Roberto Freire: A Copa pode virar

Em 1950, no Maracanã com 200 mil pessoas, o Uruguai derrotou o sonho brasileiro de sermos campeões mundiais de futebol.
Foto: Lucas Figueiredo/CBF
Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Em 1950, no Maracanã com 200 mil pessoas, o Uruguai derrotou o sonho brasileiro de sermos campeões mundiais de futebol.

Foi uma comoção nacional. Havia gente chorando pelas ruas.

Oito anos depois, na Suécia, os canarinhos de Garrincha, Nilton Santos, Didi, Vavá e daquele menino de 17 anos, Pelé, encantaram o mundo e trouxeram a Taça.

Vivíamos os anos JK, da construção de Brasília, da instalação da indústria automotiva, dos primórdios da Bossa Nova, da MPB e do Cinema Nacional voltado para as coisas do Brasil.

“A taça do mundo é nossa… com brasileiro… não há quem possa” cantava a nação, quando o escrete vitorioso desfilava, junto com multidões, pelas ruas do Rio de Janeiro, então capital federal.

Vivemos atualmente uma revolta surda contra a Copa do Mundo na Rússia.

Isso se deve, em parte, pela ducha de água fria que os 7 x 1 impuseram à nossa alma futebolista. Foi um choque de realidade, como poucos. Não éramos mais o que já tínhamos sido.

Se deve, também em parte, à corrupção que esteve presente na construção de arenas da Copa de 2014 e em obras de infraestrutura urbana. Os estádios elefantes-brancos são um monumento ao acinte.

A revolta surda se deve, principalmente, à frustração que se sucedeu ao pós-impedimento de Dilma Rousseff.

O governo Temer, a solução constitucional para a retirada do lulopetismo do poder central, na figura incompetente e cúmplice da corrupção, que foi Dilma Rousseff, não conseguiu fazer uma transição sentida pela população brasileira, em direção aos reclamos nacionais. O desemprego e o aperto financeiro ainda são sentidos pelas parcelas majoritárias da população.

Reconheço que houve avanços, tanto no estancamento das sangrias generalizadas, quanto da saída da recessão.

Está, porém, à vista de todos à fragilidade do governo de transição, prisioneiro de formas muito antigas de fazer política.

Nesse sentido, a frustração vicejou entre os brasileiros e se expressou, perigosamente, no apoio sem rumo à greve/locaute dos caminhoneiros, agora progressivamente substituído pela reação às consequências do desabastecimento e da tentativa de golpe.

A seleção de Tite, caso obtenha vitórias no rumo da conquista da Copa da Rússia, pode mudar o humor nacional.

Precisamos, sim, de esperança. As eleições de 2018 estão aí, para que, das urnas, saia um governo democrático e reformista legitimado para dar seguimento à recuperação econômica, avançar no resgate à enorme dívida social e assegurar a democracia e a república.

Outubro de 2018 ainda dista longuíssimos 4 meses.

Nesse ínterim, as vitórias dos amarelos, verdes e azuis, que parecem bastante prováveis, poderão lavar nossa alma futebolista. Afinal, ainda somos o único pentacampeão mundial e seguimos sendo respeitados pelos adversários, por todos eles, em razão dos atletas de ponta que teimamos em produzir, em escala.

A seleção canarinha poderá também contribuir para a melhoria do humor nacional, para a recuperação da brasilidade, no sentido de que todos nos toleremos e nos respeitemos e tenhamos alguns valores em comum. Poderá ajudar no resgate à autoestima.

Afinal, continuamos a ser um dos maiores e mais promissores países do planeta, com um gente misturada que, só junta, poderá realizar o que é desejável seja nossa vocação enquanto país e povo.

Torço pela seleção brasileira, agora um pouco mais.

Privacy Preference Center