Blog do Noblat

Ricardo Noblat: Guedes, a opção a Bolsonaro

Moro corre por fora

O Congresso mais reformista de todos os tempos, pelo menos assim o enxerga Davi Alcolumbre (DEM-AP), seu presidente, dará um jeito de desidratar ao extremo o pacote de medidas econômicas levadas em mão, ontem, pelo presidente Jair Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes, o todo poderoso xerife da Economia. Sem chances de elas serem aprovadas tal qual.

De fato, não se trata de um pacote como tantos que o país já viu. Trata-se da proposta mais ampla e irrestrita de redesenho do Estado, algo a provocar uma ruptura que só seria possível a princípio mediante a convocação de uma Assembleia Constituinte. A última foi de 1988. Não há sinais de que se tenha outra em breve.

Assim como não é um pacote, também não é um programa de governo para ocupar apenas os anos que faltam para que se esgote o mandato de Bolsonaro. Como pareceu a senadores e a deputados experientes, estaria mais para a apresentação de quem se oferece desde já como uma nova perspectiva de poder. Quem? Guedes.

Bolsonaro não está nem aí para essas coisas. Quer apenas que a economia deslanche para que ele possa lutar melhor pela reeleição. O atual é um governo dividido em dois: o de Bolsonaro, ocupado em assombrar o país com o fantasma da volta da esquerda, e o de Guedes preocupado em fazer valer as suas ideias.

Com ou sem Bolsonaro e Lula, a eleição de 2022 será muito diferente da passada. Não haverá outro Adélio que dispense Bolsonaro de fazer campanha, de ter que correr atrás de votos e de ter de contar com o apoio de uma forte estrutura partidária. E se a saúde de Bolsonaro permitir é o que ele será obrigado a fazer.

Se não permitir ou se ele não quiser, Guedes poderá receber a benção dele e o apoio entusiástico de um mercado que pensa como ele. Não só do mercado, também dos devotos do capitão. Guedes não terá dificuldades para atrair essa gente. Vez por outra quando se vê tentado a falar sobre política, tem rasgos de Bolsonaro.

Bolsonaro, Guedes e… Moro. Que agrupamento político e ideológico dispõe, hoje, de tantas alternativas para 2022? Bolsonaro e Guedes. Bolsonaro e Moro. Guedes e Moro ou o contrário. Alucinação? Por que seria? Em meados do ano passado, a vitória de Bolsonaro parecia uma alucinação.

Outra grave lambança no caso Marielle

Documentos desmentem Ministério Público do Rio
E não é que desde novembro do ano passado que a Polícia Civil do Rio estava de posse das planilhas com os registros de entrada de visitantes no condomínio da Barra da Tijuca onde moravam à época o recém-eleito presidente Jair Bolsonaro e o policial aposentado Ronnie Lessa, acusado de ter matado Marielle Franco?

Portanto, ela sabia ou poderia ter sabido que no dia do crime um tal de Élcio pedira licença à portaria para ir até à casa de Bolsonaro. E que sua entrada no condomínio fora autorizada. Élcio Queiroz, também policial aposentado, foi quem dirigiu o carro que levou Lessa até à cena do crime no centro da cidade.

Quer dizer: pelo menos há um ano havia sinal de que Bolsonaro poderia ver-se envolvido no caso de Marielle – e a polícia não informou ao Ministério Público. Só informou em março último. E só no dia 17 de outubro passado, procuradores informaram ao ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal.

De resto, a descoberta de que a polícia tinha as planilhas há tanto tempo contradizem a recente versão do Ministério Público de que só teve acesso aos documentos em 5 de outubro passado, quando afirma ter apreendido o material na portaria do condomínio. Mas não é só, e nem é o principal.

O inquérito que investiga a morte de Marielle deveria ter sido paralisado tão logo se soube que o nome de Bolsonaro poderia vir a ser mencionado, o que ocorreu quando o porteiro do condomínio assim o fez. Bolsonaro tem direito a foro privilegiado desde que tomou posse. Só o Supremo pode investigá-lo.

Ou a polícia e o Ministério Público do Rio foram apenas relapsos, o que já seria muito grave, ou a princípio tentaram proteger Bolsonaro, o que seria mais grave ainda. Quanto a Toffoli, só depois da reportagem do Jornal Nacional, há uma semana, foi que mandou que o inquérito prossiga.

A qualquer momento, sob o pretexto de que a Polícia Civil do Rio e o Ministério Público não darão conta de esclarecer a morte de Marielle, o Superior Tribunal de Justiça poderá federalizar o inquérito. Significa que ele ficará aos cuidados da Polícia Federal, órgão subordinado ao Ministério da Justiça de Sérgio Moro.


Ricardo Noblat: Enquanto há tempo

Silêncio perigoso

Imagine-se jogando uma partida de xadrez. Você joga com as peças brancas ou as pretas. Seu adversário é o Poder.

Você é um bom jogador. Pratica há anos. Leu os livros dos grandes mestres. Participa de torneios. E costuma sair-se bem.

Mas enquanto você respeita as regras do jogo, o Poder, não. Seu Bispo só se move na diagonal. O do Poder, como ele quer.

Seus peões só avançam uma casa de cada vez. Os do Poder avançam quantas casas ele quiser, podem recuar ou andar de lado.

Ah, a Rainha – a peça mais importante no tabuleiro! Você joga com uma. O Poder joga com duas desde o início da partida.

Impossível que você vença. Simplesmente impossível. A não ser que o Poder cometa um erro estúpido, indigno de um iniciante.

Talvez com algum exagero, é o que acontece no confronto desigual entre a imprensa e o Poder que desrespeita as regras do jogo.

Jornalista não pode mentir. Pode errar – e se erra, é obrigado a reconhecer que errou e a pedir desculpas.

O Poder mente, mente muito, mente descaradamente. E se flagrado mentindo, joga a culpa na imprensa. Diz que foi mal interpretado.

Pergunte a um governante sobre seus erros. Ele gagueja e, quando admite ter errado, cita os erros mais irrelevantes.

É mais fácil lidar com um governo ditatorial do que com um governante eleito que usa a mentira como a sua maior arma.

A ditadura diz o que pode e o que não pode ser publicado – e, quando nada, ficamos sabendo das coisas que ela quer esconder.

O governante mentiroso é mais letal porque mente para esconder, mas mente também para enganar os que acreditam nele.

O objetivo de um governante mentiroso é desmoralizar a imprensa para enfraquecê-la, e assim alargar os limites do próprio poder.

Onde existe democracia sem uma imprensa livre e robusta? Onde? Uma imprensa castrada é antessala da ditadura.

O que pretende um governante que por hábito ataca a imprensa como instituição, agride repórteres com desaforos, corta assinaturas de jornais e ameaça os seus anunciantes?

Tudo, menos respeitar o Estado de Direito sob o qual foi eleito. Ao fim e ao cabo, por mais que não confesse, quer destruí-lo para poder jogar sozinho.

Se a oposição, por fraqueza ou temor, não o incomoda, ele precisa de outros supostos adversários para se bater e derrotar.

O confronto é a vitamina que o faz sentir-se vivo, e forte, e indestrutível, e capaz de alcançar o que almeja.

Pouco se lhe dá se a maioria dos governados discorda dos seus propósitos. Basta-lhe uma fração aguerrida de devotos e… O silêncio.

O silêncio dos inocentes. O silêncio dos culpados. O silêncio dos omissos. O silêncio dos que se negam a enxergar. O silêncio dos oportunistas. O silêncio dos covardes.

O silêncio é o principal aliado de um governante com vocação de ditador. E, se um dia, o silêncio vier a se quebrar, poderá mesmo assim ser muito tarde.

Então dará lugar ao choro dos arrependidos e à euforia dos insensatos.

Quem é “seu Jair”

Pergunta que não quer calar
A Polícia Civil do Rio espera pacientemente que retorne das férias o porteiro do condomínio da Barra da Tijuca onde moravam Jair Bolsonaro, então deputado federal, e o policial aposentado Ronnie Lessa no dia em que a vereadora Marielle Franco foi assassinada.

Entre as muitas perguntas que lhe caberá responder, a principal talvez seja esta: Quem é “seu Jair” com o qual o senhor diz ter falado por telefone naquele dia? Foi Jair, o pai, ou foi Jair Renan, o filho, conhecido também como Zero Quatro?

Ao que informou, ontem, o jornalista Lauro Jardim, colunista do jornal O Globo, foi outro porteiro, não o que está de férias, que falou por telefone com Lessa. O segundo porteiro dessa história é o que apareceu na gravação periciada por Carlos Bolsonaro, o Zero Dois.

Foi com base nessa gravação que os peritos do Ministério Público, num espaço de menos de três horas, concluíram que o porteiro por ora desaparecido mentira.


Ricardo Noblat: Bolsonaro dá o PSL como perdido

À procura de um novo abrigo

Com a ressalva que ele tem por hábito dar o dito pelo não dito, ou reformar em parte o que disse ou simplesmente a aderir a ideias opostas às que antes defendia, o presidente Jair Bolsonaro parece ter dada como perdida a guerra pelo controle do PSL.

Tem um novo plano: criar um partido para chamar unicamente de seu. Um partido onde ele possa abrigar algo como duas centenas de pessoas à sua escolha para disputar prefeituras nas eleições municipais do próximo ano.

Por se tratar de um partido novo, não terá à sua disposição a fortuna que abarrota o cofre do PSL, alimentada pelos fundos eleitoral e partidário. Por mês, o PSL abocanha cerca de R$ 12 milhões ou um pouco mais. Sem problema para Bolsonaro.

Em compensação, ele não terá dor de cabeça com candidatos a lhe implorarem por dinheiro, por comando de diretórios, por isso e por aquilo outro. A primeira e a última palavra serão dele sobre quem entrará ou não no partido.

Dos que pretendam ser admitidos, Bolsonaro exigirá alinhamento total com suas bandeiras de luta, disciplina e lealdade. Respeito à hierarquia acima de tudo. Em troca, gravará mensagens de apoio aos escolhidos e permitirá que usem a sua imagem. E é só.

Haverá tempo suficiente para criar um novo partido? Bolsonaro acha que sim. Recolherá pela internet o número necessário de assinaturas de eleitores. Para isso usará o seu e o perfil dos filhos nas redes sociais. Advogados cuidarão do resto.

Que o deputado Luciano Bivar, presidente do PSL, fique com o partido que foi o nono de Bolsonaro em quase 30 anos de vida política. Ele irá para o décimo. E se alguma coisa der errada, procurará outro partido ou então criará mais um. Sem problema.

Lula livre, e nervoso

Como Bolsonaro quer
Na mais recente conversa que teve com ele em Curitiba, a deputada Gleisi Hoffman, presidente do PT, ouviu de Lula:
– Mandela entrou nervoso na cadeia e saiu calmo. Eu entrei calmo e sairei nervoso.

Lula costuma comparar-se ao primeiro presidente da África do Sul livre do Apartheid, o regime racista estabelecido no país em 1948 em que uma minoria branca mandava na maioria negra.

Mas há, entre eles, mais diferenças do que semelhanças. A principal: Mandela passou 27 anos na cadeia como preso político. Lula está preso há 600 dias por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Ao ser libertado, Mandela fez um famoso discurso onde declarou seu compromisso com a paz e a reconciliação com a minoria branca. E assim procedeu até o último dia de sua vida.

O Supremo Tribunal Federal retomará nesta quinta-feira o julgamento sobre a prisão em segunda instância. Como faltam votar quatro ministros, o resultado ficará para a próxima semana.

Se por 6 votos contra 5, como se espera, o tribunal acabar com a prisão em segunda instância, Lula poderá ir para casa sem direito a candidatar-se a coisa alguma porque é um ficha suja.

A restauração dos seus direitos políticos só será possível se o tribunal, em data ainda não marcada, anular a decisão de Sérgio Moro que o condenou no caso do tríplex do Guarujá.

Lula prefere continuar preso até lá e tem hospedagem já garantida em Curitiba pela primeira instância da Justiça. Resta-lhe, assim, algum tempo para avaliar se o melhor será sair nervoso ou calmo.

Torce o presidente Jair Bolsonaro para que saia nervoso. Bolsonaro e seus filhos precisam de um adversário à altura para ajudá-los a radicalizar ainda mais o clima político do país.


Ricardo Noblat: Família que marcha unida permanece unida

É tudo combinado!

Quantas vezes você já não viu, escutou ou leu que o presidente Jair Bolsonaro desautorizara a fala ou o gesto do filho tal, do filho tal e do filho tal? O menos desautorizado deles é Flávio, eleito senador, parceiro de Queiroz em rachadinhas mil. É o que fala pouco.

O mais desautorizado é Carlos, o vereador, responsável pelo perfil do pai nas redes sociais e dono das senhas dele. No ritmo que vai, qualquer hora dessas Carlos será ultrapassado por Eduardo, o deputado federal, como o mais desautorizado dos filhos.

Qualquer filho se sentiria mal com tantas repreensões – os garotos Bolsonaro, não. Porque eles jogam de comum acordo com o pai, dizem o que ele quer que digam, falam o que o pai não pode ou não deve falar, aguentam o tranco, e assim o baile vai em frente.

Se levam um pito, entendem que podem ter avançado algum sinal e logo recuam. Mas até nos pitos o pai os defende e indiretamente acaba lhes dando razão. A quadrilha (no sentido de que são três filhos e um pai) toca de ouvido e persegue os mesmos objetivos.

A saber: mais poder; pau forte nos adversários e nos aspirantes a adversários; enfraquecer a democracia, herança da esquerda e de uma direita que sentia vergonha de se dizer direita; e vencer as eleições de 2022 para continuar mandando.

Há método na loucura, não duvide, embora em muitas ocasiões haja só loucura.

Ninguém liga para o general

A hora da sopa
O general Augusto Heleno foi posto por seus colegas de farda e de pijama para tomar conta do ex-capitão Jair Bolsonaro depois que ele se elegeu presidente da República. Pela influência que tinha sobre Bolsonaro, e dado aos conhecimentos adquiridos ao longo da vida, Heleno seria capaz de tutelá-lo sem despertar sua ira.

Ao cabo dos primeiros meses de governo ficou demonstrado que Heleno não daria conta da tarefa. Nem ele nem ninguém. Bolsonaro é o tutor do seu próprio governo e dos que o servem. Dá bola para poucos auxiliares, e só para aqueles que obedecem às suas ordens sem discutir e com genuíno entusiasmo.

À falta do que fazer, mais ainda depois de ter perdido para Bolsonaro a única coisa que lhe conferia poder como ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República – a Agência Brasileira de Informações -, que fez Heleno para seguir empregado? Aliou-se incondicionalmente ao ex-capitão.

Se Bolsonaro vocifera, ele vocifera tanto ou mais. Se Bolsonaro fala alguma besteira, ele a leva em conta. O que faça Bolsonaro, Heleno está ao lado dele para dizer amém, sim senhor, é isso mesmo, taokey. Comporta-se como a voz do dono. Em momento algum como o dono da voz. Porque não é, e não tenta ser.

Heleno lembra o assistente de um técnico de futebol de escola da cidade inglesa de Bournemouth, distante 170 quilômetros de Londres, e famoso no início dos anos 2000. O assistente costumava repetir duas vezes parte da última frase de qualquer orientação que o técnico dava aos jogadores. Se o técnico dissesse:

– Vocês têm que jogar abertos pelas pontas.

O assistente repetia:

– Pelas pontas, pelas pontas…

Se o técnico reclamasse:

– Assim não dá. Só quem se desloca recebe.

O assistente repetia:

– Só quem se desloca, só quem se desloca…

Empenhado em agradar Bolsonaro, Heleno, ontem, discutiu a sério a ideia do deputado Eduardo Bolsonaro de reeditar um novo Ato Institucional nº 5. Foi com o ato que a ditadura militar de 64 tirou a máscara. Para seu desgosto, o general ouviu em troca a sugestão do deputado Alexandre Frota (PSDB-SP):

– Está na hora do senhor ir descansar e tomar sopa.

Quando o excesso de esperteza engole o esperto

Quem matou e quem mandou matar Marielle? Onde está o porteiro?
O presidente Jair Bolsonaro poderia ter abortado a reportagem do Jornal Nacional sobre seu suposto envolvimento no caso da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) – mas não quis.

Avisado no dia 9 de outubro pelo governador Wilson Witzel de que seu nome fora citado pelo porteiro do condomínio onde morava, Bolsonaro tratou de se informar exaustivamente à respeito.

Teve tempo suficiente para isso. A reportagem do Jornal Nacional foi ao ar 21 dias depois. Quando foi, Bolsonaro sabia que o porteiro seria acusado de ter mentido pelo Ministério Público do Rio.

Não só sabia: conversara sobre isso com os ministros Dias Toffoli, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal. O que ele poderia ter feito para abortar a reportagem?

Simples: bastava que seu advogado informasse à TV Globo que o porteiro não telefonara para sua casa, mas para a casa de Ronny Lessa, um dos assassinos de Marielle.

No mínimo, como mais de um assessor de Bolsonaro sugeriu que ele fizesse, o Jornal Nacional procuraria checar se a informação do advogado procedia. Se procedesse, a história seria outra.

Ou a reportagem não iria ao ar ou iria contando o que o porteiro contara à polícia, mas acrescentando que ele se engara ou mentira. Bolsonaro preferiu seguir outro caminho.

Não interveio para dar um novo rumo à reportagem. Apostou que só teria a ganhar desmentindo o Jornal Nacional em seguida e dizendo sobre a Globo o que disse para satisfação dos seus devotos.

Ocorre que a versão da história avalizada pelo Ministério Público do Rio está cheia de buracos. O pior deles o fato de que não se fez perícia no computador da portaria do condomínio.

No livro de visitas ao condomínio consta uma anotação feita à mão pelo porteiro sobre o número da casa que o parceiro de Lessa no crime queria visitar – a de Bolsonaro.

No computador da portaria consta que a casa que o parceiro de Lessa pediu para visitar foi outra – a do próprio Lessa. Foi Carlos Bolsonaro, ao manusear o computador, que diz ter descoberto isso.

Uma planilha de computador é perfeitamente manipulável. Você tira e põe dentro dela o que quiser. Mas todas as mudanças ficam registradas. É fácil identificá-las.

A perícia do Ministério Público foi pedida às 13 horas da última quarta-feira e ficou pronta em torno das 15 horas. Limitou-se a comparar gravações da voz de Lessa. Foi uma porcaria de trabalho.

A promotora que anunciou que o porteiro mentira é bolsonarista de raiz com orgulho. Há fotos dela nas redes sociais vestindo uma camiseta de campanha de Bolsonaro.

Há muito ainda a ser esclarecido. Certas perguntas permanecem de pé: Quem matou Marielle e quem mandou matar? O porteiro mentiu, enganou-se ou disse a verdade? Onde está o porteiro?


Ricardo Noblat: A dívida de Bolsonaro com a Globo

O que ele sai ganhando

Se pensar direitinho – se é que já não pensou e com antecedência -, o presidente Jair Bolsonaro ficou em dívida com a Globo depois do que ela revelou sobre o caso do porteiro do condomínio onde ele morava à época do assassinato de Marielle.

Em dívida porque a confirmar-se que o porteiro mentiu, cai por terra a suspeita de que havia um homem dentro da casa de Bolsonaro quando ele estava em Brasília enquanto Marielle e seu motorista eram executados no centro do Rio. Menos mal.

Em dívida também porque a reportagem do Jornal Nacional permitiu que Bolsonaro praticasse seu esporte favorito: bater na imprensa em geral e na Globo em particular. Isso não tem preço e provoca orgasmos múltiplos nos seus seguidores.

Por último, em dívida porque se não fosse a história do porteiro ainda estaríamos falando do vídeo do leão e das hienas que tentam matá-lo. Uma das hienas carregava o nome de Supremo Tribunal Federal. Segundo Carlos, foi o pai que postou o vídeo.

De resto, Bolsonaro teve mais uma oportunidade para avaliar a fidelidade canina dos seus devotos, e também para incitar os instintos mais primitivos deles.

Plim, plim.

Uma história muito mal contada

E segue o baile...
Só aos que temem a elucidação do assassinato de Marielle Franco (PSOL-RJ) e do seu motorista interessa a produção de fatos que possam embaralhar as investigações. É o caso dos assassinos. E também dos seus cúmplices. E mesmo daqueles que à distância, por uma razão ou outra, preferem que fique tudo por isso mesmo.

Existe sua Excelência, o Fato. Que vem a ser alguma coisa que aconteceu e que pode ser comprovada. E existe também a chamada Ilação, que é o que se deduz de algum fato sem dispor, no entanto, de provas concretas. Marielle foi assassinada, fato. Políticos amigos de milicianos não querem ver o crime esclarecido, ilação.

É fato, narrado por ele próprio, e não desmentido pelo governador Wilson Witzel, do Rio, que Bolsonaro ficou sabendo no último dia 9 que seu nome fora citado no inquérito que apura a morte da vereadora. Foi Witzel que informou a Bolsonaro quando os dois se encontraram por acaso numa festa do Clube Naval, no Rio.

É fato que Bolsonaro levou 21 dias para revelar que Witzel teve acesso a informações de um inquérito que corria sob segredo de Justiça. E que só o fez depois que o Jornal Nacional noticiou que ele havia sido citado pelo porteiro do condomínio onde tem duas casas. Ali morava um dos acusados de ter matado Marielle.

Em entrevistas à imprensa, Bolsonaro acusou Witzel de dois crimes: o de ter tido acesso a inquérito sigiloso e o de manipular o inquérito para incriminá-lo. Isso também é fato. Como é fato que Bolsonaro escondeu durante 21 dias que Witzel agiu, portanto, de forma criminosa. Ao esconder, tornou-se cúmplice dele.

Ilação: quem mais se beneficiou do que fez Witzel e do que Bolsonaro escondeu? Bolsonaro. Impossível que não tenha aproveitado os 21 dias de segredo para se informar melhor sobre o que Witzel lhe informara superficialmente. E para reunir provas, indícios e argumentos para defender-se se tudo viesse a público.

É fato que no dia 17 passado, um grupo de procuradores do Rio foi a Brasília dizer a Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, que Bolsonaro fora citado no caso de Marielle. É fato que Toffoli até ontem não decidiu se o caso, por envolver o presidente da República, deveria ser federalizado.

É fato, pois, que o presidente do Supremo sabia há pelo menos 12 dias o que o país só soube anteontem. E que se calou a respeito, a exemplo do que fizera Bolsonaro. Ilação: é possível que ele e Bolsonaro imaginassem que a citação do nome do presidente da República em um crime de sangue acabaria sendo abafado.

O Ministério Público do Rio revelou somente ontem no final da tarde que o porteiro do condomínio onde Bolsonaro tem duas casas não ligou para uma das casas dele avisando no dia da morte de Marielle que havia um homem pedindo licença para ir até lá. Ligou, sim, para a casa onde morava o ex-policial Ronnie Lessa.

E por que somente ontem no final da tarde o Ministério Público do Rio revelou que o porteiro mentira ou se enganara em dois depoimentos prestados à polícia em meados deste mês? Porque somente ontem o Ministério Público disse que teve acesso à gravação dos telefonemas dados pelo porteiro no dia do crime.

Quer dizer: quando procuradores viajaram a Brasília ao encontro de Toffoli, desconheciam que o porteiro mentira ou se enganara. Não haviam checado a veracidade das suas declarações. Os procuradores se precipitaram ou foram relapsos. É fato, somado a certa dose de ilação que não compromete o fato, só o reforça.

O Procurador Geral da República mandou investigar o porteiro que poderá ser processado por caluniar ou difamar Bolsonaro. Ao mesmo tempo, arquivou informações sobre a suspeita de que um dos supostos assassinos de Marielle citou o nome de Bolsonaro para entrar no condomínio onde, à época, Bolsonaro morava.

Os principais personagens dessa história mal contada têm carteirinha de autoridade – Bolsonaro, Witzel, Toffoli, o Procurador Geral da República e os procuradores do Rio. Menos, o porteiro, a quem ainda não perguntaram por que – diabos! – teria procurado encrenca logo com o homem mais poderoso do país.


Ricardo Noblat: A regra vale para todos ou então para ninguém

Por que uns podem e outros não?

Curioso!

Bolsonaristas, mas não só, cobraram tanto do The Intercept que revelasse suas fontes de informação sobre as conversas dos procuradores da Lava Jato.

Por que não cobram da Folha de S. Paulo e do jornal Globo que também revelem as fontes lhes deram os áudios de Queiroz? Nesse caso, dá-se como compreensível que os jornais não revelam.

Não são obrigados a fazê-lo. A lei não exige isso deles. De resto, se revelassem, dificilmente teriam acesso a informações sigilosas que só são repassadas à imprensa mediante o compromisso do sigilo.

As mesmas regras servem para que sites jornalísticos preservem a identidade de suas fontes de informação. Então por que se cobra do The Intercept o que não se cobra da imprensa tradicional?

Com a palavra, bolsonaristas e aliados deles, assumidos ou disfarçados. O ex-juiz Sérgio Moro, que acusou o The Intercept de sensacionalismo, poderia dizer o que pensa a esse respeito.

A exemplo de Moro, a defesa de Flávio Bolsonaro disse que não teve acesso aos áudios de Queiroz e que não pode confirmar a autenticidade do material.

O pavor que Queiroz infunde aos Bolsonaros

Pedido de socorro

Há farta munição guardada por aí e capaz de produzir sérios estragos nas pretensões dos Bolsonaros. Será disparada aos poucos, de forma calculada, para provocar maior sofrimento.

Uma família que fala pelos cotovelos, e também pelas redes sociais, deixa rastros à beça. O que foi bom para ela no passado recente e ainda parece ser bom, poderá ser muito ruim no futuro próximo.

Talvez seja por isso que o pai e os três filhos recolheram-se ao silêncio desde que começaram a vazar áudios de conversas entre Fabrício Queiroz e interlocutores desconhecidos até aqui.

Somente advogados têm saído em socorro deles. Mais precisamente em socorro do senador Flávio Bolsonaro, ex-chefe de Queiroz, de quem se aproximou por ordem expressa do pai.

Flávio e Queiroz estão metidos no escândalo da rachadinha na Assembleia Legislativa do Rio. Era Queiroz que empregava, ali, funcionários fantasmas e subtraía parte do salário deles.

Os dois estavam sendo investigados pelo Ministério Público Federal até que o ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, disse basta. Desde então Flávio anda caladinho.

Queiroz começou a falar. O que ainda não se sabe é se foi ele próprio que deu um jeito de vazar o que andou dizendo. Ou se foi traído por um dos que o escutavam em um grupo de WhatsApp.

A traição é grave. Mas a eventual simulação por parte de Queiroz seria muito mais. Queiroz disse que se sente abandonado, enquanto Adélio Bispo, autor da facada em Bolsonaro, estaria superprotegido.

Pior: Queiroz contou que Bolsonaro, possivelmente antes de se eleger, telefonou para ele e afirmou que iria demitir uma funcionária fantasma do gabinete do seu filho Carlos, o vereador.

A funcionária havia sido descoberta pela imprensa. Mantê-la como falsa empregada do filho criaria problemas para Carlos e para ele também. À época, Queiroz já estava na mira do Ministério Público.

Essa é a história mais cabeluda que Queiroz deixou escapar com suas inconfidências. Porque mostra que Bolsonaro sabia do esquema de rachadinha nos gabinetes de Carlos e de Flávio.

Os áudios de Queiroz acenderam a luz vermelha no círculo estreito dos Bolsonaros e dos seus parentes mais próximos. Queiroz pediu socorro para não cair na tentação de delatá-los.

 

Dois presidentes improváveis obrigados a conviver

Fernández e Bolsonaro

Aberto Fernández, 60 anos, professor de Direito, foi vereador em Buenos Aires e nada mais pelo voto em sua vida até se eleger, ontem à noite, presidente da Argentina no primeiro turno.

Jair Bolsonaro, 65 anos, ex-capitão do Exército, foi deputado federal ao longo de 28 anos e nada mais pelo voto até se eleger presidente do Brasil em outubro do ano passado no segundo turno.

Fernández veio da direita para a esquerda. Alguns acham que ele não chegou a tanto. Com boa vontade, à centro esquerda. Bolsonaro sempre foi de extrema-direita e faz questão de nela permanecer.

Nem o mais sonhador dos peronistas teria sido capaz de imaginar há três anos que Fernández acabaria por encabeçar uma chapa com a ex-presidente Cristina Kirchner de vice.

Ele foi chefe do gabinete dela na Casa Rosada até que os dois se desentenderam. Por quase 10 anos não trocaram uma palavra. E Fernández tornou-se um dos mais duros críticos de Cristina.

Bolsonaro não precisou brigar com ninguém, nem reconciliar-se com ninguém para ser candidato à sucessão de Michel Temer. Reuniu os filhos, deu ordem unida e saiu em campanha.

Empenhado em construir uma alternativa para o peronismo sem Cristina, Fernández convenceu-se ou foi convencido de que o melhor seria compor-se com ela desde que isso fosse possível.

A princípio, Cristina não admitia vê-lo nem que ele reluzisse a ouro. Depois, ré em 12 processos por corrupção, ela finalmente admitiu que sua reeleição seria difícil e concordou em lançar Fernández.

Se tivesse dependido de Bolsonaro, Maurício Macri, que cederá a Casa Rosada a Fernández, teria sido reeleito. Bolsonaro tentou interferir várias vezes na eleição argentina. Sem sucesso.

Se dependesse de Fernández, Lula já estaria livre a essa altura. Ontem, pela manhã, Fernández saudou Lula no Twitter. À noite, no seu discurso de vitória, gritou “Lula livre” e foi aplaudido.

Fernández se elegeu porque Macri falhou na promessa de tirar a Argentina do buraco econômico em que Cristina a deixara. Hoje, a situação da Argentina é muito pior.

Sem programa de governo, sem ter feito campanha depois da facada que levou, Bolsonaro se elegeu por conta da crise econômica legada por Dilma e dos escândalos de corrupção do PT.

Na Argentina, o peronismo está em cartaz desde os anos 40 do século passado. No Brasil, o bolsonarismo é invenção recente. Só se afirmará como um fenômeno se vencer outra vez em 2022.

O Brasil e a Argentina são históricos parceiros. Juntos representam 63% da área total da América do Sul, 60% da sua população e 61% do seu Produto Interno Bruto.

No comércio, a Argentina é o terceiro maior parceiro do Brasil. Só perde para a China e os Estados Unidos. E o Brasil é o maior parceiro comercial da Argentina.

O peso econômico que cada um representa para o outro deverá se sobrepor às diferenças políticas entre os dois presidentes improváveis que serão obrigados a conviver em breve.

Bolsonaro estendeu as mãos para os árabes depois de ter dito que sua afinidade era com Israel. E foi à Pequim negociar com os comunistas apesar de repetir que o comunismo ameaça o mundo.

Em meados de 2017, o grupo terrorista Estado Islâmico já havia destruído 12 sítios arqueológicos no Iraque, assim como uma mesquita de mais de 800 anos na cidade de Mossul.

Mas sempre que encontrava arcas carregadas de dólares nesses e em outros lugares, o grupo as preservava intactas. Nem terrorista é louco para rasgar dinheiro.


Ricardo Noblat: Lula, a um passo da liberdade

A bola está com Toffoli

Lula ganhou mais um aviso de arrumar as malas e preparar-se para deixar em breve o cárcere de Curitiba. Na pior das hipóteses, uma vez que já cumpriu um sexto da pena a que foi condenado no caso do tríplex do Guarujá, voltará a São Paulo e, ali, poderá trabalhar durante o dia, recolhendo-se à noite a algum presídio.

Na melhor das hipóteses, se confirmada a atual tendência do Supremo Tribunal Federal de acabar com a prisão em segunda instância, será libertado, podendo ir para onde quiser e fazer o que quiser. Lula planeja retomar as caravanas que, antes de ser preso, o levaram a viajar pelas principais regiões do país.

Falta apenas um voto para que isso seja possível desde que, ontem, a ministra Rosa Weber revelou o seu favorável ao fim da prisão de condenado em segunda instância. Se os próximos ministros a votarem o fizerem do modo como prometem, o placar será de 5 a 5. Caberá a Dias Toffoli, presidente do tribunal, o voto de desempate.

Outro dia, Toffoli acenou com a proposta de transferir para a terceira instância o direito de autorizar a prisão de um condenado. Aparentemente, a proposta murchou. A ser assim, Toffoli, que em outros julgamentos votou uma vez a favor da prisão em segunda instância e três contra, votará contra pela quarta vez.

Razoável. O ministro Gilmar Mendes já votou uma vez contra a prisão em segunda instância e três a favor. Agora, votará contra. Celso de Mello, Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio Mello sempre votaram contra. Sempre votaram a favor Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux e Cármen Lúcia.

Lula jamais perdoou Cármen. Foi ele que a indicou para o Supremo. Conta que ouviu dela que uma das virtudes do mineiro é ser grato. Cármen é mineira. E na hora em que Lula precisou do seu voto para ser solto, não teve. A queixa de Lula é injusta. Ministro não é nomeado para beneficiar quem o nomeou.

Que o diga também o ministro Luiz Fux. Antes de nomeado por Dilma, ele revelou a um interlocutor como votaria no processo do mensalão do PT: “Eu mato no peito”. Ou seja: votaria contra. Votou a favor. E agradeceu sua nomeação à advogada Adriana Ancelmo, mulher do então governador do Rio Sérgio Cabral.

Mas essa é outra história. E das mais esdrúxulas, digamos assim.

O fantasma de Queiroz volta a assombrar os Bolsonaros

Como desviar dinheiro público
O que uma coisa tem a ver com outra? O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) gravou um vídeo e soltou uma nota para dizer que não fala com seu ex-assessor Fabrício Queiroz há mais de um ano.
Foi em resposta a um áudio de junho último onde Queiroz ensina a um amigo como empregar pessoas em gabinetes do Senado e da Câmara sem ligá-las diretamente aos Bolsonaros.

Para Flavio, “o que fica bem claro nesse áudio é que ele [Queiroz] não tem nenhum acesso ao meu gabinete, tanto é que ele está ali fazendo uma reclamação de que não tem acesso”.

Diz Queiroz no áudio: “Tem mais de 500 cargos, cara, lá na Câmara, no Senado. Pode indicar para qualquer comissão ou, alguma coisa, sem vincular a eles [clã dos Bolsonaro] em nada”.

Diz mais: “20 continho aí para gente caía bem pra c**”. E mais: “Pô, cara, o gabinete do Flavio faz fila de deputados e senadores lá. É só chegar ‘nomeia fulano para trabalhar contigo aí'”.

Aqui, trata-se da nomeação cruzada. Um deputado pede a outro que empregue no seu gabinete quem ele não pode empregar para não chamar atenção. O favor é retribuído. Todos lucram com isso.

Como a de Flávio, também não faz sentido a resposta que deu o presidente Bolsonaro quando perguntado na China sobre o áudio de Queiroz: “O Queiroz cuida da vida dele, eu cuido da minha.”

Quem disse o contrário? O fato é que o fantasma de Queiroz voltou a assombrar a família Bolsonaro, posta em sossego desde que Dias Toffoli suspendeu a investigação sobre os rolos de Flávio.

Até os pombos que bicam as calçadas da Assembleia Legislativa do Rio sabem que Queiroz comandava um esquema de rachadinha quando mandava no gabinete do então deputado Flávio Bolsonaro.

Funcionava assim: o funcionário recebia seu salário no fim do mês e depositava parte na conta de Queiroz. O dinheiro pagava despesas do deputado. Queiroz embolsava algum.

Que deputado na Assembleia não sabia disso? Que deputado na Câmara não sabe que muitos dos seus colegas procedem assim? É prática usual. É também desvio de dinheiro público. Crime.

Desde 1991 quando Bolsonaro foi eleito deputado federal pela primeira vez, ele e seus filhos empregaram mais de uma centena de funcionários com parentesco ou relação familiar entre si.

Exatas 102 pessoas, segundo o jornal O Globo. Ou 35% do total de funcionários contratados no período. Entre elas, milicianos. Muitos jamais compareceram ao local de trabalho.

O advogado de Flávio Bolsonaro pôs em dúvida a gravação do áudio. É preciso, disse ele, comprovar que a voz é mesmo de Queiroz, que o áudio não foi editado, que isso e que aquilo outro.

Foi a mesma linha de defesa adotada pelo ex-juiz Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato em Curitiba para desqualificar suas conversas hackeadas e entregues ao site The Intercept.

Terrorismo oficial

Presidente e ministro, feitos um para o outro
Se o presidente Jair Bolsonaro, sem prova ou indício algum, pode afirmar que foi ato terrorista a derrama de petróleo que empesteia as praias nordestinas, por que o ministro Ricardo Salles, do Meio ambiente, não pode insinuar que o petróleo foi derramado por um navio da organização internacional Greenpeace?

Pau que bate em Chico deveria também bater em Francisco. O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, criticou Salles, mas esqueceu de criticar Bolsonaro. Os males que vêm do alto costumam contaminar os que estão em baixo. Se Salles foi irresponsável e leviano, Bolsonaro foi o quê?

Lá atrás, quem primeiro falou em terrorismo? Bolsonaro falou quando lhe perguntaram sobre os incêndios na Amazônia. Tentou culpar as Ongs. Voltou a falar quando lhe perguntaram sobre o petróleo derramado. Repetiu a dose ontem. Salles é apenas um pau mandado do presidente. Um serviçal que quer manter o emprego.

Bolsonaro liga para a preservação do meio ambiente? Salles tampouco. Bolsonaro está mais preocupado com os garimpeiros que votaram nele. É candidato à reeleição. No passado, ainda cadete no Exército, meteu-se com garimpo e foi censurado por seus superiores que o consideraram ambicioso demais.

Se o chefe e seus influentes filhos são conhecidos por gostarem de notícias falsas e as disseminarem nas redes sociais, por que Salles não pode gostar e fazer a mesma coisa? Ele postou a foto de um navio do Greenpeace de onde o petróleo poderia ter saído. A foto é de 2016. O navio não transporta petróleo, só gente.

A verdade é que o governo não faz a mínima ideia sobre o que aconteceu há mais de dois meses. Primeiro porque não se interessou de início. Depois porque não conseguiu saber nada até agora – salvo que o petróleo, provavelmente, é venezuelano. Ou uma fração dele. A Marinha não se arrisca a ir além disso.

Mais de mil toneladas de óleo foi recolhida, parte por voluntários. Só há poucos dias militares entraram em cena para recolher. Onde todo esse óleo foi armazenado? A Marinha não sabe. O governo não sabe. É tudo feito de improviso. E quando voluntários aparecerem doentes, vítimas dos efeitos do óleo?

Governo de morte, este.


Ricardo Noblat: Uma esfinge chamada Rosa

A sorte de Lula depende dela

Ao sintonizarem, ontem, os canais de televisão que transmitiam a sessão do Supremo Tribunal Federal, os distraídos podem ter imaginado de início que assistiam a uma reprise de antigos julgamentos sobre a prisão de condenados pela segunda instância da Justiça. Os personagens eram os mesmos, os votos também.

A sessão foi suspensa com 3 votos pela manutenção da prisão em segunda instância contra 1. Será retomada esta tarde, mas só deverá ser concluída em novembro, em data ainda a ser marcada. Mas a sessão de logo mais servirá, quando nada, para que a ministra Rosa Weber, a esfinge do tribunal, leia o seu voto.

Os votos seguintes são previsíveis. O de Rosa é o único que não é. Primeiro porque ela é de pouca ou de nenhuma conversa com seus pares quando se trata de temas em julgamento. Segundo porque ela já votou uma vez favorável à prisão em segunda instância apesar de ser contra. Filigrana jurídica. Não vale a pena examinar.

Em resumo: a sorte da prisão em segunda instância está nas mãos de Rosa. O placar que outra vez se desenha é o de 6 a 5 – contra ou a favor da prisão em segunda instância. Lula terá de conter sua ansiedade e esperar mais algumas semanas para saber se será libertado ou se continuará mofando na cadeia.

Culto à personalidade de Toffoli

Um livro para falar bem dele
Quem do Poder Judiciário, convidado ou não, teria o desplante de faltar ao lançamento, ontem à noite, de um livro em homenagem ao ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal? O comparecimento foi grande.

Foi o culto à personalidade mais escancarado que Brasília assistiu este ano. Toffoli celebra 10 anos como ministro. O livro reúne artigos de diferentes autores que analisam as principais decisões de Toffoli durante esse período. Uma louvação só.

O livro foi coordenado pelo ministro Alexandre de Moraes, companheiro de turma de Toffoli na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, e o Advogado Geral da União, André Mendonça. Ambos pareciam felizes.

O local do lançamento foi o chamado Salão Branco do prédio do Supremo. Quem apareceu por lá para cumprimentar Toffoli e conseguir um autógrafo teve que passar por um aparelho de raio-X. Poucos se queixaram. Quem se queixou não revelou seu nome.

A segurança no prédio foi reforçada depois que Rodrigo Janot, ex-Procurador-Geral da República, disse que um dia entrou ali armado para matar o ministro Gilmar Mendes. Arrependeu-se quando estava com o dedo no gatilho do revólver.

Reprovado duas vezes em concurso para juiz de primeiro grau, sem ter feito doutorado ou mestrado nem escrito livro nenhum, Toffoli chegou ao Supremo por indicação de Lula, para quem advogou. Seu mandato como presidente termina no próximo ano.

Do que a família Bolsonaro tem mais medo

Rabo preso
De repente, não mais do que de repente, incomodado com a CPI das Fake News na Câmara que deverá convocá-lo para depor, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), o Zero Dois do presidente da República, se fez arauto da liberdade de expressão e escreveu no Twitter:
Boa! Oposição? Vamos lá falar umas verdades a esses porcarias.

Fora a guerra interna do PSL, deflagrada pelo presidente Jair Bolsonaro que tenta se apossar da chave do caixa milionário do partido, nada incomoda mais a nova família imperial brasileira do que a CPI que investiga a produção de falsas notícias. Cada um sabe onde tem o rabo preso.

Incompreensível, observam com ironia os desafetos dos Bolsonaros. Eles sempre negaram a produção e distribuição de notícias falsas pelas redes sociais, não foi? Jamais assumiram a autoria de uma só delas. Por que então estrebucham desesperados na maca? Têm medo do quê?

O frustrado embaixador que foi sem nunca ter sido, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o Zero Três, suou a camisa como um condenado para impedir a instalação da CPI. Pintou e bordou. Acabou derrotado. É de se ver se como líder do PSL será mais bem sucedido. Improvável. Como líder, ele é um bom atleta.

A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), ex-líder do governo no Congresso, destituída do cargo pelo presidente da República, diz ter como provar a existência de uma milícia virtual, paga com dinheiro público, que produz notícias falsas de dentro do Palácio do Planalto. O tal do gabinete do ódio.

Estranho que só agora ela tenha descoberto isso. Hasselmann foi convidada para depor na CPI, bem como o Delegado Waldir, ex-líder do PSL na Câmara, e outra vítima do expurgo em curso dentro do partido sob o patrocínio dos Bolsonaros. É bom ter cuidado com essa gente que promete e depois recua.

Se a CPI for fundo de fato na apuração, poderá até não encontrar as digitais dos garotos e do seu pai nas falsas notícias que atingem a reputação de pessoas e de instituições que se opõem ou que simplesmente atrapalham os planos da família mais empoderada do país. Atrapalhar é suficiente para virar alvo.

Mas basta encontrar as digitais dos responsáveis pelo crime, e estabelecer a ligação entre eles e os Bolsonaros, para desatar uma crise política de grandes proporções com cheiro de impeachment e capaz de ameaçar a sobrevivência do governo. É o que teme a sagrada família. É o que pode vir a acontecer.


Ricardo Noblat: O caminho do dinheiro mais fácil

Lições da crise do PSL

Eduardo Bolsonaro, o Zero Três, pediu ao pai a embaixada do Brasil em Washington de presente de aniversário. No último dia 10 de julho, ao completar 35 anos, ouviu dele que a embaixada seria sua. “Se eu puder dar filé mignon pro meu filho, eu dou”, justificou o presidente Jair Bolsonaro sem corar. Comovente, não?

Ontem, em Tóquio, depois de acompanhar à distância os novos lances da guerra interna que detonou no PSL, antes de viajar, o pai pediu ao filho de presente de fim de ano que abra mão da embaixada para ficar como líder do partido na Câmara dos Deputados. De todo modo, como anunciou, o pai aceitará qualquer decisão do filho.

Em jogo, nos dois casos, os superiores interesses da nova família imperial brasileira. A embaixada serviria para que Eduardo corresse atrás de futuros negócios que pudessem render algum capilé – para o país, naturalmente. O cargo de líder do PSL, para que o clã Bolsonaro controle a curto prazo o caixa milionário do partido.

O extraordinário é que tudo isso se passe aos olhos do distinto público, sob os holofotes da mídia, e sem despertar nenhuma revolta, sequer barulho. Salve o mundo novo das narrativas e da escolha pessoal da verdade. A depender de cada um, estamos diante de um escândalo ou de uma manobra política apenas esperta.

Um presidente da República se acha no direito de rasgar todo o conhecimento adquirido pelos diplomatas do seu país e afrontar os costumes da diplomacia internacional indicando o seu filho inexperiente para embaixador junto a maior potência bélica, econômica e política do planeta. Beleza!

E depois de se ocupar durante meses na caça ao voto dos senadores dispostos a aprovar a indicação desde que em troca de favores e sinecuras, o chefe da família alçado à condição de Presidente da República engata a marcha ré e escala o filho para outra tarefa que julga bem mais lucrativa. Beleza! Beleza!

Parece ensinar ao filho: siga sempre o dinheiro, garoto. O dinheiro mais fácil, seguro e imediato. E não ligue para o que os outros pensem. Com os recursos disponíveis e ao nosso alcance, parte dos outros pensará o que desejarmos. Por exemplo: que o dinheiro não nos move, mas sim a necessidade de fazermos uma faxina no partido.

Fiquem à vontade para acreditar no que quiserem. Está na moda.

Joice quer ser a Zero Quatro

Súplica para ser adotada
A deputada Joice Hasselman (PSL-SP), destituída pelo presidente Jair Bolsonaro do cargo de líder do governo no Congresso, frustrou os que assistiram à sua entrevista no Roda Viva da TV Cultura esperando que ela partisse para o pau.

Que nada! Por pouco não suplicou para ser adotada por Bolsonaro como mais um de seus filhos. A certa altura do programa, chegou a dizer que Bolsonaro não pode ser pai unicamente dos filhos que já tem. Deve ser pai também de milhões de brasileiros.

Por que não dela, que diz ter feito tudo para ajudar Bolsonaro a se eleger, e que continua disposta a trabalhar pelo governo desde que ele faça o que prometeu fazer? Suas poucas críticas, mais fogos de artifício, foram dirigidas contra os irmãos Bolsonaros.

Comparada por Eduardo no twitter à Peppa, volumosa personagem de desenho animado famoso, ela havia atirado em um alvo indeterminado chamando-o de “veadinho”. Admitiu que baixara o nível. Desculpou-se. E admitiu reconciliar-se com Eduardo.

Joyce é prisioneira do destino que cavou, Escolheu juntar-se a Bolsonaro na eleição passada para se eleger deputada. Foi a parlamentar mais votada na história de São Paulo. Quer disputar a prefeitura da capital. Sem Bolsonaro, não terá chance.

Não quer e nem pode abandonar a manada do capitão. Mas caso consiga se reaproximar do presidente será tratada com desconfiança. Bolsonaro não perdoa quem o desafia, e aos seus filhos.


Ricardo Noblat: E assim se passa 1 ano da eleição de Bolsonaro

O que virá?

A uma semana de sua eleição completar um ano, em périplo pela Ásia que começa com uma visita ao Japão, o presidente Jair Bolsonaro haverá de se lembrar (ou alguém fará isso por ele) de uma de suas primeiras declarações feita sob o calor da vitória:

– Quero que ele mofe na cadeia.

Referia-se a Lula, àquela altura encarcerado em Curitiba há quase 7 meses. Lula está com um pé fora da cadeia. Avançará o outro se o Supremo Tribunal Federal, esta semana, restabelecer a prisão só depois que a sentença transitar em julgado.

É o que prevê a Constituição e o que, por aqui, deixou de valer desde que foi permitido à segunda instância da Justiça prender quem ela condenasse. Daqui a mais um mês, caso o Supremo venha a anular sua condenação, Lula deixará de ser ficha suja.

Com a ficha limpa, poderá sair por aí na condição de candidato à sucessão de Bolsonaro, o que para o ex-capitão não será nenhum incômodo. O contrário. Bolsonaro precisa de Lula para se reeleger. E Lula de Bolsonaro para governar o país pela terceira vez.

E tudo isso terá se passado antes mesmo de um ano da posse do presidente eleito em 28 de outubro de 2018. Foi outro dia! Com apenas 10 meses de governo, Bolsonaro perdeu o controle sobre o partido pelo qual foi eleito, o nono de sua carreira.

A Lava Jato está nos seus estertores. Gorou o pacote anticrime do ministro Sérgio Moro. A reforma da Previdência ainda se arrasta no Congresso. Flávio “Zero Um” Bolsonaro virou refém da Justiça que suspendeu por ora a investigação dos seus rolos fiscais.

Eduardo “Zero Três” Bolsonaro é chamado de “moleque mimado” por antigos parceiros depois de derrotado por um delegado de polícia na disputa pelo cargo de líder do PSL na Câmara dos Deputados. Quanto ao sonho de ser embaixador em Washington…

Os militares apoiaram a eleição de Bolsonaro com a pretensão de tutelá-lo mais tarde. Uma vez que não querem abrir mão dos bons salários que complementam suas aposentadorias, parecem conformados em ser tutelados pelo ex-capitão. Selva!

Havia um vice-presidente da República disposto a ser sensato em contraponto a um presidente insano. Muita gente aqui e lá fora o escutava com admiração.

Foi abatido por Carlos “Zero Dois” Bolsonaro com meia dúzia de mensagens postadas no Twitter.

Onde anda o presidente da maior potência mundial, cortejado pelos Bolsonaros, e que prometera ao chefe do clã uma vaga para o Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), uma espécie de clube dos países mais ricos?

Donald Trump deu a vaga para a Argentina. Depois lembrou que havia uma fila e que o Brasil terá de respeitá-la. Sem poder passar recibo da frustração, o governo brasileiro foi forçado a avalizar a desculpa e a dar razão a Trump. Vexame!

Com o vexame, Bolsonaro deveria aprender que política externa obedece unicamente a interesses econômicos de Estados. Nada a ver com ideologia, religião, muito menos relações pessoais. Se duvida, pergunte aos curdos, largados de mão por Trump.

Sim, Bolsonaro poderá celebrar os sinais de recuperação da Economia e a paralisia da oposição. Se a ele falta um projeto para o país, à oposição também. Mas é Bolsonaro quem governa. E, embora, muito loquaz, o líder da oposição ainda está preso.

 

Moro, a pedra no caminho do capitão

Como Brasília leu a pesquisa VEJA-FSB

A função das pesquisas de intenção de voto, ainda mais a três anos da próxima eleição presidencial, é causar impressões e provocar ensaios de movimentos políticos.

A pesquisa VEJA-FSB foi lida assim no último fim de semana por gente experiente no Congresso, no Palácio do Planalto e na Esplanada dos Ministérios:

+ Apesar da perda de popularidade registrada em outras pesquisas, e do desgaste de um começo de governo marcado por sucessivas crises, Bolsonaro aparece bem em simulações de cenários do primeiro e do segundo turno;

+ Mesmo preso, Lula revela-se um candidato competitivo a ponto de ter tido seu nome pesquisado e estampar a capa da revista;

+ Para quem se nega a admitir que possa vir a ser candidato, o apresentador Luciano Huck despontou como um nome capaz de atrair o apoio da centro direita ou de parte expressiva dela:

+ A pesquisa foi péssima para o governador João Doria (PSDB), de São Paulo, que não chegou a obter 5% das intenções de voto;

+ Sérgio Moro foi o que mais ganhou com a pesquisa. Venceria qualquer adversário se a eleição fosse hoje. Por isso mesmo, Bolsonaro deverá indicá-lo para ministro do Supremo.

As informações são do TAG Reporter, relatório semanal das jornalistas Helena Chagas e Lydia Medeiros.


Ricardo Noblat: Bolsonaro soube antes da operação policial contra Bivar

Quem não pode, pode

Admitir, ele jamais poderá fazê-lo. Tampouco o ministro Sérgio Moro, da Justiça e da Segurança Pública. Mas o presidente Jair Bolsonaro foi avisado com antecedência de que a Polícia Federal faria uma busca de documentos no apartamento do Recife do deputado Antônio Bivar, presidente do PSL e seu desafeto.

Foi uma madrugada de satisfação para Bolsonaro. Logo ele que costuma queixar-se de insônia e aproveita as madrugadas para se recolher à área do seu quarto no Palácio da Alvorada reservada para guardar roupas e, dali, dispara mensagens pelas redes sociais e às vezes chora com o que lê a seu respeito.

Em obediência aos costumes estabelecidos há muito tempo e em respeito à sua autonomia, a Polícia Federal sempre manteve em segredo as suas atividades. No caso de operações contra estrelados da República, o máximo que acontecia era que a informação só era passada para o ministro da Justiça uma hora antes.

Os costumes foram para o beleléu desde a chegada ao posto do ex-juiz Moro. O próprio Bolsonaro já admitiu em público que teve acesso por meio do seu ministro a dados sigilosos de inquéritos abertos pela Polícia Federal. É o que ele espera que aconteça na órbita do novo Procurador-Geral da República, Augusto Aras.

Ao dar posse a Aras, Bolsonaro lhe pediu que informasse ao governo sobre eventuais irregularidades que possam estar em curso de modo a que tudo possa ser corrigido antes de se transformar em um grande problema. De certa forma, Moro já está fazendo isso no que lhe compete – e também no que não compete.

A farsa da obstrução do PSL

Rebelião para inglês ver
Quando foi posta em votação, no início da noite de ontem, a Medida Provisória 886 assinada pelo presidente Jair Bolsonaro e que tratava da reestruturação administrativa da Casa Civil e da Secretaria do Governo, fez-se o espanto no plenário da Câmara.

Por meio do seu líder, o Delegado Waldir, o PSL anunciou: “Estamos em obstrução”. Ou seja: o PSL de Bolsonaro, solidário com seu presidente Antônio Bivar, alvo de uma operação da Polícia Federal, negaria seus votos à aprovação da medida.

Juntava-se naquele momento ao PT, PSB, PDT, PSOL e PC do B para derrotar o governo. Waldir está com Bivar e não abre. Satisfeito com seu gesto, até deu uma palmadinha nas costas do líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO).

A obstrução do PSL durou uma hora, se tanto. Não era para valer, era só para dar um susto no governo e evitar que levassem falta deputados do partido que estavam reunidos no gabinete de Waldir discutindo outros assuntos.

A Medida Provisória acabou aprovada com os votos dos deputados do PSL.


Ricardo Noblat: Carnaval de protesto esquenta os tamborins

Segura o tranco, Bolsonaro!

Pelo menos 8 das 13 escolas do Grupo Especial no Rio de Janeiro levarão para a avenida no próximo ano sambas e enredos com críticas diretas e indiretas ao governo de Jair Bolsonaro, e às suas ideias ou falta delas.

Mangueira e Portela são as que prometem maior atrevimento com referências ao próprio Bolsonaro. Com o enredo “A verdade vos fará livre”, a Mangueira aborda a mania do presidente de usar os dedos das mãos para fingir que atira e cantará a certa altura:

“Favela, pega a visão/Não tem futuro sem partilha/Nem Messias de arma na mão”.

Bolsonaro e o prefeito Marcelo Crivella, do Rio serão os alvos preferidos da Portela com enredo que conta a história dos índios que habitavam o Rio antes da chegada dos portugueses ao Brasil:

“Índio pede paz, mas é de guerra/Nossa aldeia é sem partido ou facção/Não tem bispo, nem se curva a capitão”.

Com o enredo “O conto do Vigário”, a São Clemente atira em todas as direções – nos laranjais do PSL, nos presos da Lava Jato recolhidos ao presídio de Bangu, e no uso das fake news nas eleições do ano passado:

“Brasil, compartilhou, viralizou, nem viu/E o país inteiro assim sambou/Caiu nas fake news”.

Os enredos mais inocentes transmitirão mensagens de luta contra o racismo (Salgueiro) e a intolerância religiosa (Grande Rio). Mocidade Independente de Padre Miguel, com desfile sobre a cantora Elza Soares, e União da Ilha citarão as mazelas sociais.

Outubro, para os cariocas, não tem para mais nada. É a data final para a escolha dos sambas que serão cantados na Marquês de Sapucaí. Evoé, Momo!

Viés ideológico afasta investimentos

Ministros tóxicos
Não convidem para a mesma mesa o ministro Paulo Guedes, da Economia, e seus colegas Abraham Weintraub (Educação), Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Damares Alves (Mulher e Direitos Humanos).

Grandes bancos e investidores estrangeiros relataram a Guedes que o Brasil perde recursos e investimentos por causa da chamada ala ideológica do governo, segundo a edição mais recente do TAG Repórter, das jornalistas Helena Chagas e Lydia Medeiros.

A equipe de Guedes mapeou entradas e saídas de investimentos e constatou que pequenos países da Ásia como o Vietnã, e grandes países da América Latina como o México, atraem recursos que poderiam ser destinados ao Brasil.

Guedes está furioso com isso. E com seus colegas.

Tudo para salvar a pele de Lula e Dilma

CPI do BNDES
Há mais de uma semana que petistas cinco estrelas da Câmara suam a camisa para impedir que o deputado Altineu Cortes (PR-RJ), relator da CPI do BNDES, peça o indiciamento dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff.

Se ele pedir como já indicou que o fará, dificilmente os dois não serão indiciados por envolvimento em negócios do banco com outros países que deram prejuízo ao Brasil ou que simplesmente são considerados suspeitos.

O relatório deverá ser votado amanhã. Os petistas assediam Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, para que ele os ajude. Parte da bancada do PT apoiou a reeleição de Maia para presidente.