Bolsonaro

G1: 'O povo em sua grande maioria quer hierarquia, respeito, ordem e progresso', diz Bolsonaro

Presidente discursou nesta quarta (2) na cerimônia de transmissão de cargo do Ministério da Defesa. General Fernando Azevedo e Silva recebeu o cargo do antecessor no Clube do Exército

Por Luiz Felipe Barbiéri, do G1 — Brasília

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira (2), ao discursar na cerimônia de transmissão de cargo do Ministério da Defesa", que a situação a qual o país chegou, atualmente, é "uma prova inconteste de que o povo, em sua grande maioria, quer hierarquia, respeito, ordem e progresso".

Capitão da reserva, Bolsonaro fez questão de participar da solenidade realizada no Clube do Exército na qual o general Fernando Azevedo e Silva – que já foi chefe do Estado-Maior – recebeu simbolicamente o comando do Ministério da Defesa do general Joaquim Silva e Luna.

Para prestigiar a cerimônia da área militar, ele não compareceu à transmissão de cargo do Ministério da Economia, que ocorreu praticamente no mesmo horário. Pela manhã, Bolsonaro participou da solenidade de passagem dos cargos dos quatro ministros que têm gabinetes no Palácio do Planalto.

>>> Veja quem são os ministros do governo Bolsonaro

Ao longo dos oito minutos de discurso, o novo presidente, egresso da caserna, relembrou o episódio da criação do Ministério da Defesaem 1999 – durante o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) –, ressaltando que ele foi um dos três deputados que votou contra a proposta na Câmara por acreditar que se tratava de uma iniciativa meramente política.

"O tempo passou, as nossas Forças Armadas sofreram um brutal desgaste com a classe política, mas não junto ao povo brasileiro, que continuou acreditando em nós. [...] Hoje em dia, a situação a que o Brasil chegou é uma prova inconteste de que o povo, em sua grande maioria, quer hierarquia, quer respeito, quer ordem e quer progresso", disse Bolsonaro à plateia formada majoritariamente de militares.

"Todo aquele nosso trabalho, ao longo de quatro anos buscando viabilizar a possibilidade de uma eleição, eu cumpri escolhendo ministros técnicos para as suas respectivas áreas, e a Defesa não poderia fugir à regra", complementou.

Na visão do novo chefe do Executivo, as Forças Armadas foram "um tanto quanto esquecidas" ao longo das últimas décadas porque "são um obstáculo para aqueles que querem usurpar do poder".

Em outro trecho do discurso, o novo presidente da República disse que uma das provas da importância que ele dá para as Forças Armadas é o fato de ele ter escolhido para vice em sua chapa presidencial um general da reserva do Exército, referindo-se ao ex-comandante militar do sul Hamilton Mourão.

Neste momento, Bolsonaro bateu continência e brincou com o vice-presidente, dizendo que, agora, a continência tem que ser simultânea, apesar de Mourão ser general.

"A continência tem que ser simultânea porque eu digo para ele [Mourão] que não sou mais capitão, nem ele é general, nós somos soldados do Brasil”, brincou.

Bolsonaro usou parte do discurso para relembrar atos de governos anteriores em favor do Exército. Ele contou relembrou uma sessão solene do Senado em que saudou o então presidente José Sarney por sempre arranjar no final do ano "uma maneira para conseguir recursos extras para contemplar as Forças Armadas".

Dirigindo-se ao ex-presidente da República Fernando Collor, um dos convidados presentes à cerimônia, Bolsonaro disse que atual senador de Alagoas foi o responsável pela criação da classificação de atividade militar. Ele destacou ainda que, na gestão de Itamar Franco os militares obtiveram isonomia salarial.

Ao mencionar o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o atual chefe do Executivo ressaltou que teve diferenças com o tucano. "Tivemos alguns problemas, em especial comigo, mas seguimos nossa jornada”, admitiu Bolsonaro, arrancando risadas dos convidados.

'Ações pautadas pela Constituição'

O novo ministro da Defesa afirmou ao discursar na cerimônia de transmissão de cargo que as ações das Forças Armadas no governo Bolsonaro serão pautadas pela Constituição.

"As ações das Forças Armadas serão pautadas pela Constituição Federal de 1988 e as leis infraconstitucionais. Como organismos de Estado, as Forças devem atuar nas coisas de soldado e cooperar com o poder civil onde forem demandadas, respeitadas as suas capacidades e competências. Internamente, no Ministério da Defesa, o foco será orientado para integração sistêmica das Forças na doutrina estratégico-operacional militar, nos planejamentos, nos projetos, nos equipamentos e nos treinamentos conjuntos", declarou o novo titular da Defesa.

Fernando Azevedo e Silva é o 12º ministro a assumir a pasta desde sua criação, em 1999. Ele é general de Exército desde 2014.

Prestigiaram a cerimônia de transmissão de cargo da Defesa, entre outros, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro José Otávio de Noronha, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e os novos ministros Ricardo Sales (Meio Ambiente), general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional).


O Estado de S. Paulo: Guedes alfineta membros de Judiciário e Legislativo por resistência contra reformas

Em seu primeiro discurso, ministro da Economia criticou excesso de gastos e classificou a Previdência brasileira como ‘fábrica de desigualdades

Por Idiana Tomazelli, Adriana Fernandes, Eduardo Rodrigues e Lorenna Rodrigues, de O Estado de S. Paulo

Prestes a encarar um longo processo de negociações para aprovar reformas estruturais como a da Previdência, o ministro da Economia, Paulo Guedes, usou seu primeiro discurso à frente da pasta para criticar a associação de “piratas privados, burocratas corruptos e criaturas do pântano político” contra o interesse público. Ele ainda alfinetou integrantes do Judiciário, que resistem às mudanças nas regras de aposentadoria e pensão, e do Legislativo, que no mandato atual também impuseram obstáculos à aprovação da reforma, ao dizer que são justamente eles os mais privilegiados pelas regras atuais.

Guedes criticou o excesso de gastos no Brasil e afirmou que o contínuo avanço nas despesas “corrompeu” o País. “Não foi no crédito que os bancos públicos se perderam, mas nos grandes programas onde piratas privados, burocratas corruptos e criaturas do pântano político se associaram contra o povo brasileiro”, disse o ministro, despertando a reação acalorada da plateia de banqueiros, empresários, representantes de associações setoriais e parlamentares que acompanhavam a cerimônia de transmissão de cargo realizada nessa quarta-feira, 2, em Brasília.

O ministro aproveitou a presença no palco do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e de atuais e futuros congressistas na plateia para pedir ajuda da classe política na aprovação das reformas. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, também participou do início da cerimônia, mas já havia deixado a solenidade quando Guedes fez um discurso duro em defesa desse apoio, afirmando que a Previdência brasileira é hoje uma “fábrica de desigualdades”. “Quem legisla e julga tem as maiores aposentadorias, e a população, as menores”, disse Guedes, novamente muito aplaudido.

Os servidores públicos que ingressaram até 2003 ainda podem hoje se aposentar com o último salário da carreira e com reajustes iguais aos funcionários da ativa. Na reforma já em tramitação no Congresso, houve uma tentativa de endurecer as regras para esse grupo, mas o forte poder de lobby dessas categorias acabou travando o avanço da proposta.

“O governo não controla seus próprios gastos, dá aumento generalizados de salários, aposentadorias para quem já tem estabilidade de emprego são generosas (…). O governo se endivida em bola de neve para financiar isso. Esse governo age como se não existisse amanhã”, criticou o ministro, que defende mudanças profundas na atuação do Estado.

Guedes também disparou contra o uso de recursos públicos para “comprar influência parlamentar” e disse que o governo do “capitão” Jair Bolsonaro é o caminho da reabilitação da classe política. Ele reforçou que o Congresso tem que assumir o papel das escolhas no Orçamento – hoje, as despesas são autorizadas e cabe ao Executivo decidir o que será prioridade, o que abre brechas para o toma lá, dá cá. “A classe política é criticada por ter muitos privilégios e poucas atribuições”, disse.

Para Guedes, o resultado das eleições deu o recado aos políticos de que eles “não estão conseguindo ajudar o País”.


G1: Não mergulhemos nessa piscina sem água que é a ordem global', diz novo chanceler

Ernesto Araújo assumiu como novo ministro das Relações Exteriores em lugar de Aloysio Nunes em cerimônia no Itamaraty. 'O Itamaraty existe para o Brasil e não para ordem global', afirmou

Por Gustavo Garcia, do G1 — Brasília

O novo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, atacou o "globalismo" ao assumir o cargo nesta quarta-feira (2). "Não mergulhemos nessa piscina sem água que é a ordem global", afirmou emn discurso o novo chanceler. Segundo ele, o Itamaraty "existe para o Brasil e não para a ordem global".

Araújo discursou por cerca de 30 minutos em cerimônia de transmissão do cargo na sede do ministério. Ele sucede Aloysio Nunes, que ocupou o posto no governo Michel Temer. Entre os presentes à cerimônia, estavam o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), alguns ministros, chefes de missões diplomáticas, embaixadores, servidores e o senador e ex-presidente da República Fernando Collor, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado.

“Não mergulhemos nesta piscina sem água que é a ordem global. O Itamaraty existe para o Brasil, não existe para a ordem global”, afirmou o chanceler.

Ele disse também que o Brasil não pedirá permissão à ordem global.

'Não estamos aqui para trabalhar pela ordem global, estamos aqui pelo Brasil', diz Araújo

“Por muito tempo, o Brasil dizia o que achava que devia dizer. Era um país que falava para agradar aos administradores da ordem global. Queríamos ser bom aluno na escola do globalismo e achávamos que isso era tudo. Éramos um país inferior. Mas o Brasil volta a dizer o que sente e a sentir o que é”, acrescentou.

Araújo já manifestava a crítica ao globalismo antes mesmo de ser escolhido ministro. Em um blog pessoal, escreveu: “Globalismo é a globalização econômica que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural”. Segundo o texto, “é um sistema anti-humano e anticristão. A fé em Cristo significa, hoje, lutar contra o globalismo”.

“Algumas pessoas dirão que o Brasil não é isso tudo. Dirão que o Brasil não tem capacidade de influir nos destinos do mundo, de defender os valores maiores da humanidade, que devemos apenas exportar produtos e atrair investimentos, pois afinal somos apenas um país quieto e pacífico, mas não temos poder para nada [...]. Mas o Brasil responderá: ‘Eu sei quem eu sou’”, disse.

“Somos um país universalista, é certo, e, a partir desse universalismo, iremos construir algo bom e produtivo com cada parceiro. Mas universalismo não significa não ter opiniões, não significa que devemos agradar a todos. Queremos ser escutados, mas não por repetir alguns dogmas insignificantes e algumas frases assépticas. Queremos ser escutados por ter algo a dizer”, completou.

Escolhido por Jair Bolsonaro para comandar o ministério, ele disse que o novo presidente "libertará" o Brasil por meio da "verdade". "O presidente Jair Bolsonaro chegou até aqui porque diz o que sente, porque diz a verdade", declarou.

Diplomata, Araújo iniciou a carreira no Itamaraty em 1991 e, no ano passado, chegou ao posto de embaixador. Ele já atuou nas embaixadas do Brasil em Washington (Estados Unidos) e em Ottawa (Canadá).

Segundo Araújo, a política externa do Brasil "vem se atrofiando com medo de ser criticada". "Não tenham medo de ser criticados", afirmou.

No discurso – com trechos em grego e tupi, e citações a Renato Russo e Raul Seixas – Araújo também disse que o Itamaraty terá, a partir de agora, “um perfil mais engajado” na promoção do agronegócio, do comércio, dos investimentos e da tecnologia.

“O Itamaraty havia se distanciado do setor produtivo nacional. Mas agora estaremos juntos com o setor produtivo nacional como nunca estivemos”, afirmou.

Em outro momento, Araújo teceu críticas ao Ministério das Relações Exteriores. “Nós nos apegamos muito à nossa autoimagem e fizemos dela uma espécie de mito. Nós nos olhamos no espelho, dizendo que somos o máximo, dizendo que os governos não nos entendem, mas que o Itamaraty está acima dos governos. Nós nos tornamos diplomatas que fazem coisas que só são importantes para outros diplomatas. E isso precisa acabar”, afirmou.

No discurso, Ernesto Araújo citou Israel, disse que admira o país porque nunca deixou de ser uma nação, mesmo quando não tinha solo.

Disse também que admira os Estados Unidos, que cultuam os seus heróis, e os países latino-americanos que “se libertaram dos regimes do Foro de São Paulo”.

Nesta quarta-feira (2), um trecho de uma medida provisória editada pelo presidente Jair Bolsonaro abriu brecha, na avaliação de técnicos do Ministério das Relações Exteriores, para que não diplomatas possam ocupar cargos de chefia na pasta.

Segundo técnicos ouvidos pelo colunista do G1 Matheus Leitão, com a MP, a pasta terá a possibilidade de nomear pessoas de fora da carreira para cargos como os de subsecretário, diretores de departamento, chefes de divisão e cargos de assessoria mais altos dentro do ministério.

Pelo Twitter, Araújo negou flexibilização das regras e afirmou que as hipóteses de nomeação para cargos em comissão e funções de chefia do MRE "são rigorosamente idênticas àquelas anteriormente vigentes".

Na cerimônia desta quarta, ele voltou a tocar no assunto.

“Não precisamos e não vamos abrir os cargos do Itamaraty para pessoas de fora da carreira [...]. O presidente Bolsonaro confia na capacidade desta Casa, dessa carreira [...]. Nós simplesmente tomamos uma medida de flexibilizar a ocupação de cargos do Itamaraty por funcionários da carreira”, declarou.

Em 2018, já indicado por Bolsonaro, Araújo afirmou, em uma rede social, que o Brasil sairá do pacto da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre migração.

“O governo Bolsonaro se desassociará do pacto global de migração, um instrumento inadequado para lidar com o problema. A imigração não deve ser tratada como questão global, mas sim de acordo com a realidade e a soberania de cada país”, disse em dezembro de 2018.

“O pacto é bom, é positivo e eu espero a reflexão do próximo presidente, de sua equipe, que possa afastar algumas alegações que, no meu entender, não se sustentam como, por exemplo, a alegação de que o pacto se sobrepõe à soberania nacional”, afirmou à época.

Crítico do PT e de governos de esquerda, Araújo já demonstrou alinhamento ao presidente dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump. Para o novo chanceler, o presidente norte-americano “desafia a maneira usual de pensar”. “Aceitamos esse desafio”, afirmou.


Mauricio Huertas: Problema vai ser quando o monstro sair do armário

Por enquanto tudo é divino maravilhoso. Mas, como Gil e Caetano cantaram no endurecimento do regime militar, lá no final dos anos 60, é preciso ter olhos firmes para este sol, para esta escuridão. Atenção! Tudo é perigoso! É preciso estar atento e forte!

(Nota do autor: Só nesse primeiro parágrafo, 55% dos leitores e eleitores já estão me tachando de comunista; não sou, mas se fosse está aí Jair Bolsonaro para varrer do mapa os comunistas, graças a Deus! E é verdade esse bilete!)

Enquanto vivermos a exaltação ao presidente empossado, depois do "xô PT" que marcou as eleições de 2018 e do "ch*** Lula" (censurado) que estava entalado na garganta do brasileiro, parece que não há com o que se preocupar. Começamos o ano com cenas explícitas de patriotismo. O verde e amarelo voltou a reinar no Brasil. Viva!!!

Passagens em câmera lenta, sorrisos em close, o sentimento de orgulho e a satisfação estampada na cara de cada brasileiro usado na edição dos melhores momentos da posse para encerrar o Jornal Nacional festivo de 1º de janeiro dão o tom oficial do que vem por aí. Tudo é mesmo divino maravilhoso. Arre!!!

Tem o charme da primeira-dama, que "quebrou o protocolo" e foi a 1ª primeira-dama (a repetição é proposital, não reparem) a discursar antes do presidente, e ainda por cima em libras. Um encanto! Tem o tradutor negro encenando o hino nacional, substituindo na posse o deputado negro que fica sempre postado como peça do cenário nos discursos do presidente. Viva a inclusão e a diversidade!

Tem entrevista da primeira-dama (de novo!), eleita pela mídia chapa-branca para dourar a pílula truculenta do bolsonarismo, garantindo que o marido não é machista coisa nenhuma. Tá ok? Tem cobertura especial no canal do Silvio Santos, aquele que não gosta de se envolver em nada de política a não ser que seja para afagar o poderoso de plantão e garantir seus interesses. Tá certinho. Brasil, ame-o ou deixe-o!

Tem urros do Major Olímpio, senador por São Paulo (Senhor!). Tem selfie com o presidente e arminha com a mão. Tem Frota, tem Joice, tem Bia Kicis, tem uma penca de filhos e novos deputados dessa nova ordem. Tem falas contra os comunistas (sempre eles, esses canalhas!), contra os direitos humanos, contra o politicamente correto.

Tem bandeira do Brasil que jamais será vermelha, a não ser pelo sangue que, se preciso, será derramado em defesa da Nação, como alerta Bolsonaro para deleite da claque e do fã-clube. Bravo!!! Tudo por amor à Pátria, enfim resgatada das mãos do inimigo. Mito!!!!

Daqui pra frente, nada de ideologia, essa invenção de esquerdista para destruir a família brasileira e desviar os nossos filhos do caminho de Deus! De agora em diante acaba toda essa baboseira. Escola é sem partido! Gênero é como nos tempos de Adão e Eva. Homem é homem. Mulher é mulher. O resto a gente cura, na bala ou no tapa! Novos tempos!

Acabou esse papinho de sustentabilidade, aquecimento global, direito social, direito trabalhista. Chega de nhenhenhém! Vamos trabalhar, p***! (censurado) Tem ambientalista predador do meio ambiente? Tem Funai que vai desmarcar terra indígena? Tem ministra que vai dar bolsa-auxílio para quem não abortar? Tem xenófobo nas relações exteriores? Tem militar a dar com pau (ops!) para garantir a democracia? Tem tudo isso, mas é a vontade do povo brasileiro! Urra!!!

Enfim, tudo é divino maravilhoso. Problema vai ser quando o monstro sair do armário. É como o Palmeiras de Bolsonaro, decacampeão brasileiro. Era penta em 2016, virou deca em 2018. Estamos mais ou menos nessa mesma situação. Entramos em 2019, mas podemos parar em 1964. Assim, num vôo direto no túnel do tempo, sem escalas. Liberdade? Democracia? Futuro? Foi bom enquanto durou. E leia esse texto antes que acabe. ObrigXXX.

Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente

 


Vera Magalhães: Papo ‘reto’

Diferentemente da expectativa de que usaria ao menos uma das falas para pregar a união do País e prometer governar para todos, o presidente Jair Bolsonaro preferiu se dirigir aos próprios eleitores e aliados

Os dois discursos de Jair Bolsonaro na posse seguiram a mesma linha “papo reto”, como definiu o novo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Diferentemente da expectativa de que usaria ao menos uma das falas para pregar a união do País e prometer governar para todos, o presidente preferiu se dirigir aos próprios eleitores e aliados.

Na Câmara, fez um discurso de forte tom ideológico, intercalado com um aceno para os congressistas ao anunciar que estava “casando” com eles, mas com as cláusulas do contrato nupcial previamente estipuladas: nada de negociação nas velhas bases partidárias, a agenda será aquela com a qual foi eleito e os deputados e senadores serão instados a endossá-la por meio da pressão popular.

Mais tarde, no parlatório, o tom “palanqueiro” foi ainda mais acentuado, com as menções historicamente equivocadas à superação do “socialismo”, como se o Brasil, sob Michel Temer, tivesse um governo sequer de esquerda. Soou apenas caricato. Da mesma forma que o grito de guerra de que a bandeira do Brasil nunca será vermelha, a não ser que seja a cor do sangue que poderá ser derramado para defendê-la.

Que ele governe segundo sua plataforma de campanha é desejável e sinal de maturidade política do Brasil. Que insista em uma retórica incendiária em nome de uma mobilização permanente é o contrário da necessidade de uma articulação política muito precisa para aprovar medidas duras, como a reforma da Previdência – que, não por acaso, só apareceu de forma tímida nos discursos para os convertidos.

PRIMEIRA-DAMA
Michelle acerta com discurso pró-inclusão

Michelle Bolsonaro foi a surpresa positiva da posse. A primeira-dama inovou e quebrou o protocolo ao discursar em libras em favor da inclusão de surdos. Fez uma fala que soou espontânea sobre um tema que desperta pouca mobilização da sociedade, suavizou as falas em determinados momentos belicosas de Jair Bolsonaro e mostrou uma faceta de engajamento pouco conhecida do público em geral. No aspecto estético, estava belíssima num vestido de cetim rosa de corte clássico ombro-a-ombro confeccionado por uma estilista pouco conhecida do Rio de Janeiro.

SÃO PAULO
Doria se projeta nacionalmente e anuncia guinada no PSDB

Os discursos de João Doria Jr. na posse foram muito claros no sentido de se apresentar como uma liderança nacional, e não apenas o governador do maior Estado do País. O tucano apresentou o próprio secretariado como uma “seleção”, se dirigiu aos “brasileiros de São Paulo”, destacou a importância econômica do Estado e demonstrou disposição de implementar a pauta liberal defendida nacionalmente por Jair Bolsonaro em ritmo mais “acelerado”, para usar seu jargão preferido. Doria reiterou apoio ao presidente, a cuja posse compareceu, mas monta para si uma vitrine própria para mais adiante se distanciar dele, se for conveniente. Em outra frente, deixou clara a disposição de dar uma guinada no PSDB e assumir seu comando. A ausência da velha guarda tucana na posse apenas acentuou a ruptura que ele mesmo fez questão de marcar, ao pontuar as diferenças de estilo entre ele e os “pais fundadores”, inclusive o ex-padrinho Geraldo Alckmin.


Eliane Cantanhêde: ‘Vamos restabelecer a ordem no País’

Jair Bolsonaro inovou com um discurso rápido e com a forma clara e direta com que reafirmou a guinada à direita no Brasil

Conclamar um “pacto nacional” virou lugar comum em posses presidenciais, mas Jair Bolsonaro inovou com um discurso rápido e com a forma clara e direta com que reafirmou a guinada à direita no Brasil. “Vamos restabelecer a ordem nesse País!”, pregou, sacudindo a Praça dos Três Poderes.

Direito à legítima defesa e respeito às regras, contratos e propriedades, além de combate ao gigantismo do Estado, ao politicamente correto e ao “viés ideológico”, às “amarras ideológicas” e à “ideologia nefasta” que, segundo ele, destroem nossos valores e a família.

Foram firmes compromissos com princípios liberais na economia, posições conservadoras em costumes e guinadas na política externa, na educação e na segurança – que “vai deixar de defender bandidos e criminalizar a polícia”. Assim, o presidente convocou a sociedade a “libertar o País do socialismo” e “reerguer a Pátria”, bradando: “Nossa bandeira jamais será vermelha!”.

Além de Deus, foco em duas estrelas. Michelle Bolsonaro, linda, elegante e cheia de si, surpreendeu, não só ao fazer um discurso, mas fazê-lo na linguagem de Libras e se comprometer com a inclusão de deficientes. E Carlos Bolsonaro, que abriu o dia criticando os que usaram o pai como “papel higiênico”, recebeu elogio de Michelle e ganhou uma vaga exclusivíssima no Rolls-Royce presidencial. Esse “pitbull” vai longe!


Bruno Boghossian: Bolsonaro busca fantasma da esquerda para se alimentar no poder

Presidente apela para risco da volta do PT e deixa planos concretos em segundo plano

Nos discursos que abriram os quatro anos de governo de Jair Bolsonaro, o inimigo foi protagonista. O novo presidente mostrou que pretende reproduzir durante o mandato a dinâmica de embate com o PT que alimentou sua popularidade durante a eleição.

Empossado, Bolsonaro não se desviou da retórica de campanha porque o fantasma da esquerda é uma de suas principais fontes de poder. É por isso que ele costuma repetir que o fracasso de seu governo abriria caminho para a volta dos petistas.

Essa ameaça deve ser explorada a partir de agora pelo presidente para cristalizar apoio popular a sua gestão. Cada medida anunciada virá acompanhada de um alerta implícito: é isso ou o retorno da esquerda.

O mesmo vale no Congresso. As propostas de Bolsonaro serão embaladas em um falso voto de confiança, em que os parlamentares serão instados a decidir se querem aprovar os planos do presidente ou optar pelos estertores da era petista.

A assombração toma contornos realistas quando Bolsonaro evoca escândalos de corrupção protagonizados pelo PT e a crise provocada pela política econômica de Dilma Rousseff. Ele apela para falsificações grosseiras, porém, quando busca oponentes imaginários.

Do alto do parlatório, o presidente disse que sua posse marca “o dia em que o povo começou a se libertar do socialismo”. Ainda que muitos integrantes dos governos Lula e Dilma tenham simpatia por regimes socialistas, o Brasil não passou perto de qualquer experiência do tipo.

Ao atacar a contaminação ideológica, Bolsonaro apresentou poucas soluções concretas para os problemas do país. Só manteve os pés no chão ao falar de segurança pública, propondo a flexibilização da posse de armas e mudanças na lei para atenuar a responsabilização de policiais.

O foco nesse embate com a esquerda era tão intenso que Bolsonaro deu um escorregão. A versão original de seu segundo discurso falava em diminuir a desigualdade social. No parlatório, ele omitiu o trecho.


Elio Gaspari: O capitão chegou

No palanque de mármore do Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro fez o seu último discurso de campanha

Jair Bolsonaro chegou ao Palácio do Planalto pela vontade da maioria dos eleitores e com a esperança de dois terços da população. Discursos de posse podem querer dizer muito, ou nada.

O de Tancredo Neves, que não foi lido, queria dizer muito, os de Jair Bolsonaro, afora as teatralidades, acrescentaram pouco ao que disse na campanha. Ele propôs genericamente um "pacto nacional entre a sociedade e os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, na busca de novos caminhos para o Brasil" e reafirmou seu "compromisso de construir uma sociedade sem discriminação ou divisão".

Quem saiu da cerimônia e soube que, pouco depois, Bolsonaro anunciou que "o Brasil começa a se libertar do socialismo e do politicamente correto", ficou sem entender nada. Socialismo por cá nunca houve e o "politicamente correto" pode ser muita coisa ou coisa nenhuma.

Entre o discurso feito no Congresso e o do parlatório parece haver um abismo. No palanque de mármore, Bolsonaro repetiu temas que lhe deram o mandato popular. Fica a dúvida em relação ao "pacto". Ele existe, cheio de remendos, mas chama-se Constituição.

A partir de hoje, discursos de campanha serão inúteis, pois começa o serviço. Ele demanda eficácia e respeito às instituições dentro do pacto existente.

A ideia segundo a qual o Brasil precisa se libertar do "politicamente correto" (uma questão de comportamento) ou do "socialismo" (simples fantasia) é uma construção apocalíptica.

O ministro da Economia deverá tomar as medidas necessárias para liberalizar a economia, o da Educação poderá reorganizar os currículos escolares e administrará os recursos da pasta. Já o ministro da Justiça e de Segurança poderá compatibilizar o discurso da lei e da ordem com as leis e a ordem da vida real.

Até agora, como não poderia deixar de ser, tudo são promessas. O único sinal indiscutível, ainda que simbólico, do compromisso de novo governo com a austeridade, esteve no fato de todos os ministros de Bolsonaro terem assinado os termos de posse com uma caneta Bic. (Já houve tempo em que eram populares as Mont Blanc.)

A retórica apocalíptica do discurso no palanque de mármore contradisse a harmonia prometida na fala ao Congresso, mas só o dia a dia do governo poderá revelar o rumo de governo.

Do outro lado do balcão, partidos de oposição liderados pelo PT boicotaram a cerimônia republicana da posse do presidente. Péssima ideia, justificada com argumentos da pior qualidade.

A partir de hoje a oposição deverá partilhar o futuro da vida nacional. O pior cenário possível será aquele em que o Brasil terá um governo empenhado em libertar o país do "socialismo", e um pedaço da oposição esteja convencida de que ele vem aí, ou deveria vir.

Um choque de visões milenaristas não tem nada a ver com a vida nacional. O mandato recebido por Bolsonaro teve uma essência mais simples. Os brasileiros querem mais segurança, mais ordem e mais liberdade na economia.

Na expressão dessa vontade, repeliram corruptos e apoiaram propostas radicais, até mesmo demagógicas. Daí, não se pode concluir que uma sociedade politicamente radicalizada precisa da construção de conflitos.

Na primeira metade dos anos 60 a radicalização produziu tamanha intolerância política que um pedaço da sociedade não aceitava a hipótese da eleição de Juscelino Kubitschek para a Presidência. Outro pedaço não aceitava que o eleito fosse Carlos Lacerda.

Jamais o país teve dois candidatos mais qualificados e deu no que deu. Ambos foram proscritos pela ditadura.

 


Bernardo Mello Franco: Bolsonaro confundiu o traje de presidente com o de candidato

No dia em que vestiu a faixa, Bolsonaro confundiu o traje de presidente com o de candidato. Em vez de abrir espaço para diálogo, dobrou a aposta na divisão

Ao discursar no Congresso, Jair Bolsonaro falou em “unir o povo”, “preservar nossa democracia” e governar “sem discriminação ou divisão”. A promessa de moderação durou pouco. Duas horas depois, ele já retomava o tom agressivo que marcou a sua escalada até o Planalto.

Com a faixa no peito, o novo presidente voltou a se pintar para a guerra. Bradou contra o fantasma do socialismo e descreveu seus rivais políticos como inimigos da pátria, da ordem e da família. Em seguida, prometeu “acabar com a ideologia que defende bandidos”, sugerindo que fará vista grossa para a violência policial.

Finalmente, insinuou que recorreria às armas para impedir que a esquerda volte a disputar o poder. “Essa é a nossa bandeira, que jamais será vermelha. Só será vermelha se for preciso o nosso sangue para mantê-la verde e amarela”, radicalizou. Faltou pouco para repetir as ameaças de “fuzilar a petralhada” e mandar os adversários para a “ponta da praia”.

Num momento que pedia distensionamento, Bolsonaro insistiu na tática da divisão. Confundiu o parlatório, onde presidentes falam à nação, com o palanque, onde candidatos atiçam seus seguidores. Adotou um tom eficiente para manter a tropa mobilizada, mas impróprio para quem terá que governar para todos os brasileiros.

O discurso bélico sugere que a promessa de costurar um “pacto nacional”, recitada no Congresso, não passou de um palavrório sem substância. Só pode falar em pacto quem está disposto a negociar. E só pode negociar quem está disposto a fazer concessões.

Neste ponto, Bolsonaro parece ter companhia. Ao boicotar a cerimônia de posse, o PT reforçou os rótulos de intransigente e mau perdedor. O partido tem motivos para não gostar do novo presidente, mas precisa reconhecer que ele chegou lá porque recebeu mais votos.

Brigar com o resultado das urnas não parece ser uma estratégia inteligente. A não ser que os petistas já tenham se conformado com a ideia de que o capitão reinará por “muito tempo”, como já previu o ex-ministro José Dirceu.


Míriam Leitão: As divisões até na hora de somar

Bolsonaro atribuiu o ato do criminoso que atentou contra a sua vida aos “inimigos da pátria”, insinuando serem seus adversários políticos

O presidente Jair Bolsonaro poderia ter só somado ontem, mas preferiu dividir. Era momento de festa cívica, o da posse de um presidente eleito, resultado da oitava eleição consecutiva desde a redemocratização. Mas ele escolheu restringir em vez de ampliar. Isso ficou claro até no momento mais tocante, quando, no Parlatório, a primeira dama Michelle falou aos deficientes auditivos usando a linguagem de libras para incluí-los na cerimônia. Logo depois, Bolsonaro afirmou que iria acabar com o politicamente correto. O gesto que sua mulher acabara de fazer era politicamente correto. E lindo.

Nos seus discursos, Bolsonaro deu sinais em sentidos opostos. Convocou o Congresso para ajudá-lo a reconstruir o país e resgatar a esperança. Num improviso, brincou que estava “casando” com o Congresso. Falou em dar mais poderes aos estados e municípios. Disse que reafirmava seu compromisso de construir uma sociedade sem discriminação e sem divisão.

Ele afirmou que queria a ajuda do Congresso para libertar a pátria da “irresponsabilidade econômica”. Precisou ser lembrado pelo presidente do Senado, Eunício Oliveira, de que ele não começava do zero, que vários avanços econômicos foram conseguidos na gestão do ex-presidente Temer.

Sua insistência no que chama de “ideologia de gênero”, ou “viés ideológico”, é a repetição do que disse na campanha, mas é contraditório. Esse é um governo com viés e ideologia. Foi eleito entoando discurso de direita. Governará com estas ideias. Isso é natural. O que ofende os fatos é dizer que agora o país estará “livre das amarras ideológicas”. Está trocando amarras, pelo visto.

No ponto mais perigoso do seu discurso no Congresso, Bolsonaro coletivizou o ato do criminoso que atentou contra a sua vida ao dizer: “quando os inimigos da Pátria, da ordem e da liberdade tentaram pôr fim à minha vida, milhões de brasileiros foram às ruas”. Nessa narrativa ele joga o epíteto de “inimigos da pátria” aos seus adversários políticos e os mistura com o autor do atentado. Cria uma ambiguidade perigosa. Disse que foi eleito a partir da reação da sociedade a esses “inimigos”. O Brasil conhece o risco das narrativas que distorcem os fatos. Conhece também o perigo dos líderes que se apropriam da bandeira nacional como sendo expressão de uma ideologia, em vez de ser o manto que nos une.

Na economia, o presidente Bolsonaro alinhou uma série de bons objetivos. O país pode de fato entrar num círculo virtuoso, como ele disse, se houver aumento da confiança depois de reformas e medidas que elevem a eficiência da economia. “Realizaremos reformas estruturantes, que serão essenciais para a saúde financeira e sustentabilidade das contas públicas”. Bolsonaro diz que, na economia, seu governo trará a confiança “no cumprimento de que o governo não gastará mais do que arrecada”. É importante que ele reafirme esse compromisso, mas será preciso união em torno de medidas impopulares para que a promessa do ministro da economia, Paulo Guedes, de zerar o déficit público em um ano, vire realidade. Essas “reformas estruturantes” realmente acontecerão caso o presidente Bolsonaro tenha muito mais convicção do que tem demonstrado. Em geral, suas falas sobre economia são hesitantes.

Um ponto destoante foi o do tratamento à imprensa nacional e estrangeira credenciada para cobrir a posse. Os cuidados com a segurança do presidente eram necessários, sem dúvida. Mas isso foi usado como pretexto para cercear o trabalho da imprensa. Eu estive na cobertura de posses em Brasília, desde a do presidente João Figueiredo. Jamais me deparei com os absurdos que aconteceram ontem, como o de exigir que jornalistas chegassem sete horas antes do evento para ficar confinados em cercados. O confisco das maçãs foi só um toque a mais de nonsense no meio de uma coleção de abusos.

O presidente Bolsonaro disse que uma de suas prioridades é “proteger e revigorar a democracia brasileira”. Isso é animador, principalmente vindo de quem, no passado, elogiou regimes de força. A democracia pressupõe uma imprensa livre e atuante. Que os excessos de ontem não sejam o prenúncio de uma relação autoritária, mas apenas um erro a ser corrigido.


Sérgio Abranches: O desafio político do novo governo

Pistas dadas por Bolsonaro indicam agenda de reformas que exigirá várias emendas à Constituição

O novo governo começa embalado em altas expectativas e muita controvérsia. Sua eleição encerrou um ciclo do presidencialismo de coalizão, mas anulou o modelo político. Se o pleito presidencial implodiu o duopólio PT-PSDB, as eleições proporcionais resultaram em um multipartidarismo mais fragmentado, com bancadas partidárias significativamente menores. A formação de maiorias ficou mais difícil. Requer mais partidos, ao custo de menos afinidades político-programáticas. A pauta de demandas e desejos que elegeu Jair Bolsonaro tem um núcleo muito conservador, mas a maioria que o levou à vitória é difusa e diversificada.

O presidente eleito precisará de uma agenda que, sem desatender ao núcleo conservador, atenda a um espectro mais amplo de anseios, sob o risco de frustrar a larga faixa do eleitorado que votou mais contra o situacionismo. Ao mesmo tempo, terá que enfrentar os desafios que estão postos no campo fiscal e econômico.

O novo governo tem a seu favor um clima de otimismo como há muito não se registra no país. A esperança da opinião pública é um fator que impulsiona adesões no Congresso. Mas, embora um ingrediente necessário ao sucesso legislativo da agenda presidencial, não é suficiente.

Principalmente para um conjunto tão diferenciado de questões, que vão da economia — sobre a qual há relativo consenso no geral, todavia muita divergência no particular — até questões de direitos e costumes, em relação às quais não há concordância, nem no todo, nem nas partes.

O momento de maior probabilidade de sucesso corresponde aos primeiros quatro meses do primeiro ano do primeiro mandato. Em todas as presidências, desde 1990, com Collor, até Dilma, foi este o momento de maior sucesso parlamentar relativo, com o menor custo político e fiscal.

Pelo que informou o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, as prioridades e a agenda legislativa do novo governo serão apresentadas em reunião ministerial, no próximo dia 14. Prioridade clara e uma agenda focada também ajudam a conquistar maiorias.

Mas, no Congresso mais fragmentado da História, a formação de maiorias constitucionais exigirá coalizões com grande número de partidos, o que reduz a coerência interna e aumenta a dispersão de objetivos políticos e programáticos. A maior vantagem que terá no Legislativo será a afinidade do presidente eleito com o parlamentar mediano.

Mas ele se recusa a negociar uma coalizão multipartidária com as lideranças das legendas. Isso dificulta muito a agregação de parlamentares em número suficiente para aprovar uma agenda tão ambiciosa quanto aparenta ter o novo governo.

As pistas até agora dadas por Bolsonaro e seus principais auxiliares indicam uma agenda de mudanças e reformas que exigirá várias emendas à Constituição. Quanto mais PECs o presidente incluir em sua proposta parlamentar, maior a coesão multipartidária que precisará alinhavar para ter sucesso.

Fernando Henrique Cardoso tinha uma coalizão compacta, majoritária. Conseguiu aprovar um número significativo de emendas constitucionais e reescrever o capítulo econômico da Constituição. O forte impulso do Plano Real fez a diferença. Nenhum outro presidente conseguiu aprovar tantas PECs em um só ano.

Com a fragmentação e a resistência do presidente em negociar com os partidos, o mais provável é que não caibam muitas PECs na agenda de Bolsonaro. O sucesso objetivo de sua presidência depende da dimensão econômica de sua agenda e seus efeitos sociais.

O sucesso subjetivo, junto a seu eleitorado, depende das propostas sobre costumes, muito conservadoras e controversas. Se este quadro se confirmar, ele terá que encontrar um caminho de equilíbrio entre as reformas econômicas e sua pauta conservadora e garantir ganhos sociais. Um desafio e tanto.

*Sérgio Abranches é cientista político


Os 22 ministros de Bolsonaro: ala ultraliberal, militares e só 2 mulheres

Paulo Guedes, Sergio Moro e Onyx Lorenzoni encabeçam o time do primeiro escalão formado pelo novo chefe do Executivo

Técnicos, políticos de carreira, militares e até um astronauta. O Ministério de Jair Bolsonaro conta com perfis diversos, porém comprometidos com as determinações do presidente para uma guinada liberal na economia e conservadora nos costumes, nas relações internacionais e nas políticas de segurança. Por enquanto, a única missão estipulada pelo comandante a seus subordinados é elaborar, nos primeiros dez dias de governo, um relatório sobre suas respectivas pastas – além de sugestões de medidas imediatas, incluindo a revogação de atos dos últimos meses da gestão Temer. Conheça os 22 ministros nomeados por Bolsonaro.

1) Economia – Paulo Guedes
Economista formado pela Universidade de Chicago, Paulo Guedes é chamado por Bolsonaro de seu “posto Ipiranga”, o local onde ele poderia resolver qualquer pendência ou dúvida econômica. É um técnico com poucos laços políticos e o nome mais poderoso da Esplanada depois do presidente. Tem montado uma equipe de economistas liberais, como ele, muitos com passagem pela ortodoxa Chicago. É ferrenho defensor da privatização de todas as empresas estatais. Sua pasta é um dos superministérios de Bolsonaro, pois será a fusão dos ministérios da Fazenda, do Planejamento e de Indústria e Comércio Exterior.

2) Casa Civil – Onyx Lorenzoni
Deputado federal há seis legislaturas, Onyx Lorenzoni se aproximou de Bolsonaro nos últimos quatro anos. Ele encampou a candidatura presidencial do capitão reformado e passou a fazer jantares em sua casa, em Brasília, para discutir as estratégias. Na primeira reunião, havia menos de dez comensais. Na última, quase uma centena. Filiado ao DEM, Lorenzoni será o elo de Bolsonaro com o Congresso Nacional. É quase tão explosivo como seu chefe. Admitiu ter recebido caixa dois da JBS na campanha eleitoral de 2014, mas a investigação foi arquivada.

3) Justiça e Segurança Pública – Sérgio Moro
Juiz estrela da Operação Lava Jato, Sérgio Moro abandonou 22 anos de magistratura para fazer parte de um Governo. Ele foi o responsável por condenar centenas de políticos, empreiteiros, lobistas e doleiros que desviaram recursos públicos, principalmente da Petrobras. Foi por conta de uma decisão dele, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi preso e, após condenação em segunda instância, foi retirado da disputa eleitoral de 2018. No ministério, tem se cercado de antigos companheiros de Lava Jato, principalmente policiais federais.

4) Gabinete de Segurança Institucional – Augusto Heleno
Ex-comandante da missão de paz no Haiti, o general Augusto Heleno é considerado o principal estrategista de Jair Bolsonaro. Foi ele quem coordenou uma equipe de 50 profissionais que elaboraram o plano de Governo do então candidato. Chegou a ser anunciado como ministro da Defesa, mas o presidente eleito decidiu que o queria mais próximo de seu gabinete e o “promoveu” ao GSI. Será o responsável por todas as atividades de inteligência da gestão federal.

5) Defesa – Fernando Azevedo e Silva
Considerado o mais político dos generais, Fernando Azevedo e Silva já ocupou cargos nos três poderes. Foi assessor legislativo do Exército, autoridade pública olímpica na gestão Dilma Rousseff (PT), ajudantes de ordem do presidente Fernando Collor (PTC) e, antes de aceitar o convite de Bolsonaro, era assessor especial do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli. Seu primeiro ato no cargo foi valorizar a hierarquia militar e nomear como futuros comandantes das forças os oficiais mais antigos de cada corporação, Exército, Aeronáutica e Marinha.

6) Secretaria-Geral da Presidência – Gustavo Bebianno
Quando Bolsonaro decidiu se filiar ao PSL, precisava de alguma segurança para tocar sua campanha eleitoral. Sugeriu que o então presidente da legenda, Luciano Bivar, cedesse a direção para alguém em que o presidenciável confiasse. Foi aí que o advogado Gustavo Bebianno se destacou no cenário nacional. Profissional com passagem pelo departamento administrativo do Jornal do Brasil, Bebianno se aproximou do político no Rio de Janeiro. Sem nenhuma experiência em grandes campanhas, coordenou os trabalhos de Bolsonaro e controlou com mão de ferro boa parte dos diretórios regionais. Será o responsável pela espécie de prefeitura do Palácio do Planalto.

7) Relações Exteriores – Ernesto Araújo
Trumpista e antiglobalista, o embaixador Ernesto Araújo chegou ao topo da carreira diplomática sem nunca ter ocupado uma função de relevância no exterior. Até ser indicado para o ministério, ele ocupava um cargo de terceiro escalão no organograma do Itamaraty. Adquiriu a confiança de Bolsonaro por ter um blog em que se posiciona de maneira similar ao do presidente eleito. E por ter feito campanha para ele. Também foi indicado pelo escritor Olavo de Carvalho. Seu desafio será o de reduzir o impacto de falas polêmicas de Bolsonaro como a que a China compra o Brasil e não do Brasil. Caberá a ele também orientar o presidente na decisão de trocar a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.

8) Saúde – Luiz Henrique Mandetta
Médico ortopedista, Luiz Henrique Mandetta (DEM) cumpre seu segundo mandato como deputado federal. Não concorreu à reeleição por discordar dos rumos de seu partido no seu Estado, Mato Grosso do Sul. Auxiliou Bolsonaro na pré-campanha dando sugestões de projetos de saúde. Responde a uma investigação por fraude no período em que foi secretário municipal de Saúde em Campo Grande (MS).

9) Secretaria de Governo – Carlos Alberto dos Santos Cruz
General que chefiou missões de paz no Haiti e no Congo, Santos Cruz será o interlocutor de Bolsonaro para os assuntos relacionados à segurança pública. O ministério que ocupará costuma ser ocupado por um articulador político. É a primeira vez que um militar estará neste posto. Santos Cruz chegou a ser cotado para a Secretaria Nacional de Segurança.

10) Ciência e Tecnologia – Marcos Pontes
Tenente-coronel da Aeronáutica e primeiro astronauta brasileiro, Marcos Pontesé mais um da cota militar de Jair Bolsonaro. Desde a pré-campanha já era apontado como futuro ministro. Lançou a ideia de que o ensino superior passasse a ser administrado por sua pasta, mas depois das reações da academia, recuou na proposta.

11) Agricultura – Tereza Cristina
A única mulher a ocupar um cargo na esplanada até o momento, a deputada federal e produtora rural Tereza Cristina (DEM) foi indicada ao cargo pela bancada ruralista. Presidente da Frente Parlamentar Agropecuária, ela declarou apoio à candidatura de Bolsonaro na reta final da campanha. A futura ministra é investigada por conceder benefícios fiscais à JBS no período em que foi secretária estadual em Mato Grosso do Sul.

12) Controladoria Geral da União – Wagner Rosário
Técnico de carreira, Wagner Rosário é o atual ministro da Transparência do Governo Michel Temer. Por um ano ocupou o cargo de maneira interina. Formado em ciências militares pela Academia Militar dos Agulhas Negras (AMAN), a mesma de Bolsonaro, ele abandonou a atividade no Exército para se tornar auditor federal. Foi o primeiro funcionário de carreira a ocupar o ministério.

13) Educação – Ricardo Vélez Rodríguez
Um liberal crítico ao PT, o filósofo Ricardo Vélez é colombiano, naturalizado brasileiro. Não era o favorito para assumir o ministério da Educação. Seu nome surgiu depois que a bancada evangélica refutou o nome de Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna e ex-secretário de Educação de Pernambuco que foi apontado erroneamente como um professor de esquerda. Vélez é a favor do projeto Escola Sem Partido. Foi um dos dois indicados pelo escritor Olavo de Carvalho, um dos ideólogos do bolsonarismo.

14) Infraestrutura – Tarcísio Gomes de Freitas
O futuro ministro da Infraestrutura, pasta responsável pelos setores de transporte aéreo, terrestre e aquaviário, é consultor legislativo na Câmara. É formado em Engenharia Civil pelo Instituto Militar de Engenharia (IME) e iniciou a carreira no Exército. Atuou como chefe da seção técnica da Companhia de Engenharia do Brasil na Missão de Paz da ONU, como coordenador-geral de Auditoria da Área de Transportes da Controladoria-Geral da União (CGU) e foi diretor executivo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), cargo para o qual foi nomeado ainda no Governo Dilma Rousseff, em 2011.

15) Cidadania e Ação Social – Osmar Terra
Osmar Terra, ex-ministro do Desenvolvimento Social do Governo Michel Temer foi escolhido por Bolsonaro para ocupar o Ministério da Cidadania, ainda a ser criado pelo presidente eleito. Deputado federal pelo MDB do Rio Grande do Sul, o médico comandará a pasta que deve concentrar atribuições antes administradas pelos ministérios da Cultura, do Esporte e do Desenvolvimento Social.

16) Turismo – Marcelo Álvaro Antonio
O Ministério do Turismo será comandado pelo deputado federal e integrante da Frente Parlamentar Evangélica da Câmara, Marcelo Álvaro Antônio, do PSL-MG, partido da base aliada de Bolsonaro na Câmara. Ex-filiado de PRP, PMB e PR, ele chegou a estudar engenharia civil em Belo Horizonte, mas não concluiu o curso.

17) Minas e Energia – Bento Costa Lima Leite
O presidente Jair Bolsonaro anunciou via Twitter a escolha de Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior para chefiar o ministério de Minas e Energia. Ele é Diretor Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha e Almirante de Esquadra. Chefiou os programas Nuclear da Marinha (PNM) e o de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub).

18) Desenvolvimento Regional – Gustavo Canuto
A nova pasta do Governo, que vai incorporar as atribuições dos ministérios da Integração Nacional e das Cidades, será comandada por Gustavo Henrique Rigodanzo Canuto. Servidor de carreira no Ministério do Planejamento, ele é especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental. Foi chefe de gabinete do Ministério da Integração Nacional e da Secretaria de Aviação Civil.

19) Mulher, Família e Direitos Humanos – Damares Alves
Damares Alves era uma desconhecida quase completa até ser anunciada como indicada ao novo ministério, que abrigará também a Fundação Nacional do Índio (Funai). Pastora da Igreja do Evangelho Quadrangular, a advogada era desde 2015 assessora parlamentar do senador Magno Malta (PR), uma das principais figuras da bancada evangélica e, até então, o principal cotado para a pasta.

20) Meio Ambiente – Ricardo Salles
Presidente do Movimento Endireita Brasil, o advogado Ricardo de Aquino Salles comandará o Ministério do Meio Ambiente. Filiado ao Partido NOVO, ele já foi secretário particular do ex-presidenciável Geraldo Alckmin e ocupou também a pasta de Meio Ambiente de São Paulo durante o Governo do tucano. Salles é alvo de ação de improbidade administrativa, acusado de manipular mapas de manejo ambiental do rio Tietê, e, durante a campanha eleitoral deste ano, chegou a sugerir o uso de munição de fuzil contra a esquerda e o MST.

21) AGU – André Luiz de Almeida Mendonça
Conhecido como Mendonção, o novo chefe da Advogacia-Geral da União é formado em direito pela Faculdade de Direito de Bauru e estudou sobre corrupção na Universidade de Salamanca, na Espanha. Com longa trajetória na AGU, já foi Corregedor-Geral, Adjunto do Procurador-Geral da União e Diretor do Departamento de Patrimônio e Probidade. Seu último cargo foi como assessor especial da Controladoria Geral da União (CGU).

22) Banco Central – Roberto Campos Neto
Diretor do banco Santander e especialista em finanças pela Universidade da Califórnia, Roberto Campos Neto tem seu currículo marcado por experiências na iniciativa privada. Ele é neto de Roberto Campos, economista liberal que foi ministro do Planejamento durante a ditadura militar, no governo de Castelo Branco.