Lilia Lustosa*, especial para a revista Política Democrática online (50ª edição: dezembro/2022)
Há treze anos, James Cameron revolucionava a história do cinema ao resgatar uma tecnologia antiga, porém, já bem esquecida: o 3D. Depois de longos 15 anos de investimento e pesquisa, o diretor canadense criou câmeras sofisticadas e deu nova cara e qualidade às imagens tridimensionais em movimento.
Pandora, o mundo criado por ele em Avatar (2009), foi o que melhor se viu em termos de ilusão de profundidade até aquele então, arrebatando praticamente todos os prêmios de efeitos visuais e direção de arte da temporada, ainda fazendo escola, já que reacendeu o interesse por essa tecnologia dos anos 20. Bem recentemente, o mesmo Cameron, mais uma vez, é o responsável por outra reviravolta na estereoscopia, com câmeras ainda mais modernas, desta feita, capazes de capturar à perfeição imagens tridimensionais debaixo d’água.
Em Avatar: O Caminho da Agua (2022), o deslumbramento causado pelos cenários das matas de Pandora, desloca-se para a costa do planeta, região onde vive a tribo Metkayina, seres aquáticos, não mais azuis como os filhos de Omaticaya, mas verdes claros, com caudas em vez de rabo e pés e mãos que funcionam como nadadeiras. Seres, no entanto, igualmente conectados com a natureza.
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O efeito de Metkayina em nossos olhos é simplesmente sublime! Um universo deslumbrante, de azul intenso, que penetra na íris e na alma de espectadores. Para chegar a esse ponto, além de ter trabalhado à exaustão com a equipe no desenvolvimento da nova tecnologia, Cameron exigiu ainda que seu elenco mergulhasse literalmente na água para as filmagens a fim de que tudo parecesse mais natural, mais crível. Fizeram curso de mergulho e aprenderam a passar longos minutos em apneia. Um esforço físico e mental que valeu a pena. A imersão nas águas (e na história) é tal que, em dado momento, tem-se vontade de prender a respiração para mergulhar com eles!
Importante dizer que, do mesmo modo que acontece com o primeiro filme, o enredo em si não é o ponto mais forte desta produção. O que deslumbra em Avatar 2, mais uma vez, é o mundo que se descortina na tela.
Com a Terra cada vez mais inabitável, a solução continua sendo tomar Pandora e construir ali um novo lar para os terráqueos. Omaticaya é então atacada pelos humanos que querem ali estabelecer residência, não sem antes impor sua cultura e seus hábitos aos povos originários, que, aos olhos da Terra, parecem estranhos, cheios de superstições, magias e valores selvagens e equivocados.
A trama se passa alguns anos depois da história do primeiro filme, quando Jake Sully (Sam Worthington), agora convertido em Na’Vi, e Ney’tiri (Zoë Saldanha) constituiram família – têm quatro filhos –, e vivem pacificamente em sua terra, ambos exercendo papeis de liderança naquela sociedade. Isso até serem atacados mais uma vez pelos humanos e sentirem-se obrigados a deixar tudo para que sua gente não seja dizimada. Como refugiados, vão pedir abrigo na terra dos Metkayina, povo Na’Vi que habita a costa de Pandora, e que os recebe entre o receio e a solidariedade. Ali, a família de Sully vai ter que se adaptar às novas regras, assimilar os hábitos da tribo, aprender sua língua e ainda exercer a humildade para aceitar a ignorância intrínseca ao ser estrangeiro.
Veja, a seguir, galeria:
Usando e abusando de clichês para compor seus personagens e sua história, Avatar 2 é, assim, uma grande e bela alegoria da colonização, além de ser também, uma espécie de manifesto de cunho ecológico, que prega a defesa da natureza e a vida em harmonia com Eiwa, a “mãe-terra” de Pandora. Mas isso é verdadeiro também para o primeiro filme da franquia. A novidade aqui é a introdução da alegoria dos refugiados, tema atual, preocupante e bem trabalhado no filme de Cameron.
Com pouco tempo desde sua estreia, Avatar 2 já se pagou, tendo feito mais de US$ 550 milhões de bilheteria, contra os 350 milhões de seu orçamento. A aposta de Cameron, porém, é ultrapassar a marca de 1 bilhão em box-office mundialmente e, com isso, garantir o lançamento de Avatar 3 no final de 2024 e quem sabe das sequências 4 e 5 em um futuro próximo. Entre o primeiro e o segundo filmes se passaram 13 anos, tempo suficiente para desenvolver novas tecnologias capazes de surpreender os olhos mais exigentes. Mas será que um sequeal lançado tão em seguida será capaz de tirar nosso fôlego outra vez? Enquanto esta hora não chega, vale abrir olhos, coração e mente, e mergulhar fundo nesta grande fábula chamada Avatar.
Sobre a autora
*Lilia Lustosa é crítica de cinema e doutora em História e Estética do Cinema pela Universidad de Lausanne (UNIL), Suíca.
** Artigo produzido para publicação na Revista Política Democrática Online de dezembro/2022 (50ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.
*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na Revista Política Democrática Online são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, as opiniões da Revista.
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