Jogo aberto
O atentado contra a vida do deputado Jair Bolsonaro (PSL) foi “um ataque à democracia”.
(Se foi, o eleitor não avaliou assim. Se avaliou, não está preocupado com a sorte da democracia – ou por que não liga para ela ou por que acha que ela resistirá ao golpe sofrido.)
O atentado de Juiz de Fora irá produzir uma profunda comoção.
(Aparentemente, não produziu. Do contrário, a comoção certamente teria impulsionado a candidatura de Bolsonaro – para o céu ou para o inferno.)
A história da eleição de 2018 foi uma até o dia 6 de setembro. Será outra a partir de então.
(A conferir, no futuro, se o atentado de fato mudou a história da eleição.)
Bolsonaro ficou onde estava nas intenções de voto do distinto público ouvido pelo Datafolha. Oscilou míseros dois pontos percentuais para cima, dentro da margem de erro da pesquisa.
É o campeão da rejeição, mas não se pode dizer que ela aumentou. A pesquisa anterior do Datafolha ainda contou com o nome de Lula, a de ontem não. Nesse aspecto, são incomparáveis.
Ciro Gomes (PDT) cresceu para além da margem de erro da pesquisa? Marina Silva (REDE) caiu para além da margem de erro? Geraldo Alckmin (PSDB) não saiu do lugar?
Ensina a ciência da pesquisa que se deve esperar que a próxima, aplicada pelo mesmo instituto, confirme ou não os resultados da anterior. Só assim se poderá falar em tendência de crescimento de uns e de queda de outros. Do contrário, terá sido um soluço.
O Datafolha voltará a campo amanhã, quinta e sexta-feira. E na própria sexta-feira divulgará os resultados de nova pesquisa. Esta noite será a vez do Ibope informar o que apurou desde sua última pesquisa da semana passada.
A eleição presidencial continua aberta. Só agora o eleitor começa a despertar para ela.
A hora e a vez do figurante
Que seja feita a sua vontade
No início dos anos 70 do século passado, ao entrevistar em Salvador o escritor Jorge Amado sobre seu processo de criação, ouvi dele o que aqui reproduzo de memória.
Disse-me que com frequência a história e os personagens que inventava escapavam ao seu controle. Simplesmente ganhavam independência. E a ele só restava cumprir suas vontades.
Na política como na literatura – por que não?
Lula e Jair Bolsonaro criaram enredos dramáticos para sustentar suas candidaturas a presidente.
Uma a do encarcerado de Curitiba, banido injustamente da vida pública por uma conspiração das elites, e que clama para ser julgado pelo povo em eleição livre.
A outra do ex-capitão disposto a pegar em armas para defender o povo de uma classe política corrupta, de um Estado incapaz de protegê-lo dos bandidos e de uma esquerda perigosa.
Um dos enredos poderá vingar ou não – o de Bolsonaro tem mais chances. Os ou dois poderão ceder o lugar a outro. Dependerá da vontade de quem sempre é tratado como mero figurante.
Em poucas ocasiões o figurante ocupa a boca do palco. Essa é uma. E de sua interpretação dependerá o desfecho da peça.