Decisão sobre sigilo de vídeo pode sair ainda hoje
O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, acabou de retocar, ontem, seu voto sobre o sigilo do vídeo com a gravação da reunião ministerial de 22 de abril último onde, segundo o ex-ministro Sérgio Moro, o presidente Jair Bolsonaro ameaçou intervir politicamente na Polícia Federal. Foi por isso que Moro se demitiu.
Celso ficou chocado com o que viu. Ele disse que anunciaria sua decisão amanhã, mas fez a ressalva de que poderia antecipá-la. Hoje ou amanhã, não importa. O ministro já reuniu argumentos de sobra para justificar o voto a favor da liberação do vídeo na íntegra. Se assim for, vem por aí mais um campeão de audiência.
Quando o Procurador-Geral da República pediu a abertura do inquérito, Celso decidiu de pronto que tudo deveria correr a céu aberto. Sob reserva, apenas o que pudesse a certa altura prejudicar investigações ainda em curso. O distinto público tem o direito de saber se procede ou não o que Moro imputa a Jair Bolsonaro.
Os dois não são pessoas comuns. Um, além de ministro da Justiça, foi juiz durante mais de 20 anos e comandou a maior operação de caça a corruptos da história do país. O outro é simplesmente o presidente da República. Não poderão restar dúvidas sobre o comportamento de um ou de outro. Transparência mata dúvidas no nascedouro.
De resto, como um ministro do Supremo pode eventualmente tomar conhecimento de um ou mais crimes cometidos e preferir ocultá-los? A ser verdade que o ministro da Educação defendeu diante do presidente a prisão dos 11 ministros do Supremo, isso por si só já configura um crime que não pode ser ignorado.
É fato que a ministra da Mulher e dos Direitos Humanos defendeu a prisão de governadores e de prefeitos, mas somente daqueles envolvidos com corrupção. Em manifestações de rua, pode-se pregar o fechamento do Congresso e da Justiça. Mas em uma reunião de governo, ministro não pode sugerir impunemente a prisão de juízes.
É possível que Celso não se limite a examinar no seu voto a questão da quebra do sigilo do vídeo. Deverá ir adiante, dissertando sobre atos de Bolsonaro que, ao seu ver, podem ser encarados como crimes de responsabilidade. Caso o faça, dará sustentação para novos pedidos de impeachment contra ele.
Regina Duarte se despede do pior papel da sua carreira
De um emprego que não teve para outro que não existe
De namoradinha do Brasil à namoradinha da extrema direita. De viúva de Roque Santeiro, a que foi sem nunca ter sido, à Secretária de Cultura do governo do ex-capitão afastado do Exército por planejar atentados à bomba a contra quartéis. Secretária que, assim como a viúva, foi só de nome. Que triste fim de carreira, a de Regina Duarte.
Sabe-se lá por que aceitou o convite do presidente Jair Bolsonaro contra a opinião dos próprios filhos. Nenhum deles compareceu à sua posse no Palácio do Planalto. Queriam distância do novo chefe da mãe. E por mais que ela tenha explicado seu gesto, não engoliram o fato de vê-la misturada com essa gente triste e má.
Quem sempre viveu sob os holofotes não suporta ficar longe deles. Fazia anos que Regina não era escalada para estrelar uma novela. Até seria capaz de aceitar um papel secundário desde que pudesse voltar a ser reconhecida nas ruas, dar autógrafos e posar para selfies. Seu público envelheceu. Os jovens não sabiam de quem se tratava.
Claro que havia também uma forte identidade dela com Bolsonaro. Pedira votos para ele em comícios na Avenida Paulista. Votara nele não só por que sua vitória impediria o retorno do PT ao poder, mas porque compartilhava suas ideias. Nada mais compreensível, pois, que se oferecesse para ajudá-lo em hora de necessidade.
Entrou mal no governo e saiu pior. Não pôde sequer montar sua própria equipe. Foi sabotada desde o primeiro momento pelos devotos do autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, o guru dos Bolsonaro. Socorreu-se dos ministros militares, mas eles a abandonaram ao concluírem que não poderiam salvá-la.
A última ponta que fez na novela que durou menos de três meses foi humilhante e mal roteirizada. Em vídeo despedida, perguntou se estava sendo fritada – ele negou com um sorriso de velho canastrão. Ela deu uma piscadinha para a câmera como se duvidasse. E em seguida anunciou que ganhara um prêmio de consolação.
Qual? A de diretora da Cinemateca Brasileira. Vai cuidar de mais de 250 mil rolos de filmes e de um milhão de documentos. Com a vantagem, segundo ela, do novo emprego ser perto de sua casa, em São Paulo. O cargo, por ora, não existe. Há entraves burocráticos que emperram sua criação. E a Cinemateca está sem dinheiro.
Amiga da atriz, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), mais amiga ainda de Bolsonaro, garantiu que Regina não ficará ao desamparo. Pano rápido.