Benito Salomão / Revista Política Democrática Online
O ano de 2022 teve início e com ele a esperança de que o duro biênio 2020/21 fique na lembrança, ou que preencha a metade de uma página dos manuais de história que ensinará os estudantes do futuro sobre este turbulento período. Não é isso que acontecerá, no entanto, com relação à economia. O ano de 2022 nasce com os mesmos problemas econômicos de 2021. Muitos dos quais já se vêm arrastando há mais de uma década. Este artigo versará sobre um destes problemas, a estagnação econômica.
O PIB é um dos indicadores utilizados pelos economistas, capaz de medir a evolução da riqueza em um país em um intervalo de tempo. Em uma abordagem dinâmica e de mais longo prazo, pode ser dividido em dois componentes: tendência e ciclo. O primeiro componente envolve uma trajetória de crescimento de longo prazo, isto é, o potencial de crescimento de uma economia que depende de uma combinação de fatores: demografia; estoque de capital; disponibilidade de recursos naturais e o padrão tecnológico de cada economia. Já os ciclos nada mais são do que as flutuações de curto prazo que o produto faz em torno da sua tendência.
O Brasil tem problemas evidentes em ambos os componentes supracitados. No que se refere ao ciclo, as estatísticas do IBGE relativas ao PIB do 2° e 3° trimestre de 2021 mostraram que o país está em recessão técnica. Isto ocorre quando por 2 trimestres consecutivos os dados do Produto Interno Bruto vêm negativos. Isso tudo depois de um ano recessivo em 2020 quando o PIB retraiu 4,1%, a maior queda para um único ano desde que se têm dados.
Entretanto, é no componente de longo prazo que o Brasil apresenta seu principal desafio. Em tal abordagem, os economistas usualmente substituem o PIB pela métrica do PIB per capita, para auferir a evolução da riqueza em um país. Isso porque no longo prazo mudanças demográficas influenciam o tamanho da riqueza, de forma que elevações do PIB podem ser apenas aparentes. Na última década, entre os anos de 2011/20, a economia brasileira apresentou queda real do PIB per capita. Embora ainda não se tenham dados precisos acerca da população brasileira, devido à descontinuidade do Censo Demográfico, estimo que, em 2020, o PIB per capita da economia brasileira equivalia ao ano de 2009.
No caso do Brasil dos últimos 12 anos, divergência é o que se vê. O país vem-se distanciando em termos de renda per capita do resto do mundo. O mais grave é que o país entrou na nova década crescendo pouco. Os 4,5% de crescimento previstos para 2021 mal repõem a queda de 4,1% de 2020. Para 2022, a mediana das previsões do Boletim Focus aponta para um PIB de 0,28%. Nada garante, no entanto, que, ao longo do ano, essas estimativas não sejam revisadas para baixo, e o ano termine em recessão. Mas, supondo que a projeção do Focus se mantenha, isso em termos per capita, indica mais um ano de crescimento negativo.
Em resumo, em plena década de 2020 a economia brasileira segue presa em uma renda per capita da década de 2000. Este é um cenário que os economistas chamam de armadilha da renda média, mas eu prefiro chamar de risco eminente de decadência econômica. Longos períodos de estagnação podem levar a sociedade a se acostumar com uma situação anômala. Um brasileiro nascido em 2010 será um adulto em 2030 e pode não ver seu país crescer com robustez. Nos 20 anos que precederam o Plano Real, não faltou quem dissesse que a hiperinflação era uma doença crônica sobre a qual muito pouco poderia ser feito e que o país estaria condenado a conviver com tal problema.
Falta de crescimento, tal como a inflação são problemas econômicos para os quais existem soluções. No caso da economia brasileira, os fatores que causam estagnação econômica por longo período são objetivos: insegurança jurídica, defasagem do modelo tributário, falta de integração com as cadeias globais de valor, sucateamento do capital físico (infraestrutura) e humano (ciência e tecnologia), fragilidade fiscal do Estado. Tais fatores são matérias primas para o próximo governo em 2023, isso porque os problemas são do tamanho da melhora que pode emergir a partir de suas soluções graduais.
* Benito Salomão é economista.
** Artigo produzido para publicação na Revista Política Democrática Online de fevereiro/2022 (40ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.
*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na Revista Política Democrática Online são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, as opiniões da Revista.
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