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Justiça quebra sigilos bancário e fiscal de Carlos Bolsonaro

Ministério Público investiga contratação de funcionários fantasmas e esquema de "rachadinha" no gabinete do vereador carioca

DW Brasil

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro autorizou a quebra dos sigilos bancário e fiscal do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), no âmbito de uma investigação que apura a contratação de funcionários fantasmas no gabinete do parlamentar carioca.

Atendendo a um pedido do Ministério Público do Rio, a quebra foi autorizada pela 1ª Vara Especializada de Combate ao Crime Organizado do TJ-RJ em 24 de maio, mas a decisão foi revelada somente nesta terça-feira (31/08) por veículos da imprensa brasileira.

Segundo o portal G1, outras 26 pessoas e sete empresas também tiveram os sigilos quebrados.

Filho do presidente Jair Bolsonaro e vereador da capital fluminense desde 2001, Carlos é investigado desde julho de 2019 pelo MP do Rio de Janeiro. Agora, pela primeira vez a entidade levanta a possibilidade de um esquema de "rachadinha" no gabinete do vereador.

A rachadinha é um esquema ilegal de desvio de parte do salário de assessores parlamentares e é considerado crime de peculato.

O MP afirma ter indícios de que vários assessores nomeados no gabinete de Carlos ao longo desses 20 anos não cumpriam expediente na casa e podem ser considerados funcionários fantasmas. Segundo o regulamento da Câmara de Vereadores do Rio, assessores de parlamentares precisam cumprir uma jornada de trabalho de 40 horas semanais.

Agora, a quebra de sigilo foi pedida pelo Ministério Público para apurar se a contratação desses funcionários foi usada ou não como meio para desviar parte de seus salários.

Grandes quantias de dinheiro vivo

Os promotores apontaram que Carlos manteve em sua posse e usou grandes quantidades de dinheiro em espécie durante seus seis mandatos na Câmara de Vereadores do Rio. Três episódios ocorridos ao longo desse período foram mencionados pelo MP.

Em 2003, o filho do presidente pagou 150 mil reais em dinheiro vivo na compra de um apartamento no bairro da Tijuca, no Rio. Em 2009, ele desembolsou 15.500 reais, também em espécie, para cobrir um prejuízo na bolsa de valores. Já em 2020, ao se candidatar à reeleição, Carlos declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) possuir 20 mil reais em dinheiro vivo em casa.

Ao pedir a quebra dos sigilos bancário e fiscal, o MP também citou um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que apontou duas operações financeiras suspeitas envolvendo o vereador, sendo uma delas de 1,7 milhão de reais, feita pela mãe dele, Rogéria Nantes Bolsonaro, entre 2007 e 2019.

O que diz a defesa

Em nota, a defesa de Carlos disse que "a aquisição do imóvel localizado na Tijuca já foi objeto de análise pelo MP e foi arquivado em 2005, após análise das informações financeiras que demonstravam a compatibilidade com os rendimentos à época".

Os advogados afirmam ainda que "a quantia utilizada em 2009, para pagamento de uma despesa pessoal, é absolutamente compatível com os rendimentos do vereador, assim como os valores devidamente declarados à Justiça Eleitoral no ano de 2020".

Em relação ao relatório do Coaf mencionado pelo MP, a nota diz que "a defesa não teve acesso a tais informações para verificar o seu conteúdo. No entanto, o vereador permanece à disposição para prestar qualquer tipo de esclarecimento as autoridades".

Carlos não é o único da família associado ao esquema de rachadinha. A prática também foi identificada no gabinete de seu irmão mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), enquanto este era deputado estadual pelo Rio de Janeiro. Flávio também é alvo de uma investigação e já foi inclusive denunciado pelo MP.

Fonte: DW Brasil
https://www.dw.com/pt-br/justi%C3%A7a-quebra-sigilos-banc%C3%A1rio-e-fiscal-de-carlos-bolsonaro/a-59046521


Pegasus, a ponta do iceberg da fragilidade no controle de inteligência

Desde 2017, organizações vêm reportando de forma sistemática os abusos na implementação de programas que coletam informações pessoais ou confidenciais de forma ilícita —no Brasil, o debate sobre os chamados ‘spyware’ está só começando

Louise Marie Hurel, Pedro Augusto P. Francisco e Daisy Teles / El País

O desenvolvimento de novas tecnologias de informação e comunicação tem sido acompanhado pela consolidação de uma infraestrutura de vigilância global. A revelação de que mais de 180 jornalistas estavam na mira do software de espionagem cibernética Pegasus é mais um alerta preocupante dos riscos crescentes que a utilização dessas tecnologias por governos apresenta para ativistas, organizações da sociedade civil e profissionais de imprensa.

O debate sobre os chamados spyware —programas que coletam informações pessoais ou confidenciais de usuários de computadores e celulares de forma ilícita— no Brasil aponta para uma discussão maior sobre compra e utilização de tecnologias pelo Estado. Há linhas tênues entre a atuação de órgãos na parte de inteligência operacional e estratégica, e mecanismos de controle das atividades de inteligência e compras de tecnologias ainda são frágeis. Para essa tarefa, o nosso sistema de freios e contrapesos é fundamental.


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Conhecido por seu grau de sofisticação, seu alto preço no mercado e sua oferta exclusiva para agências de governos, o Pegasus não surgiu agora: desde 2017, organizações da sociedade civil e academia já vêm reportando de forma sistemática os abusos na implementação de spyware em diferentes países. O software, fornecido pela empresa israelense NSO Group, ficou internacionalmente conhecido por ter sido utilizado em casos como o do jornalista saudita Jamaal Kashoggi, assassinado em 2018.

Tratar o Pegasus como um caso isolado é perigoso. Apesar de ser uma tecnologia altamente seletiva e intrusiva, não é a primeira a ser utilizada para espionar grupos e Estados. Faz-se necessário olhar para aquelas que já estão sendo utilizadas e integram as práticas de vigilância, investigação criminal e inteligência. Essas outras tecnologias abrangem desde softwares de reconhecimento facial até as chamadas tecnologias de uso dual (que podem trazer benefícios na provisão de serviços bem como facilitar o abuso de direitos) como softwares que filtram conteúdo.

Precedentes
Em 2013, foi revelado um esquema de espionagem de milhares de e-mails e ligações de cidadãos brasileiros por parte do governo norte-americano, algo classificado como extremamente grave e inconstitucional pela então presidente Dilma Rousseff, que também foi grampeada. Contudo, dois anos após essa denúncia, a polícia federal adquiriu “um projeto piloto de três meses” para o uso do software de espionagem RSC Galileo, da empresa italiana Hacking Team. O pacote incluía o software e o treinamento que seria usado pela Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado (DICOR) e a Diretoria de Inteligência Policial (DIP), de acordo com dados da organização Derechos Digitales.

Um exemplo mais recente é o uso do programa Cellebrite Premium para resolução do caso do menino Henry Borel. Pertencente à empresa israelense Cellebrite, especializada em vender ferramentas para perícia eletrônica, o programa consegue desbloquear diversos celulares. Produtos da empresa já foram usados no Brasil anteriormente, como em perícias da Lava Jato através do dispositivo UFED.

Episódios como o da Lava Jato e a resolução do caso do menino Henry mostram como o uso de tecnologias é importante para o processo de resolução e persecução criminal. Há nesses casos, contudo, um processo legal corrente que justifica a utilização de ferramentas de perícia eletrônica para acessar provas; o grande alerta que o Pegasus acende é que essas tecnologias, apesar de seletivas, aumentam a capacidade de vigilância sem supervisão sobre o processo e escopo de implementação.

O Caso Pegasus no Brasil
Essa ambiguidade também se apresenta em processos de aquisição de tecnologias para atividades de inteligência operacional e persecução criminal. Também ficou evidente no pregão do Ministério da Justiça e Segurança Pública para aquisição de “solução de inteligência em fontes abertas, mídias sociais, Deep e Dark Web” para a Secretaria de Operações Integradas (SEOPI).

O pregão virou notícia devido à oferta do NSO Group, do software Pegasus, por meio de um revendedor brasileiro, no valor de 60,9 milhões de reais. No entanto, após o escândalo nas redes, a empresa brasileira responsável por comercializar o Pegasus se retirou do processo licitatório e as demais soluções e empresas integrantes do processo receberam pouca atenção.

Também causou estranhamento o fato de o edital não ter incluído nas tratativas os órgãos oficiais de investigação, como GSI e Abin, que seriam diretamente beneficiados pela ferramenta contratada. A licitação, no valor de 25,4 milhões de reais, foi questionada judicialmente pela vagueza e amplitude de seu objeto, que permitiria a aquisição de recursos voltados ao controle indevido da população e a violação de garantias fundamentais.

O Termo de Referência do edital, quando analisado com cautela, indica que a solução teria potencial de coletar um grande número de informações sobre as pessoas, inclusive oriundas de redes sociais. Não se trata, portanto, de mera automação ou aprimoramento da coleta de informações disponíveis em fontes abertas, mas a exploração e coleta massiva de dados, a fim de instituir um amplo e generalizado monitoramento sem que seja necessária decisão judicial. Em resumo, o uso do sistema dependeria tão somente do senso ético de quem o opera.

Diante de tamanha ameaça, cinco organizações da sociedade civil - Instituto Igarapé, Conectas, Instituto Sou da Paz, Rede Liberdade e Transparência Internacional Brasil - se mobilizaram para apresentar uma representação ao TCU contra o pregão e aguardam a decisão do ministro Bruno Dantas. Ele poderá revogar o procedimento licitatório e evitar que as violações elencadas se concretizem.

O que o caso do Ministério da Justiça e Segurança Pública nos mostra é que ainda temos uma grande abertura para que aquisições de tecnologias altamente intrusivas como spyware passem “desapercebidas”. O edital previa solução de Inteligência em Fontes Abertas (OSINT) mas essa foi a abertura necessária para a oferta do Pegasus - que utilizou da brecha no edital para ofertar uma solução que utiliza código malicioso na medida que utiliza vulnerabilidades em dispositivos e sistemas para garantir a efetividade de uma mirada direcionada a dissidentes e opositores de governos.

O Pegasus é um caso evidente de uma tecnologia que contém funcionalidades que são claramente utilizadas para infringir direitos humanos em diversos países. Mas, na grande maioria, o chamado spyware não é tão detectável e se ‘mistura’ com outras tecnologias dependendo da solução tecnológica. OSINT, por exemplo, é um recurso altamente utilizado por jornalistas investigativos e pesquisadores que trabalham com desinformação para auxiliar na identificação e validação de fontes, imagens, áudios e entre outras informações. No entanto, OSINT também é utilizada por agências de inteligência. Definir o que é um código malicioso tampouco é sempre um processo objetivo e fácil, o que não significa que não seja necessário que governos tomem uma atitude para garantir maior transparência e responsabilização sobre o uso dessas tecnologias tanto pelo setor público quanto pelo privado.

O caminho à frente
No âmbito das atividades ligadas à segurança nacional, é preciso reforçar as ações de controle interno e externo. O primeiro é exercido pelo Poder Executivo Federal, uma vez que é o responsável direto pelas atividades de inteligência. Este deve garantir que o GSI e a ABIN operem dentro dos princípios democráticos da Constituição. O Poder Legislativo, por sua vez, tem que assumir sua prerrogativa no exercício do controle externo às instituições de inteligência. No caso, o espaço no qual essas questões precisam ser levantadas e debatidas é a Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI). Integrada por membros do Senado e da Câmara dos Deputados, ela é responsável pela fiscalização e controle dessas atividades.

Além disso, há a necessidade de se discutir um arcabouço legal que regulamente de maneira mais específica os procedimentos para aquisição e emprego de tecnologias de monitoramento e estabeleça princípios norteadores das atividades de inteligência. A União Europeia, por exemplo, lançou em 18 de julho de 2021 uma atualização de seu Regulamento de Tecnologias de Uso Dual (2009), que inclui controles de exportação e aquisição para tecnologias de vigilância cibernética (cyber surveillance). O documento também reconhece o risco que essas tecnologias apresentam para repressão de grupos e violações de direitos humanos.

Por fim, quando se fala na inteligência necessária para as atividades de segurança pública, o Ministério Público deve assumir seu papel de fiscalizador e o Poder Judiciário deve salvaguardar os direitos fundamentais dos cidadãos, garantindo que ações nocivas sejam suspensas ou revogadas.

Se por um lado sabemos que o sigilo é característica inerente às atividades de inteligência, por outro é consenso que democracias precisam de transparência para garantir o seu pleno funcionamento. O equilíbrio entre esses dois aspectos só será possível por meio do controle institucional e da prestação de contas à sociedade.

Louise Marie Hurel, Pedro Augusto P. Francisco, Maria Eduarda de Assis e Daisy Teles são pesquisadores do Instituto Igarapé.


Fonte:
El País
https://brasil.elpais.com/opiniao/2021-08-02/pegasus-a-ponta-do-iceberg-da-fragilidade-no-controle-de-atividades-de-inteligencia-e-uso-de-tecnologias-de-vigilancia.html


Ricardo Noblat: Carlos Bolsonaro, o Zero Dois, pinta o pai outra vez para a guerra

Basta de intermediário! Por que não o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), o Zero Dois do presidente Jair Bolsonaro, para Secretário de Comunicação Social do governo do pai?

Licenciar-se do mandato não lhe faria tão mal assim. Ele é vereador desde que se elegeu pela primeira vez, com 17 anos, e Bolsonaro o levou pela mão para que tomasse posse.

É difícil que outro filho de Bolsonaro demonstre tanto amor por ele quanto Carlos. Só Carlos concordou em disputar um mandato de vereador para derrotar a própria mãe, também candidata.

Às vezes, temperamental como é, Carlos some do radar do pai e se nega a atender seus telefonemas. É quando Bolsonaro fica mais desesperado e se rende a todas as suas vontades.

Mas logo os dois fazem as pazes, e Carlos volta a grudar no pai, principalmente quando ele precisa de ajuda. Como agora, alvo de uma CPI e com a popularidade em queda.

Carlos é o responsável pela mudança de tom do discurso de Bolsonaro de poucos dias para cá. Convenceu-o a radicalizar outra vez para manter unida sua tropa de apoio.

Por isso, Bolsonaro voltou a bater na China, indiretamente no Supremo Tribunal Federal, e ameaçar com uma crise institucional. Conversa mole para enganar bolsonaristas, mas funciona.

Bom filho, bom pai, que, ontem, o citou em público:

“Na minha eleição, meu marqueteiro não ganhou milhões de dólares fora do Brasil. Ele é um simples vereador, o Carlos Bolsonaro. Há ainda o Tércio Arnaud e o Mateus Sales. São pessoas perseguidas, como se tivessem inventado um gabinete do ódio.”

O gabinete do ódio eles inventaram, sim. Serve para defender Bolsonaro, infernizar a vida dos seus adversários e distribuir notícias falsas nas redes sociais.

A expressão “gabinete do ódio” não é da autoria deles, mas do jornal O Estado de São Paulo, que a usou pela primeira vez. Sempre que Carlos é convocado pelo pai, é hora de relâmpagos e trovoadas.

Fonte:

Blog do Noblat/Metrópoles

https://www.metropoles.com/blog-do-noblat/ricardo-noblat/carlos-bolsonaro-o-zero-dois-pinta-o-pai-outra-vez-para-a-guerra


Ascânio Seleme: Nova sugestão contra o vírus

O melhor caminho é a imprensa parar de cobrir a atividade dos três zeros de Bolsonaro

No dia 7 de maio do ano passado, uma quinta-feira como hoje, publiquei nesta página um artigo dando três sugestões para combater o bolsovírus, praga mais infectante e perigosa que o corona. Uma delas era parar de cobrir os faniquitos do presidente na porta do Palácio da Alvorada. Ali, diante daquele grupelho de apoiadores cegos que se reúnem para babar seus ovos, Bolsonaro dá vazão aos seus instintos, com mentiras aos quilos, grosserias aos montes e, sobretudo, ataques à imprensa. Claro que não foi para atender à minha recomendação, mas muitos veículos deixaram de cobrir aquela triste rotina, e apenas os mais mansos e amigos seguem dando microfone para as asneiras matinais ou vespertinas de Bolsonaro.

Esta semana, a ONG Repórteres Sem Fronteiras divulgou o número de ataques que jornalistas brasileiros sofreram em 2020, e não deu outra. Os Bolsonaros lideram com folga o ranking nacional. Os dados são estarrecedores para um país que se quer democrático. Das 580 ofensas contra jornalistas contabilizadas pela ONG, 85% (469) foram proferidas pelo presidente da República e seus três zeros. O mais ignóbil é o golpista (um cabo e um soldado bastam para fechar o Congresso) Eduardo, com 208 impropérios. O mais leve é o Flávio das rachadinhas, autor de 69 agressões. De Carlos, chefe do gabinete do ódio, partiram 89 ataques.

Da boca de Jair, saíram 103 ofensas a jornalistas. Um absurdo se analisado de qualquer ponto de vista. Os ataques dessa gangue se devem ao fato de seus membros não suportarem críticas. Julgam que podem fazer ou dizer o que bem entenderem e que ninguém tem o direito de lhes contestar. Eles carregam em seu organismo o germe do autoritarismo e da intolerância, por isso a avalanche de barbaridades que pronunciam sistematicamente contra jornais e jornalistas, na média de 1,28 a cada dia.

Todo mundo sabe que atacar jornalistas é igual a combater o mensageiro. O problema não é quem traz a notícia, mas quem a produz. No Brasil, quem fabrica as notícias negativas que incomodam a família presidencial é o próprio chefe do clã ou o seu governo. Não foram jornalistas que encaminharam à Câmara 62 pedidos de impeachment do presidente. Em média, o imóvel Rodrigo Maia recebeu um pedido de afastamento de Bolsonaro a cada 12 dias. Trata-se de um recorde que merecia entrar para o Guinness. Esta semana, 380 líderes religiosos cumpriram o ritual. Eles querem o afastamento do presidente por suas ações e omissões durante a pandemia.

Enquanto isso, o capitão e seus filhos agridem jornalistas com suas costumeiras baixarias. O que se deve fazer diante desse descalabro? O melhor caminho é a imprensa parar de cobrir a atividade dos três zeros. Eles importam pouco. Claro que são mais do que filhos do homem, são parlamentares. Mas conte nos dedos quantos deputados e senadores merecem a atenção dos jornalistas. Alguém já ouviu falar do deputado Júnior Marreca Filho (Patriotas-MA) ou do senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR)? Pois é. Sugiro dar aos zerinhos a mesma atenção dedicada a Mecias (com c mesmo) e a Marreca.

A história sempre foi boa conselheira. Vejam o espaço que a imprensa deu aos filhos de presidentes no passado, fora os escândalos que são de cobertura obrigatória. Os filhos de Sarney, Roseana e Zequinha, eram parlamentares e só foram notícia por esporádicas ações políticas, todas legais, ou por denúncias. Não se metiam no governo do pai, embora se projetassem com seu sobrenome. Os filhos de Fernando Henrique também não eram protagonistas e não tinham mandatos eletivos. Os de Lula, da mesma forma, não davam pitaco e só apareceram em escândalos. A única filha de Dilma sempre se manteve discretamente afastada. A filha de Temer só virou notícia por causa de uma denúncia, e Michelzinho era um menino quando o pai governou.

Impossível impedir que os bozinhos continuem atacando jornalistas nas suas redes. Mas seria inteligente se os jornalistas de verdade não lhes dessem eco.


Gil Alessi: Do ‘01’ ao ‘04’, Bolsonaro entra na mira do STF por suspeita de blindar seus filhos com a máquina pública

Suspeita de que a Abin produziu relatórios para ajudar a defesa de Flávio Bolsonaro se soma à lista que inclui troca no comando da PF, influência nas eleições do MP do Rio e outras manobras

O presidente Jair Bolsonaro sempre disse ser um “defensor da família”. Com quase dois anos à frente do Governo, transparece a preocupação do mandatário em proteger pelo menos uma delas: a sua própria. A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, determinou nesta sexta-feira que a Procuradoria-Geral da República investigue a suposta produção de relatórios pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) com o objetivo de auxiliar a defesa do senador Flávio Bolsonaro, o filho 01 do presidente. O parlamentar é investigado ao lado do seu ex-assessor Fabrício Queiroz por ter supostamente organizado um esquema de rachadinha em seu gabinete à época em que era deputado estadual pelo Rio.

Esta “Abin paralela”, como vem sendo chamada, teria municiado a advogada de Flávio, Luciana Pires, com material a ser usado no caso, segundo reportagem da revista Época. De acordo com a defensora, as orientações teriam vindo diretamente de Alexandre Ramagem, diretor-geral da Abin e homem de confiança de Bolsonaro. Um dos relatórios deixa claro seu objetivo: “Defender FB [Flávio Bolsonaro] no caso Alerj [Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro] demonstrando a nulidade processual resultante de acessos imotivados aos dados fiscais de FB”. A própria Luciana Pires confirma ter recebido o relatório, segundo a reportagem, uma afirmação que contradiz o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e a própria Abin, que negaram a produção de material para ajudar o senador. Ramagem confirmou, no entanto, ter participado de reunião com a defesa do parlamentar na qual estiveram presentes o presidente e Heleno. Em nota, a Agência e o GSI afirmam que o encontro foi “completamente regular”.

A repercussão do suposto relatório da Abin incendiou a oposição, que já se articula para protocolar mais um pedido de impeachment do presidente, como afirmou nas redes sociais a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann. O Governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), fez coro à petista: “Caso confirmado, o uso da Abin para interesses exclusivamente pessoais de Bolsonaro não é apenas crime de responsabilidade, sujeito a impeachment. É também crime comum e ato de improbidade administrativa”. Por sua vez, o PSB e a Rede pediram a saída de Ramagem do cargo. No momento, a bola está com o procurador-geral, Augusto Aras, que terá que investigar o caso e prestar contas ao STF sobre suas descobertas.

Caso fique provado que a Abin agiu para ajudar Flávio, será escrito mais um capítulo em uma história de episódios nos quais a atuação do presidente parece borrar a linha que separa os negócios privados do clã e a máquina pública. Do mais velho, o “01”, como Flávio é conhecido, até o “04”, referência a Renan, 22, o mais novo de seus quatro filhos homens, toda a prole de Bolsonaro (com exceção da caçula, Laura) foi afetada por ações do pai. Como o próprio presidente disse: “Pretendo beneficiar filho meu sim, pretendo, se puder dar um filé mignon para o meu filho, eu dou”. Veja as acusações de interferência do mandatário em órgãos públicos para ajudar a família:

A Justiça investiga Flávio, o “01”, e Carlos, o “02”

O suposto envolvimento da Abin para ajudar a defesa de Flávio é apenas o último movimento de um xadrez político que levou o presidente tomar medidas enérgicas para tentar aliviar a pressão sobre o senador e seu irmão, o vereador Carlos Bolsonaro, o filho “02”, que também entrou na mira das autoridades.

Sobre Carlos, pesam várias suspeitas. Uma delas é de peculato, ao empregar em seu gabinete funcionários fantasma. A mais rumorosa, no entanto, é a de que ele poderia ser o articulador de um esquema criminoso de disseminação de fake news. Um inquérito, com investigação da Polícia Federal, corre atualmente no Supremo. Nele, o “02″ é aparece como suspeito de ser líder do chamado “gabinete do ódio”, um grupo de assessores que se encarregam de espalhar mentiras sobre ministros do STF e apoiar manifestações antidemocráticas nas redes sociais e em grupos de apoiadores do presidente, pedindo o fechamento do Congresso e do STF.

Nos últimos meses, a PF desencadeou uma série de operações de busca e apreensão relacionadas a este caso, levando à prisão, inclusive, de influenciadores bolsonaristas. Foi o caso, na própria sexta-feira, do blogueiro Oswaldo Eustáquio. Ele estava em prisão domiciliar, mas descumpriu as restrições definidas pelo STF para ir participar de uma reunião no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, da ministra Damares Alves. A tornozeleira eletrônica denunciou seu deslocamento e ele foi recolhido por determinação do ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito.

Com os dois filhos mais velhos na mira de investigações, o clã presidencial passou para o ataque. O primeiro passo foi articular a troca no comando da Polícia Federal em abril deste ano, com a exoneração do diretor-geral da entidade, o delegado Maurício Valeixo —visto pela mandatário como muito independente. O então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, denunciou a orquestração: em seu discurso de renúncia, ele acusou o presidente de tentar influenciar politicamente a PF. “O presidente me disse, mais de uma vez, que ele queria ter uma pessoa do contato dele que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informações, colher relatórios de inteligência”, afirmou.

Posteriormente, o ministro demissionário apresentou à TV Globo uma troca de mensagens entre ele e o presidente na qual o mandatário teria sugerido a saída de Valeixo para proteger aliados. Posteriormente vieram à tona imagens de uma reunião ministerial na qual Bolsonaro diz que não esperaria alguém “foder” a família dele, ou amigo, para trocar alguém da “segurança”. A fala do mandatário também fazia referências ao Rio de Janeiro, onde as investigações se aproximam de Flávio e Carlos.

A suposta influência do presidente na chefia da PF para proteger aliados —dentre eles seus filhos— deu origem a um outro inquérito que tramita atualmente no STF para apurar se houve irregularidade. Não há prazo para sua conclusão, e o presidente ainda não foi ouvido.

Em outra frente para tentar blindar Flávio e Carlos, o clã entrou nas eleições para a chefia do Ministério Público do Rio, Estado onde correm investigações contra ambos. O atual procurador-geral, Eduardo Gussem, foi criticado pelo “01” por sua atuação no caso da rachadinha no gabinete. Os Bolsonaro cerraram fileiras em torno do procurador Marcelo Rocha Monteiro, bolsonarista assumido, como uma opção para a lista tríplice, definida em dezembro, de onde é escolhido o nome do próximo procurador-geral de Justiça do Estado. No final, Monteiro foi o quarto mais votado pelos promotores. Agora cabe ao governador interino Cláudio Castro optar por manter a tradição e indicar para a chefia um integrante da lista, ou fazer um aceno ao presidente nomeando o candidato da família para o cargo ―uma opção caso algum dos três integrantes da lista tríplice desista da candidatura.

Publicamente, o presidente alega que estes órgãos estão agindo para prejudicar seus filhos em uma tentativa de atingi-lo —ele chegou até a dizer que se tratava de perseguição política do então governador Wilson Witzel. Agora alvo de processo de impeachment, Witzel buscava se cacifar para disputar o Planalto em 2022, o que justificaria, segundo Bolsonaro, as tentativas de desmoralizar sua família.

Uma embaixada para Eduardo, o “03”

Em julho de 2019 o presidente fez um de seus mais ousados movimentos com o objetivo de colocar nas mãos da família um importante cargo público. Jair afirmou que iria indicar o deputado federal Eduardo Bolsonaro, o “03”, para a vaga de embaixador do Brasil em Washington, uma das mais cobiçadas e prestigiadas representações do país no exterior, tradicionalmente reservada para diplomatas de carreira que se destacam no exercício da função. “Vou nomear, sim. E quem disser que não vai mais votar em mim, lamento”, chegou a afirmar o presidente ao ser questionado sobre a medida. “Eu quero uma pessoa de confiança minha na embaixada dos EUA (...) Vocês acham que eu colocaria um filho meu em um posto de destaque desse para pagar vexame?”, indagou.

A indicação logo começou a fazer água. Sob acusações de nepotismo, parlamentares de oposição e mesmo alguns aliados do presidente começaram a boicotar a nomeação de Eduardo, alegando que ele não seria aprovado na sabatina a que teria que se submeter no Senado antes de ser empossado. A reação da população também desencorajou o Planalto a manter o nome do deputado para a vaga, com 62,8% dos brasileiros se opondo à ascensão do filho do presidente para o novo emprego, segundo uma pesquisa da consultoria Atlas Político. No final de outubro, pouco mais de um mês após o início das articulações em prol do “03” em Washington, o próprio Eduardo tomou a palavra da tribuna da Câmara e anunciou a desistência, alegando que precisava ficar no Brasil para ajudar a manter viva a onda conservadora que o elegeu.

O empreendedorismo de Renan, o “04”

Os negócios do filho caçula se misturaram recentemente com os do Governo, em ações que suscitaram críticas por possível tráfico de influência do presidente. A primeira sinalização de que Renan estava entrando no jogo político político com suacompanhia startup ocorreu em 13 de novembro, quando o caçula articulou e participou de uma reunião entre o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, e um grupo de empresários da Gramazini Granitos e Mármores —companhia que patrocina a Bolsonaro Jr. Eventos e Mídia, fundada pelo caçula e cuja sede fica em um camarote do estádio Mané Garrincha. O compromisso não constava na agenda oficial do ministro e foi revelado pela revista Veja. A Gramazini apresentou a Marinho durante o encontro um projeto de moradias populares feitas em pedra. A pasta informou que Renan “participou na qualidade de ouvinte e por acreditar que o sistema construtivo teria potencial de reduzir custos para a União”, e que a reunião foi um pedido do Planalto.

Mas as relações da empresa de Renan com o Planalto vão além de promover reuniões entre os investidores de seu negócio e ministros. A Astronautas Filmes, produtora de audiovisual que possui contrato milionário com o Governo —tendo feito vídeos para os ministérios da Saúde, Educação e Turismo— realizou gratuitamente a cobertura da festa de inauguração da Bolsonaro Jr. Eventos e Mídia, segundo reportagem do jornal Folha de S.Paulo. O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) solicitou à Procuradoria da República que investigue suposto tráfico de influência no caso.

Em nota, a Astronautas Filmes afirma que “a chamada ‘parceria’ com Renan Bolsonaro foi restrita à produção de um único vídeo de lançamento para um projeto social, que tinha como público-alvo empresários da cidade de Brasília. Ressalte-se, a convite dos organizadores do evento. Por se tratar de um público de interesse, optamos por inserir a marca da produtora na comunicação do evento em contrapartida ao produto entregue”. Eles também alegam que não existe nenhum “laço de favorecimento”.


Ricardo Noblat: Tal pai, tal filho. Ou a arte dos Bolsonaros de negar o inegável

Quem puxa a quem

Como Jair Bolsonaro veio primeiro ao mundo e também à política, é de supor que seus três filhos zero tenham aprendido com ele a negar o inegável. Dito de outra maneira: a mentir.

Mas seria injusto não reconhecer que o pai também aprendeu com os filhos, principalmente com o mais ardiloso deles que o guia nas redes sociais – o vereador Carlos Bolsonaro, o Zero Dois.

Ontem pela manhã, Carlos valeu-se de sua conta no Twitter para culpar a “mídia” por mentir ao dizer que o presidente Jair Bolsonaro anunciara o fim da Lava Jato. Ele escreveu:

“Mas segundo as antas e outros bichos a lava-jato não ia acabar? Toda semana o mesmo papo furado e grande parte da imprensa mentindo sem qualquer pudor!”

Referia-se a uma nova operação da Lava Jato. esqueceu, ou fingiu esquecer, que seu pai, no dia 7 de outubro último, em cerimônia no Palácio do Planalto, afirmou:

“É um orgulho, uma satisfação que tenho ao dizer a essa imprensa maravilhosa que não quero acabar com a Lava Jato. Acabei com a Lava Jato porque não tem mais corrupção no governo”.

Se apenas foi irônico, pouco importa. Ele disse. Está gravado. Como gravado está para a posteridade que Bolsonaro também afirmou o que ontem à noite teve a cara de pau de negar.

Na live semanal das quintas-feiras no Facebook, ele negou que alguma vez tenha comparado a pandemia do Covid-19 com “uma gripezinha”. Falou em “gripezinha” em mais de uma ocasião.

Ao contrário do pai, Carlos consegue muitas vezes ser engraçado, irônico e ferino quando ataca seus desafetos, ou desafetos do presidente. Ultimamente, quando bate em João Doria.

“O cara feia com gravata borrada, aquele que não engana ninguém, continua sujando babadores com seus alinhados. Prudência, sofisticação, calça encravada, socialismo e liberdade!”

Ou então quando atira a esmo.

“Qualquer matéria dos blogueiros gargantas profundas começam com um tema Y e terminam com Bolsonaro. A internet revolucionou a informação e o gasto com papel higiênico!”

Mas vai e volta e revela sua obsessão por teorias conspiratórias.

“Ao que tudo indica, os atos preparatórios para uma nova tentativa de assassinato contra o Presidente continuam… até hoje também não sabemos quem mandou matar @jairbolsonaro”.

Vazamento de dados sigilosos prova que o Brasil é uma peneira

Na internet, o histórico médico de Bolsonaro e de 16 milhões de vítimas do coronavírus

Quer ironia mais perversa? O maior vazamento de dados sigilosos na história do Brasil ocorreu durante o governo de um ex-capitão aterrorizado com a hipótese de o país vir a ser espionado pela China caso ela vença a concorrência para fornecer a tecnologia 5G que aumentará a velocidade de acesso à internet.

Ao menos 16 milhões de brasileiros, o equivalente à soma das populações de São Paulo, Brasília e Maceió, com diagnóstico suspeito ou confirmado de Covid-19, tiveram seus dados pessoais e médicos expostos na internet durante quase um mês devido a um vazamento de senhas de sistemas do Ministério da Saúde.

O ex-capitão é fissurado por informações – dos outros, naturalmente. Seu governo é povoado por militares que padecem da mesma fissura. Pois bem: a ficha médica do ex-capitão, a da mulher dele e a do ministro da Saúde, esse um general especialista em logística, estão entre as 16 milhões que se tornaram públicas.

Fora as fichas de outros seis ministros de Estado, as de 16 governadores e as dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, segundo o jornal O Estado de São Paulo. Não ceda à tentação de pensar que a exposição de dados foi causada por ataque de hackers ou por falhas de segurança do sistema.

Os dados foram abertos para consulta após um funcionário do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, divulgar uma lista com usuários e senhas que davam acesso aos bancos de dados de pessoas testadas, diagnosticadas e internadas por covid nos 27 Estados. O hospital tem acesso aos dados do Ministério da Saúde.

Com as senhas, era possível acessar os registros de Covid-19 lançados em dois sistemas: o E-SUS-VE, no qual são notificados casos suspeitos e confirmados da doença com sintomas leves ou moderados, e o Sivep-Gripe, em que são registradas todas as internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave.

Os bancos de dados do ministério trazem, “além das informações pessoais dos pacientes, detalhes considerados confidenciais sobre o histórico clínico, como a existência de doenças ou condições pré-existentes, entre elas diabete, problemas cardíacos, câncer e HIV”. E também a lista de remédios usados durante a hospitalização.

Tais informações, segundo o advogado Juliano Madalena, professor de Direito Digital, ouvido pelo jornal, são ouro puro para “empresas do ramo que queiram criar produtos específicos voltados para determinado público, para empresas de seguro de vida e planos de saúde que poderão usá-las de forma até indevida”.

O Hospital Albert Einstein demitiu seu funcionário responsável pelo vazamento. O Ministério da Saúde disse que vai apurar o caso com rigor. Diplomatas chineses nada comentaram a respeito, mas é razoável supor que tenham achado muita graça. O ex-capitão presidente quer se alinhar aos Estados Unidos contra o 5G chinês.

Em 7 de julho de 2013, o jornal O GLOBO publicou extensa reportagem com a denúncia de que a Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) espionara “nas últimas décadas cidadãos e empresas brasileiras”. Telefonemas e e-mails “foram rastreados por meio de programas utilizados pela agência”.

O Brasil aparecia com destaque em mapas da NSA “como alvo importante no tráfego de telefonia e dados ao lado de países como a China, Rússia, Irã e Paquistão”. Em Brasília, pelo menos até 2002, funcionou uma das 16 bases de espionagem “nas quais agentes da NSA trabalhavam em conjunto com agentes da CIA”.

Para escutar conversas por aqui e bisbilhotar o que se escreve em computadores, o governo americano não depende da incúria de um funcionário de hospital, nem de sistemas de dados desprotegidos. Dispõe de satélites que capturam tudo o que lhe interessa. O 5G, para ele, é apenas um negócio que quer ganhar.


O Globo: Quem são os jovens recrutados por Carlos Bolsonaro para erguer o aparelho digital do governo

O presidente Jair Bolsonaro sempre creditou o triunfo de sua vitória eleitoral em 2018 à estratégia digital traçada pelo filho “02”, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), nas mídias sociais.

A estrutura que impulsionou um deputado restrito a nichos ao Palácio do Planalto começou a ser montada com a contratação de alguns jovens na casa dos 20 anos, criadores de páginas de paródias e personagens políticos no Facebook — hoje, integrantes do que ex-aliados do governo Bolsonaro classificam como “gabinete de ódio”, o núcleo instalado no Palácio do Planalto que se dedica a atacar adversários nas redes. O recrutamento foi definitivamente selado numa reunião do clã Bolsonaro com alguns desses jovens, no salão de festas do primogênito e hoje senador Flávio, em 11 de março de 2017 — mais de um ano e meio antes da eleição.

Dos filhos do presidente, Carlos Bolsonaro foi o que descobriu primeiro o potencial das redes sociais para a família. Ele está no Twitter desde agosto de 2009. O GLOBO encontrou publicações de Carlos em uma conta pessoal no Facebook desde 2011. E foi por essa rede social que ele encontrou e recrutou dois dos principais assessores do presidente Jair Bolsonaro, ainda em 2013. 

O primeiro foi José Mateus Sales Gomes. Em 10 de abril de 2013, Carlos publicou: “Tô passando mal de rir com a page ‘Bolsonaro Zuero’”. Natural de Caucaia, na Grande Fortaleza, Mateus tinha 21 anos quando caiu nas graças do vereador. De Campina Grande (PB), chamou a atenção do filho do presidente a página “Bolsonaro Opressor”, criada por Tércio Arnaud Thomaz, outro selecionado por Carlos, mas para assessorar o então deputado Jair Bolsonaro. Seis anos depois, Matheus e Tércio têm assento no terceiro andar do Palácio do Planalto.

Os dois foram os precursores de vários outros que Carlos foi descobrindo e trazendo para junto do clã. Agora, na Presidência, também está Mateus Matos Diniz, engenheiro formado há dois anos, ex-aluno de Olavo de Carvalho e a quem Carlos conheceu em 2017.

Religioso, Mateus defende a castidade. Inclusive recomenda em seu Instagram que “todo dia use cinto apertado, para que ele te lembre do seu compromisso”. Também defende que “não existe sexo fora do casamento. O que existe fora é uma tentativa de emular o sexo imitando seus acidentes”.

Bem antes da campanha eleitoral que os levou ao poder central, e à diferença da narrativa de apoio espontâneo nas redes sociais, os Bolsonaros organizaram reuniões com criadores de páginas na internet. O primeiro encontro presencial ocorreu no sábado 11 de março de 2017, no salão de festas do prédio de Flávio, na Barra da Tijuca. O próprio Carlos registrou o momento no Instagram no dia seguinte: “Reunião sábado à noite, com alguns representantes de diversos grupos, com o objetivo de endireitar o Brasil (AM, CE, PE, SP, RJ, MG, PA, PB, PR)”.

Quem esteve na reunião relata que, já pensando na eleição de 2018, a família discutiu a organização da páginas e a criação de grupos no WhatsApp e introduziu a estratégia sobre ataques a adversários. Segundo um dos que participaram da reunião, a produção de memes e ataques era parte da estratégia: obter uma estrutura de comunicação que pudesse ser operada diretamente, de ponta a ponta.Publicação do Carlos Bolsonaro sobre a reunião Publicação do Carlos Bolsonaro sobre a reunião | Reprodução Instagram

O deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ), então vereador de Niterói, também esteve na reunião de 2017. “Se hoje a família Bolsonaro tem grande repercussão, muito se deve a esses dois caras: Bolsonaro Zuero (Matheus) e Carteiro Reaça (Gil Diniz)”, escreveu Jordy, ao legendar foto com os dois. Ele nega ter havido discussões sobre ataques deliberados a rivais e diz que foi só um momento de “aproximar os movimentos da família Bolsonaro”.

Marcou presença ainda Guilherme Julian Freire, amigo de Matheus “Zuero” e agora assessor do deputado Hélio Lopes. O deputado Gil Diniz disse que acompanhou Eduardo Bolsonaro porque, na época, era seu assessor:

—Foi mais para unificar a pauta. No outro ano haveria eleição presidencial, e começamos a organizar esses movimentos. Não lembro de memes ou ataques.Quem são os jovens recrutados por Carlos Bolsonaro para erguer o aparelho digital do governo

Sem respostas

Alex Junqueira, ex-assessor de Gil Diniz, afirma, porém, que, quando conheceu o deputado, o trabalho dele para Eduardo Bolsonaro consistia essencialmente na fabricação de memes para atacar adversários. Diniz ficou conhecido pela página “Carteiro Reaça”.

— Eu o conheci em 2018; ele era assessor do Eduardo. Eu era motorista, o Eduardo ia do lado, e o Gil, atrás. Ele (Gil), nessa época, fazia os memes e depois, quando foi deputado, de outubro até março, o que ele sabia fazer era assassinar a reputação dos outros — afirmou Junqueira, que denunciou Diniz por prática de “rachadinha”, tornando públicas conversas do grupo que Diniz mantinha com assessores nas quais este pede conteúdo para atacar adversários como o governador João Doria.

Diniz afirma que Junqueira também publicava as mensagens que “agora chama de ataques” e se tornou seu adversário político. Procurados, o Palácio do Planalto (questionado sobre a função dos assessores), Flávio, Carlos, Eduardo e Helio não responderam.

Juliana Dal Piva


Merval Pereira: ‘Isso aí acabou’

Deputados procuraram o presidente da Câmara com uma apreensão: acreditavam que estavam sendo gravados

Foi assim que o ministro Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da presidência da República, tranquilizou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, em relação ao temor de alguns deputados de que estariam sendo monitorados pelo governo.

No início do governo Bolsonaro, quando a relação com o Congresso estava em momento crítico, deputados procuraram o presidente da Câmara com uma apreensão: acreditavam que estavam sendo gravados.

Os relatos não foram conjuntos, mas individuais, em diversas circunstâncias, uns consideravam que seus telefonemas estavam sendo grampeados, outros “sentiam” que estavam sendo gravados em suas conversas no Palácio do Planalto.

Eram mais percepções e temores do que fatos concretos que motivassem uma reclamação formal do presidente da Câmara. Até que um deputado com patente militar, ligado à comunidade de tecnologia de segurança de informação, disse a Maia que tinha certeza de que fora grampeado, e deu detalhes técnicos sobre o que poderia ter acontecido ao seu celular Android.

Segundo relatos de deputados, o presidente da Câmara aproveitou uma conversa com o General Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) para abordar o tema delicado. Revelou a preocupação de diversos deputados, e recebeu a resposta tranquilizadora, que foi repassada aos deputados queixosos. O assunto morreu.

A revelação do ex-ministro Gustavo Bebianno de que o filho 02 Carlos Bolsonaro pensara em montar um esquema não oficial paralelo de monitoramento de políticos e jornalistas trouxe o assunto de volta ao noticiário e gerou desdobramentos.

Ontem, a revista Crusoé publicou em sua capa um amplo material sobre o tema, detalhando como o esquema teria sido montado. Não há dúvida de que o atual diretor da Agência Brasileira de Informações (ABIN), delegado Alexandre Ramagem foi quem incialmente discutiu com Carlos e mais três agentes da Polícia Federal a estruturação de uma equipe que seria responsável por essa atividade. Mas não é possível afirmar, (apenas intuir), que ele sabia que o trabalho seria clandestino, embora patrocinado pelo novo grupo que ocupava o Palácio do Planalto.

Há o antecedente histórico do ex-presidente dos Estados Unidos Richard Nixon, político paranóico que procurou se proteger gravando clandestinamente as conversas no Salão Oval e grampeando seus “inimigos”.

Também objetivava impedir que vazamentos de documentos oficiais voltassem a acontecer como no caso dos Pentagon Papers, que revelou atuação ilegal do Departamento de Estado na Guerra do Vietnã. Essa equipe clandestina era conhecida como “plumbers” (bombeiros), e foi descoberta a partir da prisão de um grupo que invadiu a sede do Partido Democrata no prédio Watergate em Washington. A descoberta dos esquemas clandestinos levou à renúncia de Nixon ante a possibilidade de sofrer um impeachment.

O que é certo é que o General Santos Cruz, ex-ministro de Bolsonaro, conversou com o General Heleno sobre o assunto, e também Gustavo Bebianno, o primeiro a revelar formalmente essa tentativa do filho do presidente de montar um serviço de segurança paralelo ao já disponível pela presidência da República.

Houve o aconselhamento ao presidente da República, por parte dos dois ex-ministros, de que seria uma temeridade acobertar tal tipo de atividade, que poderia motivar um impeachment.

O ministro Augusto Heleno mais uma vez ontem negou a veracidade da tentativa de criar-se uma “ABIN paralela”. Mas não se referiu em nenhum momento ao filho do presidente, talvez indiretamente citado na definição de “devaneio de amadores”, como classificou a informação.

De fato, é tecnicamente equivocado chamar-se de “ABIN paralela” uma equipe clandestina de rastreamento de pessoas em posições “sensíveis”, embora seja jornalisticamente oportuno.

Mas as indicações são claras de que esse movimento foi feito. Se o esquema chegou a ser implementado a ponto de os deputados “sentirem” sua presença nas conversas políticas, é um tema para ser investigado mais a fundo.

Pode ser até mesmo que não tenha nem sido instalado, diante das advertências aos “amadores”. Ou, o que seria uma tragédia institucional, pode ser que tal esquema continue em plena vigência. Só uma investigação independente poderá esclarecer a situação.


Bernardo Mello Franco: Uma babá para Carluxo

A última presidente que brigou com o vice não terminou o mandato. Bolsonaro poderia aprender com o exemplo de Dilma, mas prefere os conselhos de Olavo de Carvalho

Não durou 24 horas a trégua de Carluxo, o filho pit bull de Jair Bolsonaro. Na noite de segunda, o Zero Dois sinalizou uma pausa nos ataques a Hamilton Mourão. Na terça, já voltou a tuitar contra o general.

Ontem o vereador tirou mais um dia para torpedear o vice-presidente. De manhã, reclamou de uma palestra que ele fez em Washington. À tarde, ironizou uma declaração sobre a Venezuela. À noite, criticou uma frase sobre a facada sofrida pelo pai. Referiu-se ao general como “o tal de Mourão”.

As queixas de Carluxo sugerem uma tentativa de encontrar pelo em ovo. No caso da palestra, ele culpou o vice por uma carta de divulgação do Wilson Center. O texto diz que Mourão emergiu como uma voz moderada no governo, o que é difícil de contestar.

Ao falar da Venezuela, o vice ponderou que é preciso evitar uma guerra civil. Sobre a facada, disse que Bolsonaro não deveria fazer propaganda no hospital. O Zero Dois discordou. Tempos depois, postou uma foto do pai de cueca numa maca.

O presidente poderia conter o filho com medidas simples, como o confisco do celular ou a contratação de uma babá. Escolheu passar a mão em sua cabeça, o que sugere um aval aos ataques. Ontem o porta-voz do Planalto disse que Bolsonaro tem “consideração e apreço” pelo vice, mas “estará sempre ao lado” do herdeiro.

Mourão entrou na chapa do PSL por acaso. A primeira opção era Janaína Paschoal, que recusou o convite. A segunda era o ministro Augusto Heleno, que se filiou ao partido errado. Agora é tarde para se arrepender, porque o general foi eleito não pode ser demitido do cargo.

Não há bobos em Brasília. Hostilizado por um governo tropeça nas próprias pernas, Mourão marcha na direção de parlamentares e empresários. Ele já aposentou as ideias radicais da campanha, como o “autogolpe” e a Constituinte sem votos. Adotou tom conciliador, posando de bombeiro entre incendiários.

A última presidente que brigou com o vice não terminou o mandato. Bolsonaro poderia aprender com o exemplo de Dilma Rousseff, mas prefere ouvir os conselhos de Olavo de Carvalho.


Vera Magalhães: Episódio levou presidente à capitulação pública

Carlos Bolsonaro pode cantar vitória e se vangloriar de ter derrubado um desafeto. Mas o filho mais ativo do presidente da República tratou de criar a primeira fissura importante no casco da popularidade do pai, o forçou a uma capitulação pública em vídeo para evitar (ou tentar) que Gustavo Bebianno falasse o que viu no tempo em que foi um aliado da família e bagunçou o coreto da política às vésperas de o governo enfrentar sua principal batalha, a da reforma da Previdência.

O vídeo em que, visivelmente constrangido, Bolsonaro fala nada com nada a respeito da saída de seu secretário-geral da Presidência e diz que “tem de reconhecer” a dedicação, o empenho, o esforço, o comprometimento (só faltou falar dos belos olhos) de um de seus apoiadores de primeira hora é uma confissão pública de que o presidente tem o que temer.

Nada disso teria sido necessário se não fosse o afã de Carlos de derrubar um desafeto – que só o é por conta da paranoia ideológica que guia a leitura de mundo e de política dos filhos do presidente. Conseguiu seu intento, mas a que preço?

Corroeu parte da credibilidade do pai junto aos militares, que se assustaram com a presença tóxica da família em assuntos de Estado, escancarou o telhado de vidro do clã com o que Bebianno pode saber e queimou todo o seu próprio crédito logo na primeira mesada como filho do presidente.

Sim, porque se Bebianno caiu, Carluxo também terá de sair de cena publicamente, ao menos por um tempo. Foi com isso que Bolsonaro se comprometeu diante dos muitos bombeiros que tentaram apagar o fogo que ele mesmo acendeu.


Roberto Freire: Episódio Carlos Bolsonaro e Bebianno gera especulações sobre autoridade presidencial

O presidente do PPS, Roberto Freire, considerou grave o episódio envolvendo o filho do presidente, Carlos Bolsonaro, e o ministro ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno. Para ele, o atrito entre o vereador do PSL do Rio de Janeiro e o ministro gera especulações sobre a autoridade presidencial.

Freire disse em seu perfil no Twitter que as “especulações sobre as relações futuras no governo Bolsonaro, a partir do episódio, são inúmeras e todas têm em comum a fragilização da autoridade presidencial. Isso não é bom para o desempenho do governo e é péssimo para o desenvolvimento do País”, afirmou.

Envolvido em suspeitas de desvios de recursos de campanhas do PSL, partido do presidente, Bebianno entrou em conflito com Carlos, que acusou o ministro de mentir sobre ter falado três vezes com Bolsonaro, quando ele estava internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo, sobre a denúncia da disputa eleitoral no ano passado. Carlos foi endossado pelo presidente, que compartilhou em rede social postagens do filho (veja aqui) negando a versão de Bebianno das conversas com ele.

Bolsonaro esperava o pedido de demissão do ministro está a próxima segunda-feira (18), mas hoje (15) aliados do governo afirmam que ele decidiu atender aos apelos políticos e manter o ministro no cargo. Ainda de acordo com os interlocutores palacianos, o presidente também teria decidido fazer com que Carlos não interfira mais nas questões do governo.

 


Alon Feuerwerker: Exigir que o poder mande os mais fiéis para a degola a troco de nada é um passaporte para a desgraça

As escaramuças (por enquanto são só isso) em torno do presidente da República (e com a participação dele) têm sido retratadas como disputa entre um núcleo fundamentalista imaturo e outros núcleos maduros e, portanto, carregados de razão.

O primeiro reuniria antes de tudo os filhos, em primeiro lugar o do meio. Na periferia, alguns ministros da esfera de influência do chamado olavismo. Já os segundos congregariam a equipe econômica e os militares.

Desconfie das simplificações. Elas são como a Física do ensino médio: úteis para fins didáticos mas inúteis quando precisam explicar o fenômeno na essência. Dizer que “o problema de Jair Bolsonaro são os filhos” explica tudo e ao mesmo tempo não explica nada.

Duvida? Faça o teste. Tente responder a esta pergunta que deriva da afirmação acima: “Se o presidente precisar afastar do entorno os filhos, especialmente Carlos, com quem exatamente poderá contar?”

Hoje em dia, a lista mais comprida da área que reúne a Praça dos Três Poderes e a Esplanada dos Ministérios é a de candidatos a tutelar o presidente da República. É consequência, esperada, do projeto “vamos eleger o Bolsonaro para derrotar o PT e depois a gente vê o que faz”.

O então candidato do PSL aceitou jogar esse jogo, cuidando de reduzir a incerteza na política econômica. Mas nunca deu qualquer sinal de que, no poder, faria um governo de paulos guedes.

Presidentes muito fracos são levados a engolir a tutela, e isso não costuma ser suficiente. Fernando Collor, acuado, montou um ministério dito ético, vertebrado pelo PFL, e mesmo assim caiu. Dilma Rousseff entregou a articulação política a Michel Temer, e o resultado é sabido.

Nos dois casos, o que era para ser ampliação da base de governo acabou virando o centro ou parte da conspiração para derrubar o governo. Bolsonaro tem muitos defeitos, mas não nasceu ontem.

Há exceções? Uma que confirma a regra foi Itamar Franco. No começo achou que governaria. Foi trucidado pela imprensa do Sudeste (nessas horas Minas Gerais não faz parte do Sudeste). Teve de entregar a presidência de fato ao ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso.

Só sobreviveu porque abriu mão de qualquer poder, ou perspectiva de poder imediato. Caiu sem cair, esperando voltar em quatro anos. Mas FHC aprovou a reeleição e deixou Itamar na mão.

Bolsonaro, ao contrário de Collor, Dilma e Itamar, não está fraco. O núcleo da sua base social continua mobilizado pela agenda maximalista de endurecimento penal, valores conservadores e alinhamento com Donald Trump.

E o empresariado só quer saber da reforma da previdência, remédio do momento para curar a economia atacada pela estagnação. E na hora “h” o mercado vai apertar o torniquete no pescoço do Congresso até este entregar a mercadoria.

O que pode dar errado? Alguém das internas reunir massa crítica e começar a drenar poder. O vice dá seus passinhos mas, notem, Bolsonaro nunca passa recibo. O vice tem estabilidade no emprego.

Então, a bazuca presidencial volta-se contra quem ensaia apresentar-se como moderado, confiável e racional. É por aí que o poder começa a cortar cabeças. O que fica mais fácil quando o alvo potencial comete um erro.

E o erro número zero em palácio é o sujeito achar que há espaço para fazer uma política própria diferente da do chefe. Ainda mais quando o chefe está forte e cercado por fiéis.

Exigir que o poder mande os mais fiéis para a degola a troco de nada é um passaporte para a desgraça.

*Alon Feuerwerker é jornalista e analista político/FSB Comunicação