À procura de um novo abrigo
Com a ressalva que ele tem por hábito dar o dito pelo não dito, ou reformar em parte o que disse ou simplesmente a aderir a ideias opostas às que antes defendia, o presidente Jair Bolsonaro parece ter dada como perdida a guerra pelo controle do PSL.
Tem um novo plano: criar um partido para chamar unicamente de seu. Um partido onde ele possa abrigar algo como duas centenas de pessoas à sua escolha para disputar prefeituras nas eleições municipais do próximo ano.
Por se tratar de um partido novo, não terá à sua disposição a fortuna que abarrota o cofre do PSL, alimentada pelos fundos eleitoral e partidário. Por mês, o PSL abocanha cerca de R$ 12 milhões ou um pouco mais. Sem problema para Bolsonaro.
Em compensação, ele não terá dor de cabeça com candidatos a lhe implorarem por dinheiro, por comando de diretórios, por isso e por aquilo outro. A primeira e a última palavra serão dele sobre quem entrará ou não no partido.
Dos que pretendam ser admitidos, Bolsonaro exigirá alinhamento total com suas bandeiras de luta, disciplina e lealdade. Respeito à hierarquia acima de tudo. Em troca, gravará mensagens de apoio aos escolhidos e permitirá que usem a sua imagem. E é só.
Haverá tempo suficiente para criar um novo partido? Bolsonaro acha que sim. Recolherá pela internet o número necessário de assinaturas de eleitores. Para isso usará o seu e o perfil dos filhos nas redes sociais. Advogados cuidarão do resto.
Que o deputado Luciano Bivar, presidente do PSL, fique com o partido que foi o nono de Bolsonaro em quase 30 anos de vida política. Ele irá para o décimo. E se alguma coisa der errada, procurará outro partido ou então criará mais um. Sem problema.
Lula livre, e nervoso
Como Bolsonaro quer
Na mais recente conversa que teve com ele em Curitiba, a deputada Gleisi Hoffman, presidente do PT, ouviu de Lula:
– Mandela entrou nervoso na cadeia e saiu calmo. Eu entrei calmo e sairei nervoso.
Lula costuma comparar-se ao primeiro presidente da África do Sul livre do Apartheid, o regime racista estabelecido no país em 1948 em que uma minoria branca mandava na maioria negra.
Mas há, entre eles, mais diferenças do que semelhanças. A principal: Mandela passou 27 anos na cadeia como preso político. Lula está preso há 600 dias por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Ao ser libertado, Mandela fez um famoso discurso onde declarou seu compromisso com a paz e a reconciliação com a minoria branca. E assim procedeu até o último dia de sua vida.
O Supremo Tribunal Federal retomará nesta quinta-feira o julgamento sobre a prisão em segunda instância. Como faltam votar quatro ministros, o resultado ficará para a próxima semana.
Se por 6 votos contra 5, como se espera, o tribunal acabar com a prisão em segunda instância, Lula poderá ir para casa sem direito a candidatar-se a coisa alguma porque é um ficha suja.
A restauração dos seus direitos políticos só será possível se o tribunal, em data ainda não marcada, anular a decisão de Sérgio Moro que o condenou no caso do tríplex do Guarujá.
Lula prefere continuar preso até lá e tem hospedagem já garantida em Curitiba pela primeira instância da Justiça. Resta-lhe, assim, algum tempo para avaliar se o melhor será sair nervoso ou calmo.
Torce o presidente Jair Bolsonaro para que saia nervoso. Bolsonaro e seus filhos precisam de um adversário à altura para ajudá-los a radicalizar ainda mais o clima político do país.