceano não teríamos a suíte dos pescadores de Dorival Caymmi, os quadros de José Pancetti, os romances de Jorge Amado, os contos populares compilados por Câmara Cascudo e as aventuras de Júlio Verne.

Essa simbologia move inúmeras pessoas a conhecer o mar. Cito duas histórias que repercutiram amplamente e que ilustraram a magia que o mar exerce sobre as pessoas. Em 1995, Maria do Carmo Jerônimo, mineira de 124 anos, conheceu o mar. Tendo sido escrava até os 17 anos, aguardou muito tempo até ter podido realizar esse desejo, uma segunda alforria, que só se igualava à sua vontade de conhecer o Papa.

Em 2021, Pâmella Rocha, uma menina goiana de 9 anos, também conheceu o mar. Com um câncer em fase avançada e que levou à amputação de uma de suas pernas, Pâmella tinha um enorme desejo de estar próxima ao mar. E ela o fez. Junto com sua família e diversos apoiadores, o sonho virou realidade e ela veio a conhecer o que achava que era uma “grande represa”. “Foi maravilhoso ver os olhinhos dela brilhando”, registrou sua mãe, Vannina Rocha.

A exemplo de dona Maria do Carmo e de Pâmella, cerca de 70 milhões de brasileiros nunca tiveram a oportunidade de ver, sentir e se banhar no mar. De sentir a energia das ondas, o sal no corpo, a brisa na face e a areia salpicando na pele. De ver o sol nascer, “emergindo” de um horizonte oceânico.

"Podemos aproveitar a Década do Oceano para refletirmos e para nos questionarmos sobre o que de fato conhecemos sobre ele, sobre o entendimento que temos a respeito da importância dele para nossas vidas e sobre o papel de nossas atitudes cotidianas na saúde do oceano" - Alexandre Turra Tweet

Podemos aproveitar a Década do Oceano para refletirmos e para nos questionarmos sobre o que de fato conhecemos sobre ele, sobre o entendimento que temos a respeito da importância dele para nossas vidas e sobre o papel de nossas atitudes cotidianas na saúde do oceano. Mas, mais que isso, que possamos resgatar o simbolismo do oceano em nossas vidas, renovando a importância dele para a garantia da nossa saúde e a necessidade de seu uso sustentável para superarmos as mais desafiadoras adversidades e progredirmos enquanto humanidade. Falando em simbolismo, considerando o planeta como um ser vivo, certamente o oceano seria sua alma. E sem alma jamais seremos um planeta efetivamente vivo!

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Fonte: IHU Online
http://www.ihu.unisinos.br/612958-o-oceano-e-crucial-em-nossas-vidas-e-precisa-de-cuidado


‘Óleo nas praias brasileiras mostra incapacidade do governo’, diz Anivaldo Miranda à Política Democrática

Jornalista aponta, em artigo à revista da FAP, falta de sincronia de esforços diante de catástrofes

Cleomar Almeida, da Ascom/FAP

Das praias do Maranhão às do Espírito Santo, a tragédia causada pelas manchas de petróleo assusta pela quantidade de óleo vazado, os impactos à vida marinha e os prejuízos que afetarão a saúde humana, os produtos do mar e a economia do país. A avaliação é do jornalista Anivaldo Miranda, em artigo que ele publicou na 13ª edição da revista Política Democrática online, produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), em Brasília.

» Acesse, aqui, a 13ª edição da revista Política Democrática online

A revista pode ser acessada de graça no site da fundação, que é vinculada ao Cidadania. Miranda, que também é mestre em meio ambiente e desenvolvimento sustentável pela Ufal (Universidade Federal de Alagoas), diz que o caso serve para destacar “a recorrência não só da demora da resposta, mas também da incapacidade de sincronia de esforços diante das ocorrências catastróficas que se estão multiplicando no Brasil, resultantes tanto de fenômenos naturais, como da ação ou inação humanas”.

Conforme ele escreve no artigo publicado na revista Política Democrática online, o poder público tardou em perceber a gravidade e a abrangência do evento, e as providências deram-se de forma tardia, apesar dos instrumentos legais e operacionais que já estão disponíveis para enfrentar contextos de tal criticidade. “Tal atraso é sempre nocivo, tendo em vista que a larga experiência internacional ensina que tempo e agilidade podem minimizar significativamente os danos relativos a quaisquer acidentes”, alerta.

O autor afirma, ainda, que fontes do governo federal insistem em dizer que, desde a primeira notícia do aparecimento do óleo nas praias da Paraíba, em 30 de agosto último, teve início a mobilização oficial para avaliar e enfrentar o problema. No entanto, segundo ele, é diferente da versão do Ministério Público Federal no Nordeste, que acionou a União e acusou o Ministério do Meio Ambiente por não ter reconhecido formalmente a “significância nacional do desastre ambiental”.

Em razão isso, segundo Miranda, o governo não acionou em sua integridade o PNC (Plano Nacional de Contingência). Na sua opinião, a omissão que gerou luta de liminares bastante ilustrativa das complicações de ordem burocrática que atravancam a operacionalidade da ação estatal, até mesmo em situações de emergência.

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FAO: Desastres geraram 11 bilhões de dólares de perdas na América Latina; Brasil é o principal afetado

O estudo analisou 37 desastres naturais ocorridos em 19 países da região entre 2003 e 2013. Relatório da FAO destacou que as perdas correspondem a cerca de 3% do valor projetado de produção para o mesmo período.

Em uma década, a região da América Latina e o Caribe perdeu 11 bilhões de dólares na agricultura e pecuária devido aos desastres naturais, revelou na quinta-feira (03) a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

O estudo analisou 37 desastres naturais ocorridos em 19 países da região entre 2003 e 2013 e destacou que as perdas correspondem a cerca de 3% do valor projetado de produção para o mesmo período.

A maior parte dessas perdas ocorreu após inundações (55% do total) e, em menor medida, por estiagens e tempestades. O Brasil foi o país mais afetado devido ao tamanho da sua produção agrícola. Outros seriamente impactados foram Colômbia, México e Paraguai. O furacão Tomás que passou por Santa Lucia em 2010, por exemplo, gerou uma perda de 43,4% do PIB da nação insular, o que corresponde a nove vezes o seu PIB agrícola e a 47% da sua dívida pública externa.

Segundo o responsável de Recursos Naturais da FAO, Benjamin Kiersch, a mudança climática constitui um grande obstáculo para a erradicação da fome na região, meta assumida por todos os governos através do Plano de Segurança Alimentar, Nutrição e Erradicação da Fome da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC).

A América Latina e o Caribe tem a maior extensão de terra cultivável no mundo. Segundo o Escritório Regional da FAO, as mudanças climáticas na região vão provocar alterações nos padrões de chuvas e temperaturas, o que afetarão o rendimento de cultivos básicos. Em 2010, por exemplo, 98 dos mais importantes desastres naturais do mundo aconteceram na região.

Acesse o documento clicando aqui.

Fonte: nacoesunidas.org


Sergio Camps de Moraes: Desastre ambiental e Zica Virus

Como se não bastassem a dimensão e o tamanho da crise que assola o Brasil devido a soma dos erros e desvios do governo Lula/Dilma, os brasileiros foram condenados a sofrer mais dois graves produtos da incompetência e desídia da administração petista.

O desastre ambiental verificado no município de Mariana, em Minas Gerais, e em outras áreas desse Estado e do Espírito Santo, não é um acidente produto de circunstancias fora da vontade dos homens. Basta ver a reação do governo Dilma para medir a sua incapacidade e a ausência de órgãos públicos com qualidade e expertise e meios para enfrentar tal desastre ambiental. Ibama, DNPM e outros órgãos federais, que tem a ver com a área ambiental e de mineração, estão sucateados, incapazes de exercer controle e, portanto, de prevenir tais “acidentes”.

Não adianta anunciar agora multas milionárias, mesmo sendo necessárias. O fundamental é a prevenção, que pouparia a vida das pessoas e do ambiente. O fato é que, passado um mês deste grave desastre, este governo incompetente não foi capaz de produzir um diagnóstico profundo, sequer criou um grupo formado pelos melhores especialistas brasileiros, para realizar essa tarefa e determinar um plano para remediar os danos ambientais. Esta seria a reação lógica frente ao tamanho do desastre. Trata-se de uma tarefa da União. E que o custo da remediação seja pago pela Samarco e suas controladoras. Mas nem isso fez o governo Dilma.

O aparelhamento do Estado brasileiro , impedindo que a competência viceje, tem reduzido a capacidade e a eficiência dos órgãos públicos de controle. Pior ainda, escancara, a cada dia, a Operação Lava Jato, a promiscuidade dos órgãos e empresas do Estado com os interesses de grupos privados, na base da propina e do roubo descarado e bilionário, e agrava ainda mais a fragilidade gerencial e fiscalizadora do Estado. A tal ponto que depois desse desastre descobriu-se que as mineradoras controlam os órgãos que deveriam fiscalizá-las.

Da mesma forma, estamos frente a uma crise na saúde brasileira com o fenômeno do Zica vírus, cujas consequências ainda não podemos medir completamente. O fato é que os especialistas apontam para um quadro de extrema gravidade na saúde pública, já que a doença da Microcefalia compromete vidas de maneira irremediável.

Aqui também temos um caso de falta de prevenção, de desídia, pelo abandono do combate sistemático ao mosquito e suas formas de reprodução. Este relaxamento no combate ao mosquito produz este resultado. O custo de um governo corrupto e incompetente, assim como nas outras dimensões da crise, no desemprego crescente e inflação em alta, é a sociedade que vai pagar e a sua parte mais débil será a que mais sofrerá as suas consequências.

Num comportamento irreprovável, a presidente Dilma foi à sessão solene de abertura da Conferencia Nacional da Saúde, no dia 4/12, em Brasília, e ao invés de tratar das graves questões nas áreas da saúde e do meio ambiente, ora vividos pelos brasileiros, aproveitou o momento para sobretudo fazer sua defesa do processo de impeachment , para depois anunciar medidas já tardias, mesmo que necessárias, para enfrentar o Zica vírus e o desastre ambiental em Minas Gerais e no Espírito Santo.

É que este governo abandonou a sociedade para lutar por sua sobrevivência. Sua cabeça e energia não mais se encontram a serviço da sociedade, mas da sua permanência no poder. E isso é o que o faz perder legitimidade diariamente perante a opinião pública brasileira. A legitimidade vem da conquista do voto, mas ela se mantém com um mínimo de compromisso com as necessidades do País, com o interesse público. Ao invés disso, Dilma e os petistas se aferram na defesa do poder pelo poder. Seu governo perdeu a legitimidade e passou a ser um fardo para a sociedade brasileira. Esta crise requer uma mudança, e o impeachment é o caminho da mudança.

Por: Sergio Camps de Moraes

Sergio Camps de Moraes é economista, vice-presidente do PPS-RS e membro do Diretório Nacional do PPS