crimes virtuais
Deepfakes: A nova face das fake news e os riscos para as eleições de 2022
Juliana Arreguy*, UOL
De short vermelho, descalço e sem camisa, o presidente Jair Bolsonaro (PL) aparece em uma cozinha dançando o funk "Vai dar PT", sucesso de MC Rahell, em vídeo com 5,2 milhões de visualizações no Instagram. O rosto é o do presidente, mas não é ele a pessoa do vídeo: trata-se de uma deepfake, onde a face de Bolsonaro foi inserida, por meio de IA (Inteligência Artificial), no corpo de outra pessoa.
A tecnologia não é nova e já era utilizada no cinema, mas nos últimos anos se popularizou a ponto de ser possível baixar aplicativos gratuitos para criar deepfakes. O receio de que as pessoas sejam enganadas tem sido o principal alerta do jornalista Bruno Sartori, o mesmo que criou e divulgou o vídeo de Bolsonaro dançando na cozinha.
"Lula de 10 dedos. Bolsonaro sem facada. Fiquem espertos com as deepfakes esse ano, pessoal", escreve Sartori na postagem. É nesta legenda que ele aponta um detalhe importante: não há nenhuma cicatriz na barriga do homem das imagens. O presidente foi vítima de uma facada em 2018, tornando possível identificar que quem aparece dançando não é Bolsonaro.
No dia em que o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro foi preso, o pré-candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT) divulgou uma deepfake que mostra Bolsonaro como um dos vilões do filme "Esqueceram de Mim". Nas imagens, o rosto do presidente aparece recebendo um jato de fogo na cabeça, enquanto a legenda questiona: "Não foi Bolsonaro que disse que colocava a cara no fogo pelo Milton Ribeiro?".
Apesar do uso majoritário das deepfakes em tom de humor nas redes, especialistas se preocupam que elas assumam protagonismo nas eleições de 2022, elevando a dificuldade do combate às fake news.
Da diversão para a desinformação
O uso de deepfakes permitiu que uma propaganda de streaming revivesse o personagem Chaves e que o rapper Kendrick Luamar se transformasse em Will Smith em um clipe. Mas a tecnologia também serviu para que golpistas se fizessem passar por Elon Musk e que, em outro caso, divulgassem um vídeo em que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, declara rendição à Rússia.
Em artigo para o MIT Technology Review, a cientista da computação Nina Da Hora discorre sobre os impactos das deepfakes na sociedade, sobretudo pelo amplo acesso à tecnologia e a sofisticação cada vez maior da ferramenta.
Ao UOL, ela explica que as primeiras deepfakes utilizaram informações a partir de filtros em redes como Snapchat, onde os usuários simulavam seus rostos rejuvenescidos ou envelhecidos e brincavam com a possibilidade de dublar músicas.
"Hoje, com a facilidade de criação de deepfakes e seu compartilhamento nas redes sociais, que atualmente são os principais meios de compartilhamento de notícias, é perigoso que campanhas políticas as utilizem para deslegitimar as eleições e os candidatos", diz Nina.
No âmbito político, já circulou uma deepfake de Donald Trump explicando como os algoritmos o ajudaram a ser eleito presidente dos Estados Unidos. A manipulação de imagens não é nova no meio: há trechos de vídeos retirados de contexto e casos em que a velocidade da fala foi adulterada para fazer parecer que a pessoa estava bêbada — a presidente da Câmara dos Deputados dos EUA Nancy Pelosi e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já foram alvos deste tipo de desinformação.
Algumas plataformas adotaram medidas para mitigar os riscos das deepfakes nas eleições americanas de 2020. A Microsoft lançou um software que ajudava a detectar a tecnologia. Já o TikTok baniu temporariamente as deepfakes no país.
Coordenador de jornalismo da Agência Lupa, voltada para a checagem de notícias, Chico Marés alerta para o fato de que há casos em que não há certeza se o conteúdo divulgado é uma deepfake: "Acontece também de as pessoas alegarem deepfakes".
Como exemplo, ele cita o caso de um vídeo íntimo atribuído ao ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) durante a campanha de 2018. Doria afirma ter sido vítima de manipulação digital. Em março deste ano, um laudo da Polícia Federal afirma que não há sinais de adulteração no vídeo.
Marés observa que as deepfakes atualmente utilizam vídeos que já existem, o que facilita aos checadores encontrar o conteúdo original. "O medo maior é lidar com aquilo que não sabemos de onde vem, como os audiofakes".
Audiofakes
Os audiofakes são áudios criados também por programas eletrônicos. São diferentes de imitações feitas por comediantes, já que utilizam gravações para reconstruir a fala de outra pessoa.
"Audiofake é uma forma de criar áudios no formato digital usando algoritmos de inteligência artificial", explica Nina da Hora. "A IA aprende os movimentos da voz e como combiná-los com os sons, resultando em uma mídia falsa. Em alguns detalhes é possível perceber a robotização, enquanto uma imitação é puramente algo sensorial e humano, parte de habilidades da fala e de gestos".
Em uma série de posts, Sartori mostra como construiu audiofakes de Bolsonaro, Dilma Rousseff (PT) e Sergio Moro (União Brasil) cantando "Beijinho no Ombro", da funkeira Valeska Popozuda.
Para Chico Marés, os audiofakes ainda não têm sido utilizados para propagar desinformação no Brasil. Os conteúdos mais veiculados ainda são imitações de figuras públicas, como Lula e Bolsonaro, chamados de "cheapfakes" (do inglês "cheap", que significa barato).
Riscos e redes
Sartori, que se identifica como "deepfaker" (ou seja, alguém que faz deepfakes) nas redes sociais, sinaliza em todos os vídeos que não são verdadeiros e compartilha o passo a passo da linha de produção de alguns deles.
Nina da Hora explica que, nos EUA, desde 2018 há um projeto de lei que busca criminalizar a criação e distribuição de deepfakes de forma ilegal. Em junho de 2019, o país adotou uma Ação de Responsabilidade que exige a inserção de marcas d'água e explicações em conteúdos que utilizam a tecnologia.
Para Nina, a melhor forma de se precaver do risco de desinformação por meio da tecnologia é adotando uma legislação específica sobre o assunto.
"As deepfakes atingem diretamente um dos direitos fundamentais que é a privacidade, deslegitimando pessoas e discursos em prol de algum ganho financeiro ou com o objetivo de manipular narrativas, tudo isso a partir do uso de dados sensíveis e sem autorização."
O UOL procurou algumas das principais redes sociais utilizadas pelos brasileiros para saber quais as medidas adotadas diante da possibilidade de informação por meio de deepfakes:
"O Twitter conta, desde 2020, com a Política de Mídia Sintética e Manipulada (SAMM) para endereçar alterações em mídias, como as deep fakes, quando há intenção de enganar ou confundir as pessoas. Violações à política estão sujeitas às medidas cabíveis, e todos os usuários são igualmente submetidos a elas."
- TikTok
A plataforma afirma proibir "falsificações digitais (mídia sintética ou manipulada) que possam enganar os usuários, distorcendo a veracidade dos eventos e causando danos à pessoa que aparece no vídeo, a outras pessoas ou a sociedade."
São permitidas contas de paródia, desde que sinalizem aos usuários o seu propósito. "Caso um usuário passe por outra pessoa ou entidade de maneira enganosa, ele será removido por violar nossa política de falsificação de identidade."
- Facebook e Instagram
As redes não penalizam conteúdos que sejam identificados como paródias e sátiras. "Vídeos, áudios ou fotos — sejam eles deepfakes ou não —, serão removidos das plataformas da Meta se violarem nossas políticas com conteúdos, por exemplo, de nudez, violência gráfica, supressão de votos e discurso de ódio."
A plataforma afirma não ter acesso ao conteúdo das mensagens trocadas entre os usuários, mas pede que condutas inapropriadas sejam denunciadas pelo próprio aplicativo.
"Como informado nos Termos de Serviço e na Política de Privacidade do aplicativo, o WhatsApp não permite o uso do seu serviço para fins ilícitos ou que instigue ou encoraje condutas que sejam ilícitas ou inadequadas. Nos casos de violação destes termos, o WhatsApp toma medidas em relação às contas como desativá-las ou suspendê-las."
- Telegram
Não respondeu à reportagem.
*Texto publicado originalmente no UOL
Criminosos provocam tsunami de crimes virtuais na pandemia com ransomware
Reportagem especial da revista mensal Política Democrática Online também explica o que é ransomware
Cleomar Almeida, Coordenador de Publicações da FAP
Enquanto segue como um tsunami que já matou quase 400 mil pessoas no Brasil, a pandemia da Covid-19 tem sido explorada como uma grande aliada para a prática de crimes virtuais, aproveitando-se da vulnerabilidade das pessoas em meio à crise sanitária global.
É o que mostra reportagem especial da revista mensal Política Democrática Online de abril (30ª edição), lançada no último sábado (17/4). A publicação é produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania, e tem acesso totalmente gratuito no site da entidade.
Veja a versão flip da 30ª edição da Política Democrática Online: abril de 2021
No ano passado, de acordo com a reportagem, relatos de crimes virtuais mais que dobraram, em relação a 2019. A Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos, uma parceria da ONG Safernet Brasil com o Ministério Público Federal (MPF), recebeu 156.692 denúncias anônimas de crimes cometidos pela internet, em 2020. No ano anterior, foram 75.428.
A Polícia Federal investiga centenas de golpes envolvendo o auxílio emergencial. Nessa modalidade, os criminosos usam aplicativos falsos para simular o app da Caixa Econômica Federal e capturam informações pessoais dos usuários.
“Após obter esses dados, o criminoso consegue a carta coringa, literalmente, pois consegue dar vários golpes no nome da vítima e pedir o próprio auxílio emergencial”, explica o delegado Warley Ribeiro, em entrevista.
Pesquisas fraudulentas e links falsos
De acordo com a reportagem da revista Política Democrática Online de abril, além de golpes de auxílio emergencial e pesquisas fraudulentas sobre o coronavírus, os criminosos enviam links falsos.
Os links falsos são de supostas cervejarias com oferta fictícia de bebida gratuita a quem adere ao isolamento social e de lives de shows clonadas para desviar doações. Tudo para furtar dados do celular da vítima.
Os crimes virtuais, especialmente os estelionatos, dispararam desde o início da pandemia de Covid-19. No início da crise sanitária no país, pesquisa da Apura Cybersecurity Intelligence, empresa especializada em ameaças digitais, identificou salto de 41.000% de sites suspeitos sobre coronavírus e Covid com domínio no Brasil. Passaram de 2.236, em março de 2020, para 920.866, dois meses depois.
Ransomware
Em fevereiro deste ano, ataques cibernéticos causaram a suspensão do funcionamento de empresas do setor elétrico como a Copel e a Eletronuclear e levantaram alerta para demais companhias. Os crimes foram ransomware, cada vez mais sofisticados e que se caracterizam pelo sequestro de dados de dispositivos e liberação só com o pagamento de “resgate”
Há ainda ataques por meio do envio de arquivos por email, muitas vezes clonados e capazes de driblar os antivírus. Mensagens em SMS com links falsos que apontam para sites falsos também são utilizados.
Veja todos os autores da 30ª edição da revista Política Democrática Online
Orientação
O consenso entre os especialistas, conforme alerta a reportagem, é de que, apesar de serem praticados de diversas formas, os crimes cibernéticos podem diminuir caso as pessoas, como a empresária de Brasília, Tatiane Gusmão, de 48 anos, que respondeu a um breve questionário por meio de ligação recebida em seu celular no início deste mês e teve o Whatsapp clonado, adotem, principalmente, dois parâmetros essenciais: desconfiar, sempre; compartilhar dados sigilosos virtualmente ou por telefone, jamais.
A edição de abril da Revista Política Democrática Online também tem entrevista exclusiva com o ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão, análises de política nacional, política externa, cultura, entre outras, além da reportagem especial.
O diretor-geral da FAP, sociólogo Caetano Araújo, o escritor Francisco Almeida e o ensaísta Luiz Sérgio Henriques compõem o conselho editorial da revista. O diretor da publicação é o embaixador aposentado André Amado.
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RPD || Reportagem especial: Crimes cibernéticos disparam na pandemia com leque variado de abordagem
Pesquisas fraudulentas sobre Covid, links de promoção e show on-line e desvio de auxílio emergencial estão entres os principais golpes dos criminosos
Cleomar Almeida, Coordenador de Publicações da FAP
- Olá! Sou da equipe do Ministério da Saúde que faz levantamento sobre a Covid-19 no país. Posso fazer quatro perguntas rápidas para a senhora colaborar com essa pesquisa?
A empresária Tatiane Gusmão, de 48 anos, respondeu ao breve questionário por meio de ligação recebida em seu celular no início deste mês. Do outro lado da linha, um homem se apresentou muito educadamente e em linguagem formal.
Sem qualquer desconfiança, a empresária respondeu que mora em Brasília (DF), confirmou a idade dela, disse que foi curada da Covid após ficar internada por dois meses e afirmou que conhecia outras pessoas que contaminadas. Por fim, como registrado em gravação de áudio em seu celular, Tatiane recebeu novo pedido.
- Agora, senhora, enviei ao seu celular um código de certificação das respostas e, por gentileza, peço para me informar a sequência numérica.
A empresária titubeou, mas, imediatamente, ouviu que precisava informar o código recebido. Por isso, seguiu a orientação. Logo depois de confirmar a numeração, o acesso dela ao WhatsApp foi bloqueado. Ela teve os contatos violados, e o golpista mandou mensagens a eles pedindo dinheiro.
Sem saber que era fraude, uma cliente da empresária transferiu R$ 2 mil para conta dos criminosos. Outra duas fizeram transferência de R$ 5 mil, cada uma. Caíram no golpe do WhatsApp, um dos crimes digitais mais comuns. “O golpista foi muito convincente e falava impecavelmente bem. Não esbocei qualquer suspeita”, contou Tatiane.
De acordo com o Ministério da Saúde, a pesquisa telefônica (Vigitel) não faz contato com os entrevistados por meio de aplicativos. As únicas informações pessoais solicitadas são sobre idade, sexo, escolaridade, estado civil e raça/cor.
Aumento de 107%
No ano passado, relatos de crimes virtuais mais que dobraram, em relação a 2019. A Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos, uma parceria da ONG Safernet Brasil com o Ministério Público Federal (MPF), recebeu 156.692 denúncias anônimas de crimes cometidos pela internet, em 2020. No ano anterior, foram 75.428.
A Polícia Federal investiga centenas de golpes envolvendo o auxílio emergencial. Nessa modalidade, os criminosos usam aplicativos falsos para simular o app da Caixa Econômica Federal e capturam informações pessoais dos usuários.
“Após obter esses dados, o criminoso consegue a carta coringa, literalmente, pois consegue dar vários golpes no nome da vítima e pedir o próprio auxílio emergencial”, explica o delegado Warley Ribeiro.
Além de golpes de auxílio emergencial e pesquisas fraudulentas sobre o coronavírus, os criminosos enviam links falsos de cervejaria com oferta fictícia de bebida gratuita a quem adere o isolamento social e lives de shows clonadas para desviar doações. Tudo para furtar dados do celular da vítima.
Salto vultoso
Os crimes virtuais, especialmente os estelionatos, dispararam desde o início da pandemia de Covid-19. No início da crise sanitária no país, pesquisa da Apura Cybersecurity Intelligence, empresa especializada em ameaças digitais, identificou salto de 41.000% de sites suspeitos sobre coronavírus e Covid com domínio no Brasil. Passaram de 2.236, em março de 2020, para 920.866, dois meses depois.
O diretor de operações da Apura, Maurício Paranhos, disse que os crimes cibernéticos apresentavam taxas de crescimento, as quais, segundo ele, se multiplicaram após o início da pandemia. “Os cibercriminosos estão utilizando temas relacionados à Covid para chamar a atenção e atacar. Não poupam nem instituições de saúde”, afirmou.
De acordo com relatório Allianz Risk Barometer 2021, que colheu informações de empresas de 92 países, o Brasil é o único país da América Latina em que o risco cibernético é colocado no topo de ameaças. Supera até o risco de pandemia.
E não são apenas pessoas que estão no alvo dos criminosos. Também estão na mira dos hackers as empresas de energia e dos segmentos de healthcare, educação, tecnologia e instituições financeiras, segundo a especialista Ana Albuquerque, executiva de linhas financeiras da Willis Towers Watson, multinacional de gestão de risco.
Golpes ransomware
Em fevereiro deste ano, ataques cibernéticos causaram a suspensão do funcionamento de empresas do setor elétrico como a Copel e a Eletronuclear e levantaram alerta para demais companhias. Os crimes foram ransomware, cada vez mais sofisticados e que se caracterizam pelo sequestro de dados de dispositivos e liberação só com o pagamento de “resgate”
“Esse tipo de golpe teve incremento significativo em 2020, por causa da maior vulnerabilidade que o home office trouxe para as empresas, e deve continuar sendo uma forte ameaça em 2021”, alertou a especialista da multinacional domiciliada na Irlanda.
Além disso, de acordo com a Kaspersky, empresa especializada em segurança digital, dos mais de cinco mil golpes de ransomware registrados todos os dias na América Latina, 46,6% ocorrem no Brasil.
Alguns ataques que causaram a suspensão do funcionamento de empresas do setor elétrico como a Copel e a Eletronuclear. Tal situação já acendeu um sinal de alerta para demais companhias do segmento. Os crimes foram do tipo ransomware, que estão cada vez mais sofisticados, e se caracterizam pelo sequestro de dados de dispositivos e liberação apenas com o pagamento de um “resgate”.
Há ainda ataques por meio do envio de arquivos por email, muitas vezes clonados e capazes de driblar os antivírus. Mensagens em SMS com links falsos que apontam para sites falsos também são utilizados.
“Ao clicar em um link malicioso [fraudulento] e instala o aplicativo, ele passa a monitorar tudo o que você digita no seu computador ou no celular. Ao entrar no internet banking, por exemplo, ele captura os dados e pode usá-los para fazer transações indevidas”, alerta o advogado Rodrigo Antunes Goncalves, especialista em crimes cibernéticos.
O consenso entre os especialistas é de que, apesar de serem praticados de diversas formas, os crimes cibernéticos podem diminuir caso as pessoas, como a empresária de Brasília, adotem, principalmente, dois parâmetros que eles classificam como essenciais: desconfiar, sempre; compartilhar dados sigilosos virtualmente ou por telefone, jamais.
Dicas para evitar ciberataques
Confira algumas medidas que podem ajudar a barrar ou dificultar a ação de hackers
- 1 - Use soluções de segurança no celular como detecção automática de phishing em aplicativos de mensagens e redes sociais
- 2 - Tenha cuidado ao tocar em links compartilhados no WhatsApp ou nas redes sociais. Vá direto aos sites oficiais das empresas para baixar qualquer aplicativo
- 3 - Desconfie de promoções, brindes e descontos muito bons. Pesquise antes na própria internet sobre a empresa anunciante
- 4 - Empresas devem instruir seus funcionários a alterarem sempre as senhas, não clicarem em nenhum link, desconfiar de e-mails que solicitem informações pessoais e não abrir anexos suspeitos
- 5 - Se for vítima de crimes digitais, faça boletim de ocorrência. Em muitos estados, é possível fazer o registro online
Foto: Aílton de Freitas
Crime de perseguição, stalking começa a ter punição específica no país
Especialistas avaliam que as pessoas ganham mais uma “forma de proteção” com a mais recente inclusão do crime de perseguição ameaçadora, também conhecido como stalking, no Código Penal Brasileiro. A nova tipificação passou a valer, no dia 1º de abril deste ano, com a publicação da Lei 14.132.
Presidente da Comissão Nacional de Cibercrimes da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas e professor de Direito Digital da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o advogado Luiz Augusto D’Urso, viu o novo crime como um avanço na proteção das vítimas.
“Criminalizando tal conduta, cria-se uma forma de se punir os stalkers”, disse, para acrescentar: “Tal conduta já havia sido criminalizada em alguns países da Europa e nos EUA”. Segundo ele, essa criminalização, embora importante, poderá não implicar e efetiva redução do crime, pois, avaliou, não levará o agente à cadeia, em razão da pena prevista.
O Legislativo, de acordo com o advogado, precisou de atenção com relação à proporcionalidade das penas diante das outras condutas criminalizadas, fixando, para o agente (stalker), pena de 6 meses a 2 anos. “Essa pena pode parecer branda, mas, sendo vista de forma sistematizada, é adequada ao nosso ordenamento jurídico”, analisou.
Sociedade hiperconectada
Com o avanço da sociedade, cada vez mais hiperconectada, a violência passou a ser concretizada também por meio virtual, pela internet. Daí chamar-se de cyberstalking a perseguição realizada por intermédio da internet, seja por redes sociais, emails, blogs ou outros meios de comunicação digital.
Pós-doutora em Democracia e Direitos humanos, Cláudia Aguiar Britto observou que é necessário um olhar mais profundo em cada caso de perseguição, visto que haverá episódios em que será priorizada atenção e proteção à vítima.
Isto, segundo ela, deve ocorrer considerando a gravidade das ações do algoz e o contexto da relação, que pode se tratar de um grave caso de violência doméstica e familiar contra a mulher.
*Cleomar Almeida é graduado em jornalismo, produziu conteúdo para Folha de S. Paulo, El País, Estadão e Revista Ensino Superior, como colaborador, além de ter sido repórter e colunista do O Popular (Goiânia). Recebeu menção honrosa do 34° Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos e venceu prêmios de jornalismo de instituições como TRT, OAB, Detran e UFG. Atualmente, é coordenador de publicações da FAP.
- ** Reportagem realizada para publicação na Revista Política Democrática Online de abril (30ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.
- *** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na Revista Política Democrática Online são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, as opiniões da Revista.