autoritária
Francisco Almeida: Depois de Eduardo Campos e Marina Silva, agressões a Cristovam
Tão logo o PSB se definiu pela candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República, em 2013, o PT iniciou uma campanha difamatória contra o então governador de Pernambuco. De “menino mimado” a “traidor” e “nova direita”, adjetivos usados para todos os líderes da esquerda democrática que não se submetem ao hegemonismo petista.
Além da pressão política, Lula, a presidente Dilma e o PT usaram a força da máquina estatal para esvaziar a candidatura de Campos. Tentaram cooptar líderes do PSB com vantagens governamentais, cortaram verbas ao estado de Pernambuco, retiraram do governador a autoridade para as concessões de ampliação do Porto de Suape e, por fim, mandaram agentes da Abin espionar Campos e sua família, numa tentativa torpe de intimidação.
Apesar disso, a candidatura do PSB cresceu com o apoio do PPS e com a participação de Marina Silva como candidata a vice-presidente. O trágico acidente de agosto de 2014 lançou a senadora para o centro da disputa política e a máquina caluniosa do PT se voltou contra ela. De “traidora”, “amiga dos banqueiros” e “ecocapitalista“, as mentiras aumentavam tanto mais a candidata crescia nas pesquisas: que ela acabaria com o Bolsa Família, com o Minha Casa Minha Vida, promoveria um tarifaço e um austericídio, retiraria o prato de comida da mesa dos brasileiros para fazer o jogo do mercado financeiro.
Passado o pleito, revelou-se o estelionato eleitoral: Dilma e o PT fizeram exatamente aquilo que imputava aos seus adversários, perdendo de imediato a legitimidade de sua vitória, cuja consequência lógica foram as gigantescas manifestações pelo seuimpeachment, tão logo ficaram claros o desastre econômico do seu governo e as manipulações das contas públicas, somadas às ilegalidades praticadas com o desvio de verbas da Petrobras para financiar a sua campanha eleitoral.
Após o mensalão, em 2005, Lula fez do PMDB seu principal aliado e continuou a excluir do centro decisório governamental tanto o PMDB quanto os partidos da esquerda democrática, o que levou o PDT e o PPS a deixarem o governo, respectivamente em 2003 e 2004. Fazendo forte pressão, Lula não conseguiu evitar as candidaturas de Heloísa Helena, pelo PSOL, nem a de Cristovam Buarque, pelo PDT, que, somadas aos escândalos de corrupção da ministra chefe da então Casa Civil Erenice Guerra, levaram a eleição de 2006 para o segundo turno.
O PDT e o PSB, juntamente com o PCdoB, articularam em 2007 o Bloco de Esquerda, de atuação parlamentar própria e não subordinadaao petismo. O bloco tentou atuar de forma conjunta na eleição de 2010, mas o PT pressionou e solapou a candidatura de Ciro Gomes a presidente pelo PSB. Nas eleições municipais de 2012, o PSB, em muitos lugares com o apoio do PPS, PDT, PV e PSDB, conseguiu eleger mais prefeitos das capitais do que o PT. E aí está uma das causas da agressividade petista: o temor de perder a liderança para os partidos da esquerda democrática.
Esta é uma das causa das agressões ao senador Cristovam Buarque desde que ele votou pela admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Cristovam possui o que os atuais líderes do PT não têm: respeitabilidade, credibilidade e coerência e é uma potencial ameaça às pretensões eleitorais petistas.
O senador tem uma trajetória retilínea, desde os seus tempos pernambucanos de militante estudantil na Ação Popular, grupo da esquerda católica que se aliou ao antigo PCB, para conquistar para as esquerdas a direção da UNE com a eleição de José Serra. Mesmo governador pelo PT, Cristovam jamais deixou de dialogar com outras forças políticas e personalidades democráticas, como o então ministro da Educação Paulo Renato, que foi convencido por ele a implantar, em nível federal, o exitoso programa Bolsa Escola, do DF. Lula nunca explicou porque demitiu por telefone o seu ministro da Educação enquanto este cumpria compromisso de trabalho no exterior.
Cristovam Buarque foi para o PDT de Leonel Brizola, que acusava o governo Lula de trair seus compromissos eleitorais ao promover uma política econômica monetarista comandada por Antônio Palocci, cujos cortes foram duas vezes superiores às tentativas de ajustes promovidas por Joaquim Levy e Nelson Barbosa no governo Dilma. Mesmas razões, além da ausência de diálogo, que levaram o PPS a ir para a oposição no ano seguinte. No PDT, Cristovam manteve-se numa posição crítica em relação aos dois governos petistas.
Mas a disputa de poder sem princípios do PT não é a única causa para as agressões ao bravo senador. Revelam o cacoete da velha esquerda autoritária, incapaz de se renovar e de conviver com a divergência e com o pluralismo político e partidário. Quando a deputada Luciana Genro, candidata do PSol a presidente, se declarou contrária ao impeachment mas reconhecia que a medida não era um golpe, um escriba petista correu para defender a “solução de 1940”, numa alusão ao assassinato do líder russo Leon Trotsky e aos fuzilamentos na União Soviética a mando de Josef Stalin. A mentalidade de partido único e o espírito de seita continuam no PT, um fiel representante da esquerda autoritária no Brasil.
Francisco Almeida é membro do Secretariado e da Executiva Nacional
Fonte: pps.org.br