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Jamil Chade: Mundo à espera de que o Brasil cumpra promessas da COP26

País endossou compromissos que os líderes mundiais agora esperam ver concretizados. Sem eles, acordos, como Mercosul UE, ficam estacionados

Jamil Chade / El País

Num dos longos saguões do centro onde ocorria a Conferência da ONU para Mudança Climáticas, em Glasgow, os seguranças do secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, abriam espaço entre dezenas de delegados para que o chefe do organismo internacional passasse com seu cortejo. Mas quando o português viu a reportagem do EL PAÍS, ele reduziu o passo, permitiu a aproximação e perguntou ao pé do ouvido: “e o Brasil, está se comportando?”.

A dúvida, porém, não era apenas do comando da ONU. Ao longo das últimas duas semanas, delegações estrangeiras, ministros e negociadores tinham a mesma reação diante do posicionamento do Brasil nas negociações climáticas: até que ponto os anúncios eram sinceros e representavam uma mudança na postura do governo? A suspeita que pairava não era por acaso. Voluntárias, sem obrigações legais e sem forma de fiscalização, as iniciativas que foram apoiadas pelo Brasil preveem acabar com o desmatamento ilegal e reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Politicamente, elas têm um peso significativo.

Entre os especialistas estrangeiros e representantes de governos, todos sabiam que os anúncios do governo não implicavam em nenhuma exigência imediata ao país. Nada muda a partir da próxima segunda-feira. De fato, os cálculos do Climate Action Tracker revelaram que as promessas estavam longe de serem ambiciosas. A entidade qualificou o anúncio brasileiro de “altamente insuficiente” no esforço internacional para limitar o aquecimento do planeta a 1,5 grau Celsius e colocou o país no grupo mais irresponsável, em sua avaliação.MAIS INFORMAÇÕESBrasil eleva metas ambientais na COP26, mas não convence

Mas o cálculo do governo foi outro: fazer os anúncios custaria pouco. Afinal, qualquer medida só teria de começar a ser implementada nos próximos anos. Mas, em contraposição, ficar de fora ampliaria a situação de pária. A estratégia funcionou para desmobilizar a pressão por alguns dias, na esperança de que o confete que foi jogado ao ar fosse suficiente para criar uma cortina de fumaça até o final da COP26.


Fantoches gigantes na COP26. Foto: Scottish Government
Fantoches gigantes na COP26. Foto: Scottish Government
Fantoches gigantes na COP26. Foto: Scottish Government
Fantoches gigantes na COP26. Foto: Scottish Government
Fantoches gigantes na COP26. Foto: Scottish Government
Fantoches gigantes na COP26. Foto: Scottish Government
Manifestação na COP26 em Glasgow. Foto: Kiara Worth/UNFCCC
Manifestação na COP26 em Glasgow. Foto: Kiara Worth/UNFCCC
Manifestação na COP26 em Glasgow. Foto: Kiara Worth/UNFCCC
Fantoche “Pequena Amal” durante a COP26 em Glasgow. Foto: Kiara Worth/UNFCCC
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Manifestação na COP26 em Glasgow. Foto: Kiara Worth/UNFCCC
Manifestação na COP26 em Glasgow. Foto: Kiara Worth/UNFCCC
Manifestação na COP26 em Glasgow. Foto: Kiara Worth/UNFCCC
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Manifestação na COP26 em Glasgow. Foto: Kiara Worth/UNFCCC
Manifestação na COP26 em Glasgow. Foto: Kiara Worth/UNFCCC
Manifestação na COP26 em Glasgow. Foto: Kiara Worth/UNFCCC
Primeira-ministra da Escócia com Secretário Geral das Nações Unidas. Foto: Scottish Government
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Fantoches gigantes na COP26. Foto: Scottish Government
Fantoches gigantes na COP26. Foto: Scottish Government
Fantoches gigantes na COP26. Foto: Scottish Government
Fantoches gigantes na COP26. Foto: Scottish Government
Fantoches gigantes na COP26. Foto: Scottish Government
Fantoches gigantes na COP26. Foto: Scottish Government
Manifestação na COP26 em Glasgow. Foto: Kiara Worth/UNFCCC
Manifestação na COP26 em Glasgow. Foto: Kiara Worth/UNFCCC
Manifestação na COP26 em Glasgow. Foto: Kiara Worth/UNFCCC
Fantoche “Pequena Amal” durante a COP26 em Glasgow. Foto: Kiara Worth/UNFCCC
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Manifestação na COP26 em Glasgow. Foto: Kiara Worth/UNFCCC
Manifestação na COP26 em Glasgow. Foto: Kiara Worth/UNFCCC
Manifestação na COP26 em Glasgow. Foto: Kiara Worth/UNFCCC
51667838368Manifestação na COP26 em Glasgow. Foto: Kiara Worth/UNFCCC
Manifestação na COP26 em Glasgow. Foto: Kiara Worth/UNFCCC
Manifestação na COP26 em Glasgow. Foto: Kiara Worth/UNFCCC
Manifestação na COP26 em Glasgow. Foto: Kiara Worth/UNFCCC
Primeira-ministra da Escócia com Secretário Geral das Nações Unidas. Foto: Scottish Government
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Enquanto os anúncios faziam seus efeitos visuais, diplomatas brasileiros corriam de um lado ao outro pelos corredores da COP26 costurando acordos, blindando posições do Brasil e desarmando a bomba que poderia transformar o país no principal vilão de um eventual fracasso em Glasgow. O Brasil, assim, abriu mão de sua posição histórica em crédito de carbono e conseguiu chegar a uma equação considerada “equilibrada”. O país insistia em que os créditos do Protocolo de Kyoto continuassem a ser contabilizados no mercado. Mas países ricos exigiram o novo sistema criado em Paris, em 2015, fosse o único.

Nada disso era suficiente para que o país reconquistasse sua posição de ator central das negociações climáticas. Negociadores estrangeiros explicaram que a recuperação desse status dependerá, no fundo, de que o governo prove que existe um plano consistente para as promessas que apresentou. “Não é uma questão de confiança”, disse o enviado americano para o Clima, John Kerry, ao ser questionado se acreditava em Bolsonaro. Para ele, o Brasil terá de adotar “medidas concretas” se quiser voltar a ganhar espaço internacional. Franz Timmermans, vice-presidente da Comissão Europeia, repetiu a mesma constatação. Para ele, os anúncios eram “passos importantes”. Mas questionado se era suficiente, ele hesitou: “Veremos”.

Dias antes, num texto publicado nas páginas oficiais da UE, o chefe da diplomacia do bloco, Josep Borrell, deixou claro que cobrou do governo não apenas promessas, mas ações. “Salientei a importância de que estes compromissos sejam plenamente implementados no terreno”, disse. “Vários interlocutores não governamentais enfatizaram as dificuldades que poderiam surgir nesta área, particularmente na questão do desmatamento ilegal, devido à falta de recursos e a interesses profundos que se opõem a ações para combatê-lo eficazmente”, alertou. Ele admitiu que existe um espaço para que os novos compromissos ambientais do governo brasileiro ajudem a fazer avançar a ratificação do acordo comercial entre Mercosul e Europa. Mas colocou um condicionante. Isso só seria possível “se realmente forem seguidos”.

Enquanto as dúvidas prevaleciam, o governo brasileiro optou por se manter atrás de um pavilhão bancado pelo agronegócio em Glasgow e no qual a palavra ‘desmatamento não era pronunciada. Ali, em seminários que apenas alimentavam o próprio bolsonarismo, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, insistia que estava apresentando o “Brasil real”. Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente no Brasil, ironizava. “Era o Brasil geneticamente modificado”, disse.

Em Glasgow, a sociedade civil brasileira não fez parte da delegação oficial, ocupada integralmente por empresários e ruralistas. Leite sequer atendeu a um pedido das entidades e ambientalistas para visitar o local criado pelas ONGs brasileiras na COP26. Mas não se pode enganar todo mundo o tempo todo. Um choque de realidade apareceu quando, no último dia, dados do desmatamento foram revelados e revelaram o pior índice para o mês de outubro em toda a série histórica, que começou em 2016.

Leite, porém, se recusou a explicar os números e, numa constrangedora caminhada de cinco minutos pela COP26, se manteve em um silêncio ensurdecedor enquanto era bombardeado por perguntas sobre o desmatamento recorde. Enquanto ele fugia de uma resposta, Espen Barth Eide, ministro do Meio Ambiente da Noruega, não hesitou em constatar a gravidade daquela informação. Dono do maior fundo soberano do mundo e o principal financiador do Fundo Amazônia, o governo da Noruega afirmou estar preocupado com os recentes números de desmatamento no Brasil. “É algo sobre o qual precisamos refletir certamente”, disse. “Estou muito preocupado com o desmatamento que já existe”, afirmou.

Para ele, os novos números brasileiros devem ser uma “lembrança” de como é importante a questão do compromisso de governos em reduzir o desmatamento. Eide afirma que países que não seguirem esse caminho terão sua credibilidade minada. Assim, no último dia da COP26 e apesar de todos os esforços para achar que enganava o mundo, a máscara do bolsonarismo caiu. E o Brasil real reapareceu, melancolicamente.

Fonte: El País
https://brasil.elpais.com/brasil/2021-11-13/o-mundo-poe-os-olhos-no-brasil-a-espera-de-que-promessas-da-cop26-sejam-cumpridas.html


COP26: Documento final vai cobrar que países melhorem metas climáticas até o fim de 2022

Financiamento climático e mercado de carbono são pontos-chave na negociação

Emílio Sant'anna / Enviado especial

GLASGOW - A agência climática da Organização das Nações Unidas (ONU) publicou nesta quarta-feira, 10, o rascunho do documento final que deve ser assinado pelos países ao fim da Cúpula do Clima em Glasgow, a COP-26. Negociadores de quase 200 nações trabalham para chegar a um acordo final até o fim de semana, quando acaba a conferência. No texto, os governos são cobrados a apresentar metas mais ambiciosas de corte de emissões de gases até o fim do ano que vem. 

O presidente da COP, Alok Sharma, disse na terça-feira, 9, que os negociadores têm uma "montanha a escalar" para chegar a um acordo suficiente para enfrentar essas ameaças ambientais. O rascunho pede que os países “revisitem e fortaleçam as metas de 2030 em suas contribuições nacionalmente determinadas (as NDCs, ou metas climáticas apresentadas por cada governo), conforme necessário para se alinhar com a meta de temperatura do Acordo de Paris até o final de 2022”. Segundo o tratado climático firmado na França em 2015, os líderes concordaram em limitar o aquecimento global a 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais.

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O rascunho pede que os países “revisitem e fortaleçam as metas de 2030 em suas contribuições nacionalmente determinadas. Foto: REUTERS/Yves Herman

O documento também pede que os países eliminem gradualmente os subsídios ao carvão, petróleo e gás, com objetivo de reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2) - principal contribuinte das mudanças climáticas. O rascunho não fixa, entretanto, uma data para a eliminação completa dessa fonte de energia, importante para os países desenvolvidos. 

Também é classificado como "insuficiente" o financiamento de ações para mitigar as mudanças climáticas, um dos impasses que se arrasta pelas conferências há mais de uma década. Em 2009, as nações desenvolvidas se comprometeram a oferecer US$ 100 bilhões anuais aos países pobres e em desenvolvimento. A promessa, entretanto, não foi cumprida até agora. O ministro do Meio Ambiente brasileiro, Joaquim Leite, cobrou um valor superior a esse em sua primeira declaração pública em Glasgow nesta terça. O rascunho apela para que esse apoio aumente “urgentemente”.

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Itamaraty vê com otimismo chance de acordo sobre mercado de carbono

Não há menções a um avanço na regulação do mercado de carbono, o chamado Artigo 6 do Acordo de Paris, considerado outro ponto-chave na Cúpula do Clima. O objetivo é estabelecer um mecanismo central da ONU para trocar créditos de carbono dos cortes nas emissões geradas por projetos de baixo carbono. Com isso, é possível pagar por uma redução de emissões em outro lugar, como na prevenção do desmate. Um país também pode, por exemplo, pagar outro pelo desenvolvimento de um projeto de energia renovável no lugar de uma planta de uso de carvão. 

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Segundo o tratado climático firmado na França em 2015, os líderes concordaram em limitar o aquecimento global a 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais. Foto: REUTERS/Phil Noble

Para o Itamaraty, segundo o Estadão apurou, são positivas as perspectivas de se chegar a uma resolução para a regulamentação do mercado de carbono nesta COP. No jargão diplomático, o Brasil promete uma postura construtiva - o que seria, caso se confirme, o oposto do comportamento brasileiro na edição anterior da Cúpula, em Madri, em 2019. Naquele ano, o primeiro da gestão Jair Bolsonaro, o país abandonou a posição de liderança nas negociações ambientais internacionais pela qual era conhecido e adotou posição oposta.

Diferentemente das gestões Ricardo Salles, no Meio Ambiente, e Ernesto Araújo, nas Relações Exteriores, dessa vez o Itamaraty reforçou sua equipe de negociadores com diplomatas experientes e que conhecem assuntos ambientais a fundo. Ainda assim, o clima durante toda a COP vem sendo de desconfiança em relação à postura do governo federal. Na avaliação da maior parte das entidades ambientais e ONGs ouvidas pelo Estadão, já será um lucro se o Brasil não atrapalhar as negociações. 

Entidades também veem compromissos insuficientes

Greenpeace considerou o documento inadequado. “Este rascunho não é um plano para resolver a crise climática, é um acordo para que todos cruzemos os dedos e torçamos pelo melhor. É um pedido educado para que os países talvez, possivelmente, façam mais no próximo ano", declarou a organização ambiental. 

  https://www.youtube.com/embed/k9TlA8nJg1w?enablejsapi=1&origin=https%3A%2F%2Fsustentabilidade.estadao.com.br

O grupo de pesquisa Climate Action Tracker (CAT) disse na terça-feira, 9, que todas as promessas nacionais apresentadas até agora, para reduzir os gases do efeito estufa até 2030, permitem que a temperatura da Terra suba 2,4 °C em relação aos níveis pré-industriais até o fim do século. O rascunho do documento lembra os países que, para impedir o aquecimento do planeta além dos 1,5 °C, as emissões globais de CO2 devem cair 45% até 2030, em relação aos níveis de 2010. Conforme as promessas climáticas nacionais apresentadas até agora, as liberações estarão 14% acima dos níveis de 2010 até 2030./COM REUTERS

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Fonte: O Estado de S. Paulo
https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,agencia-onu-publica-rascunho-acordo-final-cop,70003894436


Brasil, China e mais de cem países assinam acordo para zerar desmatamento até 2030

O chamado Forest Deal foi negociado durante a COP-26, a conferência da ONU sobre mudanças climáticas

Nathalia Passarinho / BBC News Brasil em Londres

O acordo prevê US$ 19,2 bilhões em recursos públicos e privados para ações ligadas à preservação das florestas, combate a incêndios, reflorestamento e proteção de territórios indígenas.

Conforme a BBC News Brasil antecipou na semana passada, o Brasil, onde fica a maior parte da floresta Amazônica, decidiu aderir ao acordo, apesar das dúvidas sobre se o governo Bolsonaro aceitaria assinar um documento que contrasta com a política ambiental adotada nos últimos três anos.

O acordo, que vai ser anunciado oficialmente nesta terça-feira (2/11), em evento da COP26, prevê medidas para impedir que produtos associados a desmatamento recebam financiamento privado e sejam comercializados internacionalmente. Também destaca a importância dos povos indígenas e demais comunidades tradicionais como protetores da floresta.

O embaixador Paulino Franco de Carvalho Neto, que chefia as negociações pela delegação brasileira na COP26, disse que a assinatura do Brasil evidencia uma "nova postura" do governo brasileiro na área ambiental.

"Estamos satisfeitos com o resultado final. Isto demonstra mais uma vez a nova postura brasileira de compromisso com os temas de desenvolvimento sustentável e, especificamente sobre mudança do clima", disse Carvalho Neto à BBC News Brasil.

"O Brasil tem a expectativa que as maiores economias mundiais farão a sua parte também, em especial na redução ao uso de energias fósseis, causa principal do aquecimento global", cobrou o embaixador, que é secretário de Assuntos Políticos Multilaterais.

Brasil contemplado com recursos

Dos US$ 19,2 bilhões previstos no acordo para proteção de florestas, cerca de US$ 12 bilhões virão de 12 países desenvolvidos, incluindo o Reino Unido, Estados Unidos, Canadá, França e Alemanha. Os recursos serão distribuído a países em desenvolvimento entre 2021 e 2025. O Brasil deve ser um dos contemplados por causa da importância da Amazônia. Indonésia e Congo, que também possuem grandes florestas tropicais, também devem receber volume significativo de recursos.

Outros US$ 7,2 bilhões virão do setor privado. Além disso, CEOs de mais de 30 instituições financeiras, como Aviva, Schroder e Axa, se comprometeram a eliminar investimentos em atividades ligadas ao desmatamento.

Dos recursos privados, US$ 3 bilhões irão para a América Latina, por meio de um fundo destinado a garantir que as produções de soja e gado nas regiões da Amazônia, Cerrado e no Chaco sejam livres de desmatamento.

Dos recursos privados, US$ 3 bilhões irão um fundo destinado a garantir que as produções de soja e gado nas regiões da Amazônia, Cerrado e no Chaco sejam livres de desmatamento. Foto: Jaelson Lucas / AEN

Atualmente, 23% das emissões globais de gases do efeito estufa vêm do uso do solo e desmatamento. No Brasil, esse percentual é muito maior, alcança mais de 70%.

Atualmente, uma área de floresta do tamanho de 27 campos de futebol desaparece a cada minuto no mundo. O desmatamento da Amazônia cresceu fortemente nos dois primeiros anos de governo Bolsonaro. Em 2020, a destruição da floresta foi a maior em 12 anos.

Perguntado se é possível confiar que líderes como Bolsonaro cumprirão o acordo, o Secretário de Meio Ambiente do Reino Unido, George Eustice, disse que o país demonstrou "engajamento" nas negociações.

"Da última vez em que tentou-se um comprometimento sobre florestas (em 2014) o Brasil não quis fazer parte, nem a Rússia nem a China", destacou. "[Já no caso do] Brasil, eles realmente se mostraram engajados com a gente nessa agenda. É um grande passo para eles."

Mas o acordo não prevê punição para países que descumprirem seus termos. "Ele não chega ao ponto de prever mecanismos de controle e punição. Não é da natureza desses acordos", disse o secretário do Meio Ambiente do Reino Unido.

Índigenas criticam 'presente' a governo Bolsonaro

Organizações indígenas presentes COP26 criticaram o fato de não terem sido incluídos nas negociações do acordo florestal. Para o líder indígena Kretã Kaingang, coordenador da Articulação de Povos Indígenas do Brasil, o Forest Deal "premia" com recursos o governo Bolsonaro e sua política de "destruição".

"Este é um acordo de governos. Não fomos ouvidos. Esse acordo envolve financiamento para redução do desmatamento, mas no Brasil temos projetos em discussão no Congresso Nacional, apoiados pelo governo Bolsonaro, que permitem a mineração, o desmatamento e o uso de terras indígenas para a produção agrícola", disse Kaingang à BBC News Brasil.

"Esse acordo recompensa essa política de desmatamento, mortes e destruição de indígenas".

DESMATAMENTO NO BRASIL


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Oportunidades para o Brasil?

Mas para alguns ambientalistas e especialistas em políticas públicas, a assinatura do acordo florestal é uma boa sinalização de mudança do discurso ambiental do Brasil. Mas eles destacam que medidas concretas que apontem para a redução do desmatamento serão necessárias para "convencer" o público internacional das intenções brasileiras.

Com a adesão ao chamado Forest Deal, o Brasil está se comprometendo com princípios que batem de frente com propostas em tramitação no Congresso Nacional que até então eram defendidas pelo governo Bolsonaro, como legalização de terras públicas desmatadas para agricultura e liberação de mineração em territórios indígenas.

"A assinatura é um indicativo de mudança na política ambiental. É uma sinalização importante. Mas assinar esse acordo não vai ser suficiente. O país está com credibilidade abaixo de zero. Temos que demonstrar que o desmatamento vai cair através de medias de comando e controle", disse à BBC Brasil o biólogo Roberto Waack, que integra o conselho de administração da Marfrig, segunda maior empresa produtora de carne bovina do mundo.

Os quatro principais pontos do Forest Deal incluem: proteção a povos indígenas como 'guardiões da floresta'; promoção de uma cadeia ambientalmente sustentável de oferta e demanda de commodities; financiamento para promoção de economia verde; e defesa de regulamentações que limitem financiamento e comércio internacional de produtos ligados ao desmatamento.

Para Waack, a adesão ao texto traz mais oportunidades econômicas que prejuízos à agricultura brasileira.

"O setor empresarial que está no mercado internacional já percebeu que tem muito mais oportunidades que barreiras", disse o biólogo, que também é co-autor do livro Repensando a Amazônia.

"Temos um agronegócio com capacidade tecnológica e bons instrumentos de conservação, mas fica tudo num saco só na percepção internacional e todos se prejudicam com a sinalização do governo de defesa do desmatamento."

Waack destaca, porém, que o acordo possivelmente limitará o uso econômico da Amazônia e demais florestas às chamadas "atividades econômicas florestais", que não causam degradação. É o caso, por exemplo, de extrativismo sustentável para exportação de açaí.

"Esse documento abre caminho para diversificar a economia, mas atividade econômica florestal. Isso quer dizer que não pode causar danos à floresta, como mineração em terras indígenas", destacou o biólogo que, além de integrar o conselho da Marfrig, é presidente do conselho do Instituto Arapyaú, que canaliza investimentos privados para projetos sustentáveis.

O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, anunciou na segunda-feira (01/11), em evento paralelo à COP26, uma nova meta climática de reduzir em 50% a emissão de gases poluentes até 2030 e neutralizar a emissão de carbono no Brasil até 2050. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Novas metas do Brasil

Na segunda-feira (1º/11), o governo brasileiro anunciou que vai oficializar na COP26 novas metas climáticas. O país vai antecipar a meta de zerar o desmatamento ilegal no país de 2030 para 2028, e alcançar uma redução de 50% até 2027.

A ideia, conforme anúncio do governo brasileiro, é que haja uma diminuição gradual da destruição da floresta em 15% ao ano entre 2022 e 2024, subindo para 40% de redução em 2025 e 2026, até alcançar desmatamento zero em 2028.

O Brasil também se comprometeu a aumentar a meta de redução de gases poluentes de 43% para 50% até 2030. O anúncio foi feito pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite.

Ele confirmou ainda que vai oficializar durante a COP26 a meta de alcançar a neutralidade de carbono até 2050 — quando as emissões são reduzidas ao máximo e as restantes são integralmente compensadas, por exemplo, com tecnologia de captura de carbono da atmosfera.

O Brasil havia apresentado inicialmente uma meta de redução das emissões em 37% até 2025 e 43% até 2030, usando como base o ano de 2005.

Em mensagem gravada antes do anúncio das novas metas, o presidente Jair Bolsonaro disse que há espaço para "mais ambição" no controle climático e garantiu que o Brasil é "parte da solução" do problema.

"O Brasil é parte da solução para superar esse desafio global. Os resultados alcançados até 2020 demonstram que podemos ser mais ambiciosos. Autorizei o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, a apresentar durante a COP26 novas metas climáticas", declarou Bolsonaro, em vídeo transmitido durante o evento no qual o ministro do Meio Ambiente apresentou os novos compromissos brasileiros.

O discurso e a promessa de "ambição" contrastam com a política ambiental dos três primeiros anos de governo Bolsonaro. A dificuldade da delegação brasileira será convencer os demais países sobre a seriedade de seus compromissos ambientais, diante de dois anos consecutivos de aumento no desmatamento da Amazônia.

Dados mostram que, no governo Bolsonaro, em 2020, o número de focos de incêndios em todo o território foi o maior em 10 anos; o volume de emissões de carbono em 2019 foi o maior em 13 anos, e o desmatamento da Amazônia atingiu o maior patamar desde 2008.

* Com reportagem de Georgina Rannard & Francesca Gillett

Fonte: BBC Brasil
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-59065368


COP 26: EUA dizem que ações concretas do Brasil importam mais que ausência de Bolsonaro

Ausência do presidente brasileiro não é motivo de preocupação para o governo dos EUA

Matheus Magenta /Enviado da BBC News Brasil a Roma

"O mais importante para nós é o que vai ser colocado na mesa como objetivo sério e como é que isso vai ser cumprido", afirmou Kristina Rosales, porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos para a América Latina, em entrevista à BBC News Brasil.

"No caso de uma situação tão complicada como são as mudanças climáticas, se o país não vem para a conferência colocando objetivos sérios na mesa, vai ser obviamente muito ruim para o resto do planeta. É isso que estamos tentando ver como é que vai ser de fato", disse Rosales.

Segundo a diplomata americana, é normal que em encontros multilaterais como a COP26 e o G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) haja uma participação mesclada de chefes de governo, ministros e outras autoridades.

Além disso, os Estados Unidos foram informados que Bolsonaro tinha outros compromissos, mas que o Brasil seria representado pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, e outras autoridades.

Durante visita a Roma para reunião do G20, Bolsonaro foi questionado diversas vezes por jornalistas brasileiros sobre os motivos de sua ausência na COP26.

Mas o presidente, que acabou escanteado por outros mandatários no G20 e enfrenta forte pressão internacional por causa do desmatamento, permaneceu calado.

Bolsonaro, ausente da CPO-26, passeia pelas ruas de Roma e da Cidade do Vaticano. Foto: Alan Santos/PR

A cúpula do clima reunirá lideranças de mais de cem países entre os dias 31/10 e 12/11 em torno de debates sobre os novos compromissos para garantir a meta do Acordo de Paris de manter o aumento da temperatura média da Terra em 1,5°C.

O Brasil é considerado crucial nos esforços globais para evitar uma catástrofe climática no planeta.

Por isso, a decisão de Bolsonaro não ir à COP26 gerou críticas de outros países e de organizações ambientais.

Segundo o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, o mandatário brasileiro evitará a reunião do clima porque iriam jogar "pedras" nele.

Rosales, do Departamento de Estado dos Estados Unidos, refutou uma alegada falta de proximidade entre Bolsonaro e o presidente americano, Joe Biden, por nunca terem falado ao telefone ou se reunido em encontros bilaterais, incluindo durante o G20 em Roma.

A diplomata ressaltou que os dois países são parceiros estratégicos e que autoridades dos Estados Unidos estão em contato frequente com seus pares brasileiros em diversas áreas, como economia, pandemia e meio ambiente.

O cientista político Oliver Stuenkel, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), explica à BBC News Brasil que essas conversas a portas fechadas são fundamentais para a relação entre países, sejam aliados ou não.

Há dois pontos fundamentais em jogo: avançar em temas importantes para os envolvidos e criar laços pessoais entre líderes para resolver problemas futuros.

"O fato de Bolsonaro não ter essas reuniões bilaterais com outros chefes de governo em Roma é um sintoma do isolamento do país e acaba agravando isso ainda mais. É isso, por exemplo, que está atrapalhando a relação do Brasil com a China, porque Bolsonaro não tem intimidade com Xi Jinping para ser atendido por ele pessoalmente. E isso seria o natural a se fazer na diplomacia para destravar o problema da carne brasileira, que não consegue entrar no mercado chinês."

No caso Brasil-Estados Unidos, o país sul-americano já foi ameaçado de sanções econômicas e pode ter exportações barradas por causa do desmatamento (leia mais abaixo).

Mas para além do isolamento internacional de Bolsonaro, o que afinal o Brasil vai propor de concreto na COP26? E como as propostas brasileiras têm sido recebidas em outros países?

Pressão e ceticismo

Durante o governo Bolsonaro, as estatísticas oficiais e os pesquisadores especializados têm apontado um forte crescimento do desmatamento e da emissão de gases do efeito estufa no Brasil.

Joaquim Leite (Meio Ambiente), anunciou nesta segunda(01/11), em evento paralelo à COP26, uma nova meta climática de reduzir em 50% a emissão de gases poluentes até 2030 e neutralizar a emissão de carbono no Brasil até 2050. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a destruição da Amazônia somou 10.129 km² entre agosto de 2018 e julho de 2019, ultrapassando a marca de 10 mil km² pela primeira vez desde 2008. Já no ano seguinte, o desmatamento teve nova alta, de 9,5%, para 11.088 km².

Dados do Observatório do Clima, organização que calcula anualmente as emissões de gases do efeito estufa no território brasileiro, apontam que o desmatamento da Amazônia durante o governo Bolsonaro subiu em média 60% a mais do que na década passada.

A organização estima que o desmatamento e o uso do solo para pecuária correspondem a cerca de 80% das emissões do Brasil, colocando o país como o quarto maior emissor do mundo.

E, na contramão do mundo, o Brasil teve um aumento de 9,5% nas emissões de gases poluentes em 2020, ante uma redução de 7% na média global (por causa da paralisação de voos, indústrias e serviços na pandemia).

O avanço do desmatamento e dos focos de incêndio no Brasil e a flexibilização de regras ambientais pelo governo Bolsonaro levaram a uma pressão internacional sem precedentes para o país.

Líderes europeus, por exemplo, travaram o gigante acordo comercial entre Mercosul e União Europeia e criam obstáculos à entrada brasileira na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), conhecida como clube dos países ricos.

Durante a campanha eleitoral americana, o agora presidente Joe Biden chegou a ameaçar o Brasil de sanções econômicas por causa de questões ambientais.

Além disso, o Congresso dos Estados Unidos estuda criar uma lei que pode barrar a importação de itens como soja, gado e madeira de países com índices altos de desmatamento florestal se o produtor rural e o importador americano não comprovarem que as origens desses produtos — e toda sua cadeia produtiva — passaram ao largo de áreas ilegalmente desmatadas.

O Brasil é citado no texto como um exemplo do problema, e a medida, se for aprovada, pode barrar US$ 500 milhões (R$ 2,8 bilhões) em exportações brasileiras.

Autoridades brasileiras tentam reverter essa situação. Em abril de 2021, por exemplo, Bolsonaro anunciou na Cúpula do Clima nos Estados Unidos o compromisso de zerar até 2030 o desmatamento ilegal e de atingir até 2050 a neutralidade de carbono (ou seja, reduzir as emissões de gases de efeito estufa tanto quanto possível e compensar as emissões restantes por meio do plantio de florestas, por exemplo).

Mas esses e outros anúncios de medidas ambientais do governo brasileiro têm sido recebidos com desconfiança no exterior por governos, organismos multilaterais, especialistas e ambientalistas.

"Em qualquer um desses locais, seja a COP26, seja o G20, o governo Bolsonaro vai ser cobrado por resultados primeiro. Isso porque ninguém mais acredita no governo Bolsonaro. É um governo que não tem mais credibilidade nem a menor moral na comunidade internacional pelo que faz e pelo que fala. O governo Bolsonaro falha nas principais pautas globais: na economia, na pandemia e no clima", disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

'COP 26: precisamos de ação, não de promessas', diz cartaz de manifestante em Londres
'COP 26: precisamos de ação, não de promessas', diz cartaz de manifestante em Londres

4 pontos da participação do Brasil na COP26

Durante a COP26, serão negociados compromissos ambientais em pelo menos quatro áreas: proteção de florestas, financiamento de países ricos a nações em desenvolvimento, transição para carro elétrico e eliminação do uso de combustíveis fósseis.

Os dois primeiros, por exemplo, estão ligados aos pilares da participação brasileira na COP26. São pelo menos cinco, como explica reportagem da BBC News Brasil:

  • recuperar a credibilidade do país com mudanças na política ambiental;
  • garantir uma parcela significativa dos US$ 100 bilhões (R$ 560 bilhões) anuais que os países ricos preveem para financiar o impacto climático em nações pobres;
  • evitar que nações desenvolvidas criem punições a quem não seguir regras estabelecidas por elas (como metas de emissão para setores específicos da economia, entre eles a agropecuária);
  • regular finalmente o mercado de crédito de carbono, que permitiria a países que não atingem as metas comprem o "crédito" de outras nações que estão em dia com seus compromissos.

Além disso, o Brasil também decidiu assinar um importante acordo sobre proteção de florestas, sinalizando a outros países mudanças no discurso internacional do governo brasileiro sobre política ambiental.

O texto do acordo florestal, conhecido como Forest Deal, ainda não foi divulgado em detalhes, mas ele pode incluir, por exemplo, regulamentações que limitem comércio internacional de produtos ligados ao desmatamento e financiamento direto a povos indígenas para preservação do meio ambiente em seus territórios.

Uma reportagem da BBC News Brasil revelou que, segundo um integrante da delegação brasileira ouvido sob condição de anonimato, o país não vai emperrar as negociações globais, mas também não irá aderir a metas de redução de emissões em setores específicos da economia, como corte da emissão de metano na pecuária, promoção de um menor consumo de carne, ou prazo para transição de carro à gasolina para carro elétrico — compromissos que a União Europeia e o Reino Unido defendem.

A principal cobrança do Brasil na COP26 será que países ricos definam regras claras para pagar os US$100 bilhões por ano prometidos a nações em desenvolvimento para projetos relacionados à contenção das mudanças climáticas. Para o Brasil, o governo quer ao menos US$ 10 bilhões (cerca de R$ 56 bilhões) em financiamento externo.

Os US$ 100 bilhões deveriam ser pagos todo ano, de 2020 a 2025. Mas os países desenvolvidos já não cumpriram a meta de 2020, e faltam mecanismos que definam onde os recursos podem ser depositados e o formato de escolha dos projetos contemplados.

Fonte: BBC Brasil
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-59124509


Guterres pede a líderes que reforcem promessas climáticas

Secretário-geral da ONU falou na abertura da COP26

William James e Mark John / Reuters - Glasgow

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, disse hoje (1º) a líderes mundiais que o fracasso em uma conferência sobre o aquecimento global significa que deveriam voltar com promessas aprimoradas a cada ano, em vez de o atual cronograma de cinco anos acordado.

"Se os compromissos forem insuficientes ao final desta conferência, os países devem revisar seus planos e políticas climáticas nacionais - não a cada cinco anos, mas a cada ano e a cada momento", afirmou Guterres na cerimônia de abertura da 26ª Conferência do Clima (COP26) em Glasgow, na Escócia.

O secretário acrescentou que muitas vezes há "um déficit de credibilidade e um superávit de confusão sobre as reduções de emissões e metas líquidas de zero". Ele disse ainda que as Nações Unidas estão criando um grupo de especialistas para medir e analisar os compromissos de net zero de atores não estatais.

Fonte: Agência Brasil
https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2021-11/guterres-pede-lideres-que-reforcem-promessas-climaticas


Brasil diz que vai reduzir em 50% emissão de gases poluentes até 2030

Anúncio é visto com ceticismo, já que o país aumentou emissões em 2020, em contraste com a média mundial

DW Brasil

O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, anunciou nesta segunda-feira (01/11), em evento paralelo à COP26, uma nova meta climática de reduzir em 50% a emissão de gases poluentes até 2030 e neutralizar a emissão de carbono no Brasil até 2050.

A meta anterior, anunciada em 2020, previa reduzir a emissão de gases em 43% até 2030. "Apresentamos hoje uma nova meta climática, mais ambiciosa, passando de 43% para 50% até 2030 e de neutralidade de carbono até 2050", disse Leite.

Pedalada

No entanto, organizações ambientais demonstraram ceticismo com o anúncio, apontando que a nova meta não é nem um pouco "mais ambiciosa" e deve apenas reduzir distorções propositais da meta anterior de 43%.

Leite também não explicou qual será a base de emissões para o cálculo da porcentagem a ser reduzida.

No ano passado, especialistas, apontaram que o governo executou uma "pedalada climática" ao oficializar uma revisão da base de dados da meta anterior de 43%.

Originalmente, em 2015, o país usou como base de cálculo a quantidade de emissões de gases poluentes lançadas em 2005, à época estimadas em 2,1 bilhões de toneladas de CO2. Usando essa base, o Brasil teria que reduzir suas emissões para 1,2 bilhão de toneladas de CO2 em 2030.

No entanto, em 2020, o governo oficializou uma manobra sobre a base de 2005 usada para o cálculo, revisando para cima a quantidade estimada de gases emitidos há 15 anos para 2,8 bilhões de toneladas. Dessa forma, o governo inchou o ponto de partida e permitiu que as emissões em 2030 chegassem a 1,6 bilhão de toneladas.


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Essa manobra já vinha sendo ensaiada por sucessivos governos brasileros desde 2016, mas foi finalmente oficilizada pela administração Bolsonaro em dezembro de 2020, quando o Brasil submeteu à Organização das Nações Unidas (ONU) novos documentos chamados de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) com a nova meta distorcida. O Acordo de Paris de 2015 estabelece que, a cada cinco anos, os países-signatários submetam novas NDCs.

Segundo a ONG Observatório do Clima, ao manipular a base para o cálculo de emissões, o governo permitiria uma emissão adicional de 400 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente (CO2e) em relação a uma meta anunciada em 2015 por Dilma Rousseff.

A ONG aponta ainda que a nova meta de 50% anunciada por Leite pode reduzir a distorção, mas que isso ainda dependerá de qual base de cálculo o governo pretende usar.

"Caso os 50% sejam aplicados sobre a base de cálculo do inventário mais recente de emissões do Brasil (contido na Quarta Comunicação Nacional, de 2020), o que se espera que ocorra, o governo Bolsonaro empatará com a meta proposta seis anos atrás por Dilma. Caso seja mantida a base do inventário anterior, a "pedalada" cai de 419 milhões de toneladas para 218 milhões, o equivalente às emissões anuais do Iraque", disse o Observatório do Clima, em nota.

A ONG ainda declarou, que se o governo "quisesse apresentar um compromisso compatível com o Acordo de Paris, a meta deveria ser de pelo menos 80% de corte".

"Depois de quase um ano expondo o Brasil ao escárnio diante do mundo e sendo processado na Justiça por violar o Acordo de Paris, o governo enfim aprendeu a fazer uma conta matemática simples que empata nossas metas com as do passado, que já eram muito insuficientes. É uma irresponsabilidade com o planeta e com o futuro dos brasileiros", disse o secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini.

O braço brasileiro da ONG Greenpeace também manifestou ceticismo com o anúncio feito pelo ministro Leite nesta segunda-feira.

"O governo não explica como será a base de cálculo da redução de emissões. É importante que isso seja feito para que não haja nova pedalada climática, como houve em dezembro de 2020, na última reformulação das NDCs brasileiras. A mudança da base de cálculo pode fazer com que se permita mais emissões que nas metas passadas", disse ao G1 Fabiana Alves, coordenadora de Clima e Justiça do Greenpeace Brasil.

A "meta de 50%" foi anunciada pelo ministro durante um evento paralelo da COP26 em Brasília, após a exibição de um discurso gravado pelo presidente Jair Bolsonaro. O presidente não vai comparecer à COP26, em contraste com outros chefes de Estado que participam da conferência em Glasgow, na Escócia. Já o ministro Leite só deve se deslocar para a COP26 no final desta semana.

No mesmo anúncio, Leite prometeu também antecipar a meta de zerar o desmatamento ilegal de 2030 para 2028.


Abertura da COP-26. Foto: Andrew Parsons / No 10 Downing Street
Abertura da COP-26. Foto: Andrew Parsons / No 10 Downing Street
Abertura da CPO-26. Foto Govesp
Abertura da CPO-26. Foto Kiara Worth/ UNclimatechange
Abertura da CPO-26. Foto Kiara Worth/ UNclimatechange
Abertura da COP-26. Foto: Andrew Parsons / No 10 Downing Street
Abertura da COP-26. Foto: Andrew Parsons / No 10 Downing Street
Abertura da COP-26. Foto: Andrew Parsons / No 10 Downing Street
Ministro do Meio Ambiente Joaquim Leite. COP-26. Foto: Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Ministro do Meio Ambiente Joaquim Leite e o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade. COP-26. Foto: Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
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Abertura da COP-26. Foto: Andrew Parsons / No 10 Downing Street
Abertura da COP-26. Foto: Andrew Parsons / No 10 Downing Street
Abertura da CPO-26. Foto Govesp
Abertura da CPO-26. Foto Kiara Worth/ UNclimatechange
Abertura da CPO-26. Foto Kiara Worth/ UNclimatechange
Abertura da COP-26. Foto: Andrew Parsons / No 10 Downing Street
Abertura da COP-26. Foto: Andrew Parsons / No 10 Downing Street
Abertura da COP-26. Foto: Andrew Parsons / No 10 Downing Street
Ministro do Meio Ambiente Joaquim Leite. COP-26. Foto: Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Ministro do Meio Ambiente Joaquim Leite e o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade. COP-26. Foto: Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
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Na contramão do mundo

O anúncio do governo federal é encarado como uma resposta à pressão internacional que o Brasil tem sofrido para melhorar seus compromissos contra o aquecimento global. Desde 2019, a imagem do país derreteu no exterior com o aumento de queimadas e desmatamento, além do desmonte de políticas ambientais pelo governo Bolsonaro.

O ceticismo sobre o comprometimento do governo em reduzir seja em 43% ou 50% a redução de emissões também é alimentada por dados que apontam que o Brasil tem ido na contramão do mundo quando se trata de poluir. Nesta semana, dados apontaram que o Brasil intensificou sua carga de poluição lançada na atmosfera em 2020.

As emissões brutas de gases de efeito estufa do país no passado chegaram a 2,16 bilhões de toneladas de CO2 equivalente (tCO2e), um aumento de 9,5% em relação ao período anterior. É o maior nível desde 2006. Isso ocorreu enquanto média global de emissões sofreu uma redução de 7%, por causa das paralisações de voos, serviços e indústrias ao longo do ano passado por causa pandemia. O movimento contrário à tendência mundial tem uma fonte determinante: o desmatamento.

Fonte: DW Brasil
https://www.dw.com/pt-br/brasil-diz-que-vai-reduzir-em-50-emiss%C3%A3o-de-gases-poluentes-at%C3%A9-2030/a-59688666


Mais de 100 países, Brasil incluso, firmam acordo para deter desmatamento até 2030

Texto prevê finaciamento de US$ 19 bilhões em fundos públicos e privados, e foi chamado de 'sem precedentes' pela COP-26

O Globo e agências internacionais

GLASGOW — Lìderes de cerca de 100 países que participam da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP-26, em Glasgow, firmaram um compromisso para deter e reverter o desmatamento até 2030, contando para isso com um fundo de US$ 19 bilhões de dólares composto por dinheiro público e privado. Mas organizações ambientais afirmam que o prazo serve como “luz verde para mais uma década de destruição das florestas”.

"Teremos uma chance de colocar fim à longa história da humanidade como conquistadora da natureza e, ao invés disso, torná-la sua protetora", afirmou, em comunicado, o premier britânico Boris Johnson, ressaltando que se trata de um acordo "sem precedentes".

Sob pressão: Para cientistas do clima, governo brasileiro tem de provar que vai cortar desmatamento e cumprir meta nova

O texto, que conta com a assinatura de nações como o Brasil, hoje cobrado para adotar uma postura mais agressiva na questão do desmatamento, Rússia, China, EUA e os países da União Europeia, afirma que os signatários reúnem “85% das florestas do mundo, com uma superfície de 33,6 milhões de km²” de área nativa. Cada um deles deverá estabelecer os próprios planos para zerar o desmatamento até 2030, além de proteger 30% de seus recursos marítimos e terrestres até essa data.

“Nunca antes tantos líderes, de tantas regiões, representando todos os tipos de floresta, uniram forças dessa maneira”, disse o presidente da Colômbia, Iván Duque, em declarações distribuídas pela organização da conferência. O texto expande um compromisso similar feito por 40 países e outras dezenas de organizações em 2014, na chamada Declaração de Nova York sobre Florestas.


Abertura da COP-26. Foto: Andrew Parsons / No 10 Downing Street
Abertura da COP-26. Foto: Andrew Parsons / No 10 Downing Street
Abertura da CPO-26. Foto Govesp
Abertura da CPO-26. Foto Kiara Worth/ UNclimatechange
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Abertura da COP-26. Foto: Andrew Parsons / No 10 Downing Street
Abertura da COP-26. Foto: Andrew Parsons / No 10 Downing Street
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Ministro do Meio Ambiente Joaquim Leite. COP-26. Foto: Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Ministro do Meio Ambiente Joaquim Leite e o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade. COP-26. Foto: Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
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Abertura da COP-26. Foto: Andrew Parsons / No 10 Downing Street
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Abertura da COP-26. Foto: Andrew Parsons / No 10 Downing Street
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Ministro do Meio Ambiente Joaquim Leite. COP-26. Foto: Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Ministro do Meio Ambiente Joaquim Leite e o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade. COP-26. Foto: Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
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Txai Suruí: Na COP-26, indígena brasileira critica 'mentiras vazias e promessas falsas'

O acordo aponta que 12 países se comprometeram a contribuir com US$ 12 bilhões para um fundo voltado a países em desenvolvimento entre 2021 e 2025, com o dinheiro sendo usado para restaurar áreas degradadas e combater queimadas. Outros US$ 5,3 bilhões serão doados por 30 empresas privadas, que também se comprometeram a suspender investimentos em atividades ligadas ao desmatamento até 2025.

Por fim, outros cinco países, incluindo Reino Unido e EUA, além de organizações privadas, devem fornecer US$ 1,7 bilhão para apoiar ações de conservação e de manutenção dos direitos às terras nativas de povos indígenas.

Artigo: Como frear o aquecimento global?

Governos de outros 28 países responsáveis por 75% do comércio global de commodities como soja e cacau, vistas como potencialmente nocivas às florestas, vão assinar um acordo à parte, se comprometendo com medidas para incentivar o comércio sustentável e reduzir a pressão sobre as florestas, incluindo o apoio a pequenos produtores e ampliando a transparência nas cadeias de abastecimento.

Apesar de celebrado pela organização da COP-26, ambientalistas veem com ceticismo o anúncio, em especial pelo prazo considerado longo demais para eliminar o desmatamento.

— A Amazônia já está no limite e não pode sobreviver a mais anos de desmatamento. Os povos indígenas querem que se proteja 80% da Amazônia até 2025, e eles estão certos, é o necessário. O clima e a natureza não têm como permitir esse acordo — afirmou à AFP Carolina Pasquali, diretora-executiva do Greenpeace Brasil.

Para ela, a forma como o texto foi acertado acabou se mostrando “cômoda” para o governo brasileiro, uma vez que, em sua opinião, “permite mais uma década de destruição florestal e não é vinculante”.

Hoje, florestas e selvas absorvem quase um terço do dióxido de carbono emitido na queima de combustíveis fósseis — ao mesmo tempo, 23% das emissões globais vêm de atividades como o desmatamento e a agricultura, e mais de um bilhão e meio de pessoas dependem das áreas de mata para sobreviver.

Fonte: O Globo
https://oglobo.globo.com/um-so-planeta/mais-de-100-paises-incluindo-brasil-firmam-acordo-para-deter-desmatamento-ate-2030-25260914


COP26: Brasil é crucial para evitar efeito catastrófico das mudanças climáticas

Brasil deve ser um dos países mais cobrados por ter um papel fundamental em evitar efeitos catastróficos das mudanças climáticas

Nathalia Passarinho / BBC News Brasil

Isso não se deve apenas à importância singular da Amazônia no equilíbrio do clima. O Brasil é, atualmente, o sexto maior emissor de gases do efeito estufa. E um estudo recente publicado pela Carbon Brief, revista especializada em estudos sobre mudanças climáticas, mostrou que o Brasil é o quarto maior emissor histórico de gás carbônico em números absolutos — atrás apenas de EUA, China e Rússia.

"O Brasil é um dos maiores emissores históricos de gás do efeito estufa, quando se leva em consideração todo o desmatamento ocorrido em todas as regiões desde a revolução industrial. Ele tem um papel importante na redução de emissões, apesar de ainda ser um país em desenvolvimento com desafios para redução de pobreza", disse à BBC News Brasil Carlos Rittl, pesquisador de políticas públicas da Rain Forest Foundation, ONG ambiental da Noruega.

As emissões do Brasil aumentaram no primeiro ano do governo Bolsonaro. Segundo dados do Inpe, analisados pelo Observatório do Clima, em 2019, as emissões de gás carbônico alcançaram 1,38 milhões de toneladas — o maior volume registrado em 13 anos, desde 2006.

A grande maioria das emissões vem do desmatamento, seguida pela poluição energética.

Sem Amazônia, metas desandam

Desmatamento na Amazônia em 2020 foi o maior desde 2008, segundo dados do Inpe. Foto: Greenpeace

Além do impacto climático por ser um grande emissor de carbono, o Brasil, por causa da Amazônia, tem uma importância crucial para o sucesso ou fracasso da meta do Acordo de Paris de manter o aquecimento global em 1,5°C.

Um aquecimento maior do que esse tornaria diversas áreas do planeta inabitáveis, contribuiria para eventos climáticos extremos, significaria a extinção de espécies e ameaçaria o fornecimento de alimentos no mundo, segundo cientistas.

Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, explica que algumas áreas de alta absorção de carbono da atmosfera, como a Amazônia e as geleiras do Ártico, podem derrubar por si só as metas de controle climático, se deixarem de existir ou sofrerem muita degradação.

A floresta Amazônica ajuda a equilibrar o clima do planeta, ao capturar e estocar quantidades enormes de dióxido de carbono (CO2), um dos principais gases do efeito estufa. Quando árvores são derrubadas, parte desses gases são liberados para a atmosfera e novas absorções deixam de ocorrer. Também é da Amazônia que vem 70% das chuvas que irrigam as áreas agricultáveis do Centro Oeste, Sul e Sudeste do Brasil, destaca Astrini.

"Existem hotspots (focos de interesse) de emissões no planeta que, se acionados, colocam a perder a meta de 1,5°C. São os oceanos, a Groenlândia, o Ártico e a Amazônia", diz o secretário-executivo do Observatório do Clima.

"A Amazônia estoca o equivalente a cinco anos das emissões globais. Junta todo o carbono de cinco anos de emissões do mundo, isso está estocando na Amazônia em forma de árvore e no solo. Se a gente perde a floresta, a gente perde a corrida pela manutenção do clima."


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Mas por que a Amazônia estoca tanto carbono?

Por ser composta em sua maioria por floresta primária, a Amazônia tem uma capacidade maior de absorção de CO2 que áreas replantadas e reflorestadas em outras regiões do Brasil e do mundo.

As florestas primárias são aquelas que se encontram em seu estado original — não afetadas, ou afetadas o mínimo possível, pela ação humana. Por serem mais antigas, elas têm mais diversidade de espécies e guardam mais carbono.

É lá que vivem árvores de centenas ou milhares de anos de idade, que cumprem um papel essencial na batalha contra as mudanças climáticas, porque agem como um enorme armazém de dióxido de carbono.

Uma pequena parte do CO2 que as árvores absorvem no processo de fotossíntese é emitida de volta para a atmosfera durante sua respiração. A outra parte é transformada em carbono e usada na produção dos açúcares que a planta necessita para seu metabolismo.

A quantidade de carbono em uma árvore é medida pela espessura do tronco, onde o gás é armazenado em forma de biomassa. Por isso, quanto mais antiga uma árvore, mais carbono ela costuma armazenar. Por sua vez, a derrubada de uma árvore milenar vai provocar uma liberação maior de carbono que a morte de uma árvore jovem.

Parte da floresta já emite mais carbono que absorve

Um dos efeitos do desmatamento é liberar o CO2 guardado na floresta de volta na atmosfera, pela queimada ou pela decomposição da madeira cortada — processos que transformam o carbono das árvores novamente em gás.

Por este motivo, os cientistas temem que a região deixe de ser um armazém de carbono e se transforme em um importante emissor de CO2, acelerando os efeitos da mudança climática.

Um estudo publicado na revista científica Nature revelou que, por causa do aumento das queimadas e do desmatamento, a floresta amazônica brasileira liberou 20% mais dióxido de carbono na atmosfera do que absorveu entre 2010 e 2019.

Os pesquisadores identificaram uma divisão clara no volume de emissões entre a parte leste, mais desmatada, e a parte oeste da floresta, mais preservada.

"A parte leste da Amazônia, que está cerca de 30% desmatada, emitiu 10 vezes mais carbono que a região oeste, que está 11% desmatada", explicad a pesquisadora-chefe do estudo, Luciana Gatti, do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe).

"Esse é um impacto enorme. Estamos emitindo mais CO2 para a atmosfera, o que está acelerando as mudanças climáticas, mas também promovendo mudanças nas condições da estação seca, o que deixa as árvores ainda mais vulneráveis e propensas a produzir mais emissões."

Em 2020, segundo ano de governo Bolsonaro, o desmatamento na região da floresta foi o maior desde 2008, com uma taxa de área desmatada de 10.851 km2, conforme dados do Inpe. Já o número de focos de incêndio registrados em 2020 em todo o território nacional foi o mais alto em dez anos.

'Ponto de não retorno'

O grande temor dos cientistas é que o desequilíbrio ambiental provocado pelo desmatamento da Amazônia alcance o chamado "ponto de não retorno" (tipping point, em inglês), como é chamado o momento em que a degradação, em conjunto com as mudanças climáticas e a vulnerabilidade a incêndios, mudarão de maneira irreversível o ecossistema tropical da floresta.

Segundo o biólogo americano Thomas Lovejoy e o climatologista brasileiro Carlos Nobre, do Instituto de Estudos Avançados da USP, esse "ponto de não retorno" será alcançado quando entre 20% e 25% da floresta original forem desmatados.

Atualmente, pouco mais de 18% de toda a floresta original foi desmatada, de acordo com dados do projeto de monitoramento Mapbiomas, parceria entre universidades, ONGs, institutos de todos os territórios amazônicos e o Google.

Segundo as projeções de Nobre e Lovejoy, se o desmatamento continuar no ritmo atual, esse "ponto de não retorno" chegará nos próximos 20 a 30 anos.

"Se chegarmos a esse ponto, aumentará a duração da estação seca e a temperatura da floresta. A partir daí, as árvores começarão a morrer de maneira acelerada, e isso criará um ciclo vicioso. O que era floresta tropical ficará parecido com o cerrado brasileiro, mas como uma espécie de savana pobre, sem a rica biodiversidade do cerrado", disse Carlos Nobre à BBC News Brasil.


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Secas prolongadas e escassez de alimentos

Mudanças climáticas e desmatamento na Amazônia ameaçam colheitas no Sul, Centro Oeste e Sudeste do Brasil

O Brasil é um dos países mais vulneráveis à desertificações decorrentes das mudanças climáticas, segundo cientistas. E o contínuo desmatamento na Amazônia contribui para reforçar essa tendência, porque o aumento das emissões impacta o aquecimento da Terra.

O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado no dia 9 de agosto, aponta que, por causa da mudança do clima, boa parte do Nordeste e o norte de Minas Gerais já têm enfrentado secas mais intensas e temperaturas mais altas que as habituais.

Criado na ONU e integrado por 195 países, entre os quais o Brasil, o IPCC é o principal órgão global responsável por organizar o conhecimento científico sobre as mudanças do clima.

"No cenário atual, você tem dois eventos de seca a cada 10 anos, ou seja uma seca a cada cinco anos. Num cenário de aumento de 4 graus centígrados de temperatura, você vai ter cinco eventos de seca a cada dez anos, ou seja, ano sim, ano não vai ter seca", exemplifica Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

Hoje, segundo o IPCC, o mundo já teve um aumento de 1,1°C na temperatura média em relação aos padrões pré-industriais. Se em 2030, a Terra deve alcançar um aumento de 1,5°C, em várias regiões do Brasil o aumento será duas vezes maior, com temperaturas batendo a faixa dos 40°C em várias partes do Semiárido, conforme o relatório do IPCC.

Nesse contexto, mudança climática e desmatamento na Amazônia se retroalimentam, colocando pressão tanto no Nordeste quanto nas demais regiões do Brasil.

"A retroalimentação está em que, no aumento da temperatura, a Amazônia começa a secar. E, ao começar a secar, ela está mais vulnerável ao fogo e ao desmatamento, e aumenta sua contribuição para o aquecimento do planeta, que fica ainda mais severo e ajuda a secar a floresta e a aumentar as estações secas", explica Astrini.

Como 70% das chuvas que irrigam as plantações do Centro-Oeste, Sul e Sudeste brasileiro vêm das águas evaporadas da Amazônia, a degradação da floresta também ameaça a agricultura brasileira e o abastecimento de alimentos no mundo, já que o Brasil é um dos maiores produtores.

"Para deixar mais dramática a situação, o Brasil não tem infraestrutura de irrigação artificial. Só 5% da agricultura tem sistema irrigação. A agricultura brasileira é clima-dependente. Quando muda o clima, muda o regime de chuvas, você começa a perder em tudo: perde economia, fluxo migratório, áreas agricultáveis", destaca Astrini.

"O Brasil é extremamente frágil para questões de mudanças climáticas. E é um ator crucial no combate ao aumento da temperatura da Terra", completa secretário-executivo do Observatório do Clima.

* Com reportagem de Camilla Costa

Fonte: BBC Brasil

https://www.bbc.com/portuguese/geral-59040717


'É muito mais do que meio ambiente, trata-se de paz', diz chefe da COP-26

Patricia Espinosa fala em momento histórico para a Humanidade e faz apelo dramático por 'futuro mais sustentável'

Daniela Chiaretti / Valor Econômico / Enviada especial a Glasgow

GLASGOW, ESCÓCIA —  "Ou optamos por reconhecer que o 'business as usual ' não vale o preço devastador que estamos pagando e fazemos a transição necessária para um futuro mais sustentável, ou aceitamos que estamos investindo em nossa própria extinção", disse a secretária executiva da Convenção do Clima, Patricia Espinosa, em seu discurso de abertura da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP-26, neste domingo.

— É muito mais do que de meio ambiente, trata-se de paz — afirmou.

A COP-26, o maior evento internacional desde o início da pandemia,  começou com mais de uma hora de atraso no Dia das Bruxas, no Campus de Eventos da Escócia. Durará duas semanas, com 20 mil a 25 mil pessoas. Na manhã de hoje, as bruxas estavam soltas. Havia longas filas para entrar no local da conferência e chovia forte. A temperatura era de 6º C. Todos usavam máscaras.

Saiba mais:  Acordo na COP-26 será difícil, mas imperativo para evitar catástrofe

A abertura foi formal e burocrática, como previsto. COPs começam com a mudança de presidência e adoção de procedimentos. Os discursos miraram a confiança no processo e o fortalecimento do multilateralismo. Amanhã são esperados ao menos 120 chefes de Estado e de governo na abertura formal. É aí que a COP-26 deve deslanchar.

— Nossa longa espera terminou, é com entusiasmo que dou boas-vindas a vocês na COP 26 — começou Patricia Espinosa. — Pensem nos últimos dois anos, quando nos encontramos em Madri [na COP-25]. A confusão inicial e o que isso poderia ter significado para o nosso processo. Pensem em todos que perdemos com a Covid-19 — lembrou a diplomata mexicana.

Poucos meses depois de a COP-25 terminar, os pavilhões que abrigaram delegados, ambientalistas, homens de negócio e jornalistas foram tomados por leitos abrigando doentes de Covid. 

— Mas vamos ver o que conquistamos. Conseguimos deixar o processo seguir — disse Espinosa, emocionada, ressaltando que a COP-26 deve entregar resultados para as próximas gerações. — Estamos em um ponto crucial da história. Ou escolhemos alcançar reduções rápidas e em grande escala das emissões para manter a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C ou aceitamos que a Humanidade enfrenta um futuro sombrio neste planeta — afirmou,  em uma referência ao aumento máximo da temperatura do planeta necessário para evitar uma catástrofe ambiental, em relação aos níveis pré-Revolução Industrial.

Manifestantes protestam em Glasgow, sede da CPO-26. Foto: SkyNews/Reprodução

Glossário:  Acordo de Paris, NDCs e neutralidade de carbono: entenda os termos das negociações

Espinosa mencionou a força disruptiva da mudança do clima, ao citar insegurança e ameaça à paz mundial.

— É por isso que temos que ter avanços em Glasgow.

Para a política mexicana, que assumiu a Secretaria Executiva da Convenção do Clima logo após a conferência climática de Paris, em 2015, o sucesso na COP é totalmente possível.

— Temos tudo o que precisamos para agir e cumprir nossos objetivos climáticos — Cada dia que perdemos em implementar o Acordo de Paris é um dia perdido — disse ela, citando o poeta escocês Robert Burns: — Ele escreveu: "Agora é o dia, agora é a hora".

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Patricia Espinosa lembrou que várias agências das Nações Unidas soltaram relatórios nos últimos dias mostrando que as emissões globais de gases-estufa continuam crescendo.

— Esta é a má notícia. A boa é que, para os países que atualizaram suas NDCs [os compromissos climáticos voluntários], as emissões irão cair em 2030.

Compromisso de financiamento

Ela lembrou que é preciso ter financiamento. Mencionou o compromisso dos países desenvolvidos de mobilizarem US$ 100 bilhões por ano para o mundo em desenvolvimento, a partir de 2020, em recursos para o clima, o que não ocorreu. Um plano divulgado há alguns dias diz que a meta deverá ser cumprida em 2023 e ir aumentando gradativamente.

— O plano deve ser visto como um começo, não o fim. Sem o apoio necessário não será possível embarcamos nas transformações necessárias para manter vivo o 1,5º C —prosseguiu. — Não se trata US$100 bilhões. Temos que mobilizar trilhões. Apelo a todos os países que resgatem o espírito do multilateralismo.

Brasil:   ‘Isolar o Brasil seria atitude totalmente equivocada’, diz ao GLOBO chefe de negociadores do Itamaraty na COP-26

O sucesso da COP, seguiu Espinosa, é possível de ser atingido também porque a ciência aponta o caminho.

— Se agirmos agora e juntos, podemos proteger nosso precioso planeta. E se somos sinceros ao dizer que a mudança do clima é um assunto global, a inclusão total tem que ser garantida. Todos enfrentamos a emergência climática. Todos temos que ser parte da solução.

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Antes do discurso de Espinosa, quem abriu oficialmente a COP-26 foi Carolina Schmidt, ministra do Meio Ambiente do Chile e presidente da COP-25.

— Sabemos que o enfrentamento da mudança do clima tem que ser transversal, e por isso convocamos os ministros das Finanças, Energia, Ciência e Transporte para impulsionar uma transformação multisetorial — afirmou Schmidt. — Sabemos que temos pouco tempo— completou ela, lembrando que o evento precisa de confiança e o cumprimento de promessas feitas no passado.

Depois, Schmidt passou a presidência ao britânico Alok Sharma, que fez um discurso curto e claro.

—Sabemos que a janela do 1,5.C está fechando. Em todos os países estamos vendo os impactos devastadores do clima — disse. — Inundações, ciclones, incêndios florestais, temperaturas recordes. Sabemos que nosso planeta está mudando para pior. E só podemos abordar isso juntos, através deste sistema internacional — seguiu Sharma, prometendo transparência e inclusão.

Ciência: Aquecimento global pode chegar a 1,5 grau Celsius na próxima década, levando planeta a limiar da catástrofe, indica relatório climático

Sharma lembrou que em Paris, há seis anos, o mundo concordou com o que deveria ser feito. 

— A mudança climática rápida e intensa está deixando claro que a COP-26 é nossa última e melhor esperança de tornar  [o limite de] 1,5.C possível de ser alcançado. O trabalho começa hoje. Vamos ter sucesso ou falhar. Como um todo.

Hoesung Lee, o presidente do painel científico da ONU sobre o clima, o IPCC, citou a pimeira parte do sexto relatório da entidade, sobre ciência do clima, divulgado em agosto

— Não se enganem — lembrou, citando a magnitude dos resultados. — A mudança climática é rápida, intensa e afeta a todos, em todas as partes. Hoje temos um quadro muito mais preciso de como funciona o sistema do clima — prosseguiu. — Agora é inequiivoco que a atividade humana causa a mudança do clima. Encorajo a todos que vejam o momento e a oportunidide de termos  esforços conjuntos.

O cientista concluiu:

— Dividimos uma única atmosfera e um único sistema climático.

Fonte: O Globo
https://oglobo.globo.com/mundo/cop-26-comeca-em-glasgow-muito-mais-do-que-meio-ambiente-trata-se-de-paz-diz-chefe-da-convencao-do-clima-25259371


Crise climática: por que a COP26 é necessária

Desde 1995 poucas ações concretas resultaram desses 25 anos de encontros

DW Brasil

Conferência da ONU sobre as Mudanças Climáticas, a COP26, o corpo decisório supremo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), é realizada pela primeira vez na Escócia, em Glasgow, a partir deste domingo (31/10).

No primeiro encontro da Conferência das Partes (COP, na sigla em inglês) em Berlim, em 1995, os participantes, que já estavam cientes da necessidade de reduzir as emissões de CO2, concordaram em se reunir anualmente para discutir como manter o controle sobre o aquecimento global.

Mas, quais ações concretas resultaram, até o momento, desses 25 anos de encontros? De acordo com a maioria dos ativistas pelo clima, muito poucas.

Greta Thunberg afirmou recentemente ao jornal britânico The Guardian que nada mudou em relação as anos anteriores. "Podemos ter quantas COP quisermos, mas nada de concreto sairá disso", ironizou. 

Fica então a pergunta: será que ainda precisamos das COP? Segundo especialistas, sim: estes encontros são vitais para se atingir as metas do clima num futuro próximo.


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A grande conquista da COP: o Acordo de Paris

Apesar de os especialistas concordarem que nenhum avanço significativo foi obtido através desses encontros anuais – e que o andamento do processo decisório foi mais lento do que se esperava – eles afirmam que a conquista mais fundamental até hoje dessas conferências tenha sido o Acordo Climático de Paris na COP21, o maior tratado já elaborado de enfrentamento às mudanças climáticas.

Mesmo tendo levado 20 anos de negociações para que se chegasse até lá, o Acordo de Paris foi finalmente adotado em 2015 por 196 países, que declararam o objetivo de limitar o aumento da temperatura global média para menos de 2 ºC, com uma meta de 1,5 ºC em relação aos níveis da era pré-industrial.

David Ryfisch, líder da equipe de políticas climáticas internacionais da ONG alemã Germanwatch, avalia que o acordo provocou mudanças fundamentais em termos de ações climáticas, além de gerar uma mudança de rumo.

"Acredito que o Acordo de Paris seja um ponto de partida para uma série de mudanças”, observa. "Foi um sinal enviado à economia real e a outros setores de que a intenção dos países é genuína e terá consequências no mundo real.”

A COP e o Acordo de Paris já se traduziram em ações, segundo Ryfisch, desde a redução dramática do custo de energia limpa até o distanciamento por parte do setor financeiro dos combustíveis fósseis.

Soma-se a isso a menor predisposição para o apoio a projetos envolvendo carvão e o fato de países se comprometerem com uma eliminação escalonada dessa fonte de energia, assim como dos motores de combustão interna

O desafio do CO2

Ainda assim, é difícil compreender os efeitos práticos do tratado histórico que possam trazer resultados. O desafio para a COP e o Acordo de Paris gira muito em torno do CO2, um gás causador do efeito estufa responsável pela maior parte do aquecimento global.

"O CO2 é nosso maior problema se quisermos lidar com a questão do clima”, afirma Paul Young, pesquisador da Universidade de Lancaster, no Reino Unido. "Esse gás permeia tudo, a economia inteira. É muito difícil de dar meia volta nesse enorme navio petroleiro. O dióxido de carbono não é algo que podemos simplesmente eliminar utilizando outro agente químico.”

Charles Parker, cientista político da Universidade de Uppsala, na Suécia, que realiza estudos em políticas ambientais, liderança e gerenciamento de crises, oferece uma análise semelhante.

"Nós, em última instância, precisamos encontrar substitutos ao combustível fóssil e descobrir fontes de energia sem carbono ou de pouco carbono. Mas, há tantos interesses envolvidos, agentes com poder de veto e grupos de lobistas que não têm interesse em fazer isso”, lamenta.

Autoridades celebram o fechamento do Acordo de Paris na COP21, realizada na capital francesa

Adoção de metas ambiciosas

Esse é o motivo pelo qual as negociações na COP sobre metas climáticas são tão fundamentais.

Cada país signatário do Acordo de Paris teve de assumir suas metas, também chamadas de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC, na sigla em inglês), para explicar como pretendem reduzir suas emissões.

Com o tempo, os países tornam essas metas mais ambiciosas, o que é chamado de mecanismo de catraca. Ou seja, a cada cinco anos, eles devem submeter NDCs novas e atualizadas, especificando como desejam manter as promessas feitas em 2015.

Autoridades celebram o fechamento do Acordo de Paris na COP21, realizada na capital francesa

"Vimos que entre 2015 e 2020 essas metas já melhoraram significativamente, ainda que não sejam suficientes para atingir o objetivo de 1,5 ºC, mas melhoraram. Esse é o primeiro sinal claro de que algo está dando certo”, diz Ryfisch.

O problema, porém, é que muitos críticos apontam que não há sanções legais ou financeiras caso os países não atinjam suas metas. "As punições vêm somente através da pressão pública, uma vez que os países têm suas reputações a perder", ressalta Ryfisch.

"Tudo acaba no papel da sociedade civil, de movimentos de jovens e acadêmicos em seus respectivos países. É óbvio que isso funciona melhor em alguns países do que em outros. Mas, existe uma simbiose entre o que saiu do Acordo de Paris e as ações que vimos em campo através da sociedade civil nos últimos anos”, diz o ativista.

COP e ação climática: uma simbiose

Outro sinal dessa simbiose são dois casos recentes em tribunais europeus.

A Corte Constitucional da Alemanha determinou que as liberdades e os direitos fundamentais dos jovens estão sendo violados pela proteção insuficiente ao clima por parte do Estado. Na Holanda, um tribunal ordenou a petrolífera Shell a reduzir suas emissões globais de CO2 em 45% até 2030, tendo como base os níveis de 2019.

"Agora que vimos esses casos de sucesso, acredito que mais empresas e, potencialmente, países serão levados à Justiça”, avalia Ryfisch. Ele acredita que isso poderá resultar em uma reação em cadeia e levar empresas e nações a agir ao invés de serem arrastados para os tribunais. "Nada disso seria possível sem a COP, observa.

Por isso, apesar das deficiências, os especialistas acreditam que realizar um encontro sobre gestão global como a COP é algo crucial para o futuro do clima.

"Acredito totalmente que precisamos das COPs. Estamos agora em uma década decisiva, onde ainda podemos ficar dentro do limite de 1,5 grau. Glasgow tem que demonstrar que 1,5 grau é o limite”, diz o ativista.

Isso, porém, não será nada fácil de se atingir. Segundo a ONU, o mundo está em um caminho catastrófico rumo a um aquecimento de 2,7 ºC até o fim do século, a não ser que as nações mais ricas se comprometam a lidar agora com as emissões.


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Onçafari – Onças-pintadas no Pantanal (crédito Edu Fragoso)
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Desafio de gestão global

Especialistas acreditam que as COPs não apenas não são supérfluas como serão necessárias para estabelecer uma maneira justa de atingir as metas nos próximos anos.

Levando-se em conta que as nações desenvolvidas ficaram abaixo de suas promessas para reduzir emissões, elas precisam encontrar meios de compensar isso de modo que os países em desenvolvimento não paguem o preço.

"Temos de compreender que há uma necessidade de desenvolvimento em muitos países, mas isso não pode ir pelo mesmo caminho da intensificação dos combustíveis fósseis, como fizeram os países do norte do globo” diz Ryfisch.

Parker, por sua vez, afirma que, por esse motivo, é de vital importância que os países mais ricos demonstrem solidariedade e apoiem financeiramente as nações menos desenvolvidas. "Este será mais um teste para o Acordo de Paris”, observa.

Ryfisch se diz otimista de que o tratado vai passar pelo teste. "Ao longo dos últimos anos, eu vi esse ponto de virada. Enxergo a aceleração das ações e coisas que estão acontecendo e, por fim, a COP nos entrega o que esperávamos que entregasse já nas décadas passadas."

Fonte: DW Brasil
https://www.dw.com/pt-br/crise-clim%C3%A1tica-por-que-a-cop26-%C3%A9-necess%C3%A1ria/a-59668829


Raul Jungmann: Soberania versus clima, embates da COP-26 em Glasgow

Dois caminhos são possíveis. O da diplomacia e o da força – este, com consequências negativas e trágicas

Raul Jungmann / Capital Político

Na Conferência das Partes (Cop-26), a ser aberta neste domingo em Glasgow, Escócia, o pano de fundo dos embates sobre a crise climática, suas repercussões e medidas para evitá-la, será o choque entre soberania e clima.

O conceito de soberania afirma-se na Conferência de Paz de Westfália, em Münster, na Alemanha, após a Guerra dos 30 Anos que devastou a Europa no século XVII, que desenhou o atual sistema internacional das nações e que permanece o mesmo em seus fundamentos.

Desde então, além do conceito de não-intervenção de um país sobre o outro e do respeito às escolhas religiosas das partes, o Estado-Nação moderno passou a ser reconhecido com base em território, povo e soberania. Entendendo-se por esta última a capacidade autônoma de um ente jurídico-político de não reconhecer nenhum outro poder, seja interno ou externo, acima do seu.

De lá para cá o mundo diminuiu, fruto da revolução industrial, nas comunicações e nos transportes, subprodutos de outra revolução, a tecnológica, passando a atividade humana a impactar e pressionar crescentemente o meio ambiente.

Alcança-se assim uma nova compreensão do conceito secular, pois se o território é eminentemente nacional, o clima não o é. Ou seja, ele é global em suas causas e efeitos, donde se instala o inevitável conflito entre soberania e crise climática. Mas a regra ainda é a preeminência da soberania, delimitada exclusivamente pelo território e ancorada no Estado Nacional.

Diante desse impasse, dois caminhos são possíveis. O da diplomacia e o da força – este, com consequências colaterais negativas e eventualmente trágicas.

Na primeira das opções, a saída para a assimetria sócio-econômica entre países ricos – historicamente responsáveis pelo aquecimento global-, e países pobres, repousa num compromisso dos primeiros em transferir fundos e tecnologia aos segundos, dos segundos em reduzir suas emissões – e de ambos em transitar de uma economia lastreada em energia fóssil para uma outra, baseada em energias renováveis.


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À falta de um consenso as consequências podem ser devastadoras – – desde elevação dos oceanos, secas, temporais, e tufões, com reflexos em migrações, pandemias, violência social, conflitos, confrontos e guerras por recursos naturais mais e mais escassos, conforme previsto pelo VI Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas da ONU.

Por isso a expectativa é grande em relação ao encontro de Glasgow. Mas as metas expressas nas NDCs – Compromissos Nacionalmente Determinados, de redução de emissões de dióxido de carbono, já feitos por 75 países, responsáveis por 30% das emissões, deixam a desejar.

As desconfianças mútuas ainda imperam, com os menos desenvolvidos supondo uma trapaça com cores e narrativa ambiental dos países ricos, para desfazer as suas vantagens competitivas.

Estes, por sua vez, bloqueiam recursos e tecnologia para os primeiros, sem que compromissos e metas sejam antecipadamente firmados e cumpridos sob monitoramento de instituições independentes, porém com maioria dos países desenvolvidos.

Superar essas assimetrias e desconfianças será a árdua tarefa de todos em Glasgow, o que exigirá um esforço sério e democrático de compartilhamento e coordenação entre soberanias, amparado em mecanismos de governança global justos, democráticos e eficazes.

Enquanto nos resta tempo.

Fonte: Capital Político
https://capitalpolitico.com/soberania-versus-clima/


Brasil é 4º no mundo em ranking de emissão de gases poluentes desde 1850

Brasil pretende enfatizar o argumento que países desenvolvidos poluíram muito mais ao longo da história para enriquecer

Nathalia Passarinho / BBC News Brasil em Londres

Mas uma nova pesquisa sobre acumulado histórico de emissões de gás carbônico põe o Brasil entre os maiores poluidores do mundo. No estudo, que leva em consideração pela primeira vez o desmatamento ao contabilizar a liberação de CO2, o Brasil aparece em quarto lugar no ranking de emissões desde 1850.

A China, gigante emergente que só pretende começar a reduzir suas emissões a partir de 2030, é apontada como o segundo maior emissor de gases do efeito estufa no acumulado histórico, atrás dos Estados Unidos.

O levantamento foi feito pelo think tank internacional Carbon Brief e leva em conta dados de emissões de queima de combustível fóssil, mudanças no uso do solo, produção de cimento e desmatamento de 1850 a 2021. Pesquisas anteriores consideravam no cálculo as emissões decorrentes de queima de combustível, sem incluir a poluição provocada pela destruição de florestas.

Brasil e Indonésia sobem ao top 5 da poluição

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A mudança de metodologia altera a lista de top 20 maiores poluidores históricos. Pesquisa de 2019 da Carbon Brief, que só considerava emissões por queima de combustível, apontava EUA, China, Rússia, Alemanha e Reino Unido com os cinco maiores emissores.

O estudo atualizado, publicado em outubro, inclui Brasil e Indonésia entre os grandes emissores, por causa da liberação de CO2 na atmosfera decorrente de desmatamento e manuseio do solo ao longo dos últimos 171 anos.

Conforme esse novo ranking, os cinco países que mais poluíram desde a Revolução Industrial, de 1850 a 2021, são: EUA, China, Rússia, Brasil e Indonésia. No Brasil e na Indonésia, a maior parte das emissões vem da derrubada de florestas e uso do solo para pecuária e agricultura, não da queima de combustíveis fósseis, como ocorre com os demais grandes poluidores.

Portanto, conforme ambientalistas, pesquisas que não consideram emissões decorrentes de desmatamento, negligenciam as peculiaridades da poluição brasileira.

Segundo Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, organização que calcula anualmente as emissões no Brasil, nos últimos 30 anos, cerca de 80% das emissões do país foram decorrentes de desmatamento e uso do solo para pecuária.

"Se você pegar os últimos 30 anos, 73% do das emissões do planeta estão na área de energia. Se você pegar os últimos 30 anos no Brasil, 55% das emissões são por desmatamento. Se você incluir emissões decorrentes da pecuária brasileira, a gente bate na casa dos 80%", disse Astrini à BBC News Brasil.


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A discussão sobre responsabilidades no controle das mudanças climáticas vai ser central na reunião da COP26, que acontece do dia 31 de outubro a 12 de novembro em Glasglow, na Escócia. No encontro, líderes de mais de 100 países vão negociar novos compromissos para garantir a meta do Acordo de Paris de manter o aquecimento global em 1,5°C.

Países pobres e em desenvolvimento devem cobrar mais compensações de nações ricas e destacar que elas falharam em cumprir o compromisso de contribuir com US$ 100 bilhões por ano em ações para mitigação das mudanças climáticas.

Por sua vez, EUA, Reino Unido e União Europeia tentam obter de grandes países emergentes, como Brasil, Rússia, China e Índia, compromissos mais ambiciosos de controle do desmatamento e redução de emissões.

A expectativa é que o Brasil seja um dos países mais pressionados, por causa do grande crescimento do desmatamento e das queimadas da Amazônia nos três primeiros anos de governo Bolsonaro.

Nessa queda de braço entre países ricos e em desenvolvimento, a responsabilidade de cada país pelo aquecimento do planeta será medida, entre outras maneiras, pelo seu volume atual e histórico de emissões.

O que revela o novo ranking

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O levantamento publicado pela Carbon Brief sugere que os países com maior acúmulo de emissões desde o início da Revolução Industrial seriam, também, os maiores responsáveis pelas mudanças climáticas.

"A história importa porque o acumulado de dióxido de carbono emitido desde o início da Revolução Industrial está intimamente ligada ao aquecimento de 1,2°C que já ocorreu", escreve o autor do estudo, Simon Evans.

"Emissões de CO2 de centenas de anos atrás continuam a contribuir para o aquecimento do planeta, e o aquecimento atual é determinado pelo total de emissões acumuladas ao longo do tempo."

Desde 1850, as ações humanas foram responsáveis por emitir 2,5 trilhões de toneladas de CO2 na atmosfera, conforme o estudo. Em primeiro lugar no ranking de poluição, os Estados Unidos seriam responsáveis por 20% do total de emissões. A China aparece em segundo lugar, como responsável por 11% do CO2 global.

A Rússia vem em seguida, com 7% das emissões. O Brasil, segundo o estudo, é responsável por 5% do total de emissões nos últimos 171 anos e a Indonésia, por 4%.

Segundo a pesquisa, é a partir de 1950 que a aceleração do desmatamento nesses dois países começa a provocar aumento significativo de emissões.

"As florestas tropicais de Brasil e Indonésia já passavam por desmatamentos no final do século 19 e início do século 20, para produção de borracha, tabaco e outros. Mas o desmatamento começou 'para valer' por volta de 1950, incluindo pecuária, extração de madeira e plantações de óleo de palma", diz o estudo publicado pelo Carbon Brief.

Conforme a pesquisa, o Brasil emitiu 112,9 bilhões de toneladas de CO2 (GtCO2) desde 1850. Mais de 85% desse volume estaria associado à derrubada de florestas. Dos 20 maiores poluidores, o Brasil lidera na categoria desmatamento e emissões associadas ao uso da terra.

O estudo aponta ainda que Alemanha e Reino Unido respondem por 4% e 3% do total histórico de emissões, respectivamente. Mas esse percentual não leva em conta a poluição que eles causaram no exterior, no período em que colonizaram nações. Portanto, a responsabilidade histórica deles pode ser muito maior do que os números revelam.

O que o novo ranking significa para o Brasil?

Ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta semana que Brasil não deve ser visto como vilão ambiental porque teria menor responsabilidade sobre total de emissões. Foto: Marcos Corrêa/PR

Integrantes do governo brasileiro reiteradamente usam o argumento de que o Brasil não é um grande poluidor, para defender que cobranças de metas ambiciosas para controle climático devem ser dirigidas a países ricos.

Diferentes pesquisas que não levam em conta desmatamento na contabilidade de emissões colocam o Brasil na sétima ou sexta posição no ranking de emissões, como responsável por cerca de 3% do total de CO2 na atmosfera.

A equipe de negociadores brasileiros vai apresentar à COP26 um documento que argumenta que o Brasil não é um grande emissor de CO2 e que, portanto, seu compromisso voluntário de cortar em 43% as emissões até 2030, levando como base o ano de 2005, é ambicioso o suficiente.

"O NDC (documento em que países apresentam metas climáticas) do Brasil é mais ambicioso do que o de vários países do G20. O Brasil responde por menos de 3% das emissões globais e nosso compromisso inclui uma meta não só para 2030, mas também uma meta de curto prazo, para 2015, o que permite melhor monitorar as ações de mitigação", diz o texto da delegação brasileira, a que BBC News Brasil teve acesso.

Na COP26, o Brasil vai se comprometer a reduzir em 37% as emissões até 2025, em 43% até 2030 e alcançar a neutralidade de carbono em 2050- quando as emissões são reduzidas ao máximo e as restantes são integralmente compensadas com reflorestamento para absorção de CO2 da atmosfera ou tecnologias de captura de carbono.

Nesta semana, o ministro da Economia, Paulo Guedes, também lançou o argumento de que o Brasil não é grande poluidor, ao criticar cobranças de redução do desmatamento.

"Não é possível que o Brasil seja tratado como vilão da poluição internacional. Quando pegamos fluxos de poluição, o Brasil tem 1,7%, a Europa tem 15%, os Estados Unidos têm 15%, a China tem 30%. Como pode o país que menos polui ser o mais agredido internacionalmente? Evidentemente há interesses políticos e comerciais por trás", disse Guedes, sem especificar de onde tirou esses percentuais.

Mas, para ambientalistas, o levantamento que aponta o Brasil como quarto maior emissor histórico de carbono coloca o país em posição de grande responsabilidade para o controle das mudanças climáticas.

"O Brasil é um dos maiores emissores do mundo. Atualmente, ele está em sexto lugar em emissões e é o quarto maior em emissões históricas. Então, tem papel importante na redução de emissões, apesar de ainda ser um país em desenvolvimento com desafios para redução de pobreza", afirmou à BBC News Brasil Carlos Rittl, especialista em políticas públicas da Rain Forest Foundation, ONG ambiental da Noruega.

Fonte: BBC Brasil
https://www.bbc.com/portuguese/geral-59065359