Blog do Noblat

Ricardo Noblat: Bolsonaro e o PT

Feitos um para o outro

Feche os olhos e imagine a eleição presidencial sem candidato do PT. De fato, para ser coerente o partido não deveria ter lançado candidato. Não dizia que eleição sem Lula seria fraude?
Muito bem. Haveria Jair Bolsonaro (PSL) com chances de se eleger presidente se não existisse Fernando Haddad ou outro nome qualquer como candidato do PT?

Bolsonaro não teria votos sequer para se eleger governador do Rio, quanto mais presidente. Só tem porque enxergou a tempo o sentimento contra o PT da maioria dos brasileiros.

De acordo até aqui? Adiante, pois. Se na próxima semana Haddad assumir a liderança nas pesquisas de intenção de voto, Bolsonaro poderá perder parte do apoio que tem hoje. Certo?

(Já não estamos de acordo, imagino.)

Cabe a pergunta: a ser assim, em quem votariam os eleitores perdidos por Bolsonaro? Não sei. Só sei que iriam para quem pudesse derrotar Haddad.

Eleição só acaba quando acaba. A história está repleta de surpresas que escaparam aos faros mais sensíveis dos institutos de pesquisa. Até lá, pois!

Por quem bate o coração de ACM Neto
A deputados do seu partido, o presidente do DEM, ACM Neto, prefeito de Salvador, admite viver um dilema: a quem apoiar no segundo turno se Geraldo Alckmin (PSDB) ficar de fora dele?

– Não posso ser oposição aqui e oposição em Brasília – repete ele.

Na Bahia, ACM Neto se opõe ao governador Rui Costa (PT) que deverá se reeleger no primeiro turno. Em Brasília, apoia discretamente o presidente Michel Temer (PMDB).

Mas se Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) se enfrentarem no segundo turno, o que fazer? Por ele, não apoiaria nenhum dos dois. Apoiaria Ciro Gomes (PDT) sem pestanejar.


Ricardo Noblat: Bolsonaro e o seu labirinto

O que os números falam

Antes do atentado de Juiz de Fora no último dia 6, o deputado Jair Bolsonaro (PSL) tinha uma rejeição de 44% em pesquisa de intenção de voto do Ibope.

Depois do atentado, a rejeição caiu para 41%, oscilou para 42% e agora cresceu para 46%, segundo a pesquisa Ibope de ontem. Quer dizer: o efeito do atentado, que o beneficiara, passou.

Daqui até domingo mais cinco pesquisas de intenção de voto para presidente da República serão conhecidas – a mais importante delas, do Datafolha, na noite da sexta-feira.

Sim, e haverá dois debates na televisão entre os candidatos – e sem Bolsonaro. Nesta quarta-feira (26), no SBT; no domingo (30), na TV Record. Está bom ou querem mais?

O último debate será o da TV Globo, no dia 4 de outubro – e a eleição no domingo dia 7. Até lá, novas pesquisas poderão confirmar o que por enquanto ainda não passa de um esboço.

Por uma ou duas vezes, Bolsonaro e Fernando Haddad (PT) disputarão a vaga de Michel Temer. Bolsonaro segue como favorito. Haddad ameaça alcançá-lo.

Quem não quiser ver Haddad ou Bolsonaro presidente tem Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (REDE) para votar, mas os três estão empacados, como Bolsonaro.

Haddad subiu. E tem mais espaço para subir a levar-se em conta o tamanho que alcançou se comparado com o que tinha Lula nas pesquisas de pouco mais de um mês.

Em 2002, ao fim do primeiro turno, Lula tinha 41% dos votos. Naquela ocasião, para a Câmara e o Senado, o PT havia obtido 19% dos votos. Haddad, hoje, está com 23% na pesquisa Ibope.

Como xerife da economia nacional na época da ditadura militar de 64, o ministro Delfim Netto costumava dizer: se torturados, os números confessam o que interessar aos seus algozes.

Sem tortura, os números indicam que esta será a mais acirrada eleição presidencial de nossa história.


Ricardo Noblat: Mourão é Haddad

O general da reserva Hamilton Mourão, candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), é o novo xodó de jornalistas à caça de quem lhes diga o que de fato pensa.

Perguntou, ele responde no ato. No último fim de semana, um deles perguntou-lhe qual seria o candidato mais fácil para ser derrotado por Bolsonaro em um eventual segundo turno.

Mourão disparou na hora: “Haddad”. Disse por que: dado ao sentimento contra o PT que ele sente por toda parte, e que as pesquisas de intenção de voto atestam.

Mourão ainda não desistiu do propósito de substituir Bolsonaro em debates na televisão. Diz estar pronto para isso. Não teme o confronto.

Como já disse
O chefe das Forças Armadas, segundo a Constituição, é o presidente da República. É ele, e somente ele, portanto, quem em nome delas pode falar sobre temas políticos de repercussão geral.

Aos comandantes das três armas – Exército, Marinha e Aeronáutica -, cabe falar sobre assuntos administrativos e aqueles diretamente afeitos aos cargos que ocupam.

Militar não é igual a civil. O que os distingue não é só a farda que um veste e o outro não. Militar tem acesso a armas pesadas, pilota brucutu, maneja tanques e é treinado para matar.

Se um deles fala qualquer coisa, soa diferente do civil que diga o mesmo. Porque um tem a força capaz de pulverizar literalmente quem quer que seja. O outro, só a força da palavra e do voto.


Ricardo Noblat: Haddad ou Ciro, eis a questão!

Cada um sabe de si

A eleição continua aberta, observam aplicados estudiosos da história das eleições e leitores atentos de pesquisas de intenção de voto – e não sem motivos.

Mas esta eleição começa a ficar cada vez menos aberta. No momento, estreita-se em torno de três nomes: Jair Bolsonaro (PSL), Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT).

Que país! O segundo turno da eleição presidencial poderá ser disputado por um candidato preso a um leito de hospital entre a vida e a morte, e um laranja de um preso condenado por corrupção.

Bolsonaro melhorou seu desempenho nas simulações de segundo turno. Mas perde para Marina Silva (REDE), que está em queda; perde feio para Ciro; perde até para Alckmin e empata com Haddad.

Funciona a transfusão de votos de Lula para Haddad. Porém, junto com os votos, vai a rejeição a Lula e ao PT. Haddad subiu quatro pontos. Sua rejeição, quatro pontos, segundo o Datafolha.

A seguir assim, o voto de parte da esquerda que acompanha tudo a prudente distância poderá garantir Ciro no segundo turno, com medo de que Bolsonaro derrote Haddad. Ou não.

Eis a questão: Haddad presidente, mesmo que ele não queira, serão mais quatro anos de país dividido e à espera de um Bolsonaro mais forte ou de coisa pior.

Bolsonaro presidente… Será um general de vice que admite o autogolpe e uma nova Constituição feita por encomenda. De volta ao passado, sem a presença ostensiva de brucutus.

Bolsonaro venceu
Até aqui, a eleição deste ano já tem um claro vencedor e um claro perdedor. O deputado Jair Bolsonaro (PSL) sairá dela como o vencedor, ganhe ou perca no final, não importa. O PSDB, como derrotado.

Só não será assim se Bolsonaro, por questão de saúde, não disputar o segundo turno da eleição onde tem lugar garantido. Ou o PSDB operar o milagre de por Geraldo Alckmin no segundo turno. Difícil.

Antes um deputado irrelevante, histriônico, defensor de causas que soavam impossíveis, Bolsonaro soube se apropriar de uma agenda difusa de temas que estava no coração e mente de parte dos brasileiros.

Deu voz a toda essa gente. Soube manipular seus instintos mais primitivos, oferecendo-lhe soluções simples para problemas complexos. E não teve medo de se expor à incompreensão do resto da sociedade.

Poderá não ter sido o suficiente para se eleger – disso só se saberá nas próximas e decisivas semanas. Mas suficiente será para catapultá-lo à condição de líder inconteste da oposição ao futuro governo.

O PSDB perdeu para Bolsonaro uma fatia expressiva dos seus eleitores. Por causa dos muitos erros que cometeu na Era PT e mesmo depois dela, ficou sem discurso, sem rumo, e sem rosto.

Corre sério risco de perder o governo do Estado mais importante do país. E de no Congresso, a emergir das urnas, contar com menos representantes. Será mais um partido de médio porte, como outros.

Quanto ao PT, ainda é muito cedo para dizer-se alguma coisa. Até mesmo para dizer que seu candidato participará ou não do segundo turno. Ele cresce. Mas sua rejeição cresce na mesma medida.


Ricardo Noblat: A falta que faz o capitão

O que será da campanha de Bolsonaro sem ele

O deputado Jair Bolsonaro (PSL), alvo de um atentado há 12 dias e internado em um hospital de São Paulo, tem um problema. Um baita de um problema.

Para ser preciso, Bolsonaro, que segundo os médicos está proibido de falar, não sabe que tem um problema. Seus companheiros de aventuras é que sabem e têm.

Como disputar o primeiro turno da eleição com um candidato que talvez não se recupere até lá por mais que seus filhos digam que ele é tão forte quanto “um cavalo”?

E se a saída de cena de Bolsonaro se estender por parte do segundo turno, quer ele o dispute como parece certo, ou caso fique de fora?

Bolsonaro é ele mesmo e suas circunstâncias. Deu voz a um Brasil conservador, repleto de preconceitos e em parte saudoso do regime da lei e da ordem.

Como Donald Trump, nos Estados Unidos, jamais imaginou que poderia chegar lá, nem se preparou para tal. Agora, sequer pode refletir a respeito.

O que se apresenta como o estado maior da campanha de Bolsonaro pode ser um estado, mas de baixa estatura e formado à base do improviso.

O vice, um general que admite o autogolpe e que defende uma nova Constituição escrita a poucas mãos, não foi a primeira escolha de Bolsonaro, nem a segunda.

O presidente do partido ao qual o candidato se filiou é um evangélico ensandecido, capaz de disparar os mais chocantes absurdos sem franzir o cenho.

Os filhos… Três dependem do pai para se eleger. O quarto se prepara para entrar na política surfando na popularidade do pai. São toscos como Bolsonaro.

Sobra o economista Paulo Guedes, a quem Bolsonaro delegaria a condução do governo uma vez eleito. Guedes considera Bolsonaro um cara domesticável, ou a domesticar. Veja só…

Enquanto permanecer sem voz, entre a vida e a morte, quem comandará uma tropa dessas? Quem arbitrará as divergências? Quem falará para a turba inquieta e sem líder no momento?

O atentado serviu para dar coesão aos eleitores do capitão que baixou ao hospital para se curar de ferimentos. Mas eles não são suficientes para Bolsonaro se eleger.

Quem negociará apoios a Bolsonaro em um eventual segundo turno? Quem firmará compromissos em seu nome? Como os eleitores reagirão à sua ausência?

O dia D de Alckmin
É fato que muitos políticos abandonaram Geraldo Alckmin (PSDB) mal os nove partidos que o apoiam oficializaram seu apoio. E que Alckmin sabia que isso iria acontecer.

É fato que embora Alckmin se arraste sem conseguir decolar, ainda restam 24 dias até que os eleitores possam definir que candidatos disputarão o segundo turno da eleição presidencial.

Pode não parecer, mas isso significa muito tempo. Em 2006, por essa época, Lula, que tentava se reeleger, tinha uma vantagem de 22 pontos percentuais sobre Alckmin.

A vantagem evaporou-se rápido. Alckmin foi para o segundo turno com pinta de quem talvez vencesse. Tornou-se autor de uma proeza notável: teve menos votos do que no primeiro turno.

Mas políticos ávidos por votos não querem saber de nada disso. O prazo que deram para que Alckmin se mexa convincentemente para cima deverá se esgotar hoje, dia de nova pesquisa Datafolha.

ACM Neto, prefeito de Salvador e presidente do DEM, aliado sincero de Alckmin, assiste a ameaça de debandada de suas bases eleitorais na Bahia e tenta contê-la.

Aos candidatos do seu partido irredutíveis em tal propósito, ele deseja felicidades e renova o compromisso de estarem sempre juntos. Aos que não são candidatos, pede que fiquem com Alckmin.

A questão não é simples assim. Os não candidatos, do DEM ou de qualquer outro partido, disputam indiretamente a eleição por meio dos que são candidatos. Tem interesse que eles se elejam.

A um político, pode-se pedir tudo – menos que se suicide. Daí… Pois é. O relógio corre contra Alckmin.


Ricardo Noblat: A verdade sobre o atentado a Bolsonaro

Um desempregado dono de cartão de crédito internacional

Quem tenta assassinar um candidato a presidente da República, da forma como o fez o ex-pedreiro Adélio Bispo de Oliveira em Juiz de Fora, é um louco, mentalmente desequilibrado a julgar pelas mensagens confusas que costumava postar em sua página no Facebook, à procura de fama instantânea.

Mas pode também não ser só isso. O agressor do deputado Jair Bolsonaro (PSL) pode ter estado a serviço de quem desejava tirar Bolsonaro do páreo presidencial ou simplesmente implodir o processo eleitoral brasileiro, sabe-se lá por que e com qual objetivo. É o que precisa e deve ser investigado também.

A princípio, dava-se como certo que Bispo agira por sua própria conta e risco, sem ajuda de ninguém. O ministro Raul Jungmann, da Segurança Pública, até falou em ação de “um lobo solitário”. Mas surgiram evidências para reforçar a suspeita de que Bispo obedeceu a ordens de um desconhecido, ou de mais de um.

Bispo treinou tiro ao alvo em um clube paulista, frequentado por filhos de Bolsonaro. Bispo pagou adiantada sua hospedagem por 15 dias em uma pensão de Juiz de Fora. Bispo tinha um laptop novo. Bispo usou computadores de uma lan house por mais de uma semana antes de dar a facada no candidato.

E aqui vem a parte mais interessante da história: o sujeito que passara por 12 empregos em sete anos e estava desempregado, possuía um cartão de crédito internacional do Itaú, dois cartões da Caixa Econômica Federal (um de conta corrente e outro de conta poupança), além de extratos dos dois bancos em nome dele.

A quem interessava matar ou apenas ferir Bolsonaro – e por quê? O que esperava ganhar com isso? A mesma pergunta espera há seis meses uma resposta que esclareça de uma vez por todas o assassinato no centro do Rio da vereadora Marielle Franco (PSOL).


Ricardo Noblat: Ibope ou Datafolha – quem está certo?

Faça sua escolha
A pesquisa Ibope divulgada ontem não foi encomendada por ninguém. Foi feita por conta e risco do Ibope, certamente interessado em avaliar o impacto do atentado de Juiz de Fora na evolução das intenções de voto. É meritório que tenha sido assim, afinal pesquisa custa caro.

Ao Ibope não importa que os resultados da pesquisa tenham reanimado os bolsonaristas, antes abatidos com a pesquisa Datafolha que deixara seu ídolo em maus lençóis. Instituto sério como são os dois deve se preocupar apenas em fazer bem o seu trabalho, e ponto.

Uma pesquisa não está certa e a outra errada. O Ibope foi à campo no sábado dia 8, domingo dia 9 e segunda-feira dia 10 quando Bolsonaro estava no auge de sua exposição depois do atentado do dia 6. O Datafolha foi a campo somente na segunda-feira dia 10. Nesse mesmo dia tabulou e divulgou os resultados.

Os dois institutos entrevistaram cerca de 2 mil eleitores – o Datafolha em um único dia, o Ibope em três dias. Uma cláusula pétrea no mundo das pesquisas de opinião pública diz que só se pode comparar resultados de pesquisas feitas por um mesmo instituto, porque os métodos podem ser diferentes.

São parecidos, mas não são iguais, os métodos de aplicação de pesquisas do Ibope e do Datafolha. E são radicalmente diferentes dos métodos de pesquisas de institutos que preferem ouvir os entrevistados por telefone. O Ibope os entrevista em suas casas. O Datafolha, nas ruas (ou é o contrário?).

No essencial, as pesquisas Ibope e Datafolha coincidem. Bolsonaro lidera, apesar da resistência das mulheres ao seu nome; Ciro Gomes, Marina Silva e Geraldo Alckmin estão embolados na disputa pelo segundo lugar; e Fernando Haddad começa a crescer à base de votos transplantados de Lula.

Nesta sexta-feira, o Datafolha dará à luz uma nova pesquisa contratada pela Folha de S. Paulo e a TV Globo. Emoção na veia para quem gosta de eleição.

Em breve, Lula livre!

Está tudo combinado
Ex-advogado de Lula, o ministro Dias Toffoli, que amanhã assume a presidência do Supremo Tribunal Federal, porá para ser votada novamente a prisão em 2ª instância. Uma vez que ela deixe de valer, Lula será solto. Está previsto para acontecer no início de 2019, mas nada impede que depois da eleição ele seja solto.

Lula sairá da cadeia dizendo que a Justiça, afinal, reconheceu a sua inocência tão proclamada por ele desde que foi preso. E quem acredita que Lula foi preso só para que não pudesse ser candidato e vencer a eleição, acreditará, sim, com mais fé ainda que ele não passou de uma vítima de um golpe. Tanto que acabou libertado.

Os políticos enrolados com a Lava Jato, mas não somente eles torcem desesperadamente por Lula livre. Ficará mais fácil para que escapem à Justiça. No tempo oportuno, se dirá que Lula solto é uma contribuição ao restabelecimento da paz política. E que o país, sob um novo presidente, precisará de paz para se reconstruir.


Ricardo Noblat: Eleição sem comoção

Jogo aberto

O atentado contra a vida do deputado Jair Bolsonaro (PSL) foi “um ataque à democracia”.

(Se foi, o eleitor não avaliou assim. Se avaliou, não está preocupado com a sorte da democracia – ou por que não liga para ela ou por que acha que ela resistirá ao golpe sofrido.)

O atentado de Juiz de Fora irá produzir uma profunda comoção.

(Aparentemente, não produziu. Do contrário, a comoção certamente teria impulsionado a candidatura de Bolsonaro – para o céu ou para o inferno.)
A história da eleição de 2018 foi uma até o dia 6 de setembro. Será outra a partir de então.

(A conferir, no futuro, se o atentado de fato mudou a história da eleição.)
Bolsonaro ficou onde estava nas intenções de voto do distinto público ouvido pelo Datafolha. Oscilou míseros dois pontos percentuais para cima, dentro da margem de erro da pesquisa.

É o campeão da rejeição, mas não se pode dizer que ela aumentou. A pesquisa anterior do Datafolha ainda contou com o nome de Lula, a de ontem não. Nesse aspecto, são incomparáveis.

Ciro Gomes (PDT) cresceu para além da margem de erro da pesquisa? Marina Silva (REDE) caiu para além da margem de erro? Geraldo Alckmin (PSDB) não saiu do lugar?

Ensina a ciência da pesquisa que se deve esperar que a próxima, aplicada pelo mesmo instituto, confirme ou não os resultados da anterior. Só assim se poderá falar em tendência de crescimento de uns e de queda de outros. Do contrário, terá sido um soluço.

O Datafolha voltará a campo amanhã, quinta e sexta-feira. E na própria sexta-feira divulgará os resultados de nova pesquisa. Esta noite será a vez do Ibope informar o que apurou desde sua última pesquisa da semana passada.

A eleição presidencial continua aberta. Só agora o eleitor começa a despertar para ela.

A hora e a vez do figurante

Que seja feita a sua vontade
No início dos anos 70 do século passado, ao entrevistar em Salvador o escritor Jorge Amado sobre seu processo de criação, ouvi dele o que aqui reproduzo de memória.

Disse-me que com frequência a história e os personagens que inventava escapavam ao seu controle. Simplesmente ganhavam independência. E a ele só restava cumprir suas vontades.

Na política como na literatura – por que não?

Lula e Jair Bolsonaro criaram enredos dramáticos para sustentar suas candidaturas a presidente.

Uma a do encarcerado de Curitiba, banido injustamente da vida pública por uma conspiração das elites, e que clama para ser julgado pelo povo em eleição livre.

A outra do ex-capitão disposto a pegar em armas para defender o povo de uma classe política corrupta, de um Estado incapaz de protegê-lo dos bandidos e de uma esquerda perigosa.

Um dos enredos poderá vingar ou não – o de Bolsonaro tem mais chances. Os ou dois poderão ceder o lugar a outro. Dependerá da vontade de quem sempre é tratado como mero figurante.

Em poucas ocasiões o figurante ocupa a boca do palco. Essa é uma. E de sua interpretação dependerá o desfecho da peça.


Ricardo Noblat: Bolsonaro e a construção de um novo mártir

Ele e Lula lutam para ser lembrados

Se o PT pode apresentar Lula como mártir de um Brasil que queria ser feliz de novo, por que o PSL não pode fazer o mesmo com Jair Bolsonaro, mártir de um Brasil que suplica por ordem e segurança?

No caso de Bolsonaro, tanto mais, acreditam seus filhos candidatos a deputado e a senador que dependem dele para se eleger, e uma legião de outros candidatos país a fora.

No martírio de Bolsonaro tem sangue explícito e perigo de morte, tudo filmado à luz do dia. No de Lula, desespero pessoal e isolamento em uma cela à prova de holofotes.

O processo de construção de Lula mártir dura meses e foi concebido nos seus mínimos detalhes. O de Bolsonaro mártir, só teve início quando ele deu entrada no hospital de Juiz de Fora.

É recente, portanto, ainda engatinha e está sujeito à improvisação. A primeira peça foi o vídeo da roda de orações ao pé do leito de Bolsonaro mal ele acabara de ser operado.

A segunda peça, a foto de Bolsonaro em uma cadeira do hospital Alberto Einstein, em São Paulo, simulando o gesto de quem atira com uma arma, sua marca registrada.

A terceira, de péssimo gosto, foi a fotografia tirada pelo senador Magno Malta, do Espírito Santo, que mostra parte do corpo nu de Bolsonaro com todas as marcas da cirurgia.

A peça que deverá se tornar o ícone da campanha do candidato daqui para frente é a recriação da camisa suja de sangue usada por Bolsonaro na hora em que foi esfaqueado. É a mais preciosa.

Cada um ao seu modo, Lula e Bolsonaro esperneiam na maca para não serem esquecidos – Lula da cela, Bolsonaro do leito. Sem dúvida que não serão, embora por razões diferentes.

Alckmin e a hora do desespero
É tudo ou nada para Geraldo Alckmin, candidato do PSDB a presidente da República. Improvável que lhe traga boas novas a pesquisa de intenção de votos do Datafolha que começou a ser aplicada há pouco e cujos resultados serão revelados logo mais à noite pelo Jornal Nacional, da Rede Globo.

Para vencer ou ser derrotado mais rápido, Alckmin só terá um caminho daqui para frente: desconstruir a imagem positiva de Jair Bolsonaro junto a um expressivo contingente de eleitores. Sem tomar votos de Bolsonaro, Alckmin não irá a lugar algum. Morrerá na praia mesmo com a maré baixa.

Há muitos meios e modos de tentar isso, mas nenhuma garantia de que dará certo. Quase 80% do total de eleitores de Bolsonaro renovam sua determinação de não trocar de lado. O tempo de Alckmin ficou curto. Se até o fim desta semana ele não decolar, seus aliados políticos o abandonarão sem piedade.

Parte deles irá para o colo ainda machucado de Bolsonaro, pule de dez para o segundo turno. Parte para o colo desocupado de Ciro Gomes (PDT). O colo de Marina Silva (REDE) está destinado a acolher órfãos da candidatura de Lula e descrentes na candidatura de Fernando Haddad (PT), o poste que ainda não acendeu.

Nas eleições de 2014, Dilma Rousseff e Aécio Neves foram bem-sucedidos na tarefa de abater Marina mal ela alçara voo nas pesquisas de intenção de voto logo após a queda do avião que matou o candidato a presidente da República Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco.

A princípio, será solitária a tarefa de Alckmin de atirar pesado contra Bolsonaro. Ciro e Marina carecem de tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão para procederem da mesma forma. E Bolsonaro, por questão de saúde e também de desinteresse, ficará de fora dos próximos debates entre os candidatos.

Vida dura que segue para Alckmin.


Ricardo Noblat: O grave erro de Bolsonaro

Pediu para ser atacado – e será

Exibir-se como um paciente em veloz estado de recuperação, dando-se inclusive ao luxo de repetir o gesto de quem simula atirar com uma arma, pode ter servido a Jair Bolsonaro para reforçar a imagem de candidato indestrutível e valente, mas pôs fim à trégua que seus adversários haviam lhe concedido.

Quem ousaria criticar o recente alvo de um atentado que quase resultou em tragédia, e que jaz enfermo em um leito de hospital a precisar de urgentes cuidados médicos? Bolsonaro, digamos, ficou bom depressa demais. E, como mostra foto tirada por seu filho Eduardo, voltou a disparar. Pediu para ser baleado em troca.

A demora em sair do hospital e os boletins médicos diários fariam por Bolsonaro o que ele ficara dispensado de fazer. O país permaneceria em suspense enquanto não o visse plenamente bem disposto. Ninguém o acusaria de aproveitar-se do próprio sofrimento para faturar votos a qualquer preço.

Tal comportamento é próprio de políticos comuns, demagógicos, sem caráter, e Bolsonaro decididamente não seria um deles. O senador Magno Malta, candidato à reeleição no Espírito Santo, talvez fosse. Apressou-se a ser filmado em uma roda de orações ao pé da cama de Bolsonaro ainda em Juiz de Fora.

Melhor para os que disputam uma vaga no segundo turno foi o retorno relâmpago de Bolsonaro à caça de votos. Se o imprevisto não aprontar novamente, só haverá uma vaga de fato em jogo a ser preenchida por Marina Silva (REDE), ou Ciro Gomes (PDT) ou Geraldo Alckmin (PSDB). A outra vaga já tem dono.

Eleitorado algum é mais fiel a um candidato do que o de Bolsonaro, conferiu a mais recente pesquisa de intenção de voto do Ibope aplicada antes do atentado de Juiz de Fora. Não tem para ninguém em matéria de voto cristalizado. E ele cresceu depois de ter sido esfaqueado, como atestarão as próximas pesquisas.

Esta será a eleição das vítimas. Uma de verdade: Bolsonaro. A outra falsa vítima de um golpe: Lula, condenado e preso por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Não merecíamos uma eleição melhor?

A eleição dos generais
Quando culpa a mídia pelo atentado a Jair Bolsonaro, o que pretende o general da reserva Augusto Heleno, ex-comandante das tropas brasileiras no Haiti, e conselheiro do candidato?

Intimidar a mídia, jogar a população contra ela, calá-la ou torná-la irrelevante. É o sonho da direita extremada que aqui nunca chegou ao poder pelo voto, mas parece próxima disso.

Quando defende o coronel Brilhante Ulstra, o único militar acusado pela Justiça de torturar presos da ditadura de 64, o que pretende o general da reserva Antonio Mourão, vice de Bolsonaro?

Primeiro expor o que de fato pensa a respeito de ditadura e tortura. Segundo assustar os que apoiam os demais candidatos a presidente ou que possam apoiá-los.

A propósito de Ulstra, Mourão disse que “os heróis também matam”. Em entrevista a GloboNews, admitiu que Bolsonaro eleito poderá aplicar o “autogolpe”, provocando nova intervenção militar.

Desde o fim da ditadura que durou 21 anos, os militares jamais tiveram um candidato a presidente para chamar de seu. Agora, tem. Um paisano disposto a governar em nome deles.

Outro drible do PT na Justiça
O programa de propaganda do PT exibido ontem à noite na televisão foi mesmo de quem?

De Lula, que teve negado pela Justiça o pedido de registro de sua candidatura a presidente? Ou de Haddad, por ora apenas vice?

Outra vez o PT burlou a determinação da Justiça. E como essa só age quando provocada, está à espera de ser.


Ricardo Noblat: Como vai Lula

Vai mal

Desde que foi preso, apesar de os seus visitantes dizerem o contrário para efeito de propaganda, Lula convivia com três sentimentos: a raiva, o inconformismo e a esperança na libertação rápida e na candidatura a presidente.

A esperança se foi, embora ele saiba que o ministro Dias Toffoli, tão logo assuma a presidência do Supremo Tribunal Federal, tentará dar um jeito para soltá-lo a partir do início do próximo ano. Ou antes, se for possível.

Acentuou-se a inconformidade de Lula. Ele não cansa de repetir que venceria a eleição presidencial direto no primeiro turno.

Continua com raiva, muita raiva. Nem o PT escapa dela. Quase nada escapa.

Bolsonaro cresce
Efeito atentado

Sondagem eleitoral por telefone feita nas últimas 24 horas sob a encomenda de uma importante instituição do mercado financeiro trouxe duas boas notícias para o deputado Jair Bolsonaro (PSL).

A rejeição ao nome dele, a maior de um candidato a presidente da República segundo a mais recente pesquisa do Ibope, parou de crescer. A intenção de voto em Bolsonaro cresceu cinco pontos.

Geraldo Alckmin, candidato do PSDB, está onde sempre esteve. E Fernando Haddad (PT), que por enquanto Lula e o PT evitam chamar de seu, está na casa dos 8%.

É de vitória o clima que se respira na suíte do quinto andar do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde Bolsonaro se recupera do atentado sofrido em Juiz de Fora.

Bolsonaro torce para enfrentar Haddad no segundo turno. Haddad torce para enfrentar Bolsonaro. Um dos dois está errado.


Ricardo Noblat: Lula bate o pé e insiste com a farsa

E se ele decidir não indicar ninguém para candidato?

Estelionato é “obter, para si ou para outro, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento”, segundo o Código Penal brasileiro. Pena: de um a cinco anos de reclusão.

Estelionato eleitoral é “um conceito da ciência política utilizada para descrever os casos de candidatos eleitos com uma plataforma ideológica que, após a eleição, adotam um programa de signo ideológico contrário”, segundo a Wikipédia. Pena: nenhuma.

Misture as duas definições, bata bem e não tenha dúvida: Lula é um estelionatário. Sua falsa candidatura a presidente da República foi o meio fraudulento encontrado por ele para se beneficiar e conferir vantagem ilícita a quem venha a substitui-lo.

Estelionato eleitoral só se configura depois que as urnas cantam seu resultado, que o eleito começa a governar e a fazer o contrário do que prometeu. A criatividade assaz louvada do brasileiro acaba de patentear o estelionato eleitoral que dispensa tudo isso.

A candidatura de Lula não existe, jamais existiu. Ele não poderia ser candidato, impedido por lei que carrega sua assinatura. Mas foi preciso que a mais alta corte da Justiça Eleitoral esfregasse tudo isso na cara dele e na nossa cara para que… Para quê o quê?

Para nada. Para que parte de nós continue acreditando, por devoção ou ignorância, que Lula será, sim, candidato – quem sabe, não é? Fernando Haddad voou ontem a Curitiba com a esperança de voltar de lá ungido pelo encarcerado ilustre.

Voltou dizendo que o candidato será Lula para sempre, ou até quando ele quiser, ou até que se esgote o prazo de 10 dias dado pela Justiça para que o PT indique outro candidato. Pobre do Haddad, que imagina estar cumprindo bem o seu papel de capacho.

E se Lula decidir no último minuto que o melhor para o PT (leia-se: o melhor para ele) seria não indicar ninguém, ficando de fora da eleição presidencial? Hipótese remota? Quem disse? Há gente no partido, não sei se muita ou pouca, que deseja isso.

As alianças nos Estados já foram feitas. Faltam apenas 34 dias para o primeiro turno. O cadáver de Lula seguiria sendo explorado por quem já o faz. O choro, o ranger de dentes, a denúncia de mais um golpe não perderiam seus efeitos dramáticos e eleitorais.

De resto, convenhamos, seria muito mais coerente. Por que disputar se o candidato líder de todas as pesquisas de intenção de votos foi vetado por uma justiça infame, a serviço dos golpistas, reles capitães do mato de poderosos interesses internacionais?

Lula nunca foi de dividir o palco com ninguém (não é verdade, José Dirceu? Não é verdade, Antônio Palocci ou Tarso Genro?). Deu um chega para lá em Ciro Gomes só para que ele não ganhasse os poucos segundos de televisão que o PSB tinha para lhe dar.

PT é o nome de fantasia do lulismo. Os que se reuniram em torno de Lula para fundar o partido ou já morreram de morte morrida ou perderam relevância. Alguns ainda vagam arrastando correntes que já não fazem mais barulho nem arrancam fagulhas do chão.

Não se duvide da ousadia de um sobrevivente, que é o que Lula é. Conta a história oficial que ele sobreviveu à seca do Nordeste, à miséria da periferia de São Paulo, à amputação de um dedo quando usava macacão e à perseguição militar como líder sindical.

Sobreviveu à desconfiança ao seu nome de tendências mais radicais da esquerda, a três derrotas como candidato a presidente, aos desafios de governar um país complicado, de eleger e reeleger sua sucessora e de enriquecer como jamais pensara. (Ufa! Basta!)

Só sucumbiu ao rigor do juiz Sérgio Moro. Desde então estrebucha na maca para fingir que ainda tem futuro como líder político. Futuro não tem. Diz a Lei da Ficha Limpa que o ficha suja fica inelegível por oito anos, além do tempo a que foi condenado.

No caso de Lula, ele pegou 12 anos de cadeia. Não importa que saia de lá antes do tempo previsto. Importa que estará com 93 anos de idade quando puder se candidatar de novo. Mesmo que viva tanto, é improvável que o Brasil de 2038 lhe dê ouvido.