A democracia só tem a ganhar
No dia em que Lula apareceu numericamente à frente de Jair Bolsonaro na mais recente pesquisa XP/Ipespe, Ciro Gomes (PDT), ex-governador do Ceará, aspirante a candidato a presidente da República pela quarta vez, pediu-lhe a “generosidade” de não disputar as eleições presidenciais do ano que vem. Que tal?
A fazê-lo, Ciro defendeu que Lula se inspirasse no “passo para trás” da ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner que concordou em ser vice de Alberto Fernández, ajudando assim a elegê-lo. Segundo Ciro, se Lula for candidato, Bolsonaro se aproveitará do antipetismo para tentar emplacar um segundo mandato.
“Imagine uma campanha: Bolsonaro, querendo se recuperar da impopularidade, lembrar a esculhambação do Palocci, a esculhambação do José Dirceu, a esculhambação de não sei de quem”, argumentou. “E do outro lado, o cabra dizendo que os filhos do Bolsonaro são ladrões. É isto?” Se o eleitor quiser, será.
Lula não respondeu ao pedido de Ciro. E o que Ciro disse inspirou memes que viralizaram na internet. E se países da América Latina pedissem ao Brasil que não disputasse a fase de classificação para a Copa do Mundo no Catar? E se no carnaval pós-pandemia as demais escolas pedissem à Mangueira para não desfilar?
A proposta de Ciro trai seu desconforto com a situação criada pelo Supremo Tribunal Federal ao suspender as condenações de Lula nos processos do triplex do Guarujá e do sítio de Atibaia. Com isso, o ex-presidente recuperou os direitos políticos e tornou-se elegível. Ciro contava em enfrentar Fernando Haddad.
Para aumentar as dificuldades de Ciro, Lula tem dito que pretende primeiro reunificar a esquerda até onde for possível, para depois sair à caça do apoio de partidos do centro e até mesmo da direita. Esse seria um espaço que Ciro imaginava ocupar, e ainda imagina. Só que as coisas ficaram piores para ele, mas não só para ele.
Ultimamente, Ciro chegou a falar que Bolsonaro, desgastado pelo péssimo governo que faz, arrisca-se a não disputar o segundo turno da eleição de 2022. É possível, mas não é provável. E que ele, Ciro, então iria para o segundo turno como alternativa a Lula. Nada mais corriqueiro na política do que o autoengano.
O efeito Lula está produzindo uma limpeza no terreno dos que planejavam disputar a sucessão de Bolsonaro. Isso não é necessariamente ruim, muito pelo contrário, se resultar em candidaturas mais densas e representativas das principais correntes de pensamento político do país. A democracia agradece.
Chapecó, a cidade modelo de Bolsonaro no combate à Covid
UTIs lotadas, a economia bombando
O presidente Jair Bolsonaro aproveitou, ontem, a entrega de casas populares no Distrito Federal para anunciar que desembarca, amanhã, em Chapecó, município de 225 mil habitantes em Santa Catarina, distante 550 quilômetros de Florianópolis.
Motivo da visita: o “trabalho excepcional” feito pela prefeitura de Chapecó no combate à pandemia. Um trabalho, segundo ele, que deu liberdade aos médicos para prescreverem o tratamento precoce da doença. O ministro da Saúde irá com ele.
Chapecó está com 100% das UTIs lotadas. Acumula mais mortes por 100 mil habitantes do que o país e o Estado. Dos 537 mortos pelo vírus, mais de 410 foram registrados somente este ano. Em fevereiro último, o sistema de saúde entrou em colapso.
Apesar disso, o prefeito João Rodrigues (PSD) garante que a doença “está 100% controlada”. O que tem, segundo ele, “são as UTIs lotadas”. Mesmo assim, em Chapecó, cidade onde “a economia bomba”, é “proibido falar em lockdown”.
Bolsonaro vai sentir-se em casa.