cidadania
Ex-ministros e gestores avaliam a crise na Educação durante webconferência nesta quinta (25/6)
A FAP retransmite o debate, ao vivo, por meio de seu canal no Youtube, em sua página no Facebook e no site. Ciclo Diálogos, Vida e Democracia é realizado pelo Observatório da Democracia
Nesta quinta-feira (25/6), às 14h30, a FAP (Fundação Astrojildo Pereira) retransmite a mesa Educação e Crise (Gestores), que faz parte do Ciclo Diálogos, Vida e Democracia, uma série de videoconferências promovidas pelo Observatório da Democracia, que chega a sua 16ª edição. A mesa será coordenada por Maria Izolda Cela de Arruda Coelho, que é vice-governadora do Ceará e ex-secretária estadual de Educação do Ceará.
O ex-ministro da Educação e ex-reitor da USP José Goldemberg; o professor emérito da UnB, ex-ministro da Educação, ex-senador Cidadania/DF e presidente do Conselho Curador da Fundação Astrojildo Pereira, Cristovam Buarque, o ex-ministro da Educação e presidente da Fundação Perseu Abramo Aloizio Mercadante e o ex-ministro da Educação e professor de Ética e Filosofia Política Renato Janine Ribeiro também integram a mesa.
Assista ao vivo!
O objetivo central desta videoconferência, extremamente oportuna num contexto em que o ministério da Educação está sem um titular, é apresentar diferentes visões sobre a atual crise vivida pela Educação nacional, explorando a experiência que os seus participantes possuem na área. Todos os expositores possuem larga experiência em gestão de educação e podem avaliar o quadro caótico da educação no Brasil hoje, atingida pelos efeitos da pandemia e pela ausência de políticas estruturadas do governo federal para a área.
O debate será transmitido on-line e gratuitamente pelo canal no Youtube do Observatório (clique aqui). Em seu site, na sua página no Facebook e em seu canal no Youtube, a FAP fará a retransmissão da webconferência.
O ciclo conta com a realização de diversas mesas temáticas feitas por videoconferências, sempre a partir das 14h30. As seguintes acontecerão dia 29/06 (segunda-feira) Educação e Crise (Entidades) e dia 03/07 (sexta-feira) A Pandemia e a crise do ponto de vista das mulheres.
O Observatório da Democracia é formado pelas Fundação Perseu Abramo (PT), Fundação João Mangabeira (PSB),Fundação Mauricio Grabois (PCdoB), Fundação Lauro Campos e Marielle Franco (PSOL), Leonel Brizola-Alberto Pasqualini (PDT), Fundação da Ordem Social (PROS) e Fundação Claudio Campos e Fundação Astrojildo Pereira (Cidadania).
Serviço
Ciclo Diálogos, Vida e Democracia – Videoconferências
Mesa 16: Educação e Crise (Gestores)
Data: 25/06 (quinta-feira)
Horário: 14h30
Onde: Acompanhe as videoconferências do ciclo Diálogos, Vida e Democracia, no Facebook, pelas páginas das fundações Astrojildo Pereira, Claudio Campos, Leonel Brizola-Alberto Pasqualini, Perseu Abramo, Lauro Campos e Marielle Franco, Mauricio Grabois e da Ordem Social e João Mangabeira.
Ou se inscreva no canal do Observatório da Democracia no youtube para receber a notificação da live.
A programação completa pode ser acessada aqui.
Veja vídeos de webconferências anteriores:
Videoconferência aborda a pandemia e saídas para a economia
Presidentes de partidos debatem Democracia e política em webconferência
O Mundo do Trabalho e a Pandemia é tema de webconferência
Webconferência discute o valor da C&T e da Inovação como política de Estado
Cultura em tempos de coronavírus é tema de webconferência
Webconferência debate defesa das instituições do Estado democrático
Jornalismo, comunicação e política nas redes sociais é tema de webconferência
Líderes partidários fazem webconferência para discutir o país
Especialistas debatem o coronavírus, isolamento social e saúde pública
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Fundações partidárias debatem pandemia, recessão e saídas para a crise
Analistas discutem Brasil no contexto mundial da pandemia do coronavírus
Economistas debatem pandemia e alternativas em meio à crise do coronavírus
Aulas regulares da Jornada da Vitória começam nesta quarta-feira (24)
Curso prático de formação política é realizado pela FAP e destinado a filiados ao Cidadania
Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
As aulas regulares da Jornada da Vitória, curso prático de formação política exclusivo a filiados ao Cidadania, começam nesta quarta-feira (24), por meio de uma plataforma de educação a distância totalmente online, interativa e com acesso gratuito para matriculados. “Vamos juntos para ganhar e vencer com muita força as eleições municipais de 2020 e fazer a diferença para esse país que tanto precisa de bons políticos”, convida o coordenador pedagógico do curso, o advogado Marco Marrafon.
O curso é realizado pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), sediada em Brasília. Em vídeo divulgado nas redes sociais, Marrafon explica que a Jornada da Vitória é um curso para quem deseja “alcançar sucesso nas eleições municipais de 2020”. Login e senha serão fornecidos somente aos filiados que tiverem suas pré-inscrições confirmadas pelos organizadores.
No total, serão 14 videoaulas de aproximadamente 15 minutos, inéditas, e 42 miniaulas de 3 minutos – muitas delas aproveitadas da Jornada da Cidadania. Um novo pacote de conteúdo, que terá uma videoaula e três miniaulas, será disponibilizado na plataforma a cada semana. Não haverá provas escritas, e a participação de cada aluno será monitorada conforme avançar nas etapas do curso.
O conteúdo programático do curso vai focar na campanha eleitoral, atualidade e formação política avançada e comunicação política. Serão abordados grandes temas de interesse de vereadores e prefeitos, como estratégia política, boas práticas administrativas, propostas renovadoras e causas cívicas. Além disso, as aulas vão discutir marketing político, legislação eleitoral, arrecadação de recursos de campanha e redes sociais.
Todos os conteúdos devem fortalecer a importância da transparência, sustentabilidade, solidariedade, reformismo, ética, equidade, democracia e cosmopolitismo. O intuito, segundo os organizadores, é capacitar ainda mais as forças democráticas liberais e progressistas, em defesa das liberdades civis, dos direitos humanos e da igualdade de oportunidades na sociedade.
Leia mais:
Live de aula inaugural Jornada da Vitória discute eleições 2020
Eleições 2020: Jornada da Vitória abre pré-inscrição para filiados ao Cidadania
Ligia Bahia aponta desafios da saúde no terceiro webinar Reinventar o Rio de Janeiro
Médica discute assunto com público em evento online com transmissão ao vivo pelo site e redes sociais da FAP
Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
Gargalos da saúde pública do Rio de Janeiro e desafios para superá-los serão discutidos com internautas, pela médica Ligia Bahia, mestre e doutora em saúde pública, nesta terça-feira (23), das 19h30 às 21h. O terceiro dos nove webinars da série Reinventar o Rio de Janeiro, realizado pelo Cidadania 23 do município com apoio da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), terá transmissão ao vivo, aberta a todos os interessados, no site e na página da entidade no Facebook.
A grave crise na saúde do Rio de Janeiro tem levado à morte pessoas que poderiam ser salvas pela rede médico-hospitalar, conforme divulgado pela imprensa. O problema não se resume à greve dos funcionários das organizações sociais, que respondem por quase toda atenção básica e por parte expressiva da rede municipal.
De acordo com a organização da série de webinars, o objetivo dos debates online é mobilizar lideranças para interferir nas discussões e possíveis intervenções sobre o futuro do Rio de Janeiro. A ideia é manter o comprometimento do partido de buscar sempre melhorias para a cidade, mesmo no período de isolamento social decorrente da pandemia do coronavírus. Webinar evita a aglomeração física de pessoas no mesmo local e possibilita grande participação online de interessados.
Veja vídeos de outros webinars da série:
Washington Fajardo discute cidade em webinar Reinventar o Rio de Janeiro
Confira a abertura da série Webinar Reinventar o Rio de Janeiro
Jornada da Cidadania: Construir identidade do partido e preservar a democracia é missão para formados
Live de encerramento do curso para 400 filiados e não filiados ao partido contou com a participação de Marco Marrafon, Luiz Carlos Azedo, Cristovam Buarque e Roberto Freire
Formados no curso Jornadas da Cidadania, 400 jovens têm a partir de agora a missão de ajudar a preservar a democracia, construir a identidade do partido e responder aos desafios que a eleição de um líder desumano e populista colocou para a política como espaço democrático de formação de consensos e avanços. Essa foi a provocação que fizeram lideranças do partido a filiados e não filiados que participaram da live de encerramento do curso neste sabádo (20).
Coordenador pedagógico do Jornadas da Cidadania, o professor de Direito do Estado da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Marco Marrafon disse que o objetivo do curso é “preparar as pessoas pra defender as suas ideias com diálogo, baseando-se em evidências e discurso científico, especialmente em tempos tão sombrios em que vemos claramente que a eleição de 2018 foi uma eleição violenta e populista”.
Confira como foi a live!
Segundo ele, que é presidente do Cidadania-MT, o curso busca trazer aos alunos um “olhar que resgate a boa política”. Esse olhar, conforme Marrafon, envolve “mais encantamento pelo saber e pela inteligência, mais filosofia e menos grito, militarismo e ignorância”, que, segundo ele, “representam o forte retrocesso civilizacional que tem assolado o Brasil e outros países do mundo”. Para ele, a pandemia de Covid-19 reforça a necessidade de formar melhores quadros.
“Temos um problema em diferentes estados e municípios que está causando prejuízos econômicos gravíssimos e a morte de milhares de pessoas: incompetência de gestão. Gestões preocupadas com debates ideológicos estéreis, que só promovem o retrocesso e não se preocupam com o que é fundamental: resolver os problemas que existem, os problemas que afligem a vida dos brasileiros, as coisas mais simples do dia-a-dia hoje tão burocratizadas”, disse.
Nova geração
Alunos de todas as regiões do Brasil passaram por avaliações escritas e atividades complementares em 14 videoaulas e 42 miniaulas. De caráter acadêmico, o Jornadas exigiu um mínimo de 75% de aproveitamento dos participantes.
“Pessoas preparadas fazem a diferença. O bem não pode ser bobo nem preguiçoso. A razão ético-estratégica exige os melhores ideais e muito trabalho, porque a ética nos coloca limites que os que não estão preocupados com ela não têm. Isso significa que vocês vão dormir pouco, acordar cedo, levar a mensagem. Se pra 10 pessoas pouco importa, porque são 10 cidadãos. Não se preocupem com as fake news, mas sejam firmes pra rebater e impor suas ideais”, aconselhou.
Para o presidente da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), o jornalista Luiz Carlos Azedo, o curso se propôs a “discutir projetos utopias” e a pensar “a política como algo transformador da saciedade”, mas sem perder “a perspectiva de que é também é uma atividade prática, em que as pessoas precisam ter habilidade, vontade, empenho, criatividade e iniciativa”.
“Vocês representam uma nova geração de cidadãos que não vêem a politica apenas como articulação de bastidor, futrica e imediatista, que é o que predomina hoje e acaba rebaixando o papel e a importância desse exercício. O Cidadania é um novo partido que resulta de longa trajetória que vem do PCB, passando pelo PPS, e precisa construir agora sua identidade. Somos um somatório de várias tendências que ainda não conseguiram produzir uma síntese. Talvez essa tarefa seja de vocês. Vocês que vão construir para o futuro”, apontou.
Construção partidária
Presidente do Conselho Curador da FAP, o ex-governador e ex-senador Cristovam Buarque propôs aos formandos que buscassem responder a quatro cobranças: o que o Brasil esqueceu como nação que permitiu a eleição de alguém como Bolsonaro; como melhorar como país com o crescimento econômico inviabilizado pela pandemia; que mapa deve guiar os brasileiros no próximo centenário da independência; e como construir um partido que ajude na execução desses projetos.
“Esquecemos o povo ao longo da nossa história e isso levou a outros esquecimentos. A bandeira brasileira feita nos dias seguintes à proclamação tem escrito ordem e progresso e 65% dos brasileiros adultos eram analfabetos naquele momento. Aonde queremos chegar como potência? Na educação, na liberdade, na igualdade. E, definido onde, o que precisaremos fazer pra chegar lá, o que não poderemos esquecer. Precisamos fazer o povo acreditar. Como fazer o povo acreditar nesse projeto? Não nos deixem continuar esquecendo, nos ajudem a lembrar”, pediu.
Coube ao presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, o encerramento da live. Ele lembrou que os desafios que estão colocados “exigirão de todos nós uma prática”.
“Mesmo que não tivessem feito esse curso, vocês como cidadãos teriam de dar respostas. Com o curso, a resposta é de maior responsabilidade porque entenderam o poder da política para mudar a nossa realidade. Esse o nosso papel. Estamos vivendo uma rara infelicidade. A tragédia da pandemia e de ter na presidência alguém que não teve a minima capacidade para enfrenta-la unindo o povo. Ao contrário. Vemos alguém que, sem nenhuma empatia, apresentou sua face desumana”, sustentou.
Protagonismo em 2022
Freire, que vinha alertando para o risco da escalada autoritária de Bolsonaro, ponderou que as recentes investigações envolvendo o presidente e a prisão de seu ex-faz tudo Fabrício Queiroz tornam essa alternativa mais problemática para as Forças Armadas. Ele classificou Bolsonaro de “nacionalista exacerbado”, que “não respeita a liberdade nem a convivência democrática”e “tem na sua formação a violência e a destruição”. Segundo ele, trata-se de um órfão da ditadura como alguns de seus generais, mas a possibilidade de um golpe hoje está mais distante.
“A prisão do Queiroz colocou no colo do presidente da República a bomba da corrupção. Não é apenas rachadinha, que é um desvio criminoso de dinheiro. Lá estão caracterizados crimes muito maiores: vinculação com milicianos ligados a homicídios e venda de serviços como a construção de habitações ilegais, tendo como elo o atual prisioneiro Fabricio Queiroz. Impossível imaginar as Forças Armadas dando um golpe para entregar o poder a um corrupto ligado a milicianos”, argumentou.
Freire pontou, no entanto, que isso não deve fazer com que os jovens percam de vista a necessidade de se opor a qualquer risco de ruptura. “O país precisa daqueles que vão lutar pela defesa da democracia, pra que, superada essa fase de rara infelicidade, superada a pandemia, sustentem o processo democrático com essas eleições de 2020 e tenham o protagonismo que o Cidadania deseja ter em 2022”concluiu.
Jornada da Cidadania faz formatura online da primeira turma neste sábado (20)
Solenidade será realizada por meio de aplicativo de videoconferência, com transmissão no site e na página da FAP no Facebook
Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP
Alunos da primeira turma da Jornada da Cidadania participam, neste sábado (20), às 11 horas, da formatura de conclusão por videoconferência do curso online de formação política realizado pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), sediada em Brasília. A entidade também vai fazer a transmissão ao vivo em seu site e em sua página no Facebook.
Além de alunos dos 26 Estados e Distrito Federal, monitores e professores, participam da solenidade online o presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire; o presidente do Conselho Curador da FAP, professor Cristovam Buarque; o diretor-geral da FAP, Luiz Carlos Azedo; e o coordenador pedagógico da Jornada, Marco Marrafon.
Assista ao vivo!
A equipe da Jornada da Cidadania informa que enviou, por e-mail e whatsapp, convite de participação aos alunos que concluíram todas as 14 aulas em formato multimídia. Eles participarão diretamente da cerimônia por meio de um aplicativo de videoconferência.
Os conteúdos em formato multimídia foram disponibilizados de 12 de fevereiro a 15 de junho deste ano, na plataforma de educação a distância totalmente online, interativa e com acesso gratuito, mas com ampla segurança de dados. No total, o curso teve 36 horas de duração.
Ao longo da Jornada da Cidadania, os alunos tiveram acesso a diferentes conteúdos divididos em cinco pilares: ética e integridade na ação política; comunicação eficaz; fundamentos de teoria política e democracia; comunicação eficaz e casos de sucesso. Cada pacote de novo conteúdo incluiu videoaulas, leituras obrigatórias, podcasts e indicação de filmes.
RPD || Reportagem especial: 132 anos após abolição da escravatura, sociedade grita contra racismo
Casos de assassinatos de brasileiro e norte-americano negros reacendem alerta contra crime, que impõe diversos obstáculos para essa parcela da população
Cleomar Almeida
Uma semana é o intervalo entre os assassinatos do adolescente brasileiro João Pedro Mattos (14 anos), baleado no Rio de Janeiro, e o do norte-americano George Floyd (46 anos), sufocado, em Minneapolis, nos Estados Unidos. Negros assassinados por policiais, eles também não conseguiram resistir à perversidade do crime que tem dizimado essa população diariamente e que se manifesta de diversas formas: o racismo.
No Brasil e nos Estados Unidos, a violência é uma das faces desse crime, que se propaga em vários outros. Negros são os que mais morrem em ações policiais e também lideram o ranking das vítimas de coronavírus. Têm menos acesso à saúde, grau de escolaridade e oportunidade de emprego, em comparação com pessoas brancas.
No total, no Brasil, negros são 56% da população e 75% dos mortos por policiais. Nos Estados Unidos, representam 13% das pessoas e 24% das vítimas assassinadas pela polícia. Livres da escravidão, abolida há 132 anos no território nacional, pessoas negras e toda a sociedade precisam se mobilizar contra o racismo, que, na avaliação de especialistas, tem se institucionalizado cada vez mais e de forma acelerada na força estatal.
“Há um enorme viés racial na violência policial no Brasil. Da mesma forma que educação, renda e trabalho são indicadores de desigualdades raciais, a violência também se constitui como um indicador potente, pois ela atinge de forma desigual os negros do país”, afirma a professora do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP), Márcia Lima.
A professora, que também é coordenadora do Afro, o Núcleo de Pesquisa e Formação em Raça, Gênero e Justiça Racial do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), diz que não são mortes provocadas. São assassinatos. É um modus operandi. “O racismo é um elemento constituinte da violência do país. As estatísticas comprovam isso”, afirma ela.
Nos Estados Unidos, negros têm 2,9 vezes mais risco de serem mortos por policiais do que brancos. No Brasil, o risco é 2,3 vezes maior para os negros. Os dados são de análises do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, de 2018 – o mais recente com recorte racial – e do instituto americano Mapping Police Violence, de 2019.
O número de mortos pela polícia americana tem se mantido no mesmo patamar desde 2013. Com quase 18 mil departamentos de polícia nos EUA, não há uniformidade nos números oficiais sobre abordagens policiais com uso da força no país. No Brasil, o problema se repete.
De acordo com o Atlas da Violência, estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o crescimento nos registros de assassinatos no Brasil, que alcançaram patamar recorde em 2017, atinge principalmente negros, para os quais a taxa de mortes chega a 43,1 por 100 mil habitantes. Para não negros, a taxa é de 16.
“É estarrecedor notar que a terra de Zumbi dos Palmares é um dos locais mais perigosos do país para indivíduos negros, ao mesmo tempo que ostenta o título do estado mais seguro para indivíduos não negros (em termos das chances de letalidade violenta intencional)”, afirmam os pesquisadores do Ipea em um trecho da pesquisa. “Em termos de vulnerabilidade à violência, é como se negros e não negros vivessem em países completamente distintos”, completam.
Autor do livro Racismo Estrutural e professor convidado da Universidade Duke, na Carolina do Norte (EUA), Silvio Almeida destaca que a polícia brasileira é muito mais violenta. “Mas também existe um nível de violência racial que constitui o Brasil em outras esferas, que naturalizou e incorporou no cotidiano a morte de pessoas negras”, afirma. “No país, quando se mostra a morte de um negro, a luta é para provar que aquela pessoa não era um bandido, como se o fato de a pessoa ter cometido algum crime justificasse também a violência policial".
Na avaliação do sociólogo e policial militar Eduardo Santos, a corporação brasileira reproduz o preconceito e a discriminação, e ainda não teve a preocupação de repensar as práticas de abordagem, de forma eficaz. “A polícia é a força de repressão que mata quem é igual a eles", afirma, destacando que negros representam 37% do quadro de policiais no Brasil. Os dados são do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A informação é autodeclarada e pode haver subnotificação.
A urgência do combate ao racismo tem mobilizado ainda mais grupos organizados para reivindicação e reconhecimento de direitos na busca por uma sociedade menos injusta, menos desigual e menos excludente. Mais de 100 entidades do movimento negro de todo o país reforçam o manifesto “Enquanto houver racismo, não haverá democracia”. A campanha é promovida pela Coalizão Negra por Direitos, em parceria com os coletivos Legítima Defesa e Frente 3 de Fevereiro.
O objetivo é coletar assinaturas para promover uma frente ampla em torno de ações de combate ao racismo e a cobrança junto ao Poder Público, de direitos como educação, emprego e segurança. O movimento entende que a luta antirracista precisa ganhar centralidade nas discussões em defesa da democracia.
“Tem se falado muito em repactuar, criar um novo pacto democrático no Brasil. Mas não existe possibilidade nenhuma de pensar a democracia real no país se o racismo não for um ponto central”, afirma Eugênio Lima, fundador do Legítima Defesa e Frente 3 de Fevereiro e um dos articuladores da iniciativa, em entrevista ao jornal El Pais.
De acordo com Lima, a frente ampla deve considerar o apoio de pessoas brancas e indígenas de diferentes setores da população. Segundo ele, a adesão é importante porque a questão racial é parte do sistema e só será vencida quando toda a sociedade passar da comoção em relação à crueldade praticada contra negros para mudanças concretas que promovam igualdade, por parte de quem está no poder — em sua maioria, brancos.
Certamente, outros negros morreram na semana que separou as mortes de João Pedro e George Floyd, cujos casos tiveram maior repercussão. O combate ao racismo deve ser uma prática diária, constante e de resistência, como sugeriu a professora e filósofa estadunidense Angela Yvonne Davis. "Numa sociedade racista, não basta não ser racista; é preciso ser antirracista", escreveu ela.
Desigualdade perversa reflete discriminação
Além de morrerem três vezes mais do que brancos por Covid-19 nos Estados Unidos e de serem mais de metade das vítimas da doença no Brasil, negros enfrentam abismos de desigualdade no acesso à educação, a oportunidades de emprego, à cultura e a cargos eletivos. No labirinto da discriminação, precisam encontrar o caminho da sobrevivência.
Reflexo da falta de acesso a serviços de saúde e alimentação que garanta boa qualidade de vida, mais da metade dos negros que se internaram no Brasil no período da pandemia morreu por contaminação de coronavírus em hospitais no país. Pesquisadores do Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro analisaram 29.933 casos encerrados de Covid-19 (com óbito ou recuperação). Dos 8.963 pacientes negros internados, 54,8% morreram nos hospitais. Entre os 9.988 brancos, a taxa de letalidade foi de 37,9%.
Em relação à educação, no Brasil, a taxa de analfabetismo entre os negros de 15 anos ou mais (9,1%) é superior ao dobro da taxa de analfabetismo entre os brancos da mesma faixa de idade (3,9%), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2018, 6,8% da população brasileira era considerada analfabeta. Nos Estados Unidos, a taxa de analfabetismo é menor que a do Brasil (1%), mas a desigualdade entre brancos e negros também existe.
De acordo com o IBGE, também há diferença na área financeira. Pretos e pardos tinham rendimento domiciliar por pessoa de R$ 934 em 2018, conforme pesquisa mais recente. No mesmo ano, os brancos ganhavam, em média, R$ 1.846. Nos Estados Unidos, por sua vez, negros têm renda domiciliar média de US$ 41,3 mil por ano, pouco mais do que a metade da dos brancos (US$ 70,6 mil).
O Congresso Nacional é outro campo de desigualdade entre brancos e negros no Brasil. Dos 594 deputados e senadores, apenas 17,8% são negros. No total, somente 106 declararam ser da cor preta ou parda. O cenário não muda se as duas Casas forem analisadas separadamente. Na Câmara, dos 513 deputados em exercício, 89 são pretos. Em contrapartida, 344 são brancos. Os dados são da própria Câmara Federal.
Em texto publicado no início de junho, o ex-presidente americano Barack Obama discorda das pessoas que afirmam que o recorrente viés racial no sistema de justiça criminal prova que apenas protestos e ações diretas podem levar a mudanças, e que votações e participações na política eleitoral são perda de tempo.
"Eu não poderia discordar mais. A essência de protestos é aumentar a conscientização da sociedade, colocar holofotes sobre a injustiça e fazer com que os Poderes fiquem desconfortáveis”, afirma ele, em um trecho.
O texto de Obama diz, ainda, que, ao longo da história americana, é comum que seja apenas uma reação a protestos e desobediência civil a atenção que o sistema político dá a comunidades marginalizadas. “Mas, no fim, anseios têm sido traduzidos em leis específicas e práticas institucionais. E, numa democracia, isso só acontece quando nós elegemos autoridades que respondem às nossas demandas”, destaca ele.
Importante instrumento na reparação de direitos de negros no Brasil, a Lei de Cotas deverá ser revista em 2022, no último ano do mandato de Jair Bolsonaro. Como pretende disputar a reeleição e tem um governo de extrema direita marcado por polêmicas nas áreas de direitos humanos e educação, ele deve enfrentar grandes resistências do movimento negro, que tem se fortalecido no combate à desigualdade no país.
O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo Nascimento, confirmou que haverá uma revisão no sistema de cotas no último ano do governo Bolsonaro. “O sistema de cotas será revisado em 2022. Cotas devem ser sociais, não raciais. Para que esta mudança ocorra, será fundamental o apoio dos negros. Cotas para pobres, de qualquer tom de pele. Não somos incapazes. Queremos justiça, não racialismo”, diz Camargo, que nega haver racismo no Brasil.
Na avaliação da professora do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP), Márcia Lima, que coordena núcleo de pesquisa sobre raça, gênero e justiça racial, há uma percepção equivocada de como a Lei de Cotas funciona. Segundo a Lei 12.711, conforme ressalta, a cota racial também é uma cota social.
“Muitos que se opõem às cotas raciais falam que elas apresentam privilégios e que não podemos distingui-las das sociais. Não faz sentido, porque elas não estão separadas”, explica a professora.
A lei reserva 50% das vagas primeiro para estudantes de escolas públicas, que, em seguida, são divididos pela renda, o segundo critério social. Só depois se aplica o critério racial (a proporção da população negra e indígena de cada unidade da Federação).
Em comentários nas redes sociais, Camargo diz que as cotas raciais fazem parte de “reparação história”, mas, segundo ele, “não existe culpa coletiva”, ignorando a segregação a que os negros foram submetidos desde que foi abolida a escravatura no país, em 1888. “Reparação histórica. Mas dívida não é transmitida de geração para geração e não existe culpa coletiva. Querem vingança, não solução”, tuitou.
A pesquisadora da USP explica o porquê de defender a cota social e racial.“Quando enfrentamos a desigualdade social, a situação dos negros é sempre mais difícil, mesmo entre os mais pobres. As políticas de recorte social funcionam de forma tímida para incluir a população negra. Por isso, as cotas raciais são importantes”, afirma Márcia.
RPD || Paulo Baía: O destino do tiro na cabecinha
Comportamento inefável de Wilson Witzel (PSC) como governador contaminou todos os níveis da administração pública do Rio de Janeiro, avalia Paulo Baía
O governo Wilson Witzel (PSC) tomou posse sob o signo da instabilidade, a partir da onda antissistema das eleições de 2018. Preso às amarras do Regime de Recuperação Fiscal, negociado entre o ex-governador L. F. Pezão e o governo federal, e após as governanças criminosas de Sérgio Cabral/Pezão (MDB). O ex-juiz federal apostou na grave crise de violência, expondo o abismo da segregação que os moradores das favelas vivenciam, ao implantar uma política de extermínio do "tiro na cabecinha". Ou seja, incentivou ações ilícitas de agentes públicos das forças policiais e, para completar, acabou com a Corregedoria externa e a Ouvidoria das polícias. Uma de suas medidas centrais foi desfazer a Secretaria de Segurança Pública, recriando as fracassadas Secretarias de PM e de PC, que funcionaram de 1983 até 1994.
As demais secretarias foram assumidas, com raras exceções, por pessoas sem lastro administrativo, escolar e acadêmico, evidenciando a ausência de pessoas com expertise em governança pública. Desde que tomou posse, em janeiro de 2019, o governador passou a ser protagonista de uma "ópera bufa", com atitudes e falas capazes de demonstrar o quanto ter poder era seu maior objetivo, com atitudes espalhafatosas e comportamento de líder que pretendia fazer história com bravatas e mortes.
A Assembleia Legislativa do Estado Rio de Janeiro (Alerj), apesar de ter tido uma renovação significativa após a eleição, continuou sob o comando de deputados herdeiros do bloco parlamentar Sérgio Cabral/J. Picciani. O próprio líder do governo é o deputado Márcio Pacheco (PSC), experiente e bem conectado com André Ceciliano (PT), presidente da Alerj. O fato é que o Parlamento nunca considerou a autoridade de W. Witzel, sempre apostou numa pauta própria para aprovar, rejeitar ou derrubar vetos do Executivo. Não é à toa que a abertura do processo de impeachment foi aprovada por unanimidade (69 votos a favor e uma abstenção). Até mesmo parlamentares ligados ao governador, como Bruno Dauaire (PSC), Rodrigo Amorim (PSL), Alexandre Knoploch (PSL) e o ex-líder do governo Márcio Pacheco (PSC), votaram pela abertura do processo. Apenas o deputado Rosenverg Reis (MDB) se absteve.
O comportamento inefável do governador contaminou todos os níveis da administração pública. Com seu deslumbramento, deixou às claras um clima de "liberou geral", sem que houvesse nítida separação entre o lícito e o ilícito nas políticas públicas. Dessa forma, não houve surpresa nas suspeitas levantadas pela PGR, PF, MPE, TCU e TCE, em relação à corrupção. Inclusive, a PF prendeu, a pedido do MPF, toda a cúpula da Secretaria de Estado da Saúde, por desvio de verbas nos hospitais de campanha e na compra sem licitação de equipamentos, insumos e medicamentos durante o Estado de Emergência.
A crise sanitária da Covid-19 escancarou o descalabro das violências policiais e milicianas contra jovens pretos, pobres, favelados e moradores das periferias. De tal forma que o Ministro Edson Fachin, em ato judicial inédito, concedeu liminar proibindo as ações policiais em favelas, sem justificativa prévia informada ao MPE e ao Poder Judiciário.
Apesar de o ex-juiz querer ser o representante de uma renovação política, com as vistas postas no Planalto, cometeu erros crassos por não fiscalizar medidas fundamentais, como a contratação milionária com empresas sem tradição e de baixíssimo capital social. Além de o deslumbramento ter subestimado de forma primária as relações com o Parlamento. Típico de pessoas autoritárias e centralizadoras, nada afeitas ao diálogo e à negociação. Como, por exemplo, a prática de ameaçar deputados com dossiês, a exemplo daqueles montados sobre pessoas ligadas ao grupo de Lucas Tristão, seu ex-Secretário de Desenvolvimento Econômico.
O ex-juiz federal poderá ser o primeiro governador do Rio a sofrer impeachment. E o segundo do Brasil, após a perda do mandato de Muniz Falcão (PSP), governador de Alagoas, em 1957. No entanto, o Rio de Janeiro de 2020 certamente não é as Alagoas de 1957. Os tempos, particularmente no Rio, não andam férteis para o surgimento de novas lideranças em termos nacionais. Contamos sair desta crise que se abateu sobre nós e parece estar longe de nos abandonar para vivermos melhores dias. A única certeza é de que a crise política permanecerá e não de que há alguma luz no fim do túnel. Não consigo vislumbrá-la. Somente o tempo dirá. Espero apenas estarmos livres dos bufões com seus arroubos delirantes.
* Paulo Baía é sociólogo e cientista político, professor da UFRJ.
RPD || Marcos Sorrilha Pinheiro: O papel de Gramsci no pensamento de Olavo de Carvalho
Olavo de Carvalho recorre ao conceito de hegemonia de Antonio Gramsci para interpretar o mundo e a construção da Nova Era, apropriando-se do paradigma gramsciano da política-hegemonia, avalia Marcos Sorrilha em seu artigo
O termo Nova Era foi bastante difundido entre os círculos católicos da Renovação Carismática na década de 1990, bem como entre os evangélicos “neopentecostais”. A premissa era a seguinte: existiria um plano global para retirar as pessoas do caminho de Deus e implementar uma Era capaz de colocar um fim no cristianismo. A execução desse plano se daria por várias frentes, com destaque à Indústria Cultural, seus produtos e produtores: filmes, artistas, músicas etc. Por meio de tais obras, seriam transmitidas mensagens capazes de influenciar a humanidade para a adoração de um outro senhor que não Cristo.
Esta ideia ganhava contornos maiores quando entrava na seara da autoridade política. Pois, fruto de um conluio multinacional, acreditava-se que empresas e nações imporiam, num futuro breve, o registro de pessoas com um código de barras no punho ou na testa: a temível marca da Besta.
Evidentemente, trata-se de uma teoria da conspiração e, para que haja engajamento, se deve concordar com algumas premissas que não possuem validação científica, como o poder sobrenatural e a existência de entidades celestes. Existe, portanto, certo nicho ou campo de abrangência até onde a ideia pode atingir: setores do cristianismo.
Por que isso é importante? A lógica por trás disso se assemelha à forma pela qual Olavo de Carvalho interpreta o mundo. Porém, no lugar do demônio, está o Comunismo e, para além dos artistas, aparecem os intelectuais, os responsáveis pela elaboração desse plano sombrio. No lugar da atuação do demônio, ele transfere aos mecanismos de transmissão de cultura a responsabilidade pela difusão planetária de tais mensagens. Por fim, o equivalente ao inferno seria um futuro composto pela submissão dos incautos à elite global. Tudo isso ocorreria quando as pessoas fossem apartadas dos “verdadeiros” valores ocidentais (o judaico-cristianismo, o conservadorismo político e o nacionalismo), aderindo a um novo conjunto de regras e morais globalistas hegemônicas.
A palavra hegemônica é fundamental para entendermos como se daria a construção da Nova Era na versão de Olavo de Carvalho. Na verdade, não se trata apenas de uma palavra, mas de um conceito elaborado por Antonio Gramsci no início do século XX. Segundo Gramsci, o conceito de hegemonia retirava o socialismo do plano revolucionário e o trazia para o paradigma político/democrático. Em Gramsci, a construção de uma sociedade igualitária, principalmente no Ocidente, não se daria mais pela revolução, mas pela articulação do campo político, por meio da difusão de valores, tradições e ideias junto ao sistema nervoso das sociedades: a cultura.
Para tanto, os partidos e seus intelectuais deveriam atuar como sujeitos articuladores dessa cultura, lançando mão dos aparatos próprios para sua mobilização: a mídia, a escola, as artes etc. À medida que tais ideias fossem ganhando maior abrangência e concordância entre os cidadãos, seria aberta a possibilidade de que líderes comunistas fossem eleitos pelo voto e, uma vez no comando do Estado, lançariam mão das ferramentas do poder para organizar a sociedade em torno de seus ideais, convertendo-os em uma hegemonia.
Assim, Olavo de Carvalho recorre ao conceito de hegemonia gramsciano, pois entende que, com o ocaso da União Soviética, Gramsci se converteu no grande paradigma de atuação da esquerda global. Por meio de seus métodos (a contaminação da cultura com valores marxistas), foi possível aos intelectuais gramscistas o predomínio junto às principais instituições internacionais responsáveis pela elaboração de estratégias de desenvolvimento global, como a ONU, a OMS, ONGs etc., transformando pautas da esquerda em pautas da própria humanidade.
Diante do exposto, é inevitável constatar: a teoria de Olavo de Carvalho se sustenta na apropriação que faz do paradigma gramsciano da política-hegemonia. Ironicamente, é a noção de hegemonia em Gramsci que torna possível a existência de uma Nova Era enquanto um plano global aos moldes propostos por Olavo. Ao mesmo tempo, é ela quem dá à sua teoria da conspiração um caráter supostamente científico, capaz de retirá-la do nicho religioso-cristão e torná-la palatável a amplos setores da sociedade, ajudando a desvelar as tramas do conluio global por meio de uma lógica aparentemente acadêmica e fazendo com que aqueles que professem sua teoria se sintam mais inteligentes que os demais, ao invés de conspiracionistas, o que de fato são.
* Marcos Sorrilha é professor Assistente Doutor do Departamento de História da Unesp/Franca.
RPD || Luiz Paulo Vellozo Lucas: Encontro marcado
Eleições municipais, apesar da pandemia do coronavírus e da crise política que o país atravessa, mostram que, enquanto tivermos um calendário eleitoral a cumprir, é porque a democracia ainda está viva e pode fazer ressurgir sua força transformadora
Epicentro mundial da pandemia do Covid 19, o Brasil vive meses estressados pela crise sanitária e econômica em meio à luta política radicalizada e judicializada, que se reflete no dia a dia das pessoas. O mundo virtual, turbinado pelo isolamento da quarentena, fervilha intensamente de militância espontânea e profissionalizada, com apoio de robôs nas redes sociais e em grupos de discussão como num “reality show” eletrizante e interminável. Tudo parece convergir e depender de um desfecho para esta novela.
“Deixa o governo governar”, dizem aqueles que enxergam Bolsonaro como um cavaleiro andante da virtude e do patriotismo, enfrentando instituições carcomidas pela velhacaria e pela corrupção. “Somos 70% da população contra o fascismo”, dizem os que se opõem ao governo e abraçam a defesa das instituições e o “fora Bolsonaro”. Como pensar em eleições municipais nessa situação?
Enquanto houver um calendário eleitoral a cumprir é porque a democracia ainda está viva e pode fazer ressurgir sua força transformadora. Em 1974, a limitada liberdade remanescente no Brasil sobrevivia respirando por aparelhos numa estreita fresta institucional. A vitória eleitoral do MDB naquele ano foi o ponto de apoio que alavancou a luta política e a agenda democrática do pais por dez anos, acumulando forças até o fim da ditadura militar. O impulso transformador das eleições derrotou o regime e também aqueles que, descrentes da democracia, sonhavam com luta armada para impor seu projeto de país.
Na eleição, a população tem um encontro marcado com as instituições e com seu destino histórico. Não haverá desfecho da crise nacional antes do pleito municipal de 2020. Os eleitores serão chamados a escolher prefeitos e vereadores num cenário nacional dividido e conturbado, onde estarão juntas e misturadas todas as frustrações, indignação e revolta com as desigualdades e injustiças acumuladas. A vida nas cidades estará no centro das atenções junto com ideias sobre o que deveremos fazer a partir de janeiro de 2021.
O voto é sempre um ato de confiança e enfrentar os desafios colocados pela crise urbana em cada cidade neste momento é o caminho que a democracia brasileira oferece a todos os cidadãos, militantes virtuais ou não, cansados ou descrentes de um desfecho para a crise nacional, que se mobilizarem para participar das eleições municipais.
O poder local precisa conquistar a confiança das pessoas e passar a ser compreendido como elemento-chave para a solução dos problemas e angústias do dia a dia da população. O primeiro passo é valorizar a solução local, como fizeram os primeiros brasileiros desde a Independência em, 1822, com as Câmaras Municipais, como nos relata Jorge Caldeira em A História da Riqueza no Brasil. As instituições do Estado e a vida econômica e social do país precisam de reformas que permitam e desobstruam o protagonismo do poder local, e não podemos ficar esperando que as soluções venham de Brasília. Elas não virão!
Os prefeitos e vereadores eleitos em 2020 serão desafiados a conquistar e acumular confiança pública e capital cívico, para dar conta de governar seus municípios nesta crise. A renovação das lideranças locais em eleições livres pode inaugurar uma agenda democrática e reformista, visando a corrigir e fazer avançar as instituições que estruturam o Estado brasileiro em um processo de baixo para cima. Começa no processo eleitoral deste ano debatendo, sem as muletas do populismo e do pensamento mágico, soluções viáveis de enfrentamento pactuado do déficit de vida urbana civilizada e da exclusão social, tanto nas metrópoles, com suas favelas, como nos distritos e vilas do interior, distantes do dinamismo industrial.
A agenda reformista precisa sair das caixinhas setoriais para adotar o ponto de vista das cidades, que é o ponto de vista das pessoas. O desafio das reformas é um só, Inter setorial e holístico. A cidade integra todas as dimensões: fiscal e tributária, política e federativa, social e econômica, tecnológica, ambiental e humana. O desafio das eleições municipais é abrir caminho para esta agenda em cada cidade e para o Brasil.
Joan Clos, ex-prefeito de Barcelona e ex-diretor da ONU-Habitat, dizia que o único caminho para se construir um país desenvolvido é construir boas cidades.
* Luiz Paulo Vellozo Lucas é engenheiro. Ex-prefeito de Vitória-ES. Mestrando em Desenvolvimento Sustentável na UFES.
RPD || Lilia Lustosa: Eu, historiadora de cinema branca
Lilia Lustosa, em seu artigo, questiona como podemos mudar a situação de racismo que contamina a indústria cinematográfica do Brasil e do mundo
No mês passado, depois de entregar o artigo aqui para a Revista, ficou mais ou menos acertado que o próximo tema abordado seria o retorno dos Drive-ins, tendo ficado de fora do meu texto anterior, por não conseguir me manter dentro dos limites dos caracteres estipulados. Acabou sendo um bom acidente de percurso, porque, logo depois, impactada pelas notícias da morte do adolescente João Pedro por uma bala perdida no Complexo do Salgueiro e as imagens do sufocamento de George Floyd em Mineápolis, me veio um pensamento à cabeça: e se eu acordasse negra? Encararia a vida da mesma maneira? Teria a mesma segurança para desbravar territórios desconhecidos como venho fazendo nesses últimos doze anos em que vivo fora da minha terra? Teria entrado neste prédio, em pleno coração da branca Recoleta, em Buenos Aires, com a mesma cabeça erguida com que entrei? E do alto do privilégio da minha branquitude, minha resposta, imediata e honesta, foi não.
Recordei as imagens que havia visto dias antes no documentário Minha História (2020), de Nadia Hallgreen, sobre a turnê de Michelle Obama pelos EUA, para o lançamento de seu livro homônimo. Lembro de ter ficado arrepiada ao ver aquela mulher negra lotando estádios nos Estados Unidos de Trump, oferecendo inspiração e esperança a tantas pessoas daquele país. Fiquei, então, imaginando todas as dificuldades enfrentadas para chegar àquele palco. Será que Michelle sempre entrava nos prédios de cabeça erguida? Sentia-se inferior ou invisível aos olhos de alguém? Mas a ex-primeira dama, que já sentou em tantas mesas importantes (palácios, castelos, salas de aula de Princeton e Harvard), afirmou nunca se ter sentido invisível. A razão, segundo ela, teria sido a liberdade que vivenciou naquela mesa simples da sua sala de jantar, no sul de Chicago. Um lugar onde aprendeu o valor de sua voz e se muniu de forças para enfrentar a batalha que a vida lhe iria exigir. Um exemplo extraordinário para tantas meninas negras que se veem ali representadas, mas que não necessariamente têm a mesma sorte. Ao mesmo tempo, uma prova de que a invisibilidade é algo construído. E que, por isso mesmo, também pode ser desconstruído.
O tema foi me inquietando cada vez mais, e o webinar “Imaginários para um audiovisual antirracista”, organizado pelo SPCine, no fim de maio, deixou ainda mais claro o papel que nós, brancos, podemos e devemos ter. Naquele palco virtual, “frente à frente”, para um debate mais que urgente, estavam duas cineastas negras – Renata Martins (Aquém das Nuvens, 2010; Sem Asas, 2019) e Day Rodrigues (Mulheres Negras, 2016) –, e duas cineastas brancas – Laís Bodanzky (Bicho de Sete Cabeças, 2000; Como Nossos Pais, 2017) e Petra Costa (Helena, 2012; Democracia em Vertigem, 2019). A branquitude foi colocada contra a parede. Eu fui colocada contra parede! Muitos nomes de negros que atuam no universo cinematográfico brasileiro foram citados. Mas quantos conhecemos? Quantos nomes podemos citar de cabeça? E de mulheres negras então? Só para se ter uma ideia, segundo a ANCINE, dos 142 longas lançados, em 2018, somente 19,7% foram dirigidos por mulheres, e desses, nenhum teve qualquer negra na direção, nem no roteiro. E o que nós, brancos, temos feito para mudar essa situação de racismo que contamina a indústria cinematográfica do Brasil e do mundo?
Laís Bodanzky, que hoje ocupa a presidência do SPCine, falou da política afirmativa que a instituição vem adotando nos últimos anos, que dá pontos extras aos projetos que trazem pessoas negras em suas equipes. Ou seja, na corrida por um financiamento de produção audiovisual, sai na frente quem contar com talentos negros em seu time. Mas quantas são as instituições que adotam esse tipo de política? Quantos não são os que viram a cara para o sistema de cotas?
Laís chegou a acender uma luz de esperança dentro de mim, mas eis que as imagens da morte do menino Miguel, de 5 anos, deixado aos cuidados da patroa, enquanto sua mãe passeava os cachorros da família branca, relembrou-me que ainda estava muito longe o dia em que poderíamos falar de igualdade neste país. Senti-me sufocada, impotente, apequenada… E entendi o que a negritude chama de “genocídio da população negra”. Não é exagero. É fato. A cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil. E o que nós, branquitude brasileira, temos feito para mudar esta situação? Como eu - historiadora de cinema branca - posso contribuir para virar esse jogo?
Day Rodrigues me deu a pista, ao afirmar que “pesquisa é política”. Ela tem razão. É preciso, então, redefinir nossos temas de estudo, incluir personalidades negras no currículo básico das escolas e universidades brasileiras, já que aquelas foram apagadas de nossos livros de história. É preciso falar de Adélia Sampaio, primeira cineasta negra a dirigir um longa-metragem. É preciso assistir a filmes feitos e escritos por negros. É preciso conhecer Viviane Ferreira (O dia de Jerusa, 2019), Camila de Moraes (Caso do Homem Errado, 2019), Jeferson De (Bróder, 2010), Ava DuVernay (Selma, 2014; A 13a Emenda, 2016; Olhos que condenam, 2019), Ryan Coogler (Fruitvale Station, 2013; Pantera Negra, 2018) e tantos outros. É preciso contratar profissionais negros. É preciso seguir pessoas negras no Instagram, divulgar o que elas fazem, ler os livros que elas escrevem. Tudo o que, até outro dia, me soava como um exagero… Finalmente, entendi que, ao trazer pessoas negras para a cena, estamos viabilizando a criação de um círculo virtuoso, quiçá capaz de se converter em ferramenta de desconstrução da invisibilidade da negritude.
A minissérie “Hollywood”, atualmente em cartaz na Netflix, que conta com produtores e diretores negros, permite-nos, de alguma maneira, sonhar com essa mudança. Ambientada no período pós II Guerra Mundial e baseando-se em alguns fatos e personagens reais – Hattie MacDaniel, Rock Hudson, Vivien Leigh, Scotty Bowers, Henry Willson, Anna May Wong –, o que vemos ali é um grande estúdio, sendo comandado por uma mulher branca, ousada o suficiente para aceitar o desafio de lançar um filme cujo roteirista é negro e homossexual, o diretor é filipino-americano, e a atriz principal, negra. Ao apresentar esse twist na realidade da época de ouro da meca do cinema, “Hollywood” lança a possibilidade de um outro curso para a história. E se tivéssemos tomado esse caminho, teríamos hoje mais igualdade na indústria cinematográfica?
Talvez. Mas como, por enquanto, isso não passa de ficção, resta-nos pensar sobre o que é possível ser feito hoje. Assim, ao invés de decorrer sobre o retorno dos Drive-ins, decidi usar este meu lugar de privilégio, para convidá-los a refletir sobre o racismo estrutural que, mais do que qualquer corona vírus, contagia nossa sociedade há séculos. Uma pandemia para a qual nunca se criaram vacinas, nem remédios, o único caminho sendo a conscientização e a reeducação da nossa gente. E o primeiro passo, reconhecer o racismo que habita cada um de nós.
*Lilia Lustosa é crítica de cinema
RPD || Gilberto Saboia: A natureza normativa dos atos das organizações internacionais
Membro da Comissão de Direito Internacional da ONU, o diplomata aposentado Gilberto Saboia nos mostra, em seu artigo, as diversas categorias de organizações internacionais. As mais comuns são as criadas por Estados
Hugo Grócio (1583-1645), um dos pais do direito internacional moderno, privilegiou a sociabilidade e os interesses recíprocos entre as nações como uma das bases de um direito internacional que não se limitasse a regular as situações conflitivas, mas servisse também para fazer prosperar as relações de mútuo interesse.
A Paz de Vestfália (1648) pôs fim à Guerra dos Trinta Anos, sucessão de conflitos religiosos, e criou o Estado moderno fundado no exercício da soberania sobre um território e o reconhecimento recíproco, sem conotação religiosa, dos demais estados. Nasceu daí um sistema de equilíbrio de poder que permitiu limitar as guerras, favorecendo a visão de Grócio para o direito internacional.
Após as guerras napoleônicas, que subverteram a ordem criada na Paz de Vestfália, o Congresso de Viena (1815) refez o mapa de Europa sobre bases que, mal ou bem, permitiram paz e progresso durante boa parte do século XIX. As potências reunidas no Congresso de Viena se concertaram para defender a legitimidade das monarquias frente a reivindicações libertárias.
Surgem também as primeiras iniciativas de cooperação através de entidades compostas por Estados e com personalidade jurídica própria. São as Comissões Internacionais do Rio Reno e do Rio Danúbio, para regular a navegação destes cursos d’água. O avanço da tecnologia e dos contatos internacionais levou à criação de organizações de caráter técnico, social ou humanitário e mecanismos para a solução de disputas por arbitragem.
Ao fim da I Guerra Mundial, na Paz de Versalhes (1919), surge a Liga das Nações, primeira organização internacional com vocação universal e mandato para plasmar uma ordem internacional em que o recurso à guerra fosse limitado através de um sistema de segurança coletiva, capaz de aplicar sanções a Estados agressores. Apesar de alguns avanços, a Liga falhou em virtude da fraqueza dos membros diante das agressões totalitárias e da ausência dos Estados Unidos. A Organização Internacional do Trabalho e a Corte Permanente de Justiça Internacional surgiram na mesma ocasião e se mantiveram, a segunda incorporada pela ONU como Corte Internacional de Justiça.
Ao fim da II Guerra Mundial, uma nova organização mundial foi criada. A Carta das Nações Unidas, aprovada pela Conferência de São Francisco (1945), proclama a proibição do uso da força salvo em legitima defesa, reconhece os direitos humanos, e estabelece mecanismos para seu aprofundamento e promove cooperação em áreas como agricultura, saúde, ciência e cultura, o que ensejou a criação dos organismos especializados. O Conselho de Segurança, encarregado da defesa da paz e da segurança internacionais, foi dotado de poderes mais robustos do que o Conselho da Liga, podendo empreender operações militares para a defesa da paz, mediante resoluções, mandatórias para todos os Estados. Essas resoluções devem contar com a anuência dos cinco membros permanentes (Estados Unidos, China, Rússia, Reino Unido e França)
Há diversas categorias de organizações internacionais. As mais comuns são as criadas por Estados, cujas características são as seguintes:
1. São sujeitos de direito internacional, capazes de assumir obrigações e exercer direitos. Podem celebrar tratados internacionais, dentro dos limites do ato constitutivo da organização ou por deliberações dos órgãos competentes. Gozam de imunidades no limite necessário ao exercício de suas funções.
2. Não são soberanas, e sim dotadas de competência conforme o mandato estabelecido no ato constitutivo da organização, geralmente um tratado entre Estados ou decisões tomadas pelos seus órgãos deliberativos.
3. São geralmente dotadas de uma secretaria administrativa. Os órgãos deliberativos costumam ser uma assembleia ou conferência, de frequência anual com participação de todos os membros, e um conselho executivo, de composição mais restrita e eleito pela conferência, que se reúne com mais frequência e gere os assuntos e programas aprovados pela conferência no interregno entre as sessões desta última.
O caráter normativo dos atos das organizações internacionais e as obrigações deles decorrentes para com os Estados membros têm sua fonte primária no acordo constitutivo, tratado internacional ao qual o Estado deu seu consentimento, e cujas normas devem ser cumpridas de boa fé. Seu descumprimento gera consequências. Assim, a falta de pagamento das quotas anuais devidas para financiar o orçamento pode ocasionar a perda do direito de voto.
A Constituição da Organização Mundial da Saúde (OMS), por exemplo, contém um preâmbulo que enumera os princípios básicos acordados entre os membros sobre cooperação internacional em matéria de saúde. Seguem-se 82 artigos que estipulam concretamente os objetivos, funções e a forma de operação dos diferentes órgãos.
As decisões e resoluções de uma organização têm em geral um caráter recomendatório, não estritamente obrigatório, visando a persuadir os Estados a adotarem certo tipo de comportamento. Em certos casos, resoluções da Assembleia Geral da ONU, ainda que vazadas em linguagem recomendatória, assumiram, pelo modo de sua votação ou pela reiteração de sua importância, o caráter de fonte de obrigações. É o caso da Resolução sobre a Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948).
As organizações internacionais podem, também, de acordo com seu instrumento constitutivo, adotar decisões com caráter obrigatório. No caso da OMS, o art. 21 autoriza a Assembleia a adotar regulamentos para prevenir a ocorrência e a propagação internacional de doenças, e dispor sobre vários outros aspectos relativos à saúde pública. Pelo art. 22, estas regras, que constituem o Regulamento Sanitário Internacional, entram em vigor para todos os Estados membros após um prazo determinado, exceto para os países que notificarem sua não aceitação dentro deste prazo. Tornam-se regras internas dos Estados.
* Diplomata aposentado. Membro da Comissão de Direito Internacional da ONU.