RPD || A pedra no meio do caminho

Governo desmantelado, incompetente e demolidor de Jair Bolsonaro cria um clima de incerteza e desconfiança dos agentes econômicos e dos investidores
Foto: Breno Esaki/Agência Saúde
Foto: Breno Esaki/Agência Saúde

Sergio C. Buarque

O ano de 2021 termina com recessão técnica, interrompendo o movimento de recuperação econômica do primeiro semestre, diante do desastre de 2020, quando a economia do Brasil encolheu 4,1%. A recessão deste final de ano coincide com a aceleração da inflação, que encerra o ano com emblemáticos dois dígitos, apesar do endividamento das famílias e das restrições de gastos governamentais. Para além da crise internacional da pandemia – elevação dos preços das commodities e desorganização da cadeia global de suprimento –, a combinação perversa de recessão e inflação no Brasil foi alimentada pela crise hídrica, provocando elevação dos preços da energia, e a desastrosa postura do governo, gerando incerteza e desvalorização cambial. O Brasil vai iniciar 2022 com a cara amarga de estagflação, o pior dos mundos para os brasileiros e um grande dilema para os formuladores de política econômica.  

Esta assustadora ameaça pode estar sendo contrabalançada por três informações positivas que sinalizam para a melhoria da economia brasileira em 2022. A primeira, é a recuperação da produção de petróleo, com queda de 18,7% dos preços internacionais da commodity (de US$ 86, registrado ainda em outubro, chegou agora a US$ 69,9). A diminuição ou mesmo estabilização dos preços dos combustíveis praticados pelas refinarias brasileiras seguram a pressão inflacionária com seu efeito na cadeia produtiva do Brasil. Além disso, a generosidade da natureza, com chuvas abundantes no sul e sudeste, aumentando os níveis dos reservatórios, suspende, por enquanto, o risco de racionamento e diminui a geração térmica que aumentaram as tarifas de energia. Para completar o cenário, o Brasil vai virar o ano com quase 70% da população totalmente vacinada, o que permitirá o funcionamento normal da economia, a não ser que a nova variante do Covid-19 seja resistente às vacinas, o que parece pouco provável.  

Se tudo der certo, em 2022 a economia brasileira poderá crescer em torno de 1% (o Relatório Focus projeta crescimento de 0,51%), favorecida pela estabilização dos preços do petróleo (sempre voláteis) e a redução das tarifas de energia, eliminando o risco de racionamento e, portanto, moderando as pressões inflacionárias (Focus estima o IPCA chegando 5%) acompanhado da elevação da taxa Selic. O desemprego deve declinar um pouco, mas ainda permanece elevado (pouco abaixo dos atuais 12,6% da População Economicamente Ativa e cerca de 13,5 milhões de trabalhadores), ainda comprometendo a renda e, portanto, a demanda das famílias.  

Infelizmente, tudo não dará certo. O Brasil tem uma pedra no meio do caminho, uma enorme e perigosa pedra: o governo desmantelado, incompetente e demolidor de Jair Bolsonaro. O fator Bolsonaro cria um clima de incerteza e desconfiança dos agentes econômicos e dos investidores externo, que se reflete na desvalorização cambial e na contenção dos investimentos indispensáveis para a dinamização da economia. A incerteza e a instabilidade política tendem a se ampliar porque o Bolsonaro (a pedra no caminho) vai estar em plena campanha eleitoral, ameaçado por baixa aprovação do eleitorado e agarrado ao Centrão, ávido pelo aumento dos gastos públicos para conquistar o eleitorado. Será muito difícil recuperar a confiança dos agentes econômicos, principalmente depois da manobra para flexibilização do Teto de Gastos e a projeção de um déficit nominal de mais de 6% do PIB. Ao longo deste ano, mesmo com alguns sinais positivos na economia, o Risco Brasil – que mede a percepção dos investidores em relação ao desempenho saltou de 150 para 200 pontos – aumentou de 33%. 

A principal aposta eleitoral de Bolsonaro é o chamado Auxílio Brasil, com o qual pretende disputar com Lula a paternidade do “maior programa social do mundo”, como alardeava o ex-presidente e propagandeou o Partido Liberal no ato de filiação do presidente.

O Auxílio Brasil quase dobra o valor do Bolsa Família, em termos nominais, injeta de mais de 50 bilhões de reais em transferência de renda. Indispensável diante da dramática crise social do Brasil, o Auxílio Brasil ajuda a moderar a pobreza extrema, mas terá efeito limitado e apenas compensatório enquanto a economia continuar patinando. O Brasil precisa mesmo é de uma política econômica que impulsione a recuperação da economia, gerando emprego e renda, todo o contrário do imediatismo da campanha eleitoral e da mediocridade política do presidente da República e de grande parte do Congresso Nacional.  

*Sérgio C. Buarque é economista com mestrado em Sociologia, professor da Universidade de Pernambuco (UPE), consultor em planejamento estratégico com base em cenários e desenvolvimento regional e local, sócio da Multivisão Planejamento Estratégico e Prospecção de Cenários e da Factta Consultoria, Estratégia e Competitividade. É sócio fundador da Factta Consultoria. Fundador e membro do Conselho Editorial da Revista Será? e membro do Movimento Ética e Democracia.


Saiba mais sobre o autor
*Sérgio C. Buarque
é economista com mestrado em sociologia, professor da Universidade de Pernambuco (UPE), consultor em planejamento estratégico com base em cenários e desenvolvimento regional e local, sócio da Multivisão-Planejamento Estratégico e Prospecção de Cenários e da Factta-Consultoria, Estratégia e Competitividade. É sócio fundador da Factta Consultoria. Fundador e membro do Conselho Editorial da Revista Será? e membro do Movimento Ética e Democracia.

** Artigo produzido para publicação na Revista Política Democrática Online de dezembro/2021 (38ª Edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.

*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na Revista Política Democrática Online são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, as opiniões da Revista.

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