República em estado de choque
Quando o jornal O Estado de São Paulo, em dezembro último, publicou que Fabrício Queiroz, ex-motorista do então deputado Flávio Bolsonaro, estava sendo investigado por ter movimentado em sua conta mais de R$ 1 milhão sem ter renda para tal, o presidente eleito Jair Bolsonaro apressou-se em se meter no assunto.
Amigo há mais de 40 anos de Queiroz, defendeu-o sugerindo que parte do dinheiro deveria ser proveniente da família dele. Em seguida, quando se soube que um cheque de Queiroz fora depositado na conta de Michelle, a futura primeira-dama, Bolsonaro logo explicou que era parte de um dinheiro que ele lhe devia.
Não demorou muito para que os rolos de Queiroz respingassem em Flávio. E então o que fez Bolsonaro? Correu também a defender um dos seus garotos. Flávio era inocente, garantiu o pai. Quem o atacasse na verdade queria atacar o presidente da República – ou seja, ele, Jair. Dali para frente, esse virou o mote da defesa de Flávio.
Com Gustavo Bebianno, nomeado por ele ministro da Secretaria-Geral da presidência da República, o comportamento de Bolsonaro foi o oposto. Menos de dois dias depois de Bebianno ser atingido pela suspeita de que patrocinou um laranjal de falsos candidatos quando presidiu o PSL, Bolsonaro entregou-o às feras sem piedade.
Nesse caso ainda está por ser decifrado se foi o filho, Carlos, vereador no Rio, que usou o pai para demitir Bebianno, de quem nunca gostou, ou se foi o pai que usou o filho para forçar Bebianno a pedir demissão. Pelo menos até o início da madrugada de hoje, Bebianno repetia que não pediria demissão. Só sairia demitido.
Foi Carlos que explodiu a bomba na sua página no Twitter. Ao jornal O Globo, Bebianno dissera que via WhatsApp falara três vezes com Bolsonaro sobre o laranjal do PSL quando o presidente esperava receber alta do hospital Alberto Einstein. Carlos chamou Bebianno de mentiroso. Afirmou que ele não falara uma única vez com o pai.
E para provar que dizia verdade, postou um áudio onde se ouve a voz de Bolsonaro dizendo a Bebianno: “Gustavo, está complicado ainda. Não vou conversar, não vou conversar com ninguém.” Por mais ousado que fosse, Carlos seria capaz de divulgar uma mensagem de voz do presidente da República sem a prévia autorização dele?
Militares de bom coração que ocupam postos importantes do governo chegaram a pensar que Carlos divulgara o áudio à revelia do pai, e ficaram perplexos com isso. Até que no Twitter, Bolsonaro compartilhou a mensagem postada pelo filho, e em entrevista ao Jornal da Record, confirmou o que o filho escrevera.
A demissão do ministro interessa ao pai e ao filho. Carlos jamais se conformou em não ser o secretário-geral da presidência da República. Ameaçado por um novo rolo que pode lhe tomar de vez a bandeira da luta contra a corrupção, Bolsonaro escolheu entregar a cabeça de Bebianno para manter a sua. Os poderosos agem assim.
Não foi isso que fez Lula com o então ministro José Dirceu para escapar do mensalão do PT? Jurou que fora traído. Demitiu o ministro, que ainda por cima perdeu o mandato de deputado federal. A chamada Nova Política é um espelho da Velha.
A última dos garotos
Boletim sujeito a atualização diária
Carlos Bolsonaro, o vereador, foi o grande protagonista, no dia de ontem, da República dos Garotos.
Não satisfeito em detonar Bebianno, exaltou o ministro do Meio Ambiente que insultara a memória do seringueiro Chico Mendes.
Flávio, o senador, foi apresentado ao projeto de reforma da Previdência pelo ministro Paulo Guedes, da Fazenda.
Eduardo, o deputado, posou para selfies. E telefonou para alguns ministros interessado em medir a temperatura do ar em Brasília.
À noite, o ar estava irrespirável.