Vera Rosa / O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA – Quem frequenta os gabinetes do poder, em Brasília, sabe que, em política, os sinais exteriores de campanha antecipada são evidentes. Mesmo assim, tudo parece correr como se nenhuma restrição da lei eleitoral atingisse o inquilino do Palácio do Planalto. Foi assim que, na tarde de segunda-feira, 7, o presidente Jair Bolsonaro recebeu no Planalto um grupo do agronegócio que tem pedido dinheiro para a campanha da reeleição.
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O encontro ocorreu no mesmo dia em que o Estadão revelou que empresários estavam se apresentando, desde o mês passado, em nome do senador Flávio Bolsonaro e do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, para cobrar doações eleitorais. Detalhe: a reunião contou com a presença desses arrecadadores.
Antes, em abordagens para captar recursos, eles haviam dito que quem estivesse disposto a contribuir com a campanha da reeleição seria convidado para um tête-à-tête com Bolsonaro, Flávio e Costa Neto. Na pauta, assuntos de interesse do setor.
Uma foto do encontro, publicada nas redes sociais, mostra que, do lado esquerdo de Bolsonaro, estava Bruno Scheid, administrador de fazenda de gado em Ji-Paraná (RO) com livre trânsito no Planalto. À direita, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Recém-filiado ao PL, partido do presidente, Scheid é pré-candidato a deputado federal. Entre os dias 5 e 21 de fevereiro, ele trocou mensagens de WhatsApp com ruralistas de outros Estados e pediu ajuda financeira para a campanha de Bolsonaro.
A ofensiva provocou incômodo em um grupo que, no passado, organizava a coleta de recursos longe da estrutura profissional do PL de Costa Neto. Agora, porém, o discurso é outro, e o casamento com o Centrão, antes classificado como “velha política”, não só tem papel passado como cobra resultados. No duelo com o PT do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, hoje favorito nas pesquisas, o PL se prepara para lançar, ainda neste mês, um site para arrecadar doações.
A reunião de segunda-feira no Planalto – um prédio com colunas “leves como penas pousando no chão”, como gostava de comparar o arquiteto Oscar Niemeyer – não constava da agenda pública do presidente. Só entrou depois e foi intitulada como “Encontro com o Movimento Ação Voluntária Amigos da Pecuária”.
Desde 2018, o “agro” sempre foi uma das principais bases de apoio de Bolsonaro. Hoje, porém, enfrenta divisões e não está totalmente alinhado ao governo. Tanto é assim que, no ano passado, sete entidades da agroindústria assinaram manifesto em defesa da democracia e do respeito às instituições.
Naquela campanha, os evangélicos também sustentaram Bolsonaro. De lá para cá, no entanto, houve queixas sobre os rumos do governo e distanciamento de templos. Na tentativa de mostrar que ele, e não Lula, tem o apoio das principais igrejas, Bolsonaro se reuniu, na tarde desta terça-feira, 8, com importantes líderes evangélicos, no Palácio da Alvorada.
“Os olhos de Deus estão sobre o senhor, presidente. Ao final de tudo virão, como vieram, os votos”, destacou o pastor Samuel Câmara, da Assembleia de Deus em Belém. Ao dar sua interpretação sobre o que esperava o Brasil em caso de vitória do PT, o chefe do Executivo tratou a eleição como uma batalha do bem contra o mal. “Essa gente que quer governar o País? Deus nos livre disso”, afirmou.
Na prática, o uso de estrutura pública da União pelo presidente-candidato, durante o período eleitoral, sempre foi tolerado e contou com “vistas grossas” de magistrados. Arrecadações fora de época e caixa 2 nas campanhas também, apesar da proibição legal.
“Não vai ser uma canetada que me tira daqui. Quem me tira daqui é somente Deus”, disse Bolsonaro aos evangélicos, numa referência à sua briga com ministros do Supremo Tribunal Federal. Só falta, agora, combinar o jogo com os eleitores.
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Fonte: O Estado de S. Paulo
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