Tudo em 2021 dependerá do êxito da vacina. Não há mais espaço para conversa fiada de Bolsonaro
Os meteorologistas da política não encontram garantias para prever absolutamente nada de novo para 2021, mais um ano a ser dominado pela pandemia e pela expectativa da vacina. O que deve acontecer é a expansão de 2020 em todos os sentidos.
Jogaram-se para a frente as crises de saúde, a principal entre todas que castigam o Brasil. Também prorrogaram-se os prazos das crises econômica, social e política. Tudo em 2021 vai girar exclusivamente em torno da vacina. O sinônimo de vida.
Na roda de poder dos possíveis candidatos à sucessão de Jair Bolsonaro recomenda-se esquecer o ano novo como calendário original.
Quem tinha perfil de candidato a presidente na sucessão de 2022 e expectativa política deve continuar na mesma. Os fatores que fazem uma candidatura emplacar não estão liberados. Seja para o novato Luciano Huck ou para o veterano Ciro Gomes. Eles, e os demais postulantes conhecidos, entre os quais Hamilton Mourão, João Doria e Sérgio Moro, se tiverem juízo para se submeterem à realidade, continuarão esperando uma possível largada bem mais à frente.
Qual destes possíveis candidatos vai desabrochar, se vai ou não ser um deles, se aparecerá um outro surgido de inusitada situação, qual novo movimento será feito em direção à sucessão, em torno de que plataformas. Um mundo de definições em aberto.
Ninguém está pior que Jair Bolsonaro que, solitário, faz campanha dia e noite, sem nenhuma consequência para os adversários. Ora se vê que está procurando manter seu eleitorado, ora se evidencia o desejo de distrair a atenção do público de alguma de suas mazelas.
O presidente, que não governou na primeira metade do mandato, não governará na segunda, que se inicia; enquanto persegue a reeleição, não tem sequer acrescentado dividendos de peso à sua performance política.
Não se consegue explicar as razões pelas quais Bolsonaro está na posição em que se encontra, com uma adesão acima de 30% nas pesquisas de opinião. O governo é ruim, não há um projeto para o País, ele não apresenta solução para os problemas que angustiam a população cotidianamente e suas questões essenciais são meras demandas para resolver problemas pessoais, enquanto se vê ampliar a vulnerabilidade do seu flanco familiar.
Eleições, em 2021, só as das presidências da Câmara e do Senado, em fevereiro. Nelas só têm lugar compromissos imediatistas.
A sociedade dará atenção total à vacina e seus efeitos. A imprevisão das crises sanitária, social, econômica e política permanecerá nos meses seguintes à imunização. Bem como a oscilação do presidente da República quanto a questões relacionadas à pandemia que interessam a todos.
O governo, com suas posições corrosivas e estapafúrdias, permanecerá causando perplexidade nacional e internacional. Bolsonaro seguirá disfarçando sua ignorância a pretexto de defender a economia contra a vida, tomando atitudes que comprometem uma e outra.
Não é só para a crise sanitária que o governo não tem solução. Faltam-lhe ideias e medidas para resolver qualquer uma das demais crises. Paulo Guedes, o superministro da Economia, parceiro fundamental de Jair Bolsonaro nas soluções esperadas por todos, não terá condições de dizer, em 2021, a que veio. Se permanecer no cargo, depois de ter sido obrigado a desmentir o presidente da República no fim de 2020, continuará a falar sozinho, sem ressonância no governo ou no Congresso. Com todos os instrumentos nas suas mãos, não tem conseguido substituir nem por esperanças as incertezas atuais da economia.
Para lembrar e repetir: tudo em 2021 dependerá do êxito da vacina. Não há mais espaço para conversa fiada de Jair Bolsonaro e sua atração fatal pela morte, contra a ciência e o bom senso. Melhor esquecê-lo. E confiar nas lideranças da sociedade, que podem surpreender. Há espaços , questões e situações que as estimulam.