Blog do Noblat

Mary Zaidan: Populismo em rede

Bolsonaro aposta tudo

A mistura de política com entretenimento não é novidade. Era assídua nas marchinhas de carnaval, na música popular, e continua arrancando gargalhadas nos programas humorísticos de TV. Artistas sempre foram bons cabos eleitorais e showmícios faziam parte das campanhas até serem proibidos pelo Supremo, em 2006. Tudo para lá de inocente perto do que se vê nas redes sociais, ambiente em que a política virou um reality show sob medida para o populismo de ocasião.

Nele, o presidente Jair Bolsonaro tem se mostrado imbatível. Na última quinta-feira, movimentou o Facebook com uma enquete sobre como deveria agir quanto ao fundo eleitoral de R$ 2 bilhões proposto pelo seu governo e aprovado pelo Congresso. Vetar e correr o risco de um impeachment ou sancionar, provocou.

De duas, as duas. Mentiu ao delegar a escolha para a galera e tratou uma decisão presidencial como bacalhau que se joga na plateia. (Que o genial Chacrinha me perdoe pela citação.)

Nada que cause espanto em um governo que define políticas públicas por likes no Facebook, retweets e coraçõezinhos de aprovação.

Ministros como Abraham Weintraub, da Educação, Damares Alves, da Mulher, Família e Direitos Humanos, e Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, parecem que se ocupam mais das redes do que das tarefas para as quais foram nomeados. Pelo volume de posts diários e lives semanais, que duram em média uma hora, o próprio presidente dá a entender que agradar fãs no Facebook e no Twitter é determinante. Importa mais que a governança, que o país.

No primeiro ano de governo foi a temperatura nas redes que determinou as idas e vindas do presidente. Seja para amenizar o projeto original da Previdência ou adiar privatizações, voltar atrás na mudança da Embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém ou na indicação de seu filho Eduardo para a Embaixada dos Estados Unidos.

Antes de o ano virar voltou da Bahia para Brasília depois de ser duramente criticado no Facebook e no Twitter por preferir ver a chegada de 2020 longe da mulher e, pior, no momento em que ela passaria por uma cirurgia, mesmo sob alegação de risco zero. Erro fatal para quem se diz um feroz defensor da família sobre todas as coisas. Nem os fanáticos seguidores perdoaram.

As redes servem ainda para a prática da tergiversação.

Com estratagemas diversos – acusações à imprensa, falsas notícias, exageros ou impropérios inadmissíveis para qualquer um, quanto mais para alguém que deveria servir de exemplo -, Bolsonaro usa as redes para tirar o foco dos imbróglios em que seus filhos se metem. Basta uma investigação chegar perto de algum deles para que o presidente fale ou escreva um post desaforado que suplante a notícia incômoda.

Serve ainda para testar a (im)popularidade de medidas como o retorno da CPMF, que espertamente Bolsonaro terceirizou para a equipe de Paulo Guedes. Aí o presidente chega ao cúmulo de conversar com o ministro no Planalto pela manhã e deixá-lo sem tapete depois do almoço no primeiro post da tarde.

Uma prática repetida amiúde com o ministro Sérgio Moro, desautorizado por diversas vezes em todas as mídias – ao vivo, gravado, em entrevistas distribuídas em atacado nas redes. Na seara de ser contestado publicamente pelo chefe ninguém suplanta Moro, o que, imaginam alguns dos fiéis do ex-juiz, poderá ser utilizado a favor de uma eventual candidatura dele à Presidência.

Sonhos de 2022 que, diga-se, têm adeptos a rodo na mesma web em que Bolsonaro brilha.

Ainda que a performática atuação dê a impressão de que Bolsonaro está bombando, sua aprovação entre os brasileiros é inferior à do também populista Fernando Collor, o caçador de marajás. Collor foi eleito pela TV e deposto pelas ruas, canal que ele duvidava que poderia ser mais forte do que a audiência eletrônica que ele tão bem dominava.

Bolsonaro aposta tudo nas redes. Seu governo se dá por meio delas. Sua popularidade, ainda que tenha sofrido forte queda, se mantém por arrobas fiéis. Resta saber se o país se renderá à audiência digital e a plebiscitos populistas baratos.

*Mary Zaidan é jornalista


Ricardo Noblat: Governo condena terrorismo lá fora. Aqui dentro, silencia

Quem avisou ao terrorista do Rio que ele seria preso?

Uma vez que se manifestou solidário com o governo americano “no combate ao terrorismo” depois que o presidente Donald Trump mandou matar o general iraniano Qassem Soleimani, é razoável imaginar que o governo brasileiro condenará também o ato de terrorismo contra a sede da produtora Porta dos Fundos, no Rio.

O carismático comandante das forças de segurança iranianas era considerado um herói no seu país. Contra ele, fora de lá, pesavam graves acusações de envolvimento com terrorismo. Soleimani foi assassinado por um drone quando deixava o aeroporto de Bagdá, no Iraque. Junto com ele morreram pelo menos mais seis pessoas.

Segundo Mike Pompeo, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Soleimani planejava ações que poderiam pôr em risco vidas americanas no Oriente Médio. Sua morte, afirmou Trump, não foi para “dar início a uma nova guerra”, mas para impedir a possibilidade de haver uma nova guerra na região.

O ato de terrorismo contra a produtora Porta dos Fundos não produziu vítimas. Cerca de cinco homens, de acordo com a polícia do Rio, arremessaram duas bombas caseiras incendiárias contra o imóvel. Um porteiro escapou sem ferimentos. Mas terrorismo é terrorismo onde quer que aconteça, produza ou não vítimas.

Um dos cinco homens, Eduardo Fauzi, ligado a milicianos e dono de folha policial com cerca de 20 registros de transgressões à lei, fugiu para a Rússia na véspera de ser preso. Uma vez lá, confessou ser um dos autores do atentado. E disse que só conseguiu fugir porque fora avisado com antecedência de sua prisão.

Para justificar o que fez, Fauzi alegou que os comediantes do Porta dos Fundos desrespeitaram a religião ao encenarem uma sátira insinuando que Jesus poderia ter tido uma experiência homossexual. Ninguém é obrigado a gostar de sátiras. Mas a ninguém é permitido o uso de bombas para protestar.

Desde a véspera do Natal, dia do atentado, o governo Bolsonaro mantém-se em silêncio. Guardaria silêncio se algo parecido tivesse acontecido às portas de uma igreja evangélica? Ou de uma sinagoga? Ou às portas de uma unidade militar? Onde se perdeu a promessa de Bolsonaro de governar sem viés ideológico?


Ricardo Noblat: O jogo de xadrez entre Bolsonaro e Moro de olho na eleição de 2022

Um tem a caneta mais poderosa da República. O outro, maior popularidade

Em setembro último, a um grupo de servidores da Receita Federal, um ministro do Tribunal de Contas da União disse ter ouvido de Jair Bolsonaro que Sérgio Moro não terminaria o ano no cargo.

Não ficou claro para os servidores se Moro não ficaria porque seria demitido por Bolsonaro ou se não ficaria porque pediria demissão. Mas ele ficou. Frustrou-se, portanto, a previsão de Bolsonaro.

Quanto mais tempo ficar no cargo de ministro da Justiça, melhor para Moro – seja para aumentar suas chances de ser candidato a vice de Bolsonaro em 2022, seja para concorrer à sucessão dele.

Moro sabe disso. Bolsonaro, também. Os dois movimentam suas peças num tabuleiro invisível de xadrez. Bolsonaro comporta-se como candidato à reeleição. Moro, disfarça sua ambição.

Bolsonaro é dono da caneta BIC mais poderosa da República, capaz de fazer e desfazer ministros. Mas Moro é mais popular do que ele fora da Praça dos Três Poderes, em Brasília.

A partida que disputam requer mais refinamento de Moro. Ora, o ministro engole sem reclamar decisões de Bolsonaro que o contrariam. Ora, com jeito, manifesta seu desagrado.

Na maioria das ocasiões, o desafio de Moro é demarcar-se de Bolsonaro sem provocar sua fúria. Ou sem criar uma situação que o obrigue a sair do governo antes da hora que não sabe qual será.

Bolsonaro não se engana com Moro, nem Moro com Bolsonaro. No momento, por conveniência de parte a parte, estão juntos. Mas no futuro, é improvável que estejam.


Ricardo Noblat: Nunca se viu e jamais se verá um governo como esse

Que 2019 não se repita

O primeiro ano da Era Bolsonaro começou com uma controversa declaração da ministra Damares Alves, dos Direitos Humanos, sobre gênero (“Menino veste azul, menina veste rosa”). E acabou com outra de natureza homofóbica disparada pelo próprio presidente contra um jornalista (“Você tem uma cara de homossexual terrível”).

Entre uma e outra, não teve para mais ninguém – só para Bolsonaro, que protagonizou os fatos mais relevantes do ano e produziu os disparates mais absurdos. Bolsonaro superou-se. Postou no Twitter um vídeo pornográfico (março) e tentou acabar com a multa para quem transportasse crianças sem o uso da cadeirinha (junho).

Conseguiu, em abril, desgostar dois governos estrangeiros ao mesmo tempo. Em visita a Israel, declarou que o Holocausto que dizimou 6 milhões de judeus durante a 2ª Guerra Mundial seria perdoável, e lá mesmo ouviu que não seria possível. Então diisse que o nazismo foi de esquerda – e o governo alemão respondeu que foi de direita.

Julho e agosto foram meses infernais para quem acreditou que Bolsonaro, aos poucos, seria forçado a entrar nos eixos. Ele ofendeu a mulher do presidente francês, culpou ONGs pelos incêndios que destruíram parte da floresta amazônica e sugeriu aos brasileiros que fizessem cocô dia sim, dia não, para preservar o meio ambiente.

Fevereiro foi o único mês onde Bolsonaro comportou-se com razoável moderação. Operado mais uma vez em São Paulo, ficou preso a uma cama de hospital durante mais de 15 dias. Aproveitou que convalescia para bater boca pelo celular com o ministro Gustabo Bebbiano, Secretário-Geral da presidência. De volta a Brasília, demitiu.

Segue uma modesta coleção das mais barulhentas trapalhadas do governo de um presidente acidental. Com os votos de feliz Ano Novo para os leitores deste blog.

 

Janeiro

Menino veste Azul. Menina, rosa

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https://brpolitico.com.br/noticias/menino-veste-azul-e-menina-veste-rosa/

 

Fevereiro

MEC pede hino nacional em todas as escolas

https://brpolitico.com.br/noticias/mec-pede-hino-nacional-em-todas-as-escolas/

 

Março

Após postar vídeo com pornografia, Bolsonaro pergunta o que é ‘golden shower’

https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/03/06/apos-postar-video-com-pornografia-bolsonaro-pergunta-o-que-e-golden-shower.ghtml

 

Abril

Presidente Jair Bolsonaro censura campanha do Banco do Brasil focada na diversidade

https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2019/04/25/interna_politica,751603/bolsonaro-critica-turismo-gay-proibe-video-de-banco-sobre-diversidade.shtml

Após dizer que é possível perdoar Holocausto, Bolsonaro tenta se retratar com israelenses

https://revistaforum.com.br/politica/apos-dizer-que-e-possivel-perdoar-holocausto-bolsonaro-tenta-se-retratar-com-israelenses/

No Memorial do Holocausto, Bolsonaro diz que nazismo era de esquerda

https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/04/02/bolsonaro-diz-nao-haver-duvida-de-que-nazismo-era-de-esquerda.ghtml

 

Maio

Bolsonaro sobre estudantes que protestam: “são uns idiotas úteis, uns imbecis”

https://extra.globo.com/noticias/brasil/estudantes-que-protestam-nesta-4-feira-sao-idiotas-uteis-imbecis-diz-bolsonaro-23667558.html

 

Junho

Bolsonaro quer fim da multa a quem transportar criança sem cadeirinha

https://www.metropoles.com/brasil/politica-br/bolsonaro-quer-fim-de-multa-para-transporte-de-criancas-sem-cadeirinha

 

Julho

Passar fome no Brasil é uma grande mentira’, diz Bolsonaro

https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2019/07/19/falar-que-se-passa-fome-no-brasil-e-uma-grande-mentira-diz-bolsonaro.htm

“Daqueles governadores de ‘Paraíba’, o pior é o do Maranhão” diz Bolsonaro

https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/07/19/daqueles-governadores-de-paraiba-o-pior-e-o-do-maranhao-diz-bolsonaro.ghtml

Bolsonaro usa informações falsas para atacar Miriam Leitão e diz que ela não foi torturada: “drama mentiroso”

https://revistaforum.com.br/politica/bolsonaro-usa-informacoes-falsas-para-atacar-miriam-leitao-e-diz-que-ela-nao-foi-torturada-drama-mentiroso/

Bolsonaro defende trabalho infantil e diz que “não prejudica em nada”

https://valor.globo.com/politica/noticia/2019/07/04/bolsonaro-defende-trabalho-infantil-e-diz-que-nao-prejudica-em-nada.ghtml

 

Agosto

Após ofender mulher de Macron, Bolsonaro diz que não a ofendeu

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/08/apos-ofender-mulher-de-macron-bolsonaro-diz-que-nao-a-ofendeu.shtml

Sem apresentar nenhuma prova, Bolsonaro tenta ligar ONGs a queimadas

https://veja.abril.com.br/politica/sem-apresentar-qualquer-prova-bolsonaro-tenta-ligar-ongs-a-queimadas/

Fazer cocô dia sim, dia não, vai melhorar o meio ambiente, propõe Bolsonaro

https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/08/09/bolsonaro-sugere-fazer-coco-dia-sim-dia-nao-para-reduzir-poluicao-ambiental.ghtml

Bolsonaro: ‘Trabalhadores deveriam tentar empreender para ver como é barra pesada ser empresário’

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,trabalhador-que-critica-patrao-deveria-empreender-para-ver-como-e-barra-pesada-diz-bolsonaro,70002955866

“Sem limite de compras: Bolsonaro usa e abusa do cartão de crédito da Presidência”

https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/lucio-vaz/bolsonaro-cartao-corporativopresidencia//

 

Setembro

Bolsonaro erra hino e canta margens flácidas

https://bhaz.com.br/2019/09/11/bolsonaro-margens-flacidas/

Bolsonaro ataca pai de Bachelet, morto sob Pinochet, e defende golpe no Chile

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/09/bolsonaro-ataca-pai-de-bachelet-que-foi-torturado-e-morto-pela-ditadura-pinochet.shtml

 

Outubro

Bolsonaro pede para apoiador esquecer o PSL e diz que Bivar está ‘queimado’

https://oglobo.globo.com/brasil/esquece-psl-diz-bolsonaro-apoiador-240033811

Bolsonaro diz que vídeo com leão e hienas foi ‘erro’ e pede desculpas ao Supremo

https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,bolsonaro-diz-que-video-com-leao-e-hienas-foi-erro-e-pede-desculpas-ao-stf,70003067852

 

Novembro

”Nunca teve ditadura no Brasil”, diz Bolsonaro sobre questões do Enem

https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2019/11/14/interna_politica,806513/nunca-teve-ditadura-no-brasil-diz-bolsonaro-sobre-questoes-do-ene.shtml

 

Dezembro

“Você tem uma cara de homossexual terrível”

https://oglobo.globo.com/brasil/voce-tem-uma-cara-de-homossexual-terrivel-nem-por-isso-te-acuso-reage-bolsonaro-sobre-caso-flavio-2-24150705


Ricardo Noblat: O que 2020 pode reservar para Bolsonaro, Moro e Guedes

Os atropelos reservados a cada um

Jair Bolsonaro começou o ano com dois superministros e chegou ao fim sem nenhum. Apesar das bordoadas que tomou do chefe e do insucesso da maioria das propostas que despachou ao Congresso, Paulo Guedes ainda faz por merecer o título de Posto Ipiranga, quando nada porque o governo carece de iluminados.

Sérgio Moro, da Justiça, foi rebaixado. O desprestígio interno de Moro não tem correspondência nas ruas. O governo é mal avaliado no combate à corrupção, mas a popularidade de Moro continua nas alturas e é bem maior do que a de Bolsonaro. Guedes não faz planos para sair do governo. Moro, faz.

Bernardo Caram e Fábio Pupo, da Folha de S. Paulo, apuraram números que dão uma medida das dificuldades de Guedes este ano. Dois terços de suas propostas foram rejeitados ou dependem de aprovação no Congresso. O ministro faz mais sucesso na Brigadeiro Faria Lima do que na Praça dos Três Poderes.

A análise considera projetos de lei, PECs (propostas de emenda à Constituição) e medidas provisórias. Foram 38 textos. Aprovados, apenas 13. O mais importante deles, a reforma da Previdência. Ela começou a ser gestada no governo Temer. Sua aprovação deve-se mais à força de Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara.

Se consideradas apenas as Medidas Provisórias (MPs), que têm no máximo quatro meses para uma avaliação do Congresso, 20 textos foram enviados para lá pela área econômica do governo e já tiveram o prazo de exame encerrado. Somente 10 viraram leis e outros 10 foram rejeitados, segundo Caram e Pupo.

O Congresso demonstrou mais boa vontade com as MPs de Temer – 67% delas aprovadas no início do seu governo. Antes disso, com as de Dilma no seu primeiro ano de governo – 84% delas aprovadas. E antes com as de Lula – 92% delas também aprovadas. O que explica isso? O comportamento do governo.

Bolsonaro elegeu-se dizendo que era contra “tudo isso que está aí”. Sua missão seria quebrar o sistema para só depois construir alguma coisa. Possivelmente, num segundo mandato. Tem sido coerente. Montou seu governo de costas para os partidos. Governa de costas para o Congresso. Não quer compartilhar o poder.

Tal postura, aliada à inexperiência política de muitos dos seus auxiliares, encontra forte resistência dentro do Congresso. Guedes pensou de início que bastaria “dar uma prensa” em deputados e senadores para que eles se rendessem. Moro pensou que seu prestígio no resto do país se estendia a Brasília.

Os políticos temem Moro, não o amam. Seu pacote de medidas anticrime foi desidratado para proteger aqueles que poderiam se tornar alvos dele. Para completar a desdita do ministro, Bolsonaro o vê com desconfiança desde o dia em que, convencido por Guedes, o convidou para fazer parte do governo.

Guedes, não, mas Moro é uma ameaça ao desejo de Bolsonaro de governar o país por oito anos. Se Guedes decidir um dia ir embora, Bolsonaro escolherá outro nome – e é vida que segue. Para Guedes também, que voltará a ganhar dinheiro. Se Moro for embora é porque decidiu tentar voltar nos braços do povo.

2020 é ano de eleição. Os políticos estarão mais sensíveis à vontade popular e o Congresso mais refratário a votar mudanças polêmicas.


Ricardo Noblat: Moro fustiga Bolsonaro e critica a lei que ele próprio assinou

Tiro ao alvo no capitão

Onde já se viu um ministro de Estado manifestar-se contrário a uma decisão tomada pelo presidente da República? Foi o que fez o ministro Sérgio Moro, da Justiça, em relação à lei sancionada por Jair Bolsonaro que criou a figura do juiz das garantias, como se os demais juízes fosse incapazes ou estivessem desobrigados de garantir os direitos das partes envolvidas em um processo. Seria o caso de se indagar por que Moro assinou a lei.

Ministro de Estado pode aconselhar o presidente, e mais não pode. Pode também ir para casa. Divergir, não pode. Muito menos tornar pública sua divergência. E por que Moro o fez e continua a fazer? Para enfraquecer seu chefe? Para se demarcar dele? Para dar satisfação aos seus seguidores? “Apesar disso, vamos em frente”, Moro escreveu. Como quem faz uma concessão e mais uma vez se oferece ao sacrifício de permanecer ministro.

Mesmo depois que Bolsonaro admitiu seu desconforto com o que parte de sua base anda dizendo a seu respeito, Moro voltou ao ataque. Escreveu no Twitter: “Leio na lei de criação do juiz de garantias que, nas comarcas com um juiz apenas (40 por cento do total), será feito um ‘rodízio de magistrados’ para resolver a necessidade de outro juiz. Para mim é um mistério o que esse ‘rodízio’ significa. Tenho dúvidas se alguém sabe a resposta”.

Se é um mistério o que o rodízio significa, se duvida que alguém tenha resposta à pergunta que sugere, de volta à pergunta inicial: então por que assinou a lei juntamente com o presidente da República? Foi constrangido a assiná-la? Assinou-a e se arrependeu? Ou provoca Bolsonaro para que ele o demita? Ou quer mostrar que falta coragem a Bolsonaro para tal? Ou prepara sua saída do governo, o mais tardar no próximo ano?

O pacote de medidas anticrime despachado por Moro ao Congresso foi sua proposta mais ambiciosa concebida aqui. Foi também a maneira de justificar o passo audacioso que deu ao renunciar à toga que o transformara em herói para aderir ao governo do controverso capitão. Como juiz, argumentou Moro à época, ele tinha feito o que estava ao seu alcance. Como ministro da Justiça poderia fazer mais.

Estranho ao serpentário de Brasília, não supôs que ali seria tão mal recebido como foi pelos políticos, boa parte deles alvos de suas ações. Quase todos o culpam por demonizar a política. Cumpriu-se o que estava escrito nas estrelas do Planalto central e que Moro não soube ler: o pacote de sua autoria acabou desidratado. E se isso não bastasse, nele foi introduzido um dispositivo que soou como uma censura direta a Moro.

Um juiz com os poderes que Moro já teve, nunca mais! É mais ou menos isso o que significa a criação do juiz das garantias que passará a cuidar de todos os procedimentos de um processo. A outro caberá a sentença que condenará ou absolverá o réu. Aqui não se discute se mudança tão radical na lei processual será boa ou ruim para a Justiça do país. Foi ruim para Moro que pediu a Bolsonaro que a vetasse. Não foi atendido.

Com ou sem a revelação de suas conversas sigilosas com procuradores da Lava Jato enquanto era juiz, o pacote anticrime de Moro esbarraria na má vontade do Congresso como esbarrou e pelas razões já expostas. Mas a criação do juiz das garantias é consequência direta da forte impressão deixada por tais conversas de que Moro comportou-se à frente da Lava Jato como um aliado preferencial do Ministério Público.

Moro sabe, sim, como deverá funcionar um rodízio de juízes nas comarcas sem juízes. Ao dizer que não sabe, ao duvidar que alguém saiba, arrisca-se a ser chamado de irresponsável quando nada por ter assinado embaixo da lei que agora se ocupa em criticar.


Ricardo Noblat: O amargo presente de Natal que Bolsonaro deu a Sérgio Moro

Caberá ao Supremo Tribunal Federal validar ou não a criação da figura do juiz das garantias

O presidente Jair Bolsonaro ainda não se recuperou da pancada na cabeça que levou ao cair no banheiro do Palácio da Alvorada. Sancionou a emenda do deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) ao pacote anticrime do ministro Sérgio Moro que criou a figura do juiz das garantias. A oposição ao governo no Congresso comemora.

Pergunta que desde ontem teima em ser feita: a criação da figura do juiz das garantias poderá de um modo ou de outro beneficiar o senador Flávio Bolsonaro, o Zero UM, encrencado com a Justiça desde que o Ministério Público do Rio descobriu que funcionários do seu antigo gabinete de deputado devolviam parte dos salários?

Por duas vezes em um período de menos de 12 horas, Moro registrou sua contrariedade com o ato de Bolsonaro. Da segunda vez foi mais direto:

– Sancionado hoje o projeto anticrime. Não é o projeto dos sonhos, mas contém avanços. Sempre me posicionei contra algumas inserções feitas pela Câmara no texto originário, como o juiz de garantias. Apesar disso, vamos em frente.

Curioso é que a lei 13.964 sancionada por Bolsonaro e que criou a figura do juiz das garantias tenha sido assinada também pelo próprio Moro. Apesar disso, vamos em frente. A lei entrará em vigor dentro de 30 dias. Prazo tão curto é o sinal mais claro de que ela enfrentará problemas para começar a ser respeitada.

De acordo com o texto sancionado por Bolsonaro, doravante um juiz (o tal das garantias) conduzirá a investigação criminal em relação às medidas necessárias para o andamento do caso, cabendo a outro o recebimento da denúncia e a sentença. Jamais haverá outro Moro com os poderes que teve no passado.

Caberá ao Supremo Tribunal Federal a última palavra sobre o presente de Natal dado por Bolsonaro àquele que no início do seu governo foi tratado como um dos dois superministros (o outro era Paulo Guedes, da Economia). O PODEMOS, partido que sonha com a filiação futura de Moro, baterá às portas do tribunal.

Pretende questionar vários pontos da lei. Qual será o impacto orçamentário-financeiro com a criação do juiz das garantias? O legislador poderia criar cargos na estrutura de outro Poder? A Constituição não diz que a iniciativa para a criação de cargos em cada Poder compete justamente ao chefe desse Poder?

Bolsonaro correu ao Facebook para dar explicações tão logo a hashtag Bolsonarotraidor# foi para as alturas no Twitter. “Nem sempre posso dizer não ao Parlamento”, desculpou-se. Outra vez jogou a culpa no Congresso e deixou furiosos os senadores que acreditaram na conversa de que ele vetaria o juiz das garantias.

Foi na Câmara que se acrescentou ao pacote anticrime de Moro a tal figura. Para apressar a aprovação do pacote no Senado, o líder do governo ali, o senador Fernando Bezerra Coelho (PMDB-PE), e o próprio Moro garantiram que Bolsonaro acabaria por vetar ponto tão controverso. Bolsonaro passou-lhes a perna.


Ricardo Noblat: Bolsonaro, ascensão e queda

O sofrimento do patriarca

O presidente Jair Bolsonaro desmaiou e por isso caiu e bateu com a cabeça no chão do banheiro da área residencial do Palácio da Alvorada? Ou apenas caiu por que escorregou ou tropeçou em alguma coisa? Essa era a pergunta que muitos se faziam, ontem à noite, em Brasília, e que estava sem resposta até esta madrugada.

Se ele caiu por ter desmaiado, o caso pode inspirar maiores cuidados. Levado às pressas para o Hospital das Forças Armadas, uma tomografia computadorizada não detectou alterações no seu crânio, segundo nota oficial do governo. Ficaria em observação por 6 ou 12 horas, devendo ser liberado logo em seguida.

Com 64 anos de idade, Bolsonaro sempre gozou de boa saúde. Quando serviu ao Exército ganhou o apelido de “cavalão”, tal era sua disposição física que lhe rendeu boas notas em competições esportivas. Foi elogiado muitas vezes por seu desempenho. Arriscou a vida para salvar um colega paraquedista que se afogava.

Não tivesse levado a facada que quase o matou em Juiz de Fora, estaria em forma. A facada pode tê-lo ajudado a se eleger presidente, mas fragilizou seu corpo e principalmente sua mente. Foi operado mais de uma vez em menos de um ano. Usa uma tela para proteger seu abdómen. Sente dores com frequência.

Ter visto a morte de perto mexeu muito com sua cabeça. Vive assombrado. Receia ser alvo de um novo atentado. Enxerga perigo por toda parte. Presidente algum desde a redemocratização do país escolheu ser refém de um aparato de segurança tão gigantesco como o que o protege. Apesar disso, ele cobra sempre mais.

Quando Bolsonaro fala que só será candidato à reeleição se sua saúde permitir, não está blefando. Muito menos se vitima para atrair mais votos. De fato, ele não parece nem um pouco disposto a pôr sua vida novamente em risco para exercer por mais quatro anos uma tarefa que tanto o desagrada.

Sua intenção inicial ao lançar-se candidato a presidente era ajudar os filhos em suas carreiras políticas. Não imaginava que venceria. Na hora que sua vitória foi anunciada, teve uma crise de choro. Mais tarde, confessou que se sentia esmagado pelo que acabara de acontecer. Sabia que carecia de preparo para o novo ofício.

Os filhos Flávio e Eduardo tiveram votações expressivas nos rastros do pai. Mas um ano depois, Flávio está cada vez mais enroscado com a Justiça, e Eduardo frustrado por não ser embaixador do Brasil em Washington. A família jamais se sentiu tão acuada. Natural que o patriarca sofra com tudo isso.


Ricardo Noblat: A sorte de Lula depende do voto do ministro Celso de Mello

Decisão será tomada no início de 2020

Confidentes de alguns dos cinco ministros que integram a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) acreditam que o colegiado anulará a sentença do ex-juiz Sergio Moro que condenou o ex-presidente Lula no caso do tríplex do Guarujá.

O placar, ali, por ora estaria em 2 votos contra 2. Quem deverá definir a parada a favor de Lula será o ministro Celso de Mello. Ele não o faria com base no material divulgado pelo site The Intercept Brasil sobre conversas entre Moro e procuradores da Lava Jato.

Pesará na decisão de Mello o vazamento ilegal autorizado por Moro da gravação de uma conversa telefônica entre Lula e a então presidente Dilma Rousseff. À época, Dilma convidara Lula para ser ministro do seu governo e ele aceitara.

Naquele dia, a conversa foi gravada depois que expirara o prazo estabelecido pelo próprio Moro para o grampo no telefone usado por Lula. A Segunda Turma deverá se debruçar sobre esse assunto entre março e abril do próximo ano.

Caso, de fato, a sentença de Moro seja anulada, Lula recuperará a condição de poder ser candidato outra vez e o caso do tríplex terá de ser julgado novamente. As informações são do TAG REPORT, relatório semanal das jornalistas Helena Chagas e Lydia Medeiros.


Ricardo Noblat: Impeachment ou parlamentarismo, o que se desenha

Bolsonaro não fará falta

Um dia, o presidente Jair Bolsonaro diz que se seu filho Flávio Bolsonaro “errou e for provado”, lamentará como pai, mas que “ele terá de pagar o preço por aquelas ações que não temos como aceitar”. Foi em 23 de janeiro último, em Davos, na Suíça, onde Bolsonaro estava para participar do Fórum Econômico Mundial.

Em outro dia, Bolsonaro diz que há um abuso do Ministério Público nas investigações sobre o desvio de dinheiro público que envolve Flávio e Queiroz e que pode atingir a família presidencial. E que é preciso controlar o Ministério Público. Foi ontem. E desabafou: “Agora, se eu não tiver a cabeça no lugar, eu alopro”.

Controlado, Bolsonaro jamais foi desde que, afastado do Exército por indisciplina entrou para a política e viveu quase 30 anos como deputado federal. Mas ao fim do seu primeiro ano de governo, ele dá sucessivos sinais de um descontrole exacerbado, o que levanta dúvidas sobre se terá condições de completar seu mandato.

Na última sexta-feira, Bolsonaro atacou um jornalista dizendo que ele tinha cara de homossexual. Nesse sábado, convidou jornalistas para uma conversa e disse, entre outras coisas, que é “um político tosco” e que na economia seu patrão é o ministro Paulo Guedes. Desejou Feliz Natal “mesmo sem carne para alguns”.

Não ficou por aí. Admitiu que está infeliz como presidente da República porque a vida “é muito sacrificante”. À parte os generais presidentes da ditadura militar de 64, presidente algum da redemocratização do país para cá queixou-se tanto do cargo e revelou-se tão pouco capaz de exercê-lo.

A facada de Juiz de Fora fez muito mal a ele. Mais à cabeça do que ao resto do corpo. Bolsonaro tornou-se um paranoico. Enxerga ameaças à sua vida por toda parte. Evita passear na área externa do Palácio da Alvorada com medo de ser assassinado por um drone. Veste colete à prova de balas. Tem sempre armas por perto.

“Não dá para saber tudo o que acontece dentro do governo”, constata. Desconhece que um presidente não precisa saber tudo o que acontece dentro do seu governo, apenas o principal. Que não precisa entender de tudo, mas cercar-se de quem entenda. Mas que há de ter bom senso e noção de para onde quer conduzir o país.

São qualidades que ele não tem. Sua eleição foi um acidente, resultado de uma conjuntura que não se repetirá. Seu governo é acidental. Parte dos que votaram nele já se arrependeram. A mais recente pesquisa IBOPE revelou que cresce a desaprovação ao seu desempenho. A palavra “impeachment” começa a ser ouvida.

O impeachment parece improvável em um país onde dois presidentes acabaram no chão no curto período de 23 anos. A adoção do parlamentarismo como sistema de governo não parece assim tão improvável. Quando nada porque, na ausência de um presidente funcional, é nessa direção que se caminha.

A não ser seus devotos mais fiéis e irascíveis, Bolsonaro não deixará órfãos se cair ou se acabar ficando como um presidente decorativo.


Ricardo Noblat: Bolsonaro detona Bebbiano com medo de que ele conte o que sabe

Teoria da conspiração

Sem apresentar prova, sem citar diretamente o nome dele, mas dando todas as indicações que a ele se referia, Jair Bolsonaro disse em entrevista à VEJA que Gustavo Bebbiano, seu ex-ministro da Secretaria-Geral da presidência da República, é suspeito de ter participado do atentado à faca que por pouco não o matou.

“O meu sentimento é que esse atentado teve a mão de 70% da esquerda, 20% de quem estava do meu lado e 10% de outros interesses”, afirmou Bolsonaro refastelado numa poltrona do Palácio da Alvorada, de bermuda, chinelos, e com a camisa de um desconhecido time de futebol de Minas Gerais.

“Tinha uma pessoa do meu lado que queria ser vice”, prosseguiu. “O cara detonava todas as pessoas com quem eu conversava. Liguei para convidar o Mourão às 5 da manhã do dia em que terminava o prazo de inscrição da chapa. Se ele não tivesse atendido, o vice seria essa pessoa. Eu passei a valer alguns milhões deitado.”

Antes de falar com Mourão, Bolsonaro falara várias vezes com Bebbiano na noite do dia anterior. E quando Bebbiano soube que o vice seria Mourão, tentou convencer Bolsonaro a procurar outro vice. Uma chapa pura de militares não seria uma boa. Foi o próprio Bebbiano que o disse em mais de uma entrevista.

Bebbiano até poderia pretender ser vice de Bolsonaro. Á época, presidia o PSL. Era uma estrela em ascensão entre os bolsonaristas. Mas daí a sugerir que ele, mais tarde, desejasse ver Bolsonaro morto e tenha sido cúmplice da facada, vai uma distância que só a irresponsabilidade de Bolsonaro pode percorrer.

Quando nada porque a Polícia Federal e, em seguida, a Justiça, investigaram o atentado à exaustão e concluíram em três ocasiões que o pedreiro Adélio Bispo, autor da facada, agiu sozinho. Bolsonaro não se conforma com isso. E tenta enlamear o nome de Bebbiano por medo de que no futuro ele lhe crie embaraços.

O ex-ministro filiou-se ao PSDB sob o patrocínio do governador João Doria, de São Paulo, e admite ser candidato a prefeito do Rio em 2020. É um pote de mágoa de Bolsonaro até a borda. Perdeu o emprego no governo porque Carlos Bolsonaro, o Zero Dois, o detestava. Se contar o que sabe, os Bolsonaro estarão em apuros.

Sempre que se vê acuado, Bolsonaro inventa histórias, desata ataques aos seus desafetos e arranja novas brigas para desviar a atenção do que não lhe interessa. O inquérito sobre os rolos da dupla Flávio-Queiroz está cada vez mais perto dele e de sua família. É uma bomba que pode explodir a qualquer momento.


Rubens Bueno: Democracia sempre!

Não demorou muito para que integrantes do governo e os filhos do presidente gerassem uma série crises

O ano de 2019 começou com uma certa apreensão em torno dos rumos que o país iria tomar. Depois de mais de duas décadas de alternância da presidência da República entre PSDB e PT, o eleitor resolveu trilhar um novo rumo e escolheu para o comando do país um político ligado ao espectro mais conservador, defensor da ditadura e de reconhecidos torturadores.

Havia o temor por ataques contra as instituições após uma das campanhas mais acirradas dos últimos anos, marcada por discursos exacerbados e pela disseminação de notícias falsas por ambos os lados.

Não demorou muito para que integrantes do governo e os filhos do presidente gerassem uma série crises, principalmente por meio de trocas de ofensas e ataques direcionados a Câmara, ao Senado e ao Supremo Tribunal Federal.

Temendo que um movimento contra o governo pudesse tomar corpo, como aconteceu no Chile e na Bolívia, autoridades do círculo próximo do presidente chegaram a cogitar a reedição do AI-5, o abominável ato institucional da ditadura militar que permitiu a adoção da censura, a cassação de mandatos e a prisão, tortura e assassinato de opositores do governo.

Reagimos com firmeza. A democracia é patrimônio de uma Nação e jamais podemos voltar a flertar com regimes autoritários e ditatoriais. Os avanços de um país são construídos pela busca de consensos, pela harmonia entre os poderes, e com a participação ativa da população nos debates. Jamais pela imposição de um único polo de poder.

Coube ao Congresso evitar arroubos autoritários e ao Supremo Tribunal Federal também se manifestar contra declarações e movimentos antidemocráticos que vez por outra eclodiam pelos corredores do governo.

Muito se tentou nos últimos anos criminalizar a política, essa atividade que nasceu junto com a humanidade. O caminho não é esse. Que se puna os maus políticos e não se demonize a política.

O ano de 2019 também nos trouxe uma lição. Ódio e intolerância não são bons companheiros. As diferenças, tão fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa e saudável, precisam ser respeitadas. Não se muda um país por meio de batalha campal nas redes sociais e nas ruas, onde vale desde a desqualificação do adversário até a propagação de mentiras e promoção de campanhas de destruição de reputações.

O debate é necessário e saudável. Até mesmo os atores dessa guerra de extremos, entre direita e esquerda, parecem, ao fim desse ano, ter começado a entender que acima de interesses eleitorais e ideológicos está um país que precisa urgentemente recuperar sua economia, retomar seu desenvolvimento e gerar emprego e renda.

No Legislativo, continuamos, como sempre, vigilantes em defesa da democracia, do combate à corrupção, da melhoria dos sistemas de proteção social e das reformas.

* Rubens Bueno é deputado federal pelo Cidadania do Paraná.