audiência
Bolsonaristas usam Senado para reciclar mentiras e atacar urnas, STF e TSE
Maiquel Rosauro*, Lupa
Bolsonaristas transformaram uma audiência pública no Senado, na quarta-feira (30), em palco para espalhar desinformação e pedir, abertamente, um golpe de estado. Lideranças ligadas ao presidente Jair Bolsonaro (PL) usaram uma reunião da Comissão de Transparência, Fiscalização e Controle (CTFC), supostamente para discutir a fiscalização das inserções de propagandas políticas eleitorais, para renovar ataques às instituições, mentir sobre o processo eleitoral e pedir às Forças Armadas para que inviabilizem a diplomação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A audiência foi conduzida pelo senador Eduardo Girão (Podemos-CE), que propôs a realização do encontro. Apesar do tema bastante específico — e alvo de uma ação malsucedida da campanha de Bolsonaro na reta final do segundo turno —, o senador cearense aproveitou a ocasião para dar espaço a parlamentares e influenciadores que buscavam atacar as urnas eletrônicas e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Um dos participantes foi o argentino Fernando Cerimedo, que ingressou de forma virtual. Ele voltou a mentir que nem todos os modelos de urna foram auditados. Essa informação é flagrantemente falsa e já foi desmentida em detalhes pela Justiça Eleitoral.
O presidente do Instituto Voto Legal, Carlos Rocha, defendeu o relatório produzido para o Partido Liberal (PL) que apontou falha nas urnas. O estudo diz que parte das urnas teria gerado arquivos de log (registros de atividade do sistema) em que não constam seus próprios códigos identificadores. Contudo, a falha não impacta a votação, já que as urnas, além do log, também contam com o Registro Digital do Voto (RDV) e o Boletim de Urna (BU).
Vários deputados aproveitaram a ocasião para afirmar, sem nenhum embasamento, que os resultados das urnas podem ter sido fraudados. Marcelo Moraes (PL-RS), por exemplo, disse que o relatório produzido pelas Forças Armadas mostra que "sim, é possível alterar o resultado nas urnas" e que o TSE não entregou o código-fonte dos aparelhos. Ambas as informações são falsas.
O relatório das Forças Armadas, entregue após o segundo turno, diz que “não é possível afirmar que o sistema eletrônico de votação está isento da influência de um eventual código malicioso que possa alterar o seu funcionamento” (página 1), mas não apontou nenhuma evidência de fraude. Já o código-fonte foi analisado pelas Forças Armadas. Os deputados federais Gilson Fahur (PSD-PR) e Ubiratan Sanderson (PL-RS) também fizeram alegações falsas sobre supostas irregularidades nas urnas.
A audiência pública serviu, também, para atacar o TSE. O deputado federal Marcel Van Hattem (Novo-RS) defendeu a abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Abuso de Autoridade, na qual ele próprio é um dos autores, que visa investigar o STF e o TSE. O objetivo é tornar o processo uma CPI mista (ou seja, uma CPMI), para que as duas casas legislativas atuem na investigação.
Já o deputado federal eleito Gustavo Gayer (PL-GO) acusou o TSE de parcialidade durante as eleições. Ele disse, por exemplo, que adversários do presidente puderam dizer que Bolsonaro era pedófilo e canibal. Contudo, o exemplo não é verdadeiro, já que o tribunal proibiu o uso eleitoral de vídeo que associa Bolsonaro ao canibalismo e mandou remover vídeo do PT que ligava Bolsonaro à pedofilia.
Inserções publicitárias
O ex-chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) do governo federal, Fábio Wajngarten, tratou do ‘radiolão’ – alegação da campanha de Bolsonaro sobre a não inserção de mídia do candidato em rádios do Nordeste. Ele disse que sua equipe foi profissional e que não houve falha no envio dos materiais, o que já foi contestado pelas rádios que afirmaram não ter recebido a propaganda.
Wajngarten afirmou que a suposta falha ocorreu porque o TSE não fiscaliza se as rádios baixam os arquivos junto ao pool de emissoras. A legislação, contudo, é explícita ao dizer que a fiscalização é responsabilidade dos partidos e das coligações.
Chamou atenção dos parlamentares a ausência do ministro das Comunicações, Fábio Faria, que foi convidado e respondeu ao colegiado que não participaria da audiência. No final do mês passado, ele disse que se arrependeu de ter feito a denúncia sobre as inserções nas rádios.
Golpismo declarado
Após mais de nove horas de audiência pública, a deputada federal Aline Sleutjes (PROS-PR), que tentou sem sucesso eleger-se senadora em 2022, sugeriu uma intervenção do Legislativo, sugerindo que a diplomação do presidente eleito, marcada para o próximo dia 12, não seja realizada. "Precisamos agir rápido, dia 12 tem uma diplomação que eles querem que aconteça. Nós não podemos deixar as coisas acontecerem até o dia 12 porque dia 12 já foi. Nós só temos 11 dias, senador, para vocês, aqui no Senado, fazerem a parte de vocês, para nós, na Câmara, fazermos a nossa parte e para as Forças Armadas fazerem a parte dela", declarou a deputada.
Outro lado
A Lupa entrou em contato com Fernando Cerimedo, Marcelo Moraes e Gustavo Gayer. Os dois primeiros não retornaram, e a reportagem será atualizada se houver resposta. Gayer se limitou a enviar uma receita e não comentou sobre a audiência.
Texto publicado originalmente no portal Lupa.
Revista Política Democrática online alcança quase 225 mil acessos em duas edições
Audiência saltou 457,38% de outubro, mês de lançamento da versão exclusivamente digital, a novembro
Por Cleomar Almeida
Às vésperas de lançar sua edição de dezembro, a revista Política Democrática online, mantida pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), alcançou nas suas duas primeiras edições 224.999 acessos do público em geral. Ou seja, audiência cresceu 457,38% em dois meses. Segundo a FAP, no mês de outubro, a Política Democrática online obteve 34.224 acessos pela internet. Em novembro, de acordo com o levantamento, a audiência da revista saltou para 190.757 acessos, principalmente a partir de grandes reportagens sobre temas de interesse público, entrevistas relevantes e análises críticas referentes aos cenários políticos brasileiro e internacional. A próxima edição, que será lançada ainda nesta semana, publicará uma entrevista exclusiva com o embaixador Rubens Ricupero e a primeira parte de uma reportagem (com um minidocumentário) sobre a hidrelétrica de Belo Monte, relatando a situação dos índios na região da Volta Grande do Xingu, além de um artigo de Marina Silva (Rede), entre outros.
Na primeira edição, a revista online destacou o drama da crise humanitária que fez milhares de pessoas saírem da Venezuela para o Brasil e outros países, no maior êxodo da história da América Latina. A edição de outubro publicou, ainda, dez análises críticas e uma charge sobre política é uma entrevista com Monica de Bolle, primeira mulher latino-americana a integrar a equipe do Peterson Institute for International Economics. Ela destacou que a agenda fiscal terá de ser prioridade do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).
» Acesse aqui a edição de lançamento da revista Política Democrática online
A entrevista com o sociólogo Sérgio Abranches foi destaque da edição de novembro. Nela, ele mostra os reflexos da eleição de Bolsonaro, a qual, segundo o especialista, encerra a histórica polarização político-partidária entre PT e PSDB. Além disso, a revista publicou outros dez artigos críticos e uma charge sobre política. A edição destacou, ainda, uma grande reportagem que revelou como pessoas em situação de rua movimentam uma economia marginal em Brasília e os cortes de verbas da área de assistência social no Distrito Federal.
» Acesse aqui a edição de novembro de Política Democrática online
Na avaliação do diretor da revista, André Amado, a quantidade de acessos reflete o compromisso de todos os profissionais envolvidos na produção e edição da publicação online. “Me agrada muito, mas não me surpreende que a revista tenha alcançado mais de 190 mil acessos em sua segunda versão”, disse. “Uma das preocupações de todos os envolvidos é seguir a trilha das discussões e do debate de ideias, no horizonte da defesa e projeção dos princípios democráticos”, enfatizou.
André Amado destacou a independência e linha editorial crítica da revista. Segundo o diretor, seus profissionais desempenham suas funções com independência e profissionalismo. “A revista acertou na sua orientação de buscar o debate, a troca de ideias e a provocação intelectual”, ressalta. “Os próximos números serão tão bem sucedido quanto (os anteriores)”, acentuou, para emendar: “A revista Política Democrática ocupará, certamente, um espaço importante no ambiente político-intelectual brasileiro comprometido com a democracia”.
Além de contar com uma extensa lista de colaboradores, a revista tem um conselho editorial formado por renomados intelectuais e analistas políticos brasileiros. São eles: Alberto Aggio, Caetano Araújo, Francisco Almeida, Luiz Sérgio Henriques e Maria Alice Resende de Carvalho. A revista é mantida com recursos do fundo partidário destinados à fundação pelo Partido Popular Socialista (PPS). A versão impressa da revista, quadrimestral, tem circulação de 1 mil exemplares e completou 16 anos.