Bolsonaro assiste de camarote
De duas, uma. O presidente Jair Bolsonaro manda no seu filho Carlos Bolsonaro, mas ele não o obedece. Ou manda e ele obedece.
A hipótese mais provável é a segunda. Porque se não fosse assim, Bolsonaro já teria dito com todas as letras: Carlos não fala por mim.
Está bem que Carlos é um vereador do Rio. Como tem mandato, pode dizer o que quiser. É o caso dos seus irmãos Flávio e Eduardo.
Mas Carlos, Flávio e Eduardo são os filhos do presidente da República e sabem que tal condição reforça o que dizem e fazem.
Somente ontem, em poucas horas no Twitter, Carlos disparou seis tiros contra o vice-presidente Hamilton Mourão.
Jamais teria feito isso se não tivesse o respaldo do pai. Atirou e ficou por isso mesmo, e ficará. Tem sido assim desde o ano passado.
Carlos pôs na cabeça que Mourão quer derrubar seu pai. E Bolsonaro concorda com ele, embora não o diga.
O filho usa o pai que usa o filho. E quando a barra pesa para o lado de Carlos, o pai sai em sua defesa. Foi o que Bolsonaro fez outra vez.
Sangue é sangue, disse Bolsonaro por meio do seu porta-voz. Por isso não importa que os ataques de Carlos façam Mourão sangrar.
Também não importa que militares da ativa e da reserva corram em defesa de Mourão. Entre o filho e o vice, a escolha já foi feita.
Bolsonaro tem pelo menos duas grandes dívidas contraídas junto a Carlos e que ele considera impagáveis.
Como Flávio não quis, Carlos foi convencido pelo pai a ser candidato a vereador para impedir que sua mãe se reelegesse. Derrotou-a.
Carlos largou tudo o que fazia para cuidar da campanha do pai à presidência da República. Flávio e Eduardo cuidaram de se reeleger.
Nunca esteve nos planos de Bolsonaro se eleger presidente da República. Nunca acreditou que seria possível.
Saiu candidato pra ajudar os filhos a se reelegerem. Em seguida iria gozar a vida ao lado da sua nova mulher e da sua única filha.
A facada em Juiz de Fora que quase lhe custou a vida atrapalhou seu plano. Não estava pronto para governar. Não está. Mas, fazer o quê?
Ele simplesmente não sabe o que fazer. Seus ministros, os filhos e o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho lhe dizem o que fazer.
E ele vai tocando as coisas ao seu modo inseguro e atrapalhado. Assim será até o fim do mandato, se conseguir chegar até lá.
Bolsonaro manda, mas não comanda o governo. Muito menos as circunstâncias que o cercam.
Se mesmo assim der certo foi porque tudo o mais está errado.
Vitória de Rodrigo Maia
Bolsonaro assiste de camarote
Claro que sozinho ele não ganharia coisa alguma. Mas Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, fez muito mais pela aprovação da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça da Casa do que o governo com todos os seus ministros. E muito mais do que o presidente Jair Bolsonaro, que pouco fez.
A reforma que sairá do Congresso no final deste semestre ou no início do próximo será a reforma que o Congresso julgar possível. Não renderá 1 trilhão de reais como deseja o ministro Paulo Guedes, da Economia, mas algo como 800 bilhões ou em torno disso, o que não será pouco. Pior seria não haver reforma.
A disposição da maioria dos partidos com representação no Congresso é de tocar a vida independentemente do governo. Há uma pauta própria a ser discutida e votada. Se projetos do governo nela se encaixarem, muito bem. Se não, bola para frente. Ali é escassa a esperança de que o governo lidere o processo.