Nascerá, nas municipais, a temperatura da campanha federal de 2022
O País está a 80 dias das eleições municipais e a dois anos da eleição presidencial. E como eleição não é fetiche mas a única forma de acesso ao poder, não dá para resmungar dúvidas e dificuldades, a única saída é encará-las. Por mais que os eleitos na fornada de 2018 tenham decepcionado e deixado uma aura de desânimo no eleitorado, não se deve fugir do desafio. A excepcionalidade deste ano faz valer a pena, a realidade se impõe com seus agravantes. Entre eles, a evidência de que o pleito favorecerá reeleições, a começar pelos custos da campanha.
Quem está no cargo terá 45 dias a mais de exposição em propaganda oficial da sua administração, com dinheiro público. E um cardápio perfeito de proselitismo ilegal, incluindo as ações assistencialistas impostas pela pandemia. O financiamento próprio dos candidatos ricos é limitado, portanto seu trunfo será relativo. Outra peculiaridade:
menos de mil dos mais de cinco mil municípios têm campanha na televisão, os demais serão invadidos pelos sinais dos vizinhos. E a promessa de ampla campanha virtual exige verba considerável. Desvantagem para quem não está no cargo.
A abstenção eleitoral se acentuará pela pandemia. O adiamento da votação para 15 de novembro, porém, não teve o efeito esperado. Havia a previsão de que, em 45 dias para a frente, o País teria algum controle da doença. Expectativa frustrada. Não há sinais de que até lá será possível voltar às campanhas de rua, com aproximações, passeatas, abraços e apertos de mão. Nem se afastou, também, o risco de redução drástica do comparecimento às seções eleitorais.
Inexistem sinais de que em novembro o Brasil terá melhor diagnóstico para a covid-19, mais remédios e alguma vacina completando seu ciclo de testes. Ou que arrefeçam os riscos de contaminação. Os idosos reduzirão sua presença, seja por iniciativa própria ou por conselho dos parentes. Uma situação que afeta, bastante, a disputa em alguns municípios, caso de São Paulo, onde o eleitorado mais velho decide a disputa. A multa para quem não comparecer é irrisória, R$ 3,50. E mesmo assim, devido à pandemia, o Congresso deverá providenciar ampla anistia. Será suficiente o número de mesários dispostos a passar 12 horas expostos ao risco da contaminação frente a frente? Haja álcool em gel para 150 milhões de eleitores. O tempo da votação se prolongará, pelo uso do sistema antigo de identificação.
Os pequenos e médios municípios ainda devem apresentar alguma discussão sobre os problemas locais, especialmente da educação, da saúde, da segurança, como sempre ocorreu. Mas há o risco de a campanha municipal ser invadida pela indignação nacional que a epidemia causou.
Os temas federais, porém, estarão com certeza nas campanhas das grandes cidades: a recessão, o desemprego, a criação do novo imposto-Bolsonaro, o desprezo do presidente às mortes e à doença dos brasileiros, o obscurantismo do governo na ciência e nas artes, especialmente. Um arsenal temático que, em princípio, deve prevalecer no debate, pelo menos onde houver segundo turno. Apenas 100 dos 5550 municípios brasileiros.
Entre as incertezas que ainda cercam a eleição municipal estão suas conexões com a eleição presidencial de 2022.
O candidato a prefeito que perder a disputa, mas for bem votado, passará a ser candidato a deputado estadual ou federal, e estará, fatalmente, conforme o costume, com a cabeça na próxima disputa, a presidencial. Que tende a valorizar todo e qualquer apoio.
O mesmo ocorrerá com os vereadores, inclusive os eleitos, dispensados de deixar o mandato se desejarem dar um passo à frente. São todos importantes, mesmo perdendo. O que é uma provocação também para aos atuais deputados federais e estaduais, que terão concorrentes qualificados. Nascerá, nas municipais, a temperatura da campanha federal de 22.