À espera de avalanche de ofertas de vacinas
De duas, uma. Ou o presidente Jair Bolsonaro e seus ineptos auxiliares acreditam que o Brasil, em breve, estará sujeito a uma avalanche de ofertas de vacinas como em seus delírios prevê o general Eduardo Pazuello, ministro da Saúde, ou pensam que continuarão a governar o país na base só do gogó.
Foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso quem disse ter atravessado seu primeiro ano de governo levando o país na conversa, no que ele era bom de fato. Mas Bolsonaro, Pazuello e companhia limitada não se destacam pela oratória, nem pelo carisma. Tampouco pelo apoio que Fernando Henrique dispôs.
O número de pessoas por aqui que pretendem se vacinar contra a Covid-19 aumentou, ao mesmo tempo em que 62% da população afirmam que a pandemia está fora de controle. É o que mostra a pesquisa Datafolha aplicada nos últimos dias 20 e 21. Apenas 3% dos entrevistados acham que ela foi totalmente controlada.
A intenção de tomar a vacina cresceu seis pontos percentuais desde a última pesquisa, em dezembro. Agora, 79% dizem querer se imunizar, contra 73% há um mês. O número ainda é inferior à parcela de 89% da população que pretendia se vacinar contra o coronavírus em pesquisa feita em agosto do ano passado.
A rejeição às vacinas caiu, passando de 22% em dezembro para 17% agora. Cresceu de 73% para 77% o número de pessoas que admitem ter medo de se infectar pelo vírus. Tudo isso decorre do aumento de mortes que na próxima semana deverá ultrapassar a casa das 220 mil. Os infectados somavam 8.816.113 até ontem.
Embora o Ministério da Saúde tenha receitado drogas ineficazes contra a doença e Bolsonaro insista em desacreditar a Coronavac, a rejeição à vacina de origem chinesa caiu. Era de 50% em dezembro. Agora é de 39%. Aumentou também o grau de confiança nas demais vacinas, inclusive na Spunik V, da Rússia.
Por ora, o número de doses de vacinas que estão sendo aplicadas aqui é ínfimo. O governo, porém, lançará uma ambiciosa campanha de propaganda para vender a ideia de que o Brasil está sendo imunizado. E se a avalanche de ofertas antecipada por Pazuello não acontecer? Na Europa já falta vacina.
É muito perigoso brincar com vidas.
Pazuello subiu ao patíbulo para salvar a cabeça de Bolsonaro
Aras, o procurador que só procura o que quer
Augusto Aras, Procurador-Geral da República, escolheu o general Eduardo Pazuello, o ministro da Saúde especialista em logística militar, para pagar o preço pela ineficiência do governo até aqui no combate à pandemia do Coronavírus.
Ninguém duvida que Pazuello tenha culpa no cartório. Mas ele não faria o que fez até aqui, nem deixaria de fazer o que tinha de ser feito sem o aval do seu chefe. Falta alguém em Nuremberg, e esse alguém atende pelo nome de Jair Messias Bolsonaro.
Diga-se em favor do general, por exemplo, que lhe custou muita saliva convencer Bolsonaro a comprar a Coronavac, a vacina do Instituto Butantã e de um laboratório chinês. Bolsonaro afinal cedeu, para no dia seguinte desautorizar a compra.
Para deixar Bolsonaro de fora do pedido de abertura de inquérito que encaminhou ao Supremo Tribunal Federal, Aras limitou o fracasso do governo no enfrentamento do vírus à falta de oxigênio que continua matando pessoas em hospitais de Manaus.
De fato, o general soube com antecedência que era iminente o colapso da rede de saúde pública em Manaus e fora dali, e que haveria mortes por asfixia. Visitou a cidade e receitou o “tratamento precoce” dos doentes à base de cloroquina.
Mas é impossível que ao voltar a Brasília não tenha informado o presidente da República sobre o que viu e ouviu, além do que havia recebido por escrito. Se Bolsonaro o mantém no cargo até hoje é porque está satisfeito com o seu trabalho.
Separar Bolsonaro de Pazuello no caso da pandemia é uma tentativa de Aras de salvar a cabeça do ex-capitão à custa da cabeça do general. Pazuello subiu ao patíbulo.