BC

Alon Feuerwerker: Que venha a Sputnik V

O presidente do Banco Central participou de um evento pela internet e opinou que o ritmo da reabertura econômica vai seguir o andar da vacinação (leia). Não chega a ser novidade. Mas oferece a chance para discutir, afinal, o que deveria ter sido feito de diferente para que tivéssemos hoje mais vacinas disponíveis.

A vacinação no Brasil vai razoavelmente (leia). Em valores absolutos, estamos entre os cinco que mais vacinam. Proporcionalmente à população, temos estado melhor que os colegas de Brics e outros grandes da América Latina. Um bom lugar para olhar os números é o serviço do britânico Financial Times (leia).

O governo brasileiro apostou inicialmente tudo numa única vacina: a Oxford/AstraZeneca. O fato é que se não fosse o acordo do Butantan com a chinesa Sinovac ainda estaríamos engatinhando. Melhor teria sido apostar em todas, para reduzir o risco. 

Mas vamos lembrar também que, quando a Rússia divulgou ter registrado a pioneira Sputnik V, aqui o coro foi de desconfiança. Em vez de exigir do governo que buscasse um acordo com os russos, muitos dos hoje críticos do ritmo da vacinação preferiram engrossar o #mimimi contra o imunizante do Gamaleya.

Ontem deu-se um passo importante para superar os obstáculos que ainda impedem o uso da Sputnik V aqui no Brasil. Os presidentes do Brasil e da Rússia conversaram sobre o tema (leia). Que a solução venha rápido.

*Alon Feuerwerker é jornalista e analista político/FSB Comunicação


Monica de Bolle: Bancos centrais verdes

O BC brasileiro foi pioneiro na compreensão do impacto ambiental de suas ações junto ao mercado financeiro

Deveriam os bancos centrais incluir questões como o meio ambiente e mudanças climáticas no escopo de seus mandatos? Há 15 anos, ninguém em sã consciência pensaria em fazer essa pergunta. Afinal, antes da crise financeira de 2008 – que completa 11 anos essa semana – os objetivos e instrumentos dos bancos centrais estavam muito bem definidos. Salvo poucas exceções, o objetivo principal era a estabilidade de preços e o instrumento para alcançá-la a sintonia fina das taxas de juros de curto prazo. Com a crise, entretanto, surgiram outras preocupações além da estabilidade dos preços, como a estabilidade financeira. Surgiram, também, outros instrumentos. As operações conhecidas como afrouxamento quantitativo, ou a compra direta de títulos de longo prazo pelos bancos centrais após os juros terem caído para zero. Mais recentemente, o uso das taxas de juros negativas para prover estímulos adicionais, conforme as iniciativas do Banco do Japão e do Banco Central Europeu, entre outros.

As enormes mudanças na condução da política monetária provocadas pela crise financeira de 2008 e os questionamentos sobre o papel dos bancos centrais continuam a ter destaque no debate global. As mais novas áreas do debate incluem o impacto das ações de política monetária na distribuição de renda e se as autoridades monetárias podem, de alguma forma, serem usadas para combater as mudanças climáticas. Há quem veja nessa discussão investidas políticas contra a autonomia dos bancos centrais, o que sem dúvida alguma seria prejudicial para os principais objetivos da política monetária, como o controle inflacionário. Contudo, dada a urgência desses temas, não é irrazoável que eles sejam trazidos para o âmbito das políticas macroeconômicas. A desigualdade de renda, por exemplo, guarda relações estreitas com o nacionalismo econômico ressurgente no mundo, conforme pesquisas que eu e outros temos realizado. O nacionalismo econômico, atrelado ao discurso populista extremista, pode ser bastante prejudicial para a organização macroeconômica e para a estabilidade política – a conscientização generalizada de que uma não existe sem a outra tem sido um dos poucos legados positivos desses tempos de transição global.

Do mesmo modo, a agenda ambiental não pode continuar isolada da agenda econômica mais ampla. Uma possível grande contribuição que os bancos centrais podem fornecer passa por uma compreensão mais profunda a respeito da dinâmica dos impactos ambientais a partir de suas interações com o sistema financeiro. Entre 2016 e 2018, o Banco da Inglaterra e o BCE compraram títulos corporativos como parte do afrouxamento quantitativo – as compras foram proporcionais à composição do mercado e tinham por objetivo reduzir as taxas de juros de longo prazo para impulsionar a demanda, e trazer a inflação para a meta estabelecida. Para manter a neutralidade em relação à composição dos títulos no mercado, os bancos centrais acabaram comprando papéis de empresas mais intensivas no uso de carbono, como revelaram alguns estudos (Matikainen et al. (2017)). Há espaço, portanto, para repensar as compras de títulos: e se os bancos centrais passarem a comprar relativamente mais títulos de empresas com selo ambiental, ignorando a neutralidade da composição do mercado? Essa é certamente uma pergunta que merece a atenção cuidadosa dos departamentos de pesquisa dos BCs.

Curiosamente, o Banco Central brasileiro foi pioneiro na compreensão do impacto ambiental de suas ações junto ao mercado financeiro. Em 2008, o BC e o Conselho Monetário Nacional promulgaram a Resolução no. 3545, cujo objetivo era condicionar o crédito rural subsidiado ao cumprimento de normas ambientais. A medida teve grande sucesso em impedir o desmatamento em várias partes da Amazônia Legal, conforme mostrou o estudo da Climate Policy Initiative da PUC-Rio de autoria de Juliano Assunção e coautores em 2013 – esse estudo será brevemente publicado em uma revista científica de grande prestígio internacional.

O debate sobre a atuação dos bancos centrais para combater as mudanças climáticas está ganhando tração internacional entre acadêmicos e gestores de política econômica. O Brasil tem uma experiência pioneira nessa área, e espaço de sobra para exibi-la no momento em que a Amazônia está no centro das atenções. Será mesmo que vamos insistir em perder a oportunidade de tratar do tema com as evidências científicas que merece em vez de abordá-lo com barbaridades ideológicas?

* Economista, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics e professora da Sais/Johns Hopkins University


Angela Bittencourt: Aposta em Guedes blinda mercado contra ruídos

Magnitude de derivativos justifica Campos Neto no BC

Reforma da Previdência, privatização acelerada e simplificação tributária com redução e eliminação de impostos são os três pilares da política econômica do governo Jair Bolsonaro. Dois desses três pilares - regime de aposentadorias e tributação - foram alvo de declarações desencontradas na primeira semana do novo comando no Palácio do Planalto, a ponto de o presidente ter sido desmentido por um ministro e um secretário especial na sexta-feira. O bate-cabeça foi perturbador e só não provocou desordem nos preços dos ativos financeiros porque bancos, gestores e investidores apostam 100% no sucesso do ministro da Economia, Paulo Guedes. Mas tamanha confiança não é sinônimo de conforto para grandes investidores que estão atentos à falta de sintonia no primeiro escalão.

Afirmações do presidente sobre temas que envolvem inúmeros interesses provocaram uma profusão de declarações, sugeriram conflito de opiniões dentro do governo e em torno de reformas essenciais para que a economia brasileira avance e abriram um flanco para que adversários políticos classificassem o presidente da República de "desinformado".

O "x" da questão foi a sanção do presidente à prorrogação de incentivos fiscais para investimentos nas regiões Norte e Nordeste, transferida do governo Temer para Bolsonaro que, numa só tacada, também acenou com a possibilidade de redução da idade mínima para aposentadoria, elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e corte da alíquota do Imposto de Renda (IR) de 27,5% para 25%. A fala de Bolsonaro repercutiu. Um aumento do IOF não havia sido aventado pelo governo até então.

O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, corrigiu a declaração do presidente. Ponderou que Bolsonaro, ao informar a idade mínima de 57 anos para a aposentadoria das mulheres e de 62 anos para os homens, "quis dizer" que a transição do regime de Previdência será lenta. Uma forma de tranquilizar a sociedade que resiste às mudanças. A redução do IR é uma "tese", disse Lorenzoni, que negou o aumento do IOF.

O secretário especial da Receita, Marcos Cintra, esclareceu que a prorrogação dos benefícios fiscais nas áreas da Sudam e da Sudene - fonte de despesa para a União - está prevista no orçamento e dispensa, portanto, compensação. Na versão presidencial, a prorrogação desses incentivos estaria assegurada com aumento do imposto sobre o crédito.

Entrevistas, discursos e tuítes do presidente Jair Bolsonaro semearam inquietação nos primeiros três dias do novo governo, mas sem maiores consequências. Não à toa, a queda monotônica do dólar e dos juros foi mantida e o Ibovespa renovou o recorde de pontuação no encerramento dos negócios, na sexta-feira.

Com valorização de 4,5% acumulada em três pregões de 2019, o principal índice da bolsa brasileira, a B3, colou em 92.000 pontos. E se avançar mais 8% alcançará 100.000 pontos - a projeção mais otimista de analistas consultados pelo Valor há algumas semanas.

Na sexta-feira, o Ibovespa foi contagiado pelo mercado americano, onde as ações dispararam em reação às declarações mais moderadas de Jerome Powell, presidente do banco central dos EUA, quanto à trajetória da taxa de juros. Na ponta oposta ao Ibovespa, o dólar negociado no Brasil caiu 4% em três dias, para R$ 3,7180.

Esse comportamento fortaleceu a convicção de profissionais que ainda não identificam investidores estrangeiros determinados a trazer dólares para o Brasil neste início de governo. Inclusive porque alguns já estão posicionados, sobretudo, em instrumentos financeiros derivados da taxa de câmbio.

Há menos de um mês, esses investidores elevaram suas posições "compradas" em contratos de dólar futuro e juro em dólar, na B3, ao patamar inédito de US$ 41,7 bilhões, equivalentes a 11% das reservas internacionais do país. Nos últimos dez dias, essa posição diminuiu em cerca de US$ 10 bilhões. O movimento foi interpretado como desmonte de operações de "hedge" uma espécie de seguro que investidores estrangeiros fazem contra eventuais perdas na variação da taxa de câmbio.

Esse desmonte é uma demonstração de confiança na nova administração? Talvez. Mas a manutenção de US$ 30 bilhões em instrumentos cambiais no país ainda é extraordinária. E os estrangeiros não estão firmemente posicionados apenas nesse segmento. Eles também são destaque no mercado acionário. Em 2 de janeiro, a carteira consolidada de estrangeiros em operações de venda à vista e futura do Ibovespa atingiu R$ 23,57 bilhões, segundo a CM Capital Markets. Nesse mercado, as negociações são registradas em reais, não em dólares.

A presença do investidor estrangeiro nesses dois mercados (câmbio e ações) é amparada por investidores institucionais. Fundos de pensão compõem a única categoria de investidor com recursos suficientes para atuar como contraparte dos estrangeiros. Na B3, o ano de 2018 terminou com os estrangeiros respondendo por 50% do total de operações com lastro em ações, com os institucionais na segunda posição com fatia de 26,7%. As pessoas físicas bancaram 17,8%, os bancos 4,6% e as empresas, 1%.

A magnitude das operações em derivativos no Brasil justifica o convite de Paulo Guedes ao economista Roberto Campos Neto - ex-Santander - para a presidência do Banco Central (BC). Campos Neto é um reconhecido especialista em derivativos e terá, na linha de frente da política monetária, Bruno Serra Fernandes, ex-Itaú, também especialista em derivativos e renda fixa. A futura Diretoria do BC vai se compondo. João Manoel Pinho de Mello, até há pouco secretário de Política Econômica da Fazenda, foi convidado e aceitou comandar a Diretoria de Organização do Sistema Financeiro, em substituição a Sidnei Corrêa Marques, que deixa o BC após oito anos no cargo.

Mesmo com a saída de Marques, a diretoria tende a um saudável equilíbrio de representantes do setor privado e do setor público. As áreas mais técnicas devem permanecer com funcionários de carreira. O economista Carlos Viana de Carvalho seguirá no comando da Política Econômica e Tiago Berrial continua como diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos.


Míriam Leitão: A equipe começa a ser formada

Mansueto fica e Campos Neto é indicado para comandar um projeto de BC independente como defende Ilan, que está de saída

Ilan Goldfajn ficou fechado, em total silêncio, enquanto se especulava se ele permaneceria ou não. Havia interesse em que ele ficasse até pela convergência natural entre a defesa do Banco Central independente pelo futuro ministro da área econômica, Paulo Guedes, e por Ilan, que ontem prometeu em nota continuar a apoiar o projeto nesse sentido em tramitação no Congresso. Mas um dos critérios para seguir no cargo era demonstrar interesse em ficar, o que não foi o caso do atual presidente do BC. O secretário do Tesouro Mansueto Almeida fica e mantém toda a sua equipe. Ana Paula Vescovi tem dito a todos que a procuram que quer ir para o exterior estudar.

Com a escolha de Roberto Campos Neto para presidir o BC, a equipe econômica começa a tomar forma. A ideia de Paulo Guedes sempre foi aprovar o Banco Central independente, o que é um passo adiante na autonomia que tem havido no órgão em alguns momentos. Ilan Goldfajn teve total autonomia e entregou o excelente resultado, reconhecido na área econômica do futuro governo, e comprovado pelo menos em dois indicadores. A inflação que estava perto de dois dígitos caiu abaixo do piso da meta e, com toda a turbulência do processo eleitoral, chega ao fim do ano no centro da meta. O segundo é a queda da taxa de juros para o menor nível da história do real, uma redução consistente, que atravessou estável esse período tenso. Ilan foi também ágil e firme nos momentos de maior tensão no mercado cambial. Avisou que só os efeitos secundários da mudança do patamar do câmbio seriam combatidos, ou seja, não subiria juros na vã tentativa de criar um patamar para o dólar.

Dentro da equipe que prepara o governo Bolsonaro há dois critérios para os convites, segundo um desses integrantes. “É preciso ter feito um bom trabalho", o que é o caso de Ilan e estar com vontade de permanecer no novo governo. Ontem no fim do dia, o presidente do BC explicou que “seu afastamento do cargo se dá por motivos pessoais" e que ficará no BC até que a indicação de seu sucessor seja aprovada pelo Senado.

Roberto Campos Neto é definido com uma palavra na equipe de transição: “excelente”. Atualmente no Santander, ele tem bastante experiência no mercado financeiro e já vinha colaborando com a equipe do novo governo. Foi escolha pessoal de Paulo Guedes, como tinha que ser. Chega com o desafio de manter a política monetária, mas ao mesmo tempo criar as condições para o aumento da competição no mercado bancário. Paulo Guedes vem dizendo desde a campanha que tem interesse em reduzir o custo da dívida pública e a própria dívida. Chegou a falar, depois da eleição, em vender parte das reservas cambiais com esse objetivo. Esta não é uma operação trivial.

O nome foi bem aceito pelos investidores. O fundo que acompanha os principais papéis de empresas brasileiras em Nova York acelerou a alta durante o dia, com as notícias sobre a indicação de Campos Neto. O EWZ subia mais de 2% à tarde. Isso indica que a bolsa por aqui deve abrir a sexta-feira em alta.

A permanência de Mansueto no Tesouro é importante por inúmeras razões. É um grande economista, com sólido conhecimento da máquina pública, e está tocando assuntos complexos como o quadro fiscal nos estados. Ele acompanha com o cuidado devido as bombas fiscais que estão armadas no Congresso e sabe como lidar com temas espinhosos que normalmente suscitam reações políticas. Depois dos grandes erros cometidos pelo governo Dilma na Secretaria do Tesouro, Mansueto, e antes dele, a economista Ana Paula Vescovi, tiveram que resolver problemas de muitos anos antes.

Não haverá solução fácil para o rombo fiscal do governo federal e dos governos estaduais, mas a atual equipe melhorou a qualidade das políticas públicas, dos indicadores e está fazendo uma correta transição administrativa, só comparável à que foi feita entre os governos Fernando Henrique e Lula. No caso dos estados, a convicção na equipe do governo Temer é que sem a reforma da Previdência não haverá melhora duradoura. Mas há formas de atenuar, como se pôde ver no Rio de Janeiro.

O governador Luiz Fernando Pezão conta que reduziu os gastos de pessoal como proporção da Receita Corrente Líquida de 70% em 2017 para 46% em outubro de 2018. E garante ter cumprido 12 das vinte metas. No governo federal a expectativa não é assim tão boa, mas os técnicos estão convencidos de que o estado se enquadrará abaixo do limite de 60%. O caso do Rio é importante porque é o único estado que entrou no Regime de Recuperação Fiscal. O Rio Grande do Sul não conseguiu e Minas nem foi conversar, preferindo tentar as liminares na Justiça. A melhora no Rio é em parte pela alta do petróleo — que a propósito voltou a cair —, mas também porque a partir do enquadramento no RRF houve mais disciplina. Não são poucos os desafios que esperam a nova equipe econômica que está sendo formada.


Míriam Leitão: Visão de mercado

 

O Ibovespa afundou ontem 2,6% num dia em que no mundo inteiro houve quedas fortes. O temor é que o banco central americano suba os juros mais rapidamente este ano. O S&;P teve queda de 4,1%, e o Dow Jones, o maior recuo em pontos da história. No Brasil, espantosa foi a alta anterior. A bolsa teve o melhor janeiro em 12 anos, e a entrada de capital estrangeiro em um mês foi quase do tamanho de 2017.

Em janeiro, a alta no mercado brasileiro foi de 11% e houve quebras de recordes sucessivos. Nos últimos 12 meses, em que o país viveu crise fiscal e tensão política, as ações na bolsa tiveram uma valorização, segundo cálculo feito pela Economática para a coluna, de mais de R$ 800 bilhões. O cálculo foi feito com o pico, antes das últimas duas quedas.

O movimento de ontem foi mundial e não tem muita ligação com o que acontece aqui. Mas o interessante é se perguntar, mais do que a oscilação negativa dos últimos dois pregões, o que levou ao movimento de alta.

Num seminário na semana passada do banco Credit Suisse, continuava a aposta de que as reformas seriam aprovadas. Se não forem pelo governo Temer, deverão ser por quem for eleito em outubro, independentemente do viés político. Outro motivo da visão positiva é que a previsão mais comum é de crescimento por dois ou três anos, para recuperar a perda da recessão.

Quem cruza os dados da conjuntura política e fiscal do país com o movimento do Ibovespa não pode deixar de se espantar. Nos últimos 12 meses, terminados no fim de janeiro, o índice saiu da casa dos 60 mil pontos para 85 mil, o que representou uma valorização nominal de R$ 823 bilhões das empresas brasileiras, segundo o estudo elaborado por Einar Rivero, da Economática. A queda de sexta e de ontem levou o índice para 81 mil.

Apesar do temor de mudança da política monetária americana, o cenário externo não é ruim. Os EUA estão com PIB mais forte, assim como a Europa, e não há risco de desaceleração abrupta da China. Há bastante liquidez no mundo, e esses dólares buscam mercados emergentes como o Brasil porque estão mais dispostos a correr riscos. Em janeiro, o saldo do investimento estrangeiro na bolsa foi de R$ 9,54 bi. No ano passado inteiro foi de R$ 13,4 bi.

Mas, além disso, há a avaliação interna. O economista Luis Stuhlberger, que gere o Verde, um dos fundos de investimento mais rentáveis do país, explicava na semana passada o movimento positivo com a tese de que o mercado financeiro está olhando para o curto prazo e para a possibilidade de crescimento mais forte do Brasil nos próximos dois ou três anos. Pelas suas contas, a alta do PIB pode ficar acima de 3% entre 2018 e 2020.

Amanhã o Banco Central deve reduzir novamente a taxa Selic, para 6,75%. Essa sequência de quedas, que levou a taxa de juros de 14,25% para a nova redução esta semana, será um dos motores da alta do PIB em 2018. Como a inflação está baixa, o mercado financeiro estima que os juros reais também ficarão baixos, o que irá facilitar o pagamento de dívidas, os investimentos e o consumo.

O dólar normalmente sobe em anos de muita incerteza eleitoral, mas em 2018 alguns pontos são favoráveis: o déficit em conta-corrente é muito pequeno, e as reservas cambiais, muito altas. Esse abundância de dólares aqui, que se soma ao fluxo de entrada de capital, faz com que o cenário mais provável seja de a volatilidade ser menor do que em 2002. Haverá, claro, volatilidade. E ontem isso ficou claro.

Em qualquer evento do mercado os dados apresentados são de um país em grave crise fiscal em que os gastos obrigatórios, entre eles o previdenciário, têm subido demais, reduzindo outras despesas necessárias. E, apesar disso, a bolsa teve sucessivas altas.

A conclusão é a de que o Brasil tem um bom curto prazo, com crescimento do PIB, inflação e juros baixos, altas reservas cambiais. O futuro tem entraves que parecem imensos, mas a avaliação mais comum feita no mercado é a de que a situação chegou a tal ponto que qualquer que seja o eleito ele será naturalmente empurrado para uma agenda de reformas para aumentar sua capacidade de governar.

Evidentemente não é tão simples. Se o mercado mundial entrar numa fase de queda de bolsas e aversão a risco, as análises todas terão outro viés. E as crises brasileiras pesarão muito mais.

 

 

 


Banco Central

BC prevê inflação dentro da meta neste ano e alta menor do PIB em 2017

O Banco Central estimou um comportamento melhor da inflação em 2016 e 2017, retornando para o limite do sistema de metas, e também que a economia brasileira terá um “encolhimento” maior neste ano e uma recuperação mais contida no próximo. As informações constam no relatório de inflação do quarto trimestre, divulgado nesta quinta-feira (22).

Para o PIB (Produto Interno Bruto), o BC estimou um “tombo” de 3,4% neste ano, com piora em relação à previsão anterior, feita em setembro, que era de um recuo de 3,3%.

Se confirmado esse cenário, será a segunda retração seguida da economia brasileira, que já despencou 3,8% no ano passado – a maior queda em 25 anos. Dois anos seguidos de recuo do PIB não acontecem desde o início da série histórica do IBGE, em 1948.

Para 2017, também houve uma revisão da estimativa. Em setembro, a autoridade monetária esperava que o PIB crescesse 1,3% no próximo ano. Agora, prevê um crescimento mais moderado, de 0,8%, ainda acima da estimativa de alta de 0,58% do mercado financeiro.

De acordo com o BC, essa redução, na projeção de crescimento para o próximo ano, é consistente com a “probabilidade maior de que a retomada da atividade econômica seja mais demorada e gradual que a antecipada previamente”. (Com informações do G1)


Fonte: www.pps.org.br