Abrem-se as cortinas do espetáculo
O ex-juiz Sérgio Moro, ministro da Justiça e da Segurança Pública, tem tudo para dar um show, esta manhã, na sessão da Comissão de Justiça do Senado onde responderá a perguntas sobre suas conversas gravadas com procuradores da Lava Jato.
Ele treinou para isso. Com a ajuda de assessores, simulou que estava sendo interrogado e respondeu a perguntas que imagina que lhe serão feitas. Está orientado em não sair do script: não reconhece os diálogos ou mensagens que lhe atribuem; foi vítima de um crime.
Por sua vez, nenhum senador deu-se ao trabalho de preparar-se para valer. Todos receberam perguntas formuladas por assessores às quais poderão acrescentar outras. Os partidos não se entenderam para agir em bloco – seja a favor ou contra.
A maioria dos senadores que comparecerá à sessão está disposta a defender Moro. Mas a minoria tentará acuá-lo, com o cuidado de não transformá-lo em vítima. Circulou, ontem à noite, a ideia da oposição faltar à sessão. A ideia morreu antes do amanhecer.
Se não atravessar a rua para pisar numa casca de banana, Moro deverá se dar bem. Poderia aproveitar a ocasião para ser mais assertivo. Por que não diz com todas as letras que foram forjados os diálogos e as mensagens publicadas pelo site The Intercept?
Eu posso não lembrar exatamente o que disse ontem a respeito de alguma coisa, quanto mais há três anos. Mas sei exatamente o que não disse. Imagino que seja mais ou menos assim com todo mundo. Por que não seria com Moro?
No meu caso, por exemplo, nunca disse nem escrevi que achava Lula inocente dos crimes que lhe imputam. Mas em meados de 2015 manifestei dúvidas quanto a se abrir um processo de impeachment contra Dilma. Depois me convenci de que deveria ser aberto.
Moro sabe, sim, se conversou ou não sobre a citação do nome do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na delação da Lava Jato. E claro que sabe se disse ou não que ele não deveria ser “melindrado” porque era um apoio importante à Lava Jato.
O que o Inthercept divulgou até aqui não será capaz de provocar a anulação do julgamento de Lula no processo do tríplex do Guarujá. Mas aos olhos de quem sabe ver, bastou para corromper a imagem de um juiz que parecia isento e à caça unicamente da verdade.
Ratinho rói a verdade
Fake news na tv
Na entrevista louvação com Sérgio Moro a quem chamou de “um herói sem capa, o único herói brasileiro no momento”, Ratinho, apresentador de programa no SBT, disse que recebera informações de que o vazamento de conversas entre Moro e procuradores da Lava Jato estaria “vinculado a um milionário russo que deu dinheiro a um jornalista famoso internacionalmente, que é namorado de um deputado e que comprou o mandato do Jean Willys”.
Referia-se ao jornalista americano Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil, autor das reportagens que tanto embaraço tem causado a Moro. E ao marido de Greenwald, o deputado Davi Miranda (PSOL-RJ), do mesmo partido de Willys. Ratinho observou a propósito: “Pode ser fake news, deve ser fake news. Mas se for isso é muito maior do que imaginamos, porque envolve outro país”.
Sordidez de Ratinho. Desonestidade. Ele sabe que tudo não passou de uma fake news. Se não sabia deveria saber. Para disseminá-la, criou-se no Twitter uma página com o nome de “O Pavão”. Devotos do presidente Jair Bolsonaro se encarregaram então de reproduzir o que ali fora publicado. Uma vez cumprida sua função, a página saiu do ar 48 horas depois. Poderá voltar a qualquer momento para defender os interesses de quem a financia.