agressões

Marcos Santos | USP

Operação Maria da Penha faz mais de 12 mil prisões em um mês

Agência Brasil*

Em apenas um mês, policiais civis e militares dos 26 estados e do Distrito Federal prenderam 12.396 pessoas acusadas de matar ou agredir mulheres em todo o país. O cumprimento dos mandados e as prisões em flagrante ocorreram entre os dias 29 de agosto e 27 de setembro, no âmbito da segunda edição da chamada Operação Maria da Penha.

Durante o período, foram requeridas e/ou concedidas 41,6 mil medidas protetivas para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra mulheres e registrados 75.525 boletins de ocorrência policial.

Os resultados finais da ação foram divulgados hoje (7), em Brasília, pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. Responsável por coordenar, em âmbito nacional, a ação que envolveu cerca de 220 mil profissionais de segurança pública federais das 27 unidades federativas, o ministério informou que os estados onde o Disque 190 mais recebeu denúncias de casos de feminicídio e agressões domésticas foram São Paulo e Rio de Janeiro – respectivamente, 9.416 e 5.197.

“Os números demonstram que conseguimos salvar vidas e tiramos mulheres deste ciclo de violência”, disse o coordenador da operação, Julian Rocha Pontes. Em 2021, durante a primeira edição da Operação Maria da Penha, foram efetuadas 14,1 mil prisões e requeridas e/ou expedidas 39,8 mil medidas protetivas.

Em nota, o Ministério da Justiça e Segurança Pública destacou que, além do aspecto repressivo, a operação tem o objetivo de conscientizar a sociedade e fomentar e induzir a aprovação de políticas públicas destinadas a proteger as mulheres, além de estimular que as boas práticas implementadas pelos estados na proteção e acolhimento de mulheres vítimas de violência sejam reproduzidas.

A Lei Maria da Penha (11.340/2006 configura violência doméstica e familiar contra a mulher e qualquer ação ou omissão baseada no gênero que resulte na morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial à vítima.

Como denunciar

O ministério também recomenda que, em caso de suspeita ou em que os direitos de qualquer mulher sejam violados, a vítima ou denunciante procure a delegacia de polícia especializada mais próxima. Ou ligue para os números de telefone 180, 190 ou 197. A ligação é gratuita e o serviço funciona 24 horas, todos os dias da semana.

O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), que apoia a Operação Maria da Penha, também mantém a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, que oferece escuta e acolhida qualificada às mulheres em situação de violência, registrando e encaminhando denúncias, reclamações, sugestões ou elogios aos órgão competentes.

Estados e organizações sociais também oferecem auxílio às mulheres em situação de violência. Clique aqui e saiba onde mais é possível encontrar apoio.

Texto publicado originalmente na Agência Brasil.


O antirracismo na prática | Foto: digitalskillet /Shutterstock

O antirracismo na prática e o tratamento diferenciado às pessoas brancas

Geledés*

Se você é uma pessoa branca e ainda não leu Grada KilombaSueli Carneiro, Lélia GonzalezCida BentoÂngela Davisbell hooks ou Frantz Fanon talvez você esteja longe de exercer seu antirracismo de modo pleno e consciente. Por outro lado, entendo que apenas ler essas autoras e autores não faz de ninguém antirracista automaticamente, até porque, para este tipo de luta, é preciso bem mais que um envolvimento intelectual, mas acredito que ao lê-los, há grandes chances de você, pessoa branca, compreender com mais profundidade as nuances e sutilezas do racismo e, assim, captar as camadas dos argumentos e ações racistas com mais precisão.

Toda vez que vemos episódios de racismo ganhar espaço nas redes e nas grandes mídias geralmente são casos emblemáticos, como xingamentos e agressões racistas. Raramente vemos associados à outras cenas menos explicitas, mas tão violentas quanto. Digo isso, porque as “micros violências” que negros e negras são submetidos todos os dias não ganham relevância nem destaque. Por isso que, para além de denunciarmos esses casos nefastos de racismo explicito, é necessário também um aprofundamento nessa questão e que passa pela leitura dos autores e autoras que citei no início desta coluna.

Dias atrás, veio à tona mais um desses episódios assombrosos de racismo explícito. O caso envolvendo os filhos dos atores Giovana Ewbank e Bruno Gagliasso, rendeu aplausos e apoio público, principalmente à Giovana que partiu para cima de uma senhora racista, em Portugal. Aliás, muito simbólico que este caso tenha acontecido em terras portuguesas, o que demonstra que o país também precisa discutir com mais profundidade e urgência as questões raciais. Creio que Giovana fez o que tinha de ser feito: disse tudo que uma racista deve ouvir. O que evidencia uma postura ética de quem de fato não aceita o racismo de forma alguma.

Portanto, não há dúvidas de que Giovana exerceu o antirracismo na prática, tanto nas palavras, quanto nas ações. Foi de certo modo uma atitude bem didática de como pessoas brancas podem agir diante do racismo. Além disso, o fato de o episódio envolver crianças gerou ainda mais comoção e indignação. Em poucas horas a internet sacudiu com elogios à Giovana e mensagens de apoio. Lembrando também que essa não foi a primeira vez que o casal passou por situações parecidas como essa, por causa de seus filhos negros.

O fato é que o tratamento de apoio dado à Giovana também revela o quanto o privilégio branco incide até nestes momentos de denúncia, porque mostra o quanto esse mesmo privilégio pode mascarar a luta antirracista. Isto significa dizer que, pessoas brancas e famosas como é o caso de Giovana e Bruno, expõe uma sociedade que reconhece com mais facilidade e empatia a luta contra o racismo quando os protagonistas dessa luta são brancos. Essa constatação, por outro lado, não invalida e nem deve servir para inibir outras pessoas brancas de agirem com firmeza diante do racismo.

Pois a questão que se coloca aqui é a de que não há uma igualdade de tratamento entre brancos e negros mesmo quando estão do mesmo lado na luta antirracista. Porque não esqueçamos que homens e mulheres negras são vítimas dessas violências todos os dias, mas dificilmente ganham adesão e apoio popular nesta proporção. Isso quando não são qualificados como agressivos ou que não sabem dialogar. Em outras palavras, uma pessoa branca pode dizer o que quiser diante de um racista, pode pôr o dedo na cara sem qualquer receio de retaliação, ou de ser acusada de barraqueira, o que muito provavelmente não aconteceria com uma mulher negra na mesma situação.

Reforço que acho bastante positivo que Giovana tenha tido essa postura diante de um episódio de racismo e que se utilizou do seu lugar de privilégio e de prestígio para a luta antirracista. No entanto, não percamos de vista que ainda estamos longe, muito longe de uma igualdade racial no Brasil.

*Texto publicado originalmente no Geledés.


Francisco Almeida: Depois de Eduardo Campos e Marina Silva, agressões a Cristovam

Tão logo o PSB se definiu pela candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República, em 2013, o PT iniciou uma campanha difamatória contra o então governador de Pernambuco. De “menino mimado” a “traidor” e “nova direita”, adjetivos usados para todos os líderes da esquerda democrática que não se submetem ao hegemonismo petista. 

Além da pressão política, Lula, a presidente Dilma e o PT usaram a força da máquina estatal para esvaziar a candidatura de Campos. Tentaram cooptar líderes do PSB com vantagens governamentais, cortaram verbas ao estado de Pernambuco, retiraram do governador a autoridade para as concessões de ampliação do Porto de Suape e, por fim, mandaram agentes da Abin espionar Campos e sua família, numa tentativa torpe de intimidação. 

Apesar disso, a candidatura do PSB cresceu com o apoio do PPS e com a participação de Marina Silva como candidata a vice-presidente. O trágico acidente de agosto de 2014 lançou a senadora para o centro da disputa política e a máquina caluniosa do PT se voltou contra ela. De “traidora”, “amiga dos banqueiros” e ecocapitalista, as mentiras aumentavam tanto mais a candidata crescia nas pesquisas: que ela acabaria com o Bolsa Família, com o Minha Casa Minha Vida, promoveria um tarifaço e um austericídio, retiraria o prato de comida da mesa dos brasileiros para fazer o jogo do mercado financeiro. 

Passado o pleito, revelou-se o estelionato eleitoral: Dilma e o PT fizeram exatamente aquilo que imputava aos seus adversários, perdendo de imediato a legitimidade de sua vitória, cuja consequência lógica foram as gigantescas manifestações pelo seuimpeachment, tão logo ficaram claros o desastre econômico do seu governo e as manipulações das contas públicas, somadas às ilegalidades praticadas com o desvio de verbas da Petrobras para financiar a sua campanha eleitoral. 

Após o mensalão, em 2005, Lula fez do PMDB seu principal aliado e continuou a excluir do centro decisório governamental tanto o PMDB quanto os partidos da esquerda democrática, o que levou o PDT e o PPS a deixarem o governo, respectivamente em 2003 e 2004. Fazendo forte pressão, Lula não conseguiu evitar as candidaturas de Heloísa Helena, pelo PSOL, nem a de Cristovam Buarque, pelo PDT, que, somadas aos escândalos de corrupção da ministra chefe da então Casa Civil Erenice Guerra, levaram a eleição de 2006 para o segundo turno. 

O PDT e o PSB, juntamente com o PCdoB, articularam em 2007 o Bloco de Esquerda, de atuação parlamentar própria e não subordinadaao petismo. O bloco tentou atuar de forma conjunta na eleição de 2010, mas o PT pressionou e solapou a candidatura de Ciro Gomes a presidente pelo PSB. Nas eleições municipais de 2012, o PSB, em muitos lugares com o apoio do PPS, PDT, PV e PSDB, conseguiu eleger mais prefeitos das capitais do que o PT. E aí está uma das causas da agressividade petista: o temor de perder a liderança para os partidos da esquerda democrática. 

Esta é uma das causa das agressões ao senador Cristovam Buarque desde que ele votou pela admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Cristovam possui o que os atuais líderes do PT não têm: respeitabilidade, credibilidade e coerência e é uma potencial ameaça às pretensões eleitorais petistas. 

O senador tem uma trajetória retilínea, desde os seus tempos pernambucanos de militante estudantil na Ação Popular, grupo da esquerda católica que se aliou ao antigo PCB, para conquistar para as esquerdas a direção da UNE com a eleição de José Serra. Mesmo governador pelo PT, Cristovam jamais deixou de dialogar com outras forças políticas e personalidades democráticas, como o então ministro da Educação Paulo Renato, que foi convencido por ele a implantar, em nível federal, o exitoso programa Bolsa Escola, do DF. Lula nunca explicou porque demitiu por telefone o seu ministro da Educação enquanto este cumpria compromisso de trabalho no exterior. 

Cristovam Buarque foi para o PDT de Leonel Brizola, que acusava o governo Lula de trair seus compromissos eleitorais ao promover uma política econômica monetarista comandada por Antônio Palocci, cujos cortes foram duas vezes superiores às tentativas de ajustes promovidas por Joaquim Levy e Nelson Barbosa no governo Dilma. Mesmas razões, além da ausência de diálogo, que levaram o PPS a ir para a oposição no ano seguinte. No PDT, Cristovam manteve-se numa posição crítica em relação aos dois governos petistas. 

Mas a disputa de poder sem princípios do PT não é a única causa para as agressões ao bravo senador. Revelam o cacoete da velha esquerda autoritária, incapaz de se renovar e de conviver com a divergência e com o pluralismo político e partidário. Quando a deputada Luciana Genro, candidata do PSol a presidente, se declarou contrária ao impeachment mas reconhecia que a medida não era um golpe, um escriba petista correu para defender a “solução de 1940”, numa alusão ao assassinato do líder russo Leon Trotsky e aos fuzilamentos na União Soviética a mando de Josef Stalin. A mentalidade de partido único e o espírito de seita continuam no PT, um fiel representante da esquerda autoritária no Brasil.

Francisco Almeida é membro do Secretariado e da Executiva Nacional


Fonte: pps.org.br