ana stela lima
FAP Entrevista: Ana Stela Lima
A máquina de propaganda do PT, mentirosa e populista, impede que o discurso do centro ganhe aderência nacional, avalia Stela
Por Germano Martiniano
Faltando exatos sete dias para as eleições brasileiras, o Datafolha, na última sexta-feira (28), publicou que Bolsonaro e Haddad seguem na liderança da corrida presidencial e fariam hoje o segundo turno. Ciro estacionou e Alckmin subiu de 8 para 10 pontos percentuais.
Como descreveu Demétrio Magnoli, sociólogo, nesta semana para o jornal A Folha de São Paulo, este quadro em que Haddad enfrentaria Bolsonaro no segundo turno é tudo o que petista quer para desfilar seu discurso a favor da democracia, do multiculturalismo e do assistencialismo aos mais pobres.
Mesmo a sete dias das eleições, Ana Stela Alves de Lima, bancária, presidente do Sindicato dos Bancários de Campinas e dirigente da FAP, ainda acredita que pode haver uma mudança deste quadro polarizado. Stela também disse em entrevista para FAP que o não sucesso do centro político, por enquanto, se dá por conta da propaganda do PT, que faz uma campanha mentirosa.
“A máquina de propaganda do PT, mentirosa e populista, sempre é mais eficiente para apontar problemas e culpados no governo dos outros, vide a questão educação em São Paulo”, disse Stela para FAP Entrevista.
A FAP Entrevista é uma série que está sendo publicada aos domingos e, agora, às quartas-feiras, com intelectuais e personalidades políticas de todo o Brasil, com o objetivo de ampliar o debate em torno do principal tema deste ano: as eleições.
Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:
FAP Entrevista - Após essa última pesquisa do Datafolha, pode-se dizer que as chances do centro político chegaram ao fim?
Ana Stela Lima - Não, em uma semana ainda é possível que as coisas mudem, já temos situações como esta em várias eleições.
Demétrio Magnoli, sociólogo, escreveu em seu último artigo que um segundo turno entre Haddad e Bolsonaro é tudo o que o petista quer, pois poderá usar o discurso da democracia, do multiculturalismo, dos representantes do pobres, por exemplo. Haddad contra Bolsonaro no segundo turno é vitória certa para o PT?
Com esta situação no segundo turno, Haddad e Bolsonaro, a decisão será entre o ruim e o pior. Bolsonaro não é alternativa, o PT é o PT, mas ainda será possível que os partidos de centro exijam compromissos que deem a eles governabilidade em troca da não venezuelizacao.
No que o centro político errou e como reconstruí-lo?
O centro político que está na disputa fez a política certa, mas a máquina de propaganda do PT, mentirosa e populista, sempre é mais eficiente para apontar problemas e culpados no governo dos outros, vide a questão educação em São Paulo.
Haddad prometeu, caso ganhe a eleição, diminuir os spreads bancários. A proposta faz parte do pacote de medidas populistas do governo petista, no entanto, pode levar à redução dos créditos bancários. Como bancária e sindicalista, qual sua visão sobre essa proposta e do modelo assistencialista do PT?
O período de ouro para os banqueiros foi no governo Lula. Nunca o sistema financeiro nacional tinha ganho tanto dinheiro até então. Dilma tentou aumentar a concorrência bancária dando gás aos bancos públicos para oferecerem credito mais barato. Os bancos privados seguraram o crédito e aguardaram acabar o fôlego dos bancos públicos e então tudo voltou ao normal para eles. Pelo que temos visto, os bancos vão baixar os juros e diminuir o spreed bancário por conta da concorrência com as fintechs, das cooperativas de crédito, da retomada econômica, que diminui o risco para eles e da queda da taxa de juros Selic, que os obriga a emprestar para seus clientes ao invés de comprar títulos do governo que são seguros, rentáveis e não exigem esforço.
Como a senhora avalia o modelo nacional desenvolvimentista do PT e do plano econômico de Paulo Guedes para o Brasil?
Modelo desenvolvimentista todo mundo gosta, precisa explicar melhor como não vão continuar quebrando o país. O Paulo Guedes também tem ideias que todos querem para equilibrar as contas do estado. Precisa explicar o que fazer com o povo.
Hoje temos uma vertente da esquerda que se aproxima do liberalismo econômico, que é a favor de um estado regulador e não provedor. O Brasil, com todas suas mazelas sociais, necessita de estado assistencialista?
O estado não pode perpetuar a dependência dos cidadãos. Também neste quesito reformas, que realmente são necessárias, há de se levar em conta os interesses que estão em jogo. A reforma da previdência, por exemplo, se faz necessária porque, entre muitas outras coisas, aumentou a expectativa de vida da população, mas não se pode dar a previdência para os banqueiros cuidarem.
O que a senhora espera do Brasil, como um todo, cidadãos, classe política, empresas e todas nossas organizações para os próximos quatro anos?
Seja como for, tudo está certo. A população terá que aprender a pensar em política de forma mais consciente. Os políticos já estão vendo consequências de mau uso do dinheiro público como nunca se viu. A sociedade enfim está mostrando realmente o que pensa e com isso também vemos o seu lado egoísta e preguiçoso, buscando algum super herói que lhe resolva os problemas. Mas tudo isso já estava aí, faltava escancarar. Acho que podemos sair melhores de tudo isso.