datafolha
Datafolha divulga nova pesquisa para o segundo turno nesta sexta-feira
Brasil de Fato*
O instituto Datafolha publica nesta sexta-feira (14) a segunda pesquisa para as eleições presidenciais após a votação no primeiro turno. O levantamento, que foi contratado pela TV Globo e pelo jornal Folha de S.Paulo, será publicado no início da noite.
No primeiro levantamento, divulgado na última sexta-feira (7), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) somou 53% das preferências de votos, contra 47% do atual ocupante do Planalto, Jair Bolsonaro (PL), considerando os votos válidos.
Os profissionais do Datafolha foram às ruas na quinta-feira (13) e continuarão as entrevistas na própria sexta. No total, serão ouvidas 2.898 pessoas. O levantamento tem margem de erro estimada de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número BR-01682/2022.
Quaest e AtlasIntel mostram liderança de Lula
Duas pesquisas publicadas na quinta-feira (13) mostram vantagem de Lula sobre Bolsonaro na corrida presidencial.
A pesquisa Quaest mostrou o ex-presidente com 49% dos votos totais, contra 41% do atual mandatário. Já o levantamento da AtlasIntel registrou Lula com 51,1%, contra 46,5% de Bolsonaro.
Edição: Rodrigo Durão Coelho
Texto publicado originalmente no Brasil de Fato.
Datafolha: 53% admitem ter mudado de comportamento nas redes sociais por motivos políticos
G1*
A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%
Pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira (30), encomendada pela Globo e pelo jornal “Folha de S.Paulo”, aponta que 53% dos eleitores com contas em redes sociais ou em aplicativos de mensagens dizem que já mudaram de comportamento por conta de divergência política nos últimos meses.
Para os eleitores do ex-presidente Lula (PT), o índice é mais alto: 57%. Já para os eleitores do presidente Jair Bolsonaro (PL), é mais baixo: 46%.
Os índices são os mesmos que os encontrados no levantamento anterior, divulgado em 31 de julho.
O Datafolha apresentou três situações vividas entre quem tem redes sociais:
- Deixou de comentar ou compartilhar alguma coisa sobre política em grupo de Whatsapp para evitar discussões com amigos ou familiares;
- Deixou de publicar ou compartilhar alguma coisa sobre política nas suas redes sociais para evitar discussões com amigos ou familiares;
- Saiu de algum grupo de Whatsapp para evitar discussões políticas com amigos ou familiares.
No WhatsApp, 44% deixaram de falar sobre política (eram 43% em julho). Além disso, 15% já saíram de algum grupo para evitar discussões políticas com amigos ou familiares - eram 19%. Já na segunda situação, 42% já deixaram de publicar ou compartilhar algum conteúdo sobre política (eram 41%).
As taxas de mudança de comportamento são mais altas entre os eleitores de Lula que entre os de Bolsonaro. Na primeira situação, entre os eleitores do petista, o índice é de 48%, ante 38% entre os eleitores de Bolsonaro. Já na segunda situação, 45% ante 36%. Na terceira, 21% ante 8%.
Quando são consideradas as três situações, o índice de eleitores com conta em redes sociais ou em aplicativos de mensagens que já mudaram de comportamento alcança 53% no total (57% entre eleitores de Lula e 46% entre eleitores de Bolsonaro, como já dito).
Acesso a redes sociais
A pesquisa ainda apontou que oito em cada dez eleitores brasileiros (82%) possuem conta em alguma das redes sociais (Facebook, Instagram, Tik Tok e Twitter) ou aplicativos de mensagens pesquisados (WhatsApp e Telegram).
O alcance é mais elevado entre os seguintes grupos:
- têm entre 16 e 24 anos (97%), 25 e 34 anos (95%) e 35 e 44 anos (89%);
- são mais instruídos (96%);
- possuem renda familiar mensal de mais de 2 a 5 salários mínimos (89%), 5 a 10 salários mínimos (94%) e mais de 10 salário mínimos (97%);
- e moradores das regiões metropolitanas (87%).
Entre os eleitores de Jair Bolsonaro, o índice de usuários é mais alto que entre os eleitores de Lula -- 88% ante 78%.
Das redes sociais pesquisadas, o WhatsApp tem o maior índice de usuários (80%). Na sequência, estão: Facebook (64%), Instagram (56%), Tik Tok (29%), Telegram (21%) e Twitter (18%).
A pesquisa ouviu 6.800 pessoas, entre 27 e 29 de setembro, em 332 municípios. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%. A pesquisa está registrada no TSE com o nº BR-09479/2022.
Matéria publicada originalmente no G1
Eleições 2022: pesquisas 'erraram tudo em 2018' como diz Bolsonaro?
A menos de dez dias do primeiro turno das eleições, os principais institutos de pesquisa do país — como Ipec, Datafolha, Ipespe e Quaest — continuam mostrando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com uma vantagem folgada na corrida presidencial ante seu principal oponente, o presidente Jair Bolsonaro (PL), inclusive com chances de vencer no primeiro turno
O atual mandatário, porém, questiona a credibilidade dessas sondagens e diz que ele que vencerá já no próximo domingo (2 de outubro, dia de votação do primeiro turno). "Essas pesquisas não valem de nada. Erraram tudo em 2018 e agora, obviamente, potencializam o outro lado", disse Bolsonaro na terça-feira (23/09), durante viagem à Nova York para participar da Assembleia Geral da ONU.
O argumento do presidente e de seus apoiadores para contestar o cenário desfavorável captado pelas pesquisas nesta eleição é dizer que os institutos também não apontaram sua vitória no pleito de 2018. Além disso, também acusam supostos erros das pesquisas em outras disputas daquele ano, como eleições para governos estaduais e vagas no Senado.
Especialistas no assunto ouvidos pela reportagem questionam a argumentação de Bolsonaro, já que as sondagens de 2018 próximas ao dia da votação mostravam a vitória do atual presidente.
Esses especialistas ressaltam ainda que pesquisas não são "prognóstico da eleição", mas apenas um retrato do momento. Isso significa que o resultado das urnas pode ser diferente das sondagens eleitorais, na medida em que a decisão de voto do eleitor pode mudar entre o momento de realização da pesquisa e o dia da votação.
"Mesmo que algumas pesquisas eleitorais divulguem seus resultados no dia anterior à eleição, elas ainda podem não captar certas mudanças ou decisões de voto ocorridas no dia da eleição, no dia anterior ou até mesmo dois dias antes, uma vez que muitas pesquisas começam sua coleta de dados de dois a três dias antes de sua divulgação", reforça o estatístico Raphael Nishimura, diretor de amostragem do Survey Research Center, da Universidade de Michigan.
Um fator, por exemplo, que pode influenciar a decisão de última hora é o chamado "voto útil", quando o eleitor decide votar num candidato que não é sua escolha inicial porque avalia que ele tem mais chances de derrotar um outro concorrente com mais rejeição.
Neste ano, Lula tem tentado atrair para si ainda no primeiro turno os eleitores de outros candidatos como Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) com o discurso de que o voto útil no petista pode garantir sua vitória contra Bolsonaro já no dia 2 de outubro.
Adversários de Lula têm reagido, criticando a iniciativa como antidemocrática, enquanto apoiadores do petista dizem que faz parte da democracia tentar atrair o eleitor dos concorrentes e que seria importante vencer no primeiro turno para enfraquecer possíveis tentativas de Bolsonaro de questionar o resultado das urnas.
Uma das principais bandeiras do presidente tem sido levantar suspeitas infundadas sobre a segurança da urna eletrônica. Para críticos de Bolsonaro, o discurso contra o sistema eletrônico de votação e os ataques contra os institutos de pesquisa fazem parte da estratégia de preparar o terreno para questionar depois o resultado da eleição, em caso de derrota.
Mas o que diziam as pesquisas de 2018?
As pesquisas de 2018 mostram que as sondagens sobre a disputa presidencial realizadas pelos principais institutos de pesquisa captaram com antecedência a vantagem de Bolsonaro no primeiro turno da corrida eleitoral. Na campanha de segundo turno, as sondagens também sempre mostraram Bolsonaro bem à frente de seu adversário, o petista Fernando Haddad (confira os números ao longo da reportagem).
Já antes da votação do primeiro turno, quando os institutos testavam em seus levantamentos possíveis confrontos no segundo turno, as pesquisas mostraram diferentes resultados. Em alguns momentos indicavam que Bolsonaro perderia de Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT). Apenas uma pesquisa, divulgada no dia 28 de setembro, mostrou Haddad (PT) na frente de Bolsonaro num cenário de disputa no segundo turno. As outras sondagens após essa data já mostravam Bolsonaro à frente de Haddad em eventual segundo turno.
Apoiadores do presidente usam essa pesquisa que, inicialmente, indicava derrota de Bolsonaro no segundo turno para contestar a credibilidade das sondagens, argumento contestado pelos institutos.
"Cabe esclarecer que as simulações de 2º turno feitas no 1º turno das eleições são hipotéticas e nem sempre refletirão o que acontecerá de fato no 2º turno", explicou à BBC News Brasil Márcia Cavallari, diretora do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), instituto fundado por parte da equipe que atuava no antigo Ibope.
"O próprio resultado do 1º turno das eleições tem impacto no posicionamento dos eleitores no 2º turno, além da reacomodação das forças políticas. É uma nova eleição. Não se pode comparar as simulações de 2º turno feitas no 1º turno com as do 2º turno de fato. Os eleitores vão se posicionando ao longo da campanha eleitoral", acrescentou.
Já em alguns pleitos estaduais, os resultados das urnas surpreendeu. Para especialistas, isso foi reflexo de uma eleição atípica, marcada por uma forte rejeição ao sistema político, em que uma onda bolsonarista ganhou força muito próximo do pleito, impulsionando a votação de concorrentes até então pouco conhecidos, como Wilson Witzel (PSC) e Romeu Zema (Novo), eleitos, respectivamente, governadores do Rio de Janeiro e de Minas Gerais.
O cientista político Antonio Lavareda, que é presidente do Conselho Científico do Ipespe (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas), ressalta que, embora as pesquisas não tenham apontado a vitória dos dois, elas já apontavam uma tendência de crescimento.
"Nas pesquisas de véspera da eleição, pelo menos, já havia sinalização de crescimento do Witzel, do Zema, etc. Na verdade, o que houve nas últimas 48 horas, 24 horas antes da votação em 2018 — uma eleição crítica, uma eleição de mudança de paradigma de comportamento — foi uma onda bolsonarista que arrastou [para o cargo] alguns candidatos na reta final em alguns Estados", nota Lavareda.
Os números das pesquisas presidenciais
Vamos relembrar a evolução das pesquisas na última eleição presidencial.
Há quatro anos, as sondagens dos institutos brasileiros mais tradicionais indicavam, inicialmente, Lula como favorito para vencer a eleição. No entanto, o petista foi barrado daquela disputa presidencial em 1º de setembro de 2018 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) porque estava condenado em segunda instância (as condenações foram anuladas em 2020).
Assim que o ex-presidente foi substituído por Fernando Haddad como candidato do PT na corrida presidencial daquele ano, Bolsonaro passou liderar as principais pesquisas de intenção de voto para o primeiro turno.
Vejamos os dados de 2018 do Ibope, instituto de longa tradição no Brasil que fechou as portas em 2021 e cujos executivos fundaram o atual Ipec.
No levantamento Ibope divulgado em cinco de setembro, Bolsonaro aparecia com 22% das intenções de voto, seguido por Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT), cada um com 12%. Logo atrás vinha Geraldo Alckmin (PSDB), com 9%, e Haddad, com 6%. Outros concorrentes somavam 11%. Havia ainda 21% de pessoas com intenção de votar branco ou nulo, e outros 7% que ainda não sabiam em quem votar ou não responderam.
Nas semanas seguintes, as intenções de voto de Bolsonaro e Haddad cresceram continuamente, deixando para trás os demais concorrentes. No levantamento Ibope divulgado em 6 de outubro, véspera do primeiro turno, Bolsonaro aparecia com 36% ante 22% de Haddad.
Já Ciro aparecia quase estável, com 11%, Alckmin havia caído um pouco mais para 7%, e Marina havia derretido para 3%. A soma dos demais candidatos também recuou para 8%. O percentual dos que pretendiam votar branco ou nulo também teve queda expressiva (7%), enquanto os que não sabiam em quem votar ficou em 5%.
Ou seja, ao longo da campanha de primeiro turno, Bolsonaro e Haddad conseguiram atrair votos de outros candidatos, assim como eleitores que antes estavam indecisos ou pretendiam anular seu voto.
Considerando apenas os votos válidos (sem contabilizar brancos e nulos, dado que é usado pelo TSE para definir os eleitos), Bolsonaro tinha naquela pesquisa 41%, enquanto Haddad tinha 25%.
Já na pesquisa de boca de urna, que é realizada no dia da votação, o desempenho dos dois candidatos ficou muito próximo do resultado final. O levantamento do Ibope de sete de outubro mostrou o então candidato do PSL com 45% dos votos válidos, e o petista com 28%. Já o resultado do TSE foi 46% para Bolsonaro e 29% para Haddad, ou seja, dentro da margem de erro de dois pontos percentuais da pesquisa de boca de urna.
"A pesquisa não tem o papel de antecipar o resultado eleitoral. A pesquisa eleitoral capta atitudes e as intenções de voto, não mede o comportamento do eleitor. Apenas as pesquisas de boca de urna (feitas no dia da votação, logo que as urnas fecham) podem ser comparadas com os resultados oficiais, pois estas estão medindo comportamento", afirma Cavallari.
Embora as pesquisas não tenham a função de prever o resultado das urnas, elas costumam captar bem qual a tendência da evolução do voto. "Via de regra, observamos que os resultados oficiais são um ponto a mais nas curvas de tendência apontadas pelas pesquisas", ressalta a diretora do Ipec.
A evolução das intenções de voto para o primeiro turno de 2018 captada nas pesquisas Ibope foi a mesma de outros institutos, como Datafolha e Ipespe.
Para Lavareda, Haddad cresceu e chegou ao segundo turno devido a uma transferência dos votos de Lula para o novo candidato do PT.
Já Bolsonaro foi capaz de catalisar o forte sentimento contrário aos partidos políticos mais tradicionais, em especial o antipetismo, que marcou a disputa de 2018. Na medida em que ele despontou como o o candidato mais forte para derrotar o PT, partido que havia ganhado as quatro eleições presidenciais anteriores, Bolsonaro cresceu na preferência do eleitor que não desejava um novo governo petista naquele momento, analisa o cientista político.
As pesquisas sobre segundo turno
Ao questionar a credibilidade das pesquisas, apoiadores de Bolsonaro costumam dizer que os levantamentos sobre o segundo turno de 2018 mostravam que o atual presidente perderia contra todos os outros principais concorrentes.
Nas redes sociais, o argumento costuma vir acompanhado de uma pesquisa do Datafolha de 28 de setembro de 2018, ou seja, mais de uma semana antes do primeiro turno (7 de outubro).
Essa sondagem mostrava que, naquele momento, as intenções de voto indicavam a derrota de Bolsonaro para Haddad (45% a 39%), Alckmin (45% a 38%) e Ciro (48% a 38%).
As três pesquisas seguintes do Datafolha, porém, já mostravam Bolsonaro numericamente à frente de Haddad em um possível segundo turno, embora empatados dentro da margem de erro. Na última delas, na véspera do primeiro turno de 2018, o então candidato do PSL aparecia com 45% das intenções de voto em um eventual segundo turno contra o petista, que, por sua vez, marcava 43%.
Com o resultado da votação do primeiro turno confirmando a disputa entre Bolsonaro e Haddad, todas as pesquisas realizadas durante a campanha do segundo turno passaram a captar uma larga vantagem do atual presidente sobre o candidato petista.
"Nós fazemos as simulações de segundo turno no decorrer do primeiro turno, elas refletem a opinião do eleitor nesse momento de primeiro turno. O segundo turno é outra eleição, nós começamos do zero, não consideramos os resultados dessas simulações obtidas no primeiro turno", disse à reportagem Luciana Chong, diretora do Datafolha.
O último Datafolha, divulgado na véspera do segundo turno, indicava Bolsonaro com 55% dos votos válidos e o petista com 45%. O resultado das urnas contabilizado pelo TSE foi: Bolsonaro eleito com 55,13% dos votos válidos, Haddad derrotado com e 44,87%.
"Pesquisa não é prognóstico, mas a pesquisa deve dar pelo menor uma ideia de ordem de colocação (dos candidatos) e de uma certa distância (entre eles). E as pesquisas de segundo turno (de 2018) apresentaram isso: ordem correta e uma certa distância parecida com o que deu", nota Lavareda, do Ipespe.
Surpresas nas disputas estaduais
A credibilidade dos institutos de pesquisa também tem sido questionada devido a grandes diferenças observadas em 2018 entre o resultado das urnas e as pesquisas de intenção de voto em algumas disputas estaduais.
No Rio de Janeiro, por exemplo, o governador que acabou eleito, Wilson Witzel (PSC), aparecia na pesquisa Ibope divulgada na véspera do primeiro turno empatado em terceiro lugar com Índio da Costa (PSD), com 12% das intenções de votos válidos, atrás de Eduardo Paes (DEM), com 32%, e Romário (Podemos), com 20%.
Já a pesquisa de boca de urna do mesmo instituto, feita no dia da votação, já mostrava ele em primeiro lugar, com 39% da preferência do eleitor (considerando votos válidos), seguido de Paes (21%), números muito próximos do resultado das urnas (41,28% para Witzel e 19,56% para Paes).
Witzel acabou derrotando Paes no segundo turno, cenário antecipado pelas pesquisas dos principais institutos realizadas após o primeiro turno.
Movimento semelhante aconteceu em Minas Gerais, em que o atual governador, Romeu Zema (Novo), também saiu de terceiro na pesquisa Ibope da véspera da eleição para primeiro lugar no resultado do TSE para o primeiro turno. Na etapa final, ele enfrentou e derrotou Antonio Anastasia (PSDB), resultado antecipado pelas pesquisas do segundo turno.
Também chamou atenção a disputa mineira pelo Senado. As pesquisas indicavam que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) seria eleita. Ela terminou em quarto lugar e foram eleitos Rodrigo Pacheco (DEM) e o Jornalista Carlos Viana (PHS).
Algo em comum entre Witzel, Zema, Viana, e outros candidatos eleitos em 2018, é que eles disputavam um cargo político pela primeira vez e venceram colando suas candidaturas na de Bolsonaro.
Conforme explicou Lavareda, houve uma onda bolsonarista na eleição de quatro anos atrás que impulsionou uma série de candidatos desconhecidos. Além disso, ele ressalta que é mais comum o resultado das urnas divergir das pesquisas para eleições estaduais, que medem as intenções de voto para o governador e Senado, do que das pesquisas para presidente.
Isso ocorre não por causa de "erros" das pesquisas, ressalta Lavareda, mas porque nas eleições estaduais é mais comum que uma parcela maior de eleitores só defina seu voto muito próximo do pleito ou mesmo no dia da votação.
A pesquisa do Ibope para o Senado de Minas Gerais divulgada dia 6 de outubro (véspera do primeiro turno), aquela que dava vitória para Dilma, indicava que 31% dos eleitores não sabiam ainda em quem votar, por exemplo.
Para Lavareda, a eleição de 2022 terá menos surpresas porque neste ano não há mais aquela onda antipolítica que marcou o pleito de 2018.
"Teremos muito menos mudanças abruptas de última hora, mas pode acontecer. Nas eleições para Senado, por exemplo, em que é baixíssima a taxa de interesse do eleitor, o que podemos ver pela intenção de voto espontânea (quando a pesquisa pergunta a intenção de voto antes de apresentar os nomes dos candidatos)", nota Lavareda.
"A intenção de voto espontânea na pesquisa para eleição presidencial é elevadíssima. Já para governador é menos elevado e para senador é baixo. As pessoas vão formar sua preferência na última hora", reforça.
*Texto publicado originalmente no portal da BBC News Brasil.
Datafolha: 54% afirmaram ter vivido situação de constrangimento ou ameaça
G1*
A dois meses do primeiro turno, 54% dos eleitores afirmaram ter vivido alguma situação de constrangimento, ameaça física ou verbal em razão de suas posições políticas nos últimos meses, aponta pesquisa Datafolha divulgada neste domingo (31) pelo jornal "Folha de S.Paulo".
O contingente é mais alto entre simpatizantes do PT (63%), eleitores de Lula (58%), mais instruídos (62%), que reprovam o governo Bolsonaro (62%), autodeclarados pretos (60%) e homossexuais e bissexuais (65%).
Entre todos os entrevistados, 49% dos eleitores brasileiros diz ter deixado de conversar sobre política com amigos e familiares nos últimos meses para evitar discussões. Além disso, 15% disseram já ter recebido ameaça verbal e 7%, física.
A pesquisa Datafolha, contratada pela Folha, ouviu 2.556 pessoas em 183 cidades do país entre quarta (27) e quinta (28). A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos. O levantamento foi registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com o número BR-01192/2022.
O Datafolha apresentou três situações de constrangimento ou coação e pediu aos entrevistados que respondessem se já passaram ou não por casos do tipo:
- Deixou de conversar com amigos ou familiares sobre política para evitar discussões
- Foi ameaçado verbalmente por causa das suas posições políticas
- Foi ameaçado fisicamente por causa das suas posições políticas
Apoiadores de Lula são mais afetados
Entre aqueles que deixaram de conversar com amigos ou familiares sobre política para evitar discussões, o índice é maior entre os eleitores do ex-presidente Lula (54%). Entre os apoiadores do presidente Bolsonaro, o percentual é de 40%.
Entre os que afirmam ter sofrido ameaça verbal, o índice passa a 19% entre os que têm intenção de votar em Lula. Já entre os que dizem votar em Bolsonaro, o índice é de 12%.
Em relação a ameaças físicas, o índice é de 9% entre eleitores de Lula e de 5% entre os de Bolsonaro.
Redes sociais
O mesmo comportamento é observado nas redes sociais. O Datafolha aponta que 53% dos entrevistados mudaram a postura nas redes sociais para evitar atritos com amigos e familiares e 41% deixaram de comentar e publicar conteúdo eleitoral.
O Datafolha apresentou três situações vividas entre quem tem redes sociais:
- Deixou de comentar ou compartilhar alguma coisa sobre política em grupo de WhatsApp para evitar discussões com amigos ou familiares
- Deixou de publicar ou compartilhar alguma coisa sobre política nas suas redes sociais para evitar discussões com amigos ou familiares
- Saiu de algum grupo de WhatsApp para evitar discussões políticas com amigos ou familiares
No WhatsApp, 43% pararam de falar sobre política e 19% saíram de algum grupo.
Também neste caso, as taxas são mais altas entre os eleitores de Lula do que entre os de Bolsonaro. Na primeira situação, o índice entre apoiadores do ex-presidente é de 46%, contra 38% entre apoiadores do atual presidente.
Na segunda situação, 44% ante 35%, e na terceira, 23% ante 13%.
Embora 78% dos eleitores tenham pelo menos um aplicativo de mensagens, só 8% participam de grupos de apoio aos dois presidenciáveis que lideram a pesquisa, sendo 4% em grupos sobre Lula e 4%, sobre Bolsonaro.
Nos dois lados, 13% responderam seguir o perfil de seu candidato em outras redes sociais.
*Texto publicado originalmente no g1.
Em meio a disputas internas, MDB oficializa candidatura de Simone Tebet à Presidência
Luiz Felipe Barbiéri e Paloma Rodrigues*, G1 e TV Globo
Em convenção virtual, o MDB oficializou nesta quarta-feira (27) a candidatura da senadora Simone Tebet (MS) à Presidência da República nas eleições deste ano. O placar na votação interna do partido foi de 262 votos favoráveis e 9 contrários.
As convenções nacionais marcam a confirmação de um candidato. Conforme calendário fixado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o período vai de 20 de julho a 5 de agosto. Após a convenção, o partido fica apto a registrar a candidatura — o prazo é o dia 15 de agosto.
"A candidatura da futura Presidente da República do Brasil teve aprovação de 97% da nossa convenção. Hoje, anunciamos esse resultado, com muita alegria. Não percorremos o caminho mais fácil da velha política, do toma lá dá cá, das negociações não republicanas", afirmou o presidente nacional do partido, Baleia Rossi (SP).
"Apresentamos hoje ao povo brasileiro uma alternativa equilibrada, moderada, uma alternativa aos polos que são colocados e que infelizmente não dão respostas ao nosso país. A candidatura da Simone Tebet é uma candidatura da pacificação nacional. O povo brasileiro quer paz".
Delegados de Amazonas, Ceará, Piauí e Bahia, representantes de estados considerados “lulistas” , participaram da votação. Apenas Alagoas e Paraíba não registraram votos. No total, 182 dos 279 delegados aptos a votar participaram. O número de votos é maior do que os votantes porque alguns delegados têm direito a mais de um voto.
Também nesta quarta, em convenção em Brasília, a federação formada por PSDB e Cidadania formalizou o apoio à candidatura de Simone Tebet.
Pesquisa Datafolha divulgada em junho deste ano mostrou Simone Tebet em quinto lugar, com 1% das intenções de voto, atrás do ex-presidente Lula (PT), com 47%; do presidente Jair Bolsonaro (PL), com 28%; do ex-ministro Ciro Gomes (PDT), com 8%; e do deputado André Janones (Avante), com 2%.
Apesar de oficializar a candidatura de Simone Tebet, o MDB está dividido. Isso porque parte das lideranças do partido defende apoio a Lula (leia detalhes mais abaixo).
Simone Tebet, porém, conta com o apoio do presidente nacional do MDB, Baleia Rossi (SP). E após investidas de Lula sobre setores do MDB, o partido divulgou uma nota assinada por dirigentes em 19 estados reiterando o apoio à senadora.
*Texto publicado originalmente no g1
Datafolha: Avaliação de Bolsonaro piora, e reprovação de 53% é novo recorde
Rejeição segue tendência em pesquisa, após semana mais tensa do mandato com atos de raiz golpista do 7 de Setembro
Igor Gielow / Folha de S. Paulo
Após a semana mais tensa de seu mandato, na qual pregou golpismo para multidões no 7 de Setembro, o presidente Jair Bolsonaro segue com sua reprovação em tendência de alta. Ela chegou a 53%, pior índice de seu mandato.
Foi o que aferiu o Datafolha nos dias 13 a 15 de setembro, quando o instituto ouviu presencialmente 3.667 pessoas com mais de 16 anos, em 190 municípios de todo o país. A margem de erro é de dois pontos para mais ou menos.
A oscilação positiva dentro da margem de erro em relação ao recorde apontado em levantamento feito em julho, de 51% de reprovação, dá sequência à curva ascendente desde dezembro do ano passado.
O presidente é avaliado como bom ou ótimo por 22%, oscilação negativa dos 24% da pesquisa anterior, que já indicava o pior índice de seu mandato. O consideram regular 24%, mesmo índice de julho.
Isso sugere que as cenas do 7 de Setembro, com a avenida Paulista cheia por exemplo, reproduzem uma fotografia do nicho decrescente do bolsonarismo entre a população. Se queria fazer algo além de magnetizar fiéis, Bolsonaro fracassou.
MANIFESTAÇÕES PRÓ-BOLSONARO NO 7 DE SETEMBRO
Por outro lado, o recuo do presidente após a pressão institucional contra sua retórica golpista mirando o Supremo Tribunal Federal, também não trouxe impacto perceptível na forma de uma queda abrupta de apoio ao presidente na sua base —como havia sido aferido nas interações de rede social.
Essa tendência de rejeição segue constante neste ano, após um 2019 marcado pelo racha em três partes iguais da opinião da população sobre o presidente e um 2020 que o viu se recuperar da resposta errática à pandemia da Covid-19 com a primeira fase do auxílio emergencial aos afetados pela crise.
Neste ano, com a ajuda menor, não houve reação. A agudização da crise política após a cooptação final do centrão como um seguro contra impeachment, por opção exclusiva de Bolsonaro, se mostra uma aposta insuficiente em termos do conjunto da população.
Também não houve uma mudança que possa ser atribuída aos esvaziado atos convocados por entidades de direita no domingo passado (12).
Não faltaram crises desde o mais recente levantamento do Datafolha. Bolsonaro fez desfilar tanques e blindados em Brasília, sem sucesso na tentativa de intimidar o Congresso que não aceitou a volta do voto impresso.
A economia registra problemas em série, a começar pela alta da inflação e da ameaça de crise energética no horizonte próximo.
O estouro do teto de gastos é uma hipótese cada vez mais comentada, e há pouca margem de manobra orçamentária para apostar numa recuperação de popularidade amparada em pacotes populistas.
Isso tem levado ao desembarque de setores usualmente simpáticos ao Planalto, como parte do agronegócio e do mercado financeiro. Fora a contínua crise sanitária que já levou quase 590 mil vidas no país e a percepção de corrupção federal evidenciada na CPI da Covid.
Nesta rodada, o Datafolha identificou um aumento mais expressivo de rejeição ao presidente entre quem ganha de 5 a 10 salários mínimos (41% para 50%, de julho para cá) e entre as pessoas com mais de 60 anos (de 45% para 51%).
Significativamente, Bolsonaro passou a ser mais rejeitado no agregado das regiões Norte e Centro-Oeste (16% da amostra), onde costuma ter mais apoio e de onde saíram muitos dos caminhoneiros que ameaçaram invadir o Supremo na esteira do 7 de Setembro. Sob muitos protestos, eles depois foram demovidos pelo pressionado presidente.
Lá, sua rejeição subiu de 41% para 48%, ainda que esteja marginalmente abaixo da média nacional.
O perfil de quem rejeita o presidente segue semelhante ao já registrado antes. Péssima notícia eleitoral, já que perfazem 51% da população na amostra, 56% daqueles que ganham até 2 salários mínimos o acham ruim ou péssimo, assim como 61% dos que têm curso superior (21% da amostra).
Aqui, nas camadas menos ricas e escolarizadas, há um lento espraiamento das visões negativas sobre o presidente. Na já citada camada de quem ganha até 2 mínimos, em julho eram 54% os que o rejeitavam. Na daqueles que recebem de 2 a 5 mínimos, a rejeição foi de 47% para 51%, oscilação positiva no limite da margem de erro.
Ambos os grupos somam 86% da população na amostragem do Datafolha. Outro grupo importante, o daqueles com ensino fundamental (33% da amostra) viu uma subida ainda maior, de 49% para 55%, enquanto houve estabilidade (49% para 48%) entre quem cursou o nível médio (46% dos brasileiros).
Em nichos, há rejeições bastante expressivas entre gays e bissexuais (6% dos ouvidos), de 73%, e entre estudantes (4%): 63%.
Na mão contrária, os mais ricos são o grupo em que a reprovação do presidente mais caiu de julho para cá, de 58% para 46%, retomando pontualmente uma correlação que remonta à campanha que levou o capitão reformado à Presidência.
Entre eles, 36% o consideram ótimo e bom. Integram esse contingente 3% da população pesquisada. O Sul (15% da amostra), bastião do presidente desde a disputa de 2018, segue avaliando ele melhor do que outras regiões: 28% dos ouvidos lá o aprovam.
Pormenorizando, os empresários (2% dos ouvidos) permanecem com os mais fiéis bolsonaristas, com 47% de aprovação. É o único grupo em que o ótimo e bom supera o ruim e péssimo (34%).
No segmento evangélico, outra base do bolsonarismo, as notícias não são boas para o presidente. Desde janeiro, a reprovação ao presidente já subiu 11 pontos, e hoje está superior (41%) à sua aprovação (29%). Na rodada anterior, havia empate técnico (34% a 37%, respectivamente).
Isso ocorre em meio à campanha por ora frustrada de emplacar o ex-advogado-geral da União André Mendonça, que é pastor, para uma vaga no Supremo.
A tensão institucional deste julho para cá foi das maiores de um governo já acostumado a bater recordes no setor. Igualmente, Bolsonaro só perde para Fernando Collor de Mello (então no PRN) em impopularidade a esta altura do mandato, contando aqui apenas presidentes eleitos para um primeiro mandato.
O hoje senador alagoano tinha neste ponto de seu governo 68% de rejeição, ante 21% de avaliação regular e só 9% de aprovação. Acabaria sofrendo a abertura de um processo impeachment na sequência, em 1992, renunciando para evitar a perda de direitos políticos.
Fernando Henrique Cardoso (PSDB), por sua vez, registrava 16% de ruim e péssimo, 42% de regular e 39% de aprovação. O petista Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, marcava 23%, 40% e 35%, respectivamente, e sua sucessora Dilma Rousseff (PT), semelhantes 22%, 42% e 36%.
DEMOCRACIA BRASILEIRA
Fonte: Folha de S. Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/09/datafolha-avaliacao-de-bolsonaro-piora-e-reprovacao-de-53-e-novo-recorde-do-presidente.shtml
Armando Castelar Pinheiro: As nuvens e o cenário eleitoral
A pesquisa do Datafolha divulgada há uma semana sugere um quadro eleitoral bem definido, com forte polarização entre o presidente Bolsonaro e o ex-presidente Lula, com grande vantagem para este último. Juntos, os dois respondem por 74% das intenções de voto dos que declararam sua preferência, com os restantes 26% pulverizados entre outros seis candidatos. A vantagem de Lula é clara: tem quase o dobro das intenções de voto de Bolsonaro, sua taxa de rejeição é bem menor (36% x 54%) e, segundo a pesquisa, venceria com facilidade no segundo turno, com 72% a mais de votos que o atual presidente.
A polarização interessa tanto a Bolsonaro como a Lula e há uma chance grande de que ela sobreviva até as eleições. Por outro lado, a ida às urnas é só daqui a 17 meses e, na memorável metáfora de Magalhães Pinto, ex-governador de Minas Gerais, “política é como nuvem, você olha e ela está de um jeito, olha de novo e ela já mudou”.
O que pode mudar esse quadro? Penso que pelo menos três fatores podem influir nessas preferências de voto: o avanço da vacinação, a recuperação da economia doméstica e o cenário externo.
Não têm faltado erros, tropeços e incertezas em nosso processo de vacinação. Porém, também há acertos e, graças a estes, e à nossa rede de saúde pública, experiente em campanhas de vacinação, esta tem avançado. Já foram aplicadas 55 milhões de doses e a expectativa é que, ainda este semestre, os mais vulneráveis estejam em grande parte protegidos.
Este mês, o Banco UBS publicou estudo prevendo que o Brasil atinja um patamar de relativa imunidade coletiva até o fim de setembro. Essa previsão se baseia em duas constatações: 1- que a vacina está reduzindo os casos graves naqueles que a receberam e 2 – que 98,5% das mortes, 96,2% das internações em CTI e 94,7% das hospitalizações até mês passado foram do grupo com 30 anos ou mais. Assim, conclui o estudo, se vacinarmos esse grupo, que compreende 56,1% da população, a pandemia ficaria menor. E essa meta, mesmo com hipóteses conservadoras sobre a disponibilidade de vacinas, seria atingível até setembro.
Outras instituições preveem que a imunidade coletiva só venha no final do ano, ainda que apontando que, dado que a vacinação foca nos grupos de risco, a saúde pública vai começar a melhorar antes disso. Em um ou outro caso, porém, a expectativa é que a pandemia perca força a partir do início de 2022. Isso reduziria a importância desse tema nas eleições de outubro, diferentemente do que ocorreu nas últimas eleições americanas.
A economia surpreendeu positivamente no início de 2021. Apesar dos efeitos contracionistas do fim do Auxílio Emergencial e das restrições decorrentes da segunda onda da pandemia, o PIB deve ter crescido em torno de 0,5% no primeiro trimestre, na série com ajuste sazonal. Ainda se espera uma queda do PIB no trimestre, mas para a segunda metade do ano a projeção é de recuperação da atividade.
Obviamente, se confirmado, o controle da pandemia no último trimestre do ano vai impulsionar a economia. Mesmo que isso se dê inicialmente de forma moderada, pelo receio das pessoas de se exporem, o impulso vai ganhar força ao longo de 2022.
É difícil prever quão forte ele será. A previsão do Focus é de alta do PIB de 2,4% em 2022, mas penso que pode ser mais, devido ao efeito positivo dos preços elevados das commodities e de as famílias gastarem a grande poupança acumulada durante a pandemia. A retomada da atividade será mais intensa nos serviços, beneficiando a geração de empregos, inclusive informais, favorecendo trabalhadores com maior propensão a consumir.
Também se espera um impulso fiscal positivo, ou pelo menos não tão negativo quanto este ano. Isso não só pela típica sazonalidade de anos eleitorais, mas também porque a regra do Teto de Gastos permitirá um aumento real dos gastos. Isso pois a inflação acumulada em 12 meses até junho, que é usada para ajustar o Teto, deve ficar em 8%, caindo para 5% no ano fechado, que interessa mais para reajuste de gastos obrigatórios.
A recuperação da economia poderá ser ajudada, ou não, pelo cenário externo. Hoje o foco está na alta da inflação e no receio de a reversão dos estímulos monetários nos EUA se iniciar já no fim deste ano. No passado, quando os EUA reduziram esses estímulos, os emergentes sofreram. Por outro lado, também lá fora o avanço da vacinação estimulará a atividade econômica e o apetite pelo risco. Se, de fato, nosso crescimento acelerar, a entrada de capital externo tende a aumentar, também ajudada pela Selic mais alta, e o real pode apreciar mais frente ao dólar, que segue sobrevalorizado para padrões históricos. Isso criaria um clima econômico mais favorável, inclusive ao investimento.
Claro, esse é apenas um cenário. Uma terceira onda é possível, a atividade pode outra vez surpreender, desta vez para baixo, e a normalização monetária americana pode nos atrapalhar muito. Se tivesse de apostar, porém, diria que o céu sob o qual se realizará a eleição de 2022 será menos tempestuoso que hoje, com “nuvens” mais voltadas para o futuro e menos para o passado.
*Armando Castelar Pinheiro é professor da FGV Direito Rio e do Instituto de Economia da UFRJ e pesquisador-associado do FGV Ibre.
Fonte:
Valor Econômico
https://valor.globo.com/opiniao/coluna/as-nuvens-e-o-cenario-eleitoral.ghtml
Datafolha: Lula lidera corrida eleitoral de 2022 e marca 55% contra 32% de Bolsonaro no 2º turno
Fábio Zanini, Folha de S. Paulo
Pouco mais de dois meses após ter seus direitos políticos restabelecidos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera a corrida para a Presidência com margem confortável no primeiro turno e venceria o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na segunda etapa, revela pesquisa Datafolha.
O petista alcança 41% das intenções de voto no primeiro turno, contra 23% de Bolsonaro.
Em um segundo pelotão, embolados, aparecem o ex-ministro da Justiça Sergio Moro (sem partido), com 7%, o ex-ministro da Integração Ciro Gomes (PDT), com 6%, o apresentador Luciano Huck (sem partido), com 4%, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que obtém 3%, e, empatados com 2%, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) e o empresário João Amoêdo (Novo).
Somados, os adversários de Lula chegam a 47%, apenas seis pontos percentuais a mais do que o petista. Outros 9% disseram que pretendem votar em branco, nulo, ou em nenhum candidato, e 4% se disseram indecisos.
O levantamento foi realizado com 2.071 pessoas, de forma presencial, em 146 municípios, nos dias 11 e 12 de maio. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
Num eventual segundo turno contra Bolsonaro, Lula levaria ampla vantagem, com uma margem de 55% a 32%. Ele receberia a maioria dos votos dados a Doria, Ciro e Huck, enquanto o presidente herdaria a maior fatia dos que optam por Moro, seu ex-ministro da Justiça e atual desafeto.
O petista também venceria na segunda etapa contra Moro (53% a 33%) e Doria (57% a 21%).
Já Bolsonaro empataria tecnicamente com Doria, marcando 39%, contra 40% para o tucano. E perderia para Ciro, obtendo 36%, contra 48% para o pedetista.
É a primeira pesquisa de intenção de voto do Datafolha feita desde que o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, anulou as condenações judiciais do petista, com a justificativa de que a Justiça Federal em Curitiba não era o foro competente para as ações.
A decisão de Fachin depois foi referendada pelo plenário do STF, que deu a Lula outra vitória relacionada à Lava Jato: o reconhecimento de que o ex-juiz Sergio Moro foi parcial ao condenar o petista no caso do tríplex de Guarujá (SP).
As decisões do Supremo não significam a absolvição de Lula, uma vez que as quatro ações penais do ex-presidente na Lava Jato foram transferidas para Brasília.
Na prática, o petista readquiriu o direito de disputar a Presidência no ano que vem, e não perdeu tempo em retomar contatos políticos.
Após ter sido imunizado com as duas doses contra a Covid-19, ele viajou a Brasília na semana passada, onde teve encontros com representantes de diversos partidos.
Além de contatos com a esquerda, também conversou com líderes do centrão e até do MDB, partido que capitaneou o impeachment conta a ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016.
Assim que a pandemia permitir, ele pretende também realizar viagens por estados brasileiros, numa espécie de pré-campanha. Segundo aliados, Lula pretende se apresentar como um político moderado, de centro, e cogita repetir a fórmula de suas duas vitoriosas campanhas presidenciais, em 2002 e 2006, com um empresário como vice.
Nesta pesquisa, Lula mantém seu padrão tradicional de apoio, com índices superiores de intenção de voto em segmentos de menor renda e escolaridade.
Ele marca 51% entre os que declaram ter ensino fundamental, e 47% na faixa de renda familiar de até dois salários mínimos mensais.
Por outro lado, seu índice cai para 30% nos que têm curso superior, e 18% no estrato mais rico, o de renda maior do que dez salários mínimos. Mais uma vez, o Nordeste demonstra ser o maior reduto eleitoral para o petista, onde ele atinge 56%.
Bolsonaro, por sua vez, vive um momento de abalo em sua imagem, em razão da criticada gestão da pandemia, que é objeto de uma CPI no Senado.
Ele tem 36% das intenções de voto entre os que declaram estar vivendo normalmente, mesmo com a pandemia, em empate técnico com Lula (33%). Bolsonaro tem promovido aglomerações, e muitas vezes dispensa o uso de máscaras.
Na outra ponta, aqueles que dizem estar totalmente isolados apoiam Lula de forma maciça (58%), contra apenas 8% dados a Bolsonaro.
O presidente tem mais apoio do que a média entre os homens (29%), os eleitores que têm ensino médio (26%) e os de renda de 5 a 10 salários mínimos (30%).
O presidente perde para o petista em todas as regiões, mas tem melhor desempenho no Sul e no Centro-Oeste/Norte, nas quais é forte o agronegócio, uma de suas grandes bases de apoio. Tem 28% em ambas.
Em outro segmento que costuma dar apoio ao presidente, o dos evangélicos, Bolsonaro tem 34%. Mas Lula também vai bem neste grupo, com 35% das intenções de voto, uma situação de empate técnico.
Bolsonaro também sofre os efeitos do aumento do desemprego e do repique da inflação, sobretudo a de alimentos.
No mês passado, o pagamento do auxílio emergencial pelo governo federal foi retomado, mas com um valor mais baixo, o que limitou a recuperação da popularidade do presidente. Dentre os que receberam o benefício, 22% declaram intenção de voto em Bolsonaro, o que não destoa da média geral aferida pelo instituto.
Entre os que se declaram desempregados à procura de trabalho, Bolsonaro tem apenas 16% das intenções de voto. O único estrato profissional em que ele lidera é o dos empresários, com 49% contra 26% de Lula.
Com o avanço da CPI da Covid, os apoiadores do presidente retomaram a participação em manifestações de rua, muitas vezes ignorando os protocolos de proteção contra a pandemia. Isso ocorreu em diversas cidades no Dia do Trabalho, enquanto o próprio presidente prestigiou um ato de motociclistas em Brasília no domingo (8).
As últimas semanas também viram uma intensa movimentação de Ciro, que busca dar uma guinada ao centro, após a volta de Lula ao cenário eleitoral.
Seu partido contratou o publicitário João Santana, que trabalhou com o PT, para mostrá-lo como uma alternativa à polarização representada por Lula e Bolsonaro. Em vídeos divulgados em redes sociais, Santana também tem buscado suavizar a imagem do ex-ministro, conhecido pelo pavio curto.
Ele se sai melhor entre os que têm ensino superior (11%) e no estrato mais rico (13%).
A pesquisa revela ainda que Doria segue tendo dificuldades para capitalizar politicamente o fato de ter trazido ao Brasil a Coronavac, parceria do Instituto Butantan com um laboratório chinês.
Até o momento, cerca de 80% das vacinas aplicadas no Brasil são fruto desta parceria, mas o tucano não tem conseguido transformar esse fato em intenções de voto.
Com relação aos demais candidatos, há dúvidas se vão mesmo concorrer. Huck teria de deixar um lucrativo contrato com a TV Globo, enquanto Moro desgastou-se após a série de derrotas sofrida pela Lava Jato.
54% DIZEM QUE NÃO VOTARIAM EM BOLSONARO DE JEITO NENHUM EM 2022
Para se reeleger em 2022, Jair Bolsonaro também terá de enfrentar um alto índice de rejeição, que ultrapassa metade do eleitorado e poderá ser um complicador, especialmente em um segundo turno.
Dentre os entrevistados pela pesquisa Datafolha, 54% dizem que jamais votariam nele.
A rejeição de Lula é a segunda maior, com 36%, seguida pelas de Doria (30%), Huck (29%), Moro (26%) e Ciro (24%).
Fonte:
Folha de S. Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/05/datafolha-lula-lidera-corrida-eleitoral-de-2022-e-marca-55-contra-32-de-bolsonaro-no-2o-turno.shtml
Folha de S. Paulo: Para 79%, pandemia de coronavírus está fora do controle, e medo é recorde, mostra Datafolha
Pesquisa coincide com colapso hospitalar país afora e registros diários de quase 3000 mortes por Covid
Angela Pinho, Folha de S. Paulo
No momento em que o sistema de saúde entra em colapso por todo o país e o governo Bolsonaro anuncia seu quarto ministro da área, o medo de pegar o coronavírus e a percepção de que a pandemia está fora de controle atingem níveis recordes.
Pesquisa Datafolha mostra que 79% dos brasileiros acham que a pandemia está sem controle, ante 62% que manifestavam essa opinião em janeiro.
Outros 18% dizem que a situação está parcialmente controlada, 2% que está totalmente controlada, e 1% não sabe.
O levantamento, com margem de erro de dois pontos percentuais, foi feito por telefone com 2.023 pessoas de todos os estados do país nos dias 15 e 16 de março.
No domingo (14), as movimentações para a substituição do general Eduardo Pazuello do posto de ministro da Saúde ganharam força, com a ida da médica Ludhmila Hajjar a Brasília para uma conversa com o presidente Jair Bolsonaro.
Ela acabou por recusar o cargo, e a troca foi efetivada na segunda-feira, com o cardiologista Marcelo Queiroga no lugar de Pazuello, desgastado após a crise da falta de oxigênio em Manaus e atrasos e falhas logísticas na distribuição de vacinas.[ x ]
Queiroga assume em meio a uma rápida e trágica escalada de mortes pela Covid-19. Nesta quinta-feira (18), o país completou 20 dias seguidos de recordes na média móvel de óbitos, que chegou a 2.096.
Desde o início da pandemia, quase 288 mil brasileiros já morreram pela doença.
Em meio às notícias sobre falta de leitos para pacientes em diversas partes do país, a parcela da população com temor de se infectar pelo vírus alcançou nível recorde.
A pesquisa Datafolha mostra que 55% dos entrevistados declaram ter muito medo, enquanto o levantamento anterior, de janeiro, registrou 44%. Outros 27% têm um pouco de medo, 12% não têm, e 7% relataram já ter contraído a doença.
Diz ter muito medo uma parcela mais expressiva das mulheres (61% ante 48% dos homens), dos mais velhos (58% da faixa etária com 45 anos ou mais, ante 48% dos de 16 a 24) e moradores do Nordeste (61% contra 44% da região Sul).
Mas mesmo entre os homens houve aumento significativo entre os que manifestaram ter muito temor da doença: de 33% no levantamento em janeiro, essa parcela foi para 48% entre eles. Entre elas, passou de 55% para 61%.
Também passou a declarar muito medo uma parcela maior dos segmentos de jovens de 16 a 24 anos (foi de 34% para 48%) e dos mais ricos, com renda mensal de mais de dez salários mínimos (passou de 41% para 55%).
Esses estratos têm sido particularmente afetados na atual fase da pandemia. Na esteira de aglomerações no final do ano e no Carnaval, médicos têm observado uma presença maior de pacientes jovens nas UTIs.
Em um cenário de esgotamento generalizado da capacidade de atendimento, o acesso a plano de saúde não é mais suficiente para garantir atendimento. Hospitais privados de ponta têm unidades lotadas, e parte deles já chegou a pedir leitos para o SUS em São Paulo.
O colapso na saúde no país contrasta com cenas de aglomerações e eventos clandestinos. Em São Paulo, onde já se registra morte por falta de leito de UTI, o índice de de isolamento social estava em 43% na quarta-feira (17), longe da meta do governo paulista de 50%.
A pesquisa Datafolha mostra que a não adoção de distanciamento não decorre necessariamente de desconhecimento sobre a gravidade da pandemia.
A percepção de que a disseminação da doença está fora de controle é majoritária mesmo entre os que estão vivendo normalmente, sem nenhuma medida extra de isolamento.
Nessa parcela da população, a maioria ou tem muito medo (26%) ou um pouco de medo (29%) de contrair a Covid-19. Já 34% declaram não ter receio.
Consenso entre especialistas para frear um vírus transmitido principalmente por gotículas de saliva e aerossóis, o isolamento social vem sendo combatido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desde o início da pandemia, com aglomerações e falas nesse sentido.
Ele chamou de histeria, mimimi e fantasia a reação ao vírus. “Vão ficar chorando até quando?”, indagou no início do mês.
A alternativa mais eficiente ao distanciamento social é a vacinação, que patina no país. Além da demora em firmar contratos com fornecedores, o governo Bolsonaro já adiou sucessivas vezes o cronograma de aplicação dos imunizantes já aprovados na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Não por acaso, a percepção de que a pandemia está fora do controle é mais alta entre os que reprovam o governo Bolsonaro (94%) e entre os que não confiam em suas declarações (93%).
É maior também entre mulheres (85%, contra 73% entre os homens) e entre os mais pobres (82% ante 69% dos mais ricos).
Considerando-se a religião, a parcela dos entrevistados pelo Datafolha que declara ter muito medo de pegar a Covid é maior entre os católicos (61%) do que entre os evangélicos (45%). Já a percepção de que a pandemia está fora de controle não varia tanto entre os dois grupos —fica em 81% e 76%, respectivamente.
Diante do pior momento da pandemia e da possibilidade concreta de enfrentar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa eleitoral de 2022, Bolsonaro agora ensaia discurso a favor da vacinação em massa, contrariando diversas declarações pelas quais colocou em dúvida a confiabilidade dos imunizantes.
Armando Castelar Pinheiro: Heranças da pandemia
O Brasil terá pressões inflacionárias, juros externos mais altos, desemprego elevado e alimentos mais caros
Chegamos ao meio de março sem conseguir acelerar o ritmo da vacinação nacional. Ao todo, foram 12 milhões de vacinas aplicadas a pouco mais de 4% da população brasileira. Em termos de vacinas por 100 habitantes (5,5 no Brasil), somos o 39º país de uma lista que tem Israel (110) no topo e, na sequência, Emirados Árabes Unidos (67), Reino Unido (40), Chile (40) e Estados Unidos (35). Por conta da focalização nos grupos de maior risco, nesses países já há alguma normalização da atividade econômica, como refletido em indicadores de mobilidade e emprego, por exemplo.
Essa “luz no fim do túnel” tem estimulado trabalhos que discutem a herança deixada pela pandemia, seja em termos de problemas que ficam por resolver, seja de lições para lidar com futuras crises.
Alguns desses temas foram discutidos no workshop “Macroeconomia de la pandemia y los impactos de Covid-19 en América Latina”, promovido pelo Grupo de Conjuntura do IE/UFRJ, que cobriu a experiência não apenas do Brasil, mas também de outros países da região. Destaco três dos tópicos vistos no workshop.
Primeiro, o atraso da América Latina na retomada da atividade econômica, em termos de PIB e emprego, por conta da forma ineficiente com que a região lidou com a pandemia. As novas projeções econômicas da OCDE reforçam esse ponto: tomando a média de Argentina, Brasil e México, as três maiores economias da região, tem-se que em 2022 seu PIB ainda estará um pouco abaixo do de 2019 (-0,2%). O mesmo estudo projeta um PIB mundial 6,1% maior ano que vem do que em 2019.
Ou seja, ficaremos relativamente mais pobres e, se vamos nos beneficiar do aumento da demanda externa por nossos produtos, em especial com preços mais altos de commodities, vamos também sofrer com pressões inflacionárias e juros externos mais altos. Desemprego elevado e preços altos de alimentos são uma combinação politicamente perigosa, especialmente quando as pessoas se sentirem seguras de voltar a se aglomerar.
Esse quadro complica outras duas heranças discutidas no workshop. Uma, a preocupação com a saúde financeira das instituições financeiras. Saberemos mais sobre isso conforme fique mais fácil diferenciar problemas de liquidez daqueles de solvência. Outra, a difícil situação fiscal de alguns dos países da região, com destaque para o Brasil que, junto com o Peru, gastaram muito em programas públicos de combate à crise. É fácil ver que baixo crescimento e juros em alta são agravantes de uma situação fiscal já difícil.
Este último ponto também é discutido no livro “Legado de uma Pandemia”, publicado no início do mês pelo Insper, com organização de Laura Muller Machado. O livro tem 17 capítulos, agrupados em quatro partes que lidam, respectivamente, com a ordem social, a ordem econômica, a organização do Estado e política e comunicação. Em todos os capítulos há uma preocupação em explicitar legados deixados pela pandemia e em fazer recomendações.
Dentre os diversos temas tratados no livro, os impactos distributivos, fortes e negativos, são um dos destaques. Foram os trabalhadores mais pobres que mais sofreram com a perda de ocupações e renda. Os negros também sofreram mais que os brancos, enquanto outras análises mostram que as mulheres saíram em maior proporção do mercado de trabalho do que os homens. O livro dá grande ênfase a um ponto em geral pouco discutido: houve um significativo impacto negativo sobre as crianças, pela falta de aulas, que foi mais importante para as crianças mais pobres, com menos acesso a equipamentos de informática e assistência familiar.
Essa discussão desemboca no livro em um debate que também apareceu no workshop do IE/UFRJ: quão desejável é redistribuir o custo econômico da pandemia por meio de tributações que retirem renda de grupos que sofreram menos para financiar os programas públicos de assistência social, evitando transferir todo esse custo para gerações futuras, por meio de mais dívida pública.
O livro do Insper também trata de como a separação entre o que é feito pelo Estado e o que cabe ao setor privado pode ser repensada após a pandemia. Uma conclusão é que, em crises, pode ser desejável o Estado participar mais planejando e coordenando as atividades, no financiamento e na produção, e se preocupando menos com temas como a defesa da concorrência. Esse quadro deve, porém, ser transitório. Mais permanente deve ser o apoio estatal a pesquisas científicas relacionadas à pandemia, mesmo que indiretamente, como na segurança alimentar, e a capacitar servidores públicos para lidar com momentos como o atual.
Diversos capítulos, ainda que não todos, encerram com uma visão positiva sobre o futuro, prevendo que a sociedade acordou para os problemas revelados pela pandemia. É o caso, em especial, dos “invisíveis”, aí compreendidos os inúmeros pobres que acorreram ao Auxílio Emergencial e dos quais não havia registro anterior. Não me convenci dessa visão. Mas concordo que, para avançar, precisamos de mais discussão pública sobre os temas tão oportunamente trazidos por todos esses pesquisadores. Parabéns.
*Armando Castelar Pinheiro é Coordenador de Economia Aplicada do Ibre/FGV, professor da Direito-Rio/FGV e do IE/UFRJ
Ribamar Oliveira: O enigma do novo gatilho de 95%
PEC 186 não resolve problema de acionar as medidas de ajuste
Há uma unanimidade entre os analistas de que a despesa obrigatória da União, submetida ao teto de gastos, só vai ultrapassar 95% da despesa total em 2024 ou 2025. Este é o novo gatilho que dispara as medidas de ajuste das contas, introduzido pela PEC Emergencial, promulgada como emenda constitucional 109.
O problema do novo gatilho, no entanto, não está apenas na demora para ele ser acionado, mas também no fato de que se a despesa obrigatória chegar a 95% da despesa total, vários serviços públicos à população já estarão paralisados, ou, como preferem dizer os economistas, a administração estará em “shutdown”. Assim, a fixação do gatilho em 95% foi claramente um erro.
Em ofício ao Congresso Nacional, datado de 14 de dezembro de 2020, o ministro da Economia, Paulo Guedes, propôs mudança na meta fiscal deste ano e reestimou a receita e a despesa da União para 2021, uma vez que os parâmetros utilizados na elaboração do projeto de lei orçamentária anual (PLOA), em agosto do ano passado, estavam ultrapassados.
Nele, Guedes informa que o governo passou a trabalhar com despesas discricionárias de R$ 96,2 bilhões, incluindo neste valor as emendas parlamentares, que, embora sejam impositivas, podem sofrer contingenciamento. O valor corresponde a 6,47% da despesa total da União submetida ao teto. As despesas discricionárias são os investimentos e o custeio da máquina, que o governo não é obrigado por lei a executar.
As despesas obrigatórias submetidas ao teto, por sua vez, estão em 93,53% do limite total do gasto definido para este ano, de R$ 1.485,9 bilhões. Este percentual é uma aproximação porque o cálculo tem que ser feito, de acordo com a EC 109, para cada Poder e órgão público, pois eles possuem limites de despesa individualizados. Mas essa abertura de dados não está disponível no ofício do ministro. Sem as emendas parlamentares, as despesas discricionárias caem para R$ 79,9 bilhões neste ano, o menor patamar da série histórica.
Mesmo com esse nível muito baixo para os investimentos e o custeio da máquina, o gatilho não é acionado, o que mostra o equívoco cometido. Uma conta simples demonstra a armadilha que foi criada. As despesas discricionárias teriam que cair mais 1,47 ponto percentual (6,47% menos 5%) da despesa total para que as medidas de ajuste possam ser adotadas. Ou seja, para chegar a 5% da despesa total neste ano, as discricionárias teriam que ser reduzidas para R$ 74,3 bilhões, incluindo as emendas parlamentares, o que inviabilizaria a administração.
Em resumo, a EC 109 estabeleceu um gatilho que só poderá ser acionado quando a administração pública estiver em “shutdown”. Com um agravante: como não se pode reduzir as emendas parlamentares, que estão indexadas pela inflação, o aumento futuro das despesas obrigatórias terá que ser compensado sempre com o corte do investimento e do custeio.
As razões que levaram à escolha de 95% como novo gatilho das medidas de ajuste são um enigma. Importantes integrantes da equipe econômica do governo defenderam que o gatilho ficasse em 94%. Então, porque o percentual de 95% prevaleceu? Este colunista apurou que foi uma decisão política do governo e ouviu que, até hoje, ela gera incômodo na área técnica.
Se o gatilho tivesse ficado em 94%, havia o risco de ele disparar já em 2022, ano eleitoral, com a adoção obrigatória de medidas impopulares de contenção de despesas. É difícil acreditar que a razão tenha sido esta porque, para evitar desgaste eleitoral, o governo optou por um percentual que não será atingido, pois, antes disso, a administração estará em “shutdown”.
Para que o leitor não perca o fio da meada, o objetivo original da PEC 186 era corrigir o principal problema do teto de gastos. Devido à má redação da emenda constitucional 95/2016, que instituiu o teto, o gatilho que acionava as medidas de ajuste das contas não disparava. Não havia maneira de o governo adotar medidas de contenção das despesas. Como as despesas obrigatórias não param de crescer, os investimentos e o custeio foram minguando cada vez mais.
No texto da PEC 186 que o governo enviou ao Congresso, em novembro de 2019, o gatilho disparava toda vez que a chamada “regra de ouro” das finanças públicas, que proíbe o aumento da dívida para pagar despesas correntes, não estivesse sendo cumprida.
Este referencial foi alterado e o relator da proposta, senador Márcio Bittar (MDB-AC), com a concordância do governo, foi buscar o gatilho de 95% que constava da PEC 188. O resultado de tudo isso é que o gatilho que consta da EC 109 não permite acionar as medidas de ajuste para evitar o “shutdown” da administração e, portanto, não resolve o problema que estava colocado na EC 95.
Nova polêmica
Uma nova polêmica ganhou corpo entre os especialistas em finanças públicas. A PEC 186 instituiu, como foi dito nesta coluna em fevereiro passado, um novo marco para as finanças públicas. A âncora fiscal passou a ser a trajetória da dívida pública que será perseguida pelos governos federal, estadual e municipal. As metas de resultado primário serão definidas de forma a permitir que a trajetória da dívida seja cumprida. Para isso, os governos terão que adotar medidas de contenção de despesas e elevação de receitas que permitam alcançar as metas.
A raiz da polêmica está no fato de que o artigo da EC 109, ao tratar desta questão, prevê aprovação de lei complementar especificando “a trajetória de convergência do montante da dívida com limites definidos em legislação”. O artigo 52 da Constituição define que é competência privativa do Senado fixar, por proposta do presidente da República, limites globais para o montante da dívida consolidada da União, dos Estados e dos municípios. A discussão é se a EC 109 invadiu uma competência do Senado.
Na interpretação do Ministério da Economia, não há conflito entre o artigo 52 da Constituição e a EC 109. A atribuição do Senado, de acordo com esse entendimento, é fixar limite máximo para o endividamento dos entes. E o objetivo da EC 109 é fixar limites prudenciais para definir uma trajetória para a dívida, que, se superados, acionam os gatilhos das medidas de ajuste.
Adriana Fernandes: É hora de abrir o olho para que as 'boiadas' não passem na pandemia
Não queremos a continuidade prometida pelo futuro ministro da Saúde
Mesmo sob ameaças e críticas daqueles que defendem a economia acima de tudo e das mortes de brasileiros que poderiam ser evitadas, esta coluna de análise econômica vai continuar apoiando e alardeando a necessidade de adoção de medidas restritivas de isolamento para conter a transmissão acelerada da doença. E também para salvar a economia do desastre maior. Repetir e repetir.
Para um país sem vacinas suficientes para imunizar em massa a sua população, é o único caminho apontado por cientistas para conter o colapso do sistema de saúde público e privado que transformou todo o Brasil numa grande Manaus e celeiro de variantes do vírus.
Necessitamos de medidas (efetivas), bem planejadas em cada localidade, que aumentem a taxa de isolamento, e não ações de prefeitos e governadores que vão sendo desidratadas e acabam resultando em ganho muitíssimo limitado por causa da pressão econômica e política dos seus adversários. Temos de parar de verdade. É preciso coragem política e espírito humanitário para afastar interesses eleitorais neste momento de descontrole, o maior colapso sanitário e hospitalar da história do País, na definição da Fiocruz.
A pandemia, infelizmente, está mostrando que a maioria dos governantes, parlamentares e lideranças empresariais brasileiras não está à altura do momento para enfrentar essa guerra que mata tantos de nós e destrói a economia. Há dez dias, chocou a notícia de que morreriam 3.000 pessoas por dia no Brasil. Hoje, o número é realidade.
Os empresários que fazem agora campanha contra o isolamento daqui mais um tempo vão pedir para as medidas serem adotadas. A razão é simples. Médicos e enfermeiros não são insumos que se compram na prateleira. O caos já derruba o PIB, desorganiza a economia e afasta investidores. O BC aumenta os juros de 2% para 2,75% (na aposta mais alta) em plena queda do PIB para conter a aceleração da inflação. Sinal de que as coisas não andam bem para a economia e já na primeira reunião após a aprovação da autonomia.
Não queremos a continuidade prometida pelo futuro ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Em vez de ficar em Brasília para instalar seu gabinete de crise, planejar a ação e orientar a nação, preferiu ir para o Rio de Janeiro, ao lado do general Eduardo Pazuello, para receber as primeiras doses da vacina da Oxford fabricadas no País.
Não queremos mais cerimônias de chegada e distribuição de vacinas. Se ao menos o ministro tivesse ido a um hospital para ver a fila de pessoas doentes sem leito, teria sido um alento. É tarde para o governo Jair Bolsonaro “só” falar de mudanças de hábitos, usar máscaras, manter “um grau” de afastamento social e medidas hospitalares. Os países sérios fazem planos e executam.
Neste momento tão dramático, em que o foco tem de ser o bom combate da doença, é desconcertante para aqueles que escrevem sobre economia continuar falando sobre temas outros que não a pandemia, a crise do sistema de saúde e os relatos particulares de cada um dos brasileiros.
É necessário, porém, seguir mostrando o impacto da pandemia na economia, falar sobre câmbio, juros, inflação, gastos públicos, estimular o debate que aponte rumos, pressionar para que ações emergenciais saiam rapidamente e não se perca mais tempo.
É um absurdo governo e Congresso enrolarem por meses a aprovação do auxílio emergencial e depois de a PEC ter sido aprovada, na sexta-feira passada, o benefício só começar a ser pago em abril. Não tem desculpa que justifique tamanha crueldade e falta de planejamento.
É hora também de abrir o olho, ser vigilante, para que as “boiadas” econômicas, assim como as ambientais, não passem com a justificativa da pandemia. A derrubada de vetos garantindo perdão tributária às igrejas e mais poder de emendas aos parlamentares mostram que as boiadas passam. As falhas e a falta de atenção nessa vigilância serão cobradas no futuro. Perguntaremos: onde estávamos?
***
A coluna de hoje é dedicada ao seu Gomes, goiano e pai da repórter Lorenna Rodrigues da sucursal de Brasília do Estadão, que morreu de covid-19 após batalha incansável da família por atendimento hospitalar, que chegou tarde demais.