O caso do garoto embaixador
Pegou tão mal por toda parte, mas tão mal a possível indicação de Eduardo Bolsonaro, o Zero Dois, para embaixador do Brasil em Washington, que o general Luiz Eduardo Ramos, que mal esquentou a cadeira de ministro da Secretaria de Governo, censurou seu chefe, o presidente Jair Bolsonaro.
Durante café da manhã com jornalistas, ontem, ele disse que Bolsonaro “se apressou” ao anunciar a indicação. O rompante do presidente foi classificado pelo general como “momentos”. Admitiu que a divulgação da notícia em meio à votação da reforma da Previdência não caiu bem e reforçou as críticas da oposição.
Palavras do general: “Deu polêmica, reconheço, saiu na imprensa. Agora vamos aguardar. Poderia ter anunciado na semana que vem? Talvez, durante o recesso parlamentar. Vários deputados citaram essa nomeação, podia ter evitado”. O general relativizou o anúncio, como se Bolsonaro estivesse sob pressão para recuar da ideia.
Eduardo não será necessariamente embaixador. O general citou outros recuos do presidente após uma enxurrada de críticas. Lembrou a proposta de transferir a embaixada do Brasil em Israel de Telavive para Jerusalém. Os países árabes ameaçaram suspender a compra de produtos brasileiros se isso acontecesse.
“Meu amigo Bolsonaro tem esses momentos”, concedeu o general que mais se empenhou dentro do Alto Comando do Exército para que seus colegas de farda apoiassem a candidatura do capitão. “Vou citar a famosa ‘vou levar embaixada pra Jerusalém’. Eu pergunto: hoje está onde? Em Telavive.”
Naturalmente, o general elogiou Eduardo. Chamou-o de “um jovem preparado”, sem dizer no quê. E afirmou que sua possível nomeação para embaixador “não contraria a lei”. Há controvérsia.
Amordaçaram Mourão
Ordem do presidente
E aí? Tem sentido falta das declarações quase sempre sensatas do general Hamilton Mourão, vice-presidente da República? Declarações que às vezes foram na contramão dos rompantes do presidente Jair Bolsonaro?
Pois ele, Mourão, recebeu ordem superior para calar a boca, ou falar o mínimo, e jamais para contestar direta ou indiretamente o que Bolsonaro diz. Tiraram-lhe seu assessor de imprensa, o jornalista André Gustavo Stumpf, e no lugar dele puseram um militar.
Bolsonaro tem agora como vigiar os passos de Mourão. Nomeou um delegado da Polícia Federal de sua inteira confiança para a direção da Agência Brasileira de Informações (ABIN), o Serviço Secreto do governo. A ABIN não é lá nenhuma CIA, mas dá para o gasto.
Segue o baile.