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Ricardo Noblat: As trombetas de Paulo Guedes e de Rodrigo Maia

As trombetas de Paulo Guedes e de Rodrigo Maia

Demissão de general? Bobagem. Se o presidente Jair Bolsonaro mandasse embora qualquer militar empregado no governo haveria choro e ranger de dentes, sim, mas nada muito além disso. Os demais não pediriam demissão. Tudo pela estabilidade do país!

A quebra do sigilo bancário e fiscal de Flávio Bolsonaro e de mais 88 ex-funcionários do seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio? Flávio que se arranje, com a ajuda discreta do pai. O que vier a acontecer com ele é jogo jogado.

Tsunami de verdade, capaz de demolir e de afogar tudo que encontre pelo caminho, é o que anunciou, ontem, em Brasília o ministro Paulo Guedes, da Economia, e reforçou em Nova Iorque o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

O deputado disse para uma plateia de empresários americanos e brasileiros que as amarras impostas pelo teto de gastos em combinação com a falta de crescimento econômico, pode levar o Brasil em breve a um ” colapso social”.

Maia mostrou-se preocupado com o possível retorno do país ao mapa da fome. “Voltamos a fazer a campanha contra a fome no final do ano passado e ninguém deu bola para isso”, observou. “Além do ambiente mais radical, temos agora uma sociedade mais sofrida”.

Defendeu a revisão do teto de gastos após a aprovação da reforma da Previdência que, segundo ele, será insuficiente para ressuscitar a economia brasileira. E a aprovação de um projeto de crédito de R$ 240 bilhões para o pagamento de despesas correntes.

Guedes foi mais apocalíptico do que Maia. “Estamos à beira de um abismo fiscal. Vamos nos endividar para pagar Bolsa Família, BPC, Plano Safra e as aposentadorias do regime geral, INSS. Estamos nos endividando para pagar despesas correntes”, disse a parlamentares.

E previu: “Se o Congresso não aprovar o projeto de crédito suplementar, será necessário travar os pagamentos do governo”. Sem o crédito, os pagamentos de subsídios param em junho, de benefícios assistenciais em agosto e, do Bolsa Família, em setembro.

Queixou-se de que, como ministro da Economia, manda muito pouco. Afirmou que é Bolsonaro quem decide onde são feitos cortes orçamentários. É ele quem indica as prioridades do governo. “O poder está em quem sanciona as leis”, ensinou.

Está claro que Guedes encontrou uma situação pior do que imaginara. O que vendeu como receita para resolver o nó das contas públicas tinha mais a ver com mágica. Para completar, Bolsonaro, o dono da caneta, não sabe o que faz, o que diz e para onde vai.

Um governo medíocre, sem projeto a não ser o de sobreviver, sem apoio no Congresso, em guerra permanente com os partidos, refém de um presidente que se diz eleito por milagre, e ameaçado de ter de suspender seus pagamentos por falta de dinheiro…

Quer tsunami maior do que o que se avizinha?

Ministros desautorizam Bolsonaro

Quem pode, pode
O ministro Paulo Guedes, da Economia, queixa-se de mandar pouco. Quem manda de fato, segundo ele, é o presidente Jair Bolsonaro. Porque é ele quem sanciona as leis.

Engana-me que eu gosto!

No último domingo, em entrevista à Radio Bandeirantes, Bolsonaro disse que havia pedido a Guedes que corrigisse a tabela do Imposto de Renda para 2020 aplicando a inflação. As faixas do imposto não são atualizadas desde 2015.

Guedes respondeu ontem que a correção não deve acontecer no momento em que governo fala em corte de gastos e insiste na necessidade da reforma da Previdência. O reajuste custaria de 50 bilhões a 60 bilhões de reais.

O porta-voz da Presidência, o general Otávio Rêgo Barros, saiu a campo para salvar a face de Bolsonaro. Explicou que a equipe econômica ainda realiza estudos para avaliar o reajuste, mas que não há prazo para o anúncio das mudanças.

Foi a segunda vez em uma semana que um ministro desautoriza o presidente. Bolsonaro revelou que prometera ao ex-juiz Sérgio Moro uma vaga no Supremo Tribunal Federal para que ele aceitasse ser ministro da Justiça. Moro desmentiu Bolsonaro.

Ficou tudo por isso mesmo. Segue o baile.

Nas asas da FAB

País rico é outra coisa
Para falarem a respeito da crise que assola o Brasil, voaram a Nova Iorque cabeças coroadas da República. Poderiam tê-lo feito em voos comerciais. Mas para não perderem a majestade foram de jatinho.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), voou em um jatinho da Força Aérea Brasileira (FAB) e ofereceu carona ao ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), voou em outro jatinho da FAB acompanhado de um seleto grupo de senadores. Quem pagará a conta? Adivinhe!


Ricardo Noblat: Flávio segue os passos de Lula

A hora da verdade para o filho do presidente

O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) não devia temer a quebra do seu sigilo bancário e fiscal bem como o da sua família autorizado pela justiça. Muito menos deveria acusar o Ministério Público do Rio de persegui-lo com a intenção de atingir por tabela o presidente Jair Bolsonaro. Não faz sentido.

Como inocente que é e não se cansa de declarar, tanto melhor que seja assim porque logo se livrará das suspeitas que o atormentam desde a descoberta dos rolos de Fabrício Queiroz, seu ex-assessor na Assembleia Legislativa do Rio e amigo da estreita confiança do seu pai há 40 anos.

Se foi Queiroz de fato o único responsável por eventuais mal feitos que lhe renderam uma fortuna considerável e desproporcional aos seus ganhos como servidor público, que ele pague pelo que fez. Ficará provado então que Queiroz traiu a confiança de Flávio e do seu pai que o indicou para o cargo.

A essa altura, se nada existe que possa macular a folha corrida de Flávio, ele deveria comemorar na companhia de amigos a devassa nas suas contas. Pois quanto mais ampla, rigorosa e transparente ela for, mais convincentes serão seus resultados. A não ser que Flávio… Não, nem pensar!

A quebra do sigilo foi concedida no último dia 24. Certamente por isso, informado prontamente a respeito, Bolsonaro chamou o filho e o avisou falando grosso: se os rolos do Queiroz pesarem para o seu lado não conte comigo. Arranje-se sozinho. Minha proteção como presidente não terá.

Daí o nervosismo do senador conferido pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, em um encontro por aqueles dias. Flávio estava uma pilha de nervos, embora tentasse dissimular. Compreensível: para qualquer pessoa, mesmo que inocente, ser investigada é uma aporrinhação.

No último domingo, quando Bolsonaro aproveitou uma entrevista à Rádio Bandeirante para defender Flávio, ele e o filho sabiam que estava para vazar a notícia da quebra do sigilo. No mesmo dia, Flávio defendeu-se em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. Voltou a criticar o Ministério Público.

Confrontar a justiça em casos assim não é a maneira mais inteligente de proceder. Esse foi o maior erro cometido por Lula desde que seus rolos foram denunciados. Se tivesse, por exemplo, legalizado a posse do tríplex do Guarujá e do sítio de Atibaia, Lula talvez não tivesse sido condenado.

Flávio parece estar indo pelo mesmo caminho de Lula. Antes da quebra do seu sigilo, por duas vezes tentou barrar a investigação do Ministério Público com recursos que impetrou no Supremo Tribunal Federal. Alegou que tinha foro privilegiado porque se elegera senador. Perdeu.

Agora, tenta esconder-se à sombra do pai ao afirmar que o verdadeiro alvo da justiça é o presidente, não o seu filho. É uma jogada primária que não costuma funcionar. Além de falta de imaginação, ela revela fraqueza, embute um pedido de socorro à instância invocada e acarreta descrédito.

Embora tenha dito ao filho que não o protegerá, Bolsonaro poderá acabar caindo na armadilha montada por Flávio. Ele costuma dizer que filho é filho, coisa de sangue, e que jamais conseguirão separá-los deles. Com tal comportamento, arrisca-se a afundar seu governo.

Credibilidade ladeira a baixo

E o tsunami?
O que aconteceria nos Estados Unidos se o presidente Donald Trump, mesmo ele dado a gestos intempestivos, anunciasse de repente que está por vir um tsunami, sem esclarecer do que se tratava?

Ou se algo parecido fosse anunciado por Emmanuel Macron na França, ou por Thereza May na Inglaterra, ou por Angela Merkel na Alemanha, ou mesmo por Maurício Macri na Argentina? O que aconteceria nesses países?

Aqui, o presidente Jair Bolsonaro anunciou na semana passada que haverá um tsunami em breve. E aí… Aí nada aconteceu. A Bolsa de Valores não subiu nem caiu, não houve corrida aos supermercados, nada, nada.

Ou Bolsonaro deixou de ser levado a sério pelos brasileiros ou ninguém aqui leva nada a sério. Faça sua escolha.

O que Gleisi diz não se escreve

Insanidade em alta
A presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, disse que “completados três anos do golpe contra ex-presidenta Dilma Rousseff, o Brasil se vê diante de uma crise financeira e econômica grave e um horizonte devastador para o futuro do país”.

Faltou dizer que a crise deu seus primeiros sinais no final do segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e instalou-se de vez durante os dois governos de Dilma, escolhida por ele porque seria “uma grande gestora”. Quanto ao “golpe”…

Chega de dar trela a Gleisi.


Ricardo Noblat: Suprema maldade com Moro

De mãos abanando

Deputados e senadores ferozmente contrários à aprovação do pacote de combate ao crime e à corrupção enviado pelo governo ao Congresso cogitam uma suprema maldade para atingir diretamente o ministro Sérgio Moro, da Justiça e da Segurança Pública, a quem temem e querem ver pelas costas.

Moro foi o autor do pacote. E uma das medidas ali propostas proíbe a indicação para o Supremo Tribunal Federal de quem tenha, nos quatro anos anteriores, “ocupado mandato eletivo federal ou cargo de procurador-geral da República, advogado-geral da União ou ministro de Estado”.

A maldade em estudo: aprovar só parte do pacote, desidratado das medidas mais duras contra a corrupção e de outras que, segundo eles, demonizam a política. Mas manter entre as medidas aprovadas a que impediria Moro de ser indicado a ministro do Supremo como o presidente Bolsonaro promete fazer.

Pela primeira vez em público, Bolsonaro confessou que garantiu a Moro fazê-lo ministro do Supremo, condição para que ele afinal aceitasse ser ministro do seu governo. Sua entrevista à rádio Bandeirantes foi uma maneira de afagar o ex-juiz no momento em que Moro só colhe dissabores.

O mais recente deles foi a aprovação por Comissão Especial do Congresso da devolução ao Ministério da Economia do Controle de Atividades Financeiras (COAF), órgão que na Medida Provisória que deu nova configuração administrativa ao governo foi transferido para o ministério ocupado por Moro.

Dissabor tão recente quanto foi também a assinatura por Bolsonaro do decreto que ampliou o porte de armas. Moro teve apenas 24 horas para examinar o decreto e dar sua opinião. Foi contra ampliação tão ambiciosa. Fez uma série de reparos. Não foi atendido por Bolsonaro.

Daí o afago que ganhou ontem do presidente. “Eu fiz um compromisso com ele porque ele abriu mão de 22 anos de magistratura. Eu falei: a primeira vaga que tiver lá, vai estar a sua disposição”, declarou Bolsonaro, a propósito da futura indicação de Moro para uma vaga de ministro no Supremo.

Tradução do recado de Bolsonaro para Moro: fique comigo até o fim do próximo ano que cumprirei o que combinamos. É claro que a nomeação depende da aprovação do seu nome pelo Senado, e aí é com você. (Moro entrou numa fria por excesso de vaidade.)

Para que Bolsonaro tenha renovado seu compromisso com Moro, expondo o ex-juiz a críticas dos seus desafetos, só parece haver uma explicação razoável: Moro, como alguns dos seus assessores admitiram, ameaçou largar o ministério por já ter sido obrigado a engolir muitos sapos.

Boletim sobre os garotos Bolsonaro

Positivo e operante
Foi um fim de semana de trabalho para os filhos do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais e também fora delas.

A deixa foi dada pelo patriarca, que em entrevista declarou sobre Flávio, o Zero Um:

“O PSL do Rio tem a acusação de três mulheres laranjas. Cada uma recebeu R$ 2,8 mil. Por que recebeu? Para pagar contador. E a imprensa nos acusa, porque meu filho era presidente do PSL, em cima disso. Agora, vai afastar meu filho do Senado por causa de R$ 2,8 mil para três mulheres? Uma acusação política maldosa.”

Flávio valeu-se da deixa para falar ao jornal O Estado de S. Paulo. Disse que não sabe o paradeiro do seu ex-assessor Fabrício Queiroz, acusado de movimentar mais dinheiro do que podia dispor. E que ele traiu sua confiança.

Acusou mais uma vez o Ministério Público do Rio de investiga-lo ilegalmente e de quebrar o seu sigilo bancário. Flávio quer que a investigação seja anulada. Sua entrevista parece uma vacina contra novas informações sobre o assunto que possam vazar a qualquer momento.

Eduardo Bolsonaro, o Zero Três, alertou seus seguidores no Twitter com uma mensagem enigmática: “Quem achou que as eleições seriam a guerra errou. As eleições foram uma batalha, a guerra está apenas começando”.

Quanto a Carlos, o Zero Dois, que costuma psicografar o pai, limitou-se a reproduzir uma postagem do jornalista Alexandre Garcia no Twitter, acrescentando-lhe um curto comentário. Garcia escreveu:

“Fácil de perceber: os derrotados nas urnas querem impedir no tapetão que sejam postas em prática as teses vitoriosas na eleição.”

Carlos comentou: “Os traíras e caroneiros também”.

Bye, bye, 2019

O ano já deu o que tinha que dar
Se a reforma da Previdência for aprovada no Congresso sem sofrer um radical processo de emagrecimento, agradeça-se em primeiro lugar a Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, em segundo a David Alcolumbre (DEM-AP), presidente do Senado, e em seguida ao ministro Paulo Guedes, da Economia, e à sua equipe.

Essa é a convicção não só do mercado financeiro, mas também de ministros que cercam o presidente Jair Bolsonaro dentro do Palácio do Planalto. Se a reforma fosse recusada, Bolsonaro não sentiria o menor abalo. Jogaria a culpa no Congresso pela derrota e o culparia também pela paralisação do governo por falta de dinheiro.

Hoje, o governo está parado menos por escassez de dinheiro e mais por falta de comando, de planos, e excesso de conflitos internos. Bolsonaro tenta repetir o que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso conseguiu com sucesso no seu primeiro mandato – governar no gogó. Com a vantagem de dispor das redes sociais onde é psicografado pelo filho Carlos, o Zero Dois.

A reforma da Previdência será aprovada, admitem líderes de todos os partidos, mas não tão rapidamente como deseja o governo. O mais provável é que fique para ser votada pela Câmara depois do recesso do meio do ano, lá por agosto. Se mais tarde o Senado aprová-la com modificações, voltará à Câmara para novamente ser votada. E assim se consumará 2019.

Não há no horizonte o mais pálido sinal de recuperação da economia. As projeções de crescimento do Produto Interno Bruto estão sendo remarcadas para baixo mês após mês – e tudo indica que assim será até o fim do ano. O desemprego deverá crescer, bem como a inflação, ambos em proporções modestas. O primeiro Natal do país sob Bolsonaro deverá ser uma tristeza.


Ricardo Noblat: Bolsonaro mete a mão na ABIN

Troca de comando

O presidente Jair Bolsonaro mandou e o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, obedeceu. Em breve, quem comandará a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) será Alexandre Ramagem Rodrigues, delegado da Polícia Federal.

De quem se trata? Rodrigues cuidou da segurança da campanha de Bolsonaro depois da facada que o então candidato levou em Juiz de Fora. É homem da absoluta confiança dele. Com a vantagem de que sabe muito também sobre as milícias do Rio onde já trabalhou.

Tal conhecimento poderá ser útil a Bolsonaro no momento em que seu filho Flávio acabou envolvido nos rolos do ex-motorista Fabrício Queiroz, sumido há meses. Queiroz empregou parentes de milicianos no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio.

Flávio condecorou policiais militares acusados de ser milicianos. Rodrigues participou da Operação Cadeia Velha, um braço da Lava Jato, que prendeu no Rio deputados estaduais suspeitos de receberem propinas e de ligação com o crime organizado.

A ABIN é o serviço de inteligência civil do Brasil. Foi criada em 1999, mas com outros nomes existe desde 1927. Durante a ditadura militar de 64 chamou-se Serviço Nacional de Informações. Tem escritórios em todos os Estados e representações em 14 países.

Temer livre!

A justiça do espetáculo
Por dois votos contra 1, a Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 2.ª Região (TRF-2) decidiu que o ex-presidente Michel Temer e o coronel da reserva da Polícia Militar paulista João Baptista Lima Filho devem ser presos outra vez.

Eles foram presos preventivamente em 21 de março passado por ordem do juiz Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Federal Criminal do Rio. E libertados quatro dias depois por decisão liminar (provisória) do desembargador Antonio Ivan Athié, do TRF-2.

Bretas achou que em liberdade eles poderiam destruir provas que os implicassem no desvio de R$ 1,8 bilhão das obras na usina nuclear de Angra 3. Athié achou que a prisão não atendia às mínimas exigências estipuladas em lei, e por isso mandou-os para casa.

O Ministério Público Federal pediu para que a prisão fosse restabelecida valendo-se dos mesmos argumentos esgrimidos por Bretas para prendê-los da primeira vez. E o pedido foi aceito pelo TRF-2 com o voto contrário de Athié.

Os dois desembargadores que votaram a favor da nova prisão reconheceram que a liberdade de Temer e do coronel Lima Filho não punham em risco a ordem pública, mas a concederam. Por quê? Pela necessidade de se dar exemplo à sociedade.

Entre as razões para que se prenda uma pessoa de acordo com a lei não está a necessidade de se dar exemplo à sociedade, mas de se fazer justiça. Temer e Lima Filho não ameaçam fugir. A essa altura não teriam nem mais como influir no rumo das investigações.

A decisão do TRF-2 acabará sendo revertida em breve pelo Superior Tribunal de Justiça. Mas até que seja os dois ficarão presos unicamente para satisfação dos seus algozes. A justiça do espetáculo se manifestou mais uma vez.


Ricardo Noblat: Bolsonaro, o boneco de Olavo

Fardas maculadas

Entre Olavo de Carvalho, ex-astrólogo e autoproclamado filósofo, e os mais de 100 militares que já empregou no seu governo, o presidente Jair Bolsonaro preferiu ficar do lado do primeiro.

Pouco importa que Olavo tenha enxovalhado a imagem e a honra de generais da reserva que hoje ocupam ministérios e têm direito a gabinetes no Palácio do Planalto.

Pouco importa também que Olavo tenha descido ao fundo do poço e usado expressões chulas para debochar do general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, gravemente enfermo.

Bolsonaro está com ele e não abre. A ficar solidário com os generais humilhados, defendeu a liberdade do seu guru de dizer o que quer: “Ele é dono do próprio nariz, como sou do meu”.

Há pelo menos duas razões para que Bolsonaro proceda assim. A conhecida: ele acha que deve sua eleição mais a Olavo do que aos militares. A oculta: Bolsonaro borra-se de medo de Olavo.

O presidente teme virar alvo dos insultos de Olavo e, por tabela, das hordas de fanáticos do falso filósofo nas redes sociais. Prefere, se esse for o caso, até mesmo se indispor com os militares.

Foi o falso filósofo que construiu parte do discurso com o qual Bolsonaro se elegeu. Foi ele que o orientou em momentos difíceis de sua campanha. Seus filhos são “olavistas” de quatro costados.

Mais de 57 milhões de brasileiros votaram em Bolsonaro, mas é Olavo a voz mais influente aos seus ouvidos. Embora costume falar grosso, Bolsonaro é conhecido como um fraco, um frouxo.

Não é um líder. Jamais liderou coisa alguma. No seu tempo de Exército era o que militares mais graduados chamavam de “um bunda suja”, aquele destinado a não subir na carreira. Não subiu.

Indisciplinado, arruaceiro, tomou cadeia no quartel, acabou expelido da farda, e seus filhos foram recusados como alunos em colégios militares. Agora parece vingar-se por tudo que passou.

Nada de parecido aconteceu antes com as Forças Armadas, nem mesmo quando elas bancaram o golpe de 64 e sustentaram a ditadura que se arrastou por 21 anos.

À época, seus comandantes foram duramente criticados pelos que se opuseram aos seus atos e denunciaram os seus crimes, mas as críticas jamais resvalaram para o plano pessoal.

“Não se atira nos nossos”, ensina um oficial da reserva da Marinha. Bolsonaro assiste Olavo atirar. E se tentam impedir que ele prossiga atirando, Bolsonaro sai em seu socorro.

Haverá limites para Olavo? Qual será o limite dos generais? Com todo o respeito: passar a mão na bunda deles está valendo?

O que o garoto quis dizer

Carlos, o dono das senhas do capitão
Em meio aos ataques desferidos contra os militares pelo autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, o vereador Carlos Bolsonaro, vulgo 02, postou no Twitter o seguinte comentário:

“Quando toda aquela parte da mídia (grobo, estabao, etc) começa a defender quem qualquer um jamais pensou que o fariam, pode ter certeza absoluta que ai tem muita, mas muita jogada. Mas quem somos nós nesse infinito estrelar, que na atual situação significa apenas ego? Brasil!”

Hábil torturador do idioma, Carlos exige, por vezes, o auxílio de um tradutor para que possa ser mais bem entendido. O que ele quis dizer com a mensagem acima?

Carlos está indignado porque a mídia em peso saiu em defesa dos generais enxovalhados por Olavo. Paranoico como é, vê nisso uma prova de que os generais e os jornalistas estão de conluio.

E manda subliminarmente outro pau nos generais quando pergunta: “Mas quem somos nós nesse infinito estrelar, que na atual situação significa apenas ego?”


Ricardo Noblat: Deu a louca no governo

Assim não é possível

O presidente Jair Bolsonaro trabalha afincadamente para dar razão aos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso. Lula disse que este é um governo de malucos. Fernando Henrique, mais contido, que desse jeito não dá.

Não bastasse a quantidade de graves problemas que tem para enfrentar, Bolsonaro decidiu adicionar mais um à sua carregada agenda: dar trela a um doido varrido, no caso o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, o guru dele e de sua família.

No ócio em que vive a milhares de quilômetros daqui, sustentado à distância por uma legião de devotos que pagam para ouvi-lo dizer qualquer idiotice, Olavo resolveu ocupar-se em jogar pedras no governo, mais precisamente nos militares que o integram.

O que ele pretende? Criar confusão, somente isso. Se der, valer-se da confusão para empregar no governo mais um dos seus discípulos. Talvez Carlos Bolsonaro no lugar do general que comanda a comunicação do governo. Ou outro nome qualquer.

E como reage Bolsonaro às pedras atiradas pelo ex-astrólogo, influenciador digital e doido de Richmond, capital do Estado americano de Virgínia? Mima-o. Faz-lhe todas as vênias. Há uma semana, concedeu-lhe a mais alta condecoração do Itamaraty.

O governo desmorona internamente por obra e graça do doido. Diante da inação de Bolsonaro, o general Villas Bôas, ex-comandante do Exército, lotado no Palácio do Planalto, sentiu-se obrigado a responder aos insultos de Olavo.

Fez mal. Se o doido não pode ser recolhido a um manicômio, devolver-lhe as imprecações lançadas é fazer o jogo dele. É tudo o que Olavo quer. Até porque como doido ele não respeita limites. E sempre será muito mais desbocado do que seus desafetos.

Há doidos suficientes em torno de Bolsonaro para que ele tenha de conviver com mais um. Ou não é doido o ministro que compara Bolsonaro a Jesus, ambos, segundo ele, pedras angulares? Ou não é doido o ministro que já viu Jesus no alto de uma goiabeira?

Não será um ato de insanidade cogitar uma viagem ao Texas para receber um prêmio que Nova Iorque recusou-se a entregar? Haverá ato mais insano do que reduzir verbas para Educação e ao mesmo tempo anunciar que o corte poupará os colégios militares?

Há neste governo ilhas de sanidades capazes de atuar melhor em ambiente de menos balbúrdia, mas até quando elas resistirão sem pedir as contas? Enquanto isso, o vice espera, vigia e ultimamente se finge de morto. Vice não é nada, mas pode um dia ser tudo.

Cutucaram a onça e ela acordou

Ruas para que te quero
Os quase 14 anos de governos do PT fizeram muito mal aos estudantes brasileiros. Suas entidades de representação se tornaram correias de transmissão das ordens emanadas de cima.

A União Nacional dos Estudantes (UNE), que há 50 anos liderou as maiores manifestações de massa contra a ditadura militar de 64, deixou-se aparelhar pelos partidos e tornou-se uma morta viva.

É possível que ela e suas congêneres estaduais ainda permaneçam assim por um bom tempo. Mas há sinais de que espontaneamente o movimento estudantil aqui e acolá começa a acordar.

Tal crédito deve ser dado ao governo Bolsonaro com todas as suas trapalhadas na área da Educação.


Ricardo Noblat: Complô para derrubar general

À falta do que fazer, outra crise

A bola da vez já foi o ministro Gustavo Bebbiano, da Secretaria-Geral da presidência da República, e ele acabou demitido pelo presidente Jair Bolsonaro.

A bola seguinte da vez foi o vice-presidente Hamilton Mourão. Como ele é inadmissível e sequer pensou em renunciar ao cargo, ficou, mas aparentemente enquadrado.

Desta vez a bola atende pelo nome de Carlos Santos Cruz, general da reserva, ministro da Secretaria de Governo, à qual se subordina a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom).

O busílis tem a ver com a Secom. Ela é responsável pela comunicação do Governo Federal, “coordenando um sistema que interliga as assessorias dos ministérios e das empresas públicas”.

Quem manda nela tem muito poder. Por ora, manda Santos Cruz. Carlos Bolsonaro, apoiado por seus irmãos e pelo autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, quer mandar.

Eles estão perto de conseguir o que querem, com a complacência de Bolsonaro, o pai. O empresário Fábio Wajngarten, que assumiu recentemente a Secom, é amigo de Carlos e discípulo de Olavo.

Wajngarten foi o autor da portaria que informou às empresas estatais que suas campanhas de propaganda deveriam ser submetidas ao crivo da Secom antes de irem ao ar.

A portaria acabou revogada por Santos Cruz que não fora consultado a respeito. De resto, ela desrespeitava a Lei das Estatais que confere soberania às empresas. O general começa a pagar pelo que fez.

Em ação coordenada, o humorista Danilo Gentili pinçou um trecho de uma entrevista concedida por Santos Cruz há cerca de um mês e sugeriu no Twitter que ele era defensor da regulamentação da mídia.

Olavo, guru da família presidencial, dispensou os bons modos que quase nunca usa e bateu duro no general: “Controlar a internet, Santos Cruz? Controlar a sua boca, seu merda”, escreveu no Twitter.

Então os garotos foram para cima. Eduardo, sem citar o general: “Mesmo ao falar de uma fake news contra Bolsonaro sempre defendemos a não regulamentação da internet ou da imprensa”.

Carlos, sempre prolixo: “A internet ‘livre’ foi o que trouxe Bolsonaro até a Presidência e graças a ela podemos divulgar o trabalho que o governo vem fazendo! Numa democracia, respeitar as liberdades não significa ficar de quatro para a imprensa, mas sempre permitir que exista a liberdade das mídias!”.

Finalmente, o pai, psicografado por Carlos: “Em meu governo, a chama da democracia será mantida sem qualquer regulamentação da mídia, aí incluída as sociais. Quem achar o contrário recomendo um estágio na Coreia do Norte ou Cuba”.

Meteu-se na fritura do general quem menos se esperava, o ministro Sérgio Moro, da Justiça e da Segurança Pública, um adepto recente do Twitter e das demais redes sociais. Ele bajulou o presidente:

“Bom lembrar que não fosse a vitória eleitoral do PR Jair Bolsonaro, estaríamos hoje sob ‘controle social’ da mídia e do Judiciário e que estava expresso no programa da oposição ‘democrática’”.

A hashtag #ForaSantosCruz foi um dos assuntos mais comentados no Twitter. O general subiu no telhado. Dali poderá descer suavemente, mantendo o emprego. Ou despencar.

Sem visto para Nova Iorque

É no que dá meter-se onde não é chamado
Quando Olavo de Carvalho compara um general do Exército brasileiro a uma “bosta engomada” ele critica apenas o general ao qual se referiu ou o Exército como um todo?

Quando Bolsonaro prega a deposição de Nicolás Maduro e diz que generais que o cercam são narcotraficantes ele apenas critica Maduro e os generais ou a Venezuela como um todo?

O vice-presidente Hamilton Mourão disse na noite de sábado que o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, ofendeu todo o Brasil ao criticar o presidente Jair Bolsonaro.

Um dia antes, Blasio comemorou a desistência de Bolsonaro de participar de um evento da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos onde seria agraciado com o título de “Homem do Ano”.

Blasio escreveu no Twitter que Bolsonaro era um valentão “que não aguenta um soco” e que “fugiu”. Empenhado em voltar às boas com Bolsonaro, Mourão respondeu:

“O prefeito @BilldeBlasio surpreende quem tem Nova York como a cidade que universalmente acolhe pessoas de todas as origens, culturas, crenças e opiniões. Ufano, ataca @jairbolsonaro sem conhecê-lo e ofende todo o Brasil, que é representado, democraticamente, por seu Presidente”.

Bolsonaro apenas colhe o que plantou. Tinha nada de aproveitar seu encontro com o presidente Donald Trump em Washington para anunciar que torce por sua reeleição?

Blasio é do Partido Democrata. Foi em Nova Iorque que Trump levou sua maior surra eleitoral ao se eleger há dois anos. Um eleitorado hostil a Trump é naturalmente hostil a Bolsonaro.

Quando disse que visitaria Londres já na condição de presidente eleito, Trump foi duramente malhado pelo prefeito da cidade. Houve manifestações de rua contra ele. Mas Trump não fugiu.

Bolsonaro deveria perguntar a Mourão o que o torna bem recebido onde quer que vá, e ele, não.

O que segura Ernesto

Balança, balança, mas não cai. Por enquanto...
Depois do fracasso de mais uma tentativa de se derrubar Nicolás Maduro na Venezuela, quem segura Ernesto Araújo no comando da diplomacia brasileira é Eduardo Bolsonaro, o 03, que manda nele.

Ernesto perdeu a confiança dos ministros Augusto Heleno e Carlos Alberto Santos Cruz, que se irritaram ao ver que ele comprara a versão americana de que a queda de Maduro era iminente.

Outro motivo de desgaste de Ernesto: o Brasil está sem embaixador nos Estados Unidos. E assim ficará até junho à espera da promoção a embaixador do ministro de segunda classe Nestor Foster.

Foster é o candidato de Ernesto do posto. O clima está tão pesado para o lado de Ernesto que ele deixou de ser convocado para todas as reuniões no Palácio do Planalto que tratam de política externa.

As informações são do relatório semanal da TAG REPORT, das jornalistas Helena Chagas e Lydia Medeiros.


Ricardo Noblat: Bolsonaro, vexame em duas línguas

Homenageado com medo da homenagem

O que pesou mais na decisão do presidente Jair Bolsonaro de cancelar sua segunda visita aos Estados Unidos em menos de quatro meses de governo?

O boicote dos americanos ao jantar oferecido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos que homenagearia Bolsonaro em Nova Iorque com o prêmio “Pessoa do Ano”?

Ou a descoberta de que o Banco do Brasil e o consulado-geral do país em Nova Iorque ajudaram a financiar a homenagem – o banco pagando R$ 47,5 mil por uma mesa, o consulado R$ 39,6 mil?

A Lei das Estatais impõe restrições ao banco para que participe como patrocinador de eventos de tal natureza. Em anos passados, jamais o banco esteve entre os apoiadores do jantar.

Em junho de 2004, quando a lei ainda não existia, o banco meteu-se numa encrenca braba ao comprar 70 mesas ao custo total de R$ 70 mil para um show que arrecadaria recursos para o PT.

Sua direção desculpou-se depois alegando que desconhecia a finalidade do show. Foi obrigada a cancelar a compra das mesas e a responder na justiça por ato de improbidade administrativa.

Desta vez, antes do anúncio de que Bolsonaro abrira mão da homenagem, a direção do banco informou que sua mesa no jantar seria ocupada por “clientes estratégicos”. O consulado calou-se.

Por muito menos, na semana passada, Bolsonaro mandou demitir o diretor de marketing do banco. Ele aprovara um comercial sobre diversidade que Bolsonaro detestou e que sequer fora exibido.

Para faltar ao jantar previsto para o próximo dia 14, Bolsonaro jogou a culpa no prefeito de Nova Iorque que o chamara de “ser humano perigoso” e em grupos de pressão contrários à homenagem.

O Museu de História Natural de Nova Iorque recusou-se a ceder parte do seu espaço para sediar o evento. Um hotel no centro da cidade, que aceitou sediar, está sendo pressionado a recuar.

Algumas empresas, como a companhia aérea Delta e a consultoria Brain & Company, decidiram deixar de patrocinar o evento que será marcado por uma manifestação de ativistas de direitos humanos.

Ao vexame em inglês, Bolsonaro preferiu protagonizar outro em sua própria língua: nunca antes na história deste país um presidente abdicou de ser homenageado com medo de má repercussão


Cristovam Buarque: Conspiração Interna

Negar educação de qualidade para uma criança por causa de sua renda ou endereço impede o progresso econômico e social

Em um excelente ensaio, que deveria ser lido por todos, publicado na Veja, o Professor Claudio de Moura Castro descreve de uma forma raramente vista, a importância da educação para o desenvolvimento de cada país. Como se fizessemos uma conspiração contra o Brasil, a mente brasileira impede o salto na educação brasileira.

Mesmo aqueles que se dedicam e defendem a educação, lutam para sair da tragédia, não para o Brasil dar o Salto na educação: ficarmos entre os melhores do mundo e oferecermos a mesma qualidade independente da renda e do endereço da criança, desCEPlizar e DesCFPlizar a educação.

Na última terça feira, na Assembléia do movimento Todos pela Educação foi dito que uma das nossas tarefa é convencer a população brasileira, a Mente do Brasil”, de que:

Nesta Era do Conhecimento, educação não é apenas um direito de cada pessoa, mais ainda, educação é o motor do Progresso.

É possível, em um prazo de anos, o Brasil ter uma educação tão boa quanto as melhores do mundo, ficarmos e entre as primeiras classificações no PISA.

Que negar educação de qualidade para uma criança por causa de sua renda ou endereço impede o progresso econômico e social, impede aumentar a renda nacional e de distribui-la com justiça, conforme o talento da pessoa.

A maior tarefa dos que desejam fazer do Brasil um país educado é convencer o Brasil de que é preciso e é possível fazer isto, apesar de que em “nossa mente” estão entranhadas quatro ideias: a) nossa vocação é para o futebol, não para a inteligência, para as quadras, não para as escolas; b) escola com qualidade não é possível para todos, como antes não era para os escravos agora não seria para os pobres; c) que o motor do progresso está na economia e não na base da economia que é a educação; d) que a distribuição de renda passa antes pela distribuição do conhecimento, pelo cérebro antes do bolso, pela escola antes do banco, e pelo boletim escolar antes do contracheque.

*Cristovam Buarque é ex-senador


Hubert Alquéres: A Blitzkrieg dos ideológicos

Bolsonarismo
Os tanques da ala ideológica do governo Bolsonaro avançam em todas as áreas a uma velocidade que faria inveja às divisões panzer do general Heinz Guderian. O movimento de pinça é comandado diretamente pelo presidente ou por seus filhos interpostos. Essa ofensiva adquiriu ares de grande operação, nos últimos dias, tendo como objetivo tático o cerco e aniquilamento do general Carlos Alberto dos Santos Cruz, Ministro da Secretaria de Governo, e como objetivo estratégico assegurar o caráter permanente da “revolução conservadora”, como defende o guru Olavo de Carvalho.

Vamos aos fatos.

Na Educação, o novo ministro Abraham Weintraub confirma que entrou no teatro de operações para retirar do papel a agenda ideológica, coisa que Ricardo Vélez foi incapaz de fazer. Weintraub ameaça cortar verbas de “universidade que promover balbúrdia”. Por balbúrdia entenda-se “manifestações políticas e festas inadequadas”. No primeiro momento três universidades federais (UNB, UFF e UFBA) sofreram contingenciamento de 30% em suas verbas, sem que o ministro tenha especificado o motivo. Poucas horas após a decisão, expandiu a medida para todas as universidades federais, ainda sem motivo concreto.

O filtro ideológico pôs na alça de mira os cursos de filosofia e sociologia, que receberão menos verbas. Ele nos faz lembrar de desatinos cometidos na História como os que levaram a se queimar -em praça pública- livros de filosofia, história, sociologia, literatura.

No meio ambiente, o presidente em vez de mediar conflitos entre o pessoal do agronegócio e o da sustentabilidade, tomou um lado. Mandou fazer uma limpa no Ibama e no Instituto Chico Mendes, elegendo os agentes de fiscalização como inimigos da pátria. Em uma feira do agronegócio anunciou que encaminhará um Projeto de Lei que dará direito de atirar a quem tiver sua terra invadida. É uma clara violação da Constituição, pois o excludente de ilicitude se aplica em defesa da vida. Jamais em defesa da propriedade.

O presidente vai além de respaldar seus radicais. Ele mesmo toma iniciativas na linha de aprofundar a “revolução conservadora”, como aconteceu ao censurar o conteúdo mercadológico de uma peça publicitária do Banco do Brasil, pautada na diversidade.

Quando não é ele, são seus filhos. A bola da vez é o general Santos Cruz, que enfrenta uma guerra promovida por Carlos Bolsonaro. Até os peixes do Lago Paranoá sabem que Carlos diz nas redes sociais aquilo que o pai não pode dizer publicamente. O general Santos Cruz é um moderado. Por isso mesmo tem sido um obstáculo para que a ala talibã do bolsonarismo tenha em mãos a estratégica Secretaria de Comunicação.

A blitzkrieg do conservadorismo se explica pela mudança de atitude de Jair Bolsonaro, na arbitragem do conflito entre os pragmáticos e ideológicos. Em um primeiro momento, ele ouvia muito a voz moderada dos militares do seu governo, como aconteceu em relação à Venezuela e à transferência da embaixada para Jerusalém.

Nos últimos tempos o presidente deixou de ser um mediador do conflito das duas alas de seu governo para tomar partido em favor dos ideológicos. Até porque ele é um deles. E pode estar fazendo uma leitura torta de sua eleição, acreditando que ela se deu em decorrência da agenda ultra-direitista.

Priorizar essa agenda é um equívoco que pode lhe custar caro. A boa estratégia militar recomenda não se abrir várias frentes. Em vez de concentrar forças para ganhar a batalha da Previdência, o presidente desguarnece seus flancos ao dispersar suas forças e gastar energia em uma pauta identitária que não é a do país.

Ademais, como a história já demonstrou, toda blitzkrieg tem sempre a sua Stalingrado.

*Hubert Alquéres é professor e membro do Conselho Estadual de Educação (SP). Lecionou na Escola Politécnica da USP e no Colégio Bandeirantes e foi secretário-adjunto de Educação do Governo do Estado de São Paulo


Ricardo Noblat: Aproxime-se para lá

A canelada de Rodrigo Maia em Bolsonaro

Bem que o presidente Jair Bolsonaro tentou agradar Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, no pronunciamento que gravou ontem a propósito da aprovação do texto da reforma da Previdência Social na Comissão de Constituição e Justiça. Foi uma menção rápida, mas ele a fez:

– Agradeço o empenho e o trabalho da maioria dos integrantes da comissão e também o comprometimento do presidente Rodrigo Maia.

Menos de duas horas depois, em entrevista à GloboNews, Maia deu-lhe uma forte canelada:

– Qual é a agenda do governo? Qual é a agenda do governo para a Educação? Eu não conheço. Qual é a agenda do governo nas relações internacionais? É um desastre.

E foi em frente. A falta de uma agenda, segundo ele, impede que os deputados decidam se estão dispostos ou não a apoiar o governo. Perguntado se sua relação com o presidente da República seria melhor do que já foi “como deputado”, Maia respondeu:

– Pessoalmente, é pior.

A canelada de Maia em Bolsonaro tem a ver diretamente com três coisas pelo menos. Primeira: o tratamento de segunda classe que Bolsonaro dá a ele e aos demais deputados. Maia acha que Bolsonaro contribui para demonizar a política e aposta no quanto pior, melhor.

Segunda coisa: o quase nenhum empenho de Bolsonaro para aprovar a reforma da Previdência. Bolsonaro comporta-se como se o Congresso fosse o único responsável pela aprovação ou não da reforma. E está pronto para culpá-lo caso a reforma seja rejeitada.

A terceira coisa foi apontada pelo próprio Maia durante a entrevista com uma frase curta: “Há um conflito dentro desse governo que o Parlamento não quer participar”. O conflito opõe militares, ministros com viés ideológico e os filhos do presidente da República.

É por isso que Maia quer distância do governo. Seu sentimento é também compartilhado pelos líderes dos partidos de centro. Se ao governo falta uma agenda, o Congresso tem a sua. E dela faz parte a reforma da Previdência e o fortalecimento do Estado de Direito.

Vai acabar mal

Governo movido a crises
Foi uma festa e tanto a que celebrou, ontem, os 89 anos do ex-presidente José Sarney. A mansão onde ele mora no Lago Sul de Brasília encheu-se de políticos da ativa e da reserva, e de ministros do Tribunal de Contas, além de parentes e amigos do aniversariante.

Nas rodas de conversa, prevaleceu o tema do momento: os ataques dos filhos do presidente Jair Bolsonaro ao general Hamilton Mourão, o vice-presidente. O comentário foi unânime: a continuar assim, o governo acabará mal, e talvez antes do tempo previsto.

Este é um governo que se alimenta de crises e que as produz à farta. Corre o risco de ser engolido por uma a qualquer instante.

A última do garoto mimado

Sem trégua
Em sua conta no Twitter, direta ou indiretamente, o vereador Carlos Bolsonaro, o queridinho do pai, disparou, ontem, mais três vezes contra o vice Hamilton Mourão, a quem acusa de conspirar para derrubar o presidente da República. Na véspera, Carlos havia atirado sete vezes em Mourão. Mas não foi só.

Ao retuitar uma mensagem postada pela deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) que elogiava a campanha de propaganda em defesa da reforma da Previdência a ser veiculada em breve na televisão, Carlos indicou que pelo menos mais um general entrou na sua mira – Santos Cruz, chefe da Secretaria de Governo.

Criticou-o por ter levado cinco meses para aprovar a campanha. Classificou a demora de “uma piada”.


Ricardo Noblat: Bolsonaro usa o filho contra Mourão

Bolsonaro assiste de camarote

De duas, uma. O presidente Jair Bolsonaro manda no seu filho Carlos Bolsonaro, mas ele não o obedece. Ou manda e ele obedece.

A hipótese mais provável é a segunda. Porque se não fosse assim, Bolsonaro já teria dito com todas as letras: Carlos não fala por mim.

Está bem que Carlos é um vereador do Rio. Como tem mandato, pode dizer o que quiser. É o caso dos seus irmãos Flávio e Eduardo.

Mas Carlos, Flávio e Eduardo são os filhos do presidente da República e sabem que tal condição reforça o que dizem e fazem.

Somente ontem, em poucas horas no Twitter, Carlos disparou seis tiros contra o vice-presidente Hamilton Mourão.

Jamais teria feito isso se não tivesse o respaldo do pai. Atirou e ficou por isso mesmo, e ficará. Tem sido assim desde o ano passado.

Carlos pôs na cabeça que Mourão quer derrubar seu pai. E Bolsonaro concorda com ele, embora não o diga.

O filho usa o pai que usa o filho. E quando a barra pesa para o lado de Carlos, o pai sai em sua defesa. Foi o que Bolsonaro fez outra vez.

Sangue é sangue, disse Bolsonaro por meio do seu porta-voz. Por isso não importa que os ataques de Carlos façam Mourão sangrar.

Também não importa que militares da ativa e da reserva corram em defesa de Mourão. Entre o filho e o vice, a escolha já foi feita.

Bolsonaro tem pelo menos duas grandes dívidas contraídas junto a Carlos e que ele considera impagáveis.

Como Flávio não quis, Carlos foi convencido pelo pai a ser candidato a vereador para impedir que sua mãe se reelegesse. Derrotou-a.

Carlos largou tudo o que fazia para cuidar da campanha do pai à presidência da República. Flávio e Eduardo cuidaram de se reeleger.

Nunca esteve nos planos de Bolsonaro se eleger presidente da República. Nunca acreditou que seria possível.

Saiu candidato pra ajudar os filhos a se reelegerem. Em seguida iria gozar a vida ao lado da sua nova mulher e da sua única filha.

A facada em Juiz de Fora que quase lhe custou a vida atrapalhou seu plano. Não estava pronto para governar. Não está. Mas, fazer o quê?

Ele simplesmente não sabe o que fazer. Seus ministros, os filhos e o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho lhe dizem o que fazer.

E ele vai tocando as coisas ao seu modo inseguro e atrapalhado. Assim será até o fim do mandato, se conseguir chegar até lá.

Bolsonaro manda, mas não comanda o governo. Muito menos as circunstâncias que o cercam.

Se mesmo assim der certo foi porque tudo o mais está errado.

Vitória de Rodrigo Maia

Bolsonaro assiste de camarote
Claro que sozinho ele não ganharia coisa alguma. Mas Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, fez muito mais pela aprovação da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça da Casa do que o governo com todos os seus ministros. E muito mais do que o presidente Jair Bolsonaro, que pouco fez.

A reforma que sairá do Congresso no final deste semestre ou no início do próximo será a reforma que o Congresso julgar possível. Não renderá 1 trilhão de reais como deseja o ministro Paulo Guedes, da Economia, mas algo como 800 bilhões ou em torno disso, o que não será pouco. Pior seria não haver reforma.

A disposição da maioria dos partidos com representação no Congresso é de tocar a vida independentemente do governo. Há uma pauta própria a ser discutida e votada. Se projetos do governo nela se encaixarem, muito bem. Se não, bola para frente. Ali é escassa a esperança de que o governo lidere o processo.