alfabetização

Darcy Ribeiro segurando livro nas mãos | Imagem: reprodução PDT org

Revista online | E agora, Darcy?

Cristovam Buarque*, especial para a revista Política Democrática online (48ª edição: outubro/2022)

Quando Darcy nasceu, o Brasil acabara de criar sua primeira universidade, a população ainda era quase toda analfabeta, fazia apenas 34 anos da abolição, raros brasileiros estavam na escola, quase nenhum terminava a educação de base. Darcy dedicou sua vida para mudar isto, como professor e político. No seu centenário, o Brasil tem 50 milhões de crianças matriculadas em 200 mil escolas, 8 milhões de estudantes universitários, 150 mil deles em cursos de pós-graduação. Foi um longo caminho, mas ainda temos 3 milhões que não se matricularam, 10 milhões de analfabetos, apenas metade de nossos jovens terminaram o ensino médio, poucos deles com o conhecimento necessário para o mundo contemporâneo. Avançamos, aumentando as brechas educacionais entre os ricos e os pobres e entre o que ensinamos e o que o mundo atual exige que uma pessoa saiba para estar plenamente integrada nele.

Confira, a seguir, galeria de imagens:

Darcy Ribeiro, a UnB e o constitucionalismo achado na rua | Imagem: reprodução
Educação e inclusão | Foto: Drazen Zigic/Shutterstock
Campus Darcy Ribeiro (UnB) | Reprodução: PARALAXIS/Shutterstock
Alterações LDB Lei | Imagem: Reprodução
Escola pública e máscaras | MikeDotta/Shutterstock
Darcy Ribeiro segurando livro nas mãos | Imagem: reprodução PDT org
África educação | Foto: Shutterstock/Boxed Lunch Productions
Analfabetismo no Brasil | Foto: Evtushkova Olga/Shutterstock
Darcy Ribeiro, a UnB e o constituicionalismo achado na rua
Educação e inclusão
Campus Darcy Ribeiro (UnB)
Alterações LDB Lei
Escola pública e máscaras
Darcy Ribeiro segurando livro nas mãos
África educação
Analfabetismo no Brasil
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Darcy Ribeiro, a UnB e o constituicionalismo achado na rua
Educação e inclusão
Campus Darcy Ribeiro (UnB)
Alterações LDB Lei
Escola pública e máscaras
Darcy Ribeiro segurando livro nas mãos
África educação
Analfabetismo no Brasil
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Se estivesse vivo, Darcy teria como tarefa ajudar o Brasil a garantir a alfabetização de todos os brasileiros para o mundo contemporâneo e eliminar a desigualdade que divide nosso sistema educacional em “escolas casa grande” e “escolas senzala”. Transformar o sistema com qualidade média entre os piores do mundo, e provavelmente o mais desigual, conforme a renda e o endereço da criança. Deveria lutar para colocar nossa educação entre as melhores do mundo, adaptada à realidade destes tempos, e para quebrar esta desigualdade: construir um sistema no qual o filho da mais pobre família tenha acesso a uma escola com a mesma qualidade que o filho da família mais rica. Que se diferenciassem depois pelo talento, persistência e vocação, mas não conforme a renda dos pais ou a sorte de uma rara escola pública, em geral federal.

Todos concluindo o ensino médio sabendo falar, ler e escrever muito bem nosso idioma; sendo fluente em pelo menos um idioma estrangeiro; conhecendo as bases da geografia, história, filosofia, ciências, matemática; informado sobre os problemas da atualidade; capazes de usar as modernas técnicas digitais e lidar com a inteligência artificial; tendo consciência solidária com a humanidade e a natureza; dispondo de um ofício profissional que lhe assegure as ferramentas para ter emprego e renda e mudar nosso país e o mundo, fazendo-os melhores e mais belos.

Confira a versão anterior da revista Política Democrática online

Para tanto, Darcy, que foi o relator da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), deveria ir além desta e de outras leis homeopáticas e ajudar a criar um Sistema Único Nacional Público de Educação de Base. Levaria o Brasil a tratar a educação de suas crianças como uma questão nacional, não mais municipal; criar um ministério próprio para a educação de base, uma carreira federal para os professores, com os maiores salários do setor público, bem formados e avaliados regularmente; construir prédios escolares com a máxima qualidade entre as edificações governamentais; equipar as escolas com os mais modernos instrumentos pedagógicos; adotar horário integral em todas as escolas, assegurando que todo aluno concluirá o curso médio com um ofício profissionalizante.

Ele nos deixou sua inspiração e desafio. Para levarmos adiante esta “Missão Darcy”, o governo federal precisa definir uma estratégia durante a qual federalizaria paulatinamente os sistemas municipais. Ao ritmo de 100 a 200 cidades por ano, em 25 a 30 anos, comemoraríamos os 130 anos de Darcy Ribeiro com todo o Brasil dispondo de um Sistema Único Nacional Público de Educação de Base, com todas as escolas de mesma qualidade, não importando a renda ou o endereço do aluno, cada uma com a mesma qualidade das melhores do mundo.

Sobre o autor

*Cristovam Buarque foi reitor da Universidade de Brasília (UnB) de 1985 a 1989. Foi governador do Distrito Federal de 1995 a 1998 e eleito senador pelo DF em 2002. Atuou como ministro da Educação de 2003 a 2004, no primeiro mandato de Lula. Foi reeleito em 2010 para o Senado pelo DF, com mandato até 2018.

** O artigo foi produzido para publicação na revista Política Democrática online de outubro de 2022 (48ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.

*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na revista Política Democrática online são de exclusiva responsabilidade dos autores. Por isso, não reflete, necessariamente, as opiniões da publicação.

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Clube de leitura Eneida de Moraes/ Arte: FAP

Clube de Leitura Eneida de Moraes: acesso a livros e à cultura

Luciara Ferreira*, com edição da coordenadora de Mídias Sociais da FAP, Nívia Cerqueira

De acordo com a 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, lançada em 2020, o Brasil ocupa a 60ª posição entre 70 países que está abaixo da média mundial em leitura. O estudo constatou que 27% dos brasileiros, entre 15 e 64 anos, são analfabetos funcionais. 42% dos entrevistados alegaram que não leem porque não compreendem ou têm dificuldades; 44% não são considerados leitores (não leram nem mesmo um trecho de um livro) e 12% são leitores de romances/conto.

Criado com o objetivo de contribuir para o aumento do número de leitores ativos no Brasil, o Clube de Leitura Eneida de Moraes, promovido pela Biblioteca Salomão Malina, desenvolve encontros online desde junho de 2019 e conta com um grupo de 43 leitores participantes, que escolhem de forma democrática o livro que será debatido no mês com autores convidados.

Thalyta Jubé, coordenadora da Biblioteca Salomão Malina, ressalta a importância do estímulo à leitura no nosso país, onde o índice de pessoas que leem é muito baixo, se comparado a outros lugares. “É por meio da leitura textual que a pessoa desenvolve a capacidade de raciocínio crítico e habilidades de interpretação”.

Clube de Leitura

O Clube de Leitura Eneida de Moraes homenageia a jornalista e escritora paraense de nome homônimo, que morreu em 2003 aos 92 anos e foi destaque na literatura. Com 11 obras publicadas em várias traduções, Eneida cultivava amizades com grandes escritores modernistas como Carlos Drummond de Andrade, Dalcídio Jurandir e Graciliano Ramos. Dentre os seus livros mais famosos estão os de crônicas ‘Aruanda’ e ‘Cão da Madrugada’ e o autobiográfico ‘Banho de Cheiro’.

Confira, abaixo, galeria de fotos:

Adolescente pesquisando um livro para leitura/ Arte: FAP
Visitante da Biblioteca Salomão Malina/ Arte: FAP
Os colaboradores Thalyta e Alexandre/ Arte: FAP
Espaço interno da Biblioteca Salomão Malina/ Arte: FAP
Leitora usufruindo do espaço da Biblioteca Salomão Malina/ Arte: FAP
Livros e jornais disponíveis na Biblioteca Salomão Malina/ Arte: FAP
Jovem lendo notícias do jornal diária na Biblioteca Salomão Malina/ Arte: FAP
Livro disponível para empréstimo/ Arte: FAP
Espaço reservado para leitura na Biblioteca Salomão Malina/ Arte: FAP
Auditório da Biblioteca Salomão Malina/ Arte: FAP
Adolescente pesquisando um livro para leitura
Visitante da Biblioteca Salomão Malina
Os colaboradores Thalyta e Alexandre
Espaço interno da Biblioteca Salomão Malina
Leitora usufruindo do espaço da Biblioteca Salomão Malina
Livros e jornais disponíveis na Biblioteca Salomão Malina
Jovem lendo notícias do jornal diária na Biblioteca Salomão Malina
Livro disponível para empréstimo
Espaço reservado para leitura na Biblioteca Salomão Malina
Auditório da Biblioteca Salomão Malina
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Adolescente pesquisando um livro para leitura
Visitante da Biblioteca Salomão Malina
Os colaboradores Thalyta e Alexandre
Espaço interno da Biblioteca Salomão Malina
Leitora usufruindo do espaço da Biblioteca Salomão Malina
Livros e jornais disponíveis na Biblioteca Salomão Malina
Jovem lendo notícias do jornal diária na Biblioteca Salomão Malina
Livro disponível para empréstimo
Espaço reservado para leitura na Biblioteca Salomão Malina
Auditório da Biblioteca Salomão Malina
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Neste mês, o clube de leitura debaterá a obra Amar se aprende amando, de Carlos Drummond de Andrade. O evento, que é gratuito e aberto ao público, acontecerá na próxima terça-feira (26/7), a partir das 19 horas, com transmissão ao vivo nas redes sociais da FAP e Biblioteca Salomão Malina.

A linguista Lorena Silva de Moura, que já foi mediadora do Clube de leitura Eneida de Moares, fala dos inúmeros benefícios desta iniciativa para iniciantes. “Os encontros e a leitura estimulam a troca de ideias e informações, além de fortalecer o nosso próprio conhecimento e sensibilidade, proporcionam a valorização da leitura e difusão do livro,  num país extremamente desigual em que o acesso a livros e a cultura são muito escassos ", explica.

Sobre a Biblioteca Salomão Malina

A Biblioteca Salomão Malina, espaço que integra a Fundação Astrojildo Pereira (FAP) é um importante equipamento de incentivo à produção do conhecimento em Brasília e regiões do entorno.

Ao longo dos seus 14 anos de existência tornou-se ponto de cultura consolidado. Seu acervo, com mais de 5.000 títulos para empréstimo, é especializado em Ciências Sociais e Humanas, contando também com livros da literatura.

*Integrante do programa de estágio da FAP sob supervisão.


Pollyana Gama: Hostilidade nas Redes - Para além da alfabetização funcional

Conversando com algumas pessoas que utilizam redes sociais, parece ser consenso sobre a hostilidade que tomou conta do ambiente virtual. O que se esperava sair de cena após as eleições permanece contaminando e impedindo a possibilidade de diálogos, informações produtivas.

Seja qual for o motivo, o impulso, a razão ou não, sempre me atento ao fato de ser importante refletir sobre os aspectos educacionais e até mesmo emocionais que envolvem os autores dessa hostilidade nas redes.

Um indicador a ser considerado para essa tarefa pode ser o Índice de Alfabetismo Funcional (Inaf), apurado pelo Instituto Paulo Montenegro, com nove edições ao longo dos últimos quinze anos.

De acordo com o Instituto “é considerada analfabeta funcional a pessoa que, mesmo sabendo ler e escrever algo simples, não tem as competências necessárias para satisfazer as demandas do seu dia a dia e viabilizar o seu desenvolvimento pessoal e profissional”. Diferentemente do que ocorre com as pessoas alfabetizadas funcionalmente.

Embora tenhamos reduzido o percentual de analfabetos funcionais em nosso país – de 37% em 2005, para 29% esse ano – o Inaf aponta que de 2015 para 2018 houve acréscimo de 2%, sendo que a grande maioria dessas pessoas, utilizam as redes.

Mesmo que em termos percentuais, a diferença quanto à leitura e nível de alfabetização seja mínima entre as duas categorias, os analfabetos funcionais são os que mais compartilham informações que recebem (84%), porém são os que menos escrevem essas informações (12%). Por outro lado os funcionalmente alfabetizados são os que mais escrevem nas redes (43%).

Voltando a questão inicial – hostilidade nas redes isto é, bombardeio de notícias falsas, fake news e agressões –, vale observar que a origem disso tudo, além do nível de letramento, pode revelar as condições socioemocionais de seus autores. Consequentemente identificamos o quanto é preciso desenvolver a humanidade dessas pessoas, tanto de quem “reproduz”, quanto de quem “escreve”. É preciso não perder de vista que nos tornamos humanos quando desenvolvemos empatia isto é, a capacidade de nos colocamos no lugar do outro. Segundo a pesquisadora Anita Nowak a ação empática tem implicações positivas para o eu e a sociedade.

Afinal, onde está a responsabilidade pelo próximo ao elaborar ou simplesmente compartilhar uma mentira ou agredir, difamar alguém sem apurar os fatos?

Nesse sentido é preciso ir além da alfabetização funcional e complementa-la com a emocional.

A equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro, ao comunicar que enfatizará o uso das redes sociais durante sua gestão, precisa avaliar esse contexto. Se é que já não avaliou… Uma análise séria e comprometida com o desenvolvimento do país indicará a necessidade urgente de investimentos e gestão eficiente para melhorar a qualidade da educação brasileira e constituir – porque não? – um programa de alfabetização emocional para toda comunidade escolar.

Sonho?!

Há ainda quem desconsidere o poder dele ou até mesmo quem prefira não sonhar… Neste caso, prefiro a afirmação contundente de Lobato ao dizer que “tantos sonhos foram realizados que não temos o direito de duvidar de nenhum”. Dúvida? Pode verificar a fonte! Aliás, fontes. Não é fake! Exemplos não faltam. O que falta por vezes para muitos raivosos e agressores virtuais é a capacidade de fazer acontecer uma realidade melhor a começar por si mesmos. Diante dessa falta, fica a dica. Cada um oferece o que tem.

* Pollyana Gama, professora, escritora e Mestre em Desenvolvimento Humano