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Revista online | Copa do Mundo: poder do dinheiro comanda o espetáculo
Henrique Brandão*, especial para a revista Política Democrática online (49ª edição: novembro/2022)
A Copa do Mundo bate às nossas portas, invade o cotidiano, toma conta das conversas. Em nosso dito “país do futebol”, essa rotina se repete de quatro em quatro anos. Estamos sempre entre as seleções favoritas. Que o digam as casas de apostas londrinas, insuspeitos templos das previsões futuras, onde o Brasil aparece bem cotado a cada campeonato mundial.
Em toda edição da Copa, haverá uma seleção que será lembrada, como ocorreu com a Hungria de Puskas, em 1954; o Brasil do tricampeonato (1958,62,70), com Pelé, Garrincha, Jairzinho e Tostão; a Holanda de 1974, com seu carrossel e o talento de Cruyff; Camarões em 1990, comandada por Roger Milla; a França de 1998, com Zidane & Cia. São várias as referências, ao gosto do freguês.
Mas o critério esportivo, nos tempos atuais, deixou de ser o único balizador a medir o sucesso de uma Copa. Os indicadores econômicos, hoje, para os burocratas da todo-poderosa Fifa, são tão ou mais importantes do que os legados surgidos em campo.
Na véspera da abertura da Copa 2022, o Conselho Executivo da Fifa divulgou seu faturamento: US$7,5 bilhões, o melhor resultado da história da entidade. Dentre as propriedades comerciais, os direitos de transmissão televisiva são o filé mignon. Desde a Copa de 1970, a primeira a ser transmitida para o mundo inteiro, os números não param de crescer. No Catar, a história se repete.
Para se ter uma ideia do volume de dinheiro, no Brasil os direitos da Copa do Catar são exclusivos da Globo para TV aberta e paga. O contrato, fechado na Rússia em 2018, é de US$90 milhões por ano.
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O próximo Mundial será ainda maior que o atual, disputado por 32 seleções. Em 2026, serão 48 equipes e 80 jogos, no total. O gigantismo da Copa começou a ser desenhado em 1974, quando o brasileiro João Havelange (1916-2016) foi eleito presidente com os votos de africanos, latino-americanos e asiáticos, destronando Sir Stanley Rous, o candidato da Europa.
Havelange presidiu a Fifa entre 1974 e 1998, período marcado pela expansão da entidade. Uma das promessas de campanha foi ampliar o número de vagas de África, Ásia e Concacaf – Confederação que engloba a América do Norte e a América Central – na Copa do Mundo.
Promessa cumprida. Em 1974, quando assumiu a presidência, a Copa era disputada por 16 seleções. Em 1998, quando deixou a entidade, o Mundial tinha o dobro de participantes.
Sob o comando de Havelange, a Fifa inaugurou uma nova maneira de atuar, que perdura até hoje, marcada pela aproximação com o poder político institucional e práticas questionáveis para a manutenção do status quo interno. Desde então, nenhum outro presidente foi eleito como candidato de oposição, como foi o caso do brasileiro.
Bom de negócios, Havelange elevou a Fifa a outro patamar financeiro. Em 1974, a entidade obteve receitas de US$11 milhões. Na Copa de 1994, a última em que esteve na presidência, a arrecadação foi de US$230 milhões. Daí em diante, o volume de dinheiro só aumentou.
Estava estabelecido o “padrão Fifa de qualidade”. Quando decidiu deixar o cargo, em 1998, Havelange indicou Josef Blatter como sucessor. Blatter, que exercia o cargo de secretário-geral desde 1981, ficou na presidência por mais 17 anos. Tanta longevidade tem explicação: era ele quem negociava todos os contratos comerciais da entidade e organizava as Copas do Mundo.
Em 2015, às vésperas de mais um Congresso para sua reeleição, Blatter foi surpreendido pela prisão, na Suíça, de sete cartolas ligados à Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) e à Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe (Concacaf). Diante de pressões, quatro dias depois, mesmo reconduzido, convocou novas eleições, marcadas para fevereiro de 2016. Sete candidatos se apresentaram. Gianni Infantino, secretário-geral da Uefa, foi eleito.
A Copa do Catar é a primeira sob o comando de Infantino. Seu modus operandi não difere muito do de seus sucessores. Quando divulgou os resultados financeiros do Mundial 2022, fez um discurso que Blatter assinaria embaixo: “Arrecadamos mais em patrocínios do que na última Copa, mais em direitos de transmissão e mais em camarotes. Tantas e tantas empresas acreditam nesta Fifa. Acreditamos que limpamos a entidade. Então, quem diz que esta Copa será um fracasso está errado”, disse, exultante.
Confira, a seguir, galeria:
Observando o estilo de governança da Fifa, fica a impressão de que a frase dita por Tancredi, um dos personagens de O Leopardo, romance do italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa (1897-1957), adaptado para o cinema (1963) pelo genial Luchino Visconti (1906-1976), é mais atual do que nunca: “Tudo deve mudar para que tudo fique como está”.
Ainda bem que temos, para quem gosta de futebol, jogos que ainda nos dão imensa satisfação, pelo talento exibido em campo pelos jogadores, que, afinal, são os verdadeiros protagonistas do espetáculo.
Viva o futebol!
Sobre o autor
*Henrique Brandão é jornalista e escritor.
** Artigo produzido para publicação na Revista Política Democrática Online de novembro/2022 (49ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.
*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na Revista Política Democrática Online são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, as opiniões da Revista.
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