Cada um sabe de si
A eleição continua aberta, observam aplicados estudiosos da história das eleições e leitores atentos de pesquisas de intenção de voto – e não sem motivos.
Mas esta eleição começa a ficar cada vez menos aberta. No momento, estreita-se em torno de três nomes: Jair Bolsonaro (PSL), Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT).
Que país! O segundo turno da eleição presidencial poderá ser disputado por um candidato preso a um leito de hospital entre a vida e a morte, e um laranja de um preso condenado por corrupção.
Bolsonaro melhorou seu desempenho nas simulações de segundo turno. Mas perde para Marina Silva (REDE), que está em queda; perde feio para Ciro; perde até para Alckmin e empata com Haddad.
Funciona a transfusão de votos de Lula para Haddad. Porém, junto com os votos, vai a rejeição a Lula e ao PT. Haddad subiu quatro pontos. Sua rejeição, quatro pontos, segundo o Datafolha.
A seguir assim, o voto de parte da esquerda que acompanha tudo a prudente distância poderá garantir Ciro no segundo turno, com medo de que Bolsonaro derrote Haddad. Ou não.
Eis a questão: Haddad presidente, mesmo que ele não queira, serão mais quatro anos de país dividido e à espera de um Bolsonaro mais forte ou de coisa pior.
Bolsonaro presidente… Será um general de vice que admite o autogolpe e uma nova Constituição feita por encomenda. De volta ao passado, sem a presença ostensiva de brucutus.
Bolsonaro venceu
Até aqui, a eleição deste ano já tem um claro vencedor e um claro perdedor. O deputado Jair Bolsonaro (PSL) sairá dela como o vencedor, ganhe ou perca no final, não importa. O PSDB, como derrotado.
Só não será assim se Bolsonaro, por questão de saúde, não disputar o segundo turno da eleição onde tem lugar garantido. Ou o PSDB operar o milagre de por Geraldo Alckmin no segundo turno. Difícil.
Antes um deputado irrelevante, histriônico, defensor de causas que soavam impossíveis, Bolsonaro soube se apropriar de uma agenda difusa de temas que estava no coração e mente de parte dos brasileiros.
Deu voz a toda essa gente. Soube manipular seus instintos mais primitivos, oferecendo-lhe soluções simples para problemas complexos. E não teve medo de se expor à incompreensão do resto da sociedade.
Poderá não ter sido o suficiente para se eleger – disso só se saberá nas próximas e decisivas semanas. Mas suficiente será para catapultá-lo à condição de líder inconteste da oposição ao futuro governo.
O PSDB perdeu para Bolsonaro uma fatia expressiva dos seus eleitores. Por causa dos muitos erros que cometeu na Era PT e mesmo depois dela, ficou sem discurso, sem rumo, e sem rosto.
Corre sério risco de perder o governo do Estado mais importante do país. E de no Congresso, a emergir das urnas, contar com menos representantes. Será mais um partido de médio porte, como outros.
Quanto ao PT, ainda é muito cedo para dizer-se alguma coisa. Até mesmo para dizer que seu candidato participará ou não do segundo turno. Ele cresce. Mas sua rejeição cresce na mesma medida.