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Maurício Huertas: Oi, sumido! Quantos likes vale esse governo?
O twitter já tem um presidente. Falta Jair Bolsonaro assumir de fato a presidência do Brasil. O diversionismo nas redes sociais vai durar até quando? E a lua-de-mel com a opinião pública, resiste a quantos desmentidos? Esses emergentes governistas se esquecem que tudo na política é cíclico. O poder é passageiro, assim como a paciência da maioria silenciosa. O clima festivo tem prazo de validade. É uma sinuca. A bola da vez passa. Logo vem a próxima. É a sina.
A militância ruidosa e empolgada funciona para fazer espuma, mas a onda recua. Os dois candidatos que foram ao segundo turno, assim como seus apoiadores mais fiéis, não saíram ainda da campanha. Parece que a eleição não terminou. Não é à toa o constante bate-boca protagonizado por Bolsonaro e Haddad nas redes, para delírio das claques uniformizadas. Curioso, mas ambos parecem ter razão nos mais baixos xingamentos.
Adentramos janeiro com a "despetização" de Brasília anunciada pelo novo governo: o que na prática funciona na mão inversa como uma "bolsonarização" das instituições que - estas sim - deveriam ser desideologizadas. Mas trocam seis por meia dúzia. Saem os entusiastas da esquerda, entram os fanáticos da direita. Muda apenas a orientação da seita. Se a facção que controla o poder é destra ou canhota. No fundo são todos inflexíveis nas suas doutrinas arcaicas.
Essa moda neopopulista de se comunicar pela internet e (des)informar por whatsapp é mera avacalhação, empulhação, marmelada, trapaça. Não tem nada de republicano e muito menos democrático. É a nova versão da voz oficial. É um monólogo capenga de quem não quer ouvir o contraditório. Típico de qualquer ditadorzinho de republiqueta. Autoritário, autocrático, opressor.
Outra desculpa esfarrapada são os perfis fakes, apresentados como se fossem satíricos, mas que na verdade são criados deliberadamente para difundir notícias falsas, versões sabidamente mentirosas, quase sempre seguindo a orientação chapa-branca dos estrategistas do marketing governista para confundir o leitor e diluir a repercussão negativa de verdades incômodas. Tristes tempos.
Se alguém votou, sinceramente, esperançoso em algo novo na política ou no salto qualitativo para um governo liberal, já deve estar frustrado. Quem busca alguma essência republicana ou democrática também percebe fácil o engodo. Até para os padrões militares, esse início de governo Bolsonaro é um fracasso retumbante. Tudo que não se viu nessa primeira semana foi ordem, hierarquia, planejamento e inteligência. É pura desordem e retrocesso.
Não é só o fato do capitão comandar os generais, como foi mostrado em tom de humor para humanizar e disfarçar o lado truculento e tirânico desse bolsonarismo que se impõe como antídoto ao lulismo que predominava até então. Ambos são tóxicos. Nem é tão problemático, embora inusitado, o fato de técnicos e funcionários de segundo escalão virem a público desmentir o presidente em anúncios, promessas e compromissos que não se sustentam. Preocupante é a incompetência, o despreparo, a indigência intelectual desse títere da nova ordem que chega ao poder.
Contra a "ameaça comunista", inimiga imaginária dos bolsonaristas (na falta de fatos concretos ou argumentos racionais) usada para manter alguma coesão interna, aparece o patriotismo exacerbado, a aversão aos princípios básicos do estado democrático de direito. Contra as liberdades e conquistas elementares da cidadania, o fundamentalismo religioso, o criacionismo bíblico, o discurso bélico, a violência, o ódio e o preconceito.
Seguimos acompanhando e aprendendo sobre quem são esses personagens caricatos que se apossam do governo central. Quem são os novos inquilinos dos palácios de Brasília, liderados por um meme que virou presidente e por seus filhos que parecem saídos de uma série da Netflix, identificados à la Capitão Nascimento como 01, 02 e 03 - e que, neste momento, discutem publicamente sobre a infestação de oportunistas que cercam seu pai, atraídos pelo poder como mariposas pela luz.
Ah, uma luz... Como é necessária! Pode ser rosa ou azul (laranja*, oi?), artificial ou divina, mas que ilumine essas mentes obscuras pelos próximos anos. Por favor! E que nos aponte um caminho sem atalhos fáceis à esquerda ou à direita. Nem armadilhas e disfarces virtuais. Que olhem menos para as redes e mais para as ruas. Menos para os avatares e mais para os cidadãos. Menos para milhões de seguidores e mais para milhões de brasileiros.
Curtiu?
(*Queiroz, me segue que eu te sigo de volta!)
* Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente
Mauricio Huertas: Problema vai ser quando o monstro sair do armário
Por enquanto tudo é divino maravilhoso. Mas, como Gil e Caetano cantaram no endurecimento do regime militar, lá no final dos anos 60, é preciso ter olhos firmes para este sol, para esta escuridão. Atenção! Tudo é perigoso! É preciso estar atento e forte!
(Nota do autor: Só nesse primeiro parágrafo, 55% dos leitores e eleitores já estão me tachando de comunista; não sou, mas se fosse está aí Jair Bolsonaro para varrer do mapa os comunistas, graças a Deus! E é verdade esse bilete!)
Enquanto vivermos a exaltação ao presidente empossado, depois do "xô PT" que marcou as eleições de 2018 e do "ch*** Lula" (censurado) que estava entalado na garganta do brasileiro, parece que não há com o que se preocupar. Começamos o ano com cenas explícitas de patriotismo. O verde e amarelo voltou a reinar no Brasil. Viva!!!
Passagens em câmera lenta, sorrisos em close, o sentimento de orgulho e a satisfação estampada na cara de cada brasileiro usado na edição dos melhores momentos da posse para encerrar o Jornal Nacional festivo de 1º de janeiro dão o tom oficial do que vem por aí. Tudo é mesmo divino maravilhoso. Arre!!!
Tem o charme da primeira-dama, que "quebrou o protocolo" e foi a 1ª primeira-dama (a repetição é proposital, não reparem) a discursar antes do presidente, e ainda por cima em libras. Um encanto! Tem o tradutor negro encenando o hino nacional, substituindo na posse o deputado negro que fica sempre postado como peça do cenário nos discursos do presidente. Viva a inclusão e a diversidade!
Tem entrevista da primeira-dama (de novo!), eleita pela mídia chapa-branca para dourar a pílula truculenta do bolsonarismo, garantindo que o marido não é machista coisa nenhuma. Tá ok? Tem cobertura especial no canal do Silvio Santos, aquele que não gosta de se envolver em nada de política a não ser que seja para afagar o poderoso de plantão e garantir seus interesses. Tá certinho. Brasil, ame-o ou deixe-o!
Tem urros do Major Olímpio, senador por São Paulo (Senhor!). Tem selfie com o presidente e arminha com a mão. Tem Frota, tem Joice, tem Bia Kicis, tem uma penca de filhos e novos deputados dessa nova ordem. Tem falas contra os comunistas (sempre eles, esses canalhas!), contra os direitos humanos, contra o politicamente correto.
Tem bandeira do Brasil que jamais será vermelha, a não ser pelo sangue que, se preciso, será derramado em defesa da Nação, como alerta Bolsonaro para deleite da claque e do fã-clube. Bravo!!! Tudo por amor à Pátria, enfim resgatada das mãos do inimigo. Mito!!!!
Daqui pra frente, nada de ideologia, essa invenção de esquerdista para destruir a família brasileira e desviar os nossos filhos do caminho de Deus! De agora em diante acaba toda essa baboseira. Escola é sem partido! Gênero é como nos tempos de Adão e Eva. Homem é homem. Mulher é mulher. O resto a gente cura, na bala ou no tapa! Novos tempos!
Acabou esse papinho de sustentabilidade, aquecimento global, direito social, direito trabalhista. Chega de nhenhenhém! Vamos trabalhar, p***! (censurado) Tem ambientalista predador do meio ambiente? Tem Funai que vai desmarcar terra indígena? Tem ministra que vai dar bolsa-auxílio para quem não abortar? Tem xenófobo nas relações exteriores? Tem militar a dar com pau (ops!) para garantir a democracia? Tem tudo isso, mas é a vontade do povo brasileiro! Urra!!!
Enfim, tudo é divino maravilhoso. Problema vai ser quando o monstro sair do armário. É como o Palmeiras de Bolsonaro, decacampeão brasileiro. Era penta em 2016, virou deca em 2018. Estamos mais ou menos nessa mesma situação. Entramos em 2019, mas podemos parar em 1964. Assim, num vôo direto no túnel do tempo, sem escalas. Liberdade? Democracia? Futuro? Foi bom enquanto durou. E leia esse texto antes que acabe. ObrigXXX.
Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente
Maurício Huertas: Das fake news ao fake gov. Será o início do fim?
Eu suspeitei desde o princípio: os discursos e as ações não combinavam. Aquele moralismo propagandeado era falso. Agora as desculpas esfarrapadas tornam evidente o estelionato eleitoral.
Toda a campanha foi marcada pelo roto falando do rasgado. Era a direita chucra e truculenta atacando a esquerda burra e calhorda. Tudo farinha do mesmo saco da velha política. Duas gangues armadas (e desalmadas) na disputa de sempre, no vale tudo pelo poder. Ganhasse quem ganhasse, perderia o Brasil.
Das fake news ao fake gov, quanto tempo ainda vai durar a espuma dessa onda de popularidade do "mito"? A casa começou a ruir. O novo presidente nem tomou posse e já há claros sinais de imperícia e ingovernabilidade. Não bastavam ministros réus e apoiadores suspeitos, denúncias consistentes atingem em cheio o núcleo da família Bolsonaro. As respostas parecem tiradas do manual de qualquer advogado de porta de cadeia, falas reeditadas de Lula, Dilma e companhia petista. Aliás, quando todos se farão companhia?
Não chega a ser uma metamorfose ambulante para quem já não esperava nada desse futuro governo impostor. Mas para a maioria de seus eleitores, será. Nem tanto para os bolsominions, com aquela velha opinião formada sobre tudo, porém eles são minoria dentro dos 57,7 milhões de brasileiros incrédulos ou de boa fé que elegeram Jair Bolsonaro, que parece cada vez mais dizer agora o oposto do que disse antes (perdão, Raul).
Quando vai cair a ficha do povão? E o que restará diante de mais desesperança? Que reação veremos desencadeada perante um novo sentimento de frustração? Qual a saída para o Brasil? Surgirão novos movimentos cívicos nas redes e nas ruas? Parece lógico que aqui está reservado o papel de uma oposição democrática e republicana, que ajude a preservar as liberdades individuais e os direitos coletivos diante da ameaça do caos. Tô dentro!
Se a mera expectativa de poder já provoca uma disputa aberta nas hostes bolsonaristas, com brigas internas e acusações num nível tão indecoroso e rasteiro, imagine quando o governo enfrentar problemas concretos, resistência externa e começar a desmoronar de vez. Vai ser um salve-se quem puder! Aí sim teremos um risco real e objetivo às instituições. Precisamos, com a Constituição nas mãos, seguir atentos e vigilantes contra oportunistas e revanchistas, à direita e à esquerda. Xô, golpistas!
Lembro que em determinado período dos governos petistas, entre os primeiros indícios do mensalão e as condenações do petrolão, dizia-se que o presidente Lula tinha cobertura teflon, aquela substância antiaderente que recobre as panelas, porque parecia que nenhuma denúncia grudava nele. Bolsonaro vive um momento similar. Seu pré-governo parece aquele "joão-bobo", tradicional brinquedo inflável de criança que apanha, inclina, balança mas insiste em permanecer de pé. O problema é que basta um furo para o ar vazar e a brincadeira acabar. Viveremos um 2019 de fortes emoções. Não sabe brincar, não desce pro play.
*Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente
Mauricio Huertas: O Brasil do "ame-o ou deixe-o" de Silvio Santos
E a mais nova patriotada do empresário e apresentador Silvio Santos ganha manchetes, rodas de conversa, posts, tuítes, mensagens e opiniões das mais desbaratadas nos grupos do whatsapp.
O mais famoso, longevo e bem sucedido camelô eletrônico de que se tem notícia no mundo, predecessor mítico dos atuais influenciadores digitais, desenterrou o "ame-o ou deixe-o" da ditadura para enaltecer o Brasil de Bolsonaro.
As peças institucionais produzidas e exibidas pelo SBT exaltam o ufanismo mais primitivo e nostálgico ao ressuscitar o "Eu te amo meu Brasil" com slogans dos anos 70 e a própria canção-título que enaltece que o coração do brasileiro é "verde, amarelo, branco, azul anil". Não poderia existir nada mais demodê (como este próprio termo), com tanto cheiro de mofo e naftalina.
Mas... espera lá! Silvio Santos pode ter mil defeitos, mas burro ele não é! Quem mais que o "patrão", às vésperas de seus bem vividos 88 anos, para compreender o que agrada a claque popular? O marketing nacionalista de Silvio Santos não ressurge à toa. Fora de moda e de sintonia estamos nós, órfãos da esquerda que foi sequestrada, chacinada e enxovalhada pelo PT. Mais perdidos que cachorro que caiu do caminhão da mudança (pior até que na época da queda do muro).
Porque o Brasil de verdade "endireitou" a olhos vistos, no sentido mais ignóbil que poderia ocorrer: pelo fracasso da geração que vociferou contra os 21 anos de domínio militar e viu tudo se perder diante da esbórnia petista. Bateu um vento daqueles que fazem a gente perder a página que estava lendo no livro (outro velho hábito que parece ter perecido com os avanços tecnológicos) e recuamos na história aos primórdios das lutas democráticas no Brasil.
Vamos ter que nos reorganizar e reconstruir todo um campo no espectro político mais progressista e social-democrata, porque hoje o cenário está denominado pelo conservadorismo (no comportamento e na retórica) e pelo liberalismo econômico que tem aversão ao Estado de bem-estar social. O anti-esquerdismo atinge um patamar inimaginável para quem achava que a direita mais rude e xucra tinha sido extinta na época das Diretas Já.
Sobem no conceito da maioria dos brasileiros os políticos que valorizam o nacionalismo; que flertam com um controle absoluto dos direitos dos cidadãos, seja no contexto político, cultural ou social; que tem obsessão com a segurança nacional; que subestimam os direitos humanos; que demonstram desprezo por intelectuais e artistas; que tentam impor controle e censura sobre a mídia e a imprensa; que usam a religião como forma de manipulação; e que legitimam a utilização da força e da violência para atingir seus objetivos.
Não por acaso, todas as características acima descrevem o ambiente do surgimento do fascismo na Europa do século XX, liderada por políticos nacionalistas e autoritários, com ideias fortemente contrárias ao marxismo, o que logo classificou o fascismo como um regime de extrema-direita marcado por um governo ditatorial e militarizado.
Em tom farsesco, a história se repete. Essa "nova" direita abrange conservadores de diferentes matizes, democratas-cristãos, capitalistas liberais, nacionalistas, militaristas, indignados e revoltados em geral com o atual sistema. Basicamente todos que derrotaram juntos, nestas eleições de 2018, a velha esquerda monopolizada pelo PT e coadjuvada por PSOL, PCdoB, setores do PDT e do PSB, além de siglas nanicas, movimentos e organizações sociais cooptadas, sindicatos mafiosos e o corporativismo estatal tradicional.
Alheios a essa guerra odiosa, preconceituosa e intolerante, espremidos num centro cada vez mais diminuto entre os ruidosos campos da nova direita (crescente) e da velha esquerda (decadente), quase num gueto ideológico, seguimos os esquerdistas democráticos, social-democratas, progressistas, socialistas, sustentabilistas, movimentos cívicos moderados e hackers da nova política.
Por mais que pareça fora da agenda atual, alguém precisa manter na pauta política a preocupação permanente com a manutenção das conquistas da cidadania, com a justiça social, a qualidade de vida e o meio ambiente, o enfrentamento das desigualdades, o respeito às minorias e a garantia estrita do estado de direito, dos conceitos democráticos e dos preceitos republicanos.
Cabe ainda a vigilância diária sobre os atos do(s) novo(s) governo(s), bem como uma postura crítica perante a reação automática das oposições, para que possamos nos diferenciar positivamente desses dois blocos, tanto da base de sustentação fisiológica quanto da oposição sistemática e impeditiva das reformas que se mostram urgentes e necessárias. Esse é o papel que nos cabe.
Lembrando sempre que iniciaremos um novo ciclo político em pleno 2019, bem distante dos idos de 60 ou 70, tão importantes para o aprendizado democrático, inegavelmente, mas cristalizados no Brasil do passado. Devemos avançar, bicho. Ser "pra frentex", manja? O Brasil mudou à beça. Hoje tem gente pra chuchu querendo construir um país melhor, mais supimpa. Esse espírito de mudança é o maior barato, mas vai dar um trampo danado. Por isso o brasileiro fica grilado.
Agora, falando sério. Tão ultrapassado como usar essas gírias dos anos 70, embolorando o parágrafo acima, ou repetir palavras de ordem da ditadura (a favor ou contra), é seguir nessa disputa obsoleta e insana entre direita e esquerda como se estivéssemos congelados no tempo. Vivemos outra década. Outro século. Outro milênio. Precisamos reconfigurar o sistema.
*Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente
Maurício Huertas: Procura-se o sucessor de Jair Bolsonaro (mas, já???)
O Brasil - e a política tradicional, principalmente - é mesmo um caso a ser estudado. O presidente Jair Bolsonaro (PSL) nem tomou posse e já se discute quem será o seu sucessor, em 2022.
Isso porque, na campanha de 2018, Bolsonaro afirmou ser contra a reeleição, então já aparecem com altíssima cotação na bolsa de apostas dos especuladores eleitorais os nomes do futuro ministro da Justiça, juiz Sérgio Moro, e do recém-eleito governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
A imprensa cobrou de Moro a afirmação de que "jamais entraria na política". Ele reafirmou, ontem, que "jamais será candidato", mas que entra para o Ministério como um "técnico". É o tipo de declaração que o perseguirá para sempre. O tucano João Doria que o diga. Foi carimbado de "mentiroso" e "sem palavra" por ter largado a Prefeitura de São Paulo com apenas um ano e três meses de mandato, contrariando promessa anterior.
O problema é alguém achar que o futuro político se define assim, com tamanha antecedência. Basta verificar o histórico das eleições presidenciais. Excetuando-se as reeleições tranquilas de FHC e Lula, barbadas para qualquer apostador, os outros resultados foram muito mais inesperados. Ou alguém imaginava em 1989 que Fernando Collor sofreria impeachment, seria substituído pelo vice Itamar Franco e, aí sim, ainda mais surpreendente, seu sucessor seria Fernando Henrique Cardoso?
E depois das vitórias fáceis de FHC em 1994 e 1998, alguém apostaria que o PT seria eleito e reeleito quatro vezes consecutivas?
Durante o governo Lula, alguém arriscaria dizer que a "técnica" Dilma Rousseff seria o poste de plantão para a sucessão presidencial? E depois que Michel Temer assumiria após outro impeachment?
Para encerrar, quem arriscaria dizer, em novembro de 2014, com Dilma recém-reeleita (naquela disputa acirradíssima com Aécio no 2º turno) que, quatro anos depois, o novo presidente seria Jair Bolsonaro - na época só mais um dos personagens preferidos para o bullying dos humoristas do programa CQC?
Vivendo e aprendendo. Ou não.
Maurício Huertas: Democracia e Sustentabilidade por um Brasil melhor
Que a derrota de um "centro democrático" fragilizado e fragmentado traga algum ensinamento neste difícil 2018. Ver PPS, PV e Rede Sustentabilidade, além de outras lideranças deste campo da boa política, dialogando para formar um bloco de oposição responsável ou até mesmo a formatação de um novo partido-movimento é um misto de alívio e esperança nesses dias de ressaca eleitoral. Que avancem, pelo bem do Brasil que saiu das urnas nesse 7 de outubro e vai se configurar ainda mais polarizado, revanchista e radicalizado no desfecho deste 2º turno no próximo domingo, 28.
Dos dois lados, tanto na candidatura de Jair Bolsonaro quanto de Fernando Haddad, temos o desapreço pela democracia, pela ética, pelo bom senso, pela agenda sustentável e até mesmo pelo repeito às leis e à verdade dos fatos. Não é à toa que as chamadas "fake news" dominam essa campanha, com milícias virtuais à direita e à esquerda treinadas e remuneradas para destruir sem piedade o inimigo político. Mas, infelizmente, dias piores virão. Nas redes e nas ruas.
Como antídoto ao retrocesso que se anuncia e à idiotização do eleitor é que fazemos esse apelo à defesa intransigente dos princípios republicanos. Sem dúvida, a aproximação entre lideranças, partidos e movimentos deste campo democrático e sustentável aponta para um caminho racional e necessário para enfrentarmos os próximos quatro anos de riscos e ameaças às nossas instituições.
O Brasil de 2019 dará um salto no escuro. Ninguém sabe o que vai acontecer, mas é evidente que o futuro governo, com uma base congressual fisiológica e reacionária, pode trazer consequências catastróficas para a cidadania, o meio ambiente, a qualidade de vida, os direitos humanos e a economia do país. Daí a oportunidade para um passo adiante, esse encontro histórico entre democratas e sustentabilistas, união que a cartilha da velha política talvez ainda definisse como "esquerda democrática".
Democracia e Sustentabilidade não podem ser apenas rótulos subjetivos teorizados e debatidos em rodas de intelectuais, mas premissas básicas e essenciais para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa, igualitária, fraterna, conectada e radicalmente democrática. Que, na prática, possamos ajudar a descontaminar o brasileiro desse radicalismo intransigente e intolerante de petistas e anti-petistas, bolsonaristas e anti-bolsonaristas. Precisamos urgentemente atualizar o sistema. O primeiro passo está dado, com a aproximação entre Rede, PPS, PV e os movimentos pela renovação da política. Que venha uma longa, firme e saudável caminhada.
Mauricio Huertas: Uma oposição responsável contra Haddad e Bolsonaro
Não é à toa que o PT de Lula e Haddad e o PSL de Jair Bolsonaro são os campeões de votos nesse polarizado 2018, tanto ao levar seus candidatos majoritários ao 2º turno das eleições presidenciais quanto ao fazer de suas bancadas as maiores da Câmara dos Deputados e, por exemplo, da Assembleia Legislativa de São Paulo, para citar pelo simbolismo.
Venceu com larga vantagem o discurso do "nós" x "eles", o radicalismo, o ódio, o preconceito e o revanchismo. Perdemos todos os outros - e, que fique claro se ainda não caiu a ficha nessa ressaca eleitoral, somos minoritários.
Mais de 80 milhões de brasileiros, ou 75% dos votos válidos, optaram nas urnas por Bolsonaro ou por Haddad neste emblemático 7 de outubro. Ao acentuar, aparentemente, as diferenças entre esses dois campos opostos da política, fica subjacente no resultado dessas eleições uma contradição essencial: a irmandade siamesa do lulismo e do bolsonarismo, variantes à esquerda e à direita de um populismo rançoso e do descrédito da maioria do eleitorado na política tradicional.
Em cenário de terra arrasada, vencem os mais adorados e consequentemente os mais rejeitados por um lado e pelo outro. O chamado "centro democrático", ou como queiram denominar as lideranças e os partidos que tentaram se afastar destes dois polos extremados, foram aniquilados neste 1º turno. O eleitor simplesmente não desejava razão, moderação, equilíbrio. Ao contrário, o espírito é de guerra!
A polarização vai se acentuar perigosamente neste 2º turno e no futuro governo, ganhe quem ganhar. A divisão partidária, ideológica e até geográfica, marcadamente do Nordeste como resistência do petismo contra o resto do Brasil "endireitado", vai fazer proliferar atos de preconceito, racismo e intolerância. Imagine-se então o comportamento do futuro Congresso Nacional, amplamente dominado por uma base conservadora (vide o crescimento das bancadas evangélica, da bala e ruralista) e notadamente fisiológica, com raras e honrosas exceções, diante de um governo Haddad ou Bolsonaro.
Certamente o resultado das urnas será questionado pelo lado derrotado. Se não houver autoridade, responsabilidade e competência para acalmar os ânimos e convencer a sociedade da tranquilidade republicana e da normalidade democrática, seja quem for o eleito, o clima de ódio e insatisfação pode crescer nos meses seguintes até a posse do futuro presidente e gerar alguma turbulência institucional.
Os primeiros atos do novo governo também serão importantes para sinalizar que Brasil podemos esperar pelos próximos anos. Diante do nosso histórico recente, é difícil acreditar num quadro pacificado e civilizado na relação entre os poderes. Daí a nossa importância, os derrotados neste 1º turno das eleições, para ajudar a garantir o pleno funcionamento do Estado democrático de direito, fundamentalmente o respeito das liberdades civis e das garantias fundamentais da cidadania.
Não é que exista alguma ameaça concreta e objetiva à nossa ainda jovem estabilidade democrática e constitucional, mas para que nenhum lunático ou mal intencionado ouse pensar algo do tipo, e para afastarmos definitivamente qualquer fantasma autoritário, é que precisa ser formado um bloco oposicionista responsável, suprapartidário e qualificado com lideranças da sociedade reunidas em torno de conceitos e princípios inabaláveis, que tenha força e resistência suficientes para ser um ponto de equilíbrio sustentável e que não vergue com o vento que sopra à direita ou à esquerda.
* Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente
Maurício Huertas: Movimentos visíveis e invisíveis até o domingo
A polarização é a marca desta eleição. Até aí, não chega a ser novidade. Desde a primeira eleição direta pós-redemocratização, em 1989, temos um quadro polarizado. Vencidas sete eleições até esta de 2018 que será a oitava, em seis delas tivemos a disputa polarizada PT x PSDB, mesmo quando foi desnecessário o 2º turno.
Naquele ano de 1989, o cenário "azul x vermelho" foi representado por Collor x Lula, tendo Brizola quase tomado o lugar daquele que o caudilho chamava de "sapo barbudo", numa diferença de cerca de 450 mil votos, ou inferior a um ponto percentual (indetectável até mesmo na margem de erro das pesquisas).
Nos anos de 1994 e 1998, FHC ganhou de Lula no 1º turno, tendo os demais concorrentes longe de ameaçar o embate de tucanos e petistas. A partir de então houve apenas a inversão do quadro, com o início do domínio do PT. Em 2002, Lula derrotou Serra; em 2006, atropelou Alckmin; em 2010, empurrou Dilma para esmagar Serra outra vez; e, em 2014, teve seu último sucesso eleitoral, com Dilma ganhando por pouco de Aécio.
Chegamos em 2018 com o acirramento deste clima plebiscitário entre o petismo e o anti-petismo, ou, mais que isso, entre o lulismo e o anti-lulismo, com o requinte dramático de termos os dois principais personagens desta eleição confinados: um condenado preso numa cela da Polícia Federal, outro convalescente num leito hospitalar.
Com outra grande novidade: depois de 24 anos, o PSDB está novamente fora da polarização com o PT. Repetindo 1989, dessa vez é Bolsonaro quem ocupa na urna e no imaginário popular aquele espaço representado por Collor há quase três décadas.
Movimentos visíveis e invisíveis
Feita toda essa introdução histórica dos movimentos cíclicos da política, há algumas tendências visíveis e outras ainda ocultas para este domingo, 7 de outubro. O que parece mais evidente nesta versão revisitada de 1989 é a semelhança entre os principais personagens. Como martela insistentemente a propaganda, Lula é Haddad. Já foi dito aqui, Collor repete Bolsonaro, com todas as suas características pessoais e fragilidades partidárias. Consequentemente, Brizola revive em Ciro no espólio do velho PDT.
Os coadjuvantes também parecem reproduzir os papéis do final dos anos 80. Temos Alckmin de certo modo repetindo tanto Covas quanto Ulysses; O insosso Meirelles numa cópia fiel de Aureliano; vemos o liberal moderninho, Amoêdo no lugar de Afif; temos o esquerdista descolado, com Boulos reeditando Roberto Freire. Sobram Marina e Álvaro Dias renovando um pouco o quadro que contava com Maluf e outros aventureiros dentre as 22 candidaturas lançadas naquele ano (hoje são 14), incluindo até a cota dos malucos folclóricos, com Cabo Daciolo clonado do DNA de Enéas com Marronzinho.
Mas, enfim, que movimentos surpreendentes são possíveis ainda nesta eleição?
Nesse quadro em que a maioria aposta num 2º turno entre Bolsonaro e Haddad, qualquer coisa diferente dessa polarização significaria um fato novo. Vamos então às possibilidades:
1) É possível que Bolsonaro encampe o "voto útil" anti-petista e vença já no 1º turno, somando mais de 50% dos votos válidos (com índices de abstenção e votos nulos significativos).
2) O segundo movimento, este sim improvável e surpreendente (notado nas redes sociais mas não detectado nas pesquisas), seria Ciro Gomes ultrapassar Haddad (com votos anti-Bolsonaro e anti-PT) e chegar ao eventual 2º turno. Já pensou?
3) Completamente improvável - para não dizer impossível - seria Alckmin ou Marina chegarem lá, domingo, até porque muitos dos eleitores de ambos já pularam do barco por conta das pesquisas. Nada mais inconsequente.
Fechando o exercício de futurologia, dois pitacos sobre movimentos eleitorais visíveis e invisíveis que podem ocorrer até domingo: 1) Na disputa pelo Governo de São Paulo, seria plenamente possível Marcio França ultrapassar Paulo Skaf e disputar o 2º turno contra João Doria; 2) Como também não parece impossível, embora surpreendente, João Doria vencer no 1º turno se conseguir somar os votos anti-petistas que receberá da maioria dos eleitores de Alckmin e de Bolsonaro. Vai saber...
Mauricio Huertas: O Brasil do futuro e o presidente-vírgula
A crise dos combustíveis - com o ridículo pedido literal de "trégua" por três dias aos caminhoneiros grevistas (não acatado, obviamente) - é apenas o capítulo mais recente da desprezível obra escrita por Michel Temer, o "presidente-vírgula".
Nada mais emblemático, preciso e objetivo para definir esse governo pífio do que aquele desastrado slogan "O Brasil voltou, 20 anos em dois". Não errou na vírgula, mas no tamanho do atraso. Retrocedemos muito mais.
Registre-se que o fato de considerarmos o período Temer uma triste página a ser virada da nossa história não nos iguala aos repetidores da narrativa do "golpe". Ao contrário dos que vinculavam o #ForaTemer a um #VoltaLula, sempre tachamos o processo de impeachment, os resultados da Operação Lava Jato e a prisão dos corruptos de todos os partidos como legítimos e necessários para a estabilidade democrática e a vitalidade republicana.
Apoiamos a transição que se impôs constitucionalmente para o pós-PT, então a "ponte para o futuro" (perdão pelo trocadilho involuntário com o documento lançado em 2015 com as propostas do "novo" presidente) passava consequentemente por Michel Temer, pelo PMDB e partidos aliados. O problema - e não havia outra solução legalista - é que esse consórcio temerário reúne o que existe de mais retrógrado e nocivo da política brasileira desde Cabral (não o ex-governador do PMDB preso, mas o descobridor).
A posse de Temer, sabíamos todos, não significaria uma ruptura com o passado, até porque ele e sua turma foram cúmplices da bandalheira petista. Porém, uma atenuante era a esperança de vermos executadas as reformas prometidas. Até porque, como não buscaria a reeleição - garantiu o presidente - poderia adotar medidas impopulares mas emergenciais para remediar o colapso do Estado e de suas unidades federativas. Não só descumpriu a promessa como ainda ensaiou uma natimorta candidatura. Triste ilusão do presidente-vírgula, deixar de ser o candidato-traço.
Não é à toa a crescente rejeição do eleitorado à política tradicional. O estrago que a quadrilha petista já tinha causado à esquerda é repetido agora ao centro, dentro do chamado "campo democrático", com o fracasso deste presidente (até no seu papel de mero cumpridor de tabela na transição) e a proliferação de pré-candidatos inexpressivos para ocupar um vazio de lideranças, fruto de governos medíocres e opositores incompetentes.
Resta pouco tempo até a eleição, para a consolidação de uma candidatura representativa do Brasil que desejamos para o futuro. Será impossível o entendimento em torno de um presidenciável que aponte minimamente para um governo íntegro, austero, reformista, democrático, criativo, responsável, justo, respeitador das leis e promotor das condições de igualdade? Se valer a máxima de que Deus é brasileiro, que nos acuda nessa hora. Por favor! Agradecemos antecipadamente. Amém! E ponto final.
Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do Blog do PPS e apresentador do #ProgramaDiferente