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Ascânio Seleme: A farra dos guardanapos vista por dentro

Bastidores da noite em que a ruína de Sérgio Cabral começou são contados em livro

Estão enganados os que acham que já viram tudo no ataque praticado pelo ex-governador Sérgio Cabral e sua turma aos cofres públicos e às boas práticas políticas e comportamentais. Vem aí um livro que conta com uma riqueza impressionante de detalhes o primeiro e decisivo capítulo da destruição de Cabral, a festa parisiense conhecida como a farra dos guardanapos. Todos os bastidores da esbórnia de Cabral, seus secretários, amigos empresários e suas mulheres estão ali relatados.

Há inúmeras passagens exóticas que nunca foram contadas. O livro escrito pelo jornalista Sílvio Barsetti passa por tudo, conta desde o volume etílico consumido na bagunça até uma cena de ciúmes de Adriana Ancelmo, mulher de Cabral, que quase estraga a festa. O autor entrevistou dezenas dos convidados para reproduzir o capítulo mais constrangedor da trajetória do governador que agora cumpre mais de cem anos de cadeia por desvios financeiros e éticos durante seu mandato.

Patrocinada pela Peugeot, a festa ocorreu no Hotel La Paiva, um palácio destinado a recepções de luxo na Avenida Champs-Élysées e que pertencera à marquesa Theresa Lachmann, uma conhecida cortesã parisiense do século 19. O banquete foi servido por maîtres e 25 garçons, um para cada cinco convidados. Ao final, 300 garrafas da champagne Dom Pérignon e do vinho português Barca Velha teriam sido consumidas. Além de uísques e cognacs.

Cabral e Adriana chegaram a Paris dois dias antes e se hospedaram no Hotel Le Bristol. O luxo do hotel impressionou os pais de Cabral, também presentes. Sérgio Cabral pai disse à mulher Magaly: “Essa realidade não nos pertence. Daqui a pouco vão pegar a gente no colo”. Não tinha visto nada ainda. Luxo mesmo ele conheceria na noite da festa. Mas, além do luxo, os modos da turma é que deixariam estarrecidos até mesmos os serviçais do Palácio.

Além dos guardanapos nas cabeças de um quinteto para lá de embriagado, houve momentos de descontração de tal ordem que um dos convidados passou parte da festa com dois copos nas mãos, um de vinho e outro de champagne. Em outro, dois deles subiram em uma mesa para dançar. Foram convidados a descer por um maître. Ao ver a cena, o patrocinador Thierry Peugeot disse que a cortesã dona da casa “marquesa Lachmann estaria radiante aqui”.

A cena de ciúmes se deu quando uma sensual cantora francesa contratada para animar os convivas se insinuou a Sérgio Cabral. Adriana afastou a moça dizendo com fúria e em bom e sólido português: “Aqui não, pode sair de perto”.

Outro barraco foi de Cabral, que brigou com sua assessoria que pediu para uma convidada parar de fotografar a festa. Ela se queixou, e o governador deu uma bronca num assessor. “Que merda é essa? Você está maluco? Ela é minha convidada e pode fotografar, sim”. Cabral descobriu mais tarde que foi esta mulher, cujo nome o livro não revela, quem passou para Anthony Garotinho as fotos da noitada.

O livro “A farra dos guardanapos — O último baile da Era Cabral — A história que nunca foi contada” é o primeiro fruto da parceria dos jornalistas Bruno Thys e Luiz André Alzer, idealizadores e fundadores da editora Máquina de Livros. A editora já tem outros três projetos em andamento. Todas as suas obras serão de não ficção. “A farra dos guardanapos” tem 176 páginas, vai custar R$ 39,90 e estará disponível nas livrarias a partir de agosto.

QUEM ACREDITA EM CIRO?

Ciro Gomes vem cumprindo rigorosamente tudo aquilo que se previa para a sua derrocada. Primeiro, o destempero verbal. Xingar a mãe de uma promotora que representou contra ele é coisa típica do cirogomismo. Depois, e até mais grave, há o desequilíbrio ideológico que o transforma num pião desgovernado. Ciro tem posições de esquerda que nem o PT avaliza, mas disse que poderia “modular” o seu discurso para atrair os liberais DEM e PP. O centrão não caiu na conversa, e o candidato voltou a massagear o PT pedindo a liberdade de Lula. Oportunismo. Se Lula for solto, Ciro desaparece.

E EM ALCKMIN?

O candidato do PSDB que juntou o centrão prometeu a Paulinho da Força encontrar um novo modelo para financiar o sindicalismo brasileiro. Mas não é o PSDB que defende a liberdade de escolha do trabalhador, onde contribui apenas quem quer e acredita em seu sindicato?

FALA, GRANDE LÉO

O senador Lindbergh Farias diz que não é com ele e acusa a Globo de perseguição porque a procuradora-geral, Raquel Dodge, viu indícios de ação sua em favor da empreiteira OAS ao custo de R$ 700 mil de repasses em caixa dois. Interceptação feita pela PF na caixa de mensagens do seu celular mostra a intimidade com o dono da OAS, Léo Pinheiro. Ao responder a um pedido de audiência do empresário, Lindbergh Farias disse: “Fala, grande Léo. Chego terça pela manhã, estarei te esperando”. E a culpa é da Globo.

ALGEMAS

Não ouvi qualquer gritaria contra o fato de a assistente e namorada do doutor Bumbum, Renata Cirne, sair algemada da delegacia da Barra no dia em que foi presa. Nem uma palavra a seu favor de deputado, senador, defensor de direitos civis. Nem a mãe da presa reclamou.

SEM BEM

Processada na Justiça do Trabalho por um corretor demitido, a imobiliária Júlio Bogoricin declarou não ter dinheiro em caixa e nenhum bem imóvel para satisfazer a demanda. O advogado Jorge Passarelli só conseguiu um acordo a favor de seu cliente ao pedir a decretação da falência da empresa e penhorar uma cobertura, na Avenida Atlântica, de Júlio Bogoricin, o dono, não a empresa. Para não perder o apartamento, o empresário aceitou negociar.

IMPOSTO A JATO

Tramita no STF uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) ajuizada pelo ex-procurador-geral Rodrigo Janot contra lei no Ceará que cobra IPVA de avião. Como o estado não tem nenhuma companhia de aviação, a Adin beneficia apenas donos de aviões e jatos particulares. O assunto já entrou no debate eleitoral. O pré-candidato do PSOL, Guilherme Boulos, defende a cobrança do tributo em todo o país.

EU SOU VOCÊ AMANHÃ

A Argentina já está sendo chamada de “País 30, 30, 30”. Porque hoje tem 30% da sua população abaixo da linha da pobreza, a inflação é de 30% ao ano e cada dólar custa 30 pesos.

PSOL ÀS ESCURAS

Jornalistas não serão bem-vindos na convenção do PSOL. Só terão acesso ao comício depois da escolha do candidato e a uma entrevista coletiva com o ungido. O que será que o partido quer esconder? Claro que todos vão saber no minuto seguinte. Para isso é que existe jornalista, para fazer luz na escuridão.

ALOPRADO DA SEMANA

O título vai para Gilberto Carvalho, ex-ministro de Lula e Dilma, o conhecido Gilbertinho, que pregou um levante popular para tirar Lula da cadeia. Já até consigo visualizar a massa invadindo a PF de Curitiba e tirando o prisioneiro nos braços. Neste caso, nem eleições serão mais necessárias.

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Ascênio Seleme: O medo do passado

São muitas as incógnitas que impedem qualquer tipo de antecipação de tendência econômica para os meses subsequentes à posse do futuro presidente

O mercado está inquieto. Assustado. Com enorme dificuldade de fazer previsões, as empresas gestoras de investimentos privados recomendam aos seus clientes cautela, paciência e atenção, muita atenção. A incerteza com o cenário eleitoral extrapola a questão política e estabelece marcos na economia. Se muitos partidos não sabem ainda como ou com quem irão na eleição presidencial, sabem menos ainda as empresas cuja tarefa é fazer projeções que ultrapassem o calendário eleitoral.

São muitas as incógnitas que impedem qualquer tipo de antecipação de tendência econômica para os meses subsequentes à posse do futuro presidente. A primeira e mais visível delas é Lula. Embora ele esteja legalmente impedido de registrar candidatura e concorrer a qualquer cargo eletivo, em razão da Lei da Ficha Limpa, neste país nunca se sabe o que pode ocorrer. Sobretudo porque quem dará a última palavra é a Justiça. No Judiciário brasileiro, parece que nunca há uma última palavra.

Pois se Lula for candidato, e se for eleito, que governo fará? Se depender das palavras do próprio, o pau vai comer. Além dos ataques seguidos à imprensa e suas promessas de criar um mecanismo de controle externo (leia-se censura) da mídia, ele já disse que voltará desencarnado do Lulinha Paz e Amor e com um programa ao avesso da famosa Carta aos Brasileiros com que se elegeu em 2002. Com o PT, embora o presidente do partido diga outra coisa, a economia corre seriíssimo risco de sofrer seguidas intervenções do Estado.

O que pode se esperar de Ciro presidente? Bomba! Se levarmos em conta apenas o que diz o candidato, teremos um país sob permanente tensão. Ciro já avisou que vai revogar o leilão de partilha do pré-sal e reestatizar empresas que julgar “imprescindíveis”. Também intervirá no Banco Central, pois anunciou que a taxa de juros praticada no Brasil impede o seu crescimento. Vai aumentar os impostos de lucros e dividendos e criar um teto para o pagamento das dívidas da União. Ciro também atacou a reforma da Previdência e prometeu rever a trabalhista. Na terça disse que vai vetar o acordo Embraer/Boeing. Um deus nos acuda.

Bolsonaro, que operaria uma catástrofe nas questões sociais e de comportamento, tampouco seria grandes coisas nos demais setores. Ele já disse que é contra a reforma da Previdência e avisou que prefere acordos bilaterais a acertos múltiplos, como o Mercosul. Disse que vai colocar um general no Ministério da Educação para dar às escolas do país o perfil dos colégios militares. Apesar disso, agrada ao mercado ao prometer manter o tripé macroeconômico com taxas de câmbio flutuantes e metas fiscais e de inflação. Mas Bolsonaro tem um grave problema de credibilidade.

Marina defende rever algumas privatizações dos governos Temer e Dilma, mas de um modo geral sua plataforma para a economia agrada ao mercado. Suas vulnerabilidades, do ponto de vista do capital e de quem protege o capital alheio, são os prováveis entraves que uma política ambiental poderia impor aos negócios e a sua aparente falta de vontade para tomar decisões duras. Geraldo Alckmin é o mais querido no ambiente empresarial, mas até agora não deu sinais de que vai muito longe.

O fato é que, num cenário confuso e incerto, o melhor é não fazer apostas de longo prazo. Os analistas acreditam que, qualquer que seja o resultado em outubro, a inflação vai ter crescimento acelerado em 2019. Ninguém espera hiperinflação, mas todos projetam aumento para lá da meta já para este ano. Por isso, investimento com renda pré-fixada é fria, avisam os corretores. A ideia é evitar que o cliente faça uma aplicação a um valor imaginado para a inflação, e ela venha maior e o dinheiro aplicado acabe menor ao final do período.

“Em síntese, uma situação doméstica de inflação em elevação, desemprego alto, crescimento baixo, crise fiscal e eleição incerta, aliada a uma conjuntura externa adversa aos países emergentes, nos dá a convicção de que estamos diante de um cenário extremamente desafiador para o Brasil. A cautela e a prudência, como em 1989, serão imperativas”, diz um grande consultor de investimentos em carta distribuída entre seus clientes.

O gestor cita o ano de 1989 em razão da primeira eleição presidencial direta depois do fim da ditadura, e que lembra a de hoje pela multiplicidade de candidatos e de ideias. Naquele ano, ganhou Collor, que confiscou a poupança e outros investimentos e congelou contas bancárias. O paper foi batizado “Os fantasmas do passado voltam a assombrar”. Ninguém, em sã consciência, pode imaginar que um novo presidente seja louco e corajoso o suficiente para confiscar outra vez a poupança. Mas, quem tem passado, tem medo.

* Ascânio Seleme é jornalista


Ascânio Seleme: Maquiagem antivergonha

Para os partidos, mudar de nome só serve como última alternativa para refrescar sua imagem e sanitizar seu legado. O caso mais emblemático e histórico é o da Arena
O tsunami de corrupção que atravessa o país de maneira sistemática ao longo de décadas, e de modo crescente desde o mensalão, tem feito partidos políticos e empresas pensarem em alternativas para sobreviver ao mar de lama. Criativos e engenhosos, partidos e empresas envolvidos em escândalos estão, vejam só, mudando de nome. Algumas empresas mudaram suas cores, outras alteraram suas marcas, quase todas trocaram o nome. Em todos os casos, trata-se de simples maquiagem para esconder seus vínculos com esquemas de corrupção ou associações esquisitas.

Um estudo sobre este processo de maquiagem foi feito pelas advogadas Maria Pia Bastos-Tigre Buchheim e Stella Mouzinho, sócias em um escritório de advocacia. Elas veem uma tendência que deve ser repetida nos próximos meses por empresas que queiram se descolar de episódios negativos. Mesmo empresas que não se envolveram diretamente em falcatruas, mas têm sócios ou parcerias encrencadas, estão fazendo ou vão fazer este movimento. Com novo nome, o passado assombroso não desaparece, mas fica menos visível.

Vejam o caso de quatro empresas subsidiárias da Odebrecht, a principal empreiteira do escândalo PT/Petrobras. A Braskem, braço petroquímica da empresa, mudou sua identidade visual e trocou a cor predominante do vermelho para o azul. A Odebrecht Óleo e Gás mudou o nome para Ocyan. A Odebrecht Realizações Imobiliárias virou OR, e a Odebrecht Agroindustrial atende agora pelo nome de Atvos. É assim que caminha o processo de descontaminação da marca mãe, que pretende alcançar todo o grupo.

Outro nome bem conhecido dos brasileiros pelo seu envolvimento na Lava-Jato, a empreiteira Camargo Corrêa, mudou seu nome para Mover, tentando sepultar a velha fama e seguir adiante. Em seu site o grupo diz que mudou de nome com um “forte desejo de fazer diferente”. O Grupo Schahin, também investigado pela força tarefa de Sergio Moro, deixou um rombo de R$ 6 bilhões na praça, mas tenta seguir suas atividades agora sob o nome de Base Engenharia e Serviços de Petróleo e Gás.

Ainda no ramo do petróleo, a norueguesa Statoil está mudando seu nome para Equinor. Alega que se adapta a novos tempos, em que exploração de energia vai além do combustível fóssil, e que o nome Equinor significa igualdade (Equal) norueguesa (Nor). Pode ser, mas é fato também que a Statoil tem lama até o pescoço. Envolvida em casos de corrupção em Angola e outros países africanos, no Brasil se associou à manjada empreiteira Queiroz Galvão.

Duas outras empresas na lista das advogadas são a HRT Petróleo, que virou PetroRio, e a menos criativa de todas, a Engevix, que foi rebatizada de Nova Engevix. Pode ser que a palavra Nova empreste alguma sobriedade à empresa, mas o fato é que a velha Engevix foi apanhada no esquema de corrupção da Petrobras, e seu vice-presidente Gerson Almada acabou preso no mesmo processo que encarcerou o ex-ministro José Dirceu.

As antigas empresas de Eike Batista, que tinham sempre a letra X em sua nomenclatura, mudaram de donos e de nomes. A outrora famosa OGX virou Dommo Energia. A MPX mudou seu nome para Eneva. A LLX, empresa que opera o mega Porto de Açu, passou se chamar Prumo Logística. Todas elas fizeram a mudança para sair da sombra de Eike e da sua ruína.

Para os partidos políticos, mudar de nome só serve mesmo como última alternativa para refrescar sua imagem e sanitizar seu legado. O caso mais emblemático e histórico é o da Arena, partido que apoiou a ditadura e que com a redemocratização do país mudou seu nome para PFL, depois para DEM e hoje se chama Democratas. O partido de oposição ao regime militar, o MDB, passou a ser PMDB para se adaptar a uma mudança imposta pela lei eleitoral manipulada que obrigou partidos a ter um P em seu nome.

Hoje, décadas depois, o PMDB voltou a se chamar MDB, mas em nada se parece com o partido de Ulysses Guimarães e Tancredo Neves. O PTN, Partido Trabalhista Nacional, fundado para absorver a migração do velho trabalhismo getulista e brizolista, virou Podemos. Continua com os mesmos donos. O PEN, fundado como Partido Ecológico Nacional, hoje é o Patriota. O presidente do partido, evangélico da Assembleia de Deus e autodeclarado conservador, andou atrás de Bolsonaro, que o esnobou. O PTdoB, outro dissidente do trabalhismo, virou Avante.

E assim seguimos.

* Ascânio Seleme é jornalista