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Livro A Construção da Democracia no Brasil será lançado na Academia Paraibana de Letras

Trabalho é editado pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP) e pela Annablume

A Academia Paraibana de Letras abre suas portas para receber, na próxima terça-feira (29/4), a partir das 17h, o escritor e historiador paulista Alberto Aggio, para o lançamento de seu livro A Construção da Democracia no Brasil, 1985-2025: Mudanças, metamorfoses, transformismos (232 páginas).  O trabalho, editado pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), vinculada ao Cidadania 23, e pela editora Annablume, é parte do projeto 40 anos de democracia no Brasil, organizado pela entidade e pelo partido, e será comercializado na internet.

O lançamento, dentro do projeto Pôr do Sol Literário, da APL, será precedido por um debate sobre a obra, com a participação do autor, do historiador José Otávio de Arruda Mello e do presidente do Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba, Jean Patrício. O endereço da Academia Paraibana de Letras é Rua Duque de Caxias, 25/37, Centro João Pessoa - PB, 58010-821.

Aggio é doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP), livre-docente e titular pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Também tem pós-doutorado pela Universidade de Valencia, na Espanha, e pela Universidade Roma Tre, na Itália.

“Uma ideia organiza o livro: a construção da democracia. Nesse processo, coincidem mudanças, metamorfoses e transformismos que marcam os principais atores políticos dessa construção”, diz o autor, convidando o público para marcar presença no lançamento.

O processo de construção democrática dos últimos 40 anos no Brasil, segundo o texto, defronta-se hoje com um cenário global no qual os desafios à democracia são cada vez mais evidentes. “Tal situação produz mal-estar e desorientação ao conjunto da sociedade brasileira”, diz um trecho do livro.

“É reconhecível, quase que consensualmente, que há uma crise de legitimação democrática, que se vem impondo às democracias hodiernas, produzida por um gradativo e persistente arrefecimento da formulação programática dos partidos políticos, enfraquecendo as estruturas de representação, acompanhado por processos de colonização da lógica de mercado, o que tem proporcionado um enfraquecimento das possibilidades de consenso democrático”, afirma.

“Marca dolorosa”

No livro, Aggio ressalta que o elevado índice de desigualdade social, chamada por ele de “marca dolorosa que ainda se mantém”, a despeito da ampliação do consumo das classes populares, nas últimas décadas, continua como um dos principais obstáculos que se colocam à construção de uma democracia de maior qualidade no Brasil. Essa constatação, segundo o autor, é possível ao analisar o caminho percorrido e o lugar a que se chegou o país.

“Apesar da diminuição da extrema pobreza, o país não conseguiu resolver o problema da desigualdade social e racial dentro de parâmetros aceitáveis. Não há como não reconhecer que isso afeta a convicção de que a democracia pode mudar a vida para melhor”, observa o autor.

De acordo com o livro, depois de 20 anos de autoritarismo e da imposição de uma modernização avassaladora que alterou a morfologia da sociedade brasileira e 40 anos de uma construção democrática exitosa, mas com reconhecidos déficits, não é facultado ao Brasil perder o rumo que o mantém atrelado à trilha do moderno. Isto é expresso principalmente nos atores representativos da política democrática.

Apesar de todas as dificuldades e das poderosas dúvidas a respeito do presente, segundo o texto, resta a expectativa de que o país possa ser capaz de romper os entraves que bloqueiam os avanços democráticos e, simultaneamente, inventar maneiras de aprofundar, em novo patamar, a modernidade política que, de alguma forma, a construção democrática dos últimos 40 anos estabeleceu como uma aspiração compartilhada. Isso, de acordo com o autor, é possível em um contexto que valoriza o que se fez de positivo e projeta aberturas e inovações correspondentes às irreversíveis mudanças tecnológicas.

A democracia, segundo o livro, se consolidou institucionalmente, prova disso é que conseguiu suportar a realização de dois processos de impeachment – um acontecimento político sabidamente traumático –, o que, de acordo com o autor, ocorreu “sem sobressaltos dramáticos”.

Risco para a democracia

A partir de 2018, no entanto, a democracia brasileira viveu sob risco com a chegada da extrema-direita ao poder, mas os órgãos de controle institucionais conseguiram barrar as iniciativas de erosão democrática colocadas em marcha durante o governo de Jair Bolsonaro, impedindo que sua “guerra de movimento” contra as instituições políticas prosperasse.

O livro afirma, ainda, que a democracia brasileira conseguiu suportar a tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023, que fazia parte de um dispositivo previamente preparado de quebra da ordem institucional para impedir que se consumasse o retorno de Lula à presidência da República.

A fortaleza institucional da democracia contrasta, todavia, com a fragilidade da forma como a sociedade vivencia e participa da política, segundo o texto. Os partidos políticos, organismos centrais da vida democrática, foram e ainda são incapazes de se abrirem para a dinâmica de transformações que ocorrem na vida social e econômica. “Os partidos se oligarquizaram e se enrijeceram”, diz o livro.

“[Os partidos] passaram a ser estruturas voltadas para o enriquecimento de suas lideranças – e aqui não estamos nos referindo à corrupção –, o que gera um sentimento de rejeição da sociedade em relação aos partidos. O resultado é a perda de confiança na política, processo que acaba se generalizando por todos os setores sociais”, diz um trecho.

O livro reconhece avanços nessa dimensão, especialmente no que se refere à mecânica eleitoral, transformando o Brasil numa democracia de massas, legitimada interna e internacionalmente. Contudo, diz o autor, o sistema político presidencialista, com seu hibridismo característico, no qual o Executivo é eleito majoritariamente e o Parlamento proporcionalmente, não tem permitido e tampouco impulsionado reformas políticas significativas no campo da representação, o que afeta a qualidade da democracia.

Muitas oportunidades foram perdidas, nesses 40 anos, para serem realizadas reformas que melhorassem a estrutura de representação, como a implantação do voto distrital misto. Segundo o autor, algumas que foram feitas, como a cláusula de desempenho para os partidos nas eleições parlamentares, tardarão a ser implementadas integralmente.

“Esses dois exemplos apenas evidenciaram a dificuldade de legitimação das instituições na sociedade. Por isso, o êxito da construção democrática e o mal-estar diante da dificuldade de legitimação das instituições políticas parecem compor, paradoxalmente, duas faces de uma mesma moeda. Em razão disso, acaba predominando a desconfiança em relação às instituições políticas que dão sustentáculo à democracia. Mesmo assim, apesar das imperfeições e ineficiências, as instituições políticas têm sido um fator real de sobrevivência da democracia no Brasil”, diz o livro.


Enem 2025: Abertas inscrições para cursinho preparatório Educafro, em Brasília

Aulas serão oferecidas em espaço da Biblioteca Salomão Malina, vinculada à Fundação Astrojildo Pereira, do Cidadania 23

Comunicação FAP

Estão abertas as inscrições online para a segunda edição do Cursinho Pré-Enem Educafro, destinado a estudantes de baixa renda do Distrito Federal e que será realizado na Biblioteca Salomão Malina, vinculada à Fundação Astrojildo Pereira (FAP), do Cidadania 23. As inscrições são gratuitas, e as vagas, limitadas.

O início das aulas está previsto para 5 de maio. O curso seguirá até 24 de outubro, de segunda-feira a sexta-feira, das 19h às 21h10.

O diretor-geral da FAP, Marcelo Aguiar, ex-secretário de Educação do DF, disse que o cursinho é uma oportunidade de aumentar e democratizar o acesso ao ensino superior no Brasil, que tem o desafio de investir em tecnologia e inovação para a produção do conhecimento. “É parte da missão da FAP promover o estudo e a reflexão crítica sobre a sociedade, a educação e desenvolvimento da cidadania”, ressaltou. “Investir na educação e na juventude é o caminho para o desenvolvimento socioeconômico do país”, acrescentou o dirigente.

Segundo o diretor-executivo da Educafro Brasil, Frei David Santos, o cursinho é vetor de inclusão social no Brasil. "A Educafro Brasil quer ver os pobres descobrindo e priorizando os pré-vestibulares comunitários, como uma das melhores ferramentas de empoderamento e transformação de suas vidas. Os jovens afro-brasileiros estão voltando a descobrir o caminho da universidade e isso nos alegra muito. Estamos aqui para ajudá-los', enfatizou.

A ONG Educafro Brasil reúne pessoas voluntárias, solidárias e beneficiárias, que lutam pela inclusão de negros, em especial, e pobres em geral, nas universidades públicas, prioritariamente, ou em uma universidade particular com bolsa de estudos. O objetivo é possibilitar empoderamento e mobilidade social para população pobre e afro-brasileira.

O curso

A mensalidade do curso custa de 20 reais. As aulas serão oferecidas no Espaço Arildo Dória, na parte superior da biblioteca, em um espaço climatizado com poltronas confortáveis. O material escolar será fornecido aos estudantes inscritos.

Aulas de redação, língua portuguesa, literatura, matemática, biologia, física, química, matemática, história, geografia, língua estrangeira, sociologia, filosofia. Haverá duas aulas por dia, com dez minutos de intervalo.

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) O Inep ainda vai publicar os editais específicos com as regras e datas do Enem 2025. Os interessados em realizar o Enem 2025, isentos ou não da taxa de inscrição, deverão realizar sua inscrição na Página do Participante, no período que ainda será divulgado.

Biblioteca Salomão Malina

Inaugurada em 28 de fevereiro de 2008, a Biblioteca Salomão Malina é um importante espaço de incentivo à produção do conhecimento em Brasília. Localizada no Conic, tradicional ponto de cultura urbana próximo à Rodoviária do Plano Piloto, a biblioteca foi reinaugurada em 8 de dezembro de 2017, após ser revitalizada. Isso garantiu ainda mais conforto aos frequentadores do local e reforçou o compromisso da biblioteca com a cultura.

O espaço integra a Fundação Astrojildo Pereira (FAP), mantida pelo Cidadania23, e conta com mais de 7 mil títulos para empréstimos, que são constantemente atualizados por meio de doações e pela aquisição de obras de pensadores contemporâneos. O acervo é especializado em Ciências Sociais e Humanas, contando também com livros da literatura que fazem menção à crítica social e dos costumes, na transição do Brasil rural para o urbano.


Dia do Jovem: Presidente do Juventude 23 analisa preocupações e desafios de jovens

Geovanna Machado observa dificuldades de engajamento político e alerta para necessidade de se aprender cidadania

Comunicação FAP

Novas relações com o mercado de trabalho, qualidade de vida, liberdade e realização de sonhos que conciliem bem-estar pessoal e carreira profissional estão entre os grandes desafios na vida dos jovens. Por outro lado, eles também enfrentam a batalha de formar uma parcela da população mais suscetível à depressão e ansiedade. A socialização e o engajamento político ocorrem, sobretudo, por meio das mídias sociais, com enorme volume de informações. A análise é da presidente nacional do Juventude 23, Geovana Machado, de 26 anos, líder do grupo do Cidadania 23, ao qual a Fundação Astrojildo Pereira (FAP) é vinculada.

Para celebrar o Dia do Jovem, 13 de abril, a paranaense e advogada eleitoral compartilhou suas impressões por ter contato com centenas de jovens no país, observando que as novas relações com o mercado de trabalho estão no topo das preocupações da juventude. Ela afirma que os sonhos e as aspirações dos jovens, bem como a dificuldade de concretizá-los, diferem significativamente das gerações anteriores, que, segundo ela, tinham a vida mais pautada por cobranças como a da busca por sucesso profissional.

"Patamar diferente"

“Hoje, os jovens não se submetem a qualquer condição e não toleram mais a mesma pressão que as gerações passadas. Eles almejam patamar diferente e, talvez, não tenham a mesma ambição de outrora”, analisa a presidente do Juventude 23.

Na avaliação de Geovanna, é necessária uma reflexão sobre o significado da juventude contemporânea. Segundo ela, o momento atual representa uma “fase de transição” que molda uma geração, marcada por novidades e pela aceleração dos tempos e que reúne duas juventudes em uma só.

“Se antes as gerações se definiam a cada década, hoje esse período se reduziu a cinco anos, em média, com mudanças cada vez mais rápidas. Vivencio essa geração de transição, marcada por conceitos diversos. A mudança conceitual é notável, principalmente em relação à qualidade de vida, emprego, renda e sonhos”, ressalta.

Sonhos

A questão dos sonhos, de acordo com a presidente do Juventude 23, é crucial e se difere entre os jovens de hoje. “Eles almejam liberdade para realizar seus planos, mas também buscam estabilidade, não necessariamente um emprego fixo, mas, sim, uma estabilidade de vida”, observa.

“A preocupação com a saúde é evidente, com jovens que não fumam, não bebem, se dedicam a um estilo de vida mais saudável e, muitas vezes, são religiosos. Ao mesmo tempo, buscam aproveitar o melhor da vida, com amigos e família”, destaca.

Essa mudança de paradigma geracional também reflete na forma de relação dos jovens com o trabalho. “Os jovens não querem se esgotar em seus empregos. Desejam trabalhos que ofereçam satisfação financeira e permitam aproveitar a vida, viajar, estar com amigos e ter lazer”, pondera.

Obstáculos

A busca por esse estilo de vida, no entanto, enfrenta obstáculos de ordem comportamental. “O Brasil tem muitos casos de ansiedade, devido ao excesso de informação e às infinitas possibilidades de caminhos. Se antes as pessoas tinham poucas escolhas, hoje os jovens se deparam com a infinidade de opções e a necessidade de refletir sobre seus desejos. O trabalho se torna o mínimo necessário para a sobrevivência, querendo buscar tempo para as atividades que realmente os fazem felizes”, diz.

Na vida política, conforme observa Geovana, o engajamento ocorre principalmente nas redes sociais, com curtidas, compartilhamentos e outras formas de interação. “Políticos jovens utilizam as redes sociais para tentar engajar o público, que precisa de outros atrativos, como dancinhas e sensacionalismo, a fim de atrair jovens que não se aprofundam em debates”, acentua.

“Influenciadores digitais representam uma parcela significativa da juventude, mas será que isso é exercer a cidadania? Antes de exercer a cidadania, é preciso aprendê-la. A política se torna cada vez mais distante, refletindo uma socialização antissocial e uma sociedade líquida e dispersa, que produz jovens ansiosos e com outras prioridades”, afirma.


Número de mortes por parto deveria ser nulo, diz Luiz Santini, um dos criadores do SUS

Conselheiro da FAP destaca Programa Nacional de Imunização em análise no Dia Mundial da Saúde

Comunicação FAP

Um dos criadores do Sistema Único de Saúde (SUS), o médico Luiz Santini disse que a mortalidade materna “nem deveria existir no Brasil”. “O número de mortes por parto ou procedimento obstétrico deveria ser nulo, mas ainda há nas regiões mais pobres, sobretudo no Norte e nos bolsões do Nordeste, taxa de mortalidade materna além do desejável. Se houver uma morte, significa que houve falha do sistema em algum momento”, alertou, nesta segunda-feira (7/4), Dia Mundial da Saúde.

Em alusão à data, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou nesta segunda-feira uma campanha, com duração prevista de um ano, em favor do bem-estar materno e neonatal. O tema escolhido é “Começos saudáveis, futuros esperançosos”. Segundo a OMS, quase 300 mil mulheres perdem a vida todos os anos em razão da gravidez ou do parto, enquanto mais de dois milhões de bebês morrem ao longo do primeiro mês de vida e outros dois milhões são natimortos (bebês que morrem após 20 semanas de gestação no útero ou durante o parto).

Mortalidade

De acordo com Santini, a mortalidade infantil no Brasil caiu, mas ainda há desafios. “Há mortalidade de nascituro elevada em determinadas regiões por falta de apoio tecnológico e de suporte a crianças nascidas abaixo do peso ou com alguma doença congênita e que não tenham suporte tecnológico necessário, até que seja possível alguma intervenção médica”, afirmou. Ele também é conselheiro da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), ligada ao Cidadania 23, e pesquisador de saúde pública no Centro de Estudos Estratégicos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

A OMS estabeleceu como meta reduzir a taxa global de mortalidade materna para 70 mortes a cada 100 mil nascidos até 2030. Hoje, esse número é de 223 mortes para cada 100 mil nascidos vivos. No Brasil, em 2021, esse índice foi de 117 mortes, impulsionado principalmente pela pandemia de covid-19.

Vacinação

Na avaliação do professor, um dos grandes aliados da saúde pública no país é o Programa Nacional de Imunizações (PNI), iniciativa do governo brasileiro que oferece vacinas gratuitas à população. É uma política pública que ajuda a proteger toda a população, inclusive mães e crianças, que são consideradas prioridade absoluta pela Constituição Federal.

“O PNI é universal, incluindo a vacinação desde o nascimento, com a BCG, a primeira aplicada, até o calendário integral, hoje com mais de 30 vacinas. Nesse aspecto, na atenção materno-infantil, o SUS propiciou evolução muito grande no país”, disse, lembrando que o sistema completará 35 anos em 2025, depois de ser criado pela Constituição de 1988 e implementado pela Lei 8.080, de 1990.

Para Santini, o país também precisa considerar outras questões ligadas a mulher, em razão de sua fertilidade e de sua decisão de continuidade ou não à gravidez, considerando, inclusive, o acesso aos meios de evitá-la, por meio da utilização de medicamentos durante o período fértil. Em outros casos, segundo ele, é preciso que haja oferta de medicação que possa impedir a gestação, considerando as hipóteses previstas na lei. “O Ministério da Saúde oferece programas, mas há regiões mais excluídas, principalmente Norte e Nordeste”, observou.

Violência obstétrica

O pesquisador também analisou uma situação que aterroriza mulheres no país, nas redes pública e privada de saúde. “Há relatos de violência obstétrica cada vez mais frequentes, o que é muito lamentável”, disse. “É reflexo de um comportamento machista, dominador, de desnível e de hierarquia e às vezes a pessoa se sente hierarquicamente superior e tende a provocar situações como essa”, acrescentou.

Segundo ele, a continuidade de denúncias de violência obstétrica é ruim por confirmar que esses casos ainda persistem. No entanto, acrescentou, é positiva porque as mulheres têm consciência da necessidade de proteção da sua integridade física e mental, durante a gravidez, o parto e o puerpério. “É direito da mulher ter, nesse período da sua vida, maior cuidado e carinho”, afirmou.

Para a maior efetividade de oferta de atendimento em saúde pública no país, Santini reforçou a importância da expansão de programas de saúde da família e de todos os demais que visam garantir atenção básica, perto da população, inclusive com especialistas. “Muitas vezes, a pessoa tem acesso ao atendimento básico, mas depois encontra dificuldade no atendimento especializado por vários motivos”, asseverou.

Apesar dos desafios, o pesquisador entende que o país tem muito potencial por causa do Sistema Único de Saúde. “O diferencial do SUS é a abrangência do sistema. É um dos poucos sistemas, mesmo comparado com países europeus, que é universal, por considerar que todas as pessoas têm direito ao atendimento em saúde, o que inclui todos os componentes da saúde, desde a atenção primária”, ponderou, ressaltando a importância da defesa desse modelo como instrumento do próprio regime democrático. “Democracia é saúde. Sem democracia, não há sistema de saúde popular, universal, equânime. Com democracia, é muito difícil; sem democracia, é impossível”.


Primeiro autista a tornar público diagnóstico no Congresso preside sessão

Em dia histórico, Amom Mandel, relembra soluções legislativas que estão em tramitação avançada e mostra desafios com “apagão de dados” sobre a população com TEA no Brasil

Amom Mandel (Cidadania-AM), primeiro deputado federal a tornar público diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Congresso Nacional, presidiu a sessão solene em alusão ao Dia Mundial de Conscientização do Autismo, comemorado nesta quarta-feira (02/04). Pela primeira vez, um parlamentar autista comanda a homenagem feita na Casa para discutir os desafios enfrentados por essa parcela da população. A tônica da solenidade foi o clamor por inclusão real, respeito e efetividade nas políticas públicas.

Mandel ressaltou que a burocracia vivida por pessoas autistas no acesso a direitos básicos ocorre diariamente. Por isso, instituir a Carteira Nacional de Identidade da Pessoa com Deficiência (CNIPCD), relatado pelo parlamentar no plenário da Câmara dos Deputados, é uma solução para padronizar a comprovação das pessoas com deficiência e retirar obstáculos desnecessários a serviços e benefícios.

“A inclusão não pode ser só uma palavra vazia. Ela precisa partir de cada um de nós e se transformar em prática diária. Minha luta é para que cada um deles tenha o direito de viver com dignidade”, afirmou o parlamentar.

O “apagão de dados” oficiais sobre a população autista no Brasil foi outro tema levantado na tribuna por Amom. O limbo de informações detalhadas sobre esse grupo social dificulta, principalmente, a implementação de políticas públicas. “A ausência de um registro unificado contribui para a invisibilidade dessas pessoas, comprometendo seu acesso a direitos fundamentais”, disse.

Simplificar para população

Como membro da Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência (CPD), Amom se comprometeu a ser linha de frente na criação do Código Brasileiro de Inclusão. A ideia é consolidar todas as leis federais sobre PCDs em um único lugar, tornando-as mais acessíveis à própria população e, portanto, mais eficazes na promoção da inclusão. Legislações referentes aos direitos das pessoas com deficiência estão dispersas, o que dificulta a compreensão e aplicação.

“Junto ao presidente da Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência, deputado Duarte Júnior, iniciamos debates, realizamos audiências públicas e estabelecemos diálogos contínuos com especialistas, autoridades e famílias, visando identificar e implementar soluções concretas para os desafios enfrentados pela comunidade autista”, disse.

Fonte: Cidadania 23


Os maus jogadores da Nova República e os 40 anos de redemocratização

Vinícius Müller*

Uma das maiores complexidades da história se revela na dificuldade de estabelecermos certo consenso sobre quais itens e personagens de um determinado período merecem ser considerados fundamentais ou mais relevantes para quem, no futuro, tenta capturar a essência daquela conjuntura. Essa dificuldade se acentua quando a história a ser compreendida é suficientemente atual para que possamos chamá-la de ‘história do tempo presente’, afinal não podemos contar, nesse caso, com o distanciamento temporal como um aliado daqueles que se dedicam a decifrar o passado. Por isso, uma das maneiras de mitigar essa dificuldade reside no uso das efemérides como um auxílio para a definição de parâmetros, criando um espaço que, ao mesmo tempo, limita e possibilita nosso entendimento sobre a história. E apenas com essa limitação dada pela efeméride é que podemos identificar os itens persistentes e personagens ainda vivos que tornam essa história não só inteligível, mas própria ‘do tempo presente’. 

Neste ano de 2025 temos uma chance maiúscula de usarmos uma efeméride para reconstruirmos uma história que ainda nos define como sociedade. Há 40 anos, o colégio eleitoral escolhia Tancredo Neves como presidente da República, formalizando a ascensão de um civil ao cargo maior do País após 21 anos de ditadura militar. Esse é o recorte histórico estabelecido por Alberto Aggio em seu novo livro A Construção da Democracia no Brasil, 1985-2025: mudanças, metamorfoses, transformismos (Fundação Astrojildo Pereira/Editora Annablume). Aggio, professor de História na Unesp e intelectual com longa contribuição ao entendimento da história política do Brasil e da América Latina, não apenas descortina a origem da Nova República brasileira, cuja fundação ocorreu exatamente no episódio da eleição de Tancredo, mas lança luz sobre os itens e personagens fundamentais desse que, embora seja o mais longevo período democrático brasileiro, enfrenta nos últimos momentos o aumento da desconfiança em relação aos seus próprios fundamentos. Ou seja, reconstrói aquela que se apresenta como a mais urgente ‘história do tempo presente’ para uma geração, da qual Aggio faz parte, que vivenciou a transição do poder militar para os civis e que inaugurou a redemocratização brasileira.

Transições e rupturas na redemocratização brasileira

O modo como essa história nos é revelada se relaciona à uma série de leituras que temos sobre nosso passado. Essa variedade é a janela que possibilita o entendimento das origens não só da Nova República, mas também — e principalmente — dos motivos que nos levaram a pensar que ela está em risco desde, ao menos, 2013. 

Explicitamente, três questões se impõem a partir da escrita de Aggio. Uma delas é o uso, caro ao autor, da abordagem do italiano Antonio Gramsci, teórico que cunhou a tese da revolução passiva. Nesse caso, a transformação operada pela redemocratização que caracteriza a Nova República não deve ser vista pela ruptura, mas sim por uma transição cujos elementos da mudança são tão visíveis quanto os elementos da continuidade, embora a direção dessa transformação aponte para certa predominância dos primeiros sobre os últimos. Dessa forma, há uma espécie de sentido da história que, entre avanços e obstáculos, se consolidou majoritariamente como uma transformação cujos itens constitutivos devem ser vistos ao longo da trajetória. Tais itens são inegavelmente aqueles que formam uma estrutura que, mesmo insuficiente, dá coerência ao período: eleição de Tancredo Neves; Constituição de 1988, Plano Real e avanço das questões sociais sob os dois primeiros governos de Lula. 

A segunda questão, de certa forma complementar à primeira, é a leitura da Nova República a partir da obra de Luiz Werneck Vianna e sua citada frase de que o Brasil “tem horror à linha reta, uma vez que o traço de preferência nacional é o ziguezague”. Esse vai e vem tem se revelado nas últimas quatro décadas por aparentes contradições entre a modernização e o arcaísmo que, de tempos em tempos, ganha nova roupagem. No caso da Nova República esse conflito pôde ser visto de forma mais nítida na contingência da presidência de José Sarney. Eleito como vice na chapa de Tancredo, Sarney carregava a contradição de ter sido aliado da ditadura militar e o primeiro presidente, de fato, da Nova República. Mais do que isso, de ter operado seu governo a partir de elementos contidos no ambiente democrático, mas ainda carregando o ‘entulho autoritário’ do período anterior. Em uma leitura que desconsidera a ‘revolução passiva’ e seu andar em ziguezague que, com temporalidades diversas, ao fim e ao cabo, garantiu avanços significativos e democráticos à Nova República, Sarney e seu governo foram e ainda são vistos por certos segmentos da esquerda brasileira como muito pior do que realmente foram. Cabe aqui, portanto, a proposta de que sem uma revisão dos primeiros anos da Nova República que reposicione, sob um olhar amplamente positivo sobre o que significou o governo de Sarney para a redemocratização brasileira, não teremos a dimensão necessária para compreendermos o debate sobre uma possível crise que nossa democracia estaria vivendo desde 2013. Ou seja, o destaque ao governo Sarney não deve ser dado ao seu passado de aliado aos militares, e sim à sua relação fortemente amparada em valores democráticos junto à Constituinte de 1988, criadora da principal sustentação da Nova República. 

E a aproximação entre a abordagem da revolução passiva e o ziguezage de Werneck Vianna possibilita transparecer o terceiro item fundamental da obra de Aggio. Parcelas significativas entre aqueles que se diziam os restauradores da democracia, notadamente entre as esquerdas brasileiras, têm uma histórica dificuldade em compreender para além da perspectiva do conchavo, a possibilidade de um avanço democrático, em sentido amplo, e, portanto, uma transformação verdadeira, a partir da política da conciliação. Tal dificuldade revela um olhar maniqueísta sobre a história brasileira e que, de certa forma, justificou a equivocada percepção de que a verdadeira redemocratização só ocorreria por ruptura. Embora a obra de Aggio concentre a análise no período da Nova República, essa percepção se repete em outras leituras sobre momentos variados de nossa história, como a Independência, a conciliação do Império, a Proclamação da República e a lei da Anistia. 

O resultado dessas diferentes leituras de nossa história foi a criação de ao menos dois grandes rompimentos. Um deles, interno à esquerda, foi a cisão entre aqueles que rapidamente se posicionaram não só como democratas, mas que também reconheceram a legitimidade dos itens que formam o escopo da democracia brasileira. De outro lado, aqueles que se disseram democratas, mas se posicionaram contrariamente aos itens que constituem a institucionalidade da Nova República. O problema é que, passados 40 anos, está evidente que foi o segundo grupo que se destacou e se transformou numa das forças hegemônicas no País. 

A regra do jogo e os jogadores

Em certa medida, a repactuação do federalismo contemplada pela Constituição de 1988 potencializou certa hegemonia sobre o jogo eleitoral da Nova República ao PMDB. Oriundo do antigo MDB, de oposição ao regime militar, o partido teve três presidentes (Sarney, Itamar e Temer), mas inúmeros poderes subnacionais, além de figurar tanto no Congresso quanto na divisão ministerial dos governos nacionais como protagonista durante quase todos os quarenta anos de redemocratização. Teve também sua dissidência à esquerda, o PSDB, como responsável por um dos pilares fundamentais do período, o Plano Real, sob a liderança de Fernando Henrique Cardoso. Contudo, a cultura política que após as quatro décadas ainda se revela majoritária é aquela identificada na intersecção entre o petismo e o papel de seu líder máximo, Lula da Silva, e sua ideologia, o lulismo. Com cinco vitórias eleitorais ao cargo majoritário do País — e mais tantas outras derrotas, quase todas em segundo turno — o petismo e o lulismo estiveram sempre como um dos dois protagonistas no plano eleitoral e político do País. Aggio acerta ao concentrar parte significativa de sua análise sobre a Nova República na cultura petista e, por isso, insinua o que pode ser o cerne de certa dicotomia que, depois de quatro décadas, nos deixa apreensivos quanto à crise da nossa democracia. 

Não é novidade na história brasileira o embate entre as regras do jogo e seus elementos fundamentais de construção institucional, de um lado, e os principais jogadores, de outro. Como se houvesse um limite, testado sob forte pressão feita por alguns jogadores que oscilam, calculadamente, entre a aderência às instituições a partir de certa posição organicamente forjada e o descrédito dessas mesmas instituições a partir da construção de uma narrativa que se ampara no confronto, nunca na conciliação. A cultura petista e lulista que parcialmente se confunde com a trajetória desses quarenta anos de redemocratização apostou, ao longo de sua construção, no descrédito dos processos e eventos que deram, ao fim, a sustentação da Nova República. Embora tenha usado todos esses itens como trampolim não só para a sua contribuição mais acertada — o avanço das pautas sociais — mas também e, oportunamente, na defesa de alguns dos itens que estruturam a Nova República, o petismo se opôs à eleição de Tancredo (chegou a expulsar membros do partido que votaram em Tancredo no Colégio eleitoral), fez feroz oposição a Sarney, não chancelou a Constituição de 1988, foi contra a modernização econômica iniciada de modo atrapalhado por Collor,  não aceitou compor o governo Itamar, chegando a desligar membros do partido que aceitaram cargos no governo (como ocorreu com Luiza Erundina), se opôs ao Plano Real — o qual acusava, infantilmente, de ser neoliberal — e contribuiu decididamente para a polarização que antecipa a tragédia atual ao associar sem nenhum pudor o governo FHC à direita ideológica. 

Portanto, uma trajetória na qual o principal jogador usa as regras do jogo, no limite de sua violação, mas sem violá-la, para desacreditar os próprios marcos de criação e legitimidade das instituições. Essa aparente contradição não é novidade e nem exclusividade da Nova República. Infeliz e coincidentemente, ocorreu em certa medida no início da década de 1930, no período que imediatamente antecede ao golpe do Estado Novo varguista e na década que antecede o golpe militar de 1964. Não à toa, a última eleição presidencial foi disputada entre um saudosista do varguismo e um apologista da ditadura militar. 

Entre os avanços e obstáculos da Nova República, a sociedade mostrou que identificava que parte das dificuldades desse período histórico vinha do confronto entre o ‘espírito’ das instituições e o modo como os jogadores se comportavam. A resposta foi a ampliação da recusa de um e outro, que significou a radicalização de alguns contra as instituições democráticas e a desconfiança em relação à honestidade e integridade dos agentes políticos. Ou seja, uma avenida para a ascensão da direita (essa sim, de verdade!) que estressou ainda mais a polarização e seriamente se comprometeu com a ruptura institucional. 

Se a Nova República e a democracia brasileira estão sob risco, o livro de Aggio é esclarecedor na medida em que identifica e explica sem moralismos e vulgaridades a trama que, nas últimas quatro décadas, nos levou até essa situação. Se, de fato, não estão sob risco, é exatamente pela força das instituições que foram criadas e sustentaram o maior período democrático da história brasileira. Mesmo sob forte descrédito de alguns seus principais jogadores. 

*Doutor em História Econômica, professor do INSPER, da Faculdade Belavista, da IBMEC, da FECAP, da Fundação Dom Cabral e do CLP-FAAPO. O autor publicou o texto, originalmente, no Estado da Arte/Estadão. Foto destaque: Felipe Rau/Estadão.


Foto: George Campos - USP

Uma Homenagem ao “Partido da Democracia”

Nossa democracia veio à luz a partir de um processo de transição negociada

Alberto Aggio, historiador*

Foi bastante importante, em termos políticos e também históricos, a propositura, montagem e realização do evento de lembrança dos quarenta anos da nossa redemocratização, celebrado no Seminário “40 anos de democracia no Brasil – conquistas, dívidas e desafios”, realizado em 15 de março no “Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves”, em plena Praça dos Três Poderes de Brasília. O evento, promovido pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP) e pelo Cidadania 23, contou com apoio do jornal Correio Braziliense, que produziu uma exposição magnífica de fotos, documentos e objetos significativos. As palestras e debates reuniram políticos, intelectuais, dirigentes e militantes políticos, além do público interessado.

Pelo espírito que guiou o encontro e pelas personalidades que lá discursaram, destacando-se o ex-presidente José Sarney, tratou-se de um evento que, no essencial, homenageou o “partido da democracia” – o “partido” que conduziu a transição, produziu a Constituição de 1988 e a sustenta até os dias que correm. Não se trata de um “partido” com registro no TSE. Refiro-me aqui a uma “invenção política”, melhor dizendo, a uma “convicção política”. Para todos que lá estiveram, o sentimento era de que esse “partido da democracia” lá se expressou desde a ideia que decantou o evento até as últimas palavras pronunciadas naquele espaço. Por outro lado, a contrapelo, a celebração dos 40 anos de democracia no Brasil não foi a produção de mais uma “narrativa”. Diferentemente, o que se fez foi refletir e produzir História in atto, a saber, um “discurso” interpretativo e aberto, mas colado aos fatos históricos.

No contexto desse evento pude apresentar ao público o meu livro A construção da democracia no Brasil, 1985-2025 – mudanças, metamorfoses e transformismos (FAP/Annablume, 2025), cuja intenção maior foi a de elaborar uma interpretação crítica sobre a história política dos últimos 40 anos. Como se sabe, a democracia vem sendo acossada pelo extremismo de direita no mundo e também no Brasil e, por isso, é preciso defendê-la mais do que nunca. Não há melhor forma de defende-la senão por meio de uma releitura da história da sua construção, apontando os momentos cruciais de suas conquistas bem como os pontos essenciais em que os atores que protagonizaram essa trajetória claudicaram no seu desenvolvimento, o que acabou produzindo um conjunto de déficits reconhecidamente problemáticos.

   Apesar disso, é preciso registrar, antes de mais nada, que além da Constituição de 1988, os 40 anos de democracia legaram à sociedade a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), consagrando o direito à saúde como sendo de todos e não um privilégio. Com o Plano Real, recuperou-se o valor da moeda e selou-se o fim da hiperinflação, iniciando-se um processo de redução da pobreza que viria a ser aprofundado em seguida. Nessa jornada, houve reconhecidamente uma ampliação do acesso à educação a segmentos sociais antes excluídos. Em síntese, a democracia está sendo, para milhões de brasileiros, um fator civilizador capaz de efetivamente melhorar a vida.

Mesmo assim, nem todos os atores políticos, dentre os mais significativos, compartilham a mesma visão a respeito dos passos positivos que foram dados para que pudéssemos construir a democracia nos últimos 40 anos. É difícil obter um consenso interpretativo a respeito da necessidade histórica desses passos bem como do seu significado e mais difícil ainda obter consensos a respeito da validade das etapas percorridas. Por isso somos tão divididos e incapazes, no mais das vezes, de enfrentar e vencer os mais poderosos desafios que se apresentam.

A começar pelo processo de transição do autoritarismo para a democracia. Nossa democracia não nasceu de uma revolução. Nossa democracia veio à luz a partir de um processo de transição negociada, como foi na Espanha, depois da morte de Franco, ou no Chile, depois da derrota de Pinochet no plebiscito de 1988. São exemplos de democracias que nasceram de transições negociadas com a institucionalidade ou com segmentos do regime anterior. Foram necessárias operações políticas complexas para se extrair resultados positivos dessas negociações. Por isso, algumas forças políticas, à esquerda e à direita, não compreenderam a transição e se colocaram contra ela. Contudo, é preciso que se afirme que a transição brasileira foi negociada, mas também foi uma transição com um apoio popular. Como escreveu a economista Maria Conceição Tavares, asseverando, no calor da hora, que o Brasil daqueles anos não era mais o Porto Seguro das elites e nem a Estação Finlândia dos revolucionários.

Como afirmou, no evento, o ex-deputado constituinte, Miro Teixeira, “não foi fácil chegar até onde estamos”, reconhecendo que a nossa transição foi heroica, popular e, sobretudo, empenhou-se em isolar e conter os extremistas e os extremismos. É, portanto, falsa a avaliação de que se tratou de uma transição conservadora. É hora de a intelectualidade compromissada com a democracia rever essa visão enganadora e equivocada que maltrata a história – nos dois sentidos, pode-se enfatizar.

Hoje, mais do que uma crise da democracia, o que se observa é uma crise do sujeito político portador do moderno, que sempre carregou consigo a proposição que conectava liberdade, democracia e autonomia com vistas a uma sociedade mais justa, próspera e igualitária. Na hora presente, é preciso convocar os democratas a construírmos os desenhos que possam informar um novo horizonte democrático, isto é, uma nova cultura política, democrática e interdependente, que se afirme no Brasil e se expanda pelo mundo.

Para isso, precisamos de estadistas à altura dos desafios do nosso tempo. Infelizmente, como bem observou o jornalista José Casado em seu artigo intitulado “O ‘pobrismo’ se tornou matéria-prima eleitoral básica”, publicado na edição de 15 de março de 2025, Lula e o PT “parecem não ter compreendido a dimensão da mudança ocorrida sob seus pés nos últimos quarenta anos”, cujo processo ultrapassou “a representação política baseada no critério de classes”. As metamorfoses dos atores democráticos que o país vivenciou no contexto de uma globalização triunfante, na passagem do século XX para o XXI, dentre eles Lula e o PT, ensejaram a possibilidade de um transformismo positivo. Naquele contexto, como escrevi no livro e que Casado reproduz, “foi possível vociferar diante de tudo, de todos e das mais difíceis circunstâncias que o projeto político (de Lula e do PT) era, como dizia o ex-deputado petista José Dirceu, ‘governar no Brasil’. Pois era, enfim, simplesmente isso e não construir uma sociedade democrática, justa, solidária, mesmo que não se conseguisse alcançar o poder. Agora, tudo indica que não será mais possível, pelo menos na forma como se pensava”.

No andamento do terceiro mandato, continua Casado – ainda citando literalmente o meu livro –, as identidades se esfumaçaram “num ambiente onde partidos e seus líderes substituíram projetos de modernização nacional pela visão tosca da política como negócio, com prioridade às transações nem sempre transparentes, mas convergentes à garantia de poder numa “partidocracia” patrimonialista e endinheirada”.

Em absoluta contradição com o momento inicial da construção democrática, a sensação que temos hoje é de degradação política pelo vazio de hegemonia, derivando no estabelecimento de um transformismo negativo, no qual a política significa apenas negócio. Para concluir, como anotei no final de um dos capítulos do livro, “trata-se de um transformismo que poderá bloquear a democracia e seus possíveis avanços. Seria desastroso para o país cumprir esses 40 anos de construção democrática sem reconhecer uma ameaça dessa magnitude”. 

*Artigo publicado originalmente no portal Revista Será


Desafios da Democracia: Igualdade de gênero, justiça social e luta contra retrocessos

Vera Lúcia exige reformas partidárias para reverter desigualdades de gênero e fortalecer a proteção do Estado Democrático de Direito

A ministra Vera Lúcia Santana Araújo, do TSE, destacou que a democracia passa também pelo enfrentamento da luta pela igualdade de gênero e respeito às etnias. “Uma democracia que ainda se arrasta, que segue com atropelos, abalos e ameaças”, disse. Segundo ela, é necessário analisar o papel dos partidos políticos, no cenário atual, diante dos problemas e desafios postos. Para a ministra, a violência contra mulher gera uma dívida do Estado em relação a todo país por causa dos dados apresentados que são muito elevados.

Vera Lúcia cobrou dos partidos políticos as mudanças necessárias para reverter a discrepância entre homens e mulheres no país. “O mesmo Congresso que ao mesmo tempo legisla a favor das mulheres, esse mesmo descumpre da lei que foi feita por ele”, criticou. “A sub-representação de mulheres e negros nos coloca em uma situação [bastante ruim].”

De acordo com a ministra, a despeito das conquistas já realizadas, ainda há muito o que fazer. Ela ressaltou que o momento atual é de “ofensa” do Estado Democrático de Direito. “Se vivermos um retrocesso constitucional, será um fracasso para a nossa geração”, reagiu. “A gente não pode viver na dependência de um julgado do Supremo Tribunal Federal e da decisão do Tribunal Superior Eleitoral”, ressaltou. Para ela, é muito grave haver no Brasil grupos em defesa do retorno da ditadura.

Forte emoção

Na sua defesa pela democracia, a diretora-executiva Fundação Astrojildo Pereira, Elza Pereira Correia, lembrou que é filha de pais comunistas, que sempre defenderam as liberdades. Emocionada, ela reiterou que muitos no Brasil perderam a vida, foram torturados e mortos para garantir um país verdadeiramente democrático. “Viva a democracia brasileira”, afirmou.

Para o ex-governador do Distrito Federal Cristovam Buarque, há alguns desafios bastante pontuais no Brasil na preservação da democracia. Na opinião, dele o sistema democrático passa pelo combate à fome, à redução da desigualdade social, da ampliação do atendimento da saúde, a rediscussão do papel e das atribuições dos militares, além da necessidade de estabelecer uma consciência ecológica. “A democracia existe para funcionar dentro das nações”, disse. “Mas acabou o tempo em que cada país decida o que é democracia. O mundo está globalizado.”

Segundo Cristovam, há uma “crise estrutural” causada pela nova percepção de mundo provocada pela rapidez do tempo e da globalização. Ele reitera que um dos desafios mais profundos do planeta está nos “imigrantes sociais”, os estrangeiros rejeitados por todos. De acordo com o ex-governador, as autoridades não sabem como lidar com esses desafios, por exemplo. “Mas temos de comemorar o que já conquistamos. Não vamos encontrar a solução rapidamente.”

Recuperando-se da gripe Influenza nos Estados Unidos, o cientista político e historiador Mark Lilla participou remotamente do Seminário. Ele reiterou que, apesar das dificuldades, o sistema democrático ainda é o melhor.

“A democracia como qualquer outra ordem política tem vantagens e desvantagens, mas sabemos que as alternativas são muito piores. Nos Estados Unidos, nós temos muito a aprender com o Brasil e entendemos o quão rápido a democracia pode acabar”, observou o norte-americano. Segundo ele, o governo Donald Trump trouxe à tona a discussão sobre os imigrantes ilegais e o controle das universidades. Temas que têm relação direta com a interferência no sistema democrática.

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Ex-presidente do Uruguai diz que passado ensina sobre o presente e o futuro

Sanguinetti lembra que, no período em que o Brasil restaurou a democracia, outros países também reconquistaram suas liberdades

Ao participar do Seminário “Democracia 40 anos: Conquistas, Dívidas e Desafios”, neste sábado (15/03) em Brasília, promovido pela Fundação Astrojildo Pereira e pelo Cidadania, o ex-presidente Júlio María Sanguinetti, reiterou que a experiência do passado deve ser tomada como exemplo para a preservação do Estado de Direito diante das ameaças externas e, por vezes internas.

O ex-presidente do Uruguai rebateu as críticas de que os anos de 1980 e 1990 representaram uma “década perdida”. “Como podem falar isso? Foi o período em que a América Latina foi redemocratizada, que acabou a Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética (1991)”, relembrou Sanguinetti.

O ex-presidente do Uruguai elogiou Sarney a quem atribui o estreitamento das relações entre os presidentes da América do Sul, o fortalecimento a luta pela democracia e a defesa da paz. Amigos há quase meio século, Sanguinetti relembrou os desafios enfrentados pelo brasileiro no enfrentamento da ditadura militar (1964-1985). “Ele se preparou para ser um vice-presidente discreto e acabou sendo um presidente da República de um país livre.”

Nunca mais

Duas vezes presidente eleita do Chile, Michellet Bachelet, primeira mulher a governar o país, enviou um vídeo com sua mensagem para o comemoração dos 40 anos da redemocratização do Brasil. Nele, a ex-presidente ressaltou que as conquistas do passado devem servir de lição para o presente e estímulo para as lutas futuras. Para ela, os líderes políticos da região devem se empenhar para garantir que “nunca mais” ditaduras e gestões autoritárias se instalem.

Na América do Sul, Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai viveram longos períodos de ditadura militar. Mas cada um restaurou a democracia de forma diferente. Os argentinos tiveram governos ditatoriais em distintos anos - 1930, 1943, 1955, 1962, 1966 e 1976.  A Bolívia de 1964 a 1982, o Chile de 1973 a 1990, o Paraguai de 1954 a 1989, enquanto o Uruguai teve um período mais curto de 1973 a 1985.

Bachelet ressaltou também que outro desafio é enfrentar as dificuldades comuns, como a pobreza, a desigualdade, a fome, a economia instável e os impactos da crise climática. “Só com a democracia podemos viver em um país mais justo com ordem e progresso”, afirmou a chilena. Ela elogiou o ex-presidente José Sarney e sua gestão no período de transição. 

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Cronologia do Brasil: Da pré-história ao século 21, um livro que discute projeto de nação

Historiador Ivan Alves Filho registra os principais eventos do país em livro publicado pelo Senado

Comunicação FAP

No ano em que o país celebra os 40 anos da redemocratização, o livro Cronologia do Brasil: Da pré-história ao século 21, do historiador Ivan Alves Filho, lança luz sobre o passado, orientando a sociedade para uma reflexão sobre o presente, com vistas à consolidação de um legítimo projeto de nação com a democracia ainda mais fortalecida no futuro. A obra foi publicada pelo Senado Federal, em 2024, com prefácio do ex-senador Cristovam Buarque.

Democracia 40 anos: Conquistas, Dívidas e Desafios

Considerado um documento útil para estudantes, historiadores, jornalistas e todos os interessados em conhecer os eventos mais importantes da história do Brasil, o livro destaca a constante presença de temas recorrentes na história do Brasil, como o papel das forças militares, as desigualdades sociais e a luta por democracia. Além disso, há a valorização da educação e da memória histórica como ferramentas essenciais para a construção de um futuro mais justo.

“Esse livro faz um balanço da trajetória nacional brasileira, no momento em que o Brasil precisa se dotar de um projeto de nação. A ideia é provocar discussão sobre o processo histórico, que empurre, de fato, o país para um projeto de nação. Uma história bonita do país e da sociedade”, afirmou o autor, em entrevista ao portal da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), vinculada ao Cidadania 23.

O autor disse, ainda, que a necessidade de projeto de nação para o Brasil é perceptível ao se resgatar o processo histórico, o que é imprescindível na educação e na formação da sociedade brasileira. Segundo ele, o país teve apenas três projetos de nação.

“Tivemos como projeto de nação com democracia o plano de metas do Juscelino Kubitschek, que resultou em Brasília; as propostas de reforma de base do Jango, entre elas o voto para o analfabeto e a reforma agrária; e a implantação do Real com Itamar Franco, que assegura a transferência de renda do capital para o salário. O Plano Real restabeleceu a participação do salário na renda nacional, que estava sendo corroída pelo processo inflacionário.

Na apresentação do livro, Ivan Alves Filho explica que a motivação da obra foi a necessidade de um registro amplo e acessível da história brasileira. De acordo com ele, o Brasil, devido à sua relevância econômica e política no cenário internacional, precisa estar preparado para as transformações do mundo moderno. “Assim, conhecer o passado é fundamental para enfrentar os desafios do presente e do futuro”, disse ele.

A obra reúne cerca de 10 mil entradas cronológicas, cobrindo desde a pré-história até o século XXI. Segundo o autor, essa compilação não tem caráter exclusivamente político ou ideológico. “Pelo contrário, busca apresentar os fatos mais relevantes de maneira objetiva, promovendo um panorama abrangente da trajetória nacional”, explicou. “Os verbetes adentram os terrenos das relações comerciais e diplomáticas, além de lutas sociais, expansão territorial e fundação de cidades”, acrescenta.

Outro ponto importante ressaltado por Alves Filho é o caráter paradidático do livro, que, no processo de ensino-aprendizagem, é um instrumento útil para professores, estudantes e comunicadores, ajudando a ampliar o conhecimento histórico e fomentando o pensamento crítico. 


Democracia 40 anos | Arte: Washington Reis/FAP

Democracia 40 anos: Conquistas, Dívidas e Desafios

Comemoração histórica terá como homenageado José Sarney, o principal condutor da transição pacífica

Comunicação FAP

A Fundação Astrojildo Pereira (FAP) e o Cidadania celebram os 40 anos da redemocratização brasileira, no dia 15 de março, na mesma data em que o então vice-presidente José Sarney tomou posse em 1985, encerrando, assim, 20 anos de ditadura no Brasil. O evento será, das 9h às 17h, no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília.

Essa comemoração histórica terá como homenageado o principal condutor dessa transição pacífica, do autoritarismo imposto pelo Golpe Militar de 1964 para a nova era da democracia brasileira: José Sarney, que acabou efetivado presidente do Brasil, após a morte de Tancredo Neves.

A reconciliação nacional garantida a partir do governo Sarney, com a convocação da Assembleia Nacional Constituinte, que deu origem à Carta Magna de 1988, que ficou conhecida como a “Constituição Cidadã”, assegurou a retomada das eleições diretas para todos os cargos eletivos no país e pavimentou o caminho para novas conquistas, como a estabilidade econômica. Não foi possível, no entanto, saldar todas as dívidas com a população brasileira, que precisa ainda se preparar para os desafios que despontam no horizonte da Nação.

Daí terem sido organizadas três mesas de debates com convidados especiais, para não só ressaltar as conquistas consolidadas, mas também identificar dúvidas e dívidas que ainda turvam o horizonte da sociedade brasileira.

9h - ABERTURA

  • Com as boas-vindas do Diretor-Geral da Fundação Astrojildo Pereira, Marcelo Aguiar, do Presidente Nacional do Cidadania, Comte Bittencourt, e da deputada federal Anny Ortiz (Cidadania-RS)
  • Exibição do Filme – ‘Os 40 anos da redemocratização brasileira pelas lentes do mestre Orlando Brito’
  • Homenagem ao presidente José Sarney, sob cuja orientação o país encerrou o regime autoritário e abraçou a democracia, a a constituintes que ajudaram a escrever essa página gloriosa da história brasileira: Miro Teixeira, Moema Santiago, Nelson Jobim e Roberto Freire.

9h30 - MESA I – Democracia 40 anos: As conquistas consolidadas

Mediador:

  • Milton Seligman

Convidados:

  • José Sarney: O condutor da reconciliação do Brasil com a democracia
  • Nelson Jobim: A nova Constituição e os avanços da democracia
  • Rubens Ricupero: A derrota da hiperinflação
  • Julio María Sanguinetti:  As vicissitudes da democracia na América do Sul
  • Vídeo/ Michelle Bachelet

11h - MESA II – Democracia 40 anos: Dúvidas e dívidas do presente

    Mediador: a confirmar      

  Convidados:

  • Cristovam Buarque: Os deserdados da democracia
  • Carmem Lúcia: O lugar da mulher na democracia brasileira
  • Mark Lilla: Os dilemas da democracia contemporânea
  • Maria Corina Machado (Vídeo): A ditadura venezuelana e suas consequências na América do Sul

14:30 - MESA III – Democracia 40 anos: Os desafios do futuro

     Mediador:      (a confirmar)      

Convidados:

  • Raul Jungman: O papel das Forças Armadas na manutenção da democracia
  • Marco Marrafon: Novos totalitarismos na era digital e os desafios na defesa das liberdades e da democracia
  • Dora Lúcia Bertúlio: Os caminhos da igualdade de gênero e racial
  • Joênia Wapichana: A conta da crise climática
  • Alberto Aggio:  40  anos do regime democrático

Interface gráfica do usuárioDescrição gerada automaticamente com confiança média16h30 - ENCERRAMENTO

Diretor-Geral da Fundação Astrojildo Pereira, Marcelo Aguiar, e o presidente nacional do Cidadania, Comte Bittencourt, encerram o evento.


Benito Salomão: Taxa de câmbio, uma breve interpretação

O Câmbio é uma ferramenta criada por Deus para humilhar os economistas

Benito Salomão, professor de macroeconomia do Instituto de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia e conselheiro da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), vinculada ao Cidadania 23

A citação acima, muito repetida entre os economistas, é atribuída a Allan Greenspan, importante economista estadunidense do Século XX e um dos mais longevos presidentes do Federal Reserve (FED). Ela se encaixa perfeitamente no contexto atual da economia brasileira de intensa volatilidade na taxa de câmbio. No dia 28 de novembro de 2024, a cotação da moeda americana passou, pela primeira vez desde a adoção do Regime de Câmbio Flutuante (RCF), em janeiro de 1999, a casa dos R$ 6. As semanas que se seguiram àquela marca histórica foram bastante turbulentas, com o preço do dólar escalando tanto nos mercados à vista, quanto nos futuros, exigindo duras intervenções do Banco Central para estabilizar a volatilidade da moeda.

Naquele momento, inúmeras opiniões projetavam um cenário apocalíptico em que a cotação do dólar chegaria à casa dos R$ 7, e a inflação sairia do controle da política monetária. Existe uma ampla literatura que demonstra empiricamente que depreciações da taxa de câmbio tendem a ser repassadas para a inflação doméstica, um fenômeno conhecido como efeito pass-through. O canal de transmissão pelo qual a taxa de câmbio afeta os preços doméstico são as importações que se tornam mais caras em moeda local. De forma que a deterioração das previsões inflacionárias diante do quadro cambial observado em dezembro não era de toda irrealista.

Porém, como o câmbio é uma variável difícil de prever na prática, não foi isso o que se viu. Nas semanas que sucederam a virada do ano, a moeda americana depreciou rapidamente e retornou ao patamar dos R$ 5,90. As expectativas de dólar a R$ 7, pelo menos a curto prazo, foram frustradas. Com isso, uma questão que se coloca é: Qual o impacto daquele movimento do dólar observado em dezembro sobre a inflação doméstica?

As expectativas de inflação para 2025 continuam se deteriorando. O Boletim Focus, que organiza as previsões do mercado financeiro em medianas, prevê IPCA em dezembro rodando em torno de 5,5%. Isso significa estourar, em muito, o teto da meta que a política monetária deve perseguir. Muito possivelmente, nessas previsões de inflação, há uma forte influência da depreciação cambial vista em dezembro, cuja trajetória já se encontra em fase de reversão.

A taxa de câmbio é uma variável macroeconômica muito difícil de prever, principalmente no curto prazo, devido ao fato de sua cotação absorver novas informações e mudanças nas expectativas dos agentes econômicos dentro e fora do país. De forma que é muito difícil saber a priori se o dólar seguirá o movimento iniciado em janeiro, ou retornará para o contexto vivido em dezembro. No longo prazo, a dinâmica do câmbio deve refletir os fundamentos macroeconômicos do país. Olhando para essas questões fundamentais, não há nada que explique uma taxa de câmbio superior a R$ 6.

Portanto, há espaço para o real se apreciar um pouco mais frente ao dólar. É improvável dizer que o choque cambial de dezembro terá grandes repercussões na inflação, isso porque o choque foi revertido nas semanas seguintes e boa parte dos seus impactos podem se dissipar rapidamente. Ainda assim, as expectativas de inflação continuam se deteriorando. Uma outra questão que se coloca é o quão confiável são essas previsões, que têm falhado sistematicamente em antecipar o comportamento de agregados macroeconômicos.

Há um pessimismo demasiado sobre a economia brasileira que não encontra, até o presente momento, respaldo nos dados. É preciso filtrar esses ruídos de curto prazo do que são mudanças de fundamentos na economia. Se o câmbio realmente retornar à casa dos R$5,50 observado em boa parte do ano passado, há um amplo espaço para derrubar a inflação a médio prazo no país.